Você está na página 1de 29

capítulo 1 Dor de cabeça

Robert Ger win, MD

Panorama do tratamento miofascial Padrões referidos dos pontos-gatilho


INTRODUÇÃO e articular das dores de cabeça musculares
Técnica 1.1: Abordando os Envolvimento miofascial do
fatores perpetuantes: posição nervo occipital
HISTÓRICO de trabalho em relação ao olho Princípios do exame físico
Diagnóstico e classificação dominante
Princípios de tratamento
da dor de cabeça Etiologia
Dor de cabeça miogênica Técnica 1.2: Abordando os fatores
Sensibilidade muscular perpetuantes: posição no veículo AUTOCUIDADO
Terapia convencional Diagnóstico diferencial Princípios gerais

ABORDAGEM ARTICULAR E APRESENTAÇÃO DOS CONCLUSÃO


MIOFASCIAL PARA DIAGNÓSTICO SINTOMAS RELACIONADOS História, avaliação e protocolo
E TRATAMENTO DA DOR DE CABEÇA AO ENVOLVIMENTO MIOFASCIAL de tratamento
Caso 1.1: História do paciente ESPECÍFICO Seção técnica: Técnicas manuais
e sintomas Padrões referidos dos pontos-gatilho miofasciais para liberação
Caso 1.2: História do paciente e dor de cabeça dos músculos envolvidos na
dor de cabeça
20 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

mito. Essas distinções já entraram em desuso na prática clíni-


INTRODUÇÃO ca do dia-a-dia, porque pouco contribuem para distinguir a
dor de cabeça freqüente do tipo enxaqueca sem aura da dor
A dor de cabeça é uma queixa dos pacientes de todas as práticas de cabeça do tipo tensional. Unilateralidade da dor de cabeça,
médicas em geral. A dor de cabeça crônica, freqüente, intratável seu agravamento com atividade física rotineira, náusea e vô-
é um problema que leva o paciente a uma clínica de dor, bem mito e fotofobia ou fonofobia classificam-na como enxaqueca.
como aquelas vistas nas práticas médicas em geral. O problema Infelizmente, essas apresentações também ocorrem em pesso-
da dor de cabeça nova ou aguda, a qual requer uma avaliação as com dor de cabeça episódica do tipo tensional, confundin-
urgente para excluir neoplasia, hemorragia, artrite ou infecção, do a distinção. Marcus sugeriu o nome dor de cabeça de início
não está incluído nesta discussão, mas precisa ser mantido em súbito para esses tipos de dor de cabeça (2), um termo que é
mente como parte de um diagnóstico diferencial quando ocorre muito adequado e não-prejudicial quanto à origem da dor de
uma mudança no padrão da dor de cabeça. Em geral, qualquer cabeça. A diferenciação dos tipos de dor de cabeça para essas
mudança significativa nos sintomas da dor de cabeça dentro de dores crônicas muito similares é encontrada na Classificação
seis meses alerta para uma investigação. A possibilidade de um Internacional de 1988 (3). A classificação da dor de cabeça é
meningioma produzir sintomas crônicos também deve ser manti- uma tentativa de clarear seus tipos e de conduzir o tratamento
da em mente. O efeito rebote do analgésico na dor de cabeça é apropriado com base na causa específica. Isso é largamente
uma importante causa dessa dor, certamente nos pacientes com bem-sucedido. A nomeação ou a classificação apropriada da
dor de cabeça crônica, e deve ser considerado em todo paciente dor de cabeça sem dúvida influencia em seu tratamento. No
com uma longa história de dor de cabeça e uso de medicamento. entanto, alguns pioneiros especialistas em dor de cabeça apon-
No entanto, este capítulo focaliza as causas miogênicas da dor de tam que alguns estudos epidemiológicos falharam ao tentar
cabeça, ou a dor de cabeça de origem muscular, e em particular a encontrar quadros clínicos que distinguem a dor de cabeça do
dor de cabeça freqüente, recorrente, nesse caso chamada de en- tipo tensional da enxaqueca e propuseram uma hipótese con-
xaqueca (MH, do inglês migraine headache) ou dor de cabeça do vergente na qual os sintomas primários podem progredir da
tipo tensional (CTTH ou TTH, do inglês chronic tension type TTH para a enxaqueca (4). Fatores que estão associados à trans-
headache). O foco deste capítulo é a contribuição do ponto-gati- formação da enxaqueca episódica em dor de cabeça crônica
lho miofascial para o desenvolvimento da dor de cabeça. diária, incluindo pacientes do grupo crônico pós-traumático,
As dores de cabeça do tipo tensional mais recorrentes, têm sido estudados. Eles incluem alergias, asma, hipotireoidis-
sendo diárias ou episódicas, têm origem nos pontos-gatilho mus- mo, hipertensão e consumo de álcool e cafeína (5). Infeliz-
culares, e a enxaqueca sem aura é um acompanhamento fre- mente, a presença ou ausência dos pontos-gatilho musculares
qüente da TTH. Dietas e emoções que desencadeiam a enxa- que podem referir dor para a cabeça, causando então dor de
queca são bem conhecidas, mas a enxaqueca sem aura pode cabeça, não têm sido estudadas, e o papel da dor referida no
também iniciar de um ponto-gatilho nos músculos da cabeça, desenvolvimento e no controle da dor de cabeça não tem sido
do pescoço e na região dos ombros, possivelmente pela ativa- direcionado. O exercício de entender e nomear um tipo de dor
ção do sistema vascular trigeminal (1). Entender a natureza do de cabeça não é uma atividade fácil. A respeito disso, o enten-
ponto-gatilho e da dor referida é a chave para compreender e dimento da função dos pontos-gatilho miofasciais na TTH crô-
tratar essas dores de cabeça. O conceito de dor referida é o que nica diária soma-se à habilidade para diagnosticar e tratar es-
melhor explica a apresentação clínica tanto da dor de cabeça do ses problemas mais comuns da dor de cabeça.
tipo tensional quanto da enxaqueca sem aura. Uma apreciação A enxaqueca com aura apresenta-se como uma anormali-
da contribuição dos pontos-gatilho miofasciais para o desenvol- dade fisiopatologia intracraniana muito específica associada com
vimento da dor de cabeça é essencial para o desenvolvimento seu início ou com a fase prodrômica, resultando em escotoma
de um protocolo de tratamento efetivo para o controle dessa (fenômeno anormal positivo) ou afasia e monoparesia (fe-
dor. O tratamento dos pontos-gatilho miofasciais nos músculos nômeno anormal negativo). Esses fenômenos estão relaciona-
do pescoço, dos ombros e da cabeça e a correção dos fatores dos com depressão cortical extensa, agora bem demonstrada
que levam ao desenvolvimento e à manutenção dos pontos-ga- em humanos, e são explicados pela ativação do mecanismo do
tilho nesses músculos podem fornecer uma conduta efetiva para sistema vascular trigeminal e por edema estéril neurogênico,
esses difíceis problemas de dor de cabeça. um conceito que tem sido bastante descrito (6,7). A enxaqueca
é complicada por déficits neurológicos ou aura em mais de 30%
dos pacientes (8). A enxaqueca com aura não é necessariamen-
te associada com dor de cabeça relacionada com pontos-gatilho
HISTÓRICO miofasciais, a menos que o ponto-gatilho ative o sistema trige-
minovascular. Ao contrário, qualquer dor de cabeça grave e re-
Diagnóstico e classificação da dor de cabeça corrente está mais propícia a ser uma forma de enxaqueca e a
ser responsiva a uma terapia antienxaqueca (9 [artigo de revi-
A classificação da dor de cabeça continua muito empírica, são]). Mantendo esse conceito, dor de cabeça freqüente que
baseada na gravidade, freqüência, duração, localização e nos tem sintomas tanto de enxaqueca quanto de TTH tem sido cha-
fenômenos associados de fotofobia e fonofobia, náusea e vô- mada de enxaqueca transformada e ocorre em cerca de 5% da
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 21
população dos EUA (10). O tratamento das dores de cabeça que tente que se espalha para a região frontal, na região dos olhos. É
têm características tanto de TTH ou dor de cabeça muscular uma dor de cabeça contínua não-pulsátil, sendo atribuída a es-
quanto do tipo enxaqueca tem sido amplamente farmacológico, truturas do pescoço. Alívios transitórios ocorrem com bloqueio
apesar de um estudo recente ter mostrado a efetividade da anestésico do nervo occipital ou da raiz nervosa de C2. A designa-
estimulação de um nervo periférico de C1-C3 na enxaqueca re- ção tem sido criticada como uma tentativa de identificar uma dor
fratária, um tratamento com base no efeito de modulação do de cabeça única, quando se tem pouca evidência para essa posi-
complexo trigeminocervical através do corno dorsal cervical su- ção. É também criticada devido à alegação de que está associada
perior (11). A literatura sobre dor de cabeça não relata a iden- a pontos-gatilho miofasciais, um conceito não tão aceito no pen-
tificação de pontos-gatilho miofasciais nos músculos da região samento científico atual (15). Na verdade, conceitos atuais sobre
dos ombros e do pescoço como uma origem de dor referida para a natureza do ponto-gatilho não foram desenvolvidos, e a confia-
a cabeça e expressa como dor de cabeça crônica diária e dor de bilidade do exame diagnóstico físico não estava estabelecida quan-
cabeça intermitente com sinais de enxaqueca (sem aura), nem do ela foi descrita. No entanto, como será apontado neste capítu-
sugere que o tratamento dos pontos-gatilho presentes deva ser lo, os padrões referidos dos pontos-gatilho miofasciais nos mús-
uma parte essencial do tratamento. culos posteriores cervicais e suboccipitais reproduzem a chama-
A relação da ativação do sistema trigeminovascular como da dor de cabeça cervicogênica.
causa da TTH crônica diária com sinais intermitentes de enxa- A dor de cabeça cervicogênica tem sido caracterizada como
queca (sem aura) é muito menos clara. O fato de que ambos os uma dor de origem cervical; no entanto, como diferentes estrutu-
tipos de dor de cabeça, CTTH e MH, respondem a medicamentos ras do pescoço estão implicadas, diversos autores têm proposto
similares (ergotamina e triptanos) é compatível com o conceito múltiplas definições. Bloqueios diagnósticos têm sido usados para
de que inflamação estéril neurogênica e edema podem ter um realizar o diagnóstico, mas também têm o objetivo de identificar
papel no caminho final para o fenômeno da enxaqueca sem aura sinais clínicos que são característicos dessa dor de cabeça. Entre
em direção à TTH. No entanto, isso não significa que os mecanis- os sinais que têm sido propostos estão as mudanças posturais
mos iniciais da TTH estejam de fato relacionados aos mecanismos (protrusão da cabeça) e a diminuição da amplitude de movimen-
do edema neurogênico e da inflamação estéril, nem exclui a pos- to do pescoço. A diferença nos achados físicos em pessoas com a
sibilidade de que existam múltiplos caminhos para alcançar o es- chamada dor de cabeça cervicogênica que sofreram acidentes
tágio final da mistura da TTH com os sinais da enxaqueca. automobilísticos, comparadas com aquelas que não sofreram aci-
Silberstein (12) discute a dor de cabeça do tipo tensional e dente, tem sido considerada na tentativa de caracterizar os sinais
comenta sua sobreposição à enxaqueca. Ele menciona a possibili- únicos da dor de cabeça de origem cervicogênica. Pessoas com
dade de haver um limiar de dor diminuído, sugerindo que a TTH trauma de acidente automobilístico tiveram diminuída a ampli-
seja uma forma de fibromialgia localizada. Ainda especula que o tude de movimento de flexão-extensão e rotação, diminuídas a
impulso miofascial é interpretado como anormal e que pontos- força e a resistência dos músculos flexores do pescoço e diminuí-
gatilho são produzidos. O tratamento recomendado por ele é uma da a força dos extensores dos músculos do pescoço, ao passo que,
interrupção farmacológica do ciclo da dor de cabeça para dessensi- em pacientes com dor de cabeça cervicogênica que não sofreram
bilizar os neurônios afetados. Ele evidentemente considera os pon- trauma automobilístico, apenas a força dos músculos flexores do
tos-gatilho miofasciais como secundários, e não primários. Não pescoço estava diminuída (16). Nenhuma menção é feita nesse
recomenda a inativação dos pontos-gatilho, cujos padrões referi- estudo sobre a presença de pontos-gatilho miofasciais como um
dos de dor podem ter sido o estímulo imediato da dor de cabeça. achado ou como uma causa contribuinte da dor.
Goadsby e colaboradores (9) rejeitam o conceito de uma sobre-
posição dos tipos de dor de cabeça e relatam que a TTH é carac-
terizada pela ausência de sinais como náusea, vômito, fotofobia Dor de cabeça miogênica
ou fonofobia, e que qualquer dor de cabeça grave e recorrente é
mais provavelmente uma forma de enxaqueca. A dor de cabeça causada por um ponto-gatilho no músculo ester-
Em uma discussão sobre dor de cabeça crônica diária, qua- nocleidomastóideo foi descrita por Travell em 1955 (17). Travell
tro categorias de dor são oferecidas: enxaqueca transformada, expandiu o conceito 12 anos mais tarde com um artigo mais
CTTH, nova dor de cabeça diária persistente e hemicrania con- abrangente que descreveu a dor de cabeça causada por pontos-
tínua (13). A patogênese dessas dores de cabeça, incluindo a gatilho nos músculos trapézio, esternocleidomastóideo e nos
CTTH, é considerada para incluir a sensibilização periférica e músculos da mastigação, e observou a contribuição do estresse
central. A sensibilização periférica dos nociceptores musculares mecânico, incluindo a variedade de estresse postural, no desen-
nos músculos pericranianos é especificamente mencionada como volvimento dos pontos-gatilho que podem levar à dor de cabeça
um possível mecanismo. A possibilidade de a dor de cabeça crô- (18). Uma explicação completa do desenvolvimento dos padrões
nica diária ou CTTH ser a manifestação da dor referida dos pon- de dor de cabeça induzidos por pontos-gatilho é encontrada no
tos-gatilho musculares não é considerada. primeiro volume do livro Dor e disfunção miofascial: manual dos
Um outro tipo de dor de cabeça que tem sido proposto, mas pontos-gatilho (19), de Travell e Simons. Esse texto detalha o
que é controverso e não-aceito universalmente, é a dor de cabeça padrão referido de dor dos pontos-gatilho em cada músculo da
cervicogênica, como descrita por Sjaastad e Fredriksen (14). Esse cabeça, do pescoço e da região dos ombros, descrevendo então
tipo de dor de cabeça é explicado como uma dor unilateral persis- síndromes de um único músculo. A segunda edição desse volu-
22 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

