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Artigo: Telômeros,Telomerase e Câncer

Telômeros são complexos DNA-proteína compostos por seqüências extremamente simples, são
repetições TTAGGG encontrados nas extremidades dos cromossomos lineares, que os protegem da
degradação, da recombinação e da fusão, estabilizando-os, mantendo sua integridade. Por ser
responsável pelo ancoramento dos cromossomos à membrana nuclear, garante a estrutura
tridimensional do núcleo celular, havendo assim, a correta distribuição espacial dos mesmos.

Devido à observação de que seu tamanho regride ao longo das duplicações celulares até um tamanho
mínimo que interrompe a proliferação celular, criou-se a hipótese de que o telômero funcionaria como
um relógio celular e seria um dos fatores responsáveis pelo envelhecimento.

Baseado na demonstração de Olovnikov e Watson de que os cromossomos nunca duplicam


completamente seus terminais e também a posterior relação desta descoberta com a evolução dos
cânceres, o surgimento da enzima telomerase, solucionaria o chamado “problema dos terminais” uma
vez que esta tem como função adicionar sequências específicas e repetitivas de DNA à extremidade 3'
dos cromossomos, onde se encontra o telômero.

Esta enzima é uma transcriptase reversa, ou seja, realiza um processo de transcrição ao contrário em
relação ao padrão celular, tendo na sua estrutura um modelo em RNA que utiliza para sintetizar o DNA
telomérico, em eucariotas.

O DNA é duplicado com o auxílio da enzima DNA Ligase de forma semiconservativa, tendo cada nova
molécula-filha de DNA, uma fita oriunda da molécula-mãe e uma fita recém sintetizada.

Sabendo que a DNA Polimerase é eficaz em grande parte do cromossomo, porém inútil nos terminais
telométricos pela falta do sítio de anelamento que possibilitaria a ação da Ligase, denominado
complexo DNAPolimerase-RNAPolimerase-Helicase-Ligase, é neste ponto que a enzima telomerase atua,
impedindo o encurtamento dos telômeros, formando mais DNA telomérico, uma vez que ao final do
alongamento da molécula, forma-se uma extensão telomérica repetitiva apenas na fita conservada da
molécula-mãe, permitindo a atuação do complexo RNAPolimerase-DNAPolimerase Ligase, que alonga,
por fim, a fita neo-formada.

Observou-se que a enzima telomerase não possuía atividade detectável na maioria das células
somáticas, mas que em cerca 85% das células germinativas e tumorais sua atividade era intensa, e
proporcionava a manutenção do tamanho dos telômeros. Criou-se então a expectativa de que a
telomerase seria capaz de atrasar o relógio telomérico e que, se utilizada na medida certa, poderia
tornar-se a fonte da juventude.

CÂNCER E IMORTALIDADE CELULAR,TELÔMEROS E INSTABILIDADE GENÉTICA

Células neoplásicas são geneticamente denominadas imortais uma vez que diferentemente das demais,
escapam do ciclo celular normal, tendo assim, seu tempo de vida e permanência de replicação celular
maiores. Essa “imortalidade” está intimamente associada à existência de um “relógio celular”
(“replicômetro”), capaz de “contar” o número de vezes que a celular se replica e determinar a parada
desse processo. As células não neoplásicas apresentam um limite de divisões que é determinado pelos
telômeros, a partir do qual elas deixam de se dividir, provavelmente para preservar o resto de telômero
que ainda existe nos seus cromossomos. As neoplásicas, por outro lado, perdem esse limite, o que
ocorre pela expressão da telomerase. Estudos mostram que cerca de 90% das neoplasias humanas
apresentam elevados níveis de expressão da telomerase, levando a crer que os telômeros atuam de fato
como um relógio celular.

Já o DNA,quando reparado deficientemente causa a instabilidade genômica, caracterizada por mutações


generalizadas, quebras cromossômicas e aneuploidias, das quais as quebras são próximas aos telômeros
no genoma, que pode comprometer a regulação do ciclo celular, levando à formação de tumores.

EVIDÊNCIAS DE ALTERAÇÃO TELOMÉRICA/TELOMERÁSICA EM NEOPLASIAS.

Embora carcinomas em geral ocorram em pacientes mais idosos e linfomas e sarcomas tenham maior
incidência em jovens, ambos em virtude do comprimento de seus telômeros, alguns trabalhos mostram
que nos carcinomas intestinais, a disfunção telomérica promove a instabilidade genética que dá início à
carcinogênese, mas que por outro lado, a atividade em excesso da telomerase nesse caso, gera o
agravamento da doença.

Já em portadoras de neoplasias ovarianas do cordão sexual, a atividade excessiva da telomerase


representou uma sobrevida menor, quando comparado às que apresentavam atividade baixa da enzima,
levando a crer que algumas células podem entrar em senescência, outras ativarão o sinal de apoptose
(pelo encurtamento dos telômeros) já outras, continuarão a se replicar até um ponto no qual os
telômeros serão tão pequenos que não poderão impedir certos rearranjos.

Entende-se que a progressão ou não da doença depende do tipo celular e que há a participação da
telomerase na perpetuação do processo neoplásico também, não somente como um iniciador do
mesmo.

DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA TELOMERASE APLICAÇÕES DIAGNÓSTICAS

Pode-se identificar a atividade da telomerase através de teste de PCR, que determina a expressão do
gene que codifica a porção catalítica da telomerase, mais conhecida como hTERT, a partir do DNA
obtido, bem como por meio da TRAP (Telomerase Repeat Amplification Protocol),expondo um
fragmento de tecido suspeito à um primer de DNA que em caso positivo à presença da enzima, replica
sua sequencia telométrica.

