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c) um conflito constitucional não afeta às particula-

ridades, senão às decisões políticas fundamentais;


NOÇÕES DE DIREITO d) o juramento de lealdade à constituição não vincula
a ser leal a todos os preceitos constitucionais, que
CONSTITUCIONAL podem mudar seguindo o modo de reforma pre-
visto – e um juramento em branco não tem sentido
-, senão que ao que vincula é às repetidas decisões
políticas fundamentais. (GARCÍA-PELAYO, 1999, p.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
86)

c) Sentido Jurídico
CONSTITUIÇÃO
Hans Kelsen se mostra como grande defensor da
Conceito
concepção jurídica, na sua obra “Teoria Pura do direi-
to”, onde diz que a Constituição não precisa buscar seu
Há, no mundo jurídico, diversos conceitos acerca da
fundamento na sociologia ou política, posto que é algo
Constituição. Nesse sentido, ver-se-á agora os principais
puramente jurídico. Assim, tem-se “uma das maiores
sentidos, conceitos ou concepções da Constituição, para
criticas ao positivismo, pois não se determina ‘o que é’
logo mais estudar as classificações da Constituição.
a Constituição, mas apenas se preocupa em buscar seu
fundamento”. (LAZARI, 2019, p. 87)
a) Sentido Sociológico
Outra grande contribuição do autor foi ter criado a
pirâmide de hierarquia das normas. Conforme se pode
Ferdinand Lassale, em seu livro ¿Qué es una Constitu-
observar, a Constituição se encontra no topo da pirâmide.
ción?, expõe a ideia de que uma Constituição só seria “le-
gítima se representasse o efetivo poder social, refletindo
PIRÂMIDE DE KELSEN
as forças sociais que constituem o poder. Caso isso não
ocorresse, ela seria ilegítima, caracterizando-se como
uma simples ‘folha de papel”. Assim, segundo a concei-
tuação de Lassale, a Constituição seria, então, “a somató-
ria dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade”.
(LENZA, 2018, p. 121)
Não obstante, para Lassale (2009, p. 39): “Onde a
constituição escrita não corresponder à real, irrompe
inevitavelmente um conflito que é impossível evitar e no
qual, mais dia menos dia, a constituição escrita, a folha
de papel, sucumbirá necessariamente, perante a consti-
tuição real, a das verdadeiras forças vitais do país”.

b) Sentido Político

Carl Schmitt pode ser considerado um grande entu-


siasta da concepção política. Assim, conforme visto por
José Afonso da Silva, Carl Schmitt prevê: “(...) só se refere
à decisão política fundamental (estrutura e órgãos do Es-
tado, direitos individuais, vida democrática etc.); as leis Acerca da pirâmide acima exposto, José Afonso da
constitucionais seriam os demais dispositivos inseridos Silva (2014, p. 41), traduzindo o pensamento de Kelsen,
no texto do documento constitucional, mas não contêm expõe que: “... constituição é, então, considerada norma
matéria de decisão política fundamental”. (2014, p. 40) pura, puro dever-ser, sem qualquer pretensão a funda-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Em outras palavras, são diferenças entre a Constitui- mentação sociológica, política ou filosófica. A concepção
ção e a Lei Constitucional: de Kelsen toma a palavra Constituição em dois sentidos:
no lógico-jurídico e no jurídico-positivo. De acordo com o
a) o procedimento de reforma é válido para as leis primeiro, Constituição significa norma fundamental hipo-
constitucionais, mas não para a constituição, pois tética, cuja função é servir de fundamento lógico trans-
uma reforma das decisões políticas fundamentais cendental da validade da Constituição jurídico-positiva,
não suportaria uma emenda, senão uma anulação que equivale à norma positiva suprema, conjunto de nor-
da constituição; mas que regula a criação de outras normas, lei nacional
b) as leis constitucionais podem suspender-se (esta- no seu mais alto grau”.
do de guerra), mas não a constituição como tota-
lidade, pois precisamente a razão de tal suspensão
é a manutenção da constituição como totalidade;

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d) Sentido Normativo a) Material: Para Rafael de Lazari: “é o conjunto de
normas que regulam as matérias tipicamente
Pelo sentido normativo, tem-se a ideia de Konrad constitucionais, a saber, a estrutura do Estado, a
Hesse, que tenta intermediar o sociologismo de Lassalle organização dos Poderes e os direitos e garantias
e o juridicismo de Kelsen, reconhecendo que o sentido fundamentais” (LAZARI, 2019, p. 91). Como exem-
jurídico não é absoluto. plo, pode-se relembrar os Objetivos da Constitui-
ção, dispostos no terceiro artigo da mesma.
e) Sentido cultural b) Formal: “normas constitucionais serão aquelas in-
troduzidas pelo poder soberano, por meio de um
No que tange à concepção cultural, acredita-se que processo legislativo mais dificultoso, diferenciado
a Constituição é um produto cultural, produzido pela e solene do que o processo legislativo de forma-
sociedade e que nela influi. Como destacado por J. H. ção das demais normas do ordenamento” (LENZA,
Meirelles Teixeira (1991, p. 58), trata-se de: “... uma for- 2009, p. 26).
mação objetiva de cultura que encerra, ao mesmo tempo,
elementos históricos, sociais e racionais, aí intervindo, II) Quanto à forma
portanto, não apenas fatores reais (natureza humana,
necessidades individuais e sociais concretas, raça, geo- Podem ser escritas ou não escritas.
grafia, uso, costumes, tradições, economia, técnicas), mas
também espirituais (sentimentos, ideias morais, políticas a) Escritas: são aquelas que são reduzidas a termo.
e religiosas, valores), ou ainda elementos puramente ra- Nesse sentido, como visto por Rafael de Lazari
cionais (técnicas jurídicas, formas políticas, instituições, (2019, p. 91): “aqui, as normas estão devidamen-
formas e conceitos jurídicos a priori), e finalmente ele- te codificadas, e comumente condensadas em um
mentos voluntaristas, pois não é possível negar-se o único documento. Tal característica não anula a
papel de vontade humana, da livre adesão, da vontade existência de normas constitucionais implícitas, na
condição de princípios, sobretudo considerando
política das comunidades sociais na adoção desta ou da-
os atuais tempo neoconstitucionais”.
quela forma de convivência política e social, e de organi-
b) Não escritas: São aquelas baseadas em costumes
zação do Direito e do Estado”.
ou jurisprudência, não havendo previsão reduzida
à termo, como, in verbis, a Constituição da Inglater-
#FicaDica ra. Em outras palavras, ocorre: “Quando as normas
Concepção sociológica (Ferdinand Lassalle): a não estão em texto único, mas sim em costumes,
Constituição deve representar a soma dos fato- jurisprudência e dispositivos de natureza constitu-
cional esparsos. É fundamental ressaltar que esta
res reais de poder, sob pena de se converter em
característica não impede que existam preceitos
“mera folha de papel”
constitucionais escritos. A questão é que não estão
Concepção política (Carl Schmitt):a Constituição
eles condensados em um documento unificado”
propriamente dita somente será aquilo que de-
(LAZARI, 2019, p. 91)
corre de uma decisão política fundamental. O
que não for dessa decorrência serão meras Leis
III) Quanto à sistemática
Constitucionais.
Concepção jurídica (Hans Kelsen): Constituição
Podem ser reduzida, variada (legais) e codificada.
é aquilo que se situa no ápice do ordenamento
jurídico (documento hierarquicamente superior) a) Reduzidas: são aquelas previstas em somente um
Concepção normativa (Konrad Hesse): Consti- documento, como a Constituição do Brasil.
tuição é sinônimo de vinculação (por agentes b) Variadas: São aquelas previstas em vários docu-
públicos e privados) e estabilidade. mentos distintos, como várias “Constituições”.
Concepção cultural (Peter Häberle): Constitui- c) Codigicada: Aquela que se apresenta em forma de
ção é produto cultural, decorrente da atividade código.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

humana criadora. É uma mescla das concep-


ções anteriores. (LAZARI, 2019, p. 90) IV) Quanto à elaboração

Podem ser dogmáticas ou históricas.


Classificações das Constituições
a) Dogmáticas: Ocorre “quando elaborada por um
As Classificações das Constituições prevê etiqueta- órgão constituinte em determinado momento his-
mentos para as constituições, quais são: tórico, o que se reflete numa Constituição escrita e
sistematizada” (LAZARI, 2019, p. 97)
I) Quanto ao conteúdo b) Histórica: Ocorre “quando sua elaboração é lenta,
e ocorre de acordo com as transformações sociais,
Pode ser material ou formal. o que reflete numa Constituição costumeira, e não
escrita”. (LAZARI, 2019, p. 97)

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V) Quanto à origem VII) Quanto à dogmática

Podem ser promulgadas ou outorgadas. Pode ser ortodoxa ou eclética.

a) Promulgadas: são aquelas elaboradas mediante a) Ortodoxa: Também chamada de homogênea, é


assembleia constituinte, geralmente com partici- aquela que “resulta da consagração de uma só
pação do povo, como exemplo a CF/1988. ideologia, como o comunismo, por exemplo. Nas
Constituições ortodoxas, não há espaço para o
Nesse sentido: “(...) é quando elaborada por repre- pluralismo, ou ainda que haja, esta construção é
sentantes legítimos do povo, por meio de um órgão meramente desprovida de eficácia e conteúdo
constituinte. É decorrência de manifestação da soberania substancial” (LAZARI, 2019, p. 97)
popular, que credita um órgão competente a confiança b) Eclética: Também chamada de heterodoxa, plura-
(e, sobretudo, a legitimidade) para a elaboração de uma lista ou heterogênea, ocorre “quando almeja coa-
nova Lei Fundamental norteadora. No Brasil, as Consti- dunar diversas ideologias. O acordo por um tex-
tuições de 1891, 1934, 1946 e 1988 foram promulgadas”. to neste sentido pode resultar de compromissos
(LAZARI, 2019, p. 92) entre diversas forças (daí ser também chamada de
“Constituição compromissária”), como pode resul-
b) Outorgadas: São feitas pela vontade do governo, tar da natural formação miscigenada de um povo e
sem assembleia constituinte e participação do suas crenças, posicionamentos, ideologias etc. De
povo, sendo “fruto do autoritarismo, isto é, sem todo modo, quando existe em um território uma
qualquer participação do povo. As Constituições sociedade plural, o ideal é que as Constituições re-
de 1824, 1937, 1967 (mais EC nº 1/69) foram ou- flitam esta condição, respeitando e conjugando o
torgadas”. (LAZARI, 2019, p. 92) máximo de interesse, direitos e deveres possíveis”.
(LAZARI, 2019, p. 98)
VI) Quanto à estabilidade
VIII) Quanto à extensão
Podem ser imutáveis, rígidas, flexíveis, semirrígidas ou
super rígidas. Pode ser sintética ou analítica.

a) Imutável: A Constituição será imutável, permanen- a) Sintética: Também chamada de resumida, concisa
te ou intocável quando não prever nenhum pro- ou reduzida, ocorre quando o texto da Constitui-
cesso de alteração de suas normas, muito menos ção regular apenas questões básicas da organiza-
um órgão competente para fazê-las. Tem-se que ção do Estado. O grande exemplo é a Constituição
a imutabilidade não tem razão para existir ante as dos Estados Unidos da América, de 1787, até hoje
concepções contemporâneas democráticas. (LA- vigente.
ZARI, 2019, p. 93) b) Analítica: Cognominada também de prolixa, ocor-
b) Rígida: A Constituição será rígida quando somente re quando a Carta Magna regular minuciosamente
pode ser alterada mediante um processo legislati- várias questões sociais, como administração pú-
vo árduo e solene, devendo-se respeitar todas as blica, finanças públicas, tributação e orçamentos,
regras para a alteração. direitos e garantias fundamentais, etc. (LAZARI,
c) Flexível: Também chamada de plástica, é aquela 2019, p. 95)
que pode ser alterada sem qualquer processo le-
gislativo próprio, utilizando as vias comuns, como IX) Quanto à finalidade
exemplo os mesmos de uma Lei Ordinária.
d) Semirrígida: Também chamada de semi flexível, Pode ser liberal ou dirigente.
ocorre quando “a Constituição possui uma parte rí-
gida, a qual exige método dificultado de alteração, a) Liberal: Também chamada de defensiva, garantida,
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

e outra parte flexível, a qual exige método simpli- Constituição quadro ou negativa, ocorre quando
ficado de alteração tal como se procede para com a Constituição visa limitar o poder estatal assegu-
as leis”. (LAZARI, 2019, p. 94) rando direitos fundamentais individuais. Tais liber-
e) Super rígida: ocorre quando, muito embora se per- dades individuais serão utilizadas, exatamente, em
mita a alteração de alguns dispositivos constitu- oposição aos atos estatais, partindo do pensamen-
cionais por procedimento mais dificultoso, outros to que o mesmo Estado que é garantidor dos di-
sequer podem sofrer modificação, como exemplo reitos fundamentais, é também seu maior violador.
as cláusulas pétreas. Apesar de se encontrar quem (LAZARI, 2019, p. 95)
aponte a CF/88 como super rígida, acredita-se que b) Dirigente: Também chamada de social, ocorre
não, posto que até as cláusulas pétreas podem so- quando, além de liberdades individuais, consagrar
frer alterações, desde que seja para maximizar di- também programas, metas e linhas de direção para
reitos e jamais suprimi-los ou reduzi-los. (LAZARI, o futuro, a serem atingidas pelos Poderes. (LAZARI,
2019, p. 94) 2019, p. 95)

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X) Quanto à função Conforme artigo científico da lavra de Ênio Moraes da
Silva, “Para que o intérprete possa validar as suas conclu-
Pode ser provisórias ou definitivas. sões a respeito do alcance e sentido das normas cons-
titucionais, mister se faz admitir como soberana a regra
Nos termos da visão de Jorge Miranda (2003, p. 108): básica da supremacia da Constituição. Vale dizer, toda
chama-se de Pré-Constituição, Constituição provisória ou, e qualquer interpretação do texto constitucional somen-
sob outra ótica, Constituição revolucionária ao conjunto te terá validade se a Carta Magna for reconhecida como
de normas com a dupla finalidade de definição do regi- o documento jurídico de maior autoridade no ordena-
me de elaboração e aprovação da Constituição formal e mento jurídico brasileiro. Nesse caso, estamos tratando
de estruturação do poder político no interregno cons- de um postulado básico da ciência jurídica. “Postulado é
titucional, a que se acrescenta a função de eliminação um comando, uma ordem mesma, dirigida à todo aquele
ou erradicação de resquícios do antigo regime. Contra- que pretende exercer a atividade interpretativa. Os pos-
põe-se à Constituição definitiva ou de duração indefinida tulados precedem a própria interpretação, e se quiser, a
para o futuro como pretende ser a Constituição produto própria Constituição.”
final do processo constituinte. Adverte ainda, referido autor que “o postulado da su-
premacia da Constituição, portanto, garante, primeiro,
Quadro de classificação geral da Constituição Fe- o reconhecimento do texto constitucional como norma
deral de 1988 hierarquicamente superior sobre todas as demais normas
jurídicas e, segundo, que toda interpretação jurídica deve
Veja, a seguir, o quadro que contem a classificação iniciar-se pela Constituição e nunca a partir da própria lei
geral da Constituição Federal brasileira de 1988: ordinária, ou seja, a interpretação deve ser dar sempre de
cima para baixo e nunca de baixo para cima”. Para o Au-
tor, “esse escalonamento do ordenamento jurídico é pro-
Pois toda as normas constitucionais posição bem antiga, defendida e desenvolvida por Hans
Formal estão formalizadas num documento Kelsen, que colocava a Constituição como fundamento de
uno validade das demais normas jurídicas. Dizia ele: “Devido ao
caráter dinâmico do direito, uma norma vale porque e até
Este foi seu método de propagação ser produzida através de outra norma, isto é, através de ou-
Escrita
escolhido tra determinada norma, representando esta o fundamen-
to da validade para aquela. O escalonamento (stufenbau)
Democrática
Porque elaborada por uma do ordenamento jurídico – e com isso se pensa apenas
Assembleia Nacional Constituinte no ordenamento jurídico estatal único – pode ser repre-
sentado talvez esquematicamente da seguinte maneira:
Pois demanda procedimento de
Rígida o pressuposto da norma fundamental coloca a Constitui-
alteração qualificado ção na camada jurídico-positiva mais alta – tomando-se a
Constituição no sentido material da palavra – cuja função
Pois regula uma ampla gama de essencial consiste em regular os órgãos e o procedimento
Analítica
matérias da produção jurídica geral, ou seja, da legislação
Conclui Ênio Moraes da Silva que “o princípio da su-
Por conter uma série de institutos e premacia da Constituição é o primeiro e indispensável
Dirigente
programas de governo elemento a ser considerado em todo e qualquer pro-
cesso de interpretação das normas jurídicas. A aplica-
Pois elaborada num determinado ção desse postulado elementar deve encimar o trabalho
momento histórico, a saber, a desenvolvido pelo exegeta. “A supremacia da Consti-
Dogmática
Assembleia Nacional Constituinte, tuição é pressuposto de todo o Direito Constitucional
o que resultou na Carta de 1988 moderno, e deve orientar fundamentalmente toda a
interpretação do ordenamento jurídico constitucional e
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Eclética Por consagrar diversas ideologias infraconstitucional”.

Normativa Por ter valor jurídico DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS

Fonte: LAZARI, 2019, p. 100 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL DE 1988

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela


união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis-
trito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:

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I - a soberania; TRIPARTIÇÃO DE PODERES
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana; Art. 2º São poderes da União, independentes e harmô-
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
(Vide Lei nº 13.874, de 2019). Assim, o Estado brasileiro é marcado pela união in-
V - o pluralismo político. dissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o e separação dos poderes estatais, de modo que o legis-
exerce por meio de representantes eleitos ou direta- lativo, executivo e judiciário possam atuar em harmonia.
mente, nos termos desta Constituição.

