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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Centro de Formação e Humanidades


Faculdade de Formação de Professores

DANILO MONTEIRO FIRMINO

Uma “Nova Era” no ateísmo: ciência moderna, espiritualidade e desencantamento religioso na


perspectiva de Sam Harris

São Gonçalo
2018
1
I - DELIMITAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO TEMA

Esse projeto de pesquisa tem como objetivo principal estudar proposta de


espiritualidade sem religião desenvolvida pelo neurocientista e filósofo ateu Sam Harris. O
autor ganhou destaque na mídia mundial ao lançar a obra O Fim da Fé: Religião, Terrorismo
e o Futuro da Razão (2007),1 sendo assim um dos pioneiros 2 do se convencionou chamar
“neo-ateísmo”3, um importante movimento ateu contemporâneo marcado pela militância
ateísta, discurso antirreligioso e que foi um fenômeno editorial em diversas partes do mundo.4
Harris acreditar ser possível um indivíduo ateu desenvolver sua espiritualidade, afastando-a
de aspectos religiosos ou místicos, encontrando na ioga e no uso de drogas alucinógenas um
caminho privilegiado para essa tarefa. 
A hipótese defendida por esse trabalho é que Sam Harris visa “desencantar” práticas
relacionadas à Nova Era (New Age), buscando racionalizá-las por meio da ciência moderna.
Isso possibilitaria até ao ateu mais militante e antirreligioso seu exercício, sem recusá-las por
seu suposto caráter místico e/ou religioso e não contrariando uma suposta “identidade ateísta”.
Então, esta proposta “desencantadora” abriria caminho para discutir se o “despertar ateísta” de
Harris pode ser visto como parte desse amplo conjunto de experiências que fazem parte da
New Age, mesmo que o autor rejeite tal rótulo (HARRIS, 2015, p. 23).5
Nesse sentido, um dos fios condutores da tese é investigar o fenômeno da Nova Era,
para assim compreender de que forma as práticas e reflexões de Harris se relacionam com a
New Age. Tendo como grandes influências o esoterismo europeu e a religiosidade oriental
(OLIVEIRA, 2011), as práticas consideradas Nova Era incluiriam “sistemas divinatórios,

1
Título original: The End of Faith: Religion, Terror and The Future of Reason (2004).
2
Após o lançamento da obra de Harris, diversos livros de cientistas ateus foram publicados. Nesse
sentido, podemos destacar The God Delusion (2006), de Richard Dawkins, Breaking the Spell:
Religion as a Natural Phenomenon (2006) de Daniel Dennett e God Is Not Great (2007) de
Christopher Hitchens.
3
Como foi observado por FRANCO (2014), o nome “neo-ateísmo” não é utilizado pelas instituições
ateístas contemporâneas por ser considerado pejorativo por muitos. Nesse trabalho, o termo será
utilizado entre aspas e apenas para fins acadêmicos, sem juízo de valor.
4
Maiores informações em: https://www.ft.com/content/d2239780-4d4e-11e1-8741-00144feabdc0;
https://edition.cnn.com/2006/WORLD/europe/11/08/atheism.feature/index.html;
https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2019/09/atheism-fastest-growing-religion-us/598843/;
https://www.theguardian.com/uk/2006/oct/29/books.religion;
https://www.nytimes.com/2007/03/03/books/03beliefs.html; acesso em 01/08/2020.
5
Talvez por perceber a íntima relação entre suas ideias e a Nova Era, Harris expõe: “É por certo
inconveniente para as forças da razão e do secularismo que, se alguém acordar amanhã sentindo um
amor ilimitado por todos os seres sencientes, as únicas pessoas que provavelmente reconhecerão a
legitimidade da experiência desse indivíduo serão representantes de uma ou outra religião da Idade do
Ferro ou de um culto new age” (HARRIS, 2015, p. 23).
2
propostas de autoajuda, técnicas de relaxamento e meditação (...) exercícios de yoga, tai-chi-
chuan, lian gong; (...) o consumo de incenso e a crença em duendes” (MAGNANI, 1996, p.7-
8), dentre muitas outras, surgindo durante os movimentos de contracultura (HEELAS, 1996;
D’ANDREA, 2000; HANEGRAAFF, 2005).
A contracultura, movimento iniciado nos anos 50 e que atingiu o auge no final da
década de 60, se caracteriza pela “afirmação do poder individual de criar sua própria vida,
mais do que aceitar os ditames das autoridades sociais e convenções circundantes, sejam elas
dominantes ou subculturais” (GOFFMAN e JOY, 2004, p.4). Grupos que valorizam a
individualidade, como os movimentos punk e hippie, por exemplo, podem ser considerados
como representantes da contracultura. A Nova Era não escapa dessa realidade, considerando o
individual como principal elemento na busca pela religiosidade e/ou espiritualidade.
O nome Nova Era deriva da cosmologia astrológica, sendo a indicação de uma nova
maneira de pensar e agir. De acordo Max Klim 6 (2000), a década de 1960 marcou um período
de transição entre a Era de Peixes e a Era de Aquário, caracterizando assim uma nova Era
Astrológica, onde a Terra estaria sob a influência da constelação de Aquário. 7 A Era de Peixes
teve início com o cristianismo e estabeleceu o modo de vida ocidental que causou grandes
desequilíbrios espirituais graças ao seu materialismo. Por outro lado, a Era de Aquário
promete novas formas de se relacionar com o sobrenatural, o mundo e a natureza “no sentido
de um reequilíbrio entre os polos – corpo/mente, espírito/matéria, masculino/feminino,
ciência/tradição (...) até então opostos em conflito” (MAGNANI, 2000, p. 10).
Silas Guerriero (2009) sugere que “as práticas que costumam ser classificadas como
de Nova Era são a ponta de um iceberg, a parte visível de um estilo diferente de lidar com a
espiritualidade, com o corpo e com o desenvolvimento pessoal [grifo nosso]” (GUERRIERO,
2009, p. 38). Essa tríplice busca destacada se encontra presente nas ideias de Harris, pois o
6
Max Klim é o pseudônimo de Carlos Alberto Lemes de Andrade, um dos mais respeitados astrólogos
do Brasil, responsável durante quatro décadas pelo horóscopo do Jornal do Brasil e de outros meios de
comunicação.
7
Segundo nos explica o astrólogo e historiador Max Klim (2000), a Era Astrológica tem relação com
o movimento de precessão da Terra – fenômeno astronômico considerado místico pelos astrólogos. A
Terra não se encontra em um eixo reto, mas inclinada em torno de 23,5º. Com essa leve inclinação, a
Terra gira em torno do seu eixo inclinado e também de um “eixo imaginário vertical” – como um pião.
De acordo com Klim, “O movimento (...) coloca o nosso planeta sob a regência periódica dos signos
do Zodíaco, da mesma forma como o ano é dividido em períodos aproximados de trinta dias, um para
cada signo (...) A divisão dos Ciclos Astrais em 25.920 anos e em 12 Eras de 2.160 anos, cada uma
com o nome de um signo, rege os diferentes períodos da história humana com lapsos de tempo nos
quais a nossa espécie tem sido condicionada a agir em consonância com uma escala de valores que, de
forma impressionante, representa a influência que os signos exercem sobre todos os seres humanos”
(KLIM, 2000, p.22-23).