Essa identificação torna-se crucial no prognóstico e determinação da malignidade dos canceres de


mama (torno de 93% de especificidade), assim como auxilia na elucidação nos casos onde a presença de
processos inflamatórios geram resultados falso-positivos.

É sabido que o câncer resulta da junção de quatro fatores que inclui a perda da regulação do ciclo
celular, a perda do controle sobre invasão e metástases, falha dos mecanismos apoptóticos e o excesso
de envelhecimento, assim sendo, a inibição da telomerase torna-se o principal alvo das atuais terapias
existentes que visam atingir a neoplasia. Visto que, com a enzima contida, a célula neoplásica reentraria
no ciclo de replicação normal para posterior morte celular, bem como ocorre com as demais células de
nosso corpo.

Embora tenha sido comprovado em testes in vitro com agentes inibidores da transcriptase reversa, que
a utilização de drogas inibe a ação da telomerase com redução dos terminais teloméricos e ainda que
aja registros de que a terapia DNA anti-sense, que faz uso de sondas contra o RNAm de uma proteína
celular impedindo sua ação, ainda assim, a falta de especificidade nesses tratamentos ainda é o maior
desafio dos cientistas.

A REPLICAÇÃO DO DNA
A replicação do DNA é o processo de Síntese de novas cadeias ou “fitas” de DNA que ocorre
antes da divisão celular, na fase S da interfase, e permite que as células filhas tenham a mesma
quantidade de moléculas de DNA cromossomal da célula mãe. A partir de uma molécula de
DNA, obtêm-se duas, por isso o processo também é chamado de duplicação.
Inicialmente um complexo enzimático contendo a enzima helicase se liga à molécula de DNA em
uma região, uma sequência de nucleotídeos, chamada origem de replicação. Um cromossomo
circular bacteriano tem normalmente apenas uma origem de replicação, ao passo que as
moléculas de DNA maiores, como as dos cromossomos, têm várias. A enzima helicase separa as
duas cadeias de DNA: ocorre a quebra das ligações de hidrogênio que as mantinham unidas.

Exemplo replicação de DNA da bactéria Escherichia coli


Helicase separando as duas cadeias de DNA.

Em seguida, as chamadas proteínas de ligação à cadeia simples (SSBP – single strand binding
proteins) se ligam às cadeias separadas e impedem que elas voltem a se unir.

Antes que a replicação aconteça, ocorre a ligação de uma enzima chamada primase, que
sintetizará um fragmento de cadeia simples de RNA, chamado primer ou iniciador de RNA,
pareado ao DNA e com nucleotídeos cujas bases nitrogenadas são complementares às da cadeia
de DNA que serviu de molde. Isso é necessário para que haja a ligação do DNA polimerase,
responsável por sintetizar uma nova cadeia de DNA: a DNA polimerase não consegue iniciar a
síntese de uma nova cadeia de DNA do “zero”, o que ela faz é continuar a sintetizar uma cadeia
que já existe, por isso tem de haver esse iniciador. Inicialmente apenas uma primase se liga em
apenas uma das cadeias, porém, posteriormente, mais primases se ligarão à outra cadeia de DNA.
Após a síntese do iniciador de RNA, a primase se desliga da molécula de DNA.

Agora o DNA polimerase se liga à cadeia de DNA, na ponta do iniciador de RNA, e começa a fazer
a leitura das bases nitrogenadas da cadeia de DNA que serve de molde, adicionando à nova
cadeia, nucleotídeos com bases nitrogenadas complementares (lembre-se de que Adenina pareia
com Timina e Citosina com Guanina).
A síntese das novas cadeias de DNA requer energia,que é fornecida pelos próprios nucleotídeos
utilizados na síntese, pois eles são trifosfatos (ATP, CTP, GTP e TTP, contendo desoxirribose e
não ribose).
E assim a síntese prossegue nas duas cadeias da molécula de DNA. A nova cadeia que está
sendo sintetizada na parte de cima da figura é produzida continuamente, pois, uma vez ligado
ao DNA, o complexo DNA polimerase só se desliga ao término do processo de replicação, por
isso, essa cadeia é chamada contínua e só necessita de um primer. O mesmo não ocorre na
cadeia que está sendo sintetizada na parte de baixo da figura. Nesse caso, é preciso que a
helicase aos poucos vá abrindo a molécula de DNA mãe para que as DNA polimerases possam
se ligar na porção que acabou de ter suas duas cadeias separadas. Assim, essa cadeia de baixo é
sintetizada de maneira descontínua, requerendo a síntese de vários primers de RNA e a ligação
repetida de DNA polimerases. Por isso é chamada cadeia descontínua. Cada fragmento da
cadeia descontínua é chamado de fragmento de Okazaki. Antes do término do processo, outras
enzimas irão remover os primers de RNA, adicionar nucleotídeos de DNA e ligar todos os
fragmentos das novas cadeias.
Devido ao fato de que as moléculas novas de DNA possuem uma cadeia velha e uma nova, a
replicação é dita semiconservativa.

As DNA polimerases são capazes de efetuar uma checagem de erros, caso tenham adicionado
um nucleotídeo cuja base nitrogenada não seja o par correto daquele lido na cadeia mãe. Caso
isso ocorra, elas removem o nucleotídeo mal pareado e o substituem por um que forme o par
de maneira correta.

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