São, portanto, princípios fundamentais da Constituição: EXERCÍCIOS COMENTADOS


A soberania, que consiste num poder político supre-
1. (CONSULPLAN – 2018) Em relação à eficácia e apli-
mo, independente na ordem internacional e não limitado
cabilidade das normas constitucionais, assinale a alterna-
a nenhum outro na esfera interna. É a capacidade do país
tiva INCORRETA:
editar e reger suas próprias normas e seu ordenamento
jurídico.
a) As normas constitucionais de eficácia plena são susce-
A cidadania, condição da pessoa pertencente a um
tíveis de aplicação sem solução de continuidade.
Estado, dotada de direitos e deveres. É o status de cida-
b) As normas definidoras dos direitos e garantias fun-
dão inerente a todo jurisdicionado que tem direito de
damentais têm aplicação diferida, e não aplicação ou
votar e ser votado.
execução imediata como as normas programáticas.
A dignidade da pessoa humana, valor moral perso-
c) As normas constitucionais de eficácia limitada não
nalíssimo, inerente à própria condição humana. Funda-
são providas de aplicabilidade direta e imediata, vez
mento consistente no respeito pela vida e integridade do
que carecem de regulamentação para tornarem-se
ser humano e a garantia de condições mínimas de exis-
aplicáveis.
tência com liberdade, autonomia e igualdade de direitos.
d) As normas constitucionais de eficácia contida não são
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciati-
dotadas de aplicabilidade integral, já que há a possi-
va, pois é através do trabalho que o homem garante sua
bilidade de o alcance do preceito ser reduzido pela
subsistência e o crescimento do país. Por isso, a necessi-
legislação ordinária.
dade de se estabelecer a proteção deste importante di-
reito social. Por sua vez, a livre iniciativa consiste numa
Resposta: Letra B.
doutrina que defende a total liberdade para o exercício
Incorreta. Conforme
de atividades econômicas, sem qualquer interferência do
Art. 5º, § 1º, CF/88: as normas definidoras dos direitos
Estado.
e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Muito importante mencionar que os fundamentos ou
princípios fundamentais são diferentes dos objetivos da
2. (IESES – 2019) Marque a alternativa INCORRETA so-
Constituição, previstos no Art. 3º, CF:
bre os princípios fundamentais da Constituição Federal
de 1988:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Repú-
blica Federativa do Brasil:
a) Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
II - garantir o desenvolvimento nacional;
da Constituição Federativa da República do Brasil de
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
1988.
as desigualdades sociais e regionais;
b) A República Federativa do Brasil, formada pela união
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Fe-
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
deral, constitui-se em Estado democrático de direito.
mas de discriminação.
c) São Poderes da União, independentes e harmônicos
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

entre si, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Mi-


ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
nistério Público.
d) A República Federativa do Brasil buscará a integração
O Estado brasileiro é democrático porque é regido
econômica, política, social e cultural dos povos da
por normas democráticas, pela soberania da vontade po-
América Latina, visando à formação de uma comuni-
pular, com eleições livres, periódicas e pelo povo, e de
dade latino-americana de nações.
direito porque pauta-se pelo respeito das autoridades
públicas aos direitos e garantias fundamentais, refletindo
a afirmação dos direitos humanos.

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Resposta: Letra C. c) liberal e preceitual.
Incorreta. Conforme d) promulgada e dogmática.
Art. 2º, CF: São Poderes da União, independentes e e) rígida e pretende ser nominal.
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Ju-
diciário. O MP não é um poder reconhecido na Consti- Resposta: Letra D.
tuição, mas sim um órgão autônomo e independente. A CF/88 é promulgada e dogmática, criada demo-
craticamente a partir de um sistema ideológico pré-
3. (VUNESP – 2018) De acordo com a doutrina existen- vio e fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional
te sobre eficácia e aplicabilidade das normas constitu- Constituinte.
cionais, são normas constitucionais de eficácia contida
aquelas que: 6. (CESPE - 2017) A respeito da evolução histórica do
constitucionalismo no Brasil, das concepções e teorias
a) no momento da sua entrada em vigor já estão aptas a sobre a Constituição e do sistema constitucional brasilei-
produzir todos os seus efeitos. ro, julgue o item a seguir. A CF goza de supremacia tanto
b) geralmente determinam a criação de órgãos ou atri- do ponto de vista material quanto do formal.
buem competências aos entes federativos.
c) por si só não são capazes de produzir todos os seus ( ) CERTO ( ) ERRADO
efeitos, necessitam de uma lei infraconstitucional.
d) têm aplicabilidade indireta, mediata e reduzida ou di- Resposta: Certo.
ferida, e vinculam o legislador infraconstitucional. Segundo Marcelo Alexandrino, “a supremacia formal
e) possuem aplicabilidade direta, imediata e possivel- decorre da rigidez constitucional, isto é, da existên-
mente não integral, com limitação da sua eficácia e cia de um processo legislativo distinto, mais laborioso,
aplicabilidade. para elaboração da norma constitucional. Uma norma
constitucional é dotada de supremacia formal pelo
Resposta: Letra E. fato de ter sido elaborada mediante um processo le-
Correta. As normas constitucionais de eficácia conti- gislativo especial, mais rígido, que a diferencia das de-
da têm aplicabilidade direta e imediata, mas possivel- mais leis do ordenamento”.
mente não integral. Embora tenham força de produzir Ainda pelo magistério do mesmo doutrinador, “a su-
todos os seus efeitos quando da promulgação poderá premacia material decorre do conteúdo da norma
haver a redução de sua abrangência e limitação ou constitucional. Uma norma constitucional é dotada de
restrição à eficácia e à aplicabilidade que pode se dar supremacia material em virtude da natureza do seu
por decretação do estado de defesa ou de sítio, além conteúdo, isto é, por tratar de matéria substancial-
de outras situações, por motivo de ordem pública, mente constitucional, que diga respeito aos elemen-
bons costumes e paz social. tos estruturantes da organização do Estado”.

4. (VUNESP – 2015) A atual Constituição Federal adota o Direitos e deveres individuais, coletivos, sociais;
Sistema de Tripartição de Poderes. A respeito desse tema, direito à nacionalidade e a cidadania e direitos po-
assinale a alternativa correta. líticos

a) Os Poderes da União são entre si independentes e Garantias constitucionais


harmônicos.
b) Os Poderes da União são interdependentes e harmô- Os direitos e deveres individuais e coletivos encon-
nicos entre si. tram-se elencados no art. 5º da Constituição.
c) Os Poderes da União são: o Executivo, o Legislativo e
o Moderador. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
d) Os Poderes Executivo e Judiciário são autônomos e de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
dependentes entre si. aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

e) O Poder Executivo centraliza as decisões políticas e do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran-
administrativas dos demais poderes. ça e à propriedade, nos termos seguintes:

Resposta: Letra A. O Princípio da igualdade entre homens e mulheres:


Art. 2º, CF estabelece que: São Poderes da União, in-
dependentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o I - homens e mulheres são iguais em direitos e obriga-
Executivo e o Judiciário. ções, nos termos desta Constituição;

5. (IBADE – 2018) A Constituição da República Federati- Princípio da legalidade e liberdade de ação:


va do Brasil de1988 pode ser classificada como:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
a) escrita e histórica. alguma coisa senão em virtude de lei;
b) sintética e semântica.

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Vedação de práticas de tortura física e moral, tra- Proteção do sigilo das comunicações:
tamento desumano e degradante:
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das co-
III - ninguém será submetido a tortura nem a trata- municações telegráficas, de dados e das comunicações
mento desumano ou degradante; telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
Liberdade de manifestação do pensamento e ve- fins de investigação criminal ou instrução processual
dação do anonimato, visando coibir abusos e não penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996).
responsabilização pela veiculação de ideias e práticas
prejudiciais: Liberdade de profissão:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo ve- XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
dado o anonimato; profissão, atendidas as qualificações profissionais que
a lei estabelecer;
Direito de resposta e indenização:
Acesso à informação:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional
ao agravo, além da indenização por dano material, XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
moral ou à imagem; resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
Liberdade religiosa e de consciência:
Liberdade de locomoção, direito de ir e vir:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos XV - é livre a locomoção no território nacional em
e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos
culto e a suas liturgias; da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de bens;
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva; Direito de reunião:
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem ar-
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a mas, em locais abertos ao público, independentemente
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alter- de autorização, desde que não frustrem outra reunião
nativa, fixada em lei; anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
Liberdade de expressão e proibição de censura:
Liberdade de associação:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artís-
tica, científica e de comunicação, independentemente XVII - é plena a liberdade de associação para fins líci-
de censura ou licença; tos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei,
Proteção à imagem, honra e intimidade da pessoa a de cooperativas independem de autorização, sendo
humana: vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a hon- dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deci-
ra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a in- são judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
denização pelo dano material ou moral decorrente de em julgado;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

sua violação; XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a


permanecer associado;
Proteção do domicílio do indivíduo: XXI - as entidades associativas, quando expressamen-
te autorizadas, têm legitimidade para representar seus
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém filiados judicial ou extrajudicialmente;
nela podendo penetrar sem consentimento do mora- Direito de propriedade e sua função social:
dor, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determina- XXII - é garantido o direito de propriedade;
ção judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência). XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

97
Intervenção do Estado na propriedade: aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desa- 12.527, de 2011).
propriação por necessidade ou utilidade pública, ou XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
por interesse social, mediante justa e prévia indeniza- do pagamento de taxas:
ção em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
Constituição; de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autorida- b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
de competente poderá usar de propriedade particular, para defesa de direitos e esclarecimento de situações
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se de interesse pessoal;
houver dano;
Princípio da proteção judiciária ou da inafastabili-
Pequena propriedade rural: dade do controle jurisdicional:

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judi-
em lei, desde que trabalhada pela família, não será ciário lesão ou ameaça a direito;
objeto de penhora para pagamento de débitos decor-
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre Segurança jurídica:
os meios de financiar o seu desenvolvimento;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
Direitos autorais: jurídico perfeito e a coisa julgada;

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de Direito adquirido é aquele incorporado ao patrimô-
utilização, publicação ou reprodução de suas obras, nio jurídico de seu titular, cujo começo do exercício
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; tenha termo pré-fixado ou condição pré-estabele-
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: cida inalterável, a arbítrio de outrem, nos termos
a) a proteção às participações individuais em obras do § 2º, do art. 6º, da Lei de Introdução às normas
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, do Direito Brasileiro.
inclusive nas atividades desportivas; Ato jurídico perfeito é a situação ou direito consu-
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econô- mado e definitivamente exercido, sem quaisquer
mico das obras que criarem ou de que participarem vícios ou nulidades, segundo a lei vigente ao tem-
aos criadores, aos intérpretes e às respectivas repre- po em que se efetuou.
sentações sindicais e associativas; Coisa julgada é a matéria submetida a julgamento,
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos indus- cuja sentença proferida transitou em julgado e
triais privilégio temporário para sua utilização, bem não cabe mais recurso, não podendo, portanto, ser
como proteção às criações industriais, à propriedade modificada.
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen- Tribunal de exceção:
volvimento tecnológico e econômico do País;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
Direito de herança: O juízo ou tribunal de exceção seria aquele criado ex-
clusivamente para o julgamento de um fato especí-
XXX - é garantido o direito de herança; fico já acontecido, onde os julgadores são escolhidos
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no arbitrariamente. A Constituição veda tal prática, pois
País será regulada pela lei brasileira em benefício do todos os casos devem se submeter a julgamento dos
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes juízos e tribunais já existentes, conforme suas compe-
seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”; tências pré-fixadas.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Direito do consumidor: Tribunal do Júri:

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
do consumidor; organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
Direito de informação, petição e obtenção de cer- b) o sigilo das votações;
tidão junto aos órgãos públicos: c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolo-
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públi- sos contra a vida;
cos informações de seu interesse particular, ou de in-
teresse coletivo ou geral, que serão prestadas no pra-
zo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas

98
Princípio da legalidade, da anterioridade e da re- Proibição de penas:
troatividade da lei penal:
XLVII - não haverá penas:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
nem pena sem prévia cominação legal; termos do art. 84, XIX;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar b) de caráter perpétuo;
o réu; c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
Princípio da não discriminação: e) cruéis.

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória Estabelecimentos para cumprimento de pena:
dos direitos e liberdades fundamentais;
Crimes inafiançáveis, imprescritíveis e insuscetí- XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos
veis de graça e anistia: distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade
e o sexo do apenado;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável
e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos Respeito à Integridade Física e Moral dos Presos:
da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insus- XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integrida-
cetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o de física e moral;
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terro-
rismo e os definidos como crimes hediondos, por eles Direito de permanência e amamentação dos filhos
respondendo os mandantes, os executores e os que, pela presidiária mulher:
podendo evitá-los, se omitirem; (Regulamento).
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a L - às presidiárias serão asseguradas condições para
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a que possam permanecer com seus filhos durante o pe-
ordem constitucional e o Estado Democrático. ríodo de amamentação;

Crimes inafiançáveis e
Extradição:
Crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça e
imprescritíveis LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu-
anistia
ralizado, em caso de crime comum, praticado antes
Racismo Prática de Tortura da naturalização, ou de comprovado envolvimento
Tráfico de drogas e em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na
Ação de grupos forma da lei;
entorpecentes
armados contra a ordem LII - não será concedida extradição de estrangeiro por
constitucional e o Estado Terrorismo crime político ou de opinião;
Democrático.
Crimes hediondos
Direito ao julgamento pela autoridade competente:
Princípio da intranscendência da pena:
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condena-
do, podendo a obrigação de reparar o dano e a decre-
Devido Processo Legal:
tação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
até o limite do valor do patrimônio transferido;
bens sem o devido processo legal;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Individualização da pena:
Contraditório e a ampla defesa:
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e ado-
LV - aos litigantes, em processo judicial ou adminis-
tará, entre outras, as seguintes:
trativo, e aos acusados em geral são assegurados o
a) privação ou restrição da liberdade;
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
b) perda de bens;
a ela inerentes;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
Provas ilícitas:
e) suspensão ou interdição de direitos;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos;

99
Presunção de inocência: Prisão civil:

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
em julgado de sentença penal condenatória; responsável pelo inadimplemento voluntário e ines-
cusável de obrigação alimentícia e a do depositário
Identificação criminal: infiel;

LVIII - o civilmente identificado não será submetido Habeas corpus:


a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas
em lei; (Regulamento). LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que al-
guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
Ação Privada Subsidiária da Pública: ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilega-
lidade ou abuso de poder;
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal; Mandado de Segurança:

A publicidade dos atos processuais e o segredo de LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
Justiça: proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, quando o responsá-
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos vel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
processuais quando a defesa da intimidade ou o inte- pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
resse social o exigirem; atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im-
Legalidade da prisão: petrado por:
a) partido político com representação no Congresso
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou Nacional;
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judi- b) organização sindical, entidade de classe ou associa-
ciária competente, salvo nos casos de transgressão mi- ção legalmente constituída e em funcionamento há
litar ou crime propriamente militar, definidos em lei; pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;
Comunicabilidade da prisão:
Mandado de Injunção:
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre
competente e à família do preso ou à pessoa por ele que a falta de norma regulamentadora torne inviável
indicada; o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobera-
Informação ao preso: nia e à cidadania;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os Habeas data:


quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
a assistência da família e de advogado; LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações re-
Identificação dos responsáveis pela prisão: lativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou
LXIV - o preso tem direito à identificação dos respon- de caráter público;
sáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; b) para a retificação de dados, quando não se prefira
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;


Relaxamento da prisão ilegal:
Ação Popular:
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada
pela autoridade judiciária; LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimô-
Garantia da liberdade provisória: nio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, sal-
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou vo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
sem fiança; ônus da sucumbência;

100
Assistência Judiciária: aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de
2008, DEC 6.949, de 2009, DLG 261, de 2015, DEC
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica inte- 9.522, de 2018).
gral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos; Sanando discussões sobre a hierarquia desses dispo-
sitivos, com a Emenda Constitucional n° 45 de 2004, as
Indenização por erro judiciário: normas de tratados internacionais sobre direitos huma-
nos passam a ser reconhecidas como normas de hierar-
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro ju- quia constitucional, porém, somente se aprovadas pelas
diciário, assim como o que ficar preso além do tempo duas casas do Congresso por 3/5 de seus membros em
fixado na sentença; dois turnos de votação.

Gratuidade de serviços públicos: Submissão à Jurisdição do Tribunal Penal


Internacional
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente po-
bres, na forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989) § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
a) o registro civil de nascimento; Internacional a cuja criação tenha manifestado ade-
b) a certidão de óbito; são. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e 2004).
habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania (Regulamento). O Brasil se submeteu expressamente à jurisdição do
Tribunal Penal Internacional, também conhecido por Cor-
Princípio da Celeridade Processual: te ou Tribunal de Haia, instituído pelo Estatuto de Roma e
ratificado em 20 de junho de 2002 pelo Brasil. A Emenda
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, Constitucional n° 45/2004, deu a esta adesão força cons-
são assegurados a razoável duração do processo e os titucional. O objetivo do TPI é identificar e punir autores
meios que garantam a celeridade de sua tramitação. de crimes contra a humanidade.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
DIREITOS SOCIAIS
Aplicabilidade das normas de direitos e garantias
fundamentais Os chamados direitos sociais são aqueles que visam
garantir qualidade de vida ou pelo menos, a melhoria de
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias suas condições através do bem-estar social e o pleno de-
fundamentais têm aplicação imediata. senvolvimento da personalidade. São meios de se aten-
Assim, todas as normas relativas aos direitos e garan- der ao princípio basilar da dignidade humana.
tias fundamentais são autoaplicáveis.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a ali-
Rol é exemplificativo mentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à ma-
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constitui- ternidade e à infância, a assistência aos desampara-
ção não excluem outros decorrentes do regime e dos dos, na forma desta Constituição (Redação dada pela
princípios por ela adotados, ou dos tratados interna- Emenda Constitucional nº 90, de 2015).
cionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte. Do direito ao trabalho

O rol dos direitos elencados no art. 5º da CF/88 não é Os direitos relativos aos trabalhadores podem ser de
taxativo, mas sim exemplificativo. Os direitos e garan- duas ordens:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

tias ali expressos não excluem outros de caráter cons-


titucional, decorrentes de princípios constitucionais, • Direitos individuais, previstos no art. 7º, CF;
do regime democrático, ou de tratados internacionais. • Direitos coletivos dos trabalhadores, previstos nos
arts. 9º a 11, CF.
Tratados e Convenções Internacionais de Direitos
Humanos Os direitos individuais dos trabalhadores são aque-
les destinados a proteger a relação de trabalho contra
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre uma profunda desigualdade, que resultaria da não-ob-
direitos humanos que forem aprovados, em cada servância de preceitos mínimos destinados a compati-
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por bilizar a função laboral com a dignidade e o bem-estar
três quintos dos votos dos respectivos membros, se- do trabalhador, este, parte hipossuficiente da relação
rão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluí- trabalhista.
do pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos

101
Art. º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, Participação nos lucros:
além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: XI - participação nos lucros, ou resultados, desvincu-
lada da remuneração, e, excepcionalmente, participa-
Proteção contra despedida arbitrária ou sem justa ção na gestão da empresa, conforme definido em lei;
causa:
Salário-família:
I - relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei com- XII - salário-família pago em razão do dependente do
plementar, que preverá indenização compensatória, trabalhador de baixa renda nos termos da lei; (Reda-
dentre outros direitos; ção dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).

