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Doenças Ósseas e Articulares em Grandes Animais

Anatomia e Fisiologia
Classificação:
▪ Sinartroses: articulações sem movimentação (Ex: Crânio - placas ósseas presas firmemente umas as outras por elementos
fibrosos ou cartilaginosos)
▪ Anfiartroses: articulações com ligeira movimentação (Ex: Vértebras – discos de fibrocartilagem ligando superfícies
articulares)
▪ Diartroses: articulações móveis (Ex: articulações de extremidades dos membros – cobertas por cartilagem hialina, mas
completamente separadas, contidas na cavidade articular e envoltas por membrana sinovial)

Estruturas gerais:
▪ Superfície articular dos ossos (osso subcondral)
▪ Cartilagem articular (cartilagem hialina)
▪ Cápsula articular: - Camada fibrosa (mais externa, contínua ao periósteo) - Membrana sinovial (mais interna, reveste a
cavidade sinovial onde não há cartilagem articular)
▪ Líquido sinovial
▪ Ligamentos que estabiliza a articulação

Função de membranas sinoviais:


▪ Fagocitose (sinoviócitos tipo A) de células mortas e de células indesejáveis que faz com que o líquido continue viscoso
▪ Regulação do conteúdo protéico
OBS.: A maioria das proteínas é derivada do plasma, sendo apenas 2% produzida por sinoviócitos tipo B (produz o acido
hialuronico)
▪ Regulação do conteúdo de hialuronico (produzido por sinoviócitos – importante para a lubrificação, impedindo o atrito entre
os ossos subcondrais)
▪ Regeneração
OBS.: Consegue se regenerar completamente em aproximadamente 35 dias após uma lesão

Estrutura da cartilagem articular:


▪ Estrutura avascular (s/ vasos sangüíneos ou linfáticos) que recebe nutrição através de difusão do fluido sinovial
OBS.: Também não há nervos na cartilagem articular. Sensação de dor e propriocepção depende de terminações nervosas na
cápsula articular, ligamentos e osso subcondral
▪ Possui matriz constituída por proteoglicanos e glicosaminoglicanos (importantes para a resistência da cartilagem) – sulfato
de condroitina, ácido hialuronico;

▪ Composta principalmente por cartilagem hialina com 4 camadas:


- Superficial: condrócitos achatados ou ovais e fibras colágenas tangenciais
- Intermediária: condrócitos maiores e fibras colágenas em todas as direções
- Radial: condrócitos em colunas verticais e fibras colágenas com arranjo radial
- Cartilagem calcificada: cartilagem mineralizada com condrócitos em degeneração (está em contato com o osso subcondral)
OBS.: Presença de fibrocartilagem somente na junção da cartilagem articular, membrana sinovial e periósteo e nos meniscos
(Tem uma constituição diferente da hialina);

Processo inflamatório articular: Inflamação da membrana sinovial resulta em: - Efusão de fluido sinovial com distensão da
cápsula articular - Influxo de fibrinogênio e proteínas globulares para o fluido sinovial (fibrinogênio se transforma em fibrina o
que em casos crônicos leva a uma falta de movimentação devido a áreas de fibrose devido ao acumulo da fibrina).
*Principal sinal de doenças articulares é o edema;
- Aumento do número de leucócitos (fonte de enzimas potencialmente destrutivas – proteases, glicosidases, colagenases e
radicais livres) = degeneram a cartilagem hialina, levando a uma osteoartrite;
OBS.: A liberação destas enzimas causa destruição da matriz cartilaginosa e diminuição na viscosidade do fluido sinovial
- As osteoartrites levam a uma anquilose fazendo com que não haja a movimentação;

Sinovite Idiopática
Definição: Efusão sinovial crônica, com patogênese incerta e não associada à claudicação, calor, sensibilidade ou alterações
radiográficas
Possíveis causas: Estresse biomecânico de tecidos moles da articulação (claudicação do membro oposto ou má conformação);
Distensões e traumas menores; Treinamento pesado; Ferrageamento inadequada (ferradura pesada ou mal posicionada)
OBS.: Jarretes retos ou boletos verticais são exemplos de má conformação predisponente para a sinovite idiopática;

Sinais clínicos: Distensão articular (principalmente das articulações metacarpofalangeana e tibiotársica), não acompanhada de
dor ou calor; Alteração mecânica no andar durante o exercício (claudicação não responsiva aos bloqueios); Para que ocorra
claudicação mecânica devido à sinovite idiopática é necessário distensão articular intensa
- Na fase aguda o animal pode não demonstrar dor ou aumento de temperatura;
OBS.: Inchaços de casos de longa duração podem endurecer, como resultado de fibrose;

