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FilosofiadoDireito
Fichamentodotexto:“ Filosofiacríticaerazãojurídica”.
Referência: GOYARD-FABRE, Simone. Filosofia Crítica e Razão Jurídica. 1.ed. São
Paulo:
WMFMartinsFontes,2006.
AnnaBeatrizOliveiraBianchi-202004060GV
BrunaCristinaTorresBarroso-202004505GV
DéboraVieiraMattos-202004042GV
FelipeSilvaOliveira-202004027GV
GenessiJuniorAlvesdosSantos-202004031GV
IsabelaAlvesValadaresSilva-202004045GV
IsabeleHorsthCatheringerMaia-202004047GV
JúliaCostaMonteiroMachado-202004011GV
PedroAugustoMadeira-202004018GV
SandroRodriguesCosta-202004506GV
INTRODUÇÃO:ODIREITOEARAZÃO
Neste tópico, Simone Goyard-Fabre traz um panorama geral da obra. O tema central
é a
relação entre
o direito e a razão, relação esta que, apesar de
antiga, foi aprimorada pela filosofia.
Justamente por ter
uma matriz original complexa e conflituosa, é difícil traçar
com precisão sua
genealogia. A racionalidade foi influenciando na prática judiciária aos poucos, como afirma
Goyard-Fabre (p. XIV). Durante o desenvolvimento da história,
tanto a filosofia, quanto o direito
eaprópriarazãoforamtomandoformasdiferentes.
A
ratio
juris
é não
criação da
modernidade, ela
já
vem se
construindo desde
os primórdios
dos tempos. Inclusive, a filosofia do direito é em grande medida delineada pela razão,
principalmente na modernidade jurídica. A razão jurídica, no horizonte transcendental, é uma
“buscainacabada”,comoafirmaaautoranapáginaXIX.
Kant inaugurou a razão crítica e sua referência é fundamental até os dias de hoje. A
reflexão
crítica
da
razão
sobre o Direito inaugurou uma “nova forma de pensar”. Pensar o direito
na modernidade significa colocar o direito sobre a égide da razão, buscando seu fundamento,
finalidadeeseuconteúdoideal.Essarazãoseriaumanovaoperaçãocapazdeordenaroreal.
A
autora
afirma
que
o racionalismo fez com que a ideia
de mistérios
impenetráveis de um
logos
transcendente que
dava
um caráter
divino ao
direito fosse
atenuada, quebrando certezas da
tradição medieval metafísica e transcendental. Já que isso é incompatível com a criticidade
jurídicaqueéembasadapelaconfiançahumanista.
“A relação entre direito e razão é uma relação normativa” (p. XVI). Com esse trecho,
Goyard-Fabre quis evidenciar que a razão, na Via Moderna, está presente na formação das
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normas jurídicas e na validação destas. Essa normativa é pautada num conteúdo formal e
silogístico,
num
plano universal
e na
metacrítica do
direito,
diferentemente do contexto
medieval
quesepautavaemcadacasoespecífico.
Uma interessante pontuação feita pela autora foi acerca de uma ideologia niilista, tal
pensamento defende
que a racionalidade (razão),
por
causa da
filosofia
crítica,
está
fadada
a um
eclipse, ou mesmo a morte (p. XVI). As correntes nietzschiano-heideggerianas e a ideologia
marxizante são
exemplos dessa ideologia que contesta a pertinência do
criticismo. Dizem que ele
sevoltacontrasimesmo,poisdestruiriaasideiashumanistaseesvaziariaopensamentojurídico.
PRIMEIRAPARTE-ORACIONALISMOJURÍDICOEA GUINADACRÍTICA:
A autora teve como objetivo apresentar uma vertente que busca reconstruir o campo
jurídico durante a modernidade, colocando o direito sobre a égide da razão e se baseando
somente nela a partir de então. É fato que a racionalização do mundo aconteceu na virada do
século. Porém, não se restringiu somente ao mundo do direito. E o que percebe-se é que no
campo jurídico essa transformação deveria ser mais perceptível e profunda. A partir disso,
Goyard Fabre introduz o assunto a ser abordado no livro falando sobre o antagonismo entre o
pensamento de Nietzsche e Hegel acerca do humanismo jurídico racionalista. O primeiro, como
um completo negacionista dessa corrente de pensamento, já o segundo como um fervoroso
apoiador.