Seguro-Desemprego: Jornada de Trabalho:

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego XIII - duração do trabalho normal não superior a oito
involuntário; horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada
a compensação de horários e a redução da jornada,
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS): mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
(Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943).
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
Jornada especial para turnos ininterruptos de
Salário mínimo: revezamento:

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente uni- XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado
ficado, capaz de atender a suas necessidades vitais bá- em turnos ininterruptos de revezamento, salvo nego-
sicas e às de sua família com moradia, alimentação, ciação coletiva;
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte
e previdência social, com reajustes periódicos que lhe Repouso (ou descanso) semanal remunerado
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vin- (DSR):
culação para qualquer fim;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente
Piso salarial: aos domingos;

V - piso salarial proporcional à extensão e à comple- Pagamentos de horas extras:


xidade do trabalho;
XVI - remuneração do serviço extraordinário supe-
Irredutibilidadade do salário: rior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;
(Vide Del 5.452, art. 59 § 1º).
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
convenção ou acordo coletivo; Férias remuneradas:

Proteção aos que percebem remuneração variável: XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
menos, um terço a mais do que o salário normal;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo,
para os que percebem remuneração variável; Licença à gestante:

Décimo Terceiro Salário ou Gratificação Natalina: XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

do salário, com a duração de cento e vinte dias;


VIII - décimo terceiro salário com base na remunera-
ção integral ou no valor da aposentadoria; Licença-paternidade:

Remuneração superior por trabalho noturno: XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

IX - remuneração do trabalho noturno superior à do Proteção da mulher no mercado de trabalho:


diurno;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, me-
Proteção do salário contra retenção dolosa: diante incentivos específicos, nos termos da lei;

X - proteção do salário na forma da lei, constituindo


crime sua retenção dolosa;

102
Aviso Prévio: Proibição de distinção do trabalho:

XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, XXXII - proibição de distinção entre trabalho ma-
sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; nual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos;
Redução dos riscos do trabalho:
Trabalho do menor:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou
insalubre a menores de dezoito e de qualquer traba-
Adicional por atividades penosas, insalubres ou lho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
perigosas: aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
XXIII - adicional de remuneração para as atividades
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
De 14 a 16 Só pode trabalhar na condição de
Aposentadoria: anos aprendiz.

XXIV - aposentadoria; De 16 a 18 É vedado o exercício de trabalho


anos noturno, perigoso ou insalubre.
Assistência aos filhos pequenos:
A partir de 18
Trabalho normal.
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes anos
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Igualdade ao trabalhador avulso:
Constitucional nº 53, de 2006).
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com
Reconhecimento das convenções e acordos coleti- vínculo empregatício permanente e o trabalhador
vos de trabalho: avulso

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos co- Empregados domésticos:


letivos de trabalho;
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos tra-
Proteção em face da automação: balhadores domésticos os direitos previstos nos incisos
IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII,
XXVII - proteção em face da automação, na forma da XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condi-
lei; ções estabelecidas em lei e observada a simplificação
do cumprimento das obrigações tributárias, principais
Seguro contra acidentes de trabalho: e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas
peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII,
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdên-
do empregador, sem excluir a indenização a que este cia social (Redação dada pela Emenda Constitucional
está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; nº 72, de 2013).

Ação trabalhista nos prazos prescricionais: Os Direitos Coletivos dos Trabalhadores “são aque-
les exercidos pelos trabalhadores, coletivamente ou no
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das re- interesse de uma coletividade” (LENZA, 2019, p. 2038) e
compreendem:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

lações de trabalho, com prazo prescricional de cinco


anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o li- Liberdade de Associação Profissional Sindical:
mite de dois anos após a extinção do contrato de tra- prerrogativa dos trabalhadores para defesa de seus inte-
balho; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº resses profissionais e econômicos.
28, de 2000). Direito de Greve: direito de abstenção coletiva e si-
multânea do trabalho, de modo organizado para defesa
Não discriminação: de interesses dos trabalhadores. Importante mencionar
que serviços considerados essenciais e inadiáveis à socie-
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício dade não podem ser paralisados totalmente para o exer-
de funções e de critério de admissão por motivo de cício do direito de greve. Ademais, o STF (2017) entende
sexo, idade, cor ou estado civil; que servidores que atuam diretamente na área de segu-
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante rança pública não podem entrar em greve em nenhu-
a salário e critérios de admissão do trabalhador porta- ma hipótese, por desempenharem atividade essencial à
dor de deficiência;

103
manutenção da ordem pública, e a manutenção da segu- III - de Presidente do Senado Federal;
rança e da paz social deve estar acima dos interesses de IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
determinadas categorias de servidores públicos. V - da carreira diplomática;
Direito de Participação Laboral: assegura a partici- VI - de oficial das Forças Armadas.
pação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela
dos órgãos públicos em que interesses profissionais ou Emenda Constitucional nº 23, de 1999).
previdenciários sejam objeto de discussão.
Direito de Representação na Empresa: Nos termos Naturalização
do art. 11, CF: nas empresas de mais de duzentos em-
pregados, é assegurada a eleição de um representante A naturalização é um meio derivado de aquisição da
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o nacionalidade. É o modo de aquisição secundária da na-
entendimento direto com os empregadores. cionalidade brasileira, permitida ao estrangeiro ou apá-
trida que preencher os requisitos.
DA NACIONALIDADE Também chamado de heimatlos, o apátrida é aquele
que não possui nenhuma nacionalidade, já o polipátrida
A nacionalidade é a condição de sujeito natural do é aquele que tem mais de uma nacionalidade.
Estado, que pode participar dos atos pertinentes à nação. A Lei nº 13.445/2017, que institui a Lei de Migração
A atribuição da nacionalidade se dá por dois critérios: trata de diversas questões acerca da nacionalidade e do
Jus solis: será brasileiro todo aquele nascido em ter- processo de naturalização.
ritório nacional; É vedada a diferenciação arbitrária entre brasileiros
Jus sanguinis: será brasileiro todo filho de nacional, natos e naturalizados.
mesmo nascido no exterior.
O Brasil adota, em regra, o critério do jus solis, mitiga- § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasi-
do por critérios do jus sanguinis. O art. 12 da Constituição leiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos
Federal elenca os direitos da nacionalidade, dividindo os nesta Constituição.
brasileiros em dois grandes grupos: os brasileiros natos
e os naturalizados. Portugueses:

Art. 12. São brasileiros: Aos portugueses com residência permanente no país
I - natos: serão atribuídos os mesmos direitos dos brasileiros, des-
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda de que haja reciprocidade.
que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam
a serviço de seu país; Art. 12
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe § 1º Aos portugueses com residência permanente no
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros,
República Federativa do Brasil; serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de salvo os casos previstos nesta Constituição (Redação
mãe brasileira, desde que sejam registrados em re- dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de
partição brasileira competente ou venham a residir 1994).
na República Federativa do Brasil e optem, em qual-
quer tempo, depois de atingida a maioridade, pela Perda da Nacionalidade:
nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 54, de 2007). § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do bra-
II - naturalizados: sileiro que:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença
brasileira, exigidas aos originários de países de língua judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
portuguesa apenas residência por um ano ininterrup- nacional;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

to e idoneidade moral; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:(Redação


b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residen- dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de
tes na República Federativa do Brasil há mais de quin- 1994).
ze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde a) de reconhecimento de nacionalidade originária
que requeiram a nacionalidade brasileira (Redação pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitu-
dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de cional de Revisão nº 3, de 1994).
1994). b) de imposição de naturalização, pela norma estran-
geira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro,
Cargos privativos do brasileiro nato: como condição para permanência em seu território ou
para o exercício de direitos civis; (Incluído pela Emen-
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: da Constitucional de Revisão nº 3, de 1994).
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;

104
Extradição, repatriação, deportação e expulsão Plebiscito: manifestação popular do eleitorado deci-
de acerca de uma determinada questão. Assim, em ter-
Todas essas medidas são instrumentos do Estado so- mos práticos, é feita uma pergunta à qual responde o
berano para enviar uma pessoa que se encontra refugia- eleitor. É uma consulta prévia à elaboração da lei.
da em seu território a outro Estado estrangeiro.
Referendo: manifestação popular, em que o eleitor
Segundo o Ministério da Justiça (2020), a extradição aprova ou rejeita uma atitude governamental, normal-
é um ato de cooperação internacional que consiste na mente uma lei ou projeto de lei já existente.
entrega de uma pessoa, acusada ou condenada por um
ou mais crimes, ao país que a reclama. Não haverá extra- Iniciativa Popular: é o direito de uma parcela da po-
dição de brasileiro nato. Também não será concedida ex- pulação (1% do eleitorado) apresentar ao Poder Legisla-
tradição de estrangeiro por crime político ou de opinião. tivo um projeto de lei que deverá ser examinado e vota-
A deportação será aplicada nas hipóteses de entrada
do. Os eleitores também podem usar deste instrumento
ou estada irregular de estrangeiros no território nacional
em nível estadual e municipal.
e a repatriação ocorre quando o clandestino é impedi-
do de ingressar em território nacional pela fiscalização
fronteiriça e aeroportuária brasileira. A expulsão consis-
Direitos Políticos Ativos: alistamento eleitoral
te em medida administrativa de retirada compulsória de
migrante ou visitante do território nacional, conjugada Consiste na capacidade de votar, participar de ple-
com o impedimento de reingresso por prazo determi- biscito e referendo, subscrever projeto de lei de inicia-
nado, configurado pela prática de crimes em território tiva popular e de propor ação popular e se dá através
brasileiro. do alistamento eleitoral, obrigatório para os maiores de
O banimento, que é a entrega de um brasileiro para dezoito anos e facultativo para os maiores de dezesseis e
julgamento no exterior, prática comum na época da dita- menores de dezoito, para os analfabetos e para os maio-
dura militar, é vedado pela Constituição. res de setenta anos.
São inalistáveis os estrangeiros e os conscritos du-
Idioma e símbolos nacionais: rante serviço militar obrigatório, ou seja, aqueles que se
alistaram no exército e foram convocados a prestar ser-
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da Re- viço militar.
pública Federativa do Brasil.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a Direitos Políticos Passivos: elegibilidade eleitoral
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po- Os direitos políticos passivos consistem na possibi-
derão ter símbolos próprios. lidade de ser votado, ou seja, na elegibilidade que é a
capacidade eleitoral passiva consistente na possibilidade
DIREITOS POLÍTICOS de o cidadão pleitear determinados mandatos políticos,
mediante eleição popular, desde que preenchidos os de-
Os Direitos Políticos são medidas assecuratórias da vidos requisitos.
participação do indivíduo na vida política e estrutural de
seu próprio Estado, garantindo-lhe a possibilidade de § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
acesso à condução da coisa pública e participação na I - a nacionalidade brasileira;
vida política. Abrangem o poder que qualquer cidadão
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
tem na condução dos destinos de sua coletividade, de
III - o alistamento eleitoral;
uma forma direta ou indireta, ou seja, sendo eleito ou
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
elegendo representantes junto aos poderes públicos.
V - a filiação partidária; Regulamento.
Cidadania e Nacionalidade: VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presiden-
Nacional é diferente de cidadão. A condição de nacio- te da República e Senador;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

nal é um pressuposto para a de cidadão. A cidadania em b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de
sentido estrito é o status de nacional acrescido dos direi- Estado e do Distrito Federal;
tos políticos, isto é, poder participar do processo gover- c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
namental, sobretudo pelo voto. Assim, a nacionalidade Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de
é condição necessária, mas não suficiente da cidadania. paz;
d) dezoito anos para Vereador.
Democracia Semidireta:
Inelegibilidades:
Nos termos do art. 14 da Constituição Federal a sobe-
rania popular é exercida pelo sufrágio universal, direto e A Constituição não menciona exaustivamente todas
secreto, com valor igual para todos. Ademais, estabelece hipóteses de inelegibilidade, apenas fixa algumas dei-
também os instrumentos de participação semidireta pelo xando à lei complementar o desdobramento dos casos.
povo. As hipóteses a serem previstas pela lei complementar

105
relacionam-se à proteção da “normalidade e legitimida- O Mandato Eletivo pode ser impugnado:
de das eleições contra a influência do poder econômico
ou abuso do exercício de função, cargo, ou emprego na § 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a
administração direta ou indireta”, devendo, outrossim, fi- Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da
xar os prazos de cessação das inelegibilidades. diplomação, instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude;
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de § 11 A ação de impugnação de mandato tramitará em
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da
proteger a probidade administrativa, a moralidade
lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
para exercício de mandato considerada vida pregres-
sa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou o
Suspensão e Perda dos Direitos Políticos
abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta (Redação dada pela A perda e a suspensão dos direitos políticos podem-se
Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994). dar, respectivamente de forma definitiva ou temporária.
Em regra: Ocorrerá a perda quando: houver cancelamento da
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. naturalização por sentença transitada em julgado e no
Há também a inelegibilidade derivada do casamento caso de recusa de cumprir obrigação a todos impos-
ou do parentesco com o Presidente da República, com ta ou prestação alternativa (é o caso do serviço militar
os Governadores de Estado e do Distrito Federal e com obrigatório). Por sua vez, A suspensão dos direitos po-
os Prefeitos, ou com quem os haja substituído dentro líticos se dá enquanto persistirem os motivos desta, ou
dos seis meses anteriores ao pleito. seja, enquanto não retoma a capacidade civil, o indivíduo
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do ti- terá seus direitos políticos suspensos; readquirindo-a,
tular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, alcançará, novamente o status de cidadão. Também são
até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da passíveis de suspensão os condenados criminalmente
República, de Governador de Estado ou Território, (com sentença transitado em julgado). Cumprida a pena,
do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja readquirem os direitos políticos; no caso de improbida-
de administrativa, a suspensão será, da mesma forma,
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito,
salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
temporária.
reeleição.

Quanto à Reeleição e desincompatibilização, a Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja
Emenda Constitucional nº 16 trouxe a possibilidade de perda ou suspensão só se dará nos casos de:
reeleição para o chefe dos Poderes Executivos federal, I - cancelamento da naturalização por sentença tran-
estadual, distrital e municipal. Ao contrário do sistema sitada em julgado;
americano de reeleição, que permite apenas a recondu- II - incapacidade civil absoluta;
ção por um período somente, no Brasil, após o período III - condenação criminal transitada em julgado, en-
de um mandato, o governante pode voltar a se candida- quanto durarem seus efeitos;
tar para o posto. IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os § 4º.
houver sucedido, ou substituído no curso dos manda-
tos poderão ser reeleitos para um único período sub-
sequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 16, de 1997). EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente
da República, os Governadores de Estado e do Distrito 1. (FCC – 2012) Considere os seguintes cargos:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos


mandatos até seis meses antes do pleito. I. Presidente da Câmara dos Deputados.
II. Presidente do Senado Federal.
Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos alguns III. Membro de Tribunal Regional Federal.
requisitos: IV. Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
São, dentre outros, cargos privativos de brasileiro nato os
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguin- indicados APENAS em:
tes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá a) I, II e III.
afastar-se da atividade; b) II e III.
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agre- c) I e II.
gado pela autoridade superior e, se eleito, passa- d) I e IV.
rá automaticamente, no ato da diplomação, para a e) II e IV.
inatividade.

106
Resposta: Letra C. Assinale:
Nos termos do art. 12, § 3º, II e III são privativos de
brasileiro nato os cargos de Presidente da Câmara dos a) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.
Deputados e de Presidente do Senado Federal. b) se apenas as afirmativas I, III estiverem corretas.
c) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
2. (FCC – 2015) Em conformidade com a disciplina cons- d) se todas as afirmativas estiverem corretas.
titucional dos direitos e deveres individuais e coletivos,
Resposta: Letra B.
a) o direito de acesso à informação é assegurado a to- Nos termos do art. 15, CF é vedada a cassação de di-
dos, sendo vedado o anonimato da fonte. reitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará
b) a lei estabelecerá o procedimento para desapropria- nos casos de:
ção por necessidade ou utilidade pública, ou por inte- I - cancelamento da naturalização por sentença tran-
resse social, mediante prévia indenização, em títulos sitada em julgado;
da dívida pública, ressalvados os casos previstos na II - incapacidade civil absoluta;
Constituição Federal. III - condenação criminal transitada em julgado, en-
c) a livre expressão da atividade intelectual, artística, quanto durarem seus efeitos;
científica e de comunicação, independentemente de IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
censura ou licença, não dispensa posterior responsa- prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
bilização em caso de exercício abusivo. V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
d) ninguém será levado à prisão ou nela mantido quan- § 4º.
do a lei admitir a liberdade provisória, desde que me-
diante pagamento de fiança. 5. (COPESE-UFT – 2018) João, brasileiro nato, pretende
e) todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em se candidatar a Vereador do Município de Palmas. Nesse
locais abertos ao público, independentemente de au- sentido, são condições de elegibilidade: I. pleno exercício
torização e de prévio aviso, desde que não frustrem dos direitos políticos. II. domicílio eleitoral na circunscri-
outra reunião anteriormente convocada para o mes- ção. III. estar filiado a um partido político. IV. ter a idade
mo local. mínima de 30 anos.