Diagnóstico: Aspecto clínico característico


▪ Exame radiográfico: - Serve para excluir fraturas intra-articulares em lasca ou osteocondrite dissecante
▪ Análise do líquido sinovial: - Pequenas alterações macroscópicas: líquido levemente opaco e com diminuição de viscosidade -
Concentração de proteínas dentro da faixa normal (até 2g/dl) - Leve aumento do número de leucócitos (< 1000 células/mm3 )

Tratamento: Eliminação das possíveis causas; Aplicação de ligas de pressão; Drenagem da articulação; Injeção intra-articular
de corticóides (metilprednisolona – Depo-medrol®)
OBS.: Sinovites idiopáticas relacionadas à conformação normalmente recidivam, independente do tratamento

Artrite Traumática
Definição: Coleção variada de sinais clínicos articulares, resultantes de episódios únicos ou repetidos de trauma
▪ Divisão de trauma articular em 3 tipos:
- I: Sinovite e capsulite traumática sem lesão em cartilagens ou ruptura de ligamentos de apoio (Ex: torções leves)
- II: Trauma com danos à cartilagem ou ruptura de ligamentos (Ex: torções graves, ruptura de menisco e fraturas intra-
articulares)
- III: Osteoartrite pós-traumática com grande dano tecidual – Deformidades, movimentação limitada ou instabilidade articular

Sinais clínicos: Claudicação evidente (intensificada através de testes de flexão específicos para a articulação lesionada);
Aumento de volume articular (cápsula articular e tecidos periarticulares); Dor à palpação articular; Redução da capacidade de
movimentação da articulação
OBS.: A restrição da movimentação articular está relacionada à dor na fase aguda e à fibrose na fase crônica;

Diagnóstico: Aspecto clínico característico e o histórico de traumas;


▪ Exame radiográfico: - Eliminar fraturas intra-articulares ou formação de calos osseos resultantes da ruptura da cápsula
articular fibrosa junto à inserção óssea (periostite)
▪ Análise do líquido sinovial: - Diminuição da viscosidade - Aumento da concentração de proteínas (2,5 a 4g/dl) - Aumento na
contagem de leucócitos (1000 a 10000 células/mm3)

Tratamento: Repouso e imobilização (aplicação de ligas) – a movimentação aumenta a lesão na articulação;


▪ Hidroterapia: - Fria: indicada no estágio agudo (retarda processos inflamatórios e reduz edema)
- Quente: indicada após 48 horas da lesão (alivia a dor, reduz a tensão em ligamentos inflamados e possui efeito vasodilatador
que ajuda na remoção de fluidos inflamatórios e fornece células fagocíticas com os macrófagos levando a uma limpeza
adequada do local)
*Alguns profissionais indicam o uso da água fria primeiro para reduzir a dor e a quente logo em seguida para realizar essa
“limpeza” necessária;

▪ Fisioterapia: movimentação passiva reduz a chance de formação de aderências intra-articulares


▪ Ultrassom terapêutico

▪ DMSO (Dimetilsulfóxido): pode ser utilizado na forma tópica antes da aplicação das ligas (efeito analgésico e evita a chegada
de radicais livres)
OBS.: A associação do DMSO a pomadas contendo corticóides aumenta a absorção do fármaco e potencializa sua ação (uso da
diclofenaco)

▪ Lavagem articular (quando há um acúmulo de fibrina): - Anestesia geral - Tricotomia + antissepsia - Introdução de agulhas
calibre 12 a 14 (posicionamento especifico para cada articulação) - Administração de solução eletrolítica balanceada sob
pressão

▪ Corticóides intra-articulares: - Betametasona (Betavet®, Soluspan®) - Metilprednisolona (Depo-Medrol®) - Triancinolona


(Vetalog®, Aristospan® - muito potente = maior risco de laminite)
OBS.: São contra-indicados na presença de fraturas intra-articulares ou nos casos onde há instabilidade da articulação, e
devem sempre ser acompanhados por repouso completo

▪ AINES sistêmicos e/ou locais (controle da dor e inflamação) – flunexina, fenilbutazona;


▪ Hialuronato de sódio ou ácido hialurônico (melhora a lubrificação articular, bloqueia a efusão articular e possui efeito
antiinflamatório direto na articulação)
- Sulfato de condroitina via oral em equinos não tem uma boa absorção;
OBS.: Possui como desvantagem o custo elevado

▪ Glicosaminoglicanas polissulfatadas (PSGAG) (inibe enzimas lisossomais e promove a síntese de ácido hialurônico)

