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Guia de Orientações Fisioterapêuticas Na Assistência Ao Paciente Pós Covid 19
Guia de Orientações Fisioterapêuticas Na Assistência Ao Paciente Pós Covid 19
FISIOTERAPÊUTICAS NA
ASSISTÊNCIA AO
PACIENTE
PÓS COVID-19
FACULDADE DE FISIOTERAPIA E
TERAPIA OCUPACIONAL
CURSO DE FISIOTERAPIA
Autores:
Prof. Dr. Paulo Eduardo Santos Avila
Doutor em Biotecnologia - Universidade Federal do Pará (UFPA)
Professor efetivo da Universidade Federal do Pará (UFPA)
Colaboradores:
Profª. Drª. Natáli Valim Oliver Bento-Torres
Doutora em Neurociências e Biologia Celular - Universidade Federal do Pará (UFPA)
Professora efetiva da Universidade Federal do Pará (UFPA)
Visto que 81% das pessoas infectadas desenvolvem a forma leve ou não
complicada da doença; 14%, sintomas graves que requerem hospitalização e
suporte de oxigênio; 5% exigem tratamento na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), optou-se por direcionar as informações para as situações mais graves e
que podem acarretar complicações e até mesmo sequelas.
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O certo é que o paciente deve começar a reabilitação o mais rápido possível,
desde que esteja clinicamente estável. Sendo que todo esse processo, com
duração de cerca de três meses, deve ser acompanhado por fisioterapeuta
qualificado.
Autores e colaboradores
JULHO - 2020
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COVID-19
(CORONA VIRUS DISEASE – DOENÇA DO CORONAVÍRUS)
Todos esses cuidados devem ser prolongados até a fase final do tratamento
fisioterapêutico, mesmo após a resolução dos sintomas, pois estudos têm
demostrado a incerteza de quanto tempo o vírus pode permanecer ativo,
sendo o indivíduo ainda um possível transmissor.
ATENÇÃO!
Adote práticas de proteção e higienização durante
o tratamento fisioterapêutico.
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FENÓTIPOS DA COVID-19
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Figura 1A: Tipo L (Low), caracterizado por baixa
elastância, baixa relação ventilação-perfusão, baixo
peso pulmonar e baixa capacidade de recrutamento.
Figura 1B: Tipo H (High), caracterizado por alta
elastância, alto peso pulmonar e alta capacidade de
recrutamento.
Figura 2: Classificação em três fenótipos baseada nos padrões da tomografia computadorizada de tórax de
pacientes com COVID-19.
Fonte: Robba C. et al. Distinct phenotypes require distinct respiratory management strategies in severe COVID-19. Respiratory Physiology
& Neurobiology. 2020.
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SEQUELAS DA COVID-19
Sequelas Respiratórias
Apesar da inexistência de dados fidedignos para comprovar as sequelas
respiratórias causadas pelo SARS-CoV-2, acredita-se que, por ser uma infecção
respiratória, o pulmão será muito afetado, mesmo na ausência de
sintomatologia.
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Dessa forma, a somatória de toda a agressão causada ao pulmão do paciente
pelo processo inflamatório viral predispõe ao cansaço, fadiga, perda de
capacidade de tosse e dispneia, mesmo em repouso ou em atividades de vida
diária (AVDs), necessitando, eventualmente, de oxigenioterapia.
Sequelas Musculoesqueléticas
As consequências musculoesqueléticas, assim como seus mecanismos
fisiopatológicos precisos para pacientes com COVID-19, ainda não estão
estabelecidos. Os pacientes em ventilação mecânica na UTI são propensos à
sarcopenia e fraqueza muscular, independente da doença de base da
internação.
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A sintomatologia é muito variada, pode perdurar muito tempo após a
internação e infecção. Destacam-se dor, fraqueza e fadiga, mesmo ao executar
atividades de baixa intensidade. Em idosos, devido à sarcopenia fisiológica
esperada pelos mecanismos de envelhecimento, a sintomatologia tende a ser
mais evidente, reduzindo a capacidade funcional e independência.
Sequelas Neurológicas
O SARS-CoV-2 entra no corpo humano por meio dos receptores da Enzima
Conversora da Angiotensina do tipo 2 (ECA2), expresso no trato respiratório e
também no sistema nervoso central (SNC), tornando-o vulnerável ao SARS-
CoV-2 com provável mielite.
Porém, deve-se ficar alerta pois, em alguns casos, foram observadas sequelas
graves de encefalite, encefalopatia, encefalopatia necrosante aguda e mielite
pós-infecciosa, levando à paralisia flácida aguda de membros inferiores
bilateralmente.
