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O

REVISÃO DE LITERATURA

rientações Pós-Operatórias em Cirurgia


Bucal

Postoperative Orientations in Oral Surgery

Alexandre Simões Nogueira*


Belmiro Cavalcanti do Egito Vasconcelos**
Riedel Frota***
Álvaro Bezerra Cardoso****

Nogueira AS, Vasconcelos BC do E, Frota R, Cardoso ÁB. Orientações pós-operatórias em cirurgia bucal. J Bras Clin Odontol Int - Edição Especial
2006: 01-06.

O sucesso das cirurgias bucais, entre outros fatores, está na dependência direta do planejamento,
técnica cirúrgica, terapêutica medicamentosa e orientações pós-operatórias. O presente trabalho
tem como objetivo apresentar e justificar uma rotina de orientações pós-operatórias aplicada aos
pacientes submetidos à cirurgia bucal.

PALAVRAS-CHAVE: Cirurgia bucal; Pós-operatório.

INTRODUÇÃO
O pós-operatório corresponde evolução da ferida cirúrgica e nor- Todos os procedimentos cirúr-
ao período de tempo compreen- malização da função regional. Para gicos em si são traumáticos, pois
dido entre o término da cirurgia Silveira3, o pós-operatório é uma danificam estruturas e espoliam
e a plena recuperação clínica do das etapas mais importantes para o substâncias2 e esse trauma cirúrgico
paciente relativa às alterações de- êxito da cirurgia e muitos pacientes origina, naturalmente, um processo
terminadas pelo ato cirúrgico em e profissionais não o valorizam. inflamatório pós-operatório, com a
si, independentemente da evolu- Segundo Marzola4, a cirurgia liberação de mediadores químicos
ção do estado mórbido inicial1. Na não termina com a sutura e sim com da dor e da inflamação, cujo aspecto
concepção de Gregori2, as medidas a correta orientação pós-operatória clínico pode apresentar-se como
pós-operatórias têm como finali- ao paciente e com a eliminação das edema e/ou trismo, além de certo
dades a minimização do trauma suturas. De acordo com Rodriguez5, grau de desconforto. Este estado
decorrente do ato operatório em si, em toda intervenção cirúrgica uma não necessariamente é sinônimo de
como o controle da dor, do edema, série de medidas e precauções lo- insucesso cirúrgico, e pode ser ate-
da espoliação hídrica iôntica e san- cais e gerais deve ser seguida para nuado por terapêutica medicamen-
guínea, da prevenção de infecção se obter um pós-operatório sem tosa e seguimento adequado das
e, principalmente, de favorecer a anormalidades. orientações dadas pelo cirurgião.

* Professor de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Mestre em Cirurgia e


Traumatologia Bucomaxilofacial pela Universidade Federal de Pelotas UFPel e Doutorando em Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial pela Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco – FOP-UPE. Rua Antônio Valdevino Costa,
280/502 Cordeiro-Recife 50640-040; e-mail: surgical@baydenet.com.br
** Professor da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da FOP-UPE, Coordenador do Mestrado e Doutorado em
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – FOP-UPE.
*** Especialista, Mestre e Doutorando em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco – FOP-UPE.
**** Aluno do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Faculdade de Odontologia da
Universidade de Pernambuco – FOP-UPE.
Orientações Pós-Operatórias em Cirurgia Bucal

A intensidade da reação infla- seqüentemente aumento da pressão Dieta (alimentação) líquida ou