Artrite Séptica
Definição: Instalação de infecção bacteriana em uma articulação OBS.: Pode estar acompanhada pela osteomielite séptica
Etiologia: Infecção hematógena (rara em animais adultos, ocorre mais em neonatos e principalmente naqueles que são
imunossuprimidos);
▪ Lesão traumática com introdução local de infecção (comum em animais adultos)
▪ Infecção iatrogênica associada à coleta de líquido sinovial, injeções intra-articulares ou artrotomia

▪Principais agentes em potros: - Actinobacillus sp. - Escherichia coli - Streptococcus sp. - Salmonella sp. - Corynebacterium
equi - Staphylococcus aureus - Klebsiella sp. - Bacteroides sp. - Pseudomonas sp.

Sinais clínicos: Febre; Claudicação evidente (intensificada através de testes de flexão específicos para a articulação lesionada);
Aumento de volume articular (cápsula articular e tecidos periarticulares) e de temperatura local; Dor à palpação articular;
Redução da capacidade de movimentação da articulação e associados a sinais sistêmicos com o aumento da temperatura
corpórea;
OBS.: A restrição da movimentação articular está relacionada à dor na fase aguda e à fibrose na fase crônica e anquilose;

Diagnóstico:
▪ Exame radiográfico:
- Fase inicial: efusão sinovial intensa com aumento do espaço articular
- Fase tardia: alterações líticas do osso subcondral, proliferação periosteal e estreitamento do espaço articular devido à
destruição da cartilagem articular
OBS.: Em alguns casos pode-se notar transparência localizada no osso subcondral (abscessos ósseos)
▪ Análise do líquido sinovial: - Aumento de volume do fluido - Alterações macroscópicas (aspecto turvo com coloração
variando de amarelo a serosanguinolento) - Diminuição da viscosidade - Aumento na concentração de proteínas totais (acima
de 4g/dl) - Aumento na contagem de leucócitos (acima de 10000 células/mm3 ) com predomínio de neutrófilos (80 a 90%)
OBS.: Culturas bacterianas são difíceis, mas podem confirmar o diagnóstico

Tratamento: Antibioticoterapia de amplo espectro sistêmica por 4 a 6 semanas: - Penicilina, ampicilina, cefalotina,
cefalosporinas, gentamicina, canamicina, carbenicilina
*é colocado o ATB no local e é feita um garrote próximo ao local por 45 minutos para manter o ATB no local por um tempo
maior;
▪ Infusões regionais de antibiótico;
▪ Drenagem e lavagem da articulação (fase aguda)
OBS.: A inclusão de soluções antissépticas para a lavagem deve ser cuidadosa para não provocar mais danos à membrana
sinovial (soluções de iodo povidine a 0,2% podem ser utilizadas)
▪ Artrotomia e debridamento da articulação (fase crônica – remoção de grumos de fibrina)
OBS.: Após a artrotomia pode-se realizar o posicionamento de drenos que facilitem a lavagem articular ou manter a
articulação aberta
▪ AINES
*Não se pode usar corticoides devido a imunossupressão e assim piorando o quadro clínico do animal;

Osteoartrite
Sinônimo: Doença articular degenerativa (DAD)
Definição: Grupo de distúrbios caracterizados por um estágio final comum: deterioração progressiva da cartilagem articular
acompanhada de alterações ósseas e em tecidos moles
OBS.: Todas as enfermidades articulares podem evoluir para osteoartrite;

Patogenia:
▪ Traumas diretos
▪ Superextensão do carpo, além da posição de encaixe (cavalos de corrida), sobrecargas no jarrete (cavalos de hipismo) e
movimentos rotatórios em articulações interfalangeanas (cavalos de provas Western, laço, baliza)
▪ Movimentos anormais (causam turbulência no líquido sinovial e falhas na lubrificação, resultando em desgaste friccional)
▪ Lesões em tecidos moles articulares (diminuição da absorção de impacto)
▪ Processo inflamatórios articulares (liberação de enzimas com potencial destrutivo aos proteoglicanos)

Alterações patológicas:
▪ Cartilagem articular com brilho e consistência normais, tornando-se amarelada e mole
▪ Formação de vesículas que levam à erosão (ulcerações) e ao desgaste superficial da cartilagem
▪ Osteofitose e esclerose do osso subcondral
▪ Histologicamente nota-se o desgaste das camadas articulares, com necrose variável de condrócitos, depleção de
proteoglicanos e aumento na quantidade de água contida na cartilagem

