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e morre menos do que as células normais, fazendo com que as

Leucemias_________ células saudáveis da medula sejam progressivamente substituídas.

Além de perderem a função de defesa do organismo, os leucócitos


Leucemia designa um conjunto de cânceres que atingem as células doentes produzidos descontroladamente reduzem o espaço na
brancas do sangue, que são produzidas pela medula óssea. São medula óssea para a fabricação das outras células que compõem o
doenças malignas, caracterizadas pela quebra do equilíbrio da sangue. Adicionalmente, os glóbulos brancos não se desenvolvem
produção dos elementos do sangue, causada pela proliferação por completo e caem na corrente sanguínea antes de estarem
descontrolada de células. O clone leucocitário aparece no sangue preparados, não exercendo assim as suas funções corretamente.
periférico. Esses leucócitos anormais que atingem a corrente sanguínea
podem também invadir outros órgãos, tais como fígado, baço,
**Leucemias e linfomas são cânceres do sangue, derivados de células linfonodos, rins e cérebro.
formadoras de sangue, que normalmente possuem a capacidade de entrar
na corrente sanguínea e se deslocar para áreas distantes. → Produção inadequada de células de defesa -> infecções.
→ O acúmulo de células anormais na MO prejudica a produção
Hematopoiese dos outros tipos celulares -> hemorragias, etc.

Processo de formação das células do sangue. No período pós-natal, Obs: clone neoplásico
a medula óssea constitui o único local de produção da porção
Os progenitores multilinhagem se diferenciam em progenitores de
celular do sangue, isto é, de eritrócitos, leucócitos e plaquetas.
linhagem única, os quais se destinam a produzir um tipo celular específico.
Qualquer uma dessas células pode sofrer uma transformação neoplásica,
inviabilizando o processo normal de maturação e resultando em
proliferação e acúmulo de um “clone” (população de células idênticas).

Classificação

Quanto ao tipo de leucócito afetado:

• Linfocítica, linfoblástica ou linfoide: quando atinge as células


linfoides, derivadas do precursor linfoide (células NK, linfócitos
T, linfócitos B e plasmócitos)
• Mieloide ou mieloblástica: as células alteradas são as
mieloides, derivadas do precursor mieloide (mastócitos,
basófilos, neutrófilos, eosinófilos e monócitos).

Quanto à velocidade de reprodução celular e da evolução da


doença:

• Aguda: rápido crescimento de células imaturas (blastos/


células jovens), que não desempenham seu papel como
deveriam e que se multiplicam aceleradamente . Os blastos
Fisiopatologia
leucêmicos são incapazes de se diferenciar em células
maduras (bloqueio na maturação).
De origem desconhecida. Sua principal característica é o acúmulo
• Crônica: aumento de células maduras, porém anormais. Elas
de células doentes na medula óssea, que substituem as células
se reproduzem de forma um pouco mais lenta e podem ter
sanguíneas normais. Nessa condição, uma célula que ainda não
mantidas algumas de suas funções. Podem ser derivadas de
atingiu a maturidade sofre uma mutação genética que a transforma
clones neoplásicos mais jovens, que seguiram o processo
em uma célula cancerosa ou leucêmica. Essa célula anormal, além
normal de maturação.
de não funcionar de maneira adequada, multiplica-se mais rápido

As leucemias agudas podem ser:


• Primárias: paciente sem nenhuma doença hematológica e As leucemias crônicas caracterizam-se pelo acúmulo lento e
sem uso prévio de quimioterápicos leucemogênicos. gradativo de leucócitos neoplásicos na medula óssea e no sangue.
• Secundárias: pacientes com 1) doenças hematológicas pré- Ao contrário das leucemias agudas, as células que se acumulam
leucêmicas, tais como as síndromes mielodisplásicas estão numa fase tardia de maturação. Embora apresentem um
(importante causa de LMA em idosos), síndromes curso clínico insidioso, as leucemias crônicas, se não tratadas,
mieloproliferativas (ex.: LMC, P. vera, hemoglobinúria acarretam importante redução da sobrevida. Na LMC esta gira em
paroxística noturna); ou (2) uso prévio de certos torno de 2-5 anos. Na LLC, dependendo do estágio, 1-10 anos.
quimioterápicos, como os agentes alquilantes (clorambucil,
bussulfan, mostarda nitrogenada, melfalan etc.) e os L EUC EMI A MI EL OI D E C RÔNI C A (L MC )
inibidores da topoisomerase II (etoposídio, tenoposídio).
É uma doença clonal da célula progenitora hematopoiética. Nela,
Toda leucemia “secundária” possui um prognóstico reservado,
há multiplicação excessiva de células precursoras da linhagem
pois em geral seu clone neoplásico tende a ser mais resistente
mieloide sanguínea, sendo que a transformação maligna ocorre
ao tratamento. As leucemias secundárias são normalmente
nas células mais maduras.
do tipo LMA.
A LMC é uma Síndrome Mieloproliferativa Crônica. As síndromes
Epidemiologia
mieloproliferativas formam um grupo de neoplasias hematológicas
que se originam da célula-tronco (stem cell) ou de um progenitor
- No Brasil, atualmente a leucemia é o 9º câncer mais comum
próximo a esta em sua maturação. Porém, ao contrário das
entre os homens e o 11º entre as mulheres.
leucemias agudas, esse clone segue o curso normal de maturação
- Segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer de 2015, houve
até as células finais (granulócitos, hemácias, plaquetas) – logo, não
6.837 mortes por leucemias, sendo 3.692 de homens e 3.145
há bloqueio de maturação!
de mulheres.
- Em 2020, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima o
E T I O LO GI A
surgimento de 10.810 novos casos, sendo dentre eles de 5.920
do sexo masculino e 4.980 do sexo feminino. É possível identificar a presença de uma mutação genética bem
- LMA – leucemia mais comum no mundo (maior incidência em definida, conhecida como cromossomo Philadelphia (Ph). Quando
populações orientais. há essa mutação genética, observamos a alteração nessa
- LLC – leucemia mais comum no ocidente. regulação, fazendo com que as células se proliferem
desgovernadamente.
Evolução
Trata-se de uma translocação entre os cromossomos 9 e 22, nas localizações
q34 e p11, representada por t(9;22) (q34; p11). Essa fusão de genes dá
• Aguda:
origem a um gene híbrido, chamado BCR-ABL, que irá definir a transcrição
de uma proteína com alta atividade de tirosina quinase. Essa atividade
Os blastos leucêmicos primeiramente infiltram a medula óssea,
enzimática está envolvida com a regulação da proliferação celular.
ocupando mais de 20% (pela OMS) ou mais de 30% (pela FAB) do
total de células nucleadas, podendo chegar a 80 -100% de E PI DE M I O LO GI A
ocupação! A primeira consequência, portanto, é a supressão da
hematopoiese normal. Essa expansão do clone neoplásico ocupa - 14% de todas as leucemias.
o espaço necessário à produção das células hematológicas normais, - BR: incidência de 1,6 casos a cada 100 mil habitantes, por ano.
culminando em pancitopenia (anemia, leucopenia e - Adultos mais velhos (50/60 anos); 4% dos pacientes são
plaquetopenia), o grande marco clínico da doença. crianças.
- Sexo masculino (discreta predominância)
Os blastos anormais também secretam fatores inibitórios e - O único fator de risco bem conhecido para o aparecimento da
indutores de fibrose, tornando a disfunção medular ainda mais mutação –cromossomo Ph –,e portanto, da doença é a
grave do que o esperado somente pela ocupação de espaço. Esses exposição à radiação ionizante (raios X e gama).
blastos podem ser lançados na corrente sanguínea, justificando o Normalmente ela é proveniente de procedimentos médicos e
termo leucemia (“células brancas no sangue”), com frequência o risco oferecido depende da dose, da exposição e da idade do
atingindo um número suficientemente grande a ponto d e paciente.
determinar leucocitose. E como tais células não são capazes de
“amadurecer”, elas não exercem qualquer função fisiológica! Q UA DRO CLÍ NI CO

