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Rev. bras. alerg. imunopatol.


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ARTIGO DE REVISÃO

Síndrome de DiGeorge: Aspectos clínico-imunológicos e manejo

DiGeorge Syndrome: Clinical - immunologic aspects and management

Karina M. de Melo1, Beatriz T. Costa Carvalho2

Resumo Abstract
Objetivo: revisar a literatura sobre a Síndrome de DiGeor- Objective: To review literature about DiGeorge Syndrome
ge (SDG) com ênfase para as principais manifestações clínicas (DGS) emphasizing on main clinical manifestations, diagnostic,
e abordagens diagnóstica e terapêutica. and therapeutic boarding.
Fonte de dados: Literatura médica publicada sobre o as- Data sources: Medical literature published on the last 10
sunto nos últimos dez anos utilizando PubMed, MEDLINE e li- years, identified using PubMed, Medline and specialized medi-
vros médicos especializados. Palavras chave usadas na pesqui- cal books. Keywords used: DiGeorge syndrome, FISH, Velo-
sa: Síndrome de DiGeorge, FISH, síndrome Velo-cárdio-facial, -cardio-facial-syndrome, primary immunodeficiency, recurrent
imunodeficiência primária, infecções recorrentes. infections.
Síntese de dados: A SDG é distúrbio congênito resultante Summary of the findings: DGS is a congenital disturb re-
da migração anormal das células embrionárias da terceira e sultant of abnormal migration of embryonic cells into the third
quarta bolsas faríngeas, levando a hipo ou aplasia do timo, de- and fourth pharyngeal pouches, taking to hipo or aplasy of the
feitos da paratireóide, arco aórtico e imunodeficiência celular. thymus, defects of the parathyroid glands, aortic arch and cel-
Além de hipocalcemia neonatal e dismorfismos faciais tipicos, lular immunodeficiency. Apart from neonatal hypocalcemia and
as alterações observadas ocorrem principalmente nos sistemas typical face dysmorphism, the observed alterations occur main-
imunológico e cardiovascular. Os principais defeitos cardíacos ly in the immunologic and cardiac system. The main cardiac
relatados são: Anomalia conotruncal, interrupção do arco aórti- defects are: conotruncal anomaly, interrupted aortic arch and
co e Tetralogia de Fallot. Quanto às anormalidades do sistema tetralogy of Fallot. Concerning to the abnormalities of the im-
imunológico, os pacientes podem ser assintomáticos ou cursar munologic system, the patients can be asymptomatic or pre-
com defeitos graves de células T, dependendo do grau de com- sent serious defects of T cells, depending on the degree of the
prometimento tímico. injury of the thymus.
Conclusões: O diagnóstico, após suspeição clínica deve ser Conclusions: The diagnosis, after clinical suspicion must be
confirmado pelo teste FISH. O manejo destes pacientes visa confirmed by the FISH. The management of these patients
principalmente o controle das infecções de repetição, correção mainly aims the control of the recurrent infections, correction
dos distúrbios cardíacos e controle de co-morbidades. O trata- of the cardiac defects and control of co-morbidities. The defini-
mento definitivo nos casos mais graves é o transplante tímico, tive treatment in the most serious cases is thymus transplan-
com resultados promissores. tation, with promising results.
Rev. bras. alerg. imunopatol. 2007; 30(2):47-50 imunodefi- Rev. bras. alerg. imunopatol. 2007; 30(2):47-50 primary
ciência primária, imunodeficiência celular, tetralogia de Fallot, immunodeficiency, cellular immunodeficiency, Fallot’s
dismorfismos faciais, síndrome velo-cárdio-facial. tetralogy, facial dismorphisms, velo-cardio-facial syndrome.