Resposta: Letra C. Assinale a alternativa CORRETA.


Nos termos do art. 5º, IX, CF a livre expressão da ativi-
dade intelectual, artística, científica e de comunicação, a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
independentemente de censura ou licença, não dis- b) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
pensa posterior responsabilização em caso de exercí- c) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
cio abusivo. d) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.

3. (CESPE – 2013) Considerando os direitos sociais e os Resposta: Letra A.


direitos e garantias fundamentais, julgue o item seguinte: nos termos do art. 14, § 3°, CF. (...)
Tanto os direitos sociais quanto os direitos e garantias VI - a idade mínima de:
individuais impõem ao Estado uma obrigação de não fa- a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presiden-
zer, ou seja, uma postura deliberadamente omissiva que te da República e Senador;
visa resguardar a esfera de liberdade individual e coletiva b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de
dos cidadãos. Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
( ) CERTO ( ) ERRADO Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de
paz;
Resposta: Errado. os Direitos Socias impõem ao Esta- d) dezoito anos para Vereador.
do uma obrigação de fazer (positiva).
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FE-


4. (CONSULPLAN – 2012) É vedada a cassação de di- DERAL E DOS TERRITÓRIOS
reitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de
casos de: 1998)
I. cancelamento da naturalização por sentença transitada
em julgado. Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos
II. incapacidade civil relativa. de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
III. condenação criminal transitada em julgado, enquanto base na hierarquia e disciplina, são militares dos Es-
durarem seus efeitos. tados, do Distrito Federal e dos Territórios. Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado
em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, §

107
9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, § 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação,
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas o Presidente da República, dentro de vinte e quatro
pelos respectivos governadores.(Redação dada pela horas, submeterá o ato com a respectiva justificação
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do absoluta.
Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for § 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será
fixado em lei específica do respectivo ente estatal. convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, dias.
19.12.2003) § 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto den-
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito tro de dez dias contados de seu recebimento, devendo
Federal e dos Territórios o disposto no art. 37, inciso continuar funcionando enquanto vigorar o estado de
XVI, com prevalência da atividade militar. (Incluído defesa.
pela Emenda Constitucional nº 101, de 2019) § 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o esta-
do de defesa.

DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES SEÇÃO II


DEMOCRÁTICAS DO ESTADO DE SÍTIO

CAPÍTULO I Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o


DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacio-
nal, solicitar ao Congresso Nacional autorização para
SEÇÃO I decretar o estado de sítio nos casos de:
DO ESTADO DE DEFESA I - comoção grave de repercussão nacional ou ocor-
rência de fatos que comprovem a ineficácia de medida
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o tomada durante o estado de defesa;
Conselho da República e o Conselho de Defesa Na- II - declaração de estado de guerra ou resposta a
cional, decretar estado de defesa para preservar ou agressão armada estrangeira.
prontamente restabelecer, em locais restritos e deter- Parágrafo único. O Presidente da República, ao soli-
minados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas citar autorização para decretar o estado de sítio ou
por grave e iminente instabilidade institucional ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes
atingidas por calamidades de grandes proporções na do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por
natureza. maioria absoluta.
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa deter-
minará o tempo de sua duração, especificará as áreas Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua
a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites duração, as normas necessárias a sua execução e as
da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e,
seguintes: depois de publicado, o Presidente da República de-
I - restrições aos direitos de: signará o executor das medidas específicas e as áreas
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; abrangidas.
b) sigilo de correspondência; § 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não pode-
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; rá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorro-
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços pú- gado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II,
blicos, na hipótese de calamidade pública, responden- poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a
do a União pelos danos e custos decorrentes. guerra ou a agressão armada estrangeira.
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será § 2º Solicitada autorização para decretar o estado de
superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

vez, por igual período, se persistirem as razões que Senado Federal, de imediato, convocará extraordina-
justificaram a sua decretação. riamente o Congresso Nacional para se reunir dentro
§ 3º Na vigência do estado de defesa: de cinco dias, a fim de apreciar o ato.
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada § 3º O Congresso Nacional permanecerá em funcio-
pelo executor da medida, será por este comunicada namento até o término das medidas coercitivas.
imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se
não for legal, facultado ao preso requerer exame de Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado
corpo de delito à autoridade policial; com fundamento no art. 137, I, só poderão ser toma-
II - a comunicação será acompanhada de declaração, das contra as pessoas as seguintes medidas:
pela autoridade, do estado físico e mental do detido I - obrigação de permanência em localidade
no momento de sua autuação; determinada;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não po- II - detenção em edifício não destinado a acusados ou
derá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada condenados por crimes comuns;
pelo Poder Judiciário;

108
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspon- pótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será
dência, ao sigilo das comunicações, à prestação de in- transferido para a reserva, nos termos da lei;
formações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar
televisão, na forma da lei; posse em cargo, emprego ou função pública civil tem-
IV - suspensão da liberdade de reunião; porária, não eletiva, ainda que da administração indi-
V - busca e apreensão em domicílio; reta, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; XVI, alínea “c”, ficará agregado ao respectivo quadro
VII - requisição de bens. e somente poderá, enquanto permanecer nessa situa-
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inci- ção, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe
so III a difusão de pronunciamentos de parlamentares o tempo de serviço apenas para aquela promoção
efetuados em suas Casas Legislativas, desde que libe- e transferência para a reserva, sendo depois de dois
rada pela respectiva Mesa. anos de afastamento, contínuos ou não, transferido
para a reserva, nos termos da lei; (Inciso acrescido pela
SEÇÃO III Emenda Constitucional nº 18, de 1998 e com redação
DISPOSIÇÕES GERAIS dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014)
IV – ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode es-
líderes partidários, designará Comissão composta de tar filiado a partidos políticos;
cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for jul-
execução das medidas referentes ao estado de defesa gado indigno do oficialato ou com ele incompatível,
e ao estado de sítio. por decisão de tribunal militar de caráter permanente,
em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de de guerra;
sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar
responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus exe-
a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por
cutores ou agentes.
sentença transitada em julgado, será submetido ao
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou
julgamento previsto no inciso anterior;
o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigên-
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, inci-
cia serão relatadas pelo Presidente da República, em
sos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos
mensagem ao Congresso Nacional, com especificação
XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com
e justificação das providências adotadas, com rela-
prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI,
ção nominal dos atingidos e indicação das restrições
alínea “c”; (Inciso acrescido pela Emenda Constitucio-
aplicadas.
nal nº 18, de 1998 e com redação dada pela Emenda
CAPÍTULO II Constitucional nº 77, de 2014)
DAS FORÇAS ARMADAS IX - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 2003)
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas,
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Mari- os limites de idade, a estabilidade e outras condições
nha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições de transferência do militar para a inatividade, os di-
nacionais permanentes e regulares, organizadas com reitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade outras situações especiais dos militares, consideradas
suprema do Presidente da República, e destinam-se as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas
à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitu- cumpridas por força de compromissos internacionais
cionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e e de guerra.
da ordem.
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos
a serem adotadas na organização, no preparo e no da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei,
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

emprego das Forças Armadas.


§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz,
disciplinares militares. após alistados, alegarem imperativo de consciência,
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denomina- entendendo-se como tal o decorrente de crença reli-
dos militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem giosa e de convicção filosófica ou política, para se exi-
a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: mirem de atividades de caráter essencialmente militar.
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a § 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da Re- serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos,
pública e asseguradas em plenitude aos oficiais da ati- porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.
va, da reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os
títulos e postos militares e, juntamente com os demais
membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo
ou emprego público civil permanente, ressalvada a hi-

109
DA SEGURANÇA PÚBLICA § 10. A segurança viária, exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
CAPÍTULO III seu patrimônio nas vias públicas:
DA SEGURANÇA PÚBLICA I - compreende a educação, engenharia e fiscalização
de trânsito, além de outras atividades previstas em lei,
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, di- que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade ur-
reito e responsabilidade de todos, é exercida para a bana eficiente; e
preservação da ordem pública e da incolumidade das II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Fede-
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: ral e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entida-
I - polícia federal; des executivos e seus agentes de trânsito, estruturados
II - polícia rodoviária federal; em Carreira, na forma da lei. (Parágrafo acrescido
III - polícia ferroviária federal; pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 1) Grupos de Proteção
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão
permanente, organizado e mantido pela União e es- Defesa do Estado
truturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e • Instrumentos de defesa: forças armadas e seguran-
social ou em detrimento de bens, serviços e interesses ça pública.
da União ou de suas entidades autárquicas e empre-
sas públicas, assim como outras infrações cuja prática Defesa das Instituições democráticas
tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; • Instrumentos excepcionais: (sistema constitucional
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes de crises): estado de sítio e estado de defesa.
e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem
prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públi- Defesa do Estado
cos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeropor- • Defesa do território contra invasão estrangeira
tuária e de fronteiras; • Defesa da Soberania Nacional
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia • Defesa da Pátria
judiciária da União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, Defesa das Instituições democráticas
organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamen- • Reestabelecer a ordem constitucional, não per-
to ostensivo das rodovias federais. mitindo que determinado grupo se sobreponha a
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, outro.
organizado e mantido pela União e estruturado em
Hipóteses de uso (ruptura pela não necessidade e se
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamen-
to ostensivo das ferrovias federais.
perpetuar no tempo)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares. Arbítrio
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e
a preservação da ordem pública; aos corpos de bom- Necessidade
beiros militares, além das atribuições definidas em lei,
incumbe a execução de atividades de defesa civil. Golpe de Estado
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros mi-


litares, forças auxiliares e reserva do Exército, su-
bordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios. Temporariedade Ditadura
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamen-
to dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de
maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas muni-
cipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e
instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integran-
tes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na
forma do § 4º do art. 39.

110
2) Defesa das Instituições democráticas 3) Das Forças Armadas

• Estado de Defesa Comando: Presidente da República. É quem nomeia


os comandantes e cargos privativos.
Possibilidades de decretação
Preservar ou reestabelecer em locais restritos e deter-

Forças Armadas
minados a Ordem Pública ou a paz social por iminente Marinha
instabilidade institucional ou calamidades naturais de
grande proporção.
Presidente da Ministério da
Aeronáutica
Procedimento República Defesa

• Presidente da República: opinião do Conselho da Exército


República e Conselho de Defesa, por DECRETO, de-
creta o estado de defesa. A opinião destes não é
vinculativa.
4) Segurança Pública
• Características: tempo de duração, área abrangida
e medidas coercitivas.
• Tempo: máximo de 30 dias prorrogável por mais Polícia Federal
30.
• Estado de Sítio Polícia Rodoviária
• Comoção grave de repercussão nacional Federal
Federal
• Ineficácia das medidas adotadas no estado de
Segurança Pública
defesa Polícia Ferroviária
• Declaração de guerra ou resposta a ataque estrangeiro Polícia Federal
Administrativa
Corpo de
Procedimento
Bombeiros
Estadual
• Presidente da República: opinião do Conselho da
República e Conselho de Defesa, por DECRETO, de- Polícia Militar
creta o estado de defesa. A opinião destes não é Federal
vinculativa. Estadual
• Declarar os motivos determinantes para o decreto,
Polícia Civil
prévia solicitação ao Congresso Nacional, manifes-
tação pela maioria absoluta dos membros.
• decreto do estado de sítio indicará sua duração, as
normas necessárias a sua execução e as garantias
constitucionais que ficarão suspensas, e, depois EXERCÍCIO COMENTADO
de publicado, o Presidente da República designa-
rá o executor das medidas específicas e as áreas 1. (PM-MG – 2018) Sobre os aspectos da segu-
abrangidas. rança pública, de acordo com a CRFB/88 marque a
opção CORRETA.
Medidas coercitivas:
a) Às polícias militares cabe, exclusivamente, a polícia re-
• obrigação de permanência em localidade determinada; pressiva criminal; aos corpos de bombeiros militares
• detenção em edifício não destinado a acusados ou incumbe a execução de atividades de defesa civil.
condenados por crimes comuns; b) Os Municípios poderão constituir guardas municipais
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

• restrições (não supressões) relativas à inviolabilidade destinadas à proteção de seus bens, serviços e instala-
da correspondência, ao sigilo das comunicações, à ções, conforme dispuser a lei.
prestação de informações e à liberdade de imprensa, c) As polícias militares e corpos de bombeiros militares,
radiodifusão e televisão, na forma da lei (desde que forças complementares do Exército, subordinam-se,
liberada pela respectiva Mesa, não se inclui a difusão juntamente com as polícias civis, aos Governadores
de pronunciamentos de parlamentares efetuados dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
em suas Casas Legislativas); d) Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
• suspensão da liberdade de reunião; de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
• busca e apreensão em domicílio; União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
• intervenção nas empresas de serviços públicos; infrações penais, inclusive as militares.
• requisição de bens.

111
#FicaDica
NOÇÕES DE DIREITO Conceito de Estado
ADMINISTRATIVO Conceito sociológico: corporação territorial
que possui um poder de mando originário.
Conceito político: comunidade de homens
ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO situada num território, com poder superior
PÚBLICA de ação, de mando e de coerção.
Conceito constitucional: pessoa jurídica ter-
ritorial soberana.
CONCEITOS, ELEMENTOS, PODERES E ORGANIZA- Conceito civil: pessoa jurídica de Direito Pú-
ÇÃO, NATUREZA, FINS E PRINCÍPIOS blico Interno.

ESTADO: CONCEITO, ELEMENTOS E NATUREZA


Em termos históricos, o Estado Moderno passou
“O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que por fases que implicaram na definição de três modelos
é considerado. Do ponto de vista sociológico, é corpora- estatais.
ção territorial dotada de um poder de mando originário; Inicialmente, o Estado se erige na forma de um Estado
sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixa- Absoluto, no qual o poder é exercido por um soberano
da sobre um território, com potestade superior de ação, de forma ilimitada. No decorrer das Revoluções que des-
de mando e de coerção; sob o prisma constitucional, é pontaram na Europa – Gloriosa e Francesa – e na própria
pessoa jurídica territorial soberana; na conceituação do América – Independência Norte-americana, surgem de-
nosso Código Civil, é pessoa jurídica de Direito Público mandas por um modelo de Estado que interferisse menos
Interno (art. 14, I). na vida do indivíduo, permitindo o exercício de liberdades
Como ente personalizado, o Estado tanto pode atuar individuais e do direito de propriedade, além de outros
no campo do Direito Público como no do Direito Priva- direitos civis, bem como a participação popular na toma-
do, mantendo sempre sua única personalidade de Direito da de decisões, na forma de direitos políticos: nasce o
Público, pois a teoria da dupla personalidade do Estado modelo do Estado Liberal.
acha-se definitivamente superada. Num momento posterior, quando se experimentaram
O Estado é constituído de três elementos originários e os reflexos da revolução industrial e do pós-guerra, bem
indissociáveis: Povo, Território e Governo soberano. Povo como da própria reestruturação dos modelos econômi-
é o componente humano do Estado; Território, a sua base cos capitalista e socialista, surgem demandas classistas na
física; Governo soberano, o elemento condutor do Estado, busca da retomada da intervenção do Estado na econo-
que detém e exerce o poder absoluto de autodetermina- mia e nas relações trabalhistas, assegurando equilíbrio na
ção e auto-organização emanado do Povo. Não há nem exploração econômica por parte daqueles que detinham
pode haver Estado independente sem Soberania, isto é, o poder econômico: surge então o Estado Social.
sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de Adiante, especialmente após a crise de 1929 e o fim
organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de da 2a Guerra Mundial, surge a necessidade de coadunar
seu Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive tais ideais, focando não apenas no indivíduo, mas tam-
pela força, se necessário. bém nas demandas coletivas da sociedade: surge o Esta-
A vontade estatal apresenta-se e se manifesta através do Democrático de Direito, uma resposta concomitante
dos denominados Poderes de Estado. à frieza liberal quanto ao indivíduo e ao déficit demo-
Os Poderes de Estado, na clássica tripartição de Mon- crático do Estado Social, intensificando-se a participação
tesquieu, até hoje adotada nos Estados de Direito, são o popular no poder.
Legislativo, o Executivo e o judiciário, independentes e
harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente
indelegáveis (CF, art. 2º). A organização do Estado é ma- #FicaDica
téria constitucional no que concerne à divisão política do
território nacional, a estruturação dos Poderes, à forma Modelos de Estado
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

de Governo, ao modo de investidura dos governantes, Estado Liberal – não intervencionista, liber-
aos direitos e garantias dos governados. Após as dispo- dades negativas, direitos individuais.
sições constitucionais que moldam a organização política Estado Social – intervencionista, bem-estar
do Estado soberano, surgem, através da legislação com- social, liberdades positivas, direitos sociais.
plementar e ordinária, e organização administrativa das Estado Democrático de Direito – interven-
entidades estatais, de suas autarquias e entidades paraes- cionista moderado, participação popular
tatais instituídas para a execução desconcentrada e des- intensificada, abertura e transparência da
centralizada de serviços públicos e outras atividades de Administração.
interesse coletivo, objeto do Direito Administrativo e das
modernas técnicas de administração”1.

1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São


Paulo: Malheiros, 1993.