As defesas do organismo continuam dependendo dos poucos Caracterizado por uma hiperplasia mieloide acompanhada de
neutrófilos e monócitos existentes. Uma vez na corrente leucocitose, neutrofilia e basofilia. É muito comum também a
sanguínea, os blastos também podem infiltrar órgãos, com presença de esplenomegalia (mais de 80% dos casos).
preferência para linfonodos, baço, fígado, gengiva, órbita, sistema
nervoso central, meninges, testículos, pele etc. O paciente vai a História natural da doença:
óbito pela infiltração tecidual maciça (que leva à falência
• Fase crônica: pouco sintomática; duração de 3 a 5 anos.
orgânica), e/ou pela pancitopenia grave e suas consequências
(anemia, infecção, hemorragia). O paciente pode estar assintomático ou apresentar poucos
sintomas. Quando os sintomas se manifestam, eles costumam
• Crônica
aparecer sob a forma de fadiga, perda de peso, sudorese, febre e
palidez, devido à anemia associada. A maioria dos pacientes Mielograma → quando realizado para confirmação do diagnóstico,
apresenta esplenomegalia importante. A intensidade dos sintomas observamos na medula óssea de um paciente em fase crônica uma
está relacionada ao grau de leucocitose no sangue periférico, hiperplasia granulocítica de morfologia normal. Há presença de
observado no hemograma, e à presença de organomegalias. blastos, porém menor que 10% (encontramos mais de 20% de
blastos na leucemia mieloide aguda). Por fim, pode também ser
*Esplenomegalia (80% dos pacientes): geralmente cursa com desconforto observada, em alguns casos, uma monocitose absoluta.
abdominal, além de poder causar compressão das vísceras ocas. Nestes
casos, são observados distúrbios digestivos, tais como um quadro de
Fase acelerada
plenitude pós-prandial. Em casos mais graves, pode ocorrer até mesmo
infarto esplênico. Alguns pacientes também podem apresentar
hepatomegalia discreta a moderada. Podemos encontrar no hemograma uma trombocitose, que pode
evoluir para uma trombocitopenia. Também pode haver evolução
• Fase acelerada: há o aparecimento de mais sintomas e da doença com um quadro de mielofibrose. É importante lembrar
observa-se a duração de alguns meses. que as células mudam conforme o avanço da doença, havendo uma
evolução clonal genética.
Aumento da esplenomegalia, da basofilia e da quantidade de
blastos circulantes. Além disso, um fato muito importante que é Crise blástica
observado e que marca a transição da fase crônica para a fase
acelerada é o surgimento de resistência à terapêutica Encontramos no hemograma uma leucocitose neutrofílica, com
citorredutora (tratamento utilizado inicialmente). Nessa fase, os presença de células mieloides em várias fases de maturação.
pacientes ainda podem estar assintomáticos ou então começar a Também há, principalmente, basofilia.
apresentar febre, sudorese noturna, perda ponderal e dores
ósseas. Além disso, é necessário realizar testes citogenéticos para
pesquisar a presença do cromossomo Philadelphia que, além de
• Crise blástica: a doença passa a se comportar como uma ser um marcador da doença, é um marcador prognóstico da
leucemia aguda, porém com quadro clínico mais grave do que evolução do tratamento da doença. Fora isso, pode ser feita a
o observado quando a doença já tem início agudamente, como pesquisa do gene BCR-ABL por meio de PCR.
é o caso da LMA. Essa fase é considerada fatal e, algumas
vezes, pode ser alcançada sem que o paciente passe pela fase T RA T A M E NT O
acelerada.
Todos os pacientes diagnosticados com LMC podem fazer uso de
São observados blastos maiores que 20% na medula óssea ou no agentes citostáticos, como a hidroxiureia ou o bussulfano. Esse é
sangue periférico. Nesse momento, é comum que o paciente um tratamento paliativo. **Melhora do hemograma e diminuição de
manifeste febre, sudorese noturna, anorexia, perda ponderal sintomas, mas que não apresenta benefícios para a sobrevida do paciente.
acentuada e dores ósseas. Além disso, há piora na esplenomegalia
O alfa-interferon era a medicação mais utilizada antigamente. Ele promove
e pode haver infiltração extramedular dos blastos, podendo
uma remissão hematológica completa em até 90% dos pacientes. Contudo,
acometer a pele, linfonodos, os ossos e o sistema nervoso central, ele deve ser aplicado por via subcutânea e ocasiona frequentes efeitos
causando sintomas. Uma vez atingida essa fase, a sobrevida sem colaterais e, por isso, atualmente é raramente usado.
tratamento adequado costuma ser de 3 a 6 meses.
Dessa forma, as drogas de escolha mais atuais para o tratamento
DI A GNÓ S T I CO da LMC são os inibidores de tirosina-quinases. Essas medicações
agem justamente onde a LMC causa mais problemas, uma vez que a doença
Fase crônica é caracterizada pela multiplicação celular alterada por uma proteína tirosina
quinase, codificada pelo gene BCR-ABL.
Feito muitas vezes em pacientes assintomáticos por meio da
realização de exames de rotina. 1ª escolha: mesilato de imatinibe, um inibidor específico da
fosforilação da tirosina-quinase produzida pelo BCR-ABL. Ele induz
Hemograma → costuma mostrar leucocitose, de normalmente uma resposta hematológica rápida e completa, sendo o
25.000 a 400.000 células por microlitro, podendo ser maior em tratamento inicial de escolha para LMC recém-diagnosticada.
alguns casos. O hemograma também descreve a presença de todas Como efeitos colaterais, essa droga pode ocasionar náuseas,
as células do processo da formação celular, ou seja, há diarreia, erupções cutâneas, câimbras e alterações transitórias das
granulócitos em todas as fases de maturação. Há um predomínio transaminases.
de mielócitos e pode também haver uma basofilia associada.
→ Fase crônica: via oral, na dose de 400mg/dia.
**Raramente, os pacientes podem apresentar uma síndrome de → Fase acelerada: dose de 600mg/dia, respostas em 25% dos
hiperviscosidade. Isso ocorre quando o número de leucócitos no sangue casos (resultados inferiores aos encontrados quando a droga é
está demasiadamente aumentado. Quando presente, os pacientes podem utilizada em pacientes na fase crônica).
sofrer de priapismo, zumbido inespecífico e alterações visuais. → Fase blástica: a administração do medicamento apresenta
somente resultados parciais e de curta duração. Nesse
É comum observar a existência de anemia normocítica e
estágio, o medicamento costuma ser utilizado antes de o
normocrômica. As plaquetas podem estar normais ou aumentadas.
paciente receber um transplante de medula óssea, que será o
Por fim, também há aumento da desidrogenase láctica (DHL) e do
que de fato irá ajudar nessa fase.
ácido úrico.
2ª escolha: caso o mesilato de imatinibe falhe, usa-se os inibidores Sua causa é desconhecida. A LMA é resultado de inúmeras
de tirosina-quinase de 2ª geração. Desatinibe e nilotinibe. alterações genéticas que se relacionam de forma acumulativa.
Quando as mutações acabam por afetar genes que codifi cam
O desatinibe é utilizado pela via oral, com administração de 100mg/ dia na fatores de transcrição importantes para a hematopoiese, pode
fase crônica e de 140mg/dia na fase avançada. Como efeitos colaterais,
haver descontrole desse processo, gerando uma LMA.
podemos observar retenção de fluidos, derrame pleural, diarreia,
sangramentos, prolongamento do intervalo QT e toxicidade hematológica.
Alguns fatores predisponentes são conhecidos:
O nilotinibe é administrado por via oral, em forma de comprimido de
→ Exposição à radiação ionizante (procedimentos médicos, raios
400mg, que deve ser tomado de 12 em 12 horas, próximo às refeições. Seus
principais efeitos colaterais são toxicidade hematológica, aparecimento de X e raios gama)
rash cutâneo, náuseas, prurido, prolongamento do intervalo QT e → Exposição a derivados de benzeno (gasolina, indústria
hiperglicemia. química), do petróleo, pesticidas e herbicidas.
→ Agentes alquilantes: 4-6 anos após exposição, quase sempre
3ª escolha: caso nenhum medicamento funcione, é necessário precedida por uma síndrome mielodisplásica.
realizar o transplante de medula óssea alogênico. Esse é o método → Inibidores da topoisomerase II: 1-2 anos após exposição
mais eficaz na indução das remissões citogenética e molecular → Distúrbios hereditários: aqueles que levam à instabilidade
completas, além de ser a única forma curativa do tratamento da cromossomial (anemia de Fanconi, síndrome de Bloom, ataxia-
doença (cura 70% dos pacientes). Sua realização apresenta uma telangiectasia, síndrome de Kostman ou neutropenia
alta taxa de mortalidade (15 a 20%), sendo reservada apenas aos congênita).
pacientes que apresentam falha no tratamento com uso dos → Anomalias citogenéticas congênitas: síndrome de Down
inibidores da tirosina quinase. (trissomia do 21), síndrome de Patau (trissomia do 13) e
síndrome de Klinefelter (XXY). A síndrome de Down aumenta
em 10-18 vezes a chance de leucemia aguda (com uma
incidência absoluta de 1%), concentrando seu pico etário na
primeira infância. Até três anos de idade, predomina a LMA
(subtipo M7); daí em diante, a LLA.