1. Pós-graduanda da Disicplina de Alergia, Imunologia Clínica e SDG é classificada em total ou completa e parcial. Na SDG
Reumatologia, Departamento de Pediatria da Universidade completa, que representa menos que 1% dos casos, há di-
Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. minuição importante de células T, os pacientes cursam
2. Professora Adjunta da Disicplina de Alergia, Imunologia Clínica com infecções generalizadas, por germes oportunistas, e
e Reumatologia, Departamento de Pediatria da Universidade
altos índices de mortalidade. Na SDG parcial, a contagem
Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina.
de células T é normal, com resposta linfoproliferativa variá-
Artigo submetido em 06.02.2007, aceito em 24.04.2007. vel4-8.
A deleção no braço longo do cromossomo 22 (del
Introdução 22q11) na banda 1 da região 1, tem sido apontada como a
A Síndrome de DiGeorge (SDG) é um distúrbio congêni- principal causa da SDG. Cerca de 90% dos portadores a-
to resultante de defeito embrionário das células da crista presentam uma mutação nova, entretanto, em aproxima-
neural das terceira e quarta bolsas faríngeas que vão dar damente 8% dos casos há um padrão de herança familiar7.
origem ao timo, glândulas paratireóides e parte do arco Com o emprego da técnica de hibridização in situ por fluor-
aórtico1,2. A primeira descrição foi feita por Ângelo DiGeor- escência (FISH) tem se demonstrado que 90% a 95% dos
ge em 1965 ao relatar quatro pacientes com hipoparati- pacientes apresentam a deleção do cromossomo 22, cuja
reoidismo, aplasia tímica e imunodeficiência celular3,4. ocorrência estimada é de 1: 3000 nascidos vivos1,5.
A SDG está entre as imunodeficiências primárias do gru- Alguns estudos demonstram que outros fatores terato-
po intitulado: Outras síndromes bem definidas, com gênicos podem estar envolvidos na ocorrência dessa sín-
defeito predominante de células T. O espectro clínico da drome, como o alcoolismo materno e o Diabetes gestacio-
síndrome depende do grau de comprometimento tímico. A nal1.