matória está na dependência direta arterial, sendo possível que o coágulo pastosa e fria por, no mínimo, 48h
do tipo de cirurgia realizada, da ma- formado na ferida cirúrgica seja de- (leite, suco, etc.).
nipulação dos tecidos, terapêutica sorganizado, advindo quadros de he- O uso inicial de uma alimentação
medicamentosa utilizada e da resposta morragia. Alimentos duros devem ser mais branda e fria, além de permitir
individual. Outras variáveis podem evitados, pois o contato com a ferida repouso local da ferida cirúrgica, mi-
ainda influenciar o pós-operatório. cirúrgica pode trazer danos ao coágulo nimiza o sangramento pós-operatório
Em uma pesquisa envolvendo 190 e conseqüente hemorragia. natural e, conseqüentemente, diminui
pacientes submetidos à exodontia
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)
de terceiro molar incluso, Peñarrocha FACULDADE DE ODONTOLOGIA (FOP)
et al.6 demonstraram que deficiente DISCIPLINA DE CIRURGIA E TRAUMATOLOGIA BUCOMAXILOFACIAL
higiene oral antes da cirurgia faz com
que o pós-operatório exija o consu- ORIENTAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS
mo mais prolongado de analgésicos, O não seguimento das orientações descritas abaixo pode
comprometer o resultado da cirurgia. Portanto, siga-as rigorosamente
apesar de não influenciar o trismo e
e em caso de haver qualquer dúvida entre em contato com o cirurgião.
a inflamação. De uma maneira geral,
cirurgias menos traumáticas resultam
em pós-operatório mais tranqüilo para Paciente:
o paciente.
01) Evitar: exposição ao sol, alimentos quentes e duros e esforços físicos,
Para Blinder et al.7, no período pós-
pelo menos até o retorno para remoção dos pontos.
operatório, o controle da dor, estresse 02) Dieta (alimentação) líquida ou pastosa e fria por, no mínimo, 48h (leite,
e ansiedade do paciente depende do suco, etc.).
seu estado emocional e psicológico, 03) Descansar e dormir com a cabeça mais elevada (ficar sentado(a) ao des-
das explicações fornecidas pelo cirur- cansar e colocar travesseiros sob a cabeça na hora de dormir), evitando
abaixar.
gião e da sua relação com o paciente,
04) Escovação normal dos dentes e língua, evitando as áreas da cirurgia.
além das medicações específicas. 05) Fazer bochechos leves e passivos 3 vezes ao dia com anti-séptico bucal,
A ficha de orientações pós-ope- iniciando somente 24 horas após a cirurgia.
ratórias deve conter as informações 06) Fazer compressas com gelo no lado externo (rosto) nas primeiras 24
mais importantes, porém não deve ser horas, durante 20 minutos e descansar 20 minutos.
07) Passar vaselina líquida ou cremes protetores nos lábios para mantê-los
extensa (Quadro 1).
lubrificados, evitando ressecamentos.
Justificativas Especificadas das 08) Caso haja febre alta, edema e dificuldade de abrir a boca por mais de
Orientações Pós-Operatórias três dias, dor persistente ou sangramento exagerado, entre imediata-
Evitar exposição ao sol, alimentos mente em contato.
quentes e duros e esforços físicos, 09) Seguir rigorosamente os horários das medicações prescritas.
pelo menos até o retorno para
ORIENTAÇÕES ADICIONAIS
remoção dos pontos.
São orientações direcionadas à
prevenção de hemorragias. O uso
de alimentos quentes e a exposição RETORNO:
ao sol podem ocasionar problemas
hemorrágicos pela vasodilatação cau- Avenida Gal. Newton Cavalcanti, 1650
sada. Da mesma forma, esforços físicos, CEP 54753-901
tipo a prática de ginástica, devem ser FONE/FAX: (81) 3458-2867
evitados, visto que podem acarretar Camaragibe - Pernambuco
uma circulação mais acelerada e con- Quadro 1: Modelo de ficha contendo as orientações pós-operatórias.

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Orientações Pós-Operatórias em Cirurgia Bucal

a probabilidade de quadros hemorrá- seqüência, infecções pós-operatórias operatórios. Preconizamos o uso de