Obs.: Vírus oncogênicos> Não existem evidências que a LMA possa ser
causada por infecções virais, porém, alguns estudos sugerem associação
entre infecção pelo Epstein-Barr (EBV) e LLA de células B maduras. Um vírus
RNA, o vírus linfotrópico de células T humanas, do tipo I (HTLV-I), é
considerado como o agente causador da leucemia de células T do adulto.

→ é considerada um câncer ocupacional em virtude da exposição ao


benzeno. Esse agente é o componente principal do óleo leve; apesar
do risco conhecido, existem muitas aplicações em impressão e
litografia, pintura, borracha, limpeza a seco, adesivos e revestimentos
e detergentes; anteriormente utilizado amplamente como solvente e
fumigante.
→ Sua incidência é 1,3 a 2 vezes maior nos fumantes, provavelmente por
causa da exposição aos agentes carcinogênicos, como, por exemplo, o
L EUC EMI A MI EL OI D E AGUD A (L MA) benzeno presente no tabaco do cigarro.

São um grupo heterogêneo de doenças clonais, em que há


Q UA DRO CLÍ NI CO
proliferação anormal de progenitores hematopoiéticos da
linhagem mieloide. Essas células produzidas excessivamente, além Incluirá sintomas decorrentes da falência da medula óssea em
de se acumularem na medula óssea prejudicando a produção produzir os elementos sanguíneos. Assim, é comum observar
normal dos outros tipos celulares, podem se infiltrar em outros quadros típicos de anemia, que incluem fadiga, palidez cutâneo-
tecidos, comprometendo assim a função de alguns órgãos. mucosa e fraqueza.

Por se tratar de uma leucemia aguda, sabemos que as células O paciente também pode apresentar leucopenia, que faz com que
alteradas são ainda muito imaturas e, portanto, incapazes de haja predisposição a infecções e a quadros de febre (leucemia e/ou
realizarem a sua função de defesa do organismo. quadros infecciosos).

E PI DE M I O LO GI A Por fim, os pacientes podem sofrer de sangramentos, com a


ocorrência de hemorragias, epistaxe e o aparecimento de
- É o tipo leucêmico mais comum do adulto (90% dos casos de petéquias. Esses sintomas se relacionam à gravidade da
leucemia). trombocitopenia encontrada no paciente.
- Pode acometer também crianças, representando 15% das
leucemias em crianças menores de 10 anos. Além disso, os pacientes podem apresentar quadro de coagulação
- No Brasil, tem-se uma estimativa de incidência de 1,11 caso de intravascular disseminado, sobretudo aqueles que possuem o
LMA a cada 100 mil habitantes. subtipo M3 de LMA (leucemia promielocítica), que será descrita à
frente.
E T I O LO GI A
Pela infiltração de células anormais em tecidos, podemos • M6: Leucemia eritroide aguda
encontrar hepatomegalia, esplenomegalia, linfadenopatia, de • M7: Leucemia megacarioblástica aguda
hipertrofia de gengiva e de dor óssea, além da presença eventual
de sarcomas granulocíticos (tumores extramedulares, localizados OMS (2016): essa classificação inclui as alterações citogenéticas e
em ossos, no periósteo, em linfonodos, na pele e em tecidos moles). moleculares. Subcategorias:

Alguns sintomas indicam o acometimento do SNC, como: cefaleia, • Leucemia mieloide aguda com anormalidades genéticas
convulsões e alterações visuais. • Leucemia mieloide aguda com alterações relacionadas à
mielodisplasia
DI A GNÓ S T I CO • Leucemia mieloide aguda relacionada à quimioterapia ou
radioterapia prévia
Hemograma
• Leucemia mieloide aguda não especificada

→ Leucocitose com frequente presença de mieloblastos (50%) • Sarcoma mieloide ou sarcoma granulocítico ou cloroma
→ Anemia normocítica e normocrômica. • Proliferações mieloides relacionadas com a síndrome de Down
→ Pode haver alterações da homeostasia, principalmente na • Leucemias agudas indiferenciadas e bifenotípica
leucemia promielocítica (subtipo M3). Nesses casos, há
Alterações genéticas mais frequentes que influenciam as classificações:
consumo de fatores plasmáticos (podendo resultar em
mutações NPM1 e CEBPA, as duplicações internas em Tandem do gene
quadro de coagulação intravascular disseminada), aumento FLT3, duplicações parciais em Tandem do gene MLL e a hiperextensão do
do tempo nas provas de coagulação (TT, TP e TTPa), gene BAALC.
hipofibrinogenemia, aumento dos produtos de degradação
da fibrina e aumento de D-dímero. F A T O RE S PRO GNÓ S T I CO S

Mielograma • Características do paciente: submissão prévia a quimioterapia


ou transplante de medula óssea; características genéticas.
→ Mais de 20% de mieloblastos e diminuição de células das • Idade avançada (> 60 anos) – mau prognóstico; maior número
outras linhagens (menor número de hemácias, plaquetas e de comorbidades existentes na velhice, além de mais
leucócitos normais sendo produzidos). mutações terem sido acumuladas ao longo do tempo de vida
→ Em alguns casos, há atipias e displasias das células. do paciente.
• Baixa contagem de leucócitos – quanto maior é o número de
Diagnóstico: mais de 20% de mieloblastos leucêmicos no sangue leucócitos acima do nível normal, pior é o prognóstico do
periférico ou no mielograma. *Definição dos blastos: análise de paciente.
morfologia celular ao microscópio. • Síndrome mielodisplásica preexistente – se a doença evoluiu
a partir dela, o prognóstico é mais negativo.
Um achado patognomônico da LMA é a visualização de Bastones
• Terapia citotóxica anterior
de Auer, vistos como pequenas linhas dentro do citoplasma celular.
• Alteração cariotípica – sinal de mau prognóstico

Métodos mais modernos para definir os tipos de LMAs: independente. A partir da análise do cariótipo do paciente é
possível prever a sobrevida global, o risco de recaída e a
• Imunofenotipagem: é um teste sensível, que possibilita a resposta ao tratamento.
determinação do tipo e da origem celular, através de
marcadores. T RA T A M E NT O
• Citogenética: é usada não somente com fins diagnósticos, mas
Quimioterapias.
também como forma de definição de prognóstico; é possível
saber se a doença tende a evoluir de forma mais ou menos 1. Indução da remissão: essa etapa é feita em um ou dois ciclos
agressiva. Com essa informação, pode-se optar por tratamentos de um esquema quimioterápico chamado de 3+7, isto é, por 3
diferenciados quando a forma da doença é mais propensa a recidivas dias é usado um agente antracíclico, seguido por 7 dias de uso
ou quando costuma não responder ao tratamento padrão. de citarabina.
2. Consolidação da remissão: composta por 2 a 4 ciclos de
CLA S S I F I CA ÇÃ O
citarabina em altas doses ou pelo transplante de medula
Podem ser classificadas pela FAB (1976/ Franco-Américo-Britânica), óssea alogênico caso haja fatores de mau prognóstico, falha
levando em consideração a morfologia celular, a histoquímica e a na indução, fator de risco intermediário ou cariótipo adverso.
imunofenotipagem, mas não incorpora achados citogenéticos e
*Pacientes idosos: CUIDADO! A fase de consolidação da remissão deve ser
moleculares. Subtipos:
feita com intensidade reduzida, a fim de manter uma qualidade de vida para
o paciente. A indicação de transplante de medula óssea é controversa, uma
• M0: Leucemia mieloide aguda indiferenciada
vez que os resultados para esse grupo são inferiores aos observados nos
• M1: Leucemia mieloide aguda com maturação celular mínima mais jovens.
• M2: Leucemia mieloide aguda com maturação
• M3: Leucemia promielocítica aguda (LPA) LE UCE M I A PRO M I E LO CÍ T I CA A GUDA (LPA )
• M4: Leucemia mielomonocítica aguda (LMMA)
→ M4 eos: Leucemia mielomonocítica aguda com eosinofilia
• M5: Leucemia monocítica aguda
Subtipo M3, é o subtipo mais curável das LMAs. Nesse tipo da linfocitose importante em hemograma de rotina, o que leva a uma
doença é marcado pela presença do gene PML-RARα, formado pela investigação mais apurada.
translocação entre os cromossomos 5 e 17.
Quando o paciente apresenta sintomas, os mais comuns de serem
Para a LPA, há a possibilidade de utilização de duas drogas encontrados são: linfadenopatia generalizada, perda de peso e
específicas: o ácido all-trans retinóico (ATRA) e o trióxido arsênico queixas de cansaço decorrente de anemia.
(ATO). Esses medicamentos agem promovendo a diferenciação dos
mieloblastos em células mieloides maduras. Dessa forma, as → A linfadenopatia caracteriza-se pela presença de pequenos
células imaturas responsáveis pela doença voltam a se comportar linfonodos palpáveis (podem ser maiores), de consistência
de forma normal. fibroelástica, móveis e indolores, sem sinais flogísticos.