CAPÍTULOI-ORACIONALISMOTRIUNFANTEDAMODERNIDADEJURÍDICA.
Ao analisar a história do
surgimento da modernidade percebe-se a filosofia de
Descartes
como uma das primeiras “ondas da modernidade". De acordo com essa filosofia cartesiana, o
homem passa a ser
o centro do mundo, e tende a se
emancipar da humanidade previamente vista.
Desde então, a contar desse momento, com essa descoberta do poder racional inaugura-se o que
se
convencionou chamar de "modernidade". Goyard cita
que, evidentemente, o jurista
humanista
Hugo Grócio, antes mesmo de Descartes, foi quem realmente produziu marcos do
racionalismo
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no mundo jurídico, retirando melhor as consequências doutrinárias do racionalismo e as
implicações desse na filosofia, sendo assim, realmente quem iniciou com esse movimento
moderno.
Ademais, é destacado ainda nesse início de capítulo que o Racionalismo não surgiu e
progrediu sem enfrentar contestações, o movimento foi sim, muito contestado desde o seu
princípio. Porém, as resistências não atrapalharam esse movimento da modernidade. Pelo
contrário, as
críticas, na realidade, auxiliaram a levar o humanismo a uma auto-reflexão da razão
sobreessanovaabordagemjurídica.
PONTOI-OSPRIMÓRDIOSDORACIONALISMOJURÍDICO.
Ao longo do texto Simone traz o pensamento de quatro autores, que escrevem também
sobre a modernidade do direito e a mudança para esse racionalismo. O que fica claro nessa etapa
dotextosãováriascaracterísticasdessetempo,deformaprivilegiada,passadaporessesautores.
A. Grócioeoracionalismoconstrutivista
O primeiro autor abordado por
Goyard foi Hugo Grócio, previamente apontado por ela ao
citar os primórdios do movimento humanista. Grócio foi quem revolucionou o campo jurídico
com o racionalismo. Em seu ponto de
vista, a ciência do direito deveria buscar o conhecimento
por meios “matemáticos”, certeiros, racionais. A matemática, nessa época, era a ciência mais
exata de todas, logo, Hugo a usou como a base para uma ciência jurídica pautada em métodos
lógicos. Grócio propõe uma separação do direito da teologia, de
forma que os juristas deixem de
buscar uma resposta transcendental, buscando uma resposta racional, de forma formal e
silogísticaparatodososseusquestionamentos
B. Leibnizeaarquiteturaracionaldodireito
O segundo autor citado no texto foi Wilhelm Leibniz, um dos maiores representantes do
racionalismo. Foi um grande admirador das obras de Descartes, mas na mesma medida um crítico
do autor, isso porque mesmo admirando todas as obras cartesianas, Leibniz discordava duramente
das sombras que foram deixadas nas obras de Descartes. Diante disso, Leibniz percebeu que
poderia sanar essas lacunas, e para tanto, escreveu a arquitetura racional do direito. Ele
acreditava que a razão era um pedaço da soma dos princípios que eram necessários para compor
o direito. E somado ao princípio da não contradição, ele afasta do direito toda referência
mitológica que busca justificá-lo e interpretá-lo por meio da formulação metafísica do princípio
da razão suficiente, que busca efetivar o pensamento de que “Tudo aquilo que existe, tem uma
causa”.Afunilandooconceitodoqueéarazão.
C. ChristianWolffeasistematicidadedaordemjurídica
O Terceiro autor citado por Goyard foi Christian Wolff, aluno e seguidor de Leibniz, ficou
muito conhecido pelo movimento “Wolff-Leibniz”. Ele teve suas obras e teorias muito
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respeitadas na modernidade pela grande influência no
campo do humanismo e racionalismo. Em
sua obra “Corpus Wolffiano” Christian reuniu vários argumentos contra qualquer forma de
irracionalidade, em qualquer âmbito. Percebe-se, portanto, que ele
buscou uma “absolutização”
da
racionalidade, sua concepção do direito em geral, se
insere no contexto de buscar fundamentos
estritamentelógicos.