me (20) relaciona claramente os pontos-gatilho de padrões de com a dor de cabeça é realizada por Jaeger na segunda edição do
dor de cabeça a teorias atuais da gênese da dor de cabeça. Rogers volume 1 do livro de Simons, Travell e Simons (20).
e Rogers (21) revisaram o tópico da dor de cabeça e dos pontos- Em outro estudo sobre dor de cabeça, a sensibilidade mus-
gatilho miofasciais e relataram que “pontos-gatilho miofasciais cular é usada para descrever a tensão muscular. O endureci-
na face, no couro cabeludo e no pescoço podem ser uma etiologia mento foi correlacionado com a sensibilidade. A associação do
significativa contribuinte das dores de cabeça do tipo tensional endurecimento à sensibilidade pode ser uma descrição da ban-
crônicas ou episódicas”, mas eles não adicionaram nenhuma da tensa e sensível do ponto-gatilho, apesar de os autores não
nova observação ou dados substanciais a essa posição além de usarem essa expressão. O endurecimento muscular era maior
sua revisão da literatura. em pessoas com CTTH do que no grupo-controle e não estava
Olesen e colaboradores foram os primeiros a estimar a sen- restrito ao período da dor de cabeça, mas foi encontrado mes-
sibilidade da musculatura pericraniana durante a crise de enxa- mo entre as dores de cabeça (30).
queca e observaram que os músculos masseter, temporal e mús- O foco deste capítulo é a dor de cabeça causada por um
culos do pescoço estavam sensibilizados (22-24). Eles também ponto-gatilho muscular. O mecanismo proposto é o de que o
estudaram a sensibilidade dos músculos pericranianos na CTTH ponto-gatilho ativa e sensibiliza os neurônios do corno dorsal,
e correlacionaram limiares de dor a pressão mais baixa e ativida- resultando não apenas em hipersensibilidade e alodínia, mas
de eletromiográfica pericraniana aumentada na CTTH (25). em um espalhamento local da ativação neuronal no corno dorsal
Jensen estudou 735 indivíduos da população em geral e encon- que refere dor para regiões distantes do ponto-gatilho em um
trou 22 com CTTH. O limiar de dor à pressão muscular era mais padrão segmentar, em vez de dermátomo. Os padrões referidos
baixo nas pessoas com CTTH, particularmente em mulheres, do da dor são sentidos como uma dor de cabeça frontal, parietal,
que na população em geral (26). A sensibilização central foi con- no vértice ou atrás dos olhos. Essas dores de cabeça são muito
siderada uma conseqüência significativa da manutenção do im- comuns e aparentemente representam a maioria das dores de
pulso doloroso muscular. No entanto, o conceito de que dor refe- cabeça em uma comunidade de pacientes clínicos.
rida a partir de sensibilidade muscular era importante na expres-
são da CTTH não foi especificamente abordado. Sensibilização
central, baseada não apenas nos dados que mostram que pessoas Sensibilidade muscular
com CTTH têm sensibilidade na musculatura pericraniana, mas
também na observação de que o limiar para outro estímulo dolo- Estudos da sensibilidade dos músculos pericranianos têm sido
roso (p.ex., limiar de dor elétrico) também estava diminuído, feitos na tentativa de identificar a causa da enxaqueca e da TTH.
continua sendo considerada um aspecto crítico da fisiopatologia Como observado anteriormente, os indivíduos com TTH têm a
da dor de cabeça do tipo tensional (27). Duckro (28) estudou sensibilidade dos músculos pericranianos aumentada mesmo nos
“irritação miofascial” na dor de cabeça pós-traumática. Ele ava- períodos entre as dores de cabeça, o que aumenta ainda mais
liou a sensibilidade muscular em sete locais predeterminados, com a dor de cabeça. A atividade eletromiográfica dos músculos
palpando o músculo com uma pressão com o dedo de 4-kg/cm2 pericranianos também está aumentada entre os períodos de dor
durante um minuto, estando o indivíduo em pé. Ele concluiu que de cabeça. Tolerância à dor por pressão e tolerância térmica, nor-
a sensibilidade muscular ou irritação miofascial era um fator con- mais entre as dores de cabeça, estão diminuídas durante a dor de
tribuinte significativo para a dor de cabeça, porque estava pre- cabeça (31). Indivíduos com TTH que apresentam sensibilidade
sente em uma alta porcentagem dos indivíduos com enxaqueca miofascial dos músculos pericranianos determinada pela palpação
TTH. O estudo não foi controlado, músculos não foram selecio- manual têm um limiar de dor por pressão menor e uma tolerân-
nados com base na reprodução de dor de cabeça relevante e uma cia à dor menor do que aqueles com dor de cabeça sem sensibili-
pressão de palpação-padrão foi utilizada, como tem sido descrito dade miofascial (25). Esses estudos sugerem que a sensibilização
na literatura sobre fibromialgia, com relação à firmeza ou pro- dos nociceptores ocorre nos músculos pericranianos, bem como a
fundidade do músculo. Esse estudo usou o termo miofascial, mas sensibilização segmentar central, a qual contribui para a TTH.
não aplicou o termo para o ponto-gatilho miofascial como defini- Sensibilidade muscular na enxaqueca episódica e na TTH
do por Travell e Simons. Isso significa que muitas pessoas com crônica tem sido examinada em detalhe. A sensibilidade nos
dor de cabeça pós-traumática têm sensibilidade dos tecidos músculos pericranianos está aumentada em pacientes com TTH,
cutâneos e subcutâneos (incluindo os músculos), mas não relaci- comparados com indivíduos normais e com indivíduos com en-
ona a sensibilidade com a causa da dor de cabeça, não considera xaqueca (25,32). A sensibilidade do músculo pericraniano tem-
o papel da dor referida nem demonstra que a incidência de sensi- poral está aumentada durante crises de enxaqueca, sendo o au-
bilidade muscular é diferente na dor de cabeça pós-traumática mento ipsilateral ao lado da dor de cabeça quando esta é unila-
quando comparada à que não é pós-traumática. teral (24). No entanto, não há aumento na sensibilidade dos
Uma revisão recente sobre a dor de cabeça (29) menciona músculos pericranianos, do pescoço e dos ombros em indivídu-
a sensibilidade pericraniana e a nocicepção miofascial apenas com os com enxaqueca entre as crises de dor de cabeça, mas a sen-
relação à TTH, até mesmo porque aponta que a TTH freqüente- sibilidade dos músculos pericranianos está aumentada em indi-
mente coexiste com a dor de cabeça do tipo enxaqueca. Não men- víduos com TTH episódicas e crônicas (32). Os estudos sobre a
ciona o ponto-gatilho miofascial ou o fenômeno de dor referida sensibilidade dos músculos pericranianos em várias dores de
em relação à dor de cabeça. Em geral, os pontos-gatilho miofasciais cabeça não examinaram os pontos-gatilho miofasciais e a dor
não têm sido reconhecidos como causa da TTH ou da enxaqueca referida dos músculos pericranianos no sentido em que esses
sem aura. A discussão mais completa da relação do ponto-gatilho termos são usados e discutidos neste capítulo. Não obstante, os
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 23
pontos-gatilho miofasciais causam sensibilidade dos músculos AINEs de início rápido, como ibuprofeno ou naproxeno de sódio
pericranianos e provocam tanto a TTH quanto a MH diretamen- e acetaminofen. A prescrição de medicamentos que são usados
te, por meio da dor referida, causando sensibilização central e no tratamento agudo da TTH e da enxaqueca inclui uma combi-
ativando o sistema trigeminovascular. nação não-opióidea de aspirina ou acetaminofen com cafeína e
sedativo, como butalbital, um barbitúrico de curta ação. Uma
outra combinação usada com freqüência é isometepteno (um
Terapia convencional simpatomimético), acetaminofen e dicloralfenazona (Midrin,
Carnrick Laboratories, Inc., Cedar Knolls, NJ). Relaxantes mus-
TTH recorrentes ou dor de cabeça diária crônica são notoria- culares que agem na medula, no tronco cerebral ou no cérebro
mente difíceis de tratar. O tratamento convencional desses pro- podem ser administrados. Eles incluem o GABA análogo ao
blemas da dor de cabeça pode ser dividido em terapias farmaco- baclofen, diazepam (que também é um depressor do sistema
lógicas e não-farmacológicas. A terapia farmacológica é usada nervoso central) e ciclobenzaprina, um relaxante muscular de
tanto para o tratamento agudo quanto para o preventivo e con- ação central que também inibe a liberação de noradrenalina no
siste em analgésicos de uso diário, como acetaminofen e aspiri- sistema nervoso central. Seu uso é empírico, porque não exis-
na; antiinflamatórios não-esteróides (AINEs), como ibuprofeno; tem estudos adequados sobre sua eficácia. Quando essas medi-
medicamentos mais específicos para a dor de cabeça aguda, como das falham, o próximo medicamento usado é freqüentemente
os triptofanos e a ergotamina; medicamentos profiláticos, como um triptano, que está agora disponível para uso prescrito em
betabloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio; e medi- forma de comprimido, em uma fórmula oral solúvel, como um
camentos anticonvulsivantes, como ácido valpróico, gabapentina spray nasal, ou injetável. Os triptanos foram desenvolvidos para
e topiramato. A CTTH é freqüentemente tratada com medica- tratar a enxaqueca, para a qual são muito efetivos, mas também
mentos antidepressivos tricíclicos similares àqueles usados para são eficazes no tratamento da dor de cabeça miogênica ou TTH.
o tratamento da dor de cabeça do tipo enxaqueca e também A responsividade da dor de cabeça aos triptanos não pode ser
responde a medicamentos como os triptanos, assim como a en- diagnóstico de enxaqueca, pois a TTH também melhora com o
xaqueca. As terapias não-farmacológicas incluem compressas tratamento com triptanos. Medicamentos de triptano têm qua-
de gelo e calor na cabeça e no pescoço, um biofeedback que se substituído todos os medicamentos de ergotamina para o tra-
relaxa a cabeça e o pescoço e muda a temperatura da pele do tamento agudo clínico da dor de cabeça. Apesar de terem uma
rosto e das mãos, a terapia cognitivo-comportamental e o con- boa eficácia, eles são caros para o uso freqüente na dor de cabe-
trole do estresse, para diminuir os estressores psicológicos que ça recorrente. Também podem levar a uma dor de cabeça de
resultam no desenvolvimento e na persistência da dor de cabe- rebote se usados de forma assídua; então, não devem ser utili-
ça, e a acupuntura, para relaxar a musculatura e a psique, aliviar zados por mais de 2 ou 3 vezes por semana. Os triptanos são
a dor e eliminar a dor de cabeça. muito eficazes; de fato, quando a dor de cabeça é ocasional,
eles são o medicamento de primeira escolha ou aquele a ser
usado primeiro no tratamento da dor de cabeça, para prover
Terapia para dor de cabeça aguda alívio imediato, se os medicamentos analgésicos de uso diário
falharem. A náusea e o vômito são tratados sintomaticamente
O tratamento da dor de cabeça aguda abrange tanto a TTH, ou com antieméticos, como prometazina ou proclorperazina, ad-
dor de cabeça aceita como de origem muscular, à qual temos ministrados por via oral ou por supositório retal. A motilidade
nos referido como “dor de cabeça miogênica”, quanto a enxa- gástrica é muitas vezes reduzida nas fases prodrômicas e agu-
queca típica sem aura. A enxaqueca nesta discussão está limita- das da enxaqueca, e um medicamento como a metoclopramida
da apenas à enxaqueca sem aura e não inclui a com aura, que é 10 mg ingerida oralmente de 20 a 30 minutos antes do medica-
outro tipo de dor de cabeça. A dor de cabeça do tipo tensional mento para enxaqueca em geral melhora a absorção daquele
sozinha é mais comum, mas quando grave exibe muitos dos que será ingerido a seguir.
sinais da enxaqueca aguda sem aura, aumentando a dor com Com freqüência, os opióides são o próximo passo no tra-
atividade, náusea e vômito, fotofobia e fonofobia. Em casos gra- tamento da dor de cabeça. Eles são geralmente utilizados como
ves, TTH e enxaqueca sem aura fundem-se em um tipo de dor medicamentos de liberação imediata e de curta ação (duração
de cabeça. A sobreposição é mais notável quando a TTH inicia da ação de 4 a 6 horas), combinados com aspirina, acetaminofen
unilateralmente. Em ambos os casos, no entanto, o paciente pode ou ibuprofeno. Se tomados de forma freqüente, como o são por
desejar se deitar em um quarto escuro e silencioso, procurando pessoas com dor de cabeça aguda diária, eles podem causar dor
um tratamento de emergência apenas quando a dor de cabeça é de cabeça de rebote, disfunção cognitiva, constipação e depen-
incapacitante e quando as tentativas anteriores falharam. O tra- dência. Um desenvolvimento mais recente no tratamento farma-
tamento de emergência da CTTH grave normalmente consiste cológico de dores de cabeça recorrentes diárias é o uso regular
na administração de analgésicos ou ketorolac (um AINEs) intra- das formas de curta liberação e longa ação de oxicodona, mor-
muscular ou um opióide de ação rápida, como hidrocodona fina, metadona ou fentanila, para eliminar os problemas dos
intramuscular, mais um antiemético. Departamentos de emer- opióides de curta ação listados anteriormente, eliminar o pro-
gência em geral não tratam “espasmo muscular” ou pontos-ga- blema de rebote do opióide ou medicamento e evitar as compli-
tilho que produzem dor de cabeça aguda. cações de toxicidade do acetaminofen ou salicilato. No entanto,
A terapia aguda costuma iniciar com AINEs e outros anal- o uso crônico de opióides de qualquer forma no tratamento da
gésicos não-narcóticos simples. Estes incluem aspirina e outros dor de cabeça permanece muito controverso.
24 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

Como descrito anteriormente, o tratamento convencional tos-gatilho miofasciais na cabeça, no pescoço e nos ombros que
da CTTH ou da dor de cabeça miogênica focaliza a eliminação induzem ou perpetuam a dor de cabeça na maioria dos casos, o
da dor de cabeça presente (tratamento agudo) enquanto reduz que será discutido na próxima seção.
a tendência de recorrência no futuro (tratamento preventivo).
A despeito de sua ocorrência freqüente na população, essas do-
res de cabeça são muitas vezes resistentes ao tratamento, e pa-
cientes podem preferir medicamentos analgésicos crônicos, tanto ABORDAGEM ARTICULAR E MIOFASCIAL PARA
narcóticos como não-narcóticos. Tratamento medicamentoso DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA DOR DE CABEÇA
diário, biofeedback e controle do estresse não controlam a dor
de cabeça em muitas pessoas. Uma revisão de tratamentos para
TTH recorrente examinou eletromiografia (EMG), terapia cogni- Observações clínicas de pacientes com dor de cabeça crônica e
tiva e relaxamento e observou que eles são mais eficazes do que recorrente, ocorrendo quase toda semana e muitas vezes quase
nenhum tratamento (33). A inativação do ponto-gatilho específi- todos os dias, levaram-nos ao conceito de que o ponto-gatilho
co não foi considerada nesse estudo. O novo interesse no uso de miofascial é a causa imediata da dor de cabeça em muitos, se
injeções de toxina botulínica na cabeça e no pescoço encaixa-se não na maioria, desses pacientes, independentemente de ela
bem no paradigma da inativação do ponto-gatilho na CTTH, que ter sinais que costumam ser associados à enxaqueca sem aura
é o tema deste capítulo, mas são necessários mais estudos para (náusea, vômito, fotofobia e fonofobia, tonteira, transpiração).
definir o papel desse tratamento potencialmente útil. A toxina Esse conceito tem alterado nossa abordagem de tratamento, par-
botulínica como usada no tratamento da CTTH pode ser pensa- ticularmente tirando a ênfase da terapia medicamentosa em
da como uma injeção de longa ação no ponto-gatilho. favor das terapias manuais musculoesqueléticas e correções bio-
Um problema prático surge quando a dor de cabeça ocor- mecânicas da disfunção postural, com ou sem a inativação do
re quase todos os dias. Muitos dos indivíduos que sofrem com ponto-gatilho com agulha ou injeção. Isso de forma alguma impli-
uma mistura de dor de cabeça do tipo tensional e enxaqueca ca que terapia farmacológica, considerações sobre a dieta, aler-
têm dor na maioria dos dias e tratam cada dor de cabeça diária gias e fatores psicossociais não devam ser considerados, mas
como se fosse um problema agudo. O tratamento dessas dores sim que a base muscular da dor de cabeça deve ser reconsidera-
costuma enfatizar a terapia medicamentosa (34). Nenhum dos da como uma causa potencial tratável em todos os pacientes
protocolos comumente usados para o tratamento da TTH agu- nos quais ela é crônica. Assim, a avaliação desses pacientes deve
da ou crônica enfatiza a identificação e a eliminação de pontos- incluir um exame biomecânico da postura e das estruturas do
gatilho musculares ou o tratamento de disfunções articulares corpo (como escoliose) e uma avaliação cuidadosa dos múscu-
da coluna cervical. los do pescoço, da cabeça e dos ombros quanto a pontos-gatilho
miofasciais. O pescoço deve ser examinado com relação a uma
disfunção articular segmentar, como, por exemplo, uma disfun-
Profilaxia da dor de cabeça ção atlantoaxial. A história deve incluir uma avaliação de hábi-
tos parafuncionais orais que levam a síndromes de pontos-gati-
A terapia profilática primeiramente requer a eliminação dos pos- lho miofasciais nos músculos da face (mastigar lápis, roer unhas).
síveis medicamentos que possam causar dor de cabeça de rebote. A articulação temporomandibular deve ser examinada como ori-
A terapia convencional da enxaqueca sem aura utiliza agentes gem de dor muscular facial.
farmacoterapêuticos como verapamil (um bloqueador do canal
de cálcio), antidepressivos tricíclicos, propranolol (um beta-
bloqueador) ou ácido valpróico, gabapentina ou topiramato Panorama do tratamento miofascial e
(anticonvulsivantes) para prevenir recorrências, e outros agen-
articular das dores de cabeça
tes, como já discutido, para controlar a dor aguda e para quebrar
o ciclo da dor de cabeça. Ainda não está claro se esses medi-
camentos também têm um papel útil na prevenção da TTH crôni- Efeito do tratamento do ponto-gatilho miofascial
ca diária, mas eles são usados freqüentemente com esse objetivo.
A terapia psicossocial ou cognitivo-comportamental é também A enxaqueca unilateral aguda ou a dor de cabeça do tipo tensional
usada (aconselhamento, biofeedback, controle do estresse). O con- aguda, com dor de cabeça incapacitante, náusea, vômito, fotofobia,
trole da dieta para identificar e evitar a ingestão de alimentos tonteira, diaforese e desmaios, pode ser eliminada em minutos pela
conhecidos por disparar ou agravar a dor de cabeça é um aspecto inativação dos pontos-gatilho miofasciais críticos. Isso pode ser fei-
comum no tratamento da enxaqueca que tem sido usado, mas to manualmente (compressão do ponto-gatilho seguida de alonga-
pouco estudado, no tratamento da CTTH. A dor de cabeça induzida mento, ou técnicas de relaxamento), com uma injeção no ponto-
por alergia, no entanto, é um problema potencial na CTTH e me- gatilho usando lidocaína 0,25% (procaína não está mais disponí-
rece um questionamento e um teste alérgico em certos casos. A vel) ou realizando o agulhamento seco do ponto-gatilho (insere-se
toxina botulínica, atualmente investigada para o tratamento da a agulha, em geral uma agulha de acupuntura, no músculo que
dor de cabeça do tipo enxaqueca, tem sido mostrada em estudos está com o ponto-gatilho, sem injetar qualquer substância). A cha-
preliminares como eficaz para reduzir a TTH (35). Nos protoco- ve para a eliminação rápida da dor de cabeça aguda é a identifica-
los convencionais para dor de cabeça falta um entendimento es- ção dos músculos-gatilho; então, o ponto-gatilho específico pode
tabelecido com clareza sobre a necessidade de abordar os pon- ser desativado. A reversão da dor de cabeça, que ocorre rapida-
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 25
CASO 1.1
História do paciente e sintomas Acompanhamento
Uma mulher jovem, em seus 40 anos, apresentou-se com As dores de cabeça desapareceram após um dentista especia-
dores de cabeça do tipo enxaqueca recorrentes, intratáveis, lista providenciar uma placa oral para reposicionar a man-
que tinham tanto um componente diário crônico de gravi- díbula e relaxar os músculos da mastigação. Os músculos do
dade moderada ou intensa quanto um componente inca- pescoço e dos ombros não desenvolveram pontos-gatilho re-
pacitante freqüente que ocorria uma ou mais vezes por se- correntes como acontecia antes do uso da placa oral. A pa-
mana. A dor de cabeça era sentida atrás do pescoço, na tes- ciente continuou com a terapia e com os exercícios, diminuin-
ta, atrás dos olhos e na banda em volta da cabeça. Ela tinha do a freqüência das sessões. Ela ficou livre das dores de ca-
sensibilidade múltipla para comidas que desencadeavam uma beça logo após o início do uso e o ajuste da placa. Os om-
dor de cabeça grave e pulsátil com fotofobia e aprendera a bros protrusos não foram completamente corrigidos. Os
controlar rigorosamente sua dieta. Também tinha uma sen- estresses em casa, em particular com a família, não foram
sibilidade crônica à luz e usava óculos escuros, mantendo abordados de forma específica. Além disso, ela permane-
sua casa com pouca luz. Tinha história familiar de enxaque- ceu sem dor de cabeça e não necessitava medicamentos,
ca. Já havia usado quase todos os medicamentos profiláticos como de costume antes do tratamento. Não retornou du-
comumente utilizados na prevenção dessa dor e teve ape- rante 15 meses, sendo então atendida devido a uma dor de
nas um pequeno benefício, mas reações adversas considerá- cabeça aguda de três dias. Tinha parado de usar a placa
veis com cada um dos medicamentos. Analgésicos davam oral e não retornara ao dentista especialista. Também ha-
um pouco de alívio. Ela tinha disfunção da ATM que fora via parado de realizar o seu programa de exercícios em
tratada com uma placa oral. A paciente não tinha história casa. O estresse da família fora reduzido substancialmen-
de trauma na cabeça, mas passava por situações estressantes te. Pontos-gatilho que reproduziam sua dor de cabeça fo-
na família envolvendo seus filhos. ram encontrados nos músculos esternocleidomastóideo,
esplênio da cabeça e trapézio. A inativação desses pontos-
Avaliação gatilho com uma injeção com anestésico local, seguida por
um alongamento terapêutico muscular, eliminou a dor de
A paciente tinha uma postura com ombros e cabeça protrusos, cabeça dentro de 15 minutos. Ela foi aconselhada a seguir
agravada pelo trabalho de editora. Pontos-gatilho miofasciais seu programa de exercícios em casa e a consultar outra vez
estavam presentes nos músculos peitorais (maior e menor), o dentista especialista. A dor de cabeça sumiu, mas tinha
nos músculos trapézio, superiores das costas e da região dos recorrência em intervalos maiores, reduzida em cerca de
ombros. Pontos-gatilho que reproduziam suas dores de ca- 50%. Mais tarde, a paciente respondeu bem a injeções de
beça foram encontrados nos músculos esternocleidomastói- toxina botulínica nos pontos-gatilho dos músculos do pes-
deo, esplênio da cabeça e semi-espinais. A dor de cabeça coço e da cabeça e no músculo corrugador do supercílio,
aguda era aliviada imediatamente pela inativação dos pon- com uma redução maior da dor de cabeça.
tos-gatilho ativos, e retornava imediatamente com a irritação
manual dos pontos-gatilho.
Discussão
Tratamento
Essa paciente exemplifica os principais pontos das dores de
O tratamento foi terapia manual nos músculos afetados, cabeça musculares ou miofasciais, ou o que pode ser cha-
inativação dos pontos-gatilho faciais, do pescoço e dos om- mado de “dores de cabeça miogênicas”, isto é, dores de ca-
bros com injeção de procaína a 0,5%, instruções para o auto- beça que têm um importante fator de pontos-gatilho miofas-
alongamento e correção da disfunção postural para elimi- ciais na sua origem. Suas dores de cabeça eram de origem
nar a protrusão da cabeça. A terapia manual incluiu com- mista, incluindo um componente químico (dieta) que presu-
pressão do ponto-gatilho, alongamento muscular local, alon- mivelmente tinha conseqüências vasoativas, uma possível
gamento terapêutico de todo o pescoço e dos grupos funcio- suscetibilidade hereditária, uma resposta parcial a medica-
nais musculares dos ombros, contração e relaxamento mentos para dor de cabeça aguda, intensificação de suas
isométrico e inibição recíproca. A terapia foi realizada duas dores de cabeça pela ativação dos pontos-gatilho miofasciais
vezes por semana durante oito semanas. Estabilização e ma- e a eliminação tanto da dor de cabeça diária aguda quanto
nutenção de um estado livre de dor de cabeça foram final- da dor de cabeça grave episódica pelo tratamento da disfun-
mente alcançadas tratando-se a disfunção temporomandi- ção musculoesquelética e dos pontos-gatilho.
bular contribuinte que agravava os pontos-gatilho cervicais.