Para o tratamento, portanto, é necessário iniciar o uso do ATRA no Hepatomegalia é observada em cerca de 50% dos pacientes, assim
momento da suspeita diagnóstica mesmo que ainda não haja confirmação, como esplenomegalia não volumosa (baço discretamente
pois essa medida se mostrou relacionada a uma melhora de prognóstico. aumentado). Pode haver também infiltração leucêmica em outros
Além disso, é necessário prover suporte hemoterápido, dado que esses órgãos, como nas tonsilas, nas meninges e na pele. Raro infiltrar
pacientes apresentam disfunções de coagulação. A quimioterapia para
SNC.
esses casos é feita com a daunorrubicina ou com a idarrubicina nos dias 2,
4, 6 e 8 do tratamento. É esperada uma remissão hematológica em 30 dias Os pacientes cursam com anemia (raramente de grande
com o uso dessas medicações.
intensidade). Pode haver quadro de surgimento de petéquias e
A seguir, há também fase de consolidação e uma manutenção, feitas com a equimoses devido à plaquetopenia, apesar de ser um cenário mais
associação do ATRA com a mercaptopurina e o metotrexato. Além disso, raro.
pode-se monitorar a resposta molecular pela realização de PCR para
pesquisa do gene PML-RARα. Por fim, as infecções bacterianas, como pneumonias, são
frequentes devido ao desequilíbrio da imunidade provocado pela
Como efeito colateral do ATRA, pode ocorrer uma síndrome de produção de linfócitos anormais e à neutropenia frequentemente
diferenciação ou síndrome retinoide em 6 a 27% dos casos. Isso leva o observada.
paciente a um quadro de leucocitose, febre, infiltração pulmonar, aumento
de peso por retenção hídrica, falência renal, dispneia, hipotensão, efusão Os pacientes com LLC frequentemente apresentam quadros
pleural e efusão pericárdica. Quando esses sintomas começam a aparecer,
autoimunes associados.
a conduta adequada é a suspensão do medicamento até a melhora,
introdução de corticoides (dexametasona, 10mg, 2 vezes/dia) e então
→ 10 a 25% cursam com anemia hemolítica autoimune
avaliar a retomada ou não do uso do medicamento, lembrando que ele é
muito importante para os pacientes com LPA. → 2% estão associados a quadros de trombocitopenia imune
→ 60% dos pacientes apresentam hipogamaglobulinemia
L EUC EMI A L I NFOI D E C RÔNI C A (L L C ) → Em 5% dos casos há hipergamaglobulinemia monoclonal.

Tem origem nas células linfoides maduras, que passam a se *Síndrome de Richter: Em 3 a 15% dos casos, os pacientes com LLC evoluem
multiplicar descontroladamente. Essas células linfoides alteradas com o desenvolvimento de Síndrome de Richter, na qual observa-se a
em excesso ocupam a medula óssea, prejudicando a produção de evolução da doença para um linfoma difuso de grandes células B, o que
apresenta prognóstico muito ruim. Desconfia-se de Síndrome de Richter
tipos celulares normais e, além disso, podem se infiltrar em órgãos
quando um paciente com LLC começa a apresentar febre, emagrecimento,
linfoides, como o baço e os linfonodos.
sudorese principalmente noturna, aumento da linfadenopatia, anemia
sintomática, trombocitopenia (surgimento ou agravamento da
E PI DE M I O LO GI A preexistente) e gamopatia monoclonal.

- É a mais comum dentre as doenças linfoproliferativas crônicas


- 30% dos casos de leucemia DI A GNÓ S T I CO

- Anualmente, a incidência é de 2 a 6 casos a cada 100 mil Hemograma:


habitantes – aumenta com a faixa etária
- Acomete pacientes idosos (65 anos); 10% dos casos são de → Linfocitose persistente, com mais de 5.000 células por
pacientes com menos de 50 anos. microlitro por mais de três meses (exclui-se a possibilidade de
- É mais prevalente no sexo masculino (2 H:1 M) quadro infeccioso).
→ 20% dos pacientes também apresentam quadro de anemia ou
E T I O LO GI A de trombocitopenia.

É desconhecida. Supõem-se que exista algum tipo de predisposição


O diagnóstico é feito pela análise das características morfológicas
genética. A exposição a agentes químicos e derivados do petróleo,
das células presentes no sangue periférico e pela realização de
como o benzeno e seus derivados, é um fator de risco para o
mielograma, para análise das células em esfregaço da medula
desenvolvimento da doença.
óssea. Em alguns casos, pode ser necessária a análise histológica
da medula óssea, dos gânglios linfáticos ou do baço.
Q UA DRO CLÍ NI CO
Além disso, pode-se fazer a complementação do diagnóstico com
A maioria dos pacientes é assintomática, sendo a doença
estudos citogenéticos e de biologia molecular que, além da função
eventualmente descoberta em exames de rotina, por achado de
diagnóstica, auxiliam na definição do prognóstico da doença.
Critérios diagnósticos: • Estágio C: Quando os níveis de hemoglobina < 10g/dL ou as
plaquetas < 100.000 por microlitro. A sobrevida mediana é de
• Leucocitose acima de 5.000 linfócitos B por microlitro 2 anos.
• Deve haver predomínio de linfócitos pequenos e maduros
• Imunofenotipagem deve ser característica de LLC. F A T O RE S PRO GNÓ S T I CO S

O prognóstico da LLC pode ser dividido em dois principais grupos:


Linfocitose + adenomegalia.
→ Pacientes de baixo risco: a sobrevida mediana é maior que 15
Em alguns casos, quando é realizado o mielograma, deve-se
anos
encontrar infiltração de medula óssea por linfócitos maduros
→ Paciente de alto risco: a sobrevida costuma ser menor que 5
maior que 30%.
anos.
Obs: Em 80% dos pacientes estão presentes anormalidades citogenéticas.
Para avaliá-las, realiza-se um exame chamado FISH. Nele, podemos
encontrar a deleção do 13q em 50% dos pacientes, a deleção do 11q em
23%, a trissomia do cromossomo 12 em 20%, a deleção do 17p em 14% e o
14q32 em 28% dos casos.

E S T A DI A M E NT O

Leva-se em conta características clínicas e hematológicas.

Sistema de Rai (1975):

• Estágio 0: Observa-se linfocitose no sangue e medula óssea


com 40% ou mais de células infiltradas. Há sobrevida mediana
de mais de 150 meses. T RA T A M E NT O
• Estágio I: Há linfocitose com linfadenopatia localizada ou
É uma doença incurável por quimioterapia, dessa forma, na
generalizada. A sobrevida mediana é de aproximadamente
maioria das vezes esse tratamento será realizado como forma de
101 meses.
suporte.
• Estágio II: Além da linfocitose, há esplenomegalia e/ou
hepatomegalia. A sobrevida costuma ser de 71 meses. Para curar a doença, é necessária a realização de transplante de
• Estágio III: Há linfocitose e anemia (hemoglobina abaixo de medula óssea alogênico, porém esse é um procedimento de alta
11g/ dL independentemente do sexo). Sobrevida de 19 meses. mortalidade.
• Estágio IV: Há linfocitose com trombocitopenia. A sobrevida
mediana também é de 19 meses. Em pacientes no estadiamento A, RAI 0 ou então com prognóstico
de baixo risco realiza-se, inicialmente, um período de observação
Sistema de Rai modificado clínica. O paciente deve ser acompanhado, com realização de
hemogramas e exames laboratoriais gerais, por 3 a 6 meses. Nesse
Em 1987 a classificação de Rai foi modificada, dividindo os estágios período, deve-se avaliar se a doença é estável ou se há piora
em três níveis de risco: progressiva do quadro.