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Os genes possivelmente relacionados ou candidatos ao -nascidos e é um forte preditor da deleção 22q11. Traba-
defeito são: Tbx1, Crkol e UFD1L. O gene Tbx1, que codi- lhos recentes têm mostrado que os baixos níveis séricos de
fica uma família de fatores de transcrição (T-box), tem sido cálcio causando tetania e convulsões também podem ocor-
o mais estudado. Em experimentos que utilizaram camun- rer em pacientes adultos sem doença prévia. Desta forma
dongos com mutações neste gene houve alta incidência de sugere-se que a hipocalcemia primária em qualquer idade
defeitos de arco aórtico, além de alterações faciais e pala- pode ser considerada como fator de risco para a deleção5.
tinas6,7. O hipoparatiroidismo tem manifestações tardias e atinge
aproximadamente 50% dos pacientes. As outras alterações
Aspectos Clínicos descritas são as deficiências de hormônio de crescimento e
os distúrbios de tireóide, estes últimos freqüentemente as-
As manifestações clínicas dos pacientes com SDG po- sociados a um componente auto-imune1.
dem ser observadas ainda no período neonatal, sejam os
dismorfismos faciais, a tetania hipocalcêmica, ou mesmo 6- Alterações neurológicas e comportamentais
em decorrência dos distúrbios cardíacos. Nos lactentes e Várias anormalidades no sistema nervoso central têm
crianças maiores os defeitos do sistema imunológico tor- sido descritas, porém há dificuldade de se relacionar os
nam-se evidentes. achados das alterações estruturais com o quadro clínico.
Ao se analisar a atividade cerebral por ressonância mag-
1- Dismorfismos crânio faciais: nética em oito pacientes, demonstrou-se que estes apre-
Os pacientes com Síndrome de DiGeorge possuem algu- sentavam aumento da atividade no giro supramarginal es-
mas características faciais que permitem reconhecê-los co- querdo em relação ao grupo controle. O raciocínio abstrato
mo: hipertelorismo, inclinação antimongolóide dos olhos, e conceitual, além de cálculos matemáticos, freqüentemen-
orelhas chanfradas e de implantação baixa e micrognatia4. te é afetado, sugerindo que possa haver também um defei-
Além disso, têm-se a associação de deformidades de cavi- to nas sinapses nervosas5.
dade oral como as fendas palatinas, totais ou parciais1. A esquizofrenia é um exemplo citado entre os distúrbios
psiquiátricos, que também podem acometer os pacientes
2- Malformações de vias aéreas com SDG, especialmente nos adolescentes e adultos jo-
A insuficiência velofaringeana, que é definida como o fe- vens5.
chamento incompleto da válvula velofaringeana durante a
fala, ocorre em até 80% dos casos. Os dismorfismos de 7- Distúrbios de linguagem
vias aéreas incluem fístula traqueoesofágica, redução de Os pacientes com SDG comumente têm atraso no de-
anéis traqueais, tornando-a assim mais curta, laringomalá- senvolvimento da linguagem, decorrente de alterações
cia, traqueomalácia e broncomalácia1,7. neurológicas ou defeitos anatômicos, como a fenda palati-
na ou insuficiência velofaringeana1.
3- Cardiopatias Após a aquisição da fala, alguns pacientes com SDG po-
Quanto aos defeitos cardíacos, sabe-se que aproximada- dem apresentar dificuldade de articulação das palavras ou
mente 75-80% dos pacientes com deleção 22q11 têm al- disfunções vocais, como voz anasalada e rouquidão5.
gum tipo de doença cardíaca ao nascimento. Dentre as
cardiopatias congênitas, citam-se as malformações cono- 8- Doença auto-imune e neoplasia
truncais, Tetralogia de Fallot, interrupção de arco aórtico, As imunodeficiências celulares de um modo geral são
truncus arteriosus e defeitos do septo ventricular1,9,10. O comumente relacionadas a maior risco para o desenvolvi-
mecanismo dessa associação é a presença de defeitos na mento de doenças auto-imunes e neoplasias. Na SDG, os
migração e interação das células da crista neural durante a linfomas de células B são as neoplasias mais comumente
formação embrionária da árvore aorticopulmonar11. descritas, principalmente em pacientes com defeito grave
Nos pacientes com Síndrome de Digeorge, os defeitos de célula T4,12.
do arco aórtico e a Tetralogia de Fallot são os mais relata- Quanto às doenças auto-imunes, citopenias auto-imunes
dos, numa freqüência de 41% e 29%, respectivamente. As e artrite reumatóide juvenil (ARJ) podem ocorrer em 20 a
alterações do arco aórtico incluem: arco aórtico cervical, 100 vezes mais que na população geral4. É comum o com-
duplicado, dextroposto ou com origem na artéria subclávia. prometimento de várias articulações o que pode tornar
A ressonância magnética tem sido fundamental para o mais difícil o manejo destes pacientes. Outro fator de rele-