mente após a inativação do ponto-gatilho, fala contra inflamação A fase crônica do tratamento para manter a dor de cabeça
neurogênica e edema como causas da dor de cabeça, pois seria em um estágio inativo vai além do tratamento agudo da dor,
necessário um tempo maior para reverter essas mudanças. corrigindo os fatores que perpetuam os pontos-gatilho nos mús-
26 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

CASO 1.2
História do paciente mento dos músculos do pescoço e dos ombros. Conforme os
pontos-gatilho eram inativados um a um, sua dor de cabeça
Uma mulher de 54 anos com longa história de depressão melhorava. Ela informava ao clínico quando sentia que al-
foi avaliada quanto a uma história de sete meses de dor de gum ponto-gatilho permanecia e indicava quando era libe-
cabeça difusa que era incapacitante a ponto de ela não po- rado. Ela estava livre da dor de cabeça 15 minutos após o
der mais trabalhar. A paciente tinha dor de cabeça crônica início do tratamento.
diária acentuada 2 ou 3 vezes por semana por dor de cabe-
ça focal intensa, acompanhada de náusea, vômito, fotofobia Acompanhamento
e fonofobia. As dores de cabeça intensas ocorriam em am-
bos os lados, nas regiões temporal e parietal ou na região Sua dor de cabeça reapareceu cerca de sete horas depois.
frontal. Ela foi previamente avaliada com exames neuroló- Ela retornou no dia seguinte e foi tratada com injeção de
gicos, raios X da coluna cervical e ressonância magnética, procaína HCl nos pontos-gatilho dos músculos antes mencio-
os quais foram normais. Os medicamentos em geral usa- nados. Novamente a dor de cabeça sumiu de imediato e não
dos para tratar dores de cabeça falharam em promover alí- retornou nas próximas duas semanas. Ela queixou-se de dor
vio: antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da no pescoço e nos ombros, sendo tratada na fisioterapia com
recaptação de serotonina, AINEs e triptanos. Medicamen- compressão do ponto-gatilho, alongamento local, alongamen-
tos narcóticos também não geraram alívio. Não existia his- to terapêutico e avaliação e correção da disfunção postural
tória de trauma. (postura de cabeça e ombros protrusos). Sua depressão foi
tratada por um psicoterapeuta, mas ela permaneceu resis-
Achados da avaliação tente a medicação e aconselhamento. As dores de cabeça
diárias cessaram, e ela continuou a ter dor de cabeça com
A cabeça e os ombros estavam em posição protrusa, resul- uma freqüência reduzida e tratável, de 2 ou 3 vezes por mês,
tando em uma postura cifótica exagerada com lordose controlada com terapia convencional.
cervical excessiva. Pontos-gatilho miofasciais foram encon-
trados nos músculos trapézio superior direito, esternoclei- Discussão
domastóideo direito e bilateralmente no esplênio da cabeça.
Os pontos-gatilho em cada um desses músculos agravavam Este caso é um exemplo da necessidade de examinar os mús-
parte de sua dor de cabeça com estimulação manual. culos do pescoço, da cabeça e dos ombros quanto a pontos-
gatilho que referem dor e que podem produzir tanto a dor
Tratamento de cabeça do tipo tensional quanto a enxaqueca. As dores
de cabeça podem ser agravadas pela estimulação dos pon-
Ela foi tratada na avaliação inicial com compressão manual tos-gatilho apropriados e podem ser aliviadas pela sua eli-
de cada ponto-gatilho seqüencialmente, seguida de alonga- minação.

culos relevantes. Isso significa corrigir desequilíbrios mecâni- constante da cabeça para a esquerda de uma jovem mulher que
cos, como discrepância no comprimento das pernas, rotação realiza longas viagens no assento do passageiro, à direita, mas
pélvica, escoliose, postura com os ombros protrusos (com en- que necessita virar para a esquerda por causa das crianças no
curtamento dos músculos peitorais), e abordar ergonomicamente banco de trás. Similarmente, mães que dirigem com crianças
as condições estressantes do trabalho. Depressão e raiva com pequenas no assento de trás realizam várias rotações e estressam
freqüência resultam em atividade aumentada dos pontos-gati- os músculos do ombro direito e aqueles que realizam a rotação
lho miofasciais dos músculos dos ombros. Em outras palavras, da cabeça para a direita. Dominância mista da mão e do olho
os pontos-gatilho têm de ser eliminados, e providências devem pode resultar em um pescoço tenso. A dominância do olho es-
ser tomadas para prevenir seu retorno. querdo não é rara em pessoas destras e resulta em rotação da
cabeça para a direita para trazer o olho esquerdo sobre um mate-
rial que está sendo lido. Material escrito colocado ao lado direi-
Obtendo a história to do teclado no computador produz o mesmo estresse para os
músculos do pescoço. Mover tal material para a esquerda, sob o
Pistas para os aspectos importantes das atividades diárias que olho dominante, elimina esse tipo de tensão. (A identificação
estressam os músculos podem ser obtidas por meio de uma do olho dominante será discutida na Técnica 1.1.) Atividades
anamnese cuidadosa. Segurar o telefone entre o ombro e a ore- associadas ao trabalho ou hobbies podem iniciar ou perpetuar
lha é uma causa comum de tensão que pode ser aliviada com o um ponto-gatilho miofascial. Um motorista com dor no ombro
uso de um viva-voz ou fone de ouvido. Menos óbvia é a rotação esquerdo e um ponto-gatilho nos músculos trapézio superior,
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 27
gatilho do músculo trapézio superior (36, 37) e criando um
T é c n i c a 1 .1 ponto-gatilho secundário – dor de cabeça induzida.
2. A localização da dor de cabeça é também útil para o diag-
Abordando os fatores perpetuantes: nóstico. Dores de cabeça unilaterais, que permanecem em
posição de trabalho em relação ao olho dominante um local e são pulsáteis, são características da enxaqueca.
No entanto, dor de cabeça que inclui o lado da cabeça ou
Uma trabalhadora de escritório queixava-se de dor de o lado da face pode se originar dos músculos temporoman-
cabeça crônica que estava presente apenas durante os dibulares (masseter, temporal e pterigóideos). Dor de ca-
dias de trabalho. Ela era destra, mas com a dominância
beça em cima ou atrás dos olhos ou nas regiões frontotem-
do olho esquerdo. A dominância do olho é determinada
simplesmente pedindo ao paciente para fazer um círcu-
poral ou parietal freqüentemente indica dor referida de
lo com o dedo indicador e o polegar e segurá-lo cerca de um ponto-gatilho que pode estar nos músculos esternoclei-
45 a 60 centímetros em frente dos olhos. O paciente é domastóideo, trapézio superior ou cervicais posteriores e
então orientado a olhar para uma marca através do cír- suboccipitais. Dor de cabeça posterior na região suboccipi-
culo. Fechando um olho de cada vez, o olho que vê a tal pode ser referida por pontos-gatilho dos músculos ester-
marca através do círculo é identificado. Esse é o olho nocleidomastóideo e semi-espinais, por facetas articulares
dominante. A paciente colocava todo o material escrito da cervical superior (38) e por compressão nervosa (ner-
que consultava enquanto trabalhava no computador do vo occipital maior) ou irritação do terceiro nervo occipital
lado direito, causando uma rotação da cabeça para a (C3) (39). Dor em circunferência ou em banda é típica de
direita e um desvio da cabeça para trazer o olho domi- TTH. Quando há um componente cervical posterior para a
nante esquerdo para mais perto do material de referên-
cia. O exame físico identificou pontos-gatilho relevantes
dor de cabeça, especialmente no início, ou persistência
para a sua dor de cabeça no músculo esternocleidomas- entre os episódios, a origem miofascial é provável.
tóideo esquerdo, no esplênio da cabeça direito e no oblí- 3. Atividades associadas com a dor de cabeça são descober-
quo inferior da cabeça. Mover o material de referência tas por meio de uma anamnese cuidadosa.
para a esquerda do teclado, debaixo do olho dominan-
te, eliminou a necessidade de rotação da cabeça e resul-
tou em uma resolução da sua dor de cabeça. Etiologia
Etiologias comuns dos pontos-gatilho musculares na parte su-
perior do corpo que produzem dor de cabeça incluem todos os
infraespinal e subescapular constantemente vira o seu volante estresses mecânicos que resultam na formação de um ponto-
com a mão esquerda. Da mesma forma, um operador de máqui- gatilho nos músculos dos ombros, da cabeça e do pescoço. Isso
nas desenvolve repetitivamente um ponto-gatilho sintomático inclui fatores posturais, pressão biomecânica, como discrepân-
no músculo infraespinal direito ao virar com a mão uma mani- cia entre os membros inferiores, e rotação pélvica que resulta
vela. A condição de ambos os indivíduos melhorou depois que em estresse nos ombros. Estresses ergonômicos associados ao
novas alternativas para executar o trabalho de virar o volante trabalho (p. ex., operadores de computador, trabalhadores bra-
ou a manivela foram encontradas. Um músico violinista foi ca- çais) e qualquer atividade associada a posturas estáticas pro-
paz de eliminar sua dor no antebraço mudando o ângulo em longadas levam ao desenvolvimento de pontos-gatilho. Distúr-
que segurava o instrumento, mas não poderia usar uma respira-
ção abdominal para diminuir a dor do ponto-gatilho crônico do
escaleno causado pela respiração torácica ao tocar.

T é c n i c a 1 .2
Princípios da coleta da história
Abordando os fatores perpetuantes: posição no veículo
A história é crítica para desenvolver um diagnóstico que direciona
o exame físico e o tratamento. Uma mulher jovem tinha dor nos ombros e enxaqueca
apenas durante viagens. Ela sempre tinha pontos-gati-
1. A freqüência da dor de cabeça é importante, porque dores lho no trapézio direito e nos músculos cervicais poste-
de cabeça que ocorrem freqüentemente, por exemplo, vá- riores, dores de cabeça na área frontoparietal esquerda,
estendendo-se sobre o olho esquerdo, e dor no ombro
rias vezes por semana e com duração de um ou vários dias,
superior e no pescoço posterior à direita, o padrão refe-
muitas vezes têm componentes miofasciais significativos. rido do trapézio. Relatava que seu marido sempre diri-
Dores de cabeça que ocorrem uma vez ao mês ou menos e gia durante viagens e, por isso, durante as 5 a 7 horas
duram por um ou dois dias têm mais probabilidade de ser de viagem, ela sempre virava para a sua esquerda a fim
uma enxaqueca típica. História de trauma, em particular do de observar as crianças no assento de trás. Nosso conse-
tipo chicote, aumenta a probabilidade de ser uma dor de lho foi que ela pedisse ao marido para deixá-la dividir o
cabeça de origem miofascial. Depressão e estresse psicoló- carro e parasse mais freqüentemente, permitindo-lhe
gico podem provocar bruxismo e apertamento, ativando os mover-se e alongar-se.
músculos temporomandibulares ou agravando os pontos-
28 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

bios de respiração (respiração pela boca e respiração torácica)