• Risco baixo: Quando há somente linfocitose no sangue e na → Doença permanece estável: não se deve realizar
medula óssea. A sobrevida é de mais de 10 anos. tratamentos, mas apenas continuar monitorando o paciente.
• Risco intermediário: A linfocitose é acompanhada por → Doença piora, inicia-se então o tratamento.
linfadenomegalia e por esplenomegalia, com ou sem
hepatomegalia. A sobrevida mediana é de aproximadamente Entre os pacientes de estadiamento intermediário, isto é, RAI I ou
7 anos. II ou Binet B.
• Risco alto: Há linfocitose, anemia e trombocitopenia. A
→ Cerca de 1/3 possui doença estável: observação e
sobrevida costuma ser de 2 anos.
acompanhamento, sem nenhuma terapêutica.
→ Em 2/3, há progressão da doença nos primeiros 2 anos, sendo
Estadiamento de Binet (1981)
observado rápido aumento de gânglios, do baço ou dos
linfócitos. Nessas situações, opta-se pelo tratamento a fim de
• Estágio A: Quando o paciente possui menos de 3 áreas de
melhorar a qualidade de vida do paciente.
envolvimento linfoide, na ausência de anemia ou
trombocitopenia. A sobrevida mediana costuma ser maior de Nos pacientes de Binet C, RAI III ou IV ou que possuem fatores
10 anos. prognósticos de alto risco, é sempre necessário o tratamento. Ele
• Estágio B: Quando há 3 ou mais áreas de envolvimento consiste na realização de quimioterapia, em 6 ciclos, com três
linfoide, porém na ausência de anemia ou trombocitopenia. A drogas: fludarabina, cliclofosfamida e rituximabe.
sobrevida é de aproximadamente 7 anos.
E PI DE M I O LO GI A

- Afeta principalmente as crianças, sendo a doença maligna


mais comum na infância.
- Pode também acometer adultos, principalmente entre os 25
e 37 anos de idade, sendo que nesse grupo, o prognóstico da
doença é pior em relação ao acometimento pediátrico. N
- O Brasil, a LLA tem incidência de 6,5 casos a cada um milhão
de pessoas, por ano.
Em 95% dos casos há resposta global e remissão completa em 52% dos - Síndrome de Down aumenta em 20x a chance de desenvolver
pacientes. Contudo, antes de iniciar o tratamento, é necessário avaliar as
condições clínicas do paciente. Muitas vezes, os pacientes mais idosos não Q UA DRO CLÍ NI CO
aguentam esse esquema de quimioterapia. Nesses casos, esses pacientes
mais frágeis podem receber um tratamento com intensidade reduzida, É aquele observado em situações de supressão da medula óssea,
com administração de clorambucil, associado ou não ao rituximabe. Caso o dessa vez, pela infiltração pelas células leucêmicas.
paciente possua muitas comorbidades e não houver condições de se
realizar quimioterapia, são instituídos os cuidados paliativos. Os pacientes possuirão anemia, apresentando palidez, fraqueza e
cansaço, e podem apresentar hemorragias, principalmente na pele
A não ser que seja realizado transplante, a recaída da doença é muitas e em mucosas.
vezes inevitável. Se a remissão tiver sido prolongada, ou seja, o paciente
ficou mais de dois anos sem necessitar de tratamento, a terapia feita Em 1/3 dos casos, há febre e sudorese noturna, associados ao não
inicialmente pode ser repetida. Caso a remissão tenha sido curta, é melhor
a quadro infeccioso.
optar pelo uso de outras drogas, além de considerar a realização de
transplante de medula óssea não-mieloablativo, isto é, um transplante em
Além disso, os pacientes, sobretudo crianças, apresentam quadro
que não há a destruição completa da medula óssea do paciente.
de artralgia e dores ósseas, devido à distensão do periósteo sob a
ação do infiltrado leucêmica.
L EUC EMI A L I NFOI D E AGUD A (L L A)

É uma doença que decorre da proliferação clonal de precursores Em decorrência de infiltração ou de hemorragias no SNC, o
linfoides anormais na medula óssea. Sua etiologia é desconhecida, paciente pode ter confusão mental, cefaleia e compressão de
apesar de haver suspeitas de que fatores genéticos influenciam no nervos cranianos, sobretudo dos pares VI e VII. Esses sintomas
seu desenvolvimento. também podem ser decorrentes da presença exagerada de blastos
na circulação, chamada de síndrome de leucostase.
Na LLA, são os linfoblastos (células muito jovens da linhagem
linfoide) que param de funcionar corretamente e começam a Fora isso, podemos observar adenomegalias (presentes em 49%
multiplicar-se descontroladamente na medula óssea. A evolução da dos casos), hepatomegalia (em 35% das vezes), esplenomegalia
doença ocorre de maneira bastante rápida. (44%), presença de massa mediastinal, normalmente associada à
proliferação de células T (15%) e leucemia testicular (em 0,3% dos
o clone neoplásico deriva de um progenitor linfoide, uma célula pacientes).
pré-T ou pré-B “precoce”, uma célula pré-T ou pré-B ou mesmo um
linfócito B que assume características de blasto. Todas essas células DI A GNÓ S T I CO
são consideradas linfoblastos.
Hemograma
Em 80% das LLA, a origem da neoplasia é na linhagem B. No
→ Leucocitose com presença de blastos.
restante (20%), a fonte é a linhagem de células T. Neste último caso,
→ Leucopenia, isto é, ausência de blastos na circulação, estando
a leucemia pode cursar com proliferação de linfoblastos do timo,
as células leucêmicas somente na medula óssea e o
levando a uma entidade análoga ao linfoma linfoblástico, um tipo
hemograma indica pancitopenia.
de linfoma não Hodgkin de alto grau de malignidade, típico de
crianças. Mielograma

→ Quando realizado, observa-se a presença de mais de 20% de


blastos.
Faz-se também a fenotipagem e a citogenética do material de 1º objetivo: eliminação do clone leucêmico, levando assim à cura
medula óssea coletado para a definição do diagnóstico do paciente.

CLA S S I F I CA ÇÃ O Nos adultos, tem-se resultados inferiores aos observados em crianças,


havendo remissão completa de 70 a 90% dos casos, porém com melhora da
É classificada de acordo com a morfologia das células leucêmicas, sobrevida a longo prazo observada somente em 25 a 50% das vezes, devido
além da fenotipagem e da citogenética. A classificação da doença é ao maior número de recaídas.
indicativa de fatores prognósticos e também ajuda na detecção de
O tratamento inclui:
recaídas precoces.