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Além disso, já se têm descritos casos de pacientes infectados por SARS-CoV
com evolução para quadros de desordens cerebrovasculares, como Acidente
Vascular Encefálico Isquêmico (AVEi). Revisões sistemáticas têm reportado
também a apresentação da síndrome de Guillain-Barré e Miller Fisher, ambas
levando a comprometimentos sensoriais e motores debilitantes.
Sequelas Cardiológicas
Assim como outros CoVs, o SARS-CoV-2 está associado a complicações como
arritmias e lesões de sobrecarga ao músculo cardíaco. Apesar da pouca
compreensão sobre os mecanismos de lesão e repercussões em cada
paciente, as complicações cardíacas são multifatoriais e podem resultar de
lesão miocárdica viral, hipóxia, regulação negativa do receptor ACE2,
hipotensão, aumento sistêmico da carga inflamatória ou toxicidade de drogas.
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FISIOTERAPIA EM PESSOAS COM SEQUELAS DE COVID-19
A avaliação pode ser feita por escalas ou questionários, como por exemplo, a
Medida de Independência Funcional (MIF), ou por testes de esforço
submáximos, como o de caminhada de seis minutos (TC6’), o do degrau de
seis minutos, o de AVD Glittre, dentre outros. Todos os testes citados são
validados e possuem grande relação com o método padrão ouro para
avaliação da capacidade funcional e aeróbia - o teste cardiopulmonar
(ergoespirométrico).
Avaliação respiratória
Diante das sequelas descritas relacionadas ao sistema respiratório, é
indispensável a avaliação da função pulmonar por intermédio da espirometria,
teste padrão ouro para o alcance de dados precisos relacionados aos volumes
e capacidades pulmonares do paciente e, assim, compreender as disfunções
relacionadas a esse sistema orgânico, caracterizadas como distúrbio
respiratório restritivo, obstrutivo ou misto.
A ausculta pulmonar não pode ser esquecida e deve ser feita rotineiramente.
Ela fornece achados importantes ao planejamento da conduta
fisioterapêutica. Ademais, pode-se avaliar a mobilidade toracoabdominal por
intermédio da cirtometria toracoabdominal.
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Avaliação cardiovascular
O comportamento das variáveis hemodinâmicas diante do esforço físico deve
sempre ser realizado nos pacientes pós-COVID-19. Todavia, esse processo
pode e deve ser feito durante a aplicação do teste de avaliação da capacidade
funcional (ex.: teste de caminhada de seis minutos).
Avaliação musculoesquelética
A avaliação da força muscular pode ser realizada por meio da escala MRC
(Medical Research Council) ou por testes de esforço físico, como o de
contração voluntária máxima (CVM) e os de repetições máximas (3, 5 ou 10
repetições máximas). Quando possível, a avaliação isocinética deve ser
aplicada; ela é considerada o método padrão ouro para avaliação da força
muscular.
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Avaliação neurofuncional
A anosmia ou hiposmia pode ser analisada com a testagem do I nervo
craniano, o olfatório. A presença de dor pode ser investigada. Pode ser feita a
anamnese pela ferramenta unidimensional mais simples e utilizada, a Escala
Visual Analógica de dor (EVA), por meio da qual o paciente deve indicar a
intensidade da dor apresentada, naquele momento, para o local investigado.
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INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTES
PÓS-COVID-19
Treinamento aeróbio
O treinamento aeróbio sempre deve ser utlizado na reabilitação de pacientes
pós-COVID-19. Esse método de treinamento gera impactos importantíssimos
sobre a capacidade aeróbia e funcional dos pacientes.
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Indica-se que o treinamento inicie com movimentos menos complexos
(monoarticulares) em cadeia cinética aberta, com grupamentos musculares
isolados. Com o passar do tempo, evolui-se para exercícios mais complexos
(multiarticulares), com grandes grupamentos musculares em cadeia cinética
fechada.
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Aumentar a força muscular localizada;
Reduzir a sensação de dispneia e a fadiga muscular durante as AVDs;
Aumentar a capacidade funcional;
Reduzir o perfil inflamatório;
Aumentar a capacidade oxidativa dos músculos esqueléticos;
Melhorar a qualidade de vida;
Aprimorar a função pulmonar por meio da melhora da disfunção muscular
periférica.
Diversos estudos apontam que a carga inicial ideal para realização do TMI de
força é de 50% da PImáx (mensurada previamente pela manovacuometria). O
fisioterapeuta deve aplicar de 2 a 3 séries de 10 a 30 repetições, com 1 a 2
minutos de intervalo entre elas. Entretanto, é primordial incrementar a carga
de trabalho a cada 2 a 4 semanas, por meio do aumento da intensidade (que
pode chegar até 70% da PImáx), do número de repetições, de séries ou
mesmo pela redução do intervalo entre as séries.
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