promovem pontos-gatilho na cabeça e no pescoço. Traumas do APRESENTAÇÃO DOS SINTOMAS RELACIONADOS
tipo chicote podem desencadear dor crônica (40). Praticamen- AO ENVOLVIMENTO MIOFASCIAL ESPECÍFICO
te 100% dos pacientes crônicos com trauma em chicote em uma
comunidade clínica têm pontos-gatilho miofasciais relevantes à
Padrões referidos dos pontos-gatilho
sua dor (Gerwin, dados não-publicados, 2001). Estresses familia-
res ou relacionados ao trabalho podem agravar os pontos-gati- e dor de cabeça
lho na cabeça, no pescoço e nos ombros.
Cada músculo individual da cabeça, do pescoço e do ombro que
desenvolve pontos-gatilho contribuintes para a dor de cabeça
Diagnóstico diferencial tem um padrão referido que é característico, e isso ajuda na
identificação do músculo que está produzindo a dor. Na avalia-
Dores de cabeça que demandam atenção imediata podem não ção clínica da dor de cabeça, cada músculo da região é sistema-
ser de origem miofascial, mas podem ter pontos-gatilho miofas- ticamente avaliado quanto a pontos-gatilho.
ciais secundários associados. Um princípio importante é que
qualquer dor de cabeça que seja nitidamente diferente das do-
res de cabeça anteriores deve ser examinada e completamente Padrões referidos dos pontos-gatilho musculares
avaliada, incluindo imagens do cérebro. Dores de cabeça de iní-
cio súbito (em oposição a uma exacerbação de dor de cabeça Um resumo dos padrões da dor de cabeça associado com os
recorrente) também demandam avaliação. Uma dor de cabeça padrões referidos dos músculos da cabeça e do pescoço é apre-
nova com duração de horas ou dias que seja grave, e que possa sentado nas Figuras 1.1 e 1.2. O ponto-gatilho ou a zona devem
estar associada com náusea e vômito, deve ser avaliada quanto ser estimulados (firmemente, com uma pressão longitudinal ou
a rigidez nucal, porque hemorragia subaracnóidea e meningite em forma de pinça) durante 5 a 10 segundos para reproduzir o
são diagnósticos em potencial. Uma dor de cabeça progressiva padrão de dor referida.
e grave com duração de semanas ou mesmo de alguns meses Os pontos-gatilho do músculo trapézio superior em geral
requer uma avaliação neurológica e de imagem detalhada, por- referem dor atrás do pescoço, na base do couro cabeludo, na têm-
que uma lesão intracraniana em massa pode estar presente. Po- pora e na mandíbula. As bandas tensas nos pontos-gatilho res-
dem coexistir pontos-gatilho miofasciais no pescoço ou nos om- tringem o completo alongamento, resultando potencialmente em
bros, mas eles não devem levar o examinador a não pensar em rotação limitada para o lado da dor, flexão lateral e flexão do
lesão intracraniana. Qualquer déficit neurológico focal ou quei- pescoço limitadas. O músculo trapézio é um dos que mais
xa de distúrbio visual deve ser avaliado com um exame neuro- comumente desenvolvem pontos-gatilho, e as bandas tensas são
lógico. Simples confrontações no campo visual podem indicar discernidas com facilidade. Dor referida para o pescoço superior
hemianopsia. Avaliação fundoscópica pode descartar papile- e temporal a partir desses pontos-gatilho é vista com freqüência.
dema. Hipertensão intracraniana benigna pode ser crônica, mas Pontos-gatilho no músculo trapézio superior são causas comuns
normalmente é progressiva. Quando um paciente com hiper- de dor de cabeça unilateral persistente e, algumas vezes, bilate-
tensão intracraniana benigna se queixa de distúrbio visual, uma ral. Os pontos-gatilho são muito encontrados na porção média do
avaliação torna-se urgente para preservar a visão. A dor de ca- músculo trapézio superior, mas podem estar particularmente ati-
beça na sexta década de vida e mais tarde é de particular impor- vos no ângulo do pescoço e dos ombros, onde os músculos do
tância devido à arterite temporal. Esta é um risco distinto de trapézio se curvam superiormente para o pescoço. Esses múscu-
cegueira unilateral. É caracterizada por dor de cabeça unilate- los sempre devem ser avaliados em pessoas com dores de cabeça
ral e normalmente por sensibilidade da artéria temporal. A taxa recorrentes. Quando pontos-gatilho são encontrados, os indiví-
de sedimentação é muito elevada em 90% dos casos, estando duos devem ser questionados sobre suas atividades, estresses ou
perto ou acima de 100 mm/hora. É uma doença sistêmica, com posturas que resultem em uma sobrecarga no trapézio.
freqüência associada com febre e perda de peso. O levantador da escápula não costuma estar associado com
Dor musculoesquelética no pescoço, causando síndromes dor de cabeça. No entanto, a inserção cervical do músculo é no
de dor referida, em geral melhora com recumbência; no entan- processo transverso da quarta vértebra cervical. Quando pon-
to, dor de osteomielite ou metástases de neoplasia associada tos-gatilho no levantador causam um encurtamento, o músculo
não costumam melhorar com repouso. Neoplasias cerebrais tam- pode empurrar a vértebra cervical ipsilateral lateralmente. Por
bém pioram quando o paciente abaixa a cabeça. exemplo, se o músculo levantador da escápula esquerdo estiver
Geralmente, se a dor de cabeça é suspeita em sua apresen- encurtado por um ponto-gatilho, devido à forma da massa late-
tação ou não responde como o esperado em um período curto de ral de C1 em relação ao occipício, a vértebra lateral será inclina-
3 a 4 semanas, uma avaliação de suas causas, além da musculoes- da para a direita. Então, a disfunção dos músculos levantadores
quelética, deve ser realizada se ainda não tiver sido feita. Um da escápula pode sobrecarregar ou criar uma disfunção somática
neurologista deve ser consultado em caso de dúvida. das articulações zigoapofisárias, causando sensibilidade e dor
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 29

Pg 1

A
Divisão esternal B Divisão clavicular C

Localização 3
Localização 1
(superficial)
Localização 2

D Semi-espinal da
E Semi-espinal da
cabeça (superior) cabeça (médio)

Esplênio
da cabeça

Esplênio
do Esplênio
pescoço do pescoço
Pg Pg inferior
superior

FIGURA 1.1 Padrões de dor de cabeça referida a partir de músculos cervicais.


O “x” mostra a localização do ponto-gatilho (Pg) em cada músculo, e as
zonas vermelhas indicam os padrões comuns de dor referida. A. A porção G
mais superficial, esternal, do músculo esternocleidomastóideo (ECM). B. A
porção clavicular do ECM. C. A porção superior do músculo trapézio. D.
Padrão de dor referida a partir de pontos-gatilho na parte superior do semi-
espinal da cabeça. E. O padrão de referência de pontos-gatilho na porção
média do semi-espinal da cabeça e do semi-espinal do pescoço. F. Esplênio
da cabeça. G. Esplênio do pescoço. H. O padrão de dor referida a partir de
pontos-gatilho nos músculos suboccipitais.
Reimpressa, com permissão, de Simons DG, Travell JG, Simons LS. Travell & Simons’ Myofascial
Pain and Disfunction: The Trigger Point Manual. Vol. 1: Upper Half of Body. 2nd Ed. Baltimore:
Lippincott Williams & Wilkins, 1999, Figuras 7.1A e B (p. 310), 6.1 (p. 279), 16.1B e C (p.
447), 15.1A e B (p. 433), 17.1 (p. 473). H
30 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

A B C PgC1

D PgC2 E PgC3 F PgC4

G H I
Posterior

FIGURA 1.2 Padrão de dor de cabeça referida a partir dos músculos faciais. O “x” mostra as localizações dos pontos-gatilho. A zona vermelha indica os
padrões de dor referida. A e B. Padrões de dor referida a partir dos pontos-gatilho localizados na origem e inserção do músculo masseter superficial. C, D, E
e F. Padrões de dor referida a partir de pontos-gatilho em diferentes partes do músculo temporal. G e H. Padrões de dor referida a partir de pontos-gatilho no
ventre posterior do músculo digástrico. I. Padrão de dor referida a partir de um ponto-gatilho no músculo zigomático maior.
Reimpressa, com permissão, de Simons DG, Travell JG, Simons LS. Travell & Simons’ Myofascial Pain and Disfunction: The Trigger Point Manual. Vol. 1: Upper Half of Body. 2nd Ed.
Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 1999, Figuras 8.1A e C (p. 331), 9.1A-D (p. 351), 12.1A e B (p. 398), 13.1B (p. 417).
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 31
nas articulações e potencialmente provocando dor referida das Sua participação nas dores de cabeça nessas localizações a mai-
articulações até a cabeça, experienciada como dor de cabeça ou oria das vezes não é notada, deixando a impressão errônea de
dor típica de dor referida das síndromes das facetas articulares. que a dor ou a dor de cabeça se origina no seio frontal.
Os pontos-gatilho do músculo esternocleidomastóideo Pontos-gatilho do músculo esplênio da cabeça referem dor
(ECM) referem dor para o occipício, o vértice, a área retroauri- para o vértice, e os do músculo esplênio do pescoço referem dor
cular, a testa e a bochecha. Esse músculo também está quase sem- para o lado da cabeça em uma banda e atrás do olho. Pontos-
pre envolvido em pontos-gatilho sintomáticos em pessoas com gatilho do esplênio do pescoço também referem dor para o ân-
dores de cabeça recorrentes. Bandas tensas são comuns e fre- gulo do pescoço e do ombro e para o pescoço póstero-lateral.
qüentemente sensíveis. Elas podem ocorrer em uma ou em ambas Quando ocorrem pontos-gatilho bilateralmente nesses múscu-
as cabeças do músculo, a esternal ou a clavicular. O ponto-gatilho los, eles produzem uma dor de cabeça em uma banda tensa na
da cabeça ventral esternal refere para a testa, enquanto os pon- cabeça ou uma sensação do tipo espremer. Unilateralmente, eles
tos-gatilho da cabeça clavicular referem para atrás da orelha e podem ser confundidos com a dor de cabeça unilateral do tipo
para a orelha. A resposta inicial de muitos dos indivíduos que enxaqueca. Dores de cabeça precipitadas por pontos-gatilho
sofrem de dor de cabeça à palpação dos pontos-gatilho é relatar nesses músculos são muitas vezes precedidas ou acompanha-
que, apesar de o músculo ser sensível quando palpado firmemen- das por dor ou rigidez do pescoço.
te, não refere para nenhum local da dor de cabeça e não reproduz Pontos-gatilho nos semi-espinais cervicais referem dor para
sua dor de cabeça. Manter a pressão no músculo por aproxima- o occipício. Pontos-gatilho no semi-espinal da cabeça referem
damente 10 segundos permite o desenvolvimento do padrão re- dor em uma distribuição do tipo banda do lado da cabeça para
ferido. A relevância dos pontos-gatilho nesses músculos para a a têmpora e a testa. Juntos, os pontos-gatilho nesses dois mús-
dor de cabeça freqüente pode ser bem apreciada. Disfunção culos contribuem para dor de cabeça circunferencial, que é uma
rotacional persistente do pescoço causará encurtamento crônico característica da TTH. No entanto, esses dois músculos podem
de um dos ECM e o desenvolvimento de uma síndrome miofascial desenvolver pontos-gatilho unilateralmente, podendo ser a dor
do ECM. Além disso, se existe uma disfunção em C2-C3 causando de cabeça unilateral e do tipo enxaqueca. Como pontos-gatilho
irritação mecânica na cabeça clavicular do ECM, será difícil, se ativados unilateralmente muitas vezes se movem de um lado ao
não impossível, resolver a síndrome da dor de um ponto-gatilho outro, a dor de cabeça pode trocar de lado, mimetizando uma
no ECM sem primeiro corrigir essa disfunção. enxaqueca comum ou uma enxaqueca sem aura, a qual tam-
Os pontos-gatilho do músculo masseter referem dor sobre bém afeta um dos lados da cabeça de cada vez. Esses dois mús-
o olho ipsilateral, bem como na orelha, na mandíbula e nos culos estão em risco de desenvolver pontos-gatilho ativos quan-
dentes (ver Figuras 1.1 e 1.2). do o pescoço é estendido por longos períodos ou quando é incli-
Os pontos-gatilho do músculo temporal referem dor local nado ou permanece em um ângulo. Os músculos que fazem a
para a área têmporo-parietal. Pontos-gatilho no masseter e nos extensão do pescoço, os quais incluem os semi-espinais da ca-
músculos temporais são importantes porque estes são músculos beça e cervicais, os esplênios, os trapézios e o levantador da
posturais que ajudam no controle da posição mandibular. A ca- escápula, agem para estabilizar o pescoço em flexão. Isto é, eles
beça sempre se move durante a mastigação e a fala, conectando agem para estabilizar a flexão e prevenir a queda da cabeça
com cuidado o movimento e a posição da mandíbula e os mús- para a frente quando o pescoço é flexionado anteriormente, como
culos da mastigação. Pontos-gatilho nos músculos do pescoço durante a escrita ou a leitura em uma mesa ou o trabalho no
podem ser difíceis de eliminar quando pontos-gatilho nos mús- computador. Leitura prolongada com o pescoço flexionado ou o
culos masseter e temporal (e nos músculos pterigóideos, os quais trabalho no computador ou em uma mesa pode ativar pontos-
também contribuem para controlar a posição da mandíbula) gatilho nesses músculos quando eles estão contraídos durante
não são tratados efetivamente. A articulação da mandíbula, por períodos prolongados para manter a posição estática da cabeça
si só, em geral é normal, exceto quando tem um deslocamento para a frente.
anterior do menisco ou do disco articular como resultado do Pontos-gatilho no músculo suboccipital referem dor em
encurtamento do músculo pterigóideo. Dentistas especialistas uma distribuição do tipo banda do lado da cabeça nas regiões
não-familiarizados com o papel desses pontos-gatilho muscula- occipital, temporal e frontal. Esses pontos-gatilho com freqüên-
res na manutenção da dor de cabeça podem relatar que não há cia são parcial ou totalmente responsáveis pelos sintomas da
desarranjo interno da ATM (o que é correto) e, então, que não TTH ou das dores de cabeça cervicogênicas. O músculo occipital,
há necessidade de tratar e aliviar os pontos-gatilho desses mús- que é palpável quando está encurtado ou contraído por bandas
culos (o que é incorreto). Além disso, a posição da cabeça irá tensas, é o oblíquo inferior da cabeça. É identificado localizan-
alterar as relações da articulação da mandíbula. Uma postura do-se o primeiro processo transverso, bem abaixo do processo
de ombros e cabeça protrusos deslocará a mandíbula posterior- mastóide e do processo posterior de C2. O oblíquo inferior da
mente, colocando pressão em estruturas articulares que via de cabeça estende-se entre esses dois pontos de inserção. O mús-
regra não suportam tal pressão. Pontos-gatilho reativos formar- culo pode estar sensível, uma banda tensa pode ser sentida, e a
se-ão no masseter, trapézio e pterigóideo. A mandíbula deve ser rotação da cabeça para o lado oposto pode ser restrita quando
trazida para a frente e para baixo a fim de aliviar os pontos- há pontos-gatilho sintomáticos. Os outros músculos suboccipitais
gatilho. Isso costuma ser feito por meio de uma placa oral usada estendem-se debaixo do trapézio, do semi-espinal da cabeça e
sobre os dentes superiores ou inferiores. do esplênio da cabeça, e são difíceis de palpar. Eles são identi-
Pontos-gatilho do músculo zigomático referem dor para a ficados com mais facilidade como fonte da dor de cabeça quan-
região do epicanto medial e para a testa, em cima dos olhos. do restringem a flexão anterior da cabeça ou o movimento de
32 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

toque do mento no tórax, pois estão mais direcionados vertical- o oblíquo inferior da cabeça. O nervo occipital menor caminha
mente do que o oblíquo inferior da cabeça. Sensibilidade local e mais lateralmente, vindo da borda do esternocleidomastóideo
movimento restrito são sinais de seu envolvimento no exame antes de irrigar o couro cabeludo póstero-lateral atrás da orelha.
físico. Pontos-gatilho nesses músculos estão freqüentemente Não está exposto à compressão pelos músculos trapézio e semi-
associados à limitação de movimento da coluna cervical supe- espinais. Se estiver sintomático, é mais provavelmente o resulta-
rior causada por disfunção da articulação atlantoccipital, da arti- do de osteoartrite em C2-C3. Dor a partir da compressão do ner-
culação atlantoaxial ou da articulação de C2-C3. O diagnóstico é vo occipital maior é sentida no occipício e pode ser aguda. Paci-
feito pela avaliação do paciente na posição supina com o pesco- entes relatam que não conseguem deitar a parte de trás da cabe-
ço flexionado e relaxado nas mãos do examinador. Restrição ça no travesseiro. Nos dias em que usar chapéu era comum, paci-
durante a rotação da cabeça sinaliza disfunção nessas articula- entes relatariam que não poderiam usá-lo. Os maiores sintomas
ções. Elas são também mobilizadas nessa posição, usando-se são dor e sensibilidade extrema ao toque e intolerância à pressão.
técnicas isométricas de contração e relaxamento. Sintomas sensoriais são surpreendentemente incomuns. O trata-
Pontos-gatilho nos músculos da mastigação (músculos mento dos pontos-gatilho locais pode liberar o nervo quando pas-
masseter, pterigóideos e temporais) e nos músculos relaciona- sa através dos músculos trapézio e semi-espinal da cabeça e aliviar
dos das regiões posterior e anterior do pescoço e dos ombros a dor e a sensibilidade. A inativação dos pontos-gatilho pode ser
(que estabilizam a cabeça e o pescoço contra a gravidade e du- alcançada pela identificação e injeção dos pontos-gatilho com
rante a fala e a mastigação) resultam em dor intensa localizada anestésicos locais ou por técnicas manuais. O tratamento deve
na região da ATM e do lado da cabeça. A dor resultante na cabe- ser feito semanalmente durante 3 ou 4 semanas para manter a
ça pode ser aguda e entendida como uma dor de cabeça do tipo melhora nos casos crônicos.
enxaqueca aguda. O ponto focal da dor tende a ser mais locali-
zado para o lado da cabeça, em frente à orelha e em cima da
têmpora. A dor de cabeça pode ou não ocorrer. Ela pode ser Princípios do exame físico
persistente e difusa ou em pontada. Dor aumentada causada
por mastigação ou pela fala é uma dica do envolvimento dos O exame neurológico deve ser normal tanto para a enxaqueca
músculos mastigatórios. Eliminação da dor e da dor de cabeça quanto para a TTH.
pode ser alcançada pela inativação manual dos pontos-gatilho
ou por injeções nos pontos-gatilho, mas sua estabilização e a
prevenção da recorrência requerem o tratamento das causas da Avaliação muscular
disfunção aguda da ATM, das disfunções posturais mais notá-
veis e das disfunções temporomandibulares. A amplitude de movimento cervical e dos ombros é sempre rea-
Finalmente, pontos-gatilho nos músculos da cabeça, do pes- lizada antes da palpação muscular, pois fornece dicas quanto à
coço e dos ombros podem agir como fonte de estímulos noci- presença de pontos-gatilho nos músculos dos ombros ou do pes-
ceptivos periféricos que podem ativar o sistema trigeminovascular coço. Restrição de movimento do pescoço é mais de causa mus-
para iniciar os eventos, levando a inflamação neurogênica e edema cular do que articular, na ausência de fusão cervical. Movimen-
estéril (p. ex., liberação de substância P das terminações nervosas tos do pescoço e da mandíbula são complexos, e cada movi-
perivasculares trigeminais), que estão associados com dores de mento é o resultado da contração e do alongamento de vários
cabeça do tipo enxaqueca clássica, teoricamente ocasionando o músculos ao mesmo tempo. A liberação dos pontos-gatilho mus-
desenvolvimento da dor de cabeça do tipo enxaqueca com ou culares quase sempre aumenta a amplitude de movimento. É
sem aura e a TTH crônica diária, que é primariamente uma dor por essa razão que a avaliação da amplitude de movimento
de cabeça muscular causada por dor referida de pontos-gatilho cervical tem tal utilidade. A rotação do pescoço é testada como
miofasciais nos músculos da cabeça, do pescoço e dos ombros. um movimento guiado, não-forçado, antes da palpação muscu-
lar. É útil como um guia para determinar quais músculos podem
estar comprometidos e para avaliar com adequação, durante
Apresionamento miofascial do nervo occipital exame clínico, o ponto-gatilho muscular.