Sinais clínicos: Claudicação; Aumento de temperatura local; Inchaço da articulação (efusão sinovial, componentes da cápsula
articular e tecidos periarticulares e fibrose na fase crônica); Dor à flexão; Redução da movimentação;
Ring Bone:

Diagnóstico:
▪ Alterações radiográficas: - Estreitamento ou perda do espaço articular - Esclerose do osso subcondral - Formação de
osteófitos marginais e proliferação óssea periosteal - Anquilose articular
▪ Artroscopia: visualização direta das lesões sobre a cartilagem articular
OBS.: A análise do líquido sinovial não é muito útil na caracterização do grau de degeneração da cartilagem articular
Tratamento: Prevenção e tratamento das causas primárias; Repouso associado a caminhadas diárias com guia e
movimentação passiva da articulação; DMSO (propriedades analgésicas locais); Lavagem articular; Corticosteróides intra-
articulares; AINES; Hialuronato de sódio; Glicosaminoglicanas polissulfatadas (PSGAG); Ultrassom terapêutico;
*Os corticódes vão variar de acordo com a origem do problema;

▪ Curetagem cirúrgica da cartilagem e do osso: Defeitos na cartilagem articular curam-se principalmente por metaplasia do
tecido de granulação formado; Remoção de osteófitos
OBS.: Só deve ser realizada se forem grandes o suficiente para sofrer fraturas ou interferir na função da articulação
▪ Artrodese cirúrgica (mais utilizado)

Periostite de Terceiro Metacarpiano


Sinônimos: Também conhecida como “dor de canela”, canela proeminente ou canela bombeada
Definição e Etiologia: Processo reacional do periósteo, em resposta ao estresse provocado pela compressão do córtex dorsal
durante o apoio contra o solo, em alta velocidade (ocorre principalmente e cavalos de corrida)
▪ Danos ao córtex dorsal mais rápidos do que o processo de reparação podem resultar em microfraturas e hemorragia
subperiosteal

Epidemiologia: As lesões têm início já no primeiro ano de treinamento; Acomete principalmente cavalos de corrida de 2 anos
de idade (pode ocorrer em animais de 3 anos); Cerca de 70% dos animais acometidos pertencem à raça Puro Sangue Inglês
(PSI)
OBS.: Freqüente também em cavalos Quarto-de Milha e American Trotters;

Sinais clínicos: Relutância ao trabalho; Claudicação (pode estar presente ou não); Dor à palpação; Aumento de volume na face
dorsal do terceiro metacarpiano
OBS.: Normalmente as alterações são bilaterais;

Diagnóstico: Histórico e sinais clínicos característicos


▪ Exame radiográfico: - Lise periosteal (fase aguda) - Espessamento do córtex dorsomedial com calo ósseo subperiosteal
associado
OBS.: Em casos mais graves, as fraturas podem penetrar no córtex e progredir em um ângulo aproximado de 45° (linha de
fratura levemente côncava)

Tratamento: Repouso e redução do treinamento (por 30 a 90 dias em casos leves e até 3 meses em casos mais graves);
Crioterapia; AINES local (no começo) ou sistêmico; Corticosteróide (em forma de pomada ou infiltrado no local do calo ósseo);
Uso de vesicantes (irritantes químicos – Ex: iodeto de mercúrio) ou “Ponta de fogo” -> proibidos !!!! ;
- Colocar gelo por 15 minutos por dia;
- Pode utilizar o choque have = ajuda na quebra do calo ósseo = reorganiza o tecido ósseo e tecido articular;

Exostose Intermetacarpiana
Sinônimo: Sobrecana
Definição e etiologia: Crescimento ósseo anormal (proliferação de tecido fibroso) que resulta em projeções ósseas entre o II e
IV metacarpiano; Associado ao treinamento intenso, má conformação, cuidados inadequados com o casco ou má nutrição em
cavalos jovens
Principais causas: - Lesão do ligamento interósseo (prende o l ao lll e o lV ao lll) - Trauma direto - Cicatrização de fraturas

Sinais clínicos: Claudicação; Dor à palpação; Edema; Aumento de volume logo abaixo da articulação do carpo
OBS.: Geralmente é medial (acomete mais freqüentemente o II metacarpiano – possui articulação mais plana e completa com
o carpo)

Diagnóstico: ▪ Sinais clínicos ▪ Palpação local ▪ Exame radiográfico

Tratamento: Repouso; AINES; Terapia antiinflamatória local (DMSO + corticóides); “Ponta de fogo”
▪ Fisioterapia: - Gelo - Massagem - Ultrassom terapêutico - LASER - Extracorporeal Shock Wave Therapy (ESWT)

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