3
neurocientista procura demonstrar que esses três aspectos podem ser alcançados por um ateu
de maneira plena, através da moral guiada pela ciência, da prática da ioga e do
desenvolvimento da espiritualidade afastada da religião. 
Conforme explica Guerriero, a Nova Era parte do pressuposto de que a “divindade”
está dentro de cada um, classificando-a como a “religião do self” (GUERRIERO, 2009, p. 9).
O self é o “ser”, nossa identidade, nosso lugar no mundo. De acordo com Charles Taylor
(1997), um dos sentidos ao se referir a uma pessoa como self significa dizer que “elas são
seres da profundidade e complexidade necessárias para ter (ou para estar empenhadas na
descoberta de) uma identidade” (TAYLOR, 1997, p. 50).  O self, de acordo com Taylor, tem
relação direta com a busca pela moralidade 

“a noção de self que o vincula à nossa necessidade de identidade pretende


apreender esta característica crucial do agir humano, a de que não podemos
dispensar alguma orientação para o bem, de que essencialmente somos (...) a
posição que assumimos em relação a isso (...) só se é um self no meio dos
outros. Um self nunca pode ser descrito sem referência aos que o cercam”
(TAYLOR, 1997, p. 51 e 53).

Abordar a moralidade em Sam Harris é de importância vital para tese, sendo este um
tema recorrente nas obras do autor. A obra A Paisagem Moral: como a ciência pode
determinar os valores humanos (2013)8 objetiva não apenas reforçar o discurso antirreligioso
do neurocientista, mas propõe uma moralidade baseada totalmente na ciência moderna.
Segundo Harris, conforme o conhecimento racional se aprimora, maior a capacidade do ser
humano agir de maneira moral. Nesse sentido, como o autor considera o discurso religioso
irracional por natureza, a ciência deve ser considerada o único critério válido nas tomadas de
decisões da sociedade. Seu argumento central é simples: não é necessário um deus para buscar
o bem-estar da humanidade, pois é possível encontrar a moralidade agindo de maneira
racional e se preocupando com o próximo.
Harris procura demonstrar como é possível a ciência ter conclusões objetivas sobre
moral e valores. Embora o estudo da moralidade seja considerado pelo mesmo como um
campo ainda em desenvolvimento na ciência, ressalta que, com pesquisas sérias e honestidade
intelectual, esse fator pode ser mudado. Um grande problema, argumenta, é que parte da
sociedade acredita que os valores só ocorrem devido a algum preceito religioso, como se a
religião fosse a doadora da moral humana. Pelo fato do ocidente ser bastante religioso, muitos
cientistas procuram não intervir nessas questões, buscando separar assuntos entre ciência e

8
The Moral Landscape: How Science Can Determine Human Values (2010).
4
religião, com a moralidade sendo um assunto religioso que não deve ser estudado
cientificamente (HARRIS, 2013, p. 14).
Discordando dessa proposta, Harris afirma que a moral pode e deve ser estudada pela
ciência e um caminho para isso é estabelecer uma conexão entre moral e bem-estar, afastando
assim a religião do processo. Para o autor, a moralidade é definida como “o conjunto de
atitudes, escolhas e comportamentos que potencialmente afetam a felicidade e o sofrimento de
outras mentes conscientes” (HARRIS, 2013, p. 20). E, embora aceite que estabelecer o
conceito de “bem-estar” seja problemático (HARRIS, 2013, p. 19), isso não impede que o
mesmo seja estudado.
Harris acredita que a possível dificuldade em estudar objetivamente os valores humanos
reside, principalmente, devido a uma afirmação que considera intelectualmente insustentável
e que diz respeito às possíveis distinções entre valores e fatos. Segundo argumenta, em
neurociência, tais conceitos não possuem diferenças (HARRIS, 2013, p. 31). O autor afirma
que,

“O cérebro humano é uma máquina de acreditar. Nossas mentes


constantemente consomem, produzem e tentam integrar ideias sobre nós
mesmos e sobre o mundo à nossa volta que se propõem verdadeiras (...) a
crença também faz a ponte entre fatos e valores. Nós formamos crenças
sobre fatos, e, nesse sentido, a crença perfaz a maior parte daquilo que
sabemos sobre o mundo (...) mas também formamos crenças sobre valores
(...) ambos os tipos de crença fazem alegações tácitas sobre certo e errado:
alegações estas que não se limitam àquilo que pensamos e sentimos, mas
também àquilo que deveríamos pensar e sentir” (HARRIS, 2013, p. 22).

Nesse sentido, o autor acredita que a neurociência pode compreender os valores da


mesma forma que aborda os fatos, pois ambos são processados pelo cérebro. O que falta,
segundo Harris, é o desenvolvimento da pesquisa acadêmica objetiva no campo da moral, pois
assim seria possível verificar como a fronteira entre fatos e valores é ilusória (HARRIS, 2013,
p. 22). Segundo afirma, o meio científico necessita de especialistas em moralidade, pois
somente eles seriam capazes de identificar um parâmetro entre “certo” e “errado”, criando
assim leis morais que visam estabelecer uma verdade moral (HARRIS, 2013, p. 42).
A discussão e interpretação da moral proposta acima é importante para entendermos
uma das ideias mais relevantes de Harris, que é a desconstrução do conceito de self. Nesse
sentido, o autor acredita ser possível um estudo científico da espiritualidade, desde que sejam
afastadas ideias religiosas e místicas. Despertar: um guia para espiritualidade sem religião (2015) 9

9
Título original: Waking Up: A Guide to Spirituality Without Religion (2014)
5
é a obra de Harris que aborda com mais detalhes questões sobre espiritualidade. Esse livro age
em duas direções: (1) demonstrar como as “experiências espirituais” são apenas processos
neuroquímicos do cérebro, sendo por isso explicáveis pela neurociência; (2) ser um guia para
o desenvolvimento de uma “espiritualidade sem religião”, buscando demonstrar como é
possível a mente humana influir no corpo de maneira direta sem a necessidade de nenhum
traço dito sobrenatural. 
Entendendo “espiritual” como “os esforços que as pessoas fazem, através da meditação,
substâncias psicodélicas ou de outros meios, para trazer a mente por inteiro ao presente ou
para induzir estados incomuns de consciência” (HARRIS, 2015, p. 15), pretende uma
“abordagem racional da espiritualidade” separando os conceitos de “espiritualidade” e
“religião”. Para compreender a natureza humana é necessário se livrar dos dogmas que ligam
a moralidade e espiritualidade à religião, sendo a ciência o único caminho de investigação
confiável (HARRIS, 2015, p. 17-18).
O autor acredita que o sentimento de self, como se “você” se encontrasse em algum
lugar “atrás dos seus olhos” observando o mundo, é uma ilusão. Não existe um “eu superior”,
transcendente, místico e separado do seu corpo, todas essas sensações são processos
neuroquímicos. Todas as experiências de “autotranscedência” podem ser interpretadas pela
ciência moderna, não existindo nada místico/sobrenatural nelas. A espiritualidade, para o
autor, significa “o aprofundamento da compreensão e a indicação reiterada da ilusão
representada pelo self” (HARRIS, 2015, p. 17-18).  É no sentido de compreender o self como
uma ilusão que o autor introduz a ioga e o seu estudo científico. Para Harris, a espiritualidade
revela a natureza da nossa própria consciência e da nossa psique e a ioga leva diretamente à
dissipação do self:

“quando fazemos silêncio e meditamos durante semanas ou meses seguidos,


sem fazer mais nada (...) temos experiências que em geral estão fora do
alcance de pessoas que não se dedicaram a uma prática semelhante. Acredito
que tais estados mentais dizem muito sobre a natureza da consciência e as
possibilidades de bem-estar humano. Deixando de lado a metafísica, a
mitologia e o dogma sectário, o que as pessoas contemplativas descobriram
ao longo da história é que existe uma alternativa ao feitiço contínuo das
conversas que temos conosco; há uma alternativa á simples identificação
com o próximo pensamento que brota na consciência. O vislumbre dessa
alternativa dissipa a ilusão convencional do self” (HARRIS, 2015, p. 23). 

Para Harris, esse estado mental é difícil de atingir e de estudar pelo fato da religião
nublar a potencialidade da mente humana, preenchendo-a de superstições e falácias que
dificultam o nosso entendimento sobre os estados mentais (HARRIS, 2015, p. 24). A grande
6
pergunta feita por Harris é: “será possível encontrar uma satisfação duradoura apesar da
inevitabilidade da mudança?” (HARRIS, 2015, p. 26). A espiritualidade então age no sentido
de fornecer essa resposta, ocorrendo no momento em que as ilusões do self são apagadas:

“A vida espiritual começa com a suspeita de que a resposta a essas questões


pode muito bem ser “sim”. E um praticante espiritual verdadeiro é alguém
que descobriu que é possível estar satisfeito no mundo sem razão nenhuma,
mesmo que seja apenas durante alguns instantes de cada vez, e que tal
satisfação é sinônimo de transcender as fronteiras aparentes do self”
(HARRIS, 2015, p. 26). 

A presente tese propõe que, da mesma forma que a Nova Era consegue ressignificar e
recriar a religiosidade e espiritualidade através de suas práticas (GUERRIERO, 2009, p. 37),
pode ressignificar o ateísmo contemporâneo. Assim, o trabalho procura demonstrar como as
ideias de Harris encontradas em Despertar podem ser interpretadas como pertencentes a esse
amplo conjunto de experiências chamadas de Nova Era. Em suma, o trabalho acredita que a
ideia de “espiritualidade ateísta” proposta pelo autor encontra eco em práticas presentes na
Nova Era, tais como a importância da medicação e do uso de drogas para atingir determinados
estados mentais. Nesse sentido, não é apenas no seio das religiões que o movimento da Nova
Era consegue penetração e espaço, mas também dentro do ateísmo. 
O ateísmo faz parte da caminhada da humanidade desde o início dos tempos.
(THROWER, 1971, MINOIS, 2014). Em diversas sociedades, em menor ou maior
quantidade, os ateus estiveram presentes, mesmo que geralmente ocultos, em especial com
temor do que poderia acontecer caso sua posição em relação aos deuses e sobrenatural fossem
reveladas. Na contemporaneidade, essa afirmativa se repete parcialmente. Embora no ocidente
exista relativa liberdade que permite um indivíduo se afirmar ateu, no oriente, em especial em
alguns países islamizados, essa situação não se repete. Em certo sentido, os ateus ainda se
encontram marginalizados em meio a uma sociedade profundamente religiosa. 
Essa marginalização em relação ao ateísmo parece ser reproduzida na produção
acadêmica brasileira. Apesar do crescimento das pesquisas sobre o tema, ainda não é possível
comparar com a quantidade de trabalhos onde a religião é o foco principal. O ateísmo
contemporâneo, em sua versão “neo-ateísta” ou não, é pouco explorado no campo acadêmico.
A maioria dos trabalhos são publicados em formato de artigo ou anais em eventos, com
poucas dissertações ou teses disponíveis.

7
Uma busca no Catálogo de Teses e Dissertações Capes 10 demonstra como a academia
brasileira é carente de trabalhos nessa temática. Embora a pesquisa tenha encontrado 109
resultados com o termo “atéismo” e 3 com “neo-ateísmo”, poucos versam diretamente sobre o
ateísmo contemporâneo. A grande maioria dos textos tem como tema a religião, materialismo,
secularização ou algum autor específico – em especial Jean Meslier, Saramago, Feuerbach,
Nietzsche e Sartre – com o ateísmo não sendo o principal objeto de análise. Em se tratando do
“neo-ateísmo”, os trabalhos têm como principal destaque Richard Dawkins e sua militância
antirreligiosa constante.
Dentre o (pouco) material encontrado, os que mais dialogam para essa pesquisa são:
Quem é Ateu? Uma compreensão da identidade ateísta (2019) de Fernando Mezadri; Uma
introdução ao Movimento do Neoateísmo: Definições e Metateses (2016), de Valmor Santos;
Fé em diálogo. Aspectos da teologia de Andrés Torres Queiroga em diálogo com o
pensamento “neo-ateu” de Richard Dawkins (2010), de Marcio Conceição; Deus, um
delírio? Uma análise da doutrina neoateísta de Richard Dawkins enquanto doadora de
sentido para a vida (2015), de Clayton Nascimento; Ateísmo, néo-atéismo e o "problema" da
religião no século XXI: uma análise da obra "Deus, um delírio”, (2017) de Maria Helena
Ferreira; A Cidade dos Brights:Religião, Política e Ciência no Movimento Neo-Ateísta
(2011), de Flavio Gordon; Comunicação e Ateísmo: novas contexturas no Brasil (2014), de
Sergio Martin; O Ateísmo dentro de uma ordem jurídica plural: contributo para a
democracia e defesa de direitos, de Raimundo Martins (2017); Ateísmo pós-moderno de
Michael Onfray: Descrição, Análise dos Pressupostos Filosóficos e Avaliação Crítica (2014),
de Renato Borges; Ainda Encantados?O “neo-ateísmo” e o desencantamento do mundo de
Leonardo (2014), Graças a Deus sou ateu: humor e conflito entre ciência e religião nas
comunidades neoateístas do Facebook (2015), de Rogério Silva; Correlações entre sentido
de vida e espiritualidade sob a ótica do discurso do sujeito coletivo ateu (2016), Lorena de
Sá; Ciência Moderna, Religião e os Novos Ateístas (2016), de Roney Andrade e O ateísmo de
Richard Dawkins nas fronteiras da ciência evolucionista e do senso comum (2014) de
Clarissa de Franco.
Procurando por mais trabalhos sobre ateísmo em buscadores e bancos de dados,11 um
cenário não tão diferente foi observado. Em 2007, a Revista Online do Instituto Humanitas