D. EmerdeVatteleadogmáticaracionaldodireitodasgentes.
Por último, Fabre aponta o filósofo Emer de Vattel, um grande nome para o direito
internacional, que se
inspirou, para a construção de sua obra, nos escritos de Wolff e de Leibniz e
além disso, admirou muito o pensamento de Christian Wolff. Vattel chegou a admitir que caso
Wolff não tivesse feito seus escritos acerca do racionalismo, ele provavelmente também não iria
escrever nada sobre esse assunto. Porém, ele se inspira na obra de Christian para propor uma
flexibilização do procedimento que Wolff citará para chegar ao racionalismo, a fim de
aprofundar- se nele. Vattel não foi um dos maiores defensores do racionalismo, mas o colocou
muitas vezes em prática no seu estudo acerca da soberania do Estado. Por tanto, ele não se tornou
um grande e renomado mestre do humanismo jurídico, porém a importância de seus escritos para
essemovimentomodernoéinegável.
PONTOII-Asrestriçõesperanteoracionalismojurídicotriunfante
O
pensamento do XVII se
enalteceu com os
poderes da razão e nele se abriram duas vias
que bifurcaram a doutrina jusnaturalista, como será abordado no tópico “a ”. No humanismo
racionalista, o homem tem sua razão como seu artífice, como afirmou Kant: “Ouse pensar
(Sapere aude)”. Grócio foi uma figura que marcou esse período, ele quebra com os cânones
tradicionaisepassaaequipararoDireitoàrazão,ojurídicopassaaseroqueéracional.
A. Pufendorfeabifurcaçãodasteoriasdodireito.
“O jusnaturalismo foi muito depressa o local da bifurcação doutrinal que atravessou os
dois grandes séculos da modernidade” (p. 37). Com esta expressão Goyard-Fabre se baseava
basicamente na divergência de pensamento entre Pufendorf e Grócio, porém não se referiu
apenas a eles, já que o racionalismo jurídico se apresenta de maneira fragmentada. A autora
defende que considerar ambos como os
pais fundadores da
“Escola de direito natural moderno”
seria incorreto, pois, apesar de inaugurarem na doutrina jusnaturalista, e de apresentarem
similaridades na decisão metodológica, eles têm concepções divergentes acerca do direito natural.
Isso impede, segundo a autora, que sejam reunidas máximas em comum capaz de formar uma
escola.
Grócio, por pensar o direito segundo o espírito da geometria, defende que a razão é a
senhora do mundo e que seus preceitos nada mais são
que o direito
natural
que não
podem ser
mudados nem por
Deus. Isto é, para ele,
o direito natural é um requisito racional que está inserido
na
natureza humana e que não
comporta nenhum elemento voluntário (p.
42). Seria
algo inerente
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ao
ser humano, uma voz interior que
indica
o que
é justo e o que
é injusto.
Situou,
então,
o direito
natural na
simples
natureza, racionalizando o sistema, mas sem negar necessidade
de
Deus para
o
mundo(p.44).Segue,dessamaneira,aviadoracionalismo.
Pufendorf defende que o método racional e a pesquisa experimental devem ser
complementares, ou seja,
o exame e um estudo experimental da realidade humana são necessários
para estabelecer a base do direito. Com isso,
ele se
afasta
do esquema hipotético-dedutivo. Seu
sistema do direito é sustentado por
uma ontologia dualística (p. 44). Pufendorf afirma a existência
de uma lei natural
desejada por Deus que é imposta os homens (p. 42),
porém, apesar de, a priori,
parecer que ele está enraizado em dogmas teológicos, ele não está. Ele defende que o direito
natural é próprio
do homem, devido às suas capacidades, como entendimento e vontade criadora,
que os
diferem dos outros animais, já que, para ele, Deus não quis que
os homens vivessem como
animais. Pufendorf, então,
afirma um voluntarismo, conservando uma figura
mais
tradicional do
queGrócio,massemdispensararazão.
Goyard-Fabre demonstra ter um pensamento mais próximo de Pufendorf do
que
de
Grócio, vide um
trecho: “(...) fica claro a Pufendorf que o erro por
Grócio (...) foi ter situado o
direito natural na simples natureza, ainda que racional. (...) O sentido do conceito de direito
natural é muito mais sutil. (...) Pufendorf mostra que o direito natural, longe de se caracterizar por
sua natureza racional intrínseca, é uma regra em que a razão humana reconhece a normatividade
da lei desejada por
Deus” (p. 43-44). Afirma ainda, ser uma temeridade de
Grócio, assim como
Hobbes, defender que algo é ou
não direito natural conforme sua adequação à natureza racional
dohomem.