121
Com efeito, o Estado é uma organização dotada de Administração Pública é uma expressão que pode
personalidade jurídica que é composta por povo, ter- comportar pelo menos dois sentidos: na sua acepção
ritório e soberania. Logo, possui homens situados em subjetiva, orgânica e formal, a Administração Pública
determinada localização e sobre eles e em nome deles confunde-se com a própria pessoa de seus agentes, ór-
exerce poder. É dotado de personalidade jurídica, isto é, gãos, e entidades públicas que exercem a função admi-
possui a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair nistrativa, o que significa que somente algumas pessoas
deveres. Nestes moldes, o Estado tem natureza de pes- e entes podem ser considerados como Administração
soa jurídica de direito público. Pública. É, por isso, uma acepção que tende a restringir
Destaca-se o artigo 41 do Código Civil: sua definição.
Já na sua acepção objetiva e material da palavra, po-
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público demos definir a administração pública (alguns doutrina-
interno: dores preferem colocar a palavra em letras minúsculas
I - a União; para distinguir melhor suas concepções), como a ativi-
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; dade estatal de promover concretamente o interesse pú-
III - os Municípios; blico. O caráter subjetivo da administração é irrelevante,
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; pois o que realmente importa não é a pessoa, e sim a
(Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005) atividade que tal pessoa executa. É, por isso, uma acep-
V - as demais entidades de caráter público criadas por ção mais abrangente, pois qualquer pessoa que venha a
lei. exercer uma função típica da Administração, será consi-
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as derada uma pessoa que integra a mesma.
pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha Também podemos dividir, na acepção material, em
dado estrutura de direito privado, regem-se, no que administração pública lato sensu e stricto sensu. Em senti-
couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas do amplo, abrange não somente a função administrativa,
deste Código. como também a função política, incluindo-se nela os ór-
gãos governamentais. Em sentido estrito, administração
Nestes moldes, o Estado é pessoa jurídica de direito pública envolve apenas a função administrativa em si.
público interno. Mas há características peculiares distin- Os princípios que regem a atividade da Administração
tivas que fazem com que afirmá-lo apenas como pessoa Pública são vastos, podendo estar explícitos em norma po-
jurídica de direito público interno seja correto, mas não sitivada, ou até mesmo implícitos, porém denotados pela
suficiente. Pela peculiaridade da função que desempe- doutrina, segundo a interpretação das normas jurídicas.
nha, o Estado é verdadeira pessoa administrativa, eis Os princípios constitucionais da Administração Públi-
que concentra para si o exercício das atividades de admi- ca são aqueles que estão previstos na Constituição Fe-
nistração pública. deral, mais especificamente no caput do seu artigo 37.
A expressão pessoa administrativa também pode ser Segundo o dispositivo: “A administração pública direta e
colocada em sentido estrito, segundo o qual seriam pes- indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
soas administrativas aquelas pessoas jurídicas que inte- do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin-
gram a administração pública sem dispor de autonomia cípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publi-
política (capacidade de auto-organização). Em contra- cidade e eficiência e, também, ao seguinte:”.
ponto, pessoas políticas seriam as pessoas jurídicas de
direito público interno – União, Estados, Distrito Federal A) Princípio da Legalidade: fruto da própria noção
e Municípios. de Estado de Direito, as atividades do gestor pú-
blico estão submissas a forma da lei. A legalidade
promove maior segurança jurídica para os adminis-
#FicaDica trados, na medida em que proíbe que a Adminis-
tração Pública pratique atos abusivos. Ao contrário
Elementos do Estado: povo + território + dos particulares, que podem fazer tudo aquilo que
soberania a lei não proíbe, a Administração só pode realizar
Natureza: pessoa jurídica de direito público
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

o que lhe é expressamente autorizado por lei.


/ pessoa administrativa B) Princípio da Impessoalidade: a atividade da Ad-
Fim: proteção do interesse coletivo
ministração Pública deve ser imparcial, de modo
que é vedado haver qualquer forma de tratamento
diferenciado entre os administrados. Há uma for-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: CONCEITO E PRINCÍPIOS te relação entre a impessoalidade e a finalidade
CONSTITUCIONAIS pública, pois quem age por interesse próprio não
condiz com a finalidade do interesse público.
A organização administrativa do Estado brasileiro é C) Princípio da Moralidade: a Administração impõe
uma matéria bastante ampla e que deve ser analisada a seus agentes o dever de zelar por uma “boa-ad-
cuidadosamente. Antes, porém, é necessário traçar um ministração”, buscando atuar com base nos valores
conceito inicial sobre o que é a administração pública. da moral comum, isso é, pela ética, decoro, boa-
-fé, e lealdade. A moralidade não é somente um

122
princípio, mas também requisito de validade dos 1.1 Conceito de Direito Administrativo
atos administrativos: se o agente pratica um ato de
má-fé, ou com finalidade diversa daquela prevista A doutrina possui divergências quanto ao conceito de
em lei, o ato é nulo desde sua concepção. Direito Administrativo. Enquanto uma corrente doutriná-
D) Princípio da Publicidade: a publicação dos atos da ria define Direito Administrativo tendo como base a ideia
Administração promove maior transparência e ga- de função administrativa, outros preferem destacar o ob-
rante eficácia erga omnes. Além disso, também diz jeto desse ramo jurídico, isso é, o Estado, a figura pública
respeito ao direito fundamental que toda pessoa composta por seus órgãos e agentes. Há também uma
tem de obter acesso a informações de seu interes- terceira corrente de doutrinadores que, ao conceituar Di-
se pelos órgãos estatais, salvo as hipóteses em que reito Administrativo, destacam as relações jurídicas esta-
esse direito ponha em risco a vida dos particulares belecidas entre as pessoas e os órgãos do Estado.
ou o próprio Estado, ou ainda que ponha em ris- Embora haja essa diferença de posições na doutrina,
co a vida íntima dos envolvidos. A publicidade dos não há exatamente uma corrente predominante. Todos
atos administrativos, todavia, não admite a promo- os elementos apontados fazem parte o Direito Adminis-
ção pessoal de autoridades ou servidores públicos, trativo. Por isso, vamos conceituá-lo utilizando todos es-
devendo ter caráter educativo, informativo ou de ses aspectos em comum.
orientação social (artigo 37, § 1º, CF/1988). Podemos definir Direito Administrativo como o conjun-
E) Princípio da Eficiência: Implementado pela refor- to de princípios e regras que regulam o exercício da função
ma administrativa promovida pela Emenda Cons- administrativa exercida pelos órgãos e agentes estatais, bem
titucional nº 19 de 1988, a eficiência se traduz na como as relações jurídicas entre eles e os demais cidadãos.
tarefa da Administração de alcançar os seus resul- Não devemos confundir Direito Administrativo com
tados de uma forma célere, promovendo melhor a Ciência da Administração. Apesar da nomenclatura ser
produtividade e rendimento, evitando gastos des- parecida, são dois campos bastante distintos. A admi-
necessários no exercício de suas funções. A eficiên- nistração, como ciência propriamente dita, não é ramo
cia fez com que a Administração brasileira adqui-
jurídico. Consiste no estudo de técnicas e estratégias de
risse caráter gerencial, tendo maior preocupação
controle da gestão governamental. Suas regras não são
na execução de serviços com perfeição ao invés de
independentes, estão subordinadas às normas de Direi-
se preocupar com procedimentos e outras buro-
to Administrativo. Os concursos públicos não costumam
cracias. A adoção da eficiência, todavia, não permi-
exigir que o candidato tenha conhecimentos de técnicas
te à Administração agir fora da lei, não se sobrepõe
administrativas, mas requerem que conheçam a Admi-
ao princípio da legalidade.
nistração como entidade governamental, com suas prer-
Mas os princípios administrativos não se esgotam rogativas e prestando serviços para a sociedade.
no âmbito constitucional. Existem outros princípios,
cuja previsão não está disposta na Carta Magna e sim 1.2 Natureza jurídica
na legislação infraconstitucional. É o caso do disposto
no caput do artigo 2º da Lei nº 9.784/1999: “A Adminis- Determinar a natureza jurídica de um ramo do Direito
tração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios significa, de modo geral, estabelecer em qual grupo ele
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro- pertence. Podemos classificar os ramos de Direito brasi-
porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, leiro em dois grandes grupos: os ramos de Direito Públi-
segurança jurídica, interesse público e eficiência”. Busca- co, e os de Direito Privado. Quanto à natureza jurídica,
mos apenas por em maior destaque os princípios consti- não há dúvida de que o Direito Administrativo é ramo
tucionais, apenas para o candidato ter uma noção geral de Direito Público. Isso porque o Direito Administrativo
de como a Administração Pública deve atuar. regula as atividades estatais na gestão de seus negócios,
recursos e pessoas. A simples presença do Poder Público
faz com que ele não se enquadre no grupo do Direito Pri-
DIREITO ADMINISTRATIVO vado, que são os ramos jurídicos cujas regras disciplinam
as atividades dos particulares.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS 1.3 Objeto do Direito Administrativo

DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES GERAIS A determinação de um objeto de estudo do Direito


Administrativo possui grande importância para a sua
Administração vem do latim “administrare”, que signi- conceituação, bem como para estabelecê-lo como um
fica direcionar ou gerenciar negócios, pessoas e recursos, ramo jurídico autônomo. Várias correntes surgem na
tentativa de criar um conceito próprio de Direito Admi-
tendo sempre como objetivo alcançar metas específicas.
nistrativo, bem como a definição de seu objeto:
A noção de gestão de negócios está intimamente ligada
com o ramo de Direito Administrativo. Compreender as
1- Corrente legalista: o Direito Administrativo seria o
noções básicas de Direito Administrativo significa definir
conjunto de normas administrativa existente den-
a ele um conceito, determinar sua natureza, estabelecer
tro do país. Tal critério é bastante reducionista, ao
seu objeto, as fontes de onde se origina, e também os
desconsiderar qualquer papel da doutrina em iden-
princípios que o regem.
tificar princípios sistêmicos desse ramo jurídico.

123
2- Corrente do Poder Executivo: é o critério que iden-
tifica o Direito Administrativo como o conjunto de
normas que disciplinam a atuação do Poder Exe-
EXERCÍCIO COMENTADO
cutivo. Também não é aceito, uma vez que ignora
o fato de que os órgãos dos Poderes Legislativos e 1. (MPE-PE – PROMOTOR DE JUSTIÇA – FCC – 2014)
Judiciários também exercem funções administrati- Em sua formação, o Direito Administrativo brasileiro re-
vas (funções atípicas), bem como alguns particula- cebeu a influência da experiência doutrinária, legislativa
res por meio da delegação de competências, como e jurisprudencial de vários países, destacando-se espe-
é o caso dos concessionários e permissionários. cialmente a França, considerada como berço da disci-
3- Corrente das relações jurídicas: é a corrente que plina. No rol de contribuições do Direito Administrativo
destaca o Direito Administrativo como a disciplina francês à prática atual do Direito Administrativo no Brasil,
das relações jurídicas estabelecidas entre a Admi- não é correto incluir:
nistração Pública e o particular. Todavia, essa não
é uma característica única e singular do Direito Ad- a) a adoção de teorias publicísticas em matéria de res-
ministrativo: outros ramos de Direito Público pos- ponsabilidade extracontratual das entidades estatais.
suem relações semelhantes. b) a adoção do interesse público como eixo da atividade
4- Corrente do serviço público: para esses doutrina- administrativa.
dores, o que evidencia o Direito Administrativo é o c) a ideia de exorbitância em relação ao direito comum,
fato dele ter como objeto a disciplina dos serviços aplicável aos particulares.
públicos. Atualmente esse critério também é insa- d) a teoria do desvio de poder.
tisfatório, uma vez que o papel da Administração e) o sistema de contencioso administrativo.
Pública evoluiu de forma que passou a desempe-
nhar atividades que não podem ser consideradas Resposta: Letra E
como prestação de serviço público. O sistema de contencioso administrativo é bastante
5- Corrente teleológica: o Direito Administrativo deve característico do Direito Administrativo Francês, em
ser conceituado a partir da ideia que certas ativida- que temos, além da jurisdição comum, a implantação
des desempenhadas devem alcançar um fim admi- de Tribunais administrativos que possuem competên-
nistrativo. Muito pouco utilizado, pelo fato de que cia para decidir conflitos e criar coisa julgada (jurisdi-
muitas vezes há grande dificuldade em estabelecer ção administrativa). No Brasil, adota-se o sistema de
qual a finalidade do Estado. controle judicial uno, modelo de origem inglesa, onde
6- Corrente negativista: pelo fato de ser uma árdua apenas os Tribunais Judiciários possuem jurisdição em
tarefa, muitos autores decidem utilizar critério ne- todo o país.
gativo ao conceituar Direito Administrativo, defi-
nindo que pertence a esse ramo do Direito todas 1.4 Fontes do Direito Administrativo
as questões que não pertencem a nenhum outro
ramo jurídico. Esse critério por exclusão é bastante As fontes do Direito são os elementos que dão ori-
frágil e, por isso, não é muito utilizado. gem ao próprio direito. O Direito Administrativo tem al-
7- Corrente funcional: é o critério predominante en- gumas peculiaridades em relação a suas fontes que são
tre os demais doutrinadores administrativos, pois importantes para nossos estudos.
define o Direito Administrativo como o ramo jurí- Primeiramente, devemos salientar que o Direito Ad-
dico que estuda a disciplina normativa da função ministrativo não é ramo jurídico codificado. Isso quer
administrativa, independentemente de quem este- dizer que não existe na legislação brasileira um “Códi-
ja encarregado de exercê-la (Administração Públi- go de Direito Administrativo”. A matéria encontra-se de
ca, Poder Legislativo, concessionário, etc). um modo muito mais amplo. É possível verificar normas
administrativas presentes, por exemplo, na Constituição
Com base no critério funcional, convém fazer uma di- Federal de 1988, em seu art. 37, que estabelece os mem-
visão do objeto do Direito Administrativo. Assim, o obje- bros da Administração Pública e seus princípios; na Lei
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

to imediato do Direito Administrativo são os princípios nº 8.666/1993, que dispõe sobre normas de licitações e
e regras que regulam a função administrativa. Por outro contratos administrativos; na Lei nº 8.987/1995, que re-
lado, temos como objeto mediato do Direito Adminis- gulamenta as concessões e permissões de serviços públi-
trativo a disciplina das atividades, agentes, pessoas e ór- cos para entidades privadas; entre outros.
gãos que compõem a Administração Pública, o principal É costume dividir as fontes de Direito Administrati-
ente que exerce tal função. vo em fontes primárias e fontes secundárias. As fontes
primárias são aquelas de caráter principal, são capazes
de originar normas jurídicas por si só. Já as fontes se-
cundárias são derivadas das primeiras, por isso possuem
caráter acessório. Elas ajudam na compreensão, interpre-
tação e aplicação das fontes de direito primárias.

124
São fontes de Direito Administrativo: superior, dado o seu caráter geral e abstrato. Os prin-
cípios são descobertos pela doutrina, através da análise
A) Legislação em sentido amplo, seja na Constituição, das regras, retirando os aspectos concretos desta. O le-
seja nas Leis esparsas, nos Princípios, em qualquer gislador, dessa forma, tem um papel indireto na criação
veículo normativo. dos princípios.
B) Doutrina, todo o trabalho científico realizado por Apesar das diferenças mencionadas, é indiscutível
um renomado autor, seja uma obra, ou um parecer que os princípios e as regras são normas que apresen-
jurídico, com o objetivo de divulgar conhecimento; tam força cogente máxima. Porém, como os princípios
C) Jurisprudência, o conjunto de diversos julgados possuem valores fundamentais de um ramo jurídico, são
num mesmo sentido; considerados hierarquicamente superiores. Violar uma
D) Costumes jurídicos, tudo que for considerado uma regra é um erro grave, mas violar um princípio é erro
conduta que se repete no tempo. gravíssimo: é cometer ofensa a todo um ordenamento
de comandos.
Importante frisar que, das fontes mencionadas, ape- Os princípios de Direito Administrativo estão expres-
nas a Lei é fonte primária do Direito Administrativo, sos no caput do artigo 37 da Constituição Federal. Por
sendo o único veículo habilitado para criar diretamente isso, muitos costumam denominá-los como Princípios
obrigações de fazer e não fazer. A doutrina, a jurispru- Constitucionais de Direito Administrativo. Prescreve o ar-
dência, e os costumes jurídicos são consideradas fontes tigo constitucional que: “A administração pública direta e
secundárias. indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin-
cípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publi-
EXERCÍCIO COMENTADO cidade e eficiência e, também, ao seguinte:”.

