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O encontro entre essas culturas não foi a priori pacífica, em muitos casos mostrou-se
problemático. Segundo Laburthe-Tolra e Warnier (2003: 33), por exemplo, o encontro
entre os ocidentais e outros povos desconhecidos modificou a sensibilidade do
Ocidente, e, então se questionavam: estes povos, diferentes, serão mesmo homens ou
animais? Portanto, a figura do outro subsistia em duas classes: a dos sábios e civilizados
e a dos selvagens e primitivos; tais que, levaram ao questionamento sobre as culturas, os
modos de ser e estar dos povos. Sem tolerância, respeito com o outro, as diferenças
sociais e culturais geraram graves conflitos.
Na perspectiva de Veiga (2013: 633), a escola sendo uma instituição social, não escapa
à diversidade cultural e social supracitada, e enfrenta também outros problemas
advindos deste fenómeno1 e que influencia todo o processo de aprendizagem dos alunos,
problemas como, a discriminação, o etnocentrismo, a intolerância, os preconceitos e
estereótipos. “No entanto, o encontro de culturas, de crianças de diferentes origens
socioeconómicas não deve constituir um obstáculo ou um problema, mas sim uma
forma de enriquecimento” (idem, p. 633). Portanto, no processo de aprendizagem deve-
se desenvolver, por um lado, uma educação que tenha em conta a origem étnica, social e
cultural das crianças e jovens, que promova o acesso e o sucesso ao longo da
escolaridade e, por outro lado, que promova a valorização de diferentes culturas em
interacção.
Veiga (idem, p. 638) advoga que o encontro directo e prolongado entre sujeitos e os
grupos culturalmente diferenciados pode dar origem a diferentes fenómenos. Para este,
um destes fenómenos é a aculturação. Entendida como “uma forma de mudança
cultural provocada pelo contacto com culturas” (NETO apud VEIGA, 2013: 638). A
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À este fenómeno, segundo Merieu (apud Ngoenha, 2013: 106), os filósofos de educação e os pedagogos
chamaram de pedagogia diferencial, que consistia em separar os alunos em classes diferentes e depois
integrá-los progressivamente com seus camaradas, segundo o conhecimento da língua francesa.
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aculturação pode ser vista de uma forma unicultural, onde ocorre um processo de
assimilação sem que haja integração cultural. Esta forma de aculturação verifica-se
quando uma cultura é influenciada por outra mais forte e começa a perder a sua forma,
porque seus membros começam a adoptar novos comportamentos, hábitos e
características da sociedade dominante.
A aculturação também pode ser vista de forma multilinear, para Neto (apud Veiga,
2013: 638), implica estratégias diferenciadas como no caso da integração, da separação
e da marginalização. Portanto, na estratégia de integração, os sujeitos são incentivados a
uma dupla pertença – sociedade de origem, sociedade de acolhimento, onde se procura
manter a sua identidade e se promove a participação na sociedade de acolhimento,
mostrando disponibilidade para partilhar a sua cultura e os seus costumes, valorizando a
vertente inter-relacional. Na estratégia de separação, os sujeitos procuram manter a sua
identidade sem participar. E, na estratégia de marginalização ocorre a perda da
identidade sem que haja participação dos sujeitos na sociedade de acolhimento.
Na perspectiva de Neto (apud Veiga, 2013: 639), deve-se distinguir entre a aculturação
e a aculturação psicológica. A primeira diz respeito ao fenómeno que se verifica ao
nível dos grupos, enquanto a segunda refere-se a mudanças que um indivíduo
experiencia em resultado de estar em contacto com outras culturas e de participar no
processo de aculturação por que passa o seu grupo cultural ou étnico. Ou seja, o
processo de aculturação psicológica remete às mudanças que ocorrem ao nível
individual e que se prendem com características psicológicas, como identidade, os
valores e as atitudes.
A linguagem é outro fenómeno que se observa no contacto entre as culturas. Para Veiga
(ibidem), na escola, as crianças e os jovens, cujo português não é língua materna, vêem-
se confrontados com um sistema linguístico distinto do seu e com um sistema de
referências sociais e culturais inerentes a essa mesma língua. Entretanto, é necessário
que estas crianças e jovens adquiram competências na língua a aprender, para que se
tornem aptos a comunicar nessa mesma língua. Para Goulão (apud Veiga, 2013: 639),
para se conseguir um espaço onde o aluno consiga testar as suas hipóteses linguísticas
sem receio, é necessária a criação de um ambiente socioafectivo favorável, no qual o
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aluno possa investir activa e pessoalmente, onde encontre aceitação, respeito por aquilo
que é; onde as aprendizagens sejam uma experiência socialmente partilhada.
Na perspectiva de Veiga (2013: 640), a identidade pode ser vista de diversas formas, em
termos culturais ou de sexo, por exemplo. O Dicionário de Psicologia (apud Veiga,
2013: 640) refere que a identidade individual ocorre da experiência própria de um
sujeito, de se sentir existir e ser reconhecido pelo outro, enquanto ser singular mas
idêntico, na sua realidade física, psíquica e social. Portanto, a identidade individual é
uma construção dinâmica de unidade da consciência de si 3, através das relações
intersubjectivas, das comunicações de linguagem e das experiências sociais. Constrói-se
um eu pessoal e social, através da identificação dos valores e de crenças que
influenciam as atitudes e comportamentos e que são essenciais no momento de
adaptação às mudanças.
Para Veiga (idem, p. 646) só uma escola autónoma, competente e preocupada com as
relações entre as pessoas poderá satisfazer as necessidades de todos, independentemente
da sua cultura de origem. Pois, segundo Ogbu (apud Veiga, 2013: 643), a diferença
cultural pode impedir que muitos alunos pertencentes a culturas minoritárias atinjam os
objectivos propostos pela escola, tendo como consequência a percentagem do insucesso
destes alunos ser maior do que a dos alunos que pertencem à cultura maioritária.
A superação destas dificuldades passa pela mudança de uma lógica da identidade para
uma lógica da identificação consonante com a passagem da estabilidade para a
mutabilidade e fluidez da identificação. Esta passagem implica ter em conta a cultura
dos alunos e as suas características individuais 5. Banks erigiu um quadro segundo a qual
a construção da identidade cultural progride através de estágios que não são estanques
(Cfr. Veiga, 2013: 644), onde sublinha a educação multicultural – que implica a
integração de conteúdos, a construção de processo de conhecimento, a redução de
preconceitos, a equidade e o aumento de poder da cultura escolar e das estruturas
sociais.
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Banks (apud Veiga, 2013: 643).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUBER, Martin (1974). Eu e tu. Trad. Lambert Schneider. 8. ed., São Paulo, Moraes.