10
https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/, acesso em 01/08/2020.
11
As buscas se concentraram no Google Acadêmico, Academia.edu e na plataforma Scielo, acesso em:
30/07/2020.
8
Unisinos lançou a edição O “novo” Ateísmo em discussão,12 demonstrando preocupação com
o fenômeno que chamaram de o “novo ateísmo”, procurando explicar o fenômeno sob um
olhar cristão. Entre os artigos que versam sobre “neo-ateísmo” e ateísmo contemporâneo
podemos destacar o Dossiê neoateísmo: questões e desafios (2010),13 lançado pela revista
Horizonte da PUC Minas, que reúne seis artigos sobre os temas; Darwinismo como
metanarrativa no neo-ateísmo: uma abordagem a partir da crítica de Alister Mcgrath (2015),
de Max Rodrigues; A voz dos Sem-Deus: ateísmo, publicidade e espaço público (2015), de
Leandro Santos; Ateísmo no Brasil: da invisibilidade à crença fundamentalista (2014) de
Paula Montero e Eduardo Dullo que destaca como o ateísmo é um campo pouco estudado no
Brasil e Comparando os escritos do neoateísmo (nat): em busca de uma definição (2016), de
Adilson Koslowski e Valmor Santos. 
Em relação ao mercado editorial e obras de pesquisadores brasileiros, a produção é
ainda mais escassa. Em uma busca entre os principais sites de venda de livros comerciais e
acadêmicos14, foi possível localizar O Ateísmo no Brasil: sentidos da descrença nos séculos
XX e XXI (2020) de Ricardo da Silva; os livros da Trilogia do Nada do editor do site
Ateus.net, o livre pensador André Cancian, O Vazio da Máquina (2015), Ateísmo &
Liberdade (2015) e Ateísmo e Niilismo (2015); e Ateísmo e Evolução de Ivan Serra Braga
(2012). Outras obras abordam as relações do Direito com o ateísmo, tais como Estado
Constitucional e Neutralidade Religiosa: entre o Teísmo e o (neo)ateísmo (2013) de Jónatas
Machado e O Ateísmo dentro de uma Ordem Jurídica Plural (2018) de Raimundo Martins.
O mais curioso foi constatar que a maioria das obras que tem o ateísmo como tema são
“respostas” ou reflexões cristãs em relação ao ateísmo, como Ateísmo E Relativismo - É

12
Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao245.pdf, acesso em
01/08/2020.
13
Enquanto essa pesquisa estava sendo realizada, a revista digital especializada em religião Relegens
Thréskeia abriu chamada para o segundo dossiê sobre ateísmo na produção acadêmica brasileira
intitulado História, Laicidade e Ateísmo. Maiores informações em:
http://www.uel.br/laboratorios/religiosidade/pages/arquivos/2%20-%20DOSSIE%20ATEISMO%20E
%20LACIDADE.pdf, acesso em 30/07/2020.
14
Mais de 30 sites foram consultados, incluindo www.amazon.com.br;
https://www.pacolivros.com.br/; https://www.editoraappris.com.br/; https://www.saraiva.com.br/;
https://www.leitura.com.br/; https://www.submarino.com.br/; https://www.americanas.com.br/;
www.livrariacultura.com.br; https://www.extra.com.br/; https://www.travessa.com.br/;
https://www.livrariavozes.com.br/; https://www.livrariaunesp.com.br/; http://www.eduff.uff.br/;
https://www.eduerj.com/; http://www.editora.ufrj.br/; https://www.editoraufmg.com.br/#/;
https://www.paulinas.org.br/; https://www.companhiadasletras.com.br;
https://www.livrarialoyola.com.br/; https://www.martinsfontespaulista.com.br/; acessos entre 25/07 e
01/08.

9
Possível Conciliar? (2017), de Anderson Alves; Deus no Banco dos Réus (2020) de Paulo
Leonardo Medeiros Vieira; Raízes Históricas e Filosóficas do Ateísmo Contemporâneo
(2016) de Lúcio Flávio de Vasconcellos Naves; A Desgraça Do Ateísmo Na Educação (2019)
de Felipe Sabino De Araújo e a coletânea Ateísmos e irreligiosidades (2018) de Edenio Valle.
Na comparação com três temas recorrentes desta tese – espiritualidade, religião e
Nova Era – a produção sobre o ateísmo se demonstra ainda menos notável. Em uma rápida
busca no banco de teses CAPES, o verbete “espiritualidade” encontrou 2.072 pesquisas,
15
religião alcançou 12.003, Nova Era obteve 503 resultados e New Age obteve 70 retornos.
Diante do exposto, fica nítida a escassa produção sobre o ateísmo, sendo esse fundamento
importante para a realização desta pesquisa. Conforme afirmou Ciro Flamarion Cardoso
(2017), um dos principais motivadores para o trabalho acadêmico é o preenchimento de uma
“lacuna” no tema escolhido (CARDOSO, 2017, p.1), situação que no caso do ateísmo é
bastante evidente.
A justificativa se dá pela necessidade de abrir mais espaços e debates sobre a temática
ateísta, ainda pouco presente em pesquisas acadêmicas. Embora o crescimento de grupos
ateístas seja um fato considerável no Brasil e no Mundo, poucos estudiosos refletiram sobre o
tema. Em relação ao objeto de pesquisa principal desta tese, Sam Harris, a produção
acadêmica no Brasil ignora completamente. As pesquisas que versam sobre obras dos autores
“neo-ateus” têm como alvo privilegiado Richard Dawkins, pois o mesmo tem maior
visibilidade pública. Harris geralmente é citado de maneira superficial, com a maioria dos
pesquisadores parecendo não se atentar para o fato que foi o neurocientista o primeiro autor
dentro do círculo “neo-ateísta” a lançar uma obra impactante e controversa, o livro O Fim da
Fé. Não se pretende afirmar que essa obra é a origem do movimento, mas sim demonstrar que
o livro é dos pilares do ateísmo militante contemporâneo.
Além disso, embora exista uma produção considerável em relação à Nova Era, em
especial sobre sua penetração no universo cristão, não se produziu no Brasil nada em relação
aos encontros entre ateísmo e Nova Era. O trabalho pretende abordar a Nova Era em uma
perspectiva histórica, análise pouco presente nos estudos sobre o tema – os autores, de
maneira geral, preferem investigar apenas a espiritualidade e práticas dos diversos grupos
New Age, dando especial destaque à pesquisa etnográfica.
O interesse no estudo sobre religiosidade nesta trajetória academia iniciou ainda na
graduação em História cursada na Faculdade de Formação de Professores – UERJ, em razão
15
A intenção da busca não foi o rigor analítico acadêmico, mas apenas demonstrar o contraste em
relação ao termo “ateísmo” e “neo-ateísmo” quando pesquisado.
10
de uma bolsa de iniciação científica recebida no projeto Pulsão Romântica em Transe da
professora doutora Joana Bahia. Nessa pesquisa, foi possível entrar em contato com religiões
de matrizes africanas, especialmente o Candomblé, em razão da participação no projeto ter
relação com a investigação do mercado de animais para fins religiosos que ocorre no
Mercadão de Madureira.
O ateísmo como objeto de estudo foi abordado pela primeira vez durante a tese de
conclusão de curso. O tema da pesquisa foi Barão de Holbach, filósofo ateu e materialista que
viveu durante o século XVIII, pouco estudado na historiografia brasileira, mas influente
durante o iluminismo e colaborador assíduo da Enciclopedia de Diderot e D’Alembert.
Conforme as pesquisas para a monografia foram progredindo, foi possível perceber a
semelhança entre o ateísmo de Barão de Holbach em suas obras Système de la nature ou des
loix du monde physique & du monde moral (1770) e Le Bon Sens, ou Idées naturelles
opposées aux idées surnaturelles (1772) e do autor ateu Richard Dawkins em Deus, um
Delírio.
Em um levantamento bibliográfico sobre a possibilidade de estudar o ateísmo
contemporâneo e estabelecer uma comparação com as experiências ateístas materialistas do
século XVIII, surgiu como possibilidade de pesquisa a Associação Brasileira de Ateus e
Agnósticos, também conhecida como ATEA. Essa associação afirma ser a maior da América
Latina na defesa do ateísmo e do Estado laico, não sendo tema de nenhuma pesquisa
acadêmica em programas de pós-graduação até aquele momento (2015).
Durante o mestrado, foi possível articular as ideias da associação com os autores ateus
acima citados, inclusive procurando pontos de encontro entre o ateísmo contemporâneo e o
defendido por Barão de Holbach. O ateísmo foi estudado historicamente, assim como a
laicidade no Brasil e a própria ATEA, gerando diversas apresentações em eventos,
publicações em anais e o reconhecimento de parte da incipiente comunidade acadêmica que
estuda o ateísmo, com um convite para lançar alguns materiais publicados e a dissertação em
livro.