1.5.1 Princípio da Legalidade


1. (SEGEP-MA – AUDITOR FISCAL RECEITA FEDE-
RAL – FCC – 2016) São fontes do Direito Administrativo:
O princípio da legalidade remete ao fato de que a Ad-
ministração Pública só pode fazer aquilo que a lei permi-
I. lei.
te. Trata-se de uma garantia de que nenhum agente es-
II. razoabilidade.
III. moralidade. tatal tenha poderes para agir fora da lei e praticar abusos
IV. jurisprudência. contra os cidadãos. Os membros da Administração são
V. proporcionalidade. absolutamente submissos às leis, não podem expressar
vontades pessoais. Este princípio, além de passar segu-
Está correto o que consta apenas em: rança jurídica ao indivíduo, limita o poder do Estado.
O princípio da legalidade é fruto do próprio Estado
a) I e II. de Direito. O art. 5º, II, da CF/1988, dispõe que “ninguém
b) II e IV. será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se-
c) I e IV. não em virtude de lei;”. Mas o princípio da legalidade, no
d) III e V. Direito Administrativo, ganha um contorno especial. Por
e) IV e V. ser ramo de Direito Público, o princípio da legalidade im-
põe que o Poder Público não pode agir por vontade pró-
Resposta: Letra C pria, e que todos os seus atos estejam previstos em lei.
As fontes de Direito Administrativo totalizam-se em Completamente distinta é a aplicação da legalidade em
quatro: legislação, jurisprudência, doutrina, e costu- um ramo de Direito Privado, pois os particulares agem
mes. A razoabilidade, moralidade, e a proporcionali- com ampla liberdade para praticar os atos da vida civil
dade não são fontes, mas princípios do Direito Ad- e empresarial. Assim, o princípio da legalidade é mais
ministrativo, pois representam valores sistêmicos e brando, e configura apenas em atribuir limites às liber-
fundamentais desse ramo jurídico. dades dos cidadãos.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

1.5 Princípios de Direito Administrativo 1.5.2 Princípio da Impessoalidade

Convém estudar os Princípios de Direito Administra- O princípio da impessoalidade, como o próprio nome
tivo. Por motivos didáticos, costuma-se dividir as normas diz, impõe à Administração Pública um dever de agir com
cogentes em regras e princípios. imparcialidade na defesa do interesse público. É vedado
Regras são normas cogentes que traduzem um co- qualquer forma de discriminação ou tratamento diferen-
mando direto, são criadas pelo legislador (portanto, são ciado entre os administrados.
positivadas), e são utilizadas para a solução de casos Tal princípio é de extrema importância pois ele tam-
concretos e específicos. bém traduz em uma diferença entre a Administração e
Os princípios, por sua vez, delimitam os valores fun- o seus agentes enquanto pessoas físicas. A atuação dos
damentais de um ramo do Direito, possuem conteúdo agentes públicos é sempre imputada ao Estado. O agir
muito mais abrangente. São considerados de hierarquia impessoal da Administração faz com que a responsabi-

125
lidade pela execução de seus atos recaia somente nela A publicidade dos atos administrativos, todavia, com-
mesma. Por isso que, em regra, havendo má conduta de porta algumas exceções, isso é, hipóteses em que é au-
um agente público, capaz de causar danos a outrem, a torizado o sigilo das informações: nos casos em que a
responsabilização para a reparação dos danos é imputa- divulgação promova riscos para a segurança do Estado
da à própria Administração, e não ao agente que prati- ou da sociedade (art. 5º, XXXIII da CF/1988); ou que pos-
cou a conduta danosa. sam atingir a intimidade dos envolvidos (art. 5º, X, da
CF/1988).
1.5.3 Princípio da Moralidade
1.1.5 Princípio da Eficiência
Este princípio diz respeito aos atos administrativos
praticados pelo Poder Público. Trata-se de um requisi- O princípio da eficiência é de origem mais recente.
to de validade desses atos, assim como a legalidade e a Foi adicionado ao dispositivo constitucional por meio da
impessoalidade. Sem a moralidade, a própria Administra- Emenda Constitucional nº 19/1998. Este princípio zela
ção perderia o seu motivo de existir, pois tornar-se-ia em pela implantação de um modelo de administração ge-
algo completamente inútil. rencial, voltada para um maior alcance de resultados na
Não basta apenas que os agentes exerçam suas fun- atuação do Poder Público.
ções: é imprescindível que exerçam uma “boa-adminis- É também dever do servidor público prestar serviço
tração”. Muitos concursos gostam de fazer uma compa- com economicidade, celeridade, redução de custos e
ração entre a moralidade administrativa e a moral comum desperdícios; sempre buscando atingir os melhores re-
a todos os cidadãos, embora é evidente que trata-se de sultados com produtividade e rendimento funcional. Es-
dois conceitos bastante distintos: enquanto a moral co- ses são os valores principais da eficiência, garantindo à
mum se baseia nas ideias de honestidade, boa-fé, deco- sociedade uma real efetivação dos propósitos necessá-
ro, e lealdade, a moral administrativa toma por base tais rios, como por exemplo, saúde, educação, etc.
valores, e atribui a seus agentes algo a mais, qual seja, o A adoção da eficiência fez com que a Administra-
dever de zelar pela boa execução de seu serviço.
ção Pública brasileira elevasse de patamar, pois com a
Nossa legislação impõe a moralidade aos agentes
reforma proposta pela EC nº 19/1998, surge o modelo
da Administração em diversos dispositivos. Além, claro,
de administração pública gerencial, que se contrapõe
do preceito disposto no caput do art. 37, temos também
ao modelo passado de administração burocrática, que
o conteúdo do art. 5º, LXXIII, também da CF/1988 que
apresentava maior ênfase em processos e ritos do que
permite qualquer cidadão propor ação popular que vise
no alcance de objetivos e resultados.
a anular ato lesivo à moralidade administrativa. Temos
Contudo, a eficiência não autoriza sua prevalência em
também o preceito do art. 166 da Lei nº 8.112/1990, que
relação ao princípio da legalidade. A busca por melhores
elenca como deveres dos servidores públicos ser leal às
instituições que servir. Por fim, o art. 85, V, da CF/1988,
resultados deve estar sempre nos ditames da Lei. Lem-
determina como crime de responsabilidade do Presiden- bre-se que o Estado é pessoa jurídica de Direito Públi-
te da República os atos que atentarem contra a probida- co e, por isso a ele não é aplicável a lógica da iniciativa
de na administração. privada. Não pode, por exemplo, objetivar ao lucro, não
são aplicáveis as regras de compliance, encontradas com
1.1.4 Princípio da Publicidade maior frequência nas grandes empresas privadas, entre
outros.
Para que os atos sejam conhecidos pela sociedade, é
necessário que eles sejam publicados e divulgados. So- 1.6 Regime Jurídico Administrativo
mente com a publicação de certos atos é que passarão
a ter eficácia no âmbito jurídico. Por isso a grande im- Para definir o que vem a ser o regime jurídico admi-
portância da publicidade dos atos administrativos: além nistrativo, importante estabelecer como são compostas
de demonstrar transparência para com os administrados, as relações administrativas. De um lado, temos a Admi-
trata-se de uma questão de eficácia jurídica erga omnes, nistração Pública, que se apresenta em posição vertical
isso é, que é de conhecimento por todas as pessoas. e privilegiada em relação aos particulares, que possuem
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Além disso, o princípio da publicidade também se tra- interesse em celebrar negócios jurídicos com a mesma,
duz no direito que toda pessoa tem para obter acesso desde que não acarrete em restrições à sua liberdade,
a informações de seu interesse. Ou, nos termos do art. amparada pelo Estado e pela Constituição Federal, mais
5º, XXXIII, da CF/1988: “todos têm direito a receber dos especificamente no art. 5º, II: “ninguém será obrigado a
órgãos públicos informações de seu interesse particular, fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no de lei”.
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas A Administração Pública possui prerrogativas e pri-
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da so- vilégios que não são utilizados, e até mesmo são des-
ciedade e do Estado” conhecidos na esfera do direito privado, tais como a
Os atos gerais da Administração sempre serão publi- autoexecutoriedade, o poder de expropriar, de ocupar
cados no Diário Oficial. Já os atos individuais, cujo des- temporariamente o imóvel alheio, instituir servidão, apli-
tinatário é uma pessoa certa, ou os atos internos da Ad- car sanções administrativas, alterar e rescindir unilateral-
ministração, serão comunicados pela pessoa interessada. mente os contratos, etc. A Administração Pública apre-

126
senta todo esse rol de prerrogativas uma vez que possui do Poder Regulamentar, de competência exclusiva do
a importante tarefa e proteger e atender o interesse pú- Chefe do Poder Executivo. Letra E está incorreta pois
blico, entendido como o interesse da coletividade. a desconcentração é processo pelo qual se criam ór-
Por mais que as prerrogativas colocam a Administra- gãos, que são entidades despersonalizadas e, por isso,
ção em posição de superioridade perante o particular, subordinados ao ente que os criou.
sempre com o objetivo de atingir o benefício da popula-
ção, as restrições a que está sujeita limitam a sua ativida-
de a determinados fins e princípios, que se não observa- ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
dos, implicam em desvio de poder e consequentemente
nulidade de seus atos. As prerrogativas e restrições a que
CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
está sujeita a Administração e que não se encontram nas
relações entre particulares dá origem ao regime jurídico Estudar a organização administrativa é matéria im-
administrativo. portantíssima que pode cair em diversas provas com o
Dessa forma, definir o regime jurídico do Direito Ad- intuito de forçar o candidato a cair em uma “pegadinha”.
ministrativo significa compreender dois princípios basila- Por isso, é imprescindível saber as diferentes entidades
res desse ramo jurídico. São eles: o princípio da primazia que integram a Administração Pública como um todo. O
do interesse público sobre o privado, e o princípio da Decreto-Lei nº 200/1967 é a legislação que dispõe sobre
indisponibilidade do interesse público. A existência des- a organização administrativa, além de estabelecer diretri-
ses dois supraprincípios é o reflexo de uma dualidade zes para a Reforma Administrativa.
permanente no exercício da função administrativa, sendo A Administração, para executar suas funções e expe-
a dicotomia entre os poderes da Administração Pública, dir seus atos, dispõe de duas técnicas distintas: a descon-
isso é, a supremacia do interesse público o qual reflete centração, e a descentralização.
os poderes da Administração Pública, e de outro lado a Há centralização quando o exercício das compe-
indisponibilidade do interesse público o qual reflete os tências administrativas é realizado por uma única pes-
direitos dos administrados. soa jurídica, como ocorre quando a União, os Estados,
Municípios e o Distrito Federal agem para exercer suas
respectivas funções. A descentralização, por sua vez, é
EXERCÍCIO COMENTADO a técnica em que a Administração Pública atribui suas
competências a pessoas jurídicas autônomas, criadas
por ela própria para esse fim. É considerada um princípio
1. (FCC – 2018) A Administração pública possui algumas fundamental da própria Administração, nos termos do
prerrogativas inerentes às suas funções, que lhe permi- art. 6º, III, do Dec-Lei nº 200/1967.
tem agir, em alguns casos, de modo a sobrepor a vonta- O Decreto-Lei nº 200/1967 é a legislação que dispõe
de dos particulares, em prol do atendimento do interes- sobre a organização administrativa, além de estabelecer
se público. Nesse sentido, considera-se exemplo dessa diretrizes para a Reforma Administrativa.
prerrogativa o poder de: A Administração, para executar suas funções e expe-
dir seus atos, dispõe de duas técnicas distintas: a descon-
a) revogar licitações, por razões de conveniência e centração, e a descentralização.
oportunidade e para atendimento do interesse pú- Descentralização é a técnica em que a Administração
blico, sempre que se identificar ilegalidades nos Pública atribui suas competências à pessoas jurídicas au-
procedimentos. tônomas, criadas por ela própria para esse fim. É consi-
b) limitar o direito de particulares, discricionariamente, derada um princípio fundamental da própria Administra-
sempre que a situação de fato demonstrar essa neces- ção, nos termos do art. 6º, III, do Dec-Lei nº 200/1967.
sidade, independentemente de previsão legal. Temos três espécies de descentralização:
c) alterar unilateralmente os contratos administrativos,
por motivos de interesse público, mantido o equilíbrio 1) Descentralização Política: diz respeito à Federa-
econômico-financeiro do contrato. ção. Cada ente tem uma esfera de poderes distinta.
d) editar decretos autônomos para disciplinar matérias É o caso do governo federal, cujo chefe é o Presi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

em tese, com efeitos gerais e abstratos, diante de la- dente da República, que não se confunde com os
cunas legais. governos estaduais e municipais, exercidos respec-
e) criar pessoas jurídicas como forma de desconcentra-
tivamente pelos Governadores e Prefeitos.
2) Descentralização Administrativa: atribuição de
ção das atividades da Administração pública.
poderes pelo Poder Central, sempre advindo de
uma lei ou contrato. Pode subdividir-se em:
2.a) descentralização territorial ou geográfica:
Resposta: Letra C
Letra A está incorreta, pois as hipóteses de ilegalidade envolve a criação de uma pessoa jurídica de direi-
são remediadas pela anulação, não é uma prerrogati- to público com capacidade de autoadministração.
va. Letra B está incorreta, pois a Administração Pública É uma entidade local que presta serviços públicos
está impedida de interferir na esfera do particular sem sempre nos moldes e nos limites dados do Poder
a devida previsão legal, não se trata de ato discricio- Central;
nário. Letra D está incorreta, pois descreve hipótese 2.b) Descentralização por serviços: também co-

127
nhecido como “descentralização funcional ou 1. Agências reguladoras: características e classificação
técnica”, o Poder Central cria uma pessoa jurídica
de direito público OU de direito privado, dando a O surgimento das agências reguladoras possui fortes
ela a titularidade e a execução do serviço público, relações com a época das privatizações na segunda me-
sempre com certa autonomia. Sempre, também, tade dos anos 1990. Neste contexto, as agências regu-
sofrendo algum tipo de controle; ladoras foram introduzidas, sobretudo pelas ECs nos 8 e
2.c) Descentralização por colaboração: o Poder 9, ambas de 1995, para atuar como órgãos reguladores,
Central atribui a execução de um serviço público fiscalizadores e controladores da iniciativa privada, que
passaram a desenvolver as tarefas originalmente atribuí-
(não a titularidade) a uma pessoa jurídica de di-
das ao Estado. Alguns exemplos de agências regulado-
reito privado já existente. A doutrina admite a
ras: Aneel, Anatel, Ancine, ANP, entre outros.
possibilidade de delegação de pessoas físicas da
As agências reguladoras também são autarquias sob
prestação de serviços públicos, como no caso dos um regime especial, diferenciando-se das autarquias co-
notários ou registradores. Aqui a atribuição do ser- muns em dois aspectos:
viço envolve uma remuneração (não é gratuita),
muitas vezes sendo cobrado uma taxa pelo usuário a) estabilidade: os dirigentes das agências regulado-
daquele serviço. ras não podem ser exonerados por qualquer mo-
tivo, ao contrário das autarquias, em que seus di-
Na descentralização, costuma-se utilizar com bastan- rigentes atuam em cargos de comissão. Assim, os
te frequência o termo entidade. Nos termos do art. 1º, § dirigentes das agências têm maior proteção contra
2º, II, da Lei nº 9.784/1999: “Para os fins desta Lei, con- o desligamento forçado, promovendo maior esta-
sideram-se: II – entidade - a unidade de atuação dotada bilidade no exercício de seu cargo;
de personalidade jurídica”. Entidade da Administração, b) mandato fixo: os dirigentes não possuem cargo
assim, é qualquer pessoa jurídica autônoma cujo serviço vitalício. Mas a existência de mandato fixo garan-
público foi outorgado pela entidade federativa, isso é, te também maior estabilidade no seu cargo, visto
pelas pessoas jurídicas de Direito Público interno (União, que ele tem prazo determinado para se encerrar.
Estados, Municípios, Distrito Federal, etc.). Os membros A duração dos mandatos pode variar dependendo
da cada agência, podendo ser de 3 anos como na
federais, nesses casos, realizam apenas uma tarefa de
Anvisa, 4 anos como na Aneel, ou até 5 anos como
controle e fiscalização do serviço prestado pela entidade
na Anatel.
outorgada.
O conjunto de pessoas jurídicas autônomas criadas As agências reguladoras podem ser classificadas:
pelo próprio Estado para atingir determinada finalidade
denomina-se Administração Indireta ou Descentralizada. I) Quanto à sua origem: a) agências federais; b) esta-
Se as entidades são dotadas de personalidade jurídica duais; c) municipais; d) distritais.
própria, elas têm responsabilidade pelos danos e prejuí- II) Quanto à atividade preponderante: a) agências de
zos causados por seus agentes públicos, podendo res- serviço, que exercem as funções típicas; b) agên-
ponder judicialmente pela prática desses atos. As entida- cias de polícia, que exercem fiscalização das ati-
des da Administração Indireta podem ter personalidade vidades econômicas; c) agências de fomento, que
jurídica de Direito Público ou de Direito Privado. ajudam a desenvolver o setor privado; d) agências
Tal diferença é bastante relevante no que diz respeito de uso de bens públicos.
ao procedimento de criação dessas entidades autôno- III) Quanto à previsão constitucional: a) agências com
mas. As pessoas jurídicas de direito público são criadas referência constitucional (a Anatel tem previsão no
por lei (art. 37, XIX, da CF/1988), e a sua personalidade art. 21, XI, da CF/1988); b) agências sem referência
jurídica advém no momento em que tal legislação entra constitucional, são a grande maioria.
em vigor no âmbito jurídico, não havendo necessidade IV) Quanto ao momento de sua criação: a) agências de
de registro em cartório. primeira geração (1996 a 1999) na época das priva-
As pessoas jurídicas de direito privado, todavia, são tizações; b) de segunda geração, de 2000 a 2004;
autorizadas pela lei (art. 37, XX, da CF/1988), ou seja, a c) de terceira geração, que adveio com as agências
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

legislação deve permitir que ela exista, para que o Poder pluripotenciárias (2005 em diante), exercendo múl-
Executivo regulamente suas funções mediante a expedi- tiplas funções simultaneamente.
ção de decretos. Sua personalidade jurídica, dessa forma,
está condicionada ao seu registro em cartório. 2. Associações públicas
São pessoas jurídicas de Direito Público membros da
Administração Indireta: as autarquias, as fundações pú- A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
blicas, agências reguladoras e associações públicas. São pios são os entes responsáveis pela regulamentação dos
pessoas jurídicas de Direito Privado: as empresas públi- consórcios públicos e dos convênios de cooperação, au-
cas, as sociedades de economia mista, as fundações go- torizando a gestão associada de serviços públicos, bem
vernamentais com estrutura de pessoa jurídica de Direito como a transferência total ou parcial de encargos, servi-
Privado, as subsidiárias, e os consórcios públicos de Di- ços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos servi-
reito Privado. ços transferidos (art. 241 da CF/1988).