O aprisionamento do nervo occipital maior pelo semi-espinal da


cabeça e pela porção cervical do músculo trapézio pode ocorrer Amplitude de movimento e mobilidade articular
quando pontos-gatilho causam uma compressão do nervo no
momento de sua passagem através desses músculos. O nervo Os músculos que estão encurtados como resultado de contra-
occipital maior origina-se do segundo nervo cervical e fornece o ção, assim como bandas tensas associadas com pontos-gatilho,
impulso sensorial do occipício ipsilateral ao vértice, aí sobrepon- são incapazes de alongar-se completamente. Isso é visto de for-
do-se às fibras do nervo trigeminal. O nervo realiza a inervação ma acentuada nos músculos do pescoço, cujos pontos-gatilho
motora para o músculo semi-espinal antes de penetrar no múscu- referem dor para a cabeça e causam dor de cabeça, e nos mús-
lo trapézio. A compressão do nervo occipital maior ocorre mais culos que controlam os movimentos da mandíbula.
freqüentemente ao penetrar no músculo trapézio; com menos Três direções de movimento são avaliadas no pescoço: ro-
freqüência, mas ainda comumente, ao penetrar no músculo semi- tação lateral, flexão lateral e flexão/extensão. Rotação lateral
espinal da cabeça; e de forma menos freqüente quando atravessa ativa requer contração simultânea de muitos pares de músculos
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 33
agonistas/antagonistas. Os músculos principais são o ECM e o tensas dos músculos, que são sensíveis, são paralelas ao eixo
esplênio da cabeça. Outros também importantes são os esplênios longo do músculo, e freqüentemente se tem a sensação de um
cervicais, o oblíquo inferior da cabeça e o músculo trapézio su- cordão no ventre muscular. A palpação é sempre realizada no
perior. O músculo ECM é o único desse grupo no qual a contra- sentido perpendicular à direção do eixo das fibras musculares,
ção do músculo contralateral é o rotador principal, em vez do para sentir as bandas tensas do músculo associadas com o pon-
músculo ipsilateral, embora isso também seja uma verdade para to-gatilho. As bandas tensas são sentidas com facilidade no
o músculo trapézio superior. Restrição da rotação lateral deve esternocleidomastóideo, e a divisão esternal que se estende aci-
levar o examinador a considerar quais músculos não são capa- ma pode ser separada da divisão clavicular subjacente, que tem
zes de se alongar por completo. A mesma informação pode ser uma distribuição diferente de dor referida. Elas podem ser sen-
obtida na avaliação da amplitude de movimento passivo. O tes- tidas como cordões tensos na base do processo mastóide, no
te de amplitude de movimento ativo fornece mais informações esplênio da cabeça. A palpação é realizada para cada músculo,
quanto à habilidade do músculo de contrair-se ativamente ou à na cabeça, no pescoço e no ombro, que possa estar relacionado
limitação da habilidade contrátil pelos pontos-gatilho ativos. No primária ou secundariamente com a dor de cabeça. Músculos
caso de rotação restrita da cabeça para a direita, o examinador na unidade funcional podem contribuir de uma forma impor-
deve pensar em encurtamento do músculo esternocleidomas- tante para a manutenção da disfunção e dos pontos-gatilho no
tóideo direito, esplênio esquerdo, oblíquo inferior da cabeça músculo afetado que é o responsável final pela dor de cabeça.
esquerdo e trapézio superior direito. A flexão lateral do pescoço Músculos que podem contribuir para qualquer movimento res-
testa principalmente os músculos escalenos medial e anterior e trito devem ser avaliados com cuidado quanto à presença de
o trapézio superior, mas também o músculo ECM. O esplênio da pontos-gatilho. Para avaliar o papel que um ponto-gatilho mus-
cabeça não está ativo na flexão lateral e não tem um papel na cular em particular desempenha no desenvolvimento dos sinto-
restrição desse movimento. Restrições musculares estão todas mas da dor de cabeça, ele deve ser comprimido firmemente
do lado contralateral à direção da flexão. Movimentos de flexão/ durante um período de 10 a 15 segundos, como já discutido,
extensão testam a capacidade de alongamento dos músculos para elucidar dor referida. Um período menor de palpação pode
anteriores e posteriores do pescoço: os músculos ECM e escaleno não ativar o padrão de dor referida e perder o papel que um
anterior, que se alongam durante a extensão do pescoço; o ponto-gatilho específico desenvolve naquela dor de cabeça.
trapézio superior, o levantador da escápula, o esplênio e os semi-
espinais da cabeça, bem como os músculos suboccipitais dire-
cionados verticalmente, que se alongam na flexão do pescoço e Avaliação de fatores perpetuantes
da cabeça. Um outro movimento complexo é a inclinação da
cabeça, que avalia restrições dos escalenos e esternocleidomas-
Fatores perpetuantes que interferem na resolução da dor de ca-
tóideos. Os escalenos inclinam a cabeça obliquamente para a
beça miogênica incluem fatores mecânicos e médicos em geral.
frente e devem alongar-se em movimentos oblíquos para trás.
Os mecânicos são os mesmos vistos em outras síndromes de dor
Os músculos ECM não apenas rodam a cabeça para o lado con-
miofascial crônica, a saber, escoliose de qualquer causa e estresses
tralateral, mas também a inclinam para cima.
ergonômicos e posturais que resultem em encurtamento estático
Os músculos relacionados da ATM são testados pela avalia-
prolongado ou sobrecarga do músculo. Eles devem ser identifica-
ção da abertura interincisal da boca, dos movimentos laterais
dos e corrigidos. Por exemplo, a escoliose freqüentemente pro-
ou para o lado e da protrusão da mandíbula. A abertura da boca
duz uma elevação de um ombro, requerendo que os músculos do
alonga os músculos masseteres e temporais; movimento lateral
pescoço do lado ipsilateral ao ombro alto permaneçam em con-
e protrusão (anterior e lateral) avaliam os músculos pterigóideos.
tração estática para trazer a cabeça de volta à linha média. As
várias causas da escoliose devem ser consideradas e corrigidas
Palpação muscular quando possível: diferença do comprimento das pernas, que re-
quer um levantamento do calcanhar; ponto-gatilho miofascial
A palpação continua a ser a técnica de avaliação mais acessível encurtando o psoas ou o quadrado do lombo, o que é corrigido
para uso clínico em geral. A identificação eletromiográfica das pelo alongamento e aumento do comprimento dos músculos; e
características da atividade elétrica espontânea do ponto-gatilho torção pélvica ou rotação de um ílio em relação ao outro. A corre-
(20) permanece uma ferramenta de pesquisa nos dias de hoje, ção é tirar a rotação da hemipelve por ajuste manual. Ombros
apesar de estar sendo estudada para o uso como uma ferramenta protrusos podem estressar os músculos trapézios. Uma postura
para guiar as injeções terapêuticas dos pontos-gatilho. Algometria com a cabeça em protrusão, em geral associada com ombros em
(41) é uma ferramenta confirmatória que pode ajudar a docu- protrusão, produz muitos estresses mecânicos. O efeito de tal pos-
mentar, mas não acha o ponto-gatilho inicialmente. O exame físi- tura sobre a mandíbula tem sido discutido em associação com o
co dos pontos-gatilho por um examinador experiente é de alta músculo masseter. A postura com a cabeça protrusa também re-
confiabilidade para sua identificação (42). Além disso, é possível sulta na mudança de direção do ECM de um ângulo diagonal,
identificar o ponto-gatilho miofascial responsável simplesmente quando o músculo se move do esterno e da clavícula anterior e
por meio da palpação, com instruções e com prática (43). inferiormente para o processo mastóide posterior e superiormen-
A palpação muscular identifica os pontos-gatilho que re- te, para uma posição mais vertical quando o processo mastóide se
produzem dor, causam limitação do movimento e, mais impor- move anteriormente com a cabeça. O desvio da cabeça resulta
tante, referem dor para as áreas de dor de cabeça. As bandas em um encurtamento crônico do músculo ECM, promovendo pon-
34 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

tos-gatilho no músculo que podem produzir sintomas de dor de então restaurar o comprimento completo do músculo. Quan-
cabeça. Fatores posturais e estresses biomecânicos, como diferen- do são usados frio intermitente e alongamento, as duas téc-
ça de comprimento das pernas e rotação pélvica, que resultam nicas são combinadas: o frio é usado para reduzir a dor
secundariamente em estresse dos músculos da região dos om- enquanto o músculo é alongado. Em outra abordagem ma-
bros, são identificados por meio de avaliação física. Estresses nual, a dor é primeiro reduzida por compressão direta do
mecânicos relacionados ao trabalho, como síndromes de esforço ponto-gatilho, seguida por vários procedimentos de alon-
repetitivo ou trauma cumulativo relacionado ao trabalho, são iden- gamento destacados nas seções a seguir.
tificados pelo exame físico e pela anamnese. 3. Uma ação corretiva é necessária para minimizar a recorrên-
cia do ponto-gatilho e da dor de cabeça. Isso pode ser feito
de várias formas e pode levar várias semanas. Disfunção
Princípios de tratamento postural que contribua para a formação do ponto-gatilho
deve ser identificada. Um ombro protruso, uma postura
O tratamento é direcionado para a eliminação da causa especí- cifótica, associada com encurtamento dos músculos peito-
fica da dor de cabeça, a identificação dos fatores que têm leva- rais, promovem a formação de pontos-gatilho nos múscu-
do à dor de cabeça e sua correção e a identificação e correção los extensores do pescoço, que devem levantar a cabeça, e
dos fatores que a perpetuam. Esses fatores, identificados por nos músculos trapézios. Uma ação corretiva, nesse caso,
meio da história e do exame físico, determinam o tipo de pro- requer o alongamento dos músculos peitorais e a restau-
grama de tratamento que é desenvolvido para cada paciente. ração de uma postura mais normal da cabeça. A ergonomia
no uso do computador ou do telefone necessita ser avalia-
da porque a rotação estática ou a flexão lateral da cabeça
Tratamento do músculo agem como estressantes físicos dos músculos que podem
causar dor de cabeça. Respiradores torácicos ativam os
1. A inativação do ponto-gatilho manualmente ou pela com- músculos ECM em cada respiração. O ensino da respira-
binação de injeção do ponto-gatilho com um anestésico ção abdominal é a correção, mas pode-se levar até quatro
local ou estimulação intramuscular com uma agulha sóli- meses para desenvolver a rotina da respiração com pa-
da do tipo agulha de acupuntura, seguida de tratamento drão abdominal.
manual, é a prova final de que um ponto-gatilho é o fator
crítico da gênese da dor de cabeça. É também o primeiro Assistência odontológica pode ser necessária para tratar
passo no tratamento. Sua compressão por 30 a 60 segun- as dores de cabeça que incluem uma disfunção relacionada dos
dos alterará a dor de cabeça se o ponto-gatilho for o res- músculos temporomandibulares. Ausência de suporte mecâni-
ponsável por parte dela. Essa compressão no início au- co adequado na boca pode levar ao reposicionamento da man-
mentará a dor, indicando ao paciente e ao clínico que o díbula, à alteração da postura do pescoço e à persistência da
“ponto” relevante foi achado. A dor persiste por cerca de dor do ponto-gatilho. Os músculos masseter, temporal e pteri-
20 a 30 segundos, seguida de relaxamento palpável do góideo são vulneráveis a essas circunstâncias. A postura da ca-
músculo em aproximadamente 1 minuto. Isso costuma ser beça é responsável tanto pelas mudanças nos músculos do pes-
evidente para ambos, paciente e clínico. Muitos músculos coço quanto pela posição da mandíbula (tente mastigar ou falar
podem precisar ser tratados antes de a dor de cabeça ser sem mover a cabeça). Portanto, pontos-gatilho nos músculos
aliviada e de o padrão miofascial tornar-se completamen- que movem a mandíbula são parte das unidades musculares
te descoberto ao examinador. Não é anormal uma dor de funcionais dos músculos do pescoço que controlam a postura
cabeça frontal ter componentes de dor referida de pontos- da cabeça. É necessário tratar os músculos dos ombros, do pes-
gatilho do esternocleidomastóideo, oblíquo inferior da ca- coço e da face simultaneamente quando os músculos da ATM
beça e esplênio cervical. Pode haver um aumento tempo- estão envolvidos. Um dentista com conhecimento nessa área
rário na dor até todos os pontos-gatilho relevantes serem pode criar uma placa oral que irá suportar a mandíbula e aliviar
tratados. Os músculos tratados são alongados depois que a tensão nos músculos envolvidos. A mandíbula é um órgão
os pontos-gatilho estão inativados, o pescoço é mobiliza- postural. Quando alguém mastiga ou fala, tanto ela quanto a
do até amplitude total de movimento, e uma compressa cabeça se movem. Esses movimentos requerem coordenação dos
quente é aplicada para completar o tratamento. músculos da mastigação e dos músculos do pescoço e dos om-
2. Fisioterapia é realizada para tratar os problemas identifica- bros, que controlam a postura da cabeça e do pescoço. Uma
dos como relevantes para o início e a manutenção da dor de disfunção em uma parte desse sistema coordenado promove
cabeça. Esse aspecto do tratamento é direcionado para a disfunção no resto do sistema. Além disso, uma mandíbula em
inativação repetitiva de pontos-gatilho específicos nos mús- retrusão, na qual a mandíbula é empurrada para trás na articu-
culos que referem dor para a cabeça como dor de cabeça, lação, está associada com uma postura com a cabeça e os om-
até eles não voltarem mais de forma espontânea. A inativação bros protrusos, e ambos mantêm os pontos-gatilho da cabeça e
dos pontos-gatilho é realizada manualmente, de acordo com do pescoço. (Ver Jaeger B, Capítulo 5, em Simons, Travell, Simons
as técnicas destacadas a seguir, e invasivamente com uma [20] para uma discussão mais completa desse assunto.)
agulha seca ou com a injeção do ponto-gatilho. Técnicas A avaliação da amplitude de movimento das articulações
manuais seguem o princípio de primeiro reduzir a dor e nas regiões de interesse identifica a restrição muscular associa-
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 35
da com os pontos-gatilho miofasciais. Agora, é óbvio que os mo-
vimentos que testam a amplitude de movimento são os mesmos
incorporados nas técnicas de alongamento terapêutico e auto-
alongamento.

Tipos de tratamento para a liberação muscular

O paciente deve estar relaxado, e o examinador deve ter acesso


aos músculos a serem tratados.