gicos se instalarem. Geralmente reco- podem ocorrer. É visto freqüentemen- soluções a base de clorexidina 0,12%.
menda-se por um período mínimo de te em áreas de terceiros molares supe- Peterson8 recomenda o uso de solução
48 horas. Moderadamente, o paciente riores, onde o acesso para higienização salina por meio da dissolução de meia
vai retornando à sua alimentação nor- está mais dificultado após a cirurgia. A colher de chá de sal em 250 ml de
mal com o passar dos dias. escovação deve ser menos vigorosa água aquecida, enquanto Alexander9
É importante frisar ao paciente a diretamente na zona operada, porém afirma que não há evidência de que
necessidade da alimentação, visto que jamais ausente. o uso de água salgada tenha alguma
podem ocorrer situações de tonturas Fazer bochechos leves e passivos 3 vantagem sobre a água de torneira
e desmaios, provavelmente compatí- vezes ao dia com anti-séptico bucal, em pacientes imunocompetentes.
veis com hipoglicemia, um dia após a iniciando somente 24 horas após a O autor faz críticas sobre ¨mitos¨ da
cirurgia em pacientes que deixaram de cirurgia. cirurgia bucal, segundo ele carentes de
se alimentar. Tal situação pode ocorrer O uso de anti-sépticos bucais evidências científicas. Especificamente
ao considerar-se a dificuldade de abrir no período pós-operatório contribui sobre os bochechos pós-operatórios,
a boca no pós-operatório e o receio para manutenção da higiene bucal, afirma que nenhuma das diretrizes de
do paciente em traumatizar a região controlando a microbiota normal da uso das soluções salinas baseou-se
operada. boca e aquela decorrente da cirurgia, em qualquer fundamento científico,
Descansar e dormir com a cabeça pois todas as zonas onde há formação sendo fórmulas pessoais passadas
mais elevada (ficar sentado(a) ao de coágulos são locais propícios para de um profissional ao outro, que se
descansar e colocar travesseiros proliferação microbiana. Em pacientes perpetuaram sem questionamentos
sob a cabeça na hora de dormir), que fazem uso de aparelho ortodônti- em livros e artigos.
evitando abaixar. co essa orientação é muito importante, Para prevenir problemas hemor-
Quanto menos o paciente abaixar visto que a escovação está ainda mais rágicos os bochechos devem ser
a cabeça no período pós-operatório dificultada. Em relação às suturas, a sua iniciados somente 24 horas após a
menor é o fluxo sanguíneo para a remoção deve ser realizada entre 5 a 7 cirurgia, visto que antes disso pode
região operada. Em conseqüência, me- dias pós-operatórios. Após esse perío- haver desorganização do coágulo
nores são as chances de hemorragia do perdem a função de coaptação de formado. Recomenda-se que eles
e de edema ocorrerem. Em pacientes bordos e proteção da ferida cirúrgica sejam realizados de forma passiva,
operados a nível hospitalar, a orienta- e, ao contrário, agem dificultando com o paciente movendo levemente
ção é de manter a cabeceira da cama a higienização, contribuindo para o a cabeça de um lado para o outro em
elevada em 45º. Esta orientação deverá acúmulo de restos alimentares na área vez de movimentos rápidos da mus-
constar na ficha de prescrição. operada. culatura facial.
Escovação normal dos dentes e É bastante comum após a exodon- Fazer compressas com gelo no
língua. Nas regiões operadas, tia de dentes semi-inclusos a cicatri- lado externo (rosto) nas primeiras
realizá-la de forma cuidadosa. zação por segunda intenção devido 24 horas, durante 20 minutos e
Esta orientação objetiva prevenir a à impossibilidade de se realizar sutura descansar 20 minutos.
ocorrência de infecção. Alguns pacien- ¨bordo a bordo¨, tornando a região A utilização de compressas com
tes, pela própria dificuldade em abrir a bastante propícia para a penetração gelo objetiva, pela vasoconstrição
boca no período pós-operatório, ficam e acúmulo de restos alimentares e, causada, diminuir o sangramento e
receosos em realizar a higienização conseqüentemente, mais vulnerável minimizar o edema. Deve ser aplicada
bucal. à infecção. na pele (proteger previamente com
O acúmulo exagerado de restos Devido à orientação anterior de vaselina, especialmente em crianças),
alimentares sobre a região operada não se escovar diretamente sobre a em áreas correspondentes à cirurgia. É
propicia condições favoráveis para zona operada, torna-se importante indicada principalmente em situações
proliferação microbiana e, em con- a realização dos bochechos pós- de maior complexidade cirúrgica (ex.:

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Orientações Pós-Operatórias em Cirurgia Bucal

