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Resumo
Tendo em vista as dificuldades de aprendizagem observadas em contexto atuais da Educação Matemática
apresenta-se, nesse artigo, resultados de um estudo teórico sobre a Teoria da Aprendizagem Significativa, com
objetivo de socializar seus pressupostos como uma possibilidade didática viável para o ensino e para a
aprendizagem significativa em Matemática. Assim, são apresentados os principais conceitos, bem como os
aspectos metodológicos necessários para se propiciar ambientes de ensino que favoreçam a ocorrência desse tipo
de aprendizagem. Por suas características, verificou-se que essa teoria pode ser uma alternativa didática viável
no contexto da Educação Matemática, por possibilitar a construção e compreensão de conceitos com significados
precisos, diferenciados e transferíveis, que são fundamentais na construção de conhecimentos em Matemática.
1 Introdução
Os processos de ensino e de aprendizagem em Matemática são, geralmente, complexos
e desafiadores, pois a compreensão necessita de práticas que favoreçam a formação de
conceitos. Em seu trabalho sobre as tendências atuais da educação matemática, Müller (2000,
p.136) indica que
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Aragão (1976) salienta que a teoria de Ausubel pode ser compreendida como sendo de
ensino e de aprendizagem, e não apenas como uma delas, pois considera tanto aspectos
práticos, relacionados ao planejamento do ensino, realizado em sala de aula, como aspectos
cognitivos, sobre os modos de aprendizagem dos estudantes.
A seguir, apresentam-se as principais características dessa teoria, enfatizando as
condições necessárias para que ela possa ser inserida de modo adequado em ambientes
formais de ensino, tendo em vista possibilitar mudanças em práticas de ensino que favoreçam
e potencializem a aprendizagem significativa em matemática.
2 A estrutura cognitiva
Na Teoria da Aprendizagem Significativa, Ausubel (1963) aborda os processos de
ensino e de aprendizagem ocorridos em sala de aula. O desenvolvimento dessa teoria
possibilitou identificar diferentes modos de aprendizagem e de retenção do conhecimento
existentes nesse contexto por meio da investigação sobre os diferentes modos de recebimento
e de apreensão de informações acadêmicas pelos estudantes, as quais são armazenamentos e
organizadas por eles em suas mentes.
À esse conjunto organizado de conhecimentos e de conceitos, Ausubel dá o nome de
estrutura cognitiva. Este complexo arranja-se hierarquicamente, onde concepções mais
fragmentadas são ligadas à conceitos mais gerais, conforme seus significados.
Figurativamente falando, a estrutura cognitiva pode ser compreendida como uma teia de
conhecimentos, onde coexistem concepções diversas, sobre vários assuntos. Quando novas
informações ligam-se à essas concepções, elas modificam ou ampliam essa rede por meio de
novos significados que se estabelecem, a partir de um determinado conceito, ou de um
conjunto deles.
Moreira e Masini (1982, p.8) definem estrutura cognitiva como “uma estrutura
hierárquica de conceitos que são abstrações da experiência do indivíduo.” Isso sugere que os
conceitos dentro da mente humana estão organizados em categorias quanto a sua amplitude
em determinado campo.
3 Aprendizagem significativa
Aprender significativamente é organizar informações e integrá-las aos conceitos já
assimilados, preexistentes na estrutura cognitiva, chamados, pelo autor, de conceitos
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subsunçores. Existe, portanto, uma informação que seja mais geral e abrangente e que a ela
ligam-se as demais, de modo a incrementar mais significados.
Nesse processo, o autor também destaca a importância da linguagem nos processos de
ensino e de aprendizagem, pois é ela quem promove o intercâmbio de ideias e conceitos os
quais são a base da Aprendizagem Significativa.
Ausubel (1980) evidencia que o fator isolado mais importante que influencia a
aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. O papel do professor, neste cenário, é descobrir
isso e ensiná-lo de acordo. Assim, a partir de conhecimentos prévios, o autor indica que é
possível mapear a estrutura cognitiva do estudante para possibilitar o planejamento de práticas
que favoreçam a ocorrência da aprendizagem significativa.
Os conhecimentos prévios, também chamados por Ausubel de conceitos subsunçores,
servem como âncoras, na formação ou ampliação de conceitos, que possibilitam relacionar
novas informações aos conhecimentos já existentes na estrutura cognitiva do indivíduo. Para
Moreira (2012, p.4),
4 Aprendizagem mecânica
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A importância do professor, nesse momento, é crucial, pois será ele o responsável por
induzir o aluno a resgatar os conceitos subsunçores existentes em sua estrutura cognitiva. Do
mesmo modo que o material disponível ao aluno precisa ajudá-lo a fazer este resgate. Assim,
o novo conceito interage com o subsunçor de modo a ser assimilado por ele.
7 Processo de aprendizagem
Durante o processo de aprendizagem significativa, há a interação de uma ideia-âncora
com uma nova, seguida de uma assimilação de conceitos. O esquema gráfico, apresentado na
Figura 1, o sintetiza o que acontece na estrutura cognitiva nesse processo.
O produto entre o novo conceito e o subsunçor facilita futuras ancoragens, pois ele não
inibe seu subsunçor, muito pelo contrário, o torna mais amplo e capaz de reter novas
informações, tornando a estrutura cognitiva do indivíduo ainda mais complexa e relacionada.
Em sua tese, Aragão (1976, p.22) trata da Teoria da Aprendizagem Significativa e
afirma que
Um processo de aprendizagem significativa tem início quando uma
expressão simbólica, que é apenas potencialmente significativa, isto é, não
tem ainda significado real para o aluno, é a ele apresentada. Esta expressão é
então relacionada de modo substantivo (e consequentemente interage) com
as ideias relevantes na estrutura cognitiva do aluno. No final do processo,
surge o produto da interação que constitui o significado da expressão
simbólica aprendida (um conteúdo cognitivo diferenciado) e que surgirá
sempre que a expressão for reapresentada.
Para acionar os conhecimentos prévios relevantes, Ausubel (1963) sugere que sejam
utilizados materiais potencialmente significativos, denominados por ele por organizadores
prévios.
Em termos gerais, um organizador prévio pode ser, segundo Moreira (2012, p.11):
“um enunciado, uma pergunta, uma situação-problema, uma demonstração, um filme, uma
leitura introdutória, uma simulação, ou seja, um método que aproxime o indivíduo do
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conceito subsunçor adequado para ancorar um novo conceito.” Desse modo, a aprendizagem
significativa torna-se mais propensa a acontecer.
O principal papel do organizador prévio é influenciar como uma “ponte cognitiva”
possibilitando relacionar o conhecimento que o indivíduo já possui e aqueles que ele deve
apreender.
Ausubel (1963) indica que existem dois modos para se aprender significativamente: a
aprendizagem receptiva e por descoberta. Na aprendizagem receptiva, o aluno recebe as novas
informações em sua forma final e as relaciona aos conceitos subsunçores existentes. Nesse
caso, apesar de esta ser a forma de ensino mais comum à aprendizagem mecânica, Moreira
(1997, p.9) relata que
Para Ausubel, o ser humano tem a grande capacidade de aprender sem ter que
descobrir. Exceto em crianças pequenas, aprender por recepção é o mecanismo
humano por excelência para aprender. As novas informações, ou os novos
significados, podem ser dados diretamente, em sua forma final, ao aprendiz.
Assim, a aprendizagem por recepção deve ser propiciada somente quando o professor
tem certeza que o estudante possui conceitos subsunçores adequados, que estejam presentes
em sua estrutura cognitiva.
Por outro lado, na aprendizagem por descoberta, o aluno é levado a descobrir o
próprio conhecimento. As condições para sua ocorrência são as mesmas que para a ocorrência
de qualquer outra aprendizagem com significado. Moreira (1985, p.63) destaca que “após a
descoberta em si a aprendizagem só é significativa se o conteúdo descoberto ligar-se a
subsunçores relevantes já existentes na estrutura cognitiva.”
Assim, independente se a aprendizagem ocorra por recepção ou por descoberta, ela
somente será significativa caso as novas informações possam interagir com conceitos
subsunçores preexistentes, ampliando ou produzindo novos conceitos que serão assimilados à
estrutura cognitiva dos estudantes.
Ausubel (1963) também indica que na aprendizagem significativa, a nova informação
é armazenada por um processo que chama de subsunção, que ocorre em dois estágios:
− Princípio da Assimilação: a nova informação, potencialmente significativa (a), é
assimilada pela interação com conceitos subsunçores (A) existentes na estrutura
cognitiva, gerando um conceito subsunçor modificado, que consiste no produto
interacional entre eles (A’a’). Segundo Ausubel, este produto é temporariamente
dissociável nas ideias do subsunçor modificado (A’) e da nova informação modificada
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que um mapa conceitual nunca deve ser dado pronto ao aluno, muito pelo contrário, ele deve
ser o autor do próprio diagrama, pois, segundo Moreira (1980, p.475), “qualquer mapa
conceitual deve ser visto como apenas uma das possíveis representações de uma certa
estrutura conceitual.” Como exemplo, apresenta-se na Figura 3, um mapa conceitual sobre
características de um triângulo retângulo.
Ausubel afirma que há evidências de Aprendizagem Significativa quando existe
compreensão genuína, ou seja, quando existe “a posse de significados claros, precisos,
diferenciados e transferíveis” (Moreira e Masini, 1982, p.14-15).
Os autores afirmam que para analisar se houve realmente a aprendizagem significativa
no ensino escolar, Ausubel propõe:
− Que sejam realizadas atividades com solução de problemas, indicando este método
como um procedimento válido e prático.
− Solicitar aos estudantes o desenvolvimento de tarefas que visem diferenciação de
ideias relacionadas ao conceito abordado ou que visem identificar elementos
importantes.
− Propor tarefas sequencialmente dependentes que não possam ser executadas sem o
perfeito domínio do precedente.
Figura 3: Mapa conceitual cuja pergunta focal foi: quais são as características de um triângulo retângulo?
Fonte: Autores
8 Considerações finais
Conforme indica Aragão (1976, p. 9), a questão fundamental da Teoria de Ausubel remete à:
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Referências
AUSUBEL, D. P. The Psychology of meaningful verbal learning. New York: Grune and
Stratton, 1963.
MOTA, M.B., BRAICK, P.R. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo:
Moderna, 2002. 592p.
MOREIRA, M. A. Ensino e Aprendizagem: enfoques teóricos. São Paulo: Moraes, 1985. 94p.