1. O trapézio superior é tratado pela compressão do ponto-


gatilho pelo clínico, usando uma das mãos, com o pacien-
te na posição supina ou sentado. São necessários cerca de
30 segundos para eliminar a sensibilidade e 1 minuto para
relaxar o músculo. Alongamento local por pressão direta
sobre o músculo, aplicada com uma pressão plana ou em
pinça direcionada sobre o comprimento da banda tensa
em uma distância de aproximadamente 2,5 a 5 centíme- FIGURA 1.3 Alongamento terapêutico do músculo trapézio. O clínico fica
tros, promoverá o relaxamento dos pontos-gatilho. Alon- atrás da cabeça do paciente, que está em supino, e inclina lateralmente o
gamento terapêutico e auto-alongamento do trapézio re- pescoço para o lado oposto ao ser alongado, flexiona o pescoço e final-
querem que o ombro seja fixado de modo que não se eleve mente realiza a rotação da cabeça, assim a face fica olhando para o lado que
está sendo alongado.
durante a inclinação lateral da cabeça. Uma posição prona
ou em decúbito lateral é conveniente para o clínico reali-
zar a maioria das técnicas, exceto o alongamento terapêu-
tico. O paciente deve estar em supino ou sentado para o
alongamento correto do músculo. O alongamento é reali-
zado em três movimentos. O primeiro componente é uma
inclinação lateral para alongar o componente lateral do
músculo (fibras mais anteriores). A segunda posição é para
a frente, mantendo a inclinação lateral, para alongar o com-
ponente extensor do trapézio (fibras mais posteriores). O
movimento final é a rotação da parte de trás da cabeça
para longe do lado que está sendo alongado, mantendo-se
a posição da cabeça para a frente na lateral, porque o
trapézio se insere atrás da cabeça, sobre o ínio (Figura
1.3). A posição da cabeça em uma rotação parcial para o
lado afetado, e então abaixando o lado contralateral, dei-
xando a orelha de frente para o peito, concluirá o alonga-
mento. A rotação do ínio adiciona maior distância entre a
inserção do trapézio superior medialmente no ínio e late-
ralmente no processo acrômio.
2. Os músculos posteriores do pescoço, que realizam sua exten-
são, são alongados pela flexão do pescoço (Figura 1.4). Os
músculos suboccipitais, que estendem o pescoço, são alonga-
dos mantendo o pescoço reto e realizado um toque do queixo.
3. Os músculos rotadores posteriores (músculos esplênio e
oblíquo da cabeça) são alongados pela flexão do pescoço
e leve rotação da cabeça (Figura 1.5). O oblíquo inferior
da cabeça é especificamente alongado fixando-se o pro-
cesso transverso de C2 com o dedo do clínico, enquanto se
realiza a rotação da cabeça de 10 a 15º do lado oposto ao
lado afetado, para aumentar a distância entre a origem e a
inserção do músculo no processo transverso de C1 e no
processo posterior de C2, respectivamente. FIGURA 1.4 Alongamento terapêutico dos extensores cervicais posterio-
4. A porção esternal do músculo esternocleidomastóideo é res do pescoço. O terapeuta fica atrás da cabeça do paciente, que está sen-
alongada com a combinação da extensão do pescoço e rota- tado ou em supino, e flexiona o pescoço anteriormente.
36 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

A B

FIGURA 1.5 Alongamento terapêutico dos músculos rotadores do pescoço e do músculo oblíquo inferior da cabeça. A. Músculos rotadores (esplênio da
cabeça e cervical e oblíquo inferior da cabeça). O terapeuta fica atrás da cabeça do paciente, que está em supino ou sentado. A cabeça é flexionada e rodada
a 30o para o lado oposto ao ser alongado. B. Músculo oblíquo inferior da cabeça. O processo transverso de C2 é fixado com os dedos de uma das mãos,
enquanto a outra mão roda a parte de trás da cabeça para longe do processo posterior de C2 aproximadamente 10 a 15o.

ção para o lado ispsilateral, enquanto se inclina a cabeça nica utiliza um estímulo frio, como um spray vapocolante
para trás (Figura 1.6). A segunda posição do alongamento (o mais comumente utilizado), uma fina ponta de gelo
é a virada completa da cabeça para o lado ipsilateral e uma dentro de um plástico ou a ponta de metade de uma peça
inclinação para baixo, para aumentar a distância entre o arredondada que é mantida no congelador. O estímulo é
esterno e o processo mastóide. A porção clavicular do mús- tanto térmico (frio) quanto tátil. Ambos ativam as fibras
culo esternocleidomastóideo é alongada pela extensão do A-beta que inibem a transmissão da atividade da dor C e
pescoço, inclinação da cabeça para trás e rotação da cabeça A-delta. O estímulo é aplicado a partir da zona do ponto-
para o lado contralateral (Figura 1.7). gatilho até a zona de dor referida, passando em aproxima-
5. Os músculos escalenos são alongados pela combinação da damente 10 cm/s. Passa-se várias vezes de forma linear, e
flexão lateral para o lado oposto (para a porção medial), então o músculo é alongado. Deve-se tomar cuidado para
com rotação e inclinação da cabeça para trás para o lado evitar o resfriamento do músculo.
oposto (Figura 1.7). 2. Beat Dejung (44) desenvolveu um protocolo que é muito
útil no tratamento das síndromes miofasciais. Ele combi-
na várias técnicas que são bem-conhecidas pelos terapeutas.
Técnicas de tratamento São compressões dos pontos-gatilho, com a adição impor-
tante de movimentos excursivos curtos que contraem e
1. Frio intermitente e spray foram usados por Travell (20) relaxam o músculo que está sendo tratado. Alongamentos
extensivamente em seu trabalho com dor miofascial. A téc- manuais com curtas excursões do ponto-gatilho são reali-
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 37
zados movendo os dedos sobre a banda tensa, paralela-
mente à direção das fibras. A separação dos planos fasciais
é realizada colocando os dedos entre os músculos (quan-
do acessível, como entre os músculos trapézio superior e
levantador superior da escápula). Esse movimento tam-
bém fornece alongamento local adicional para o músculo.
Movimentos de excursão ampla do membro ou de uma
parte do corpo são realizados pelo indivíduo durante essa
manobra. Frio intermitente pode ser aplicado, e então re-
alizado o alongamento terapêutico. Ensina-se o paciente a
realizar auto-alongamentos. Injeção do ponto-gatilho ou
estimulação intramuscular (técnica desenvolvida por
Chann Gunn [45]) usando agulhas de acupuntura, ou sim-
plesmente liberando o ponto-gatilho com o agulhamento
seco da zona com uma agulha de acupuntura, pode ser
integrada ao protocolo de tratamento.
3. Karel Lewit desenvolveu uma técnica denominada relaxa-
mento pós-isométrico ou RPI (46). Essa técnica é realmente
uma contração isométrica seguida de relaxamento e alon-
FIGURA 1.6 Alongamento terapêutico do músculo esternocleidomastóideo. gamento. O músculo é alongado da maneira usual. Quan-
O terapeuta senta atrás da cabeça do paciente, que está em supino. A cabe- do uma barreira é alcançada, de modo que se sinta resis-
ça é inclinada para o lado oposto do músculo a ser alongado e estendido. tência para promover o alongamento, o paciente é instru-
Realiza-se uma rotação da face na direção do lado que está sendo alonga- ído a mover a parte do corpo em uma direção que contraia
do. Então o queixo move-se para baixo. o músculo que está sendo tratado. O examinador envolve
a parte do corpo para que nenhum movimento ocorra e
controla o esforço em excesso instruindo o paciente a so-
mente “igualar minha força”. O movimento então se torna
isométrico. Apenas cerca de 10 a 15% do esforço comple-
to é necessário para obter relaxamento durante a fase de
alongamento. O processo é repetido até que o completo
alongamento seja alcançado ou nenhuma barreira seja en-
contrada.

Tratamento da dor de cabeça aguda

Algumas vezes, pacientes aparecem com uma emergência e ne-


cessitam de tratamento agudo para aliviar dor de cabeça inin-
terrupta. O indivíduo pode ser colocado em supino, em uma
maca de tratamento, em uma sala escurecida. Os músculos dos
ombros, do pescoço e da cabeça são palpados. Quando um pon-
to-gatilho sensível é encontrado, em particular se ele reproduz
ou piora parte da dor de cabeça, pode ser tratado manualmente
por compressão e então alongado sutilmente. Injeção do ponto-
gatilho com anestésico local também pode ser usada. Essas téc-
nicas com freqüência podem aliviar a dor de cabeça em 10 a 15
minutos. Um tratamento adicional e opcional é a administração
intramuscular de ketorolac 30 a 60 mg.

Avaliação e tratamento da disfunção articular

FIGURA 1.7 Alongamento terapêutico dos músculos escalenos. O terapeuta Disfunção do movimento da coluna cervical, também referida
senta atrás da cabeça do paciente, que está em supino. A cabeça é inclina- como uma restrição de movimento segmental da coluna cervical,
da para o lado oposto dos músculos que estão sendo alongados para o ou hipomobilidade segmental, causa dor e está associada com
músculo escaleno medial. O pescoço é colocado em extensão, e a face é encurtamento dos músculos cervicais ocasionado por bandas
rodada para o lado que está sendo alongado. tensas de pontos-gatilho. Na literatura osteopata, essas restri-
38 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

ções são referidas como disfunções somáticas. O movimento nos em vez de flexão-extensão. As articulações unciformes (de
segmentos cervicais é limitado por restrições no comprimento Luschka) estendem-se sob o aspecto lateral dos corpos vertebrais
muscular e ligamentar e pelas próprias superfícies articulares. e limitam o deslizamento lateral ou a translação da vértebra
Ele é diferente na articulação atlantoccipital, na articulação cervical durante os movimentos combinados de flexão lateral e
atlantoaxial e nas articulações da terceira e sétima vértebras rotação. Durante a combinação de flexão lateral e rotação, a
cervicais. vértebra superior desliza lateralmente em direção oposta. Hipo-
A articulação atlantoccipital (AO) move-se primariamen- mobilidade segmentar nessa parte da coluna cervical ocorre
te em uma direção de flexão/extensão. A flexão é acompanha- em movimentos combinados de flexão lateral e rotação e em
da por um deslizamento de translação posterior do occipício no translação lateral.
atlas. A extensão é acompanhada por um deslizamento de trans-
lação anterior do occipício no atlas. Isso significa que o occipício
desliza posteriormente no atlas na inclinação anterior do pesco- Avaliação das disfunções segmentais
ço, e anteriormente quando o pescoço se estende. Rotação e
flexão lateral na articulação AO sempre ocorrem em direções Articulação atlantoccipital. O paciente está sentado. Coloque os
opostas. Rotação do occipício para a esquerda no atlas (face dedos nos sulcos de ambos os lados da base do crânio. Deslize
virando para a direita) resulta em flexão lateral para a direita os dedos a partir do ínio lateral e inferiormente até eles repou-
quando o occipício translada ou desliza para a esquerda. Uma sarem no sulco póstero-lateral, entre o occipício e o atlas. Quando
disfunção associada ocorre quando o atlas também realiza a o paciente flexiona o pescoço a 30º apenas na junção atlantocci-
translação ou desliza para a esquerda e se torna fixo, em vez de pital (não em toda a coluna cervical), sinta a profundidade do
mover-se livremente e ser capaz de centralizar novamente. Nes- sulco. Um aumento da profundidade do sulco de um lado com-
sa situação, pontos-gatilho miofasciais podem se desenvolver parado com o outro pode indicar uma disfunção em direção ao
ou ser perpetuados pela disfunção persistente do atlas. Isso pode lado raso. Quando o pescoço é estendido, avalie a profundida-
resultar em dor de cabeça ipsilateral intensa, em geral envol- de do sulco de cada lado. Como descrito, uma profundidade
vendo a área occipital. aumentada do sulco de um lado indica uma disfunção em flexão
O movimento da articulação atlantoaxial (AA) é primari- lateral em direção ao lado raso.
amente rotacional. O processo odontóide do áxis limita a flexão Articulação atlantoaxial. O paciente deita em supino, e o
e a extensão dessa articulação. Suas superfícies articulares tam- clínico fica sentado atrás da sua cabeça, com as mãos colocadas
bém são limitantes. Com isso, a flexão lateral não ocorre nessa de forma que os dedos repousem nas pontas do processo
articulação. Com a rotação do atlas (C1) no áxis (C2), ocorre o mastóide. A ponta do processo transverso da primeira vértebra
deslizamento de uma faceta articular para cima e o deslizamento cervical (atlas) fica disposta caudalmente ao processo mastóide.
da faceta articular oposta para baixo. Esse movimento causa Os dedos são movidos dorsalmente para palpar o sulco nas
uma leve oscilação da cabeça. O movimento das duas articula- facetas articulares, e ventralmente para palpar a ponta do pro-
ções juntas, AO mais AA, resulta em uma grande amplitude de cesso transverso. Assimetrias são observadas, em particular proe-
extensão-flexão e rotação. Disfunção segmental na articulação minências ósseas de um lado e uma depressão do outro lado,
AA ocorre em rotação. A compensação para uma disfunção bem como um deslocamento posterior relativo de um processo
segmental da coluna inferior (caudal) ocorre nessas duas arti- transverso comparado com o outro, indicando restrição do mo-
culações suboccipitais, as articulações AO e AA, para manter o vimento segmentar e disfunção rotacional. Os dedos são manti-
nível dos olhos. O segmento transicional de C2-C3, entre o re- dos no processo transverso enquanto a cabeça é flexionada a
pouso da coluna cervical e as duas articulações suboccipitais, 30º na articulação atlantoccipital e rodada para um lado e en-
sustenta uma grande quantidade de estresse mecânico e é um tão para o outro, até que seja sentido um movimento no proces-
local comum para disfunção segmentar. Quando existe uma so transverso. Uma diminuição na rotação em qualquer lado
disfunção segmentar rotacional nesse nível, os pontos-gatilho representa restrição de movimento; no entanto, a rotação com-
do ECM podem ser perpetuados. pleta para um lado representa movimento não-restrito para aque-
A orientação das facetas articulares na coluna cervical le lado. Enchimento posterior e rotação posterior do processo
de C3 a C7 permite uma grande quantidade de movimento. O transverso estão associados com restrição da rotação da cabeça
plano de todas as facetas articulares é oblíquo, no meio do para o lado oposto.
caminho entre frontal e horizontal. Isso resulta em uma com- Uma síndrome miofascial do ponto-gatilho associada ao
binação de flexão lateral para rotação. Flexão lateral e rotação segmento atlantoaxial é a do músculo oblíquo inferior da cabe-
são sempre para o mesmo lado nessa parte da coluna cervical, ça. O músculo insere-se superior e lateralmente no processo
em contraste às articulações AO e AA. Funcionalmente, a mu- transverso do atlas (C1) e ínfero-medialmente no processo pos-
dança na orientação das facetas articulares com extensão e terior do áxis (C2). Pontos-gatilho nesse músculo encurtam-no
flexão do pescoço facilita diferentes movimentos do pescoço. e restringem a rotação da cabeça para o lado oposto. Uma rigi-
Em extensão, as articulações são mais verticais, facilitando a dez no músculo palpada entre as duas marcas ósseas do proces-
flexão lateral. Em flexão, as articulações estão em um plano so transverso de C1, logo abaixo do processo mastóide e do
mais horizontal, facilitando a rotação. Rotação e flexão lateral processo espinhoso posterior de C2, é um achado diagnóstico
são os movimentos primários dessa porção da coluna cervical, no exame físico. Para tratar essa restrição, a lâmina de C2 deve
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 39
ser fixada com os dedos para prevenir que ela se mova com C1 ta inclina o pescoço para a esquerda). Inclinação lateral é com-
quando a cabeça é rodada cuidadosa e sutilmente na restrição binada com rotação para o lado oposto. Além disso, translação
para aumentar o músculo. A técnica isométrica de contrair e lateral do occipício para a direita inclina lateralmente a cabeça
relaxar com freqüência é útil nesse tratamento. para a esquerda e roda a cabeça para a direita.
Quiropráticos com freqüência chamam essa restrição de A identificação da disfunção de C2-C3, que agrava o mús-
uma fixação na cervical superior. Sua persistência após uma ma- culo ECM e perpetua seus pontos-gatilho, é realizada com o
nipulação cervical é a causa mais comum de dor de cabeça pós- paciente deitado em supino e com o clínico atrás de sua cabeça.
manipulação. A dor de cabeça normalmente pode ser prevenida A palpação é no aspecto anterior do pescoço bilateralmente; as
pela avaliação e abordagem da síndrome miofascial logo após a pontas dos dedos do examinador ficam no ECM, palpando o
manipulação. corpo vertebral através do músculo, comparando assimetria, sen-
Coluna cervical baixa, C2-C7. O paciente deita em supino. sibilidade e movimento acessório articular entre os dois lados.
O clínico senta atrás de sua cabeça e coloca os dedos no proces- A proeminência é observada do lado afetado (sensível), e há
so espinhoso posterior e nos músculos paraespinais. Os dedos menos movimento acessório ou mobilidade anterior/posterior
são então movidos sobre o sulco póstero-lateral, marcando as desse lado.
facetas articulares para o processo transverso lateralmente posi-
cionado, de C2 até C7. Rode a cabeça para avaliar restrições na
rotação, uma mão na cabeça e a outra fixando (estabilizando) o Tratamento de disfunção cervical segmentar
ombro. Avalie a flexão lateral de maneira similar. Limitação da
rotação ou da flexão lateral indica uma restrição na direção da Em geral, o tratamento para disfunção cervical segmentar se-
limitação do movimento. Avalie a simetria dos pilares articula- gue os mesmos princípios em cada nível. O tratamento descri-
res com o paciente em supino. Se um lado é mais posterior, a to aqui utiliza a técnica de mobilização sutil de alongamento do
vértebra pode estar rodada para aquele lado. Flexione a cabeça músculo para restaurar o movimento articular normal. O prin-
enquanto palpa a vértebra. Se a vértebra posterior rodada se cípio geral é mover na direção da restrição usando técnicas de
tornar mais posterior, a restrição é na flexão. Ela permanecerá contrair-relaxar para promover o relaxamento e o alongamento
como está ou melhorará na extensão. No entanto, se a vértebra do músculo, desse modo restaurando a mobilidade normal do
posterior rodada se tornar mais posterior na extensão, melhora- segmento afetado. Por exemplo, para o tratamento de uma res-
rá na flexão (o movimento está restrito em extensão). A no- trição de C3-C4, o paciente deita em supino, e o clínico fica
menclatura quiroprática geralmente utiliza o processo espinho- atrás de sua cabeça na maca. A cabeça do paciente é presa nas
so em lugar do corpo vertebral como ponto de referência para mãos do clínico e rodada na direção da restrição até que uma
designar a direção da rotação, mas os princípios são os mesmos, barreira seja atingida. Ela é segurada naquela barreira, e o paci-
e as designações já estão traduzidas. ente é instruído a rodá-la para o lado oposto. O clínico resiste à
De modo similar, a translação lateral é avaliada nos seg- contração, mantendo a cabeça no lugar e não perdendo a rota-
mentos C2-C7 da coluna cervical, mas não na articulação ção já ganha, criando uma contração isométrica. A contração
atlantoaxial. Apenas a rotação é avaliada nessa articulação, de- necessária deve ser moderada ou sutil (10 a 15% da contração
vido às limitações do ligamento odontóide e às limitações ósse- total). A contração muscular é mantida por 4 a 5 segundos,
as ao movimento. Rotação na articulação AA é avaliada com o então relaxada, e a cabeça é rodada através da barreira até
pescoço flexionado para eliminar a rotação nos segmentos que uma nova barreira ou restrição seja alcançada. O processo
cervicais inferiores. Uma rotação limitada em uma direção é pode ser repetido até que a rotação completa seja alcançada.
uma restrição. Restrições da flexão lateral dos segmentos Facilitação respiratória é obtida segurando a respiração na ins-
cervicais inferiores (C2-C7) são avaliadas deslizando o pilar ar- piração (facilitando a contração muscular) durante a contra-
ticular para um lado, causando uma inclinação lateral para o ção isométrica e alongando o músculo durante a expiração
lado oposto. O paciente está em supino. O clínico senta atrás de (facilitando o relaxamento). Facilitação do movimento dos
sua cabeça. Os dedos ficam no pilar articular das vértebras de olhos é alcançada olhando na direção do movimento ou esfor-
interesse. Os pilares articulares são empurrados para um lado, ço. Quando rodados para a restrição, os olhos olham naquela
causando uma inclinação do pescoço para o lado oposto. Am- direção. Quando os músculos estão contraídos isometricamente
bos os lados são avaliados, e qualquer assimetria é observada. para a rotação da cabeça na direção oposta, os olhos são vira-
O processo é repetido com o pescoço em flexão e em extensão. dos para aquela direção.
Se a translação da vértebra estiver diminuída em flexão ou ex- A articulação atlantoaxial é única, então o oblíquo inferior
tensão, então a restrição estará exagerada naquele movimento, da cabeça tem o potencial de restringir seu movimento e requer
e a inclinação lateral para o lado oposto será limitada. Final- uma técnica especial de liberação. A mobilização articular é faci-
mente, translação lateral na articulação atlantoccipital é avalia- litada pelo alongamento do músculo do segundo processo trans-
da com o paciente em supino, e o clínico atrás de sua cabeça. A verso da vértebra. Isso pode ser feito com o paciente sentado, e o
cabeça levemente inclinada para a frente é inclinada para o lado clínico de pé atrás dele. Se o movimento restrito for a virada da
sobre o pescoço, movendo o occipício para um lado. Esse movi- cabeça para a esquerda, a mão direita do clínico envolve a cabeça
mento de inclinação do occipício para um lado flexiona o pesco- do paciente. Os dedos do clínico são colocados no lado direito do
ço para o lado oposto (o deslizamento do occipício para a direi- segundo processo espinhoso posterior. A mão esquerda do clínico
40 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