Autor(es) Orientações Ressalte-se que tal inconveniente


pode ser prevenido ou evitado se,
Durante 15 minutos com descanso de 1 hora até a
Marzola4 no trans-operatório, sob o afastador
noite do dia da cirurgia.
Durante 15 minutos com intervalos de 30 minutos, forem colocadas gazes umedecidas
Aguiar10
somente no dia da cirurgia. em soro fisiológico para proteger
Araújo et al.11 Por 4 horas, com intervalos mínimos de 1 a 2 minutos. os lábios do paciente ou, ainda, se
Silveira 3
Por 4 a 6 horas no pós-operatório. descoladores mais delicados forem
Durante 20 minutos com intervalos de 20 minutos, nas utilizados em substituição aos afas-
Peterson8 tadores, desde que não prejudiquem
primeiras 24 horas.
Durante 10 minutos nas 2 a 3 primeiras horas com a visão do campo operatório. Outra
Rodríguez5
intervalos de 30 minutos. medida importante é a constante
Sailer & Pajarola12 Durante as primeiras 2 a 6 horas. limpeza durante a cirurgia com soro
Durante as 3 primeiras horas com intervalos de 10 fisiológico evitando o acúmulo de
Bramante & Berbert13
minutos. sangue ressecado na região, que a
Blinder et al.7 A cada 15 minutos nas primeiras 2 a 3 horas. torna, pelo contato com o instru-
Quadro 2: Orientações sobre o uso pós-operatório de compressas com gelo. mental cirúrgico, mais vulnerável aos
cirurgias de terceiros molares inclusos mornas, com início somente após um traumatismos. Imediatamente ao ato
intra-ósseos) onde é comum a ocor- tempo mínimo de 72 horas pós-ope- cirúrgico, poderá ser utilizada vaseli-
rência de edema pós-operatório. ratórias. A compressa morna promove na estéril nos lábios com a mesma
Na literatura consultada, obser- aumento da vascularização local, con- finalidade.
vou-se que os autores fazem diferen- tribuindo para acelerar o processo de Caso haja febre alta, edema e
tes orientações sobre o uso do gelo, reabsorção do hematoma por parte dificuldade de abrir a boca por
baseadas em sua prática pessoal do organismo. Lembrar que o calor mais de três dias, dor persistente
(Quadro 2). não deve ser utilizado nos primeiros ou sangramento exagerado entre
É preciso que tal orientação fique dias de pós-operatório. imediatamente em contato.
bastante clara para o paciente visto Passar vaselina líquida ou cremes A febre, edema e dificuldade de
que, na tentativa de não ter edema, protetores nos lábios para abrir a boca podem indicar a ocorrên-
ele pode, se mal orientado, utilizar o mantê-los lubrificados, evitando cia de infecção pós-operatória. Nessas
gelo por um período mais longo de ressecamentos. situações deve o cirurgião avaliar ime-
tempo, prejudicando o processo de A manipulação cirúrgica, prin- diatamente o paciente, mesmo que
cicatrização. cipalmente em cirurgias de tercei- não esteja ainda no período previsto
Em áreas de caninos superiores e ros molares, geralmente ocasiona para remoção de suturas.
pré-molares inferiores o uso do gelo pequenos traumatismos aos lábios Araújo et al.11 afirmam que febre
pode ajudar a prevenir a formação de devido o uso dos afastadores. No discreta, em torno de 37,5°C, nas
hematomas, comuns nessas regiões, período pós-operatório, a região primeiras 24 a 48 horas pode ocorrer,
principalmente em pacientes da pode ficar ulcerada e ressecada, sem significado com relação à infecção
pele clara e de idade mais avançada. causando incômodo ao paciente. A pós-operatória, sendo decorrente da
Clinicamente podem apresentar-se utilização no período pós-operatório reabsorção do hematoma e dos teci-
amarelados ou mais arroxeados. Pe- de vaselina líquida ou cremes prote- dos necróticos.
terson8 atribui tal ocorrência à dimi- tores objetiva lubrificar e proteger Seguir rigorosamente os horários e
nuição do tônus muscular e da fixação a região, principalmente as comis- as medicações prescritas.
intracelular. suras. Os pequenos traumatismos O não seguimento desta orien-
Caso haja formação exacerbada de uma forma geral evoluem para a tação pode prejudicar os efeitos
de hematoma, a conduta adotada cura e, muito raramente, infecções benéficos da medicação utilizada
deve incluir o uso de compressas secundárias podem ocorrer. e, ao contrário, trazer problemas

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Orientações Pós-Operatórias em Cirurgia Bucal