128
Essas pessoas jurídicas autônomas, criadas pelos Na desconcentração, todavia, há a repartição das atri-
entes federados, e que têm por objeto medidas de mú- buições entre os órgãos públicos pertencentes a uma mes-
tua cooperação, denominam-se consórcios públicos. ma pessoa jurídica, por isso sua vinculação hierárquica. Di-
Os consórcios públicos são disciplinados pela Lei nº fere-se da descentralização justamente nesse aspecto: os
11.107/2005. Uma das características mais distintas dos órgãos públicos, ao contrário das autarquias, fundações,
consórcios é a possibilidade deles possuírem natureza de etc, não têm personalidade jurídica própria, e por isso, não
Direito Público ou de Direito Privado. possuem a mesma autonomia dos entes descentralizados,
Consórcios de Direito Privado obedecem às normas permanecendo vinculados hierarquicamente ao Estado.
da legislação civil. Possuem regime celetista, embora não Muito importante para a desconcentração é a noção
possam ter fins lucrativos. Por isso, não integram a Admi- de órgão público. Nos termos do art. 1º, § 2º, I, da Lei nº
nistração Pública. Já os consórcios de direito público são 9.784/1999, órgão público é “a unidade de atuação inte-
as associações públicas propriamente ditas, podendo ser grante da estrutura da Administração direta e da estrutura
inclusive transfederativas se integrarem todas as esferas da Administração indireta”.
das pessoas consorciadas (federal, estadual, municipal). Assim, podemos definir órgão público como um nú-
As empresas públicas são pessoas jurídicas de Di- cleo de competências do Estado, sem personalidade ju-
reito Privado, cuja criação depende de autorização legal. rídica própria. Por ser órgão despersonalizado, não pode
Sua personalidade é concedida pelo registro de seus atos integrar no polo ativo ou passivo das ações que objetivam
constitutivos em cartório, com a totalidade de seu capital a reparação de danos causados pelo exercício da Adminis-
público, e regime organizacional livre (art. 5º, II, do Dec-Lei tração, devendo a pessoa jurídica a que o órgão pertence
nº 200/1967), podendo ser organizadas como sociedade ser acionada em tais hipóteses.
anônima, ou de responsabilidade limitada, ou ainda socie- São exemplos de órgãos públicos: os Ministérios da
dade por comandita de ações. São empresas públicas: o União, as secretarias estaduais, as Prefeituras e Subpre-
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social feituras, os Tribunais, as Casas Legislativas, entre outros.
(BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF), e a Empresa Todos esses órgãos, somados à União, os Estados, Muni-
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). cípios e o Distrito Federal, compõem a denominada Ad-
As sociedades de economia mista têm seu conceito ministração Direta ou Centralizada.
legal previsto no art. 5º, III, do Dec-Lei nº 200/1967. São A desconcentração é uma técnica utilizada para o
pessoas jurídicas de direito privado, cuja criação também exercício de competências administrativas, mediante a
depende de autorização legal e registro em cartório, criação de órgãos despersonalizados e vinculados hierar-
possui a maioria de seu capital público, e devem ser obri- quicamente aos entes da Federação.
gatoriamente organizadas como sociedades anônimas. Na desconcentração, há a repartição das atribuições
São sociedades de economia mista: Petrobrás, Banco do entre os órgãos públicos pertencentes a uma mesma pes-
Brasil, Eletrobrás. soa jurídica, por isso sua vinculação hierárquica.
Percebemos algumas diferenças entre as empresas
públicas e as sociedades de economia mista. A primei-
ra diz respeito ao capital constitutivo: enquanto que nas FIQUE ATENTO!
empresas públicas, todo o seu capital deve ser público (o Difere-se da descentralização justamente nes-
Dec-Lei nº 200/1967 dispõe que seu capital deve advir se aspecto: os órgãos públicos, ao contrário
totalmente “da União”, mas admite-se também o capital das autarquias, fundações, etc, não têm per-
de origem estadual e municipal), as sociedades de eco- sonalidade jurídica própria, e por isso, não
nomia mista admitem a presença do capital de origem possuem a mesma autonomia dos entes des-
privada, mas pelo menos 50% mais uma de suas ações centralizados, permanecendo vinculados hie-
com direito a voto devem pertencer ao Estado. Além dis- rarquicamente ao Estado.
so, outra diferença relevante é em relação à forma de
sua organização: as sociedades de economia mista de-
vem obrigatoriamente ter a estrutura de sociedade anô-
nima, trata-se de disposição legal do próprio Dec-Lei nº Em relação às modalidades de desconcentração, a
200/1967. As empresas públicas, por sua vez, não sofrem doutrina tende a classificar a desconcentração em três
essa imposição, podendo adotar a estrutura que desejar. espécies distintas:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO I) Desconcentração territorial ou geográfica: é


aquela em que todos os órgãos recebem as mes-
São técnicas utilizadas para o exercício de competên- mas competências em relação à matéria, a diferen-
cias administrativas, mediante órgãos públicos desper- ça encontra-se apenas nas regiões em que devem
sonalizados e vinculados hierarquicamente aos entes da atuar. É o caso das Delegacias de Polícia.
Federação. A concentração é caso raríssimo na nossa Ad- II) Desconcentração material ou temática: é a que
ministração, pois pressupõe a ausência completa de dis- distribui as competências administrativas tendo
tribuições de tarefas entre suas repartições internas, ha- em vista a especialização de cada órgão em um as-
vendo uma forte concentração de poderes em uma única sunto específico. Exemplo: o Ministério da Cultura
pessoa jurídica de Direito Público. da União.

129
III) Desconcentração hierárquica ou funcional: o Possuem agentes auxiliares, mas sua característi-
elemento diferenciador é a relação de subordina- ca de singularidade é desenvolvida pela função de
ção e hierarquia entre os órgãos públicos. Exem- um único agente, em geral o titular;
plo: os tribunais administrativos possuem subordi- c.2) órgãos coletivos: são aqueles que decidem
nação em relação aos órgãos de primeira instância. pela manifestação de muitos membros, de forma
conjunta e por maioria, sem manifestação de von-
tade de um único chefe. A vontade da maioria é
#FicaDica imposta de forma legal, regimental ou estatutária.
A Teoria do Órgão (também pode aparecer
como princípio da imputação volitiva) é uma Todos esses órgãos, somados à União, os Estados,
invenção doutrinária que procura imputar as Municípios e o Distrito Federal, compõem a denominada
ações cometidas pelos agentes e servidores Administração Direta, ou Centralizada.
públicos à pessoa jurídica a que ele esteja Apesar de termos apresentados as técnicas de divisão
ligado. Pela teoria do órgão, os agentes pú- de atribuições de forma separada, isso não significa que
blicos não podem responder pessoalmente elas não possam ocorrer em conjunto. Isso significa afir-
pelos atos que praticam no exercício de suas mar, por exemplo, que a concentração/desconcentração
funções, uma vez que a responsabilidade não é um fenômeno exclusivo da Administração Direta:
pela execução de tais tarefas é do Estado, apenas são estudados juntos para fins didáticos e uma
sendo representado por seus órgãos e entes compreensão mais fácil da matéria.
com personalidade jurídica própria. Assim, podemos encontrar algumas situações bem
peculiares na Administração Pública brasileira, como por
exemplo:
Há, inclusive, uma classificação quanto as diferentes
espécies de órgãos, que poderão ser:
1) Descentralização sem a Administração Indireta:
é possível conceder um serviço público a particu-
lar, sendo até mesmo pessoas naturais (é o caso
A) Quanto à posição estatal:
dos serviços de notas e registros).
a.1) órgãos independentes são os que representam
o Estado em seus Três Poderes, não havendo uma
2) Administração Indireta sem descentralização:
Parte da doutrina diz que a exploração de ativida-
relação de hierarquia entre os mesmos (Congresso
de econômica não faz parte da função administra-
Nacional, Câmara dos Deputados, Tribunais, Varas
tiva e, por isso, não se trata de hipótese de descen-
Judiciais, etc);
tralização. Quem explora atividade econômica são
a.2) órgãos autônomos, são os órgãos subordina-
dos diretamente à cúpula da Administração. Têm
as empresas públicas e sociedades de economia
mista, que fazem parte da Administração Indireta.
grande autonomia administrativa, financeira e técni-
3) Centralização com Concentração: em teoria, é
ca, caracterizando-se como órgãos diretivos (Minis-
possível a criação de uma pessoa jurídica que não
tério Público, Defensoria Pública, AGU, PGR, etc).
se divide em órgãos e secretarias.
a.3) órgãos superiores, possuem poder de direção,
4) Centralização e Desconcentração: aqui temos
controle, decisão e comando dos assuntos de sua
várias pessoas jurídicas que não se dividem em
competência específica. Representam as primeiras
órgãos, o que é também um cenário possível, em
divisões dos órgãos independentes e autônomos
teoria.
(Gabinetes, Coordenadorias, Departamentos, Divi- 5) Desconcentração e descentralização: são pes-
sões, etc); soas jurídicas diferentes, bastante complexas,
a.4) órgãos subalternos: são os que se destinam à que se desmembram em órgãos com atribuições
execução dos trabalhos de rotina, cumprem ordens distintas.
superiores. (Portarias, seções de expediente, etc).
B) Quanto à composição: ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
b.1) órgãos simples: são aqueles que possuem
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

apenas um único centro de competência, sua ca- Entidades de Colaboração e seu Regime Jurídico
racterística fundamental é a ausência de outro ór-
gão em sua estrutura, para auxiliá-lo no desem- Por fim, convém explanar sobre algumas pessoas jurí-
penho de suas funções; b.2) órgãos compostos: dicas que, apesar de não integrarem a Administração Pú-
são aqueles que possuem em sua estrutura outros blica, seja Direta ou Indireta, ainda assim são a elas apli-
órgãos menores, seja com desempenho de função cáveis as normas gerais de Direito Administrativo. Essas
principal ou de auxílio nas atividades, as funções são as entidades paraestatais. As entidades paraestatais
são distribuídas em vários centros de competência, são entidades privadas que realizam atividades de inte-
sob a supervisão do órgão de chefia. resse coletivo, sem fins lucrativos que recebem incenti-
C) Quanto à forma de atuação funcional: vos de entidades públicas. Tais empresas privadas cujos
c.1) órgãos singulares: são aqueles que decidem objetivos são a execução de serviços de relevante inte-
e atuam por meio de um único agente, o chefe. resse público são denominados entidades do Terceiro
Setor. Tradicionalmente considera-se “entidade paraes-

130
tatal” sinônimo de entidades da Administração Indireta. 2. Organização da Sociedade Civil de Interesse
As entidades paraestatais, por serem regidas pelo di- Público
reito privado, não têm os privilégios concedidos cons-
titucionalmente às entidades de direito público. Essas As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Pú-
entidades paraestatais podem se apresentar sob as se- blico (OSCIPs) são também pessoas jurídicas de direito
guintes formas: organização social, e organização de so- privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa dos
ciedade civil de interesse público. particulares e qualificadas pelo Estado, para desempe-
nhar serviços não exclusivos do Estado, com fiscalização
1. Organização Social pelo Poder Público, formalizando a parceria com a Admi-
nistração Pública por meio de termo de parceria.
A organização social (OS) não é uma pessoa jurídica A lei que disciplina as OSCIPs é a Lei nº 9.790/1999,
especial, mas uma qualificação especial outorgada pelo sendo regulamentada pelo Decreto nº 3.100/1999. Seu
governo federal a entidades da iniciativa privada, sem fins artigo 3º dá uma noção mais ampla e geral sobre as
lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de vantagens entidades que podem ser qualificadas como OSCIPs, in
peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos verbis:
orçamentários, repasse de bens públicos, bem como em-
préstimo temporário de servidores governamentais.
Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, obser-
A Lei nº 9.637/1998 é a lei que regulamenta essa qua-
lificação das OS, e seu artigo 1º é bastante claro ao delimi-
vado em qualquer caso, o princípio da universaliza-
tar a área de atuação de tais entidades privadas: de modo ção dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das
geral, a OS será concedida a empresas cujas principais ati- Organizações, somente será conferida às pessoas jurí-
vidades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao dicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos ob-
desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação jetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes
do meio ambiente, à cultura e à saúde. finalidades:
Desempenham, portanto, atividades de interesse pú- I - promoção da assistência social;
blico, mas que não se caracterizam como serviços públicos II - promoção da cultura, defesa e conservação do pa-
stricto sensu, razão pela qual é incorreto afirmar que as or- trimônio histórico e artístico;
ganizações sociais são concessionárias ou permissionárias. III - promoção gratuita da educação, observando-se
O artigo 2º da referida Lei dispõe sobre os requisitos a forma complementar de participação das organiza-
para a outorga da qualificação como OS: São requisitos ções de que trata esta Lei;
específicos para que as entidades privadas referidas no IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a for-
artigo anterior habilitem-se à qualificação como organi- ma complementar de participação das organizações
zação social: de que trata esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
I - comprovar o registro de seu ato constitutivo, in- VI - defesa, preservação e conservação do meio am-
cluindo a sua natureza social, seus objetivos, suas fi- biente e promoção do desenvolvimento sustentável;
nalidades devem ser não lucrativas, a composição dos VII - promoção do voluntariado;
membros de sua diretoria, etc; e VIII - promoção do desenvolvimento econômico e so-
II - haver aprovação, quanto à conveniência e oportu- cial e combate à pobreza;
nidade de sua qualificação como organização social, IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos
do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regula- sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produ-
dor da área de atividade correspondente ao seu objeto ção, comércio, emprego e crédito;
social e do Ministro de Estado da Administração Fe- X - promoção de direitos estabelecidos, construção de
deral e Reforma do Estado. Importante ressaltar que novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interes-
a concessão de tal qualificação é ato discricionário, se suplementar;
ficando a cargo do agente responsável (Ministro de Es- XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos di-
tado), considerando critérios de conveniência e opor- reitos humanos, da democracia e de outros valores
tunidade, conceder ou não tal qualificação. universais;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnolo-


O instrumento de formalização da parceria entre a gias alternativas, produção e divulgação de informa-
Administração e a organização social é o contrato de ções e conhecimentos técnicos e científicos que digam
gestão, cuja aprovação deve ser submetida ao Ministro respeito às atividades mencionadas neste artigo.
de Estado ou outra autoridade supervisora da área de XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a
atuação da entidade. As organizações sociais represen- disponibilização e a implementação de tecnologias
tam uma espécie de parceria entre a Administração e voltadas à mobilidade de pessoas, por qualquer meio
a iniciativa privada, exercendo atividades que, antes da de transporte.
Emenda 19/98, eram desempenhadas por entidades pú-
blicas. Por isso, seu surgimento no Direito Brasileiro está Como já mencionamos, o instrumento que regula
relacionado com um processo de privatização lato sensu essa relação do Poder Público com a OSCIP é o termo
realizado por meio da abertura de atividades públicas à de parceria, que discriminará direitos, responsabilidades
iniciativa privada. e obrigações das partes signatárias, prevendo especial-

131
mente metas a serem alcançadas, prazo de duração, di- organização da administração pública estadual, não
reitos e obrigações das partes e formas de fiscalização. havendo necessidade de a criação de nenhuma das
Além disso, outra diferença marcante entre a OSCIP da entidades ser feita por lei.
OS é que sua concessão é ato vinculado (art. 1º, § 2º, Lei e) duas leis específicas: uma para a autorização da cria-
nº 9.790/1999), podendo-se falar em um “direito adqui- ção da empresa pública e outra para a autorização da
rido” da empresa privada em obter a qualificação de OS- criação da autarquia.
CIP. O requerimento deve ser encaminhado ao Ministro
da Justiça, na forma do artigo 5º da referida Lei. Resposta: Letra B.
A questão é bastante simples, pois exige que o can-
Esquematicamente, podemos estabelecer as princi- didato conheça uma diferença básica entre os entes
pais diferenças entre a OS e a OSCIP: descentralizados da administração pública. As pessoas
jurídicas de direito público, como as autarquias, são
Principais OS OSCIP criadas por lei. As pessoas jurídicas de direito privado,
distinções como empresas públicas e sociedades de economia
mista, já existem dentro da realidade social. Precisam,
Quanto à Lei nº Lei nº porém, de autorização legislativa para exercerem suas
legislação 9.637/1998 9.790/1999 funções.
+ Decreto nº
3.100/1999 2.(FCC – 2007) A organização administrativa brasileira
Quanto ao Atividades Atividades não tem como característica a:
exercício de de interesse exclusivas do
funções público Estado, mas a) não previsão de estruturas descentralizadas.
anteriormente de relevante b) personificação de entes integrantes da Administração
desempenhadas interesse indireta.
pelo Estado público (mais c) ausência de relações de hierarquia.
(mais restrito) abrangente) d) ausência de mecanismos de coordenação e de contro-
Quanto ao Contrato de Termo de le finalístico.
Instrumento Gestão Parceria e) inexistência de entidades submetidas a certas regras
que formaliza a de direito privado.
relação
Resposta: Letra B.
Quanto à Ato Ato vinculado; Impossível dizer que não há relações de hierarquia e
vinculação da discricionário; disposição legal subordinação na organização administrativa. É o caso
qualificação conveniência e dos órgãos públicos. Já os entes da Administração In-
oportunidade direta possuem, sim, personalidade jurídica própria,
Quanto ao Ministro de Ministro da seus bens e patrimônio não se confundem com os
ente público Estado Justiça membros federativos. Porém, sofrem controle de fis-
outorgante calização pelo Poder Público que lhe concedeu suas
Quanto à Não há tal Há direito competências.
possibilidade possibilidade adquirido sobre
de direito a outorga 3.(CESPE – 2019) Acerca dos órgãos públicos e dos insti-
adquirido tutos da centralização e da descentralização administra-
tiva, assinale a opção correta.

a) Os entes criados por descentralização permanecem


EXERCÍCIOS COMENTADOS hierarquicamente subordinados aos órgãos dos quais
foram descentralizados.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

b) A administração centralizada atua por meio de órgãos


1.(CESPE – 2019) Determinado governador preten-
públicos, que são unidades dotadas de personalidade
de que sejam criadas uma nova autarquia e uma nova
jurídica e que expressam a vontade do Estado
empresa pública em seu estado. Nessa situação, serão
c) A descentralização administrativa caracteriza-se pela
necessárias
retirada de atribuições da esfera do interesse público
a) duas leis específicas: uma para a criação da autarquia
e sua transferência para o domínio privado.
d) A criação e a extinção de órgãos públicos devem ob-
e outra para a criação da empresa pública.
servar a exigência de lei ou decreto específico.
b) uma lei específica para a criação da autarquia e outra
e) A descentralização política ocorre quando o ente des-
para a autorização da instituição da empresa pública.
centralizado exerce atribuições próprias que não de-
c) uma lei específica para a criação da empresa pública e
outra para a autorização da instituição da autarquia.
correm do ente central.
d) autorizações legais na norma geral acerca da nova