II – OBJETIVOS

 Contribuir para os estudos de ateísmo, um campo ainda pouco explorado por


pesquisadores no Brasil;

11
  Analisar historicamente o surgimento da Nova Era, buscando as origens para suas
práticas no esoterismo do século XIX e destacando a contracultura como o momento
de organização dos diversos grupos místicos que fariam parte da New Age.
 Evidenciar a centralidade dos atentados de 11 de setembro 2001 no surgimento do
movimento “neo-ateu”, destacando a obra de Sam Harris nesse processo;
 Argumentar que a ciência moderna é o caminho privilegiado na sustentação do “neo-
ateísmo”, superando assim a defesa baseada no paradigma filosófico.

III – QUADRO TEÓRICO

A pesquisa entende que a forma que Harris procura representar o mundo apenas aceita
interpretações oriundas da ciência moderna, que é entendida como discurso da verdade por
excelência. Nesse sentido, o mundo visto pelo autor exclui totalmente qualquer possibilidade
da existência de elementos sobrenaturais. Essa dinâmica as obras de Harris, bem como faz
parte da identidade que grande parte do seu público ateu, em especial aos que compões o
movimento “neo-ateísta” (FIRMINO, 2018; MEZADRI; 2019).
Como demonstra Zygmunt Bauman (2005), a identidade sempre é forjada, inventada,
em oposição ao “outro”. Embora a identidade aparentemente seja definida por “aquilo que se
é”, na verdade ela é uma “extensa cadeia de negações, de expressões negativas de identidade,
de diferenças” (SILVA, 2000, p. 1). Assim sendo, a identidade não existe de forma “natural”,
sendo sempre cultural e socialmente produzida. Dessa maneira, ao afirmar uma identidade, o
indivíduo está dizendo tudo aquilo que ele não é. Segundo tal modelo, o significado de
determinada coisa só pode ser entendido em contraste com a diferença, pois não existe
significado sem oposição – a significação é sempre relacional e depende da diferença entre
opostos (HALL, 2000, p. 153-154). A oposição ao “outro” é uma constante nas afirmações de
Harris, quando o mesmo procura desmarcar um território claro entre a “racionalidade ateísta”
versus “irracionalidade teísta”. Seus argumentos e forma de combater o religioso, recorrendo
sempre ao meio científico e ao “pensamento racional”, procuram atingir o público leigo, com
o autor tomando para si a faceta de divulgador científico.
A pesquisa procura trabalhar com a análise das representações que Harris projetou em
seus livros a respeito da ordem e do significado das coisas no mundo. Sendo a ciência um
argumento de poder privilegiado na sociedade ocidental e o autor um neurocientista de
sucesso, suas afirmações encontram ampla aceitação entre o público ateu. Nesse sentido,
12
Harris projeta todos os seus pensamentos de acordo com a linguagem científica. Como afirma
Denise Jodelet (1993), as representações são fenômenos que agem na vida social, sendo “uma
forma de conhecimento, socialmente elaborado e compartilhado, que tem um objetivo prático
e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET,
1993, p. 4-5). Assim sendo, os estudos de Harris apoiados teoricamente no conhecimento
científico encontram eco em uma parte do público que entendem a realidade constituída
apenas de elementos materiais, ignorando assim aspectos considerados sobrenaturais.
Embora relacionado usualmente com a experiência religiosa, a espiritualidade, de
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), tem ligação com o bem-estar, não
possuindo exatamente um caráter sobrenatural ou místico. De acordo com Sandra Volcan et al
(2003), em 1988 a OMS incluiu a espiritualidade no conceito multidimensional de saúde,
definindo-a como o “conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material,
com a suposição de que há mais no viver do que pode ser percebido ou plenamente
compreendido, remetendo a questões como o significado e sentido da vida, não se limitando a
(...) crença ou prática religiosa” (VOLCAN et al, 2003, p. 441).
Dessa forma, a espiritualidade se desloca do seu sentido religioso, podendo ser
alcançada por qualquer indivíduo, mesmo os ateus. Franco (2015) demonstrou a possibilidade
do desenvolvimento de uma “espiritualidade laica”, estudando os conceitos de autores como
Luc Ferry, Comte-Sponville, entre outros. Na perspectiva de Franco, a espiritualidade laica se
coloca como

“uma prática ou uma posição ideológica que, embora rejeite a ideia de Deus
e deuses, de sobrenatural, de elementos identificados com pensamento
mágico e religioso, apontam para uma vivência de significados emocionais
profundos, que envolvem elementos como solidariedade, compaixão, ética,
bem-estar, aprimoramento do ser, da humanidade e do mundo, integração e
conexão do indivíduo com o cosmos (FRANCO, 2015, p. 102).