ao paciente, desde a ineficácia do O estudo de Blinder et al.7 sobre o escrever no espaço de orientações
medicamento, desenvolvimento de nível de compreensão dos pacientes adicionais a necessidade de se evitar
colônias microbianas resistentes aos submetidos a cirurgias orais acerca das o ato de fumar, principalmente nos
antibióticos (subdoses ou uso por um orientações pós-operatórias mostrou primeiros dias de pós-operatório. De
período curto) até a superdosagem que, especificamente em relação ao acordo com Peterson8, a pressão ne-
(uso exagerado de analgésicos por antibiótico prescrito, 67% dos pacien- gativa criada dentro da boca devido à
exemplo). tes não cumpriram a recomendação sucção no ato de fumar pode promo-
O profissional deve selecionar feita verbalmente e por escrito pelo ver sangramento.
drogas que, além de eficazes, estejam cirurgião, sendo que 36% dos pacien- Especificamente em cirurgias de
ao alcance do paciente do ponto de tes fizeram uso do antibiótico por um terceiros molares inferiores, Libersa et
vista financeiro (evitar a prescrição de período mais longo do que o determi- al.14 comprovaram a possibilidade da
medicamentos caros, cefalosporinas nado e 31% por menos tempo, além ocorrência de fraturas mandibulares
de última geração, por exemplo, para dos casos de medicação por iniciativa tardias devido à fragilidade na região
pacientes carentes). própria do paciente sem que houvesse operada, enfatizando a necessidade
A escolha de drogas que possam sido prescrito o antibiótico (4%). de se informar os pacientes operados
ser administradas em horários coin- Orientações adicionais. sobre a limitação da força mastigatória
cidentes facilitará o cumprimento da Conforme citado anteriormente, a por 2 meses após a cirurgia. Perry15,
pauta medicamentosa. Desde que ficha de orientações pós-operatórias discutindo o trabalho citado anterior-
seja possível, evitar a necessidade do não deve ser extensa, pois fica can- mente, afirmou que o consentimento
paciente acordar durante a madruga- sativa para a leitura e de difícil segui- pré-operatório deve fazer menção ao
da para tomar o medicamento. Evitar mento. Deve haver um espaço para as risco de fratura mandibular, especial-
associar medicamentos que sejam orientações adicionais, que será preen- mente em pacientes mais velhos e
tomados, por exemplo, um de 4/4h e chido de acordo com a necessidade e do gênero masculino, devendo ser
o outro de 6/6h. Isso levaria a dificul- o tipo de cirurgia realizada. dada ênfase à necessidade de dieta
dades e induziria o uso em horários Em relação aos pacientes fuman- branda durante as primeiras semanas
incorretos. tes, por exemplo, o cirurgião deve pós-operatórias.

CONCLUSÕES
Segundo Alexander9, sob o ponto de termos utilizados rotineiramente cência, autonomia e justiça17. Assim,
de vista legal, é prudente conceder por cirurgiões (jargões) por expressões todo paciente, ao submeter-se a um
as orientações pós-operatórias por mais comuns aos pacientes. atendimento odontológico, por mais
escrito, mas muitos profissionais não Sempre explicamos ao paciente e consagrado e rotineiro que seja, deve
o fazem e aconselham verbalmente aos seus familiares a importância do ter conhecimento dos eventuais riscos
seus pacientes depois da cirurgia, ou período pós-operatório, ressaltando as envolvidos, cabendo ao profissional
ainda, utilizam uma folha de informa- vantagens do seguimento correto das orientar-lhe adequadamente, não lhe
ção geral, comercialmente produzida, orientações para o êxito da cirurgia, tirando a autonomia de querer ou não
o que não é o mais indicado. tanto da forma escrita quanto ver- realizar o tratamento. As orientações
Alexander16 fez importantes con- balmente, assim como recomendam pós-operatórias devem ser antecipa-
siderações sobre as orientações pós- Marzola 4, Araújo et al. 11, Silveira 3 e das e justificadas ao paciente, assim
operatórias fornecidas a pacientes Peterson8 e Blinder et al.7. como ressaltada a sua importância
americanos submetidos a cirurgias A relação profissional/paciente para o sucesso cirúrgico.
odontológicas, ressaltando não só a faz parte da Bioética Clínica, e deve Os telefones de contato do cirur-
necessidade de realizá-las por escrito, ser norteada pelos chamados prin- gião devem estar sempre à disposição
mas também de forma compreensível, cípios fundamentais da Bioética, do paciente e dos seus familiares,
sugerindo até mesmo a modificação que são a beneficência, não-malefi- ficando claro que quaisquer dúvidas

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Orientações Pós-Operatórias em Cirurgia Bucal

quanto ao seguimento das orien- É boa norma telefonar para a resi- informações que serão colhidas sobre o
tações pós-operatórias devem ser dência do paciente um dia após a reali- pós-operatório, revela a responsabilida-
comunicadas imediatamente. zação da cirurgia. Tal conduta, além das de, o zelo e o respeito com o paciente.

Nogueira AS, Vasconcelos BC do E, Frota R, Cardoso ÁB. Postoperative orientations in oral surgery. J Bras Clin Odontol Int - Edição Especial 2006: 01-06.

The success of the oral surgery, among other factors, is in the direct dependence of the planning,
surgical technique, therapeutics medicamentosa and postoperative orientations. The present work has
as objective presents and to justify a routine of postoperative orientations applied the patients submitted
to the oral surgery.

KEYWORDS: Oral surgery; Postoperative.

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Recebido em: 12/11/2003,


Aceito em: 25/10/2004.

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