segura a testa do paciente, e os dedos repousam na têmpora di- menstrual, e estão além do plano desta discussão. Alergias, tan-
reita. A cabeça é rodada sutilmente com a mão esquerda cerca de to a comidas quanto a outras substâncias, podem causar dor de
10 a 15º, enquanto a lâmina é mantida no lugar. Essa manobra cabeça episódica ou contínua. Uma mulher alérgica a produtos
impede que a segunda vértebra cervical rode com o atlas. Se o derivados do leite tinha dor de cabeça crônica diária com dores
processo transverso da segunda vértebra não estivesse fixo na de cabeça episódicas sobrepostas de sensibilidade aumentada
posição, iria rodar com o atlas, e o músculo não seria alongado. até eliminar todos os produtos laticínios de sua dieta. Depois
disso, sua dor de cabeça crônica diária diminuiu. Dor de cabeça
induzida por analgésico e rebote analgésico de dor de cabeça
Fatores médicos perpetuantes podem se apresentar como dor de cabeça crônica diária e são
identificados pela história do uso de medicamentos. Estresse
Fatores médicos perpetuantes são aquelas condições que ten- psicológico talvez não esteja evidente à primeira vista, mas pode
dem a atrapalhar direta ou indiretamente o metabolismo do chamar atenção após a discussão repetida da causa ou mesmo
músculo e impedem sua resposta normal ao estresse usual da após a manutenção de um diário dos eventos que ocorrem nas
atividade diária. Esses fatores são discutidos em detalhes no horas ou nos dias precedentes à dor de cabeça episódica. Foi
Capítulo 4 de Simons, Travell e Simons (20). Quatro fatores por meio de tal diário que uma mulher descobriu que suas do-
médicos perpetuantes comuns que ocorrem em 10 a 16% das res de cabeça, que ocorriam 3 a 4 dias por semana, sempre se-
pessoas com dor miofascial crônica são deficiência de ferro, guiam telefonemas de sua mãe, que a menosprezava. Fatores
de vitamina B12 e de ácido fólico e hipotireoidismo. A defici- mecânicos perpetuantes são descobertos tanto pela história quan-
ência de ferro é de interesse especial porque, por si só, pode to pelo exame físico. A anamnese pode não abordar atividades
causar dor de cabeça crônica. Essa deficiência é avaliada pela que resultem em estresse ergonômico, como já foi discutido.
medida de ferritina sérica. As reservas de ferro livre mobilizável Fatores físicos perpetuantes são destacados na seção anterior,
no músculo, no fígado e na medula óssea são depletadas nos sobre avaliação física.
níveis de ferritina sérica de 15 a 20 ng/mL. Microcitose e ane-
mia são vistas em níveis mais baixos de ferritina sérica. Níveis
de ferro sérico são muito variáveis para serem de valor práti-
co. Depleção da reserva de ferro está associada com uma sen-
sação de “frio no coração” e ausência de resistência ou fadiga
AUTOCUIDADO
fácil. Deficiência de vitamina B12 é vista em pelo menos 15%
das pessoas com níveis séricos acima de 350 pg/mL. Ácido Princípios gerais
metilmelânico elevado confirma o diagnóstico, mas pode ser
normal em pessoas com anormalidades metabólicas atribuí- O paciente é instruído quanto à dieta adequada, para objeti-
das à utilização anormal de B12. A elevação da homocisteína vos nutricionais, mas também para evitar o estresse da articu-
é sugestiva de deficiência de vitamina B12, mas é elevada em lação temporomandibular quando envolvida. Comidas duras
uma base genética, então é um marcador menos específico ou crocantes devem ser evitadas (castanhas, vegetais crus,
para deficiência de B12. Fadiga é observada na deficiência de como cenoura). Hábitos parafuncionais, como roer unhas e
vitamina B12, junto com a perda do senso de vibração nos mastigar lápis, devem ser evitados. Fatores ergonômicos são
dedos dos pés. A avaliação do ácido fólico requer a medida do considerados, como posição do computador, hábitos ao telefo-
folato de eritrócito. Além da neuropatia periférica, é marcada ne, como segurar o telefone entre a orelha e o pescoço, posi-
por uma sensação de frio intenso, similar à deficiência de fer- ções de dormir e travesseiros e atividades de peso e alcance
ro, e incontinência fecal. O hipotireoidismo é caracterizado associadas com a vida diária. Fatores de estresse, como aque-
por cansaço, frio, pele seca e ressecamento do cabelo, perda les associados ao trabalho ou à família, devem ser abordados,
de cabelo aumentada e constipação. A análise da tirotropina e técnicas de relaxamento e ioga ou meditação podem ser usa-
(hormônio estimulador da tireóide [TSH]) e um aumento sen- das para diminuir a tensão muscular. Exercício físico dentro
sível do hormônio estimulante da tireóide (sTSH) são as for- da capacidade da pessoa é incentivado. Auto-alongamentos
mas mais sensíveis de se avaliar disfunção da tireóide. Uma específicos são discutidos na seção a seguir. Eles são prescritos
segunda geração de TSH que pode medir 0,1 mlU/L é sufi- tanto com objetivo terapêutico quanto para manter os ganhos
ciente para evidenciar hipotireoidismo, exceto quando causa- já obtidos.
do pela falência da glândula hipófise. O exame do sTSH e T4
livre (FT4) deve então ser realizado. Outros problemas médi-
cos que parecem estar associados com síndromes miofasciais
crônicas que incluem dor de cabeça são recorrência da infec- Auto-alongamentos específicos
ção por candidíase e de infestações parasitárias, particular-
mente amebíase, deficiência de estrógeno e fibromialgia. Técnicas de auto-alongamento relacionadas à dor de cabeça
Causas hormonais de dor de cabeça estão associadas com abordam os músculos da cabeça e do pescoço e os músculos dos
dor de cabeça episódica ou, mais exatamente, com enxaqueca ombros que controlam o movimento da cabeça (Figura 1.8).
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 41

FIGURA 1.8 Auto-alongamento para os músculos cervicais posteriores. O


paciente arredonda o dorso e deixa a cabeça cair para a frente em direção
ao peito. Os músculos posteriores do pescoço freqüentemente se alongam
mais nessa posição arredondada do que quando o paciente começa com
uma postura mais ereta.

Auto-alongamento dos ombros

O paciente está sentado ou em pé. O ombro ipsilateral é fixado


colocando a mão embaixo da coxa (sentado) ou segurando a
mão atrás das costas (em pé). É permitido que a cabeça caia FIGURA 1.9 Auto-alongamento do músculo trapézio (depois progredindo
(pela gravidade) para o lado oposto, cabeça para a frente, en- para o alongamento do músculo esternocleidomastóideo). O paciente está
quanto se mantém a flexão lateral. Finalmente, a face é virada sentado. Para o músculo trapézio direito, é permitido que a cabeça caia
parcialmente em direção ao ombro que está sendo alongado, para a esquerda e realize uma flexão lateral esquerda. Mantendo a flexão
oposta à direção da flexão lateral. Isso alonga os músculos lateral, permite-se que a cabeça caia para a frente em uma flexão do pesco-
trapézio contralateral e esternocleidomastóideo (Figura 1.9). ço. Finalmente, a face é virada para a esquerda, rodando a inserção occipital
O paciente senta ou fica em pé. A cabeça é virada como se posterior do trapézio para longe do ombro. A mão direita está embaixo da
coxa direita para impedir que o ombro direito levante durante o alonga-
fosse olhar sobre o ombro (a posição que os nadadores usam
mento. Para auto-alongar o esternocleidomastóideo direito, a cabeça é en-
para respirar quando estão realizando o nado crawl). O queixo tão movida para a posição de auto-alongamento do trapézio (flexão lateral
então toca o peito para flexionar mais o pescoço. Isso alonga o para a esquerda) e é rodada para a direita, como se fosse olhar sobre o
músculo esternocleidomastóideo. ombro direito, mantendo o pescoço fletido. O queixo, então, toca o peito
Auto-alongamento dos músculos do pescoço. O paciente está para elevar o occipício.
sentado ou em pé. A cabeça roda levemente (um terço) para
um lado, e o queixo cai. Isso alonga os músculos esplênio e
semi-espinais. Então o braço do lado oposto à direção em que a
cabeça está virada (braço direito se a cabeça está virada para a
esquerda) é trazido sobre a cabeça, rodando a fossa glenóide do
ombro para cima e a inserção medial superior do levantador da O pescoço é segurado reto. O queixo realiza o toque para
escápula para baixo. Isso alonga o levantador da escápula, o baixo à maneira dos guardas do Palácio de Buckingham. Isso
qual pode referir dor para o pescoço (Figura 1.10). alonga os músculos suboccipitais.
42 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

têm a síndrome da dor miofascial. Caso os fatores alterem o me-


tabolismo muscular, como a deficiência de ferro o faz, ou produ-
zam um estresse mecânico, como, por exemplo, os estresses
ergonômico e postural, devem ser corrigidos assim que identifi-
cados. Essa abordagem de tratamento está integrada com o trata-
mento mais tradicional da dor de cabeça, incluindo o controle
dos fatores da dieta e o uso criterioso de agentes farmacológicos.

História, avaliação e
protocolo de tratamento

A história e a avaliação física são aspectos críticos no tratamen-


to da dor de cabeça. Assim, protocolos de anamnese e elemen-
tos importantes do exame físico são destacados a seguir.

I. História
a) Freqüência, localização e gatilhos da dor de cabeça
b) Sintomas associados à dor de cabeça (náusea, fotofobia,
etc.)
c) Qualquer história familiar de dor de cabeça

II. Avaliação
a) Observação (procurar pé pronado, escoliose, desequi-
líbrios)
b) Postura sentada (procurar cabeça protrusa, ombros
protrusos)
c) Exame físico geral, incluindo pressão arterial sangüí-
nea, função da pelve e do quadril quanto a restrições
que possam influenciar a coluna e a postura dos om-
bros
d) Avaliação neurológica
e) Avaliação da amplitude de movimento do pescoço e da
FIGURA 1.10 Auto-alongamento do esplênio da cabeça e cervical e dos abertura da boca
semi-espinais. O alongamento é realizado sentado ou em pé, mas não em
supino. O pescoço é flexionado e rodado aproximadamente 30o para o lado
f) Palpação dos músculos dos ombros, do pescoço e da
oposto dos músculos a serem alongados. Para alongar o músculo levantador cabeça à procura de pontos-gatilho ativos e bandas ten-
da escápula, o braço ipsilateral é abduzido para rodar a borda medial supe- sas relevantes
rior da escápula para baixo, aumentando então a distância entre a inserção g) Avaliação laboratorial quanto aos fatores perpetuantes
cervical superior e a inserção escapular. comuns (função da tireóide, deficiência de ferro)

III. Tratamento
a) Corrigir as disfunções posturais e as restrições
b) Corrigir os problemas médicos associados
CONCLUSÃO c) Abordar o estresse psicológico que afeta os músculos
do ombro, da cabeça e do pescoço
Dor de cabeça freqüente, seja chamada de dor de cabeça crôni- d) Inativar os pontos-gatilho miofasciais dos músculos re-
ca diária, dor de cabeça episódica do tipo tensional, enxaqueca levantes
transformada ou dor de cabeça benigna recorrente, é comumente e) Obter uma consulta odontológica com um dentista es-
causada por pontos-gatilho miofasciais nos músculos dos ombros, pecialista em dor de cabeça miofascial relacionada, se
do pescoço e da cabeça. O tratamento dos pontos-gatilho muscu- relevante
lares pode ser eficaz para aliviar a dor de cabeça aguda. O trata- f) Instruir um programa de autotratamento com alonga-
mento das dores de cabeça crônicas, recorrentes, requer a ina- mentos e técnicas de correção
tivação dos pontos-gatilho e a identificação dos fatores que man- g) Reavaliar, se a dor de cabeça persistir
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 43

Técnicas manuais miofasciais para liberação


dos músculos envolvidos na dor de cabeça
Nota editorial de Lucy Whyte Ferguson, D.C.