• Prevenção de lise tumoral (síndrome composta por


Antigamente, era utilizada a classificação Franco-Américo-
hiperuricemia, hiperpotassemia, hiperfosfatemia e
Britânica (FAB), que levava em conta apenas características
hipocalcemia), através do uso de quimioterápicos. É feito o
morfológicas. Atualmente, utiliza-se também os parâmetros de
uso de alopurinol, em doses de 200 a 300mg por metro quadrado
citogenética e imunofenotipagem.
de área corpórea do paciente.
Pela imunofenotipagem, é possível identificar o tipo de linfócito • Hidratação do paciente, a fim de manter a diurese a 100mL
afetado, B ou T, através dos marcadores celulares, e também o por hora.
estágio de maturação em que as células se encontram, informação • Suporte hemodinâmico ao paciente. Se há trombocitopenia,
muito importante da definição do prognóstico do paciente. com sangramentos ou plaquetas abaixo de 20.000 por
microlitro, deve ser feita a transfusão de plaquetas. Quando
Pela citogenética, identifica-se alterações genéticas presentes o paciente está com anemia, é importante manter o
especificamente nas células alteradas, o que também auxilia no hematócrito próximo a 30%.
prognóstico. • Prevenção de infecções, uma vez que o sistema imune do paciente
encontra-se duplamente comprometido, tanto pela leucemia quanto
Na LLA, anormalidades cromossômicas são encontradas em 60 a pela quimioterapia, o que irá induzir uma neutropenia. Portanto, é
80% dos adultos e em cerca de 90% das crianças. feito o uso profilático de antibióticos, tais como
sulfametoxazol-trimetopima e levofloxacina. Podem ser
Obs: em alguns casos da doença o paciente pode apresentar, assim usados também o fluconazol, em casos de infecções fúngicas
como na LMC, a translocação entre os cromossomos 9 e 22, e antivirais.
conhecida como cromossomo Philadelphia (Ph+). Ela é mais
comum nos adultos, estando presente em 15 a 30% dos casos. Obs: Síndrome da lise tumoral

A presença do gene BCR-ABL é um sinal citogenético indicativo de É uma das principais emergências oncológicas recorrentes, que
prognóstico desfavorável. Apesar disso, nessas situações, pode ser resulta em uma série de alterações decorrentes da liberação de
utilizada a terapia-alvo para o tratamento, por meio dos inibidores metabólitos intracelulares da lise de células tumorais, se
da tirosina quinase. apresentando na forma de distúrbios hidroeletrolíticos e
metabólicos, por exemplo: hiperuricemia, hipercalemia,
F A T O RE S PRO GNÓ S T I CO S hiperfosfatemia, hipocalcemia, acidose, lesão renal aguda.

Fatores de mau prognóstico: É comumente associada ao tratamento de neoplasias


hematológicas, ocorrendo durante ou após o tratamento
- Idade avançada (> 60 anos), quanto maior a faixa etária, pior
quimioterápico.
o prognóstico; pacientes < 1 ano.
- Leucócitos acima de 30.000 por microlitro ao momento do O quadro clínico inclui: náuseas, vômitos, anorexia, diarreia,
diagnóstico. desconforto abdominal, oligúria/anúria, arritmias e morte súbita,
- Pacientes que demoram mais de 1 ciclo de quimioterapia ou fraqueza muscular cãibras, tetania, convulsões, síncope.
mais de 4 semanas para atingir o estado de remissão
completa da doença. Quimioterapia
- Alterações de células pré-B, células T maduras ou células de
linhagem precoce A remissão é atingida na maioria dos casos, porém nos adultos
- Pacientes com o cromossomo Philadelphia costuma durar apenas de 15 a 32 meses. Após o terceiro ano,
- Pacientes que apresentam sintomas de envolvimento do somente 30 a 45% dos pacientes costumam manter a remissão.
sistema nervoso central ao diagnóstico.
- Paciente com doença residual mínima persistente. • Fase de indução de resposta: prednisona, vincristina e
antraciclina.
A doença residual mínima é pesquisada logo após o fim da quimioterapia,
ou mesmo no meio dela, pela realização do mielograma para testes de Alguns protocolos adicionam também a asparaginase e alguns
imunofenotipagem e/ou análise molecular por PCR. Nesses testes, serão
preconizam a realização de uma intensificação precoce, com o uso
buscados marcadores definidos ao diagnóstico para detectar a presença do
clone neoplásico. É um método de alta sensibilidade que possibilita a
de ciclofosfamida, metotrexato e arabinosídeo-C.
detecção precoce de recidivas ou mesmo do risco de recidivas.
• Consolidação pós-remissão: Pode ser com ou sem a realização