diagnóstico destas alterações1, 9. vância é que a ARJ parece ser mais freqüente nos indiví-
Diversos especialistas têm sugerido que todos os paci- duos com deficiência de IgA5.
entes com Tetralogia de Fallot, truncus arteriosus e Inter- Anemia hemolítica auto-imune, púrpura trombocitopê-
rupção de arco aórtico tipo B devam ser submetidos a nica idiopática (PTI), psoríase, vitiligo e enteropatia auto-
triagem para microdeleção cromossômica 22q11. Alguns imune são descritas em várias faixas etárias, com predomí-
trabalhos relatam ainda a pesquisa de SDG ou del22q11 nio de PTI e artrite reumatóide (AR) em pacientes adultos9.
ainda intra-útero, naqueles pacientes com defeitos cardí-
acos, associados ou não a defeitos urológicos1. 9- Sistema Imunológico:
Disfunções do sistema imunológico são descritas em até
4- Malformações renais 80% dos pacientes e embora haja variabilidade na apre-
As alterações renais podem ocorrer em aproximadamen- sentação clínica, a Síndrome de DiGeorge é classicamente
te 30 % dos casos. Hidronefrose, agenesia renal e displasia definida como uma imunodeficiência mediada por células.
renal multicística são algumas das anomalias descritas. Caracterizada por baixo número de linfócito T, baixa res-
Desta forma a investigação de malformações de trato uri- posta a mitógenos e incapacidade de reagir a enxerto alo-
nário deve ser realizada como parte da investigação diag- gênico de pele, além de maior suscetibilidade a infecções
nóstica10. por vírus e fungos4.
Os pacientes são classificados de acordo com a gravi-
5- Endocrinopatias e alterações metabólicas dade das alterações imunológicas em: SDG completa e
As principais disfunções endocrinológicas são decorren- parcial. Na forma completa de SDG o número de linfócitos
tes de hipo ou aplasia de paratireóides, como a hipocalce- T é inferior a 1% a 2% dos leucócitos totais e na SDG par-
mia, hipomagnesemia e a elevação dos níveis de fósforo. A cial o número de células T é normal, com resposta adequa-
hipocalcemia chega a ocorrer em 17% a 60% dos recém- da a linfoproliferação por mitógenos8,13.
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Em pacientes com disfunção importante do sistema imu- para a realização do teste FISH, de acordo com as reco-
nológico podem ocorrer infecções graves por adenovírus, mendações abaixo1.
rotavírus e parainfluenzae, assim como citomegalovirose
disseminada, reação enxerto versus hospedeiro e linfoma Recomendações atuais para realização de teste FISH
de células B4. As infecções de trato respiratório sejam vi- para del22q11:
rais e prolongadas ou secundárias a bactérias, têm corre-
lação com os defeitos de células T. Em muitos casos pode 1- Feto, Recém nascido ou lactente com:
haver infecções de repetição, sem comprometimento celu- • - Tetralogia de Fallot
lar, mas decorrente de defeitos anatômicos regionais, prin- • - Truncus arteriosus
cipalmente de vias aéreas5. • - Interrupção de arco aórtico
Felizmente trabalhos recentes demonstram que os dis- • - Anomalia isolada de arco aórtico
túrbios celulares são na maioria das vezes de intensidade • - Defeito de septo ventricular perimembranoso com
leve a moderada, e que grande parte dos pacientes tem anomalia de arco aórtico.
função tímica normal. Ao nascimento os pacientes podem
ter número reduzido de células, mas com resposta signifi- 2- Considerar o teste em criança com defeito de septo
cativa à estimulação com mitógenos e antígenos, além de ventricular perimembranoso associado a qualquer outra
produção normal de anticorpos a antígenos vacinais4. característica clínica de del22q11;
Os estudos realizados para avaliar a resposta à imuniza- 3- Realizar o teste em feto, recém-nascido, lactente ou
ção com vírus vivo inativado (sarampo, caxumba e rubéo- criança maior com outros tipos de cardiopatia congênita
la) em pacientes com SDG parcial, não mostraram aumen- e fenótipo de del22q11;
to de efeitos adversos, com bons resultados quanto à efi- 4- Realizar o teste em qualquer criança ou adulto com
cácia e segurança da vacinação, possibilitando assim, certo uma das lesões cardíacas de alto risco e fenótipo de
controle quanto às infecções virais4,14. Entretanto, estes del22q11.
pacientes comumente têm baixa produção de anticorpos
após imunização contra antígenos polissacarídicos4. Avaliação do sistema imunológico
Os critérios definidos para a administração segura de Deve ser realizada da seguinte maneira: a) Hemogra-
vacinas com vírus vivo inativado são: contagem de células ma: Contagem do número absoluto de linfócitos; b) Quan-
T CD4+ igaul ou acima de 500 cels/mm³ e resposta ade- tificação da população e subpopulações de células T