Técnicas de liberação miofascial manual são uma parte inte- bre os músculos do pescoço posterior até a base do crânio,
grante do tratamento de pacientes com dores de cabeça. nas áreas de dor referida durante os alongamentos. O pes-
Liberações musculares específicas dos músculos da mandí- coço e a cabeça são levados para a frente e depois para a
bula e músculos anteriores do pescoço são descritas no Ca- frente com rotação leve para ambos os lados, e depois para
pítulo 2. Liberações do trapézio superior e dos esplênios a frente com uma leve flexão lateral para ambos os lados
cervicais são discutidas no Capítulo 3. Liberações dos mús- (Figuras 1.11 e 1.12). Desse modo, o clínico alonga suave-
culos do pescoço e dos ombros que afetam a postura da ca- mente as diferentes porções desses músculos na direção de
beça e do pescoço são discutidas nos Capítulos 4 e 9. Quan- suas respectivas fibras. Com freqüência é difícil alongar as
do pontos-gatilho no trapézio superior são recorrentes, é fibras na articulação cervicocraniana nessa posição, por-
importante abordar os músculos que referem dor e sensibi- que o clínico não deve colocar muita pressão no pescoço e
lidade para a região do trapézio superior. Os pontos-gatilho na cabeça. É útil seguir os alongamentos sentados com alon-
dos músculos escaleno, levantador da escápula e trapézio gamentos em supino. Aqui o clínico fica de frente para o
inferior podem referir dor e sensibilidade para a área do paciente e à sua esquerda, ao lado da maca. O clínico utili-
trapézio superior. Com freqüência é muito importante tratar za a mão esquerda para alcançar debaixo do lado direito
os pontos-gatilho ativos desses músculos para obter uma du- do crânio do paciente e levanta a cabeça com uma tração
ração na melhora das dores de cabeça que são referidas a suave enquanto utiliza o spray vapocolante (Figura 1.13).
partir dos pontos-gatilho do trapézio superior. A cabeça é então trazida em relativa flexão do pescoço, e o
Uma série de técnicas pode ser usada para liberar o clínico pode usar a compressão de liberação do ponto-gati-
esplênio da cabeça, os semi-espinais cervicais e da cabeça lho que está na articulação cervicocraniana. Para abordar
e o grupo dos músculos suboccipitais. Alongamento passi- os pontos-gatilho do lado esquerdo da base do crânio, o
vo suave é freqüentemente realizado primeiro com o pa- clínico fica em pé ao lado direito do paciente, alcança a
ciente sentado. Um spray vapocolante pode ser usado so- mão direita debaixo da base esquerda do crânio e levanta a

A B

FIGURA 1.11 Alongamento dos músculos cervicais posteriores (esplênios e semi-espinais) com aplicação do spray vapocolante. A. Para alongar
os músculos posteriores superiores, a cabeça e o pescoço do paciente são inclinados para a frente enquanto o spray é aplicado superiormente, do
pescoço até atrás da cabeça, para cobrir o padrão da dor referida no couro cabeludo. B. Para alongar os músculos posteriores inferiores, as costas
superiores do paciente são arredondadas para a frente enquanto o spray é direcionado do pescoço inferior para baixo até a região de dor referida
nas costas superior e média. O alongamento melhora se o paciente expirar e olhar para baixo.
Reimpressa, com permissão, de Simons DG, Travell JG, Simons LS. Travell & Simons’ Myofascial Pain and Dysfunction: The Trigger Point Manual. Vol. 1: Upper Half of Body. 2nd
Ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 1999, Figura 16.6 A & B, p. 461.
44 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

A B
FIGURA 1.12 Padrões do spray para alongar os músculos posteriores mais diagonais.
A. O alongamento passivo primeiramente dos músculos da diagonal direita “∧” (i.e.,
multífidos e rotadores) e da diagonal esquerda “V” (i.e., esplênios) é realizado flexionando
a cabeça e o pescoço enquanto a cabeça é virada para a direita. B. O alongamento passivo
primeiro dos músculos da diagonal esquerda “∧” (i.e., multífidos e rotadores) e dos múscu-
los da diagonal direita “V” (p. ex., esplênio) é realizado flexionando a cabeça e o pescoço
enquanto a face é virada para a esquerda.
Reimpressa, com permissão, de Simons DG, Travell JG, Simons LS. Travell & Simons’ Myofascial Pain and
Dysfunction: The Trigger Point Manual. Vol. 1: Upper Half of Body. 2nd Ed. Baltimore: Lippincott Williams &
Wilkins, 1999, Figura 16.7 A & B, p. 462.

FIGURA 1.13 Alongamento passivo dos músculos cervicais poste-


riores da diagonal superior, combinado com liberação com pres-
são dos pontos-gatilho. O clínico fica em contato com os pontos-
gatilho nas porções diagonais dos músculos suboccipitais do pes-
coço posterior na articulação cervicocraniana, o músculo esplênio
cervical desliza ao cruzar as facetas articulares da cervical. O clínico
aplica pressão para mobilizar as articulações e para realizar a libera-
ção com pressão dos pontos-gatilho específicos. Ele simultanea-
mente aplica tração tecidual localizada para alongar as bandas ten-
sas do músculo enquanto roda, ou levanta e roda, a cabeça e o
pescoço do paciente em supino. (A direção da tração depende do
que é necessário para alongar as bandas tensas musculares especí-
ficas nos músculos posteriores do pescoço.)
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 45
cabeça, alongando suavemente os músculos envolvidos e res, em especial na articulação cervicocraniana, essas técni-
aplicando uma pressão no ponto-gatilho nos músculos espe- cas de liberação miofascial podem ser realizadas repetida-
cíficos quando necessário. Freqüentemente é útil aplicar uma mente em uma variedade de direções para abordar as ban-
compressa quente logo após os procedimentos de alonga- das encurtadas com mais gravidade. Com essa liberação, os
mento. Se houver uma compressão do nervo occipital maior padrões de restrição são reavaliados, e as próximas bandas
pelo músculo semi-espinal da cabeça, gelo pode ser aplica- tensas são tratadas. Essas técnicas miofasciais podem ser
do na cervical, e a combinação de quente e frio relaxará os benéficas mesmo após a manipulação óssea da coluna
músculos e diminuirá a sensibilidade do nervo. O gelo é tam- cervical ou técnicas de energia muscular para abordar a
bém útil quando há sensibilidade acentuada das facetas ar- disfunção articular que acabou de ser realizada, com o obje-
ticulares da cervical superior. tivo de fornecer alívio máximo das dores de cabeça.
Após aplicação de calor ou de calor e frio, mais trata- Após os pontos-gatilho serem liberados e as bandas ten-
mento miofascial manual é realizado. O clínico senta na ca- sas sumirem, tratamento direto da compressão do nervo
beceira da maca e envolve a cabeça e o pescoço do paciente occipital pode ser realizado. O clínico fica sentado na cabe-
em supino. Primeiro, ele avalia padrões de mobilidade do ceira da maca e segura a cabeça do paciente, com o contato
pescoço, para selecionar os lugares para a liberação miofas- das pontas dos dedos na região de maior sensibilidade da
cial. Liberações devem ser realizadas nas áreas em que há base do occipício. A cabeça do paciente é levemente esten-
restrição dos padrões normais de mobilidade, e não nas áre- dida ao contato do clínico. Este realiza certa pressão no lu-
as em que há sensibilidade muscular associada com hipermo- gar sensível, enquanto o paciente toca o queixo no peito,
bilidade. Os dedos das mãos do clínico podem ser colocados flexiona a articulação cervicocraniana e pressiona contra o
juntos para criar uma ponte, e a pressão de liberação do contato do clínico, alongando os músculos e o nervo contra
ponto-gatilho pode ser realizada deixando a coluna cervical a resistência local feita pelo contato dos dedos (Figura 1.15).
levemente estendida sob os contatos dos dedos (Figura 1.14). (Uma discussão mais completa de mobilização neural en-
Ao liberar os músculos, o contato do clínico diminuirá de contra-se no Capítulo 6.)
forma gradual. Então ele coloca a porção de contato do pes- Com freqüência é melhor realizar vários tratamentos de
coço em uma leve flexão. O paciente é instruído a estender liberação miofascial mais geral e cuidado articular enquan-
suavemente o pescoço contra o contato do clínico e a rela- to se evita contato direto e tratamento da compressão do
xar em uma flexão cada vez maior. Essa forma de liberação nervo occipital. O clínico não deve tratar a compressão do
pode ser realizada em qualquer nível da coluna cervical em nervo se há probabilidade significativa de que a liberação
que o movimento esteja restrito. A direção específica da pres- manual não seja suficiente para diminuir os sintomas. Deve-
são para o tratamento inicial do ponto-gatilho e da técnica se evitar que o problema seja provocado. Isto é sempre um
de contrair-relaxar pode ser aquela com a maior restrição julgamento a ser avaliado. É sempre útil ter um médico ex-
muscular. Devido às diferentes direções das fibras muscula- periente em técnicas de injeção disponível no caso de os

FIGURA 1.14 Alongamento passivo dos músculos verticais cervicais


posteriores, combinado com uma liberação com pressão dos pon-
tos-gatilho. Com o paciente em supino, os dedos distais do clínico
são flexionados ou entrelaçados para pressionar entre as vértebras
ou entre a vértebra e o occipício. A pressão do clínico combina tra-
ção local para alongar as fibras do músculo, com liberação com pres-
são do ponto-gatilho específico. Mobilização da vértebra, com au-
mento lento da extensão, é também alcançada (se a extensão for
limitada ao nível da coluna que está sendo tratado).
46 CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA

FIGURA 1.15 Liberação miofascial do músculo semi-espinal da cabe-


ça com mobilização do nervo occipital aprisionado. Posição inicial: o
paciente está em supino (decúbito ventral) com leve extensão na arti-
culação cervicocraniana. O clínico contata o ponto ao longo do occipito
que é mais sensível, pressionando esse ponto em direção à articulação
cervicocraniana. As linhas pontilhadas mostram a posição final. O paci-
ente encosta o mento no externo enquanto o clínico pressiona a base
do crânio ou a articulação cervicocraniana. O clínico mantém a pres-
são, oferecendo resistência local ao tecido estirado, para mobilizar o
nervo occipital. (O conceito de mobilização nervosa é discutido no Ca-
pítulo 6.)

sintomas do paciente aumentarem. Algumas vezes, libera- Algumas vezes, o tratamento manual do ponto-gatilho
ções manuais são seguidas de um aumento nos sintomas resultará em uma eliminação muito rápida da dor de cabeça
durante 4 a 6 horas e, então, de uma redução consistente ou referida. Em alguns pacientes, os tecidos que estão sendo
mesmo de um longo período sem dor. Ainda que técnicas de tratados são bem sensíveis, e alguma dor de cabeça persiste.
injeção sejam usadas, é benéfico completar o processo de Geralmente, se os pontos-gatilho relevantes e as disfunções
liberação da compressão muscular e facilitar a mobilidade articulares ou as subluxações são tratados, o paciente senti-
do nervo com técnicas manuais. Isso pode diminuir a proba- rá um alívio da dor de cabeça dentro de 4 a 6 horas após o
bilidade de recorrências. término do tratamento.

8. Launer L, Terwindt G, Ferrari M. The prevalence and characteristics


REFERÊNCIAS of migraine in a population-based cohort: the GEM study. Neurology
1999; 53: 537-542.
9. Goadsby PJ, Lipton RB, Ferrari MD. Migraine: current understan-
1. Sanchez del Rio M, Moskowitz M. The trigeminal system. In: Olesen
ding and treatment. N Engl J Med 2002;346:257-270.
J, Tfelt-hansen P, Welch KMA, eds. The Headaches, 2 nd Ed.
Philadelphia: Lippincott Williams &Wilkins, 2000: 141-149. 10. Saper J. Daily chronic headache. Neurol Clin 1990; 8: 891-901.
2. Marcus DA. Differentiating migraine from tension headaches: a 11. Popeney C, Alo K. Peripheral neurostimulation for the treatment
real or artificial distinction. APS Bulletin 1991; 1: 1-9. of chronic, disabling transformed migraine. Headache 2003; 43:
369-373.
3. Classification and diagnostic criteria for headache disorders,
cranial neuralgias and facial pain. Headache Classification Commi- 12. Silberstein SD. Tension-type and chronic daily headache. Headache
ttee of the International Headache Society. Cephalalgia 1988; Q 1995; 6: 97-100.
8(Suppl 7).1-96. 13. Srikiatkhachorn A. Pathophysiology of chronic daily headache.
4. Cady R, Schreiber C, Farmer K, et al. Primary headaches: a Curr Pain Headache Rep 2001;5:537-544.
convergence hypothesis. Headache 2002; 42: 204-216. 14. Sjaastad O, Fredriksen TA, Pfaffenrath V. Cervicogenic headache:
5. Bigal M, Sheftell F, Rappoport A, et al. Chronic daily headache: diagnostic criteria. Headache 1990;30:725-726.
identification of factors associated with induction and 15. Edmeads J, Soyka D. Headache associated with disorders of the
transformation. Headache 2002; 42: 575-581. skull and cervical spine. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA,
6. Dostrovsky JO, Davis KD, Kawakita K. Central mechanisms of vascu- eds. The Headaches. New York: Raven Press, 1993: 744-745.
lar headaches. Can J Physiol Pharmacol 1991; 69: 652-658. 16. Dumas J-P, Arsenault A, Boudreau G, et al. Physical impairment in
7. Moskowitz MA. The neurobiology of vascular head pain. Ann cervicogenic headache: traumatic vs. nontraumatic onset. Cephalgia
Neurol 1984; 16: 157-168. 2001; 21: 884-893.
CAPÍTULO 1 | DOR DE CABEÇA 47
17. Travell J. Referred pain from skeletal muscle: the pectoralis major 32. Jensen R, Rasmussen BK, Pederson B, et al. Muscle tenderness and
syndrome of breast pain and soreness and the sternocleidomas- pressure pain thresholds in headache: a population study. Pain 1993;
toid syndrome of headache and dizziness. New York State Journal 52: 193-199.
of Medicine 1955; 55: 331-340. 33. Bogaards MC, ter Kuile MM. Treatment of recurrent tension
18. Travell J. Mechanical headache. Headache 1967; 7: 23-29. headache. a meta-analytic review. Clin J Pain 1994; 10: 174-190.
19. Travell JG, Simons DG. Myofascial Pain and Dysfunction: The Trigger 34. Cady R. Triptans and non-triptans: evaluation of migraine therapy.
Point Manual, vol 1. Baltimore: Williams & Wilkins, 1983. Headache Quarterly 2000;9:20-24.
20. Simons DG, Travell JG, Simons LS. Myofascial Pain and Dysfunction: 35. Porta M. A comparative trial of botulinum toxin type A and
The Trigger Point Manual, vol 1, 2nd Ed. Baltimore: Williams and methylprednisolone for the treatment of tension-type headache.
Wilkins, 1999. Current Review of Pain 2000; 4: 31-35.
21. Rogers EJ, Rogers RJ. Tension-type headaches, fibromyalgia, or 36. Lewis C, Gevirtz R, Hubbard D, et al. Needle trigger point and
myofascial pain. Headache Quarterly 1991;2:273-277. surface frontal EMG measurements of psychophysiological
22. Tfelt-hansen P, Lous I, Olesen J. Prevalence and significance of responses in tension-type headache patients. Biofeedback & Self-
muscle tenderness during common migraine attacks. Headache Regulation 1994; 3: 274-275.
1981; 21: 49-54. 37. McNulty W, Gevirtz R, Berkoff G, et al. Needle electromyographic
23. Clifford T, Lauritzen M, Bakke M, et al. Electromyography of evaluation of trigger point response to a psychological stressor.
pericranial muscles during treatment of spontaneous common Psychophysiology 1994; 31: 313-316.
migraine attacks. Pain 1982; 14: 137-147. 38. Bogduk N, Simons DG. Neck pain: joint pain or trigger points. In:
24. Jensen K, Tuxen C, Olesen J. Pericranial muscle tenderness and Vaeroy H, Merskey H, eds. Progress in Fibromyalgia and Myofascial
pressure-pain threshold in the temporal region during common Pain, vol 6. Amsterdam: Elsevier, 1993:267-273.
migraine. Pain 1988; 35: 65-70. 39. Lord SM, Barnsley Le, Wallis BJ, et al. Third occipital nerve
25. Jensen R, Bendtsen L, Olesen J. Muscular factors are of importance headache: a prevalence study. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1994;
in tension-type headache. Headache 1998; 38: 10-17. 57: 1187-1190.
26. Jensen R. Pathophysiological mechanisms of tension-type headache. 40. Barnsley L, Lord S, Bogduk N. Whiplash injury. Pain 1993; 58:
In: Copenhagen: Foreningen af Danske Laegestuderendes Forglag, 283-307.
1998: 68.
41. Fischer AA. New developments in diagnosis of myofascial pain and
27. Bendsten L. Central sensitization in tension-type headache: possible fibromyalgia. In: Fischer AA, ed. Myofascial Pain: Update in Diagnosis
pathophysiologic mechanisms. Cephalalgia 2000; 20: 486-508. and Treatment, vol 8. Philadelphia: Saunders, 1997: 1-21.
28. Duckro PN. Myofascial involvement in chronic post-traumatic 42. Gerwin RD, Shannon S, Hong C-Z, et al. Interrater reliability in
headache. Headache Quarterly 1995; 6: 34-38. myofascial trigger point examination. Pain 1997; 69: 65-73.
29. Sandrini G, Nappi G. Primary headaches: diagnosis and treatment. 43. Simons D. Reply to M.I. Weintraub (Letter). Pain 1999; 80: 451-452.
Current Review of Pain 1999; 3: 100-108.
44. Dejung B. Manuelle Triggerpunktbehandlung bei chronischer
30. Ashina M, Bendtsen L, Jensen R, et al. Muscle hardness in patients
Lumbosakralgie. Schweiz Med Wochenschr 1994; 124: 82-87.
with chronic tension-type headache: relation to actual headache
state. Pain 1999; 79: 201-205. 45. Gunn CC. The Gunn Approach to the Treatment of Chronic Pain.
Edinburgh: Churchill Livingstone, 1996.
31. Jensen R. Mechanisms of spontaneous tension-type headaches: an
analysis of tenderness, pain thresholds and EMG. Pain 1995; 64: 46. Lewit K: Manipulative Therapy in Rehabilitation of the Locomotor
251-256. System. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1991.

Você também pode gostar