Odair Araújo (2003) expõe que um dos maiores desafios que se coloca para o
estudioso das ciências humanas em nossos tempos é a aparente contradição na observação dos
processos religiosos: o mundo estaria se “desencantando”, perdendo seu conteúdo “mágico” e
tornando-se mais “racional, ou na realidade existe um reflorescer da experiência religiosa
propondo um “reencantamento”? O autor explica que “o processo de desencantamento
caracteriza-se pela racionalização das atividades religiosas. Essa racionalização concretiza-se
com a ética desenvolvida pelo puritanismo ascético” (ARAÚJO, 2003, p. 2). Conforme afirma
Max Weber (2013), esse desencantar se deu com a desvalorização dos sacramentos por seitas
13
de origem protestante, em especial as calvinistas e batistas. Assim, impuseram um estilo de
vida e visão racional, desmistificando um mundo considerado “encantado”. Dessa maneira, “a
ética puritana ascética acaba provocando também o desencantamento e racionalização do
mundo. As ações orientar-se-iam, a partir de então, ainda que não plenamente, por uma
instrumentalização moderna” (ARAÚJO, 2003, p. 3). 
Essa diminuição de um mundo europeu “encantado” se deu ainda, segundo alguns
autores, pela soma de fatores históricos que culminaram no processo de secularização. A
secularização não significa o “fim da religião”, mas é fruto do processo de “desencantamento
do mundo”. Conforme teoriza Antônio Pierucci, a secularização é  

“resultado, consequência, de certa maneira, um ponto de chegada, uma


conclusão lógica do processo histórico-religioso de desencantamento do
mundo (...) enquanto o desencantamento do mundo fala da ancestral luta da
religião contra a magia, sendo uma das suas manifestações mais recorrentes
e eficazes a perseguição aos feiticeiros e bruxas (...) a secularização, por sua
vez, nos remete à luta da modernidade cultural contra a religião, tendo como
manifestação empírica o mundo moderno e o declínio da religião como
potência” (PIERUCCI, 1998, p. 9).

A termo weberiano, segundo as palavras de Pierucci (1998), afirma que o


“desencantamento do mundo” se dá em oposição a uma sociedade “encantada” (PIERUCCI,
1998; WEBER, 2013). Conforme expõe o autor, o “desencantamento do mundo, às vezes
chamado pelo próprio Weber de desencantamento religioso do mundo, ocorre em sociedades
religiosas onde a magia é eliminada como um meio de salvação” (PIERUCCI, 1998, p. 8).
Dessa forma, enquanto o desencantamento do mundo é um processo de interpretação racional
do mundo, colocando em dúvida uma realidade permeada pelo sobrenatural, a secularização
ocorre em razão dessa racionalização, no sentido que a religião deixa de ser, de maneira
gradual, a única doadora de sentido na vida da sociedade moderna. Porém, isso não significa
afirmar que ocorrerá o “fim da religião”, mas sim que, em teoria, que parte do sentimento
religioso desloca-se do público para o privado. 
Nesse sentido, Moreira (2014) demonstrou a proposta de “desencantamento” corrente
entre os “neo-ateus”, argumentando que acabar com o “encantamento” religioso é uma das
principais estratégias do movimento. Procurando dialogar com Moreira, a pesquisa entende
que a proposta de “desencantamento” da Nova Era encontra-se presente em Harris, porém
discorda de Moreira quando o mesmo afirma existir um “reencantamento” científico do
mundo, na medida que a ciência se torna o caminho privilegiado nas questões referentes à

14
militância dos “neo-ateus”. O presente trabalho acredita que a experiência ateísta da
contemporaneidade, longe de criar um “reencantamento” científico, é um produto da
secularização da sociedade.
A tese proposta acredita que, tanto o desenvolvimento histórico da Nova Era como do próprio
ateísmo, tem ligação direta com a proposta de secularização proposta por Hervieu-Léger. Para
a autora, a religião perdeu seu status de doadora hegemônica de sentido na sociedade
contemporânea ocidental, tornando-se um assunto pessoal e dispersa por toda parte, sem
nenhuma autoridade capaz de impô-la em esfera pública. Segundo as palavras da socióloga:   

“Falou-se, muito equivocadamente, de “retorno da religiosidade” (...) é


necessário ter entendido que a secularização não é, acima de tudo, a perda da
religião no mundo moderno. É o conjunto de processos de reconfiguração
onde o motor é a não satisfação das expectativas que ela suscita, e onde a
condição cotidiana é a incerteza ligada à busca interminável de meios de
satisfazê-las (...) não é a indiferença com relação à crença que caracteriza
nossas sociedades. É o fato de que a crença escapa totalmente ao controle
das grandes igrejas e das instituições religiosas” (HERVIEU-LÉGER 2015,
p. 41-42)

A autora sugere que a religiosidade no ocidente, atualmente, não passa por um


processo que pode se desenvolver até seu fim e nem marca o retorno ao “encantado”.  Ocorre
então a difusão de um “crer” individualista devido a perda de controle das grandes instituições
religiosas dos seus fiéis, promovendo a “generalização de uma busca espiritual que toca, sob
formas diversas, todas as camadas da sociedade” (HERVIEU-LÉGER, 2015, p. 115). Dessa
maneira, não apenas grupos religiosos e “místicos” podem procurar ou procuram uma
possível espiritualidade, mas também indivíduos ateus, coadunando assim com a ideia de
espiritualidade ateísta de Harris. 
Dentro dessas discussões entre secularização, desencantamento, encantamento
reencantamento, a Nova Era ganha novamente destaque. Collin Campbell (1997) acredita que
a Nova Era é fruto de uma “orientalização do Ocidente”, orientalização essa que procura fazer
frente ao Cristianismo. Conforme Campbell afirma:

“a tese aqui proposta é nada menos do que a afirmação de que o paradigma


cultural ou teodiceia que tem sustentado a prática e o pensamento ocidental
por cerca de dois mil anos está sofrendo um processo de substituição – e
com toda probabilidade terá sido substituído, quando entrarmos no próximo
milênio [milênio atual] – pelo paradigma que tradicionalmente caracterizou
o Oriente. Essa mudança radical tem sido, e continua sendo, ajudada pela
introdução de ideias e influências do Oriente no Ocidente, mas o que tem
sido de muito maior importância são os desenvolvimentos culturais e
15
intelectuais dentro da própria civilização ocidental” (CAMPBELL, 1997, p.
6). 

Embora a tese concorde que houve um aumento pelo interesse das práticas orientais,
em especial após os movimentos de contracultura, não observa essa “orientalização” do
ocidente a ponto de ocorrer uma substituição. Embora a teoria de Campbell seja considerada
no presente trabalho, será analisada sobre o prisma da proposta teórica elaborada por Edward
Said (2010) e conhecida como orientalismo.
Segundo Said, o orientalismo seria uma forma de perceber o “mundo oriental”
derivado das experiências ocidentais. Esse comportamento é reforçado pela produção
acadêmica ocidental que dissemina discursos sobre o oriente, além da oposição reforçada
constantemente entre o que é o ocidente e o oriente, oposição essa aceita como verdade e
sendo o ponto de partida de grande parte dos estudos que versam sobre a cultura oriental. No
âmbito dessa discussão, a tese procura analisar o orientalismo existente em Campbell, na
Nova Era e também em Harris.

 IV – HIPÓTESES

HIPÓTESE CENTRAL

 A racionalização da espiritualidade e moralidade de Sam Harris marca o sincretismo


da Nova Era no ateísmo, no sentido que essas reflexões se aproximam da Nova Era
tanto em suas práticas - ioga e uso de drogas - quanto na busca pela moralidade - uma
comunhão universal.