132
Resposta: Letra E. tratar servidores mediante concurso público.
A letra A está errada, os entes criados por descentra- e) de direito privado, sujeitando-se ao dever de licitar
lização não estão subordinados ao ente criador, uma conforme legislação específica.
vez que eles possuem autonomia para exercer suas
funções por conta própria e responder pela prática Resposta: Letra E.
de atos danosos. A letra B está incorreta, os órgãos As letras A e B estão erradas, pois é unânime o enten-
públicos são entes despersonalizados, não podendo dimento de que as empresas públicas e as sociedades
atuar por conta própria, possuindo certa subordi- de economia mista sujeitam-se ao regime de direito
nação hierárquica ao Estado. A letra C está errada, a privado. A letra C está errada na sua parte final. Uma
descentralização é o fenômeno em que há delegação parte da doutrina entende que o regime das estatais
de competências de um ente público para outro ente é híbrido, mas independentemente disso, as estatais
distinto, com personalidade jurídica própria. A letra D não contratam servidores, e sim empregados públi-
cos, mediante aprovação em concurso público. A letra
está incorreta, a exigência de lei ou decreto específico
D está errada, pois todas as empresas estatais estão
vale apenas para os entes descentralizados, não para
sujeitas ao regime de direito privado, não há exceções.
os órgãos públicos.
AUTARQUIAS
4.(CONTEMAX – 2019) Complete a lacuna com a al-
ternativa CORRETA: “A _____________é a entidade da As autarquias são pessoas jurídicas de Direito Público
administração pública indireta considerada um serviço interno, criadas por legislação própria, que têm por es-
autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, copo exercer as funções típicas da Administração Pública.
patrimônio e receita própria para executar atividades tí- Seu conceito também encontra-se disposto no art. 5º, I,
picas da Administração Pública, que requeiram para seu do Dec-Lei nº 200/1967:
melhor funcionamento, gestão administrativa e financei-
ra descentralizada”. Para os fins desta lei, considera-se: I - Autarquia - o
serviço autônomo, criado por lei, com personalidade
a) Empresa pública. jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar
b) Autarquia. atividades típicas da Administração Pública, que re-
c) Sociedade de economia mista. queiram, para seu melhor funcionamento, gestão ad-
d) Fundação. ministrativa e financeira descentralizada.
e) Consórcio público.
1.1 Características principais das autarquias
Resposta: Letra B.
As letras A e C estão erradas, porque as empresas pú- Pelo conceito legal, podemos destacar algumas carac-
blicas e sociedades de economia mista não são criadas terísticas próprias das autarquias.
por lei, mas para o seu devido funcionamento, preci-
sam ser autorizadas por lei. Além disso, tais pessoas a) Pessoa Jurídica de Direito Público: isso significa,
podem exercer alguma atividade econômica, o que em termos gerais, que às autarquias não são apli-
não caracteriza como atividade típica da administra- cáveis as regras de Direito Privado.
ção. A letra D está errada, pois uma fundação não é b) Criação dependente de Lei específica: o surgi-
um serviço autônomo, mas a união do patrimônio de mento da personalidade jurídica da autarquia ad-
diversos entes distintos para atender a uma finalida- vém com a redação de uma Lei cuja matéria seja
de específica, de relevante interesse público. A letra E somente a criação da referida autarquia (art. 37,
está errada, pois consórcio público caracteriza-se pela XIX, da CF/1988).
união voluntária, entre dois ou mais entes da federa- c) Autonomia gerencial, patrimonial e orçamentá-
ção, sem fins lucrativos, com o intuito de prestar ser- ria: ter autonomia significa que as autarquias não
viços e desenvolver ações conjuntas que promovam possuem relação de hierarquia com a Administra-
benefícios públicos. ção Direta, tendo patrimônio próprio e funções tí-
picas que não se confundem com os demais entes
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

5.(VUNESP – 2020) O regime jurídico a que se subme- da Federação. Não significa, todavia, que não são
tem as empresas públicas e sociedades de economia independentes de seus entes, podendo sofrer fis-
mista, de acordo com a Constituição Federal, é calização destes no exercício de suas atividades.
d) Regime estatutário: os membros da autarquia
a) de direito público, abrangendo o dever de licitar e de ocupam cargos públicos. A contratação pelo regi-
contratar mediante concurso público. me celetista, isso é, nos termos da CLT, somente é
b) de direito público, estando dispensadas do dever de admitida em casos excepcionais.
licitar e de contratar mediante concurso público.
c) híbrido, sujeitando-se ao dever de licitar, mas dis-
pensadas do dever de selecionar servidores mediante
concurso público.
d) de direito privado, apenas se forem exploradoras de
atividade econômica, sujeitando-se ao dever de con-

133
e) Responsabilidade objetiva: não há necessida- FUNDAÇÕES
de de demonstração de culpa para as autarquias
serem responsáveis pela prática de atos de seus As fundações públicas são consideradas espécies de
agentes. A Administração Direta responde apenas autarquias, possuindo diversas características similares.
subsidiariamente pela prática dos atos danosos, Fundação pública é, nos termos do art. 5º, IV, do Dec-Lei
caso a autarquia careça de condições patrimoniais nº 200/1967:
para reparar os danos causados.
a entidade dotada de personalidade jurídica de direito
1.2 Classificação privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de au-
torização legislativa, para o desenvolvimento de ativi-
A doutrina tende a classificar as autarquias nos seguin- dades que não exijam execução por órgãos ou entida-
tes grupos: des de direito público, com autonomia administrativa,
patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de
I) Administrativas: são as autarquias comuns, apre- direção, e funcionamento custeado por recursos da
sentam regime jurídico ordinário. Exemplo: Insti- União e de outras fontes.
tuto Nacional de Seguridade Social (INSS).
II) Especiais: possuem maior autonomia em relação A Funai, Funasa, o IBGE, são alguns exemplos de fun-
as autarquias administrativas devido a presença de dações públicas.
certas características, como a presença de dirigen- Pelo conceito disposto na legislação, percebe-se que
tes com mandato fixo. Podem se subdividir em: o referido Decreto-Lei dispõe serem as fundações como
b.1) especiais stricto sensu (Banco Central); e entidades com personalidade jurídica de Direito Privado.
b.2) agências reguladoras (Anatel, Anvisa). Tal conceituação não foi recepcionada pela Constituição
III) Corporativas: são as corporações profissionais, de 1988 que, em seu art. 37, XIX, decidiu não fazer tal dis-
que promovem o controle e a fiscalização de cate- tinção: “somente por lei específica poderá ser criada au-
gorias profissionais. Exemplos: Crea, CRO, CRM.
tarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de
IV) Fundacionais: são as fundações públicas, entida-
sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à
des que arrecadam patrimônio para o cumprimen-
lei complementar, neste último caso, definir as áreas de
to de um objetivo específico. Exemplos: Funai, Pro-
sua atuação”.
con, Funasa.
Dessa forma, concluímos que as fundações podem ser
V) Territoriais: são as autarquias de controle da
tanto de Direito Público como de Direito Privado, depen-
União, também denominadas territórios federais
dendo do que a lei instituidora da fundação delimitar quan-
(art. 33 da CF/1988). A atual Constituição aboliu os
territórios federais remanescentes.
to a suas competências. Todavia, importante frisar que,
mesmo as fundações de regime jurídico privado devem
VI) Associativas: são as autarquias criadas pelo re-
sultado de uma celebração de consórcio público, obediência às normas públicas, e não à legislação civil.
também denominadas associações públicas. Se o
contrato de consórcio público envolver múltiplos EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADE DE ECONOMIA
entes da Federação, tais autarquias podem ser MISTA
transfederativas. Exemplo: associação criada entre
União, Estados e Municípios para a construção de Empresas do Estado são as pessoas jurídicas de Direito
um teatro. Privado pertencentes à Administração Indireta. São duas: as
empresas públicas, e as sociedades de economia mista.

FIQUE ATENTO! Características das empresas estatais


Curioso é o caso da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB). A princípio, a OAB possui as As empresas públicas e as sociedades de economia
características de uma autarquia profissional mista apresentam características em comum:
ou corporativa, dado seus objetivos de pro-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

teger os interesses de todos os advogados a) Atuação na prestação de serviços públicos ou no


do país. Porém, no julgamento da ADI nº desenvolvimento de atividade econômica: as em-
3.026/2006, o STF decidiu por retirar a natu- presas exploradoras de atividade econômica geral-
reza autárquica da OAB, alegando que, por mente recebem menor controle pela Administração,
não possuir personalidade jurídica de Direito embora também apresentem certas desvantagens,
Público, é entidade independente, não pos- como não ter imunidade a impostos, e seus bens
sui nenhum vínculo com a Administração Pú- não têm natureza pública, podendo ser penhorados.
blica, apesar de exercer função institucional. b) Sofrem controle pelo Tribunal de Contas da União:
Sendo assim, para todos os efeitos, o mais bem como do Poder Judiciário, no que couber.
correto é afirmar que a OAB não é autarquia! c) Contratação de bens e serviços mediante prévia lici-
tação: a licitação é processo utilizado a fim de pro-
mover uma competição justa com as empresas pri-
vadas do mesmo setor. Tal imposição não é exigida

134
para as empresas públicas e sociedades de econo- majoritário (se o Estado for sócio, mas não for controla-
mia mista exploradoras de atividade econômica. dor, trata-se de empresa comum, não sociedade de eco-
d) Obrigatoriedade de realização de concurso público: nomia mista).
trata-se de uma forma de avaliar os melhores fun- Alguns exemplos de sociedade mista: Banco do Brasil
cionários dentro de um grupo seleto de candidatos. e Banespa, como exploradoras de atividade econômica;
e) Contratação de pessoal pelo regime celetista: seus Petrobrás, Sabesp, Metrô e Companhia de Desenvolvi-
membros são denominados empregados públicos, mento Habitacional Urbano (CDHU), como prestadoras
salvo as hipóteses de contratação para cargo co- de serviços públicos.
missionado. É também vedada a acumulação de Estas sociedades de economia mista se caracterizam
cargos, empregos ou funções públicas. e se diferenciam das empresas públicas por: possuírem
f) Impossibilidade de decretar sua falência: nos ter- fins lucrativos (os lucros são distribuídos entre os acionis-
mos do art. 2º, I, da Lei nº 11.101/2005. tas), adotam o perfil de sociedade anônima S/A, o capital
social é formado por recursos públicos e privados, os só-
cios são privados e públicos (Estado).
FIQUE ATENTO!
O Tribunal de Contas é instituto criado para Pontos comuns e distintivos entre empresas públi-
exercer controle e fiscalização contábil, fi- cas e sociedades de economia mista
nanceira e orçamentária dos membros do
Estado e da Administração Pública Direta e Embora a Constituição Federal reserve a atividade
Indireta. Apesar de seu nome, o Tribunal de econômica à iniciativa privada, resguardando ao Estado
Contas não integra o Poder Judiciário. Na os papéis de integração (integrar o Brasil na economia
realidade, a doutrina tem suas divergências global), regulação (definindo regras e limites na explora-
quanto à matéria, embora a grande maioria ção da atividade econômica por particulares) e interven-
admite que o Tribunal de Contas seja vincu- ção (fixação de regras e normas para combater o abuso
lado ao Poder Legislativo, na forma do art. 71 do poder econômico) (conforme artigos 173 e seguintes,
da CF/1988. Apesar dessa discussão, inegável CF), autoriza-se excepcionalmente que o Estado explore
é a sua autonomia na medida que ajuda o diretamente atividades econômicas se houver um rele-
Congresso Nacional no exercício de controle vante interesse em matérias (serviços públicos em geral)
externo dos membros do Estado. ou atividades de soberania.
Quando está autorizado a fazê-lo, somente atua por
meio de sociedades de economia mista e empresas pú-
As empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito blicas. Tais empresas são regidas por regime jurídico de
Privado, cuja criação depende de autorização legal. Sua direito privado, o que evita que o próprio Estado possa
personalidade é concedida pelo registro de seus atos abusar do poder econômico. Logo, o Estado não pode dar
constitutivos em cartório, com a totalidade de seu capital às suas próprias empresas benefícios previdenciários, tri-
público, e regime organizacional livre (art. 5º, II, do Dec-Lei butários e trabalhistas. Além disso, em termos processuais,
nº 200/1967), podendo ser organizadas como sociedade não gozam das prerrogativas que as autarquias gozam.
anônima, ou de responsabilidade limitada, ou ainda socie- Este impedimento de prerrogativas somente se apli-
dade por comandita de ações. São empresas públicas: o ca quando o Estado está explorando atividade econômica
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social propriamente dita, não quando está ofertando serviços
(BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF), e a Empresa públicos. Afinal, se o serviço é público, então o Estado
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). pode sobre ele exercer monopólio, o que afasta a necessi-
dade de regras que impeçam o abuso do poder econômi-
Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967: co. Por exemplo, os Correios são uma empresa pública e
III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dota- possuem isenção fiscal e impenhorabilidade de bens.
da de personalidade jurídica de direito privado, criada Tanto as empresas públicas quanto as sociedades de
por lei para a exploração de atividade econômica, sob economia mista são criadas por lei e a existência delas
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a forma de sociedade anônima, cujas ações com di- deve ser fundada em contrato ou estatuto. Ambas se su-
reito a voto pertençam em sua maioria à União ou a jeitam, ainda, ao regime jurídico de direito privado. Inclu-
entidade da Administração Indireta. sive, seus bens são, a princípio, penhoráveis (exceto se for
prestadora de serviço público e não exploradora de ativi-
As sociedades de economia mista são pessoas jurídi- dade econômica). No entanto, não se sujeitam à falência
cas de Direito Privado criadas para a prestação de servi- ou à recuperação judicial (art. 2º, Lei nº 11.101/2005).
ços públicos ou para a exploração de atividade econômi- Contudo, devem obedecer ao núcleo obrigatório mí-
ca, contando com capital misto e constituídas somente nimo: licitar (exceto no que tange à prestação da ativida-
sob a forma empresarial de S/A. de-fim), concursar (os agentes se sujeitam ao regime da
Por capital misto, entenda-se que não é apenas o Es- CLT, são celetistas e não estatutários, mas são contrata-
tado que participa dela, existem acionistas a ela vincu- dos mediante concurso público de provas ou provas e
lados. Entretanto, o Estado deve ser o acionista contro- títulos), prestar contas ao Tribunal de Contas e obedecer
lador do direito a voto, mesmo que não seja o acionista

135
ao teto de remuneração (exceto no caso de sociedade 3. (CESPE – 2018) Considerando a doutrina majoritária,
de economia mista que subsista sem qualquer auxílio do julgue o próximo item, referente ao poder administrati-
governo, apenas com seus lucros). vo, à organização administrativa federal e aos princípios
Em relação aos pontos distintivos, vale o reforço, con- básicos da administração pública. Quando criadas como
forme a tabela abaixo: autarquias de regime especial, as agências reguladoras
integram a administração direta.
Empresa Pública Sociedade de Economia
( ) CERTO ( ) ERRADO
Mista
Não possuem fins Possuem fins lucrativos Resposta: Errado.
lucrativos Como autarquias de regime especial, as agências re-
guladoras fazem parte da Administração Indireta.
Adotam perfis empresariais Adotam o perfil de
diversos (inclusive pode sociedade anônima S/A 4. (CESPE – 2018) Em relação à organização administra-
ser S/A) tiva e à licitação administrativa, julgue o item a seguir.
Capital social de recursos Capital social de recursos Por ser dotada de personalidade jurídica de direito públi-
co e integrar a administração pública indireta, a empresa
públicos públicos e privados
pública não pode explorar atividade econômica.
Apenas sócios públicos Sócios públicos e
privados ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado.
EXERCÍCIO COMENTADO A empresa pública é integrante da Administração Indi-
reta e possui personalidade jurídica de direito privado.
Pode ser criada para exploração de atividades econô-
1. (CESPE – 2018) Em relação ao direito administrativo, micas ou para prestação de serviços públicos (artigo
julgue o item seguinte. Somente por decreto específico 5o, II, Decreto-Lei nº 200/1967).
poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de
5. (AOCP – 2018). A respeito da organização da Admi-
empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo à lei complementar definir as áreas
nistração Pública, assinale a alternativa correta.
de atuação.

( ) CERTO ( ) ERRADO a) Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamen-


to judicial, pelos Conselhos Profissionais, submetem-
-se ao regime de precatórios.
Resposta: Errado. b) O regime jurídico de direito privado das empresas pú-
Disciplina o artigo 37, XIX, CF: “somente por lei espe- blicas é parcialmente derrogado por normas de direito
cífica poderá ser criada autarquia e autorizada a insti- público, cenário este que a doutrina denomina de re-
tuição de empresa pública, de sociedade de economia gime jurídico híbrido.
mista e de fundação, cabendo à lei complementar, c) A dotação patrimonial, no que tange às fundações insti-
neste último caso, definir as áreas de sua atuação”. tuídas pelo Poder Público, deve ser inteiramente pública.
Somente fundação pública tem suas áreas de atuação d) Quanto à forma de organização, as sociedades de
determinadas por lei federal. Basta lei ordinária para economia mista podem ser estruturadas sob qualquer
criar autarquia e autorizar a instituição de empresa das formas admitidas em direito.
pública ou sociedade de economia mista – Decreto é e) Descentralização por serviço é a que se verifica quan-
insuficiente para tanto. do, por meio de contrato, transfere-se a execução de
determinado serviço público à pessoa jurídica de di-
2. (CESPE – 2018) A respeito dos princípios da adminis- reito privado.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

tração pública, de noções de organização administrativa


e da administração direta e indireta, julgue o item que se Resposta: Letra B.
segue. As autarquias são pessoas jurídicas criadas por lei A alternativa A está incorreta, pois trata-se de enten-
e possuem liberdade administrativa, não sendo subordi- dimento do STF que os conselhos profissionais não se
nadas a órgãos estatais. submetem ao regime de precatórios. Alternativa C está
incorreta pois há a modalidade de fundação pública
( ) CERTO ( ) ERRADO como pessoa jurídica de Direito Privado. Alternativa D
está incorreta pois as sociedades de economia mista
Resposta: Certo. só poderão ser instituídas como sociedades anônimas.
O artigo 5o, I, Decreto-Lei nº 200/1967 descreve a autar-
Alternativa E está incorreta pois a hipótese descrita é a
quia como serviço autônomo, ou seja, estas possuem
de descentralização por delegação.
independência em relação aos órgãos da Administra-
ção direta; e também diz que estas são criadas por lei.

136
dente da República, Governadores, Prefeitos e res-
AGENTES PÚBLICOS pectivos vices, os auxiliares imediatos dos chefes
de Executivo, isto é, Ministros e Secretários das di-
versas pastas, bem como os Senadores, Deputados
ESPÉCIES E CLASSIFICAÇÃO Federais e Estaduais e os Vereadores”3. O agente
político é aquele detentor de cargo eletivo, eