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Orientações Pós Operatórias
Orientações Pós Operatórias
REVISÃO DE LITERATURA
Nogueira AS, Vasconcelos BC do E, Frota R, Cardoso ÁB. Orientações pós-operatórias em cirurgia bucal. J Bras Clin Odontol Int - Edição Especial
2006: 01-06.
O sucesso das cirurgias bucais, entre outros fatores, está na dependência direta do planejamento,
técnica cirúrgica, terapêutica medicamentosa e orientações pós-operatórias. O presente trabalho
tem como objetivo apresentar e justificar uma rotina de orientações pós-operatórias aplicada aos
pacientes submetidos à cirurgia bucal.
INTRODUÇÃO
O pós-operatório corresponde evolução da ferida cirúrgica e nor- Todos os procedimentos cirúr-
ao período de tempo compreen- malização da função regional. Para gicos em si são traumáticos, pois
dido entre o término da cirurgia Silveira3, o pós-operatório é uma danificam estruturas e espoliam
e a plena recuperação clínica do das etapas mais importantes para o substâncias2 e esse trauma cirúrgico
paciente relativa às alterações de- êxito da cirurgia e muitos pacientes origina, naturalmente, um processo
terminadas pelo ato cirúrgico em e profissionais não o valorizam. inflamatório pós-operatório, com a
si, independentemente da evolu- Segundo Marzola4, a cirurgia liberação de mediadores químicos
ção do estado mórbido inicial1. Na não termina com a sutura e sim com da dor e da inflamação, cujo aspecto
concepção de Gregori2, as medidas a correta orientação pós-operatória clínico pode apresentar-se como
pós-operatórias têm como finali- ao paciente e com a eliminação das edema e/ou trismo, além de certo
dades a minimização do trauma suturas. De acordo com Rodriguez5, grau de desconforto. Este estado
decorrente do ato operatório em si, em toda intervenção cirúrgica uma não necessariamente é sinônimo de
como o controle da dor, do edema, série de medidas e precauções lo- insucesso cirúrgico, e pode ser ate-
da espoliação hídrica iôntica e san- cais e gerais deve ser seguida para nuado por terapêutica medicamen-
guínea, da prevenção de infecção se obter um pós-operatório sem tosa e seguimento adequado das
e, principalmente, de favorecer a anormalidades. orientações dadas pelo cirurgião.
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ao paciente, desde a ineficácia do O estudo de Blinder et al.7 sobre o escrever no espaço de orientações
medicamento, desenvolvimento de nível de compreensão dos pacientes adicionais a necessidade de se evitar
colônias microbianas resistentes aos submetidos a cirurgias orais acerca das o ato de fumar, principalmente nos
antibióticos (subdoses ou uso por um orientações pós-operatórias mostrou primeiros dias de pós-operatório. De
período curto) até a superdosagem que, especificamente em relação ao acordo com Peterson8, a pressão ne-
(uso exagerado de analgésicos por antibiótico prescrito, 67% dos pacien- gativa criada dentro da boca devido à
exemplo). tes não cumpriram a recomendação sucção no ato de fumar pode promo-
O profissional deve selecionar feita verbalmente e por escrito pelo ver sangramento.
drogas que, além de eficazes, estejam cirurgião, sendo que 36% dos pacien- Especificamente em cirurgias de
ao alcance do paciente do ponto de tes fizeram uso do antibiótico por um terceiros molares inferiores, Libersa et
vista financeiro (evitar a prescrição de período mais longo do que o determi- al.14 comprovaram a possibilidade da
medicamentos caros, cefalosporinas nado e 31% por menos tempo, além ocorrência de fraturas mandibulares
de última geração, por exemplo, para dos casos de medicação por iniciativa tardias devido à fragilidade na região
pacientes carentes). própria do paciente sem que houvesse operada, enfatizando a necessidade
A escolha de drogas que possam sido prescrito o antibiótico (4%). de se informar os pacientes operados
ser administradas em horários coin- Orientações adicionais. sobre a limitação da força mastigatória
cidentes facilitará o cumprimento da Conforme citado anteriormente, a por 2 meses após a cirurgia. Perry15,
pauta medicamentosa. Desde que ficha de orientações pós-operatórias discutindo o trabalho citado anterior-
seja possível, evitar a necessidade do não deve ser extensa, pois fica can- mente, afirmou que o consentimento
paciente acordar durante a madruga- sativa para a leitura e de difícil segui- pré-operatório deve fazer menção ao
da para tomar o medicamento. Evitar mento. Deve haver um espaço para as risco de fratura mandibular, especial-
associar medicamentos que sejam orientações adicionais, que será preen- mente em pacientes mais velhos e
tomados, por exemplo, um de 4/4h e chido de acordo com a necessidade e do gênero masculino, devendo ser
o outro de 6/6h. Isso levaria a dificul- o tipo de cirurgia realizada. dada ênfase à necessidade de dieta
dades e induziria o uso em horários Em relação aos pacientes fuman- branda durante as primeiras semanas
incorretos. tes, por exemplo, o cirurgião deve pós-operatórias.
CONCLUSÕES
Segundo Alexander9, sob o ponto de termos utilizados rotineiramente cência, autonomia e justiça17. Assim,
de vista legal, é prudente conceder por cirurgiões (jargões) por expressões todo paciente, ao submeter-se a um
as orientações pós-operatórias por mais comuns aos pacientes. atendimento odontológico, por mais
escrito, mas muitos profissionais não Sempre explicamos ao paciente e consagrado e rotineiro que seja, deve
o fazem e aconselham verbalmente aos seus familiares a importância do ter conhecimento dos eventuais riscos
seus pacientes depois da cirurgia, ou período pós-operatório, ressaltando as envolvidos, cabendo ao profissional
ainda, utilizam uma folha de informa- vantagens do seguimento correto das orientar-lhe adequadamente, não lhe
ção geral, comercialmente produzida, orientações para o êxito da cirurgia, tirando a autonomia de querer ou não
o que não é o mais indicado. tanto da forma escrita quanto ver- realizar o tratamento. As orientações
Alexander16 fez importantes con- balmente, assim como recomendam pós-operatórias devem ser antecipa-
siderações sobre as orientações pós- Marzola 4, Araújo et al. 11, Silveira 3 e das e justificadas ao paciente, assim
operatórias fornecidas a pacientes Peterson8 e Blinder et al.7. como ressaltada a sua importância
americanos submetidos a cirurgias A relação profissional/paciente para o sucesso cirúrgico.
odontológicas, ressaltando não só a faz parte da Bioética Clínica, e deve Os telefones de contato do cirur-
necessidade de realizá-las por escrito, ser norteada pelos chamados prin- gião devem estar sempre à disposição
mas também de forma compreensível, cípios fundamentais da Bioética, do paciente e dos seus familiares,
sugerindo até mesmo a modificação que são a beneficência, não-malefi- ficando claro que quaisquer dúvidas
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quanto ao seguimento das orien- É boa norma telefonar para a resi- informações que serão colhidas sobre o
tações pós-operatórias devem ser dência do paciente um dia após a reali- pós-operatório, revela a responsabilida-
comunicadas imediatamente. zação da cirurgia. Tal conduta, além das de, o zelo e o respeito com o paciente.
Nogueira AS, Vasconcelos BC do E, Frota R, Cardoso ÁB. Postoperative orientations in oral surgery. J Bras Clin Odontol Int - Edição Especial 2006: 01-06.
The success of the oral surgery, among other factors, is in the direct dependence of the planning,
surgical technique, therapeutics medicamentosa and postoperative orientations. The present work has
as objective presents and to justify a routine of postoperative orientations applied the patients submitted
to the oral surgery.
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