B. Barbeyraceoslimitesdospoderesdarazão
Barbeyrac foi o tradutor das obras de Grócio, Pufendorf e Cumberland, por isso tem um
vasto conhecimento sobre o pensamento desses autores. Ele faz certas críticas a Grócio e a
Leibniz e se aproxima do pensamento de Pufendorf (elogia seu voluntarismo), acentuando a
bifurcação entre eles. Ao criticar a corrente de Grócio ele defende que a segurança na razão
envolve um
dogmatismo que no fim acabará com a filosofia das luzes.
Ele, então, impõe limites
aospoderesdarazão,massemedificarteoria.
Leibniz foi influenciado por Grócio, devido a isso, vê as obras de Pufendorf com
hostilidade. Ele, assim como Grócio, via a razão como suprema, para ele “a razão é “a
norma
indubitável do direito natural”” (p. 47). Defende uma harmonia universal preestabelecida,
diferentemente de Pufendorf que
defendia, como já dito,
que
as
normas
são emanadas por Deus.
Leibniz tem, então, uma concepção teleológica do mundo e insere seu sistema do direito
universal no
monismo racionalista (p.
48).
Inclusive Barbeyrac não concorda com esse monismo
racionalista, para ele, a razão não é a única chave do universo jurídico, assim afirma
Goyard-Fabre(p.48).
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C. Oracionalismointransigenteeopesodasuspeita
Conforme já evidenciado aqui, Grócio, Leibniz e Wolff fazem a defesa de um
racionalismo triunfante, uma razão “desenfreada”. Porém algumas teorias se opõem a esse
pensamento. A autora destacou o exemplo de Jean Domat, Chistian Thomasius, Richard
Cumberland, John Locke, Giambattista Vico, Chistian August Crusius e Jean-Jacques
Burlamaqui.
Jean Domat percebe que o triunfo da razão defendido por Grócio caminhava para ocultar
a lei natural fundamental inscrita por Deus, para ele, é um erro separar o mundo humano e a
natureza (p. 50). Defende que a razão é modelada pela sabedoria na qual Deus quis dar aos
homens. “a
razão só é dona da verdade se, quando recorremos a ela, não esquecermos a fundação
divina da ordem das coisas” (p. 51). Percebe-se, então, que ele não vê a razão como dona do
processodedutivocomopensamosracionalistas.
Chistian Thomasius tem uma visão mais voluntarista e ética, podendo ser
observado que
se aproxima do pensamento voluntarista de Pufendorf. Já
Chistian August Crusius, John Locke e
Richard Cumberland sustentam que o ser humano deve ser modesto e saber se autolimitar, a
razão deve ser razoável, o legislador e o juiz devem levar em consideração não só a
racionalidade, mas também coerência e considerações morais. Goyard-Fabre parece concordar
com o pensamento desses autores e afirma: “(...) reduzir a esfera jurídica a uma racionalidade
completaeexclusivaéprivá-ladaalmaeesqueceroquefazahumanidadedohomem”(p.53).
Giambattista Vico tem um pensamento mais complexo, porém deixa claro sua hostilidade
ao espírito triunfante do racionalismo de Grócio. Defende que a história é um dos parâmetros
essenciais para compreender o direito, mais que a razão. Inclusive aponta que o racionalismo
jurídico moderno entra em contradição, pois desqualifica a humanidade, ao
retirar suas crenças,
por exemplo. Finalmente, Jean-Jacques Burlamaqui não separa direito natural (relação do homem
com a “lei natural”) do direito moral, defendendo, como enuncia Goyard-Fabre, que: “o direito
natural indica a todo homem o que ele deve fazer e o que deve ser em conformidade com o que o
autordaNaturezaquisqueelefizesseefosse”(p.57).
Aambiguidadedocódigoracionalistadamodernidadejurídica
Goyard-Fabre afirma que as divergências no pensamento filosófico evidenciadas aqui,
mostram a ambiguidade do código racionalista da modernidade jurídica. Mesmo com a
bifurcação da Teoria do Direito (principalmente por
Grócio e Pufendorf) não se deve pensar que a
situação está sem saída.
A autora
revela
que
há
uma solução que
seria
a própria razão
ser
posta
em questionamento em uma crítica interna. Com isso, o racionalismo triunfante deveria
passar
paraumracionalismoreflexionante(p.58).
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