quada a mitógenos; embora não haja relato de reações (CD3+, CD4+ e CD8+); c) Avaliação funcional de linfócitos
adversas graves nos indivíduos com baixo número de célu- T in vitro pela estimulação com mitógenos como a fitohe-
las T11. A produção de anticorpos geralmente é normal, no maglutinina e a Conavalina ou antígenos como Candida,
entanto a deficiência de IgA é freqüente nesses pacientes, tétano, difteria; d) Dosagem de imunoglobulinas (IgA, IgM,
sendo relatada em até 10% dos casos1. IgG). É normal na maioria dos pacientes.
Cerca de 25% dos pacientes adultos com SDG cursam
com infecções de repetição. Em estudo recente com 22 pa- Avaliação do sistema cardiovascular
cientes com SDG, todos apresentavam infecções sugesti- Nos casos suspeitos de del22q11 é essencial a avaliação
vas de defeitos de resposta humoral como otites, sinusites do sistema cardiovascular com radiografia de tórax, eletro-
e pneumonias; e apesar da contagem diminuída de linfóci- cardiograma e ecocardiograma. Naqueles pacientes com
tos T CD3+ total e CD4+, a função estava normal em 86% quadro sugestivo de defeito do arco aórtico está indicada à
dos casos3, 5. realização de ressonância magnética1.
As taxas de mortalidades são altas quando há defeito
grave de célula T, principalmente nos casos de aplasia do Acompanhamento dos pacientes
timo, sendo indicado nestes casos o transplante de células
tímicas, com sobrevida em torno de 50%, considerável- Nas crianças que apresentam sintomas no período neo-
mente superior aos pacientes sem tratamento que é de natal, a reposição de cálcio e a correção dos defeitos car-
apenas 27%15. O transplante tímico é considerado um tra- díacos são as medidas iniciais. Deve-se estar atento tam-
tamento eficaz e bem tolerado nos pacientes com SDG bém para o exame do palato, em busca de possíveis fen-
completa4,15. No trabalho de Markett et al, em que doze das.
pacientes foram submetidos a transplante de timo, os prin- Quanto às alterações cardíacas, a gravidade varia de
cipais efeitos adversos ocorreram três meses após, e os acordo com o defeito e o manejo destes pacientes requer
mais importantes foram: trombocitopenia, hipotireoidismo profissionais habilitados. As variações de temperatura,
e alopécia15. taquipnéia, os distúrbios hidro-eletrolíticos e metabólicos
contribuem para maior instabilidade cardíaca. De modo
Diagnóstico e manejo dos pacientes geral o tratamento definitivo é cirúrgico devendo ser reali-
zado nos primeiros dias de vida, após estabilização clínica
Identificação de casos suspeitos de del22q11 e hemodinâmica. O tratamento medicamentoso dos sinto-
A importância da identificação precoce dos pacientes mas de insuficiência cardíaca congestiva inclui restrição
com del22q11 deve-se às inúmeras co-morbidades asso- hídrica, digoxina e diuréticos16.
ciadas. Desta forma pode-se intervir mais precocemente O uso de vacinas de vírus vivo deve se possível, ser
nos casos com alteração de desenvolvimento e da fala. postergado até avaliação da resposta a anticorpos vacinais,
Possibilitar o aconselhamento genético, pois alguns estudos resposta normal a linfoproliferação a antígenos e contagem
relatam que 6% a 10% dos casos são de caráter familiar7. de células T CD8+ igual ou maior de 300 cels/mm³ nas
Nos casos de SDG completa, avaliar a indicação do trans- crianças com um ano de idade4.
plante tímico em tempo adequado. A avaliação de audição e da linguagem deve ser feita a
Embora mais difícil, pode-se suspeitar de um recém- partir de um a dois anos de idade, com intervenção preco-
-nascido com a deleção por alguns sinais clínicos, como ca- ce nas crianças com atraso da fala. Posteriormente, avalia-
racterísticas faciais; ocorrência de hipocalcemia, às vezes ções anuais para se investigar a presença de insuficiência
manifestada com convulsões de difícil controle; ausência velofaringeana, caracterizada por refluxo de líquidos pelo
de timo na radiografia de tórax e cardiopatias congênitas. nariz. Nos casos suspeitos está indicada a naso-endoscopia
Em virtude da grande associação de cardiopatia congê- ou vídeo-fluoroscopia para confirmar o diagnóstico, e o tra-
nita e deleção 22q11, foram estabelecidos alguns critérios tamento é eminentemente cirúrgico. A realização de tomo-
50 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 30, Nº 2, 2007 Síndrome de DiGiorge

grafia computadorizada de crânio deve ser considerada nas 7. Souza CF, Canabarro CB, Lammerhirt EM, Passaglia JP.
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DiGeorge syndrome candidate gene is inhibited by retinoic Fax: 0XX-11-5579.1590
acid. Int J Dev Biol 2006; 50: 55-61. e-mail: alergia.reumato@terra.com.br

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