HIPÓTESES SECUNDÁRIAS

 Em sua procura pela espiritualidade ateísta, Sam Harris procura "desencantar" a Nova
Era, "permitindo" assim que ateus, mesmo os mais militantes e antirreligiosos, sejam
inseridos nas múltiplas buscas espirituais que caracterizam a New Age; 
 O desenvolvimento dos movimentos "Nova Era" e "Neo-Ateísmo" derivam do
processo de secularização da sociedade ocidental, conforme as grandes instituições
religiosas perdem o poder de controle dos fiéis, permitindo buscas individuais e
descentralizadas pela espiritualidade;

16
 As propostas de moralidade e espiritualidade ateístas defendidas por Harris fazem
parte da sua militância ateísta, sendo mobilizadas pelo autor em seu discurso
antirreligioso.

 V – FONTES E METODOLOGIA 

A fonte principal dessa pesquisa será Despertar: um guia para espiritualidade sem
religião. Essa obra foi escolhida porque remete ao argumento central do trabalho, a
penetração da Nova Era no ateísmo de Harris. Nesse livro, Harris afirma que não pretende
atacar a religião de maneira direta – embora o faça. Como um livro de “autoajuda”, o
neurocientista procura fornecer aos seus leitores uma série de dicas e técnicas para alcançar o
bem-estar, ao mesmo tempo que procura evidenciar a possibilidade da busca pela
espiritualidade sem crenças místicas ou religiosas.
As fontes secundárias são as obras O Fim da Fé: religião, terrorismo e o futuro da
razão, Carta a uma Nação Cristã, A Paisagem Moral: como a ciência pode determinar os
valores humanos16, além do site do autor www.samharris.org. Em especial, a pesquisa
pretende analisar uma série de podcasts que tem como título Waking Up. Nesses áudios, o
autor fala de temas como religião, espiritualidade, ciência, problemas sociais, eventos atuais,
quase sempre dialogando com a plateia ou com estudiosos convidados. O autor possui ainda
um canal direto de diálogo com seu público conhecido como AMA (Ask Me Anything), onde
seleciona algumas perguntas e responde principalmente em forma de áudio. Esse é um canal
exclusivo destinado apenas para quem colaborar financeiramente com o site.
Em O Fim da Fé e Carta a pesquisa procura entender principalmente as percepções de
Harris em relação ao fenômeno religioso ao afirmar existir uma irracionalidade religiosa que
impede a racionalidade do homem moderno. Essa obra é um ataque direto às religiões, em
especial ao islã – que considera o maior inimigo do ocidente. Harris explica que é necessária
uma ação rápida e enérgica contra o islã, mas não apenas contra ele, mas contra as religiões de
maneira geral, pois todas são irracionais e devem ser combatidas. O neurocientista procura
demonstrar os constantes choques entre a racionalidade e religião no mundo moderno,
analisando historicamente como a humanidade suspendeu a razão em nome da religião em
diversos momentos, citando como exemplos atrocidades que grupos religiosos afirmam
praticar em nome da fé. A fé deve ser combatida, extinta, pois a mesma e sua capacidade de

Em inglês: The End of Faith (2004), Letter to a Christian Nation (2006), The Moral Landscape:
16

How can science determine moral values (2010)


17
anular a razão do homem vão levar a humanidade a seu fim, pois sempre foi e sempre será,
segundo Harris, fontes de conflito permanente.
Carta a uma Nação Cristã é um pequeno livro com menos de cem páginas, onde
Harris procura responder à avalanche de críticas que recebeu por sua suposta intolerância em
O Fim da Fé. Nesse livro, Harris amplia suas críticas, defendendo que os supostos benefícios
que as religiões trazem não são capazes de fazer frente a todo tipo de maldades que seus
adeptos podem cometer. Nesse livro, Harris vai além: os religiosos, moderados ou não, assim
como suas religiões, são um perigo para o futuro da ciência e para a humanidade como um
todo.
Em A Paisagem Moral, Harris já havia se consolidado como um fenômeno editoral
capaz de despertar amor e ódio em seus leitores. As críticas de Harris nesse livro são
direcionadas principalmente a combater a ideia de que a religião deve ser o guia para moral
humana. Segundo o autor, apenas a ciência moderna pode ser o guia para a moralidade
humana, em especial a neurociência. Nesse sentido, a ciência pode e deve opinar no plano
moral, podendo maximizar o bem-estar e a busca do ser humano pela felicidade. A Paisagem
Moral procura ser um substituto da religião no campo moral, uma resposta do neurocientista
para a pergunta “como é possível agir de maneira moral sem a religião? ”. Nessa obra, a
pesquisa pretende entender como a neurociência se torna o caminho privilegiado na defesa do
ateísmo de Harris.
Embora essa não seja toda a produção de Harris, essas obras foram escolhidas por
abarcarem as três ideias principais do autor: a possibilidade da moral fundada pela ciência, a
irracionalidade da religião e a possibilidade do desenvolvimento da espiritualidade em um
indivíduo ateu moderno. Todos os livros em inglês analisados são e-books oficiais
disponibilizados pelo site Amazon.com, contendo a versão original dos livros de Harris. Em
português, O Fim da Fé foi traduzido pela editora Lisboa Tinta da China, enquanto as outras
obras são versões brasileiras da Companhia das Letras.
Metodologicamente, esse projeto busca a interdisciplinaridade na abordagem
acadêmica e na análise das fontes, visando integrar diversas áreas das ciências humanas, tais
como história, sociologia e filosofia. Mais do que procurar entender essência e a ligação
filosófica com a religião, a pesquisa procura uma “análise das religiões quanto a seus
desenvolvimentos e mudança históricas” (GOMES, 2002). Embora a tese não parta do
princípio que o ateísmo e a Nova Era sejam uma religião, também se valerá das observações
metodológicas de Jacqueline Hermann (1997). De acordo com a autora,

18
“O estudo do papel social das religiões, ou de suas crenças e práticas,
beneficiou-se ainda da constituição de um novo campo de conhecimento que
se estruturava como disciplina autônoma a partir do final do século XIX: a
sociologia. Na medida em que as categorias social e sociedade encontraram
espaço como objetos privilegiados de estudo, seus diversos elementos
constitutivos — e entre eles a religião — passaram a merecer também maior
atenção e estudos mais objetivos e sistemáticos (HERMANN, 1997, p. 477).

Em relação à análise das obras de Harris, serão abordadas de acordo com a teoria dos
campos de Pierre Bourdieu. O autor acredita que existam “campos” específicos de atuação,
cada um com regras, símbolos e significados próprios, onde os atores sociais entram em
disputas constantes para se apropriarem desses elementos, obtendo o poder para si,
produzindo consensos que são legitimados pela história. Assim sendo, Harris luta dentro das
“regras do jogo” do campo religioso, pois pretende ser um agente ativo no combate ao seu
inimigo, utilizando as regras ditadas pelo embate religioso.  Em “O Poder Simbólico” (2010),
Bourdieu discute a importância dos símbolos como forma de obtenção e manutenção de
poder, evidenciando a linguagem como uma forma de dominação. Os símbolos são formas de
se construir a realidade, forjando relações sociais, elementos culturais, um poder “invisível”
que só se coloca em exercício graças a cumplicidade de uma série de atores sociais, formando
assim ideias compartilhadas pelas classes dominantes, sendo tais ideias estruturantes da
sociedade e naturalizadas. Assim, os símbolos constituem uma forma de dominação,
conforme elas têm a capacidade real de mudar e estruturar a sociedade, sendo alvos de
disputas constantes entre diversos grupos. 
Além disso, utilizaremos as reflexões de Ciro Cardoso e Ronaldo Vainfas (1997), no
que diz respeito a análise de conteúdo. De acordo com os autores, sempre que o estudioso se
debruçar sobre o texto, ele precisa compreender que “um documento é sempre portador de um
discurso que, assim considerado, não pode ser visto como algo transparente” (CARDOSO e
VAINFAS, 1997, p. 539). Logo, a análise do material levará em consideração o momento
histórico vivido, em especial o acirramento de conflitos de cunho religioso ocorridos
posteriores aos atentados as Torres Gêmeas. A tese intenciona dialogar a análise das fontes e
da documentação com o contexto histórico, evitando assim anacronismo e as generalizações.
Assim, o trabalho procura “relacionar texto e contexto: buscar os nexos entre as ideias
contidas nos discursos, as formas pelas quais elas se exprimem e o conjunto de determinações
extratextuais que presidem a produção, a circulação e o consumo dos discursos” (CARDOSO
e VAINFAS, 1997, p. 540).