T RA T A M E NT O de transplante de medula óssea, a depender do prognóstico


do paciente. Normalmente são utilizadas as mesmas drogas D. Anemia megaloblástica.
administradas na fase de indução.
• Profilaxia do SNC: é necessária uma vez que ele muitas vezes LETRA A: linfócitos normais, blastos < 20%, idade.
não é atingido pelas drogas, devido à barreira hemato-
Uma paciente com quinze anos de idade, previamente hígida,
encefálica.
relatou metrorragia de grande intensidade, acompanhada do
Dessa forma, o SNC pode se constituir como um local de abrigo para os surgimento de petéquias e equimoses disseminadas pelo corpo,
blastos leucêmicos, havendo recaídas mais rápidas quando essa fase de com início havia cerca de uma semana. Relatou, ainda, que, havia
profilaxia não é realizada. cerca de um mês, começou a apresentar fadiga e seus pais notaram
palidez cutâneo mucosa. Na admissão, o exame físico mostrou,
Ela pode ser feita por meio de radioterapia, de quimioterapia além dos sinais previamente citados, hepatomegalia discreta,
intratecal (injeção do medicamento no líquor) ou por altas doses hemorragias conjuntivais e na mucosa oral. A radiografia de tórax
de quimioterapia sistêmica. não revelou sinais de alargamento mediastinal. O hemograma
apresentou os seguintes resultados: hemoglobina = 5,0g/dL;
• Fase de manutenção: varia conforma o subtipo de LLA, mas
plaquetas = 40.000; leucócitos = 30.000céls/mm3. A análise
costuma ter duração média de 2 ou 3 anos.
citológica do esfregaço do sangue periférico indicou presença de
Pacientes que tiveram recaídas ou que foram refratários ao cerca de 20% de leucócitos de tamanho aumentado, núcleos de
tratamento possuem um prognóstico ruim. Menos de 50% dos aspecto bilobulado, citoplasma com grânulos e bastonetes de Auer.
pacientes atingem novamente uma remissão completa da doença, A hipótese diagnóstica mais provável para esse quadro clínico é a
de:
sempre havendo uma doença residual mínima mesmo após novos
tratamentos. Nesses casos, a realização de transplante de medula
A. leucemia linfoide aguda.
óssea alogênico apresenta resultados melhores do que a utilização
B. leucemia mieloide aguda.
de novas quimioterapias.
C. leucemia linfoide crônica.
D. síndrome mielodisplásica.
Obs: Neutropenia febril
E. leucemia mieloide crônica
• Neutropenia: contagem de neutrófilos < 500 cél/microL ou <
LETRA B
1.000 cél/microL com previsão de queda para menos de 500
cél/ microL nas próximas 48h. Neutropenia profunda: < 100 Paciente do sexo masculino, 67 anos, em tratamento oncol ógico
cél/microL para Leucemia Mieloide Aguda há 5 meses, recebeu quimioterapia
• Febre: (1) temperatura oral ≥ 38,3ºC em medida única; (2) há 9 dias. Procurou o pronto--socorro devido à adinamia desde
temperatura oral ≥ 38ºC por mais de 1h; (3) temperatura axilar ontem. Nega uso de antitérmicos. Está com 38,2ºC (temperatura
> 37,8ºC em medida única axilar). O Hemograma apresenta 400 neutrófilos por mm3 de
sangue. Assinale a MELHOR conduta com relação a esse caso.
Quando o paciente apresenta febre durante a realização da
quimioterapia, deve-se considerar a existência de um quadro A. A antibioticoterapia deve ser iniciada apenas se houver
infeccioso que está gerando uma leucopenia febril . Dessa forma, imagem de consolidação em exame radiológico de tórax ou
quando há febre, deve ser colhido material para a realização de temperatura acima de 38,3ºC
culturas e deve ser iniciada a antibioticoterapia de amplo espectro B. Solicitar internamento hospitalar e iniciar cefepima ou
até que os resultados sejam confirmados, para que então a piperacilina + tazobactan.
antibioticoterapia seja feita de forma orientada. C. Devem ser colhidas hemoculturas e urocultura e iniciar
antibioticoterapia de acordo com antibiograma.
Mesmo na ausência de febre alguns pacientes neutropênicos
D. Solicitar PCR, ferritina e D-dímero e acompanhar
necessitam de tratamento empírico com antimicrobianos de
ambulatorialmente.
amplo-espectro. Uma avaliação clínica cuidadosa pode identificar
E. Iniciar cefalexina e seguir acompanhamento ambulatorial.
outros sinais de infecção (ex.: dispneia, hipotermia, hipotensão etc.
Neutropenia febril - LETRA B
QUESTÕES
As leucemias são as neoplasias com maior incidência em crianças e
O paciente é um homem de 50 anos referindo plenitude pós- adolescentes. A síndrome da lise tumoral se configura como uma
prandial mesmo após comer pequenas quantidades. Encontra-se emergência oncológica, resultado da necrose maciça de células
hipocorado, anictérico e baço palpável 8 cm abaixo da reborda neoplásicas. São achados laboratoriais:
costal. O resto do exame físico é normal. Ht = 37%; plaquetas =
377.000/mm3. Contagem de leucócitos com 50.0000/mm3, A. Hiperuricemia, hipercalemia e hiperfosfatemia.
granulócitos = 43%; bastões = 13%; metamielócitos = 18%; B. Hiporuricemia, hipercalemia e hiperfosfatemia.
mielócitos = 10%; promielócitos = 2%; blastos = 2%; monócitos = C. Hiperuricemia, hipercalemia e hipofosfatemia.
11%; basófilos = 2%, eosinófilos = 2%; linfócitos = 1%. Qual é o D. Hiporuricemia, hipercalemia e hipofosfatemia.
diagnóstico mais provável?
LETRA A
A. Leucemia mieloide crônica.
B. Leucemia linfocítica crônica.
C. Leucemia mieloide aguda.
Sobre a Leucemia Linfoide Crônica (LLC), é correto afirmar que: laboratoriais e sintomas clínicos apresentados pelos pacientes.
II. Antibioticoterapia preventiva, principalmente quando o
A. É uma doença linfoproliferativa caracterizada por um curso tratamento quimioterápico está em vigência.
clínico maligno, de evolução rápida e prognóstico sombrio. III. Isolamento protetor.
B. A leucocitose observada na doença é causada por um IV. Orientar ingesta de alimentos cozidos e fervidos.
aumento acentuado de linfócitos imaturos, denominados V. Restringir ingesta hídrica e hidratação parenteral para prevenir
linfoblastos. lise tumoral.
C. Em mais de 90% dos casos, a LLC é do tipo T, infiltrando a pele Quais estão corretas?
muito comumente. A) Apenas II e IV.
D. Em função do seu caráter progressivo, a doença pode ser B) Apenas I, III e V.
detectada em várias fases da sua evolução natural. C) Apenas I, II, III e IV.
E. A LLC tem um alta incidência entre homens jovens e a D) Apenas I, III, IV e V.
classificação de RAI é usada como referência ao estado E) I, II, III, IV e V.
evolutivo da doença.
Letra C
LETRA D!
A - não é linfoproliferativa.
B - linfócitos maduro
C - maior tipo B
D - LLC não é homem jovem (idoso!)

A experiência de décadas no tratamento das leucemias linfoides


agudas da infância mostra que, independentemente do protocolo
terapêutico adotado, a sequência indução,
consolidação/intensificação e manutenção deve ser mantida na
utilização de quimioterapia convencional. Considerando essas
informações, assinale a opção em que é apresentada combinação
quimioterápica comumente utilizada em esquemas indutórios de
tratamento para leucemias linfoides agudas.

A. metotrexate em baixas doses + mercaptopurina


B. citarabina em altas doses + daunorrubicina
C. cicloifosfamida + carboplatina + etoposide
D. corticosteroide + vincristina + daunorrubicina
E. metotrexate em altas doses + mercaptopurina

LETRA D
Metotrexato pode ser usado p/ intensificar.

As leucemias agudas são patologias graves, que acometem todas as


faixas etárias e que exigem encaminhamento para centros
especializados em seu tratamento. Nas leucemias agudas:

A. o diagnóstico é descartado em um paciente com 21% de


blastos na medula óssea, mas sem blastos no sangue
periférico.
B. o subtipo mieloide é mais comum em crianças e o subtipo
linfoide é mais comum em adultos.
C. a presença de manifestações leves pode ocorrer por semanas
a meses, antes que o paciente receba o diagnóstico.
D. a incidência na população é similar em indivíduos que já
tenham sido submetidos ou não à quimioterapia.

LETRA C

O tratamento de qualquer tipo de leucemia aguda se baseia em


dois pontos importantes: medidas de suporte e tratamento
específico. Como tratamento específico
entende-se quimioterapia. As medidas de suporte visam melhorar
as condições gerais dos pacientes, diminuindo o risco de
complicações. Quanto às medidas de suporte, analise as assertivas
abaixo:
I. Transfusão de hemocomponentes de acordo com os exames

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