19
Guerriero propõe uma discussão teórica importante para compreender o fenômeno da
Nova Era. O autor sugere que o termo deve ser tratado em um sentido vago, como um
adjetivo, não como um substantivo, para “identificar tanto as pessoas que possuem alguma
afinidade com seus termos, quanto a esses próprios termos” (GUERRIERO, 2009, p. 37-38).
Concordando essa proposta e com a afirmação do mesmo, a tese caminhará adotando a
proposta do autor.  
O trabalho considera o autor Mircea Eliade como uma grande fonte aporte teórico e
metodológico, em razão principal do autor inserir “suas preocupações com o fenômeno
religioso na busca de leis gerais do funcionamento da sociedade, a “ciência das religiões”, ou
a “história das religiões”, passou a ter um objeto especifico: a origem das religiões, de um
lado, e a essência da vida e do homem religioso, do outro”. (HERMANN, 1997, p. 483).
Assim sendo, a tese procura seguir a metodologia da “história das religiões” proposta por
Eliade, visando assim analisar as estruturas tanto das ideias de Harris desenvolvidas em
Despertar, tanto em relação ao papel do self na Nova Era, da mesma forma que Eliade
procura “construir a sua morfologia, inventariando as similitudes presentes entre os mais
diferentes sistemas religiosos conhecidos pela humanidade” (HERMANN, 1997, 484). 
Interessa, ainda, as relações entre Nova Era, “neo-ateísmo” e ciência (FRANCO, 2014;
ANDRADE, 2016) pois nesse sentido caminhará a pesquisa na intenção de entender como a
neurociência (LENT, 2002) é utilizada por Harris na defesa de uma “espiritualidade ateísta”
que, hora se aproxima, hora de afasta, de propostas de “espiritualidade laica” de outros
autores (ONFRAY, 2011; BOTTON, 2011; FERRY, 2012; SOLOMON, 2003).
Outro aporte importante para o desenvolvimento dessa pesquisa é a História do Tempo
Presente. Embora durante muito tempo tenha sido objeto de grande resistência no meio
acadêmico (FERREIRA, 2000, 2018; ROLLAND, 2004), agora parece estar encontrando uma
maior aceitação. De acordo com Lucília Delgado e Marieta Ferreira (2018), a História do
Tempo Presente se caracteriza pela “presença de testemunhos vivos, que podem vigiar e
contestar o pesquisador, afirmando sua vantagem de ter estado presente no momento do
desenrolar dos fatos” (FERREIRA, 2018). É na medida em que o objeto de análise do
historiador do tempo presente ocorre na presença de testemunhas vivas que a pesquisa procura
entender as ideias de Harris.
  A análise do espaço virtual será de grande importância, pois é o espaço privilegiado
para a divulgação das ideias de Harris, além de uma grande fonte de informações para o
historiador. Segundo Almeida, “a Internet configura-se como uma nova categoria de fontes

20
documentais para pesquisas históricas. Em especial os pesquisadores do Tempo Presente”
(ALMEIDA, 2011, p. 9). Porém, existe grande relutância em utilizá-la, principalmente como
fonte primária. De acordo com Almeida, isso ocorre devido a um problema de caráter
histórico, pois a grande maioria das fontes documentais consagradas no ofício do historiador
ainda encontra sua materialidade no papel: correspondências, ofícios (...) existe toda uma
tradição historiográfica baseada nesse suporte específico(...)” (ALMEIDA, 2011, p. 10). 
Mesmo com a maior abertura da possibilidade das fontes históricas introduzida pela Escola
dos Annales, a quantidade de teses de mestrado e doutorado em história que utilizam fontes
digitais ainda é pequena, com essa resistência, em partes, sendo uma “herança metodológica
positivista que privilegiava os papeis oficiais (ALMEIDA, 2011, p. 11)”. Segundo Almeida, o
documento digital

 “é o registro da expressão da experiência humana, em suas mais variadas


manifestações, independente de seu suporte material (...) podemos
considerar como “documento histórico” uma enorme variedade de registros
da atividade humana: escritos dos mais variados tipos, logicamente, mas
também música, arquitetura, palavra oral (...) podemos considerar que
“documento digital” é aquele documento (...) codificado em sistema de
dígitos binários, implicando na necessidade de uma máquina para
intermediar o acesso às informações” (ALMEIDA, 2011, p. 17). 

Levando em consideração as afirmações de Almeida e de outros pesquisadores


(JUNGBLUT, 2004, CARVALHO, 2010; FOINA, 2015) e as reflexões teóricas e
metodológicas da História do Tempo Presente, a internet como fonte será também de
importância fundamental para enriquecer e estruturar a pesquisa, fazendo parte da realidade
social na contemporaneidade (CASTELLS, 1999, 2001, 2003). Também os trabalhos de
Pierre Lévy podem orientar na intenção de realçar o papel da internet do que ele chama de
“cibercultura”, que seria o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento do ciberespaço (LEVY, 1999, p. 17).

VI – FONTES 

FONTES PRIMÁRIAS

HARRIS, Sam. Despertar: um guia para a espiritualidade sem religião. São Paulo:
Companha das Letras, 2015.

21
_______________. Waking Up: searching for spirituality without religion. Transworld
Digital, 2014.

FONTES SECUNDÁRIAS

_______________. O Fim da Fé: Religião, Terrorismo e o Futuro da Razão. São Paulo:


Companhia das Letras, 2009

_______________. The End of Faith. EUA: W.W. Norton & Company, 2005.

_______________. Carta a uma nação cristã. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

_______________. Letter to a Christian Nation: EUA: Vintage, 2006.

_______________. A Paisagem Moral: como a ciência pode determinar os valores humanos.


São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

_______________. The Moral Landscape: how science can determine human values.
Transworld Digital, 2011.

SITE OFICIAL SAM HARRIS. Disponível em: https://samharris.org

VII – REFERÊNCIAS 

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Dissertação de Mestrado. Universidade Católica de Recife, 2008.
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internet como fonte primária para pesquisas históricas. AEDOS. Revista do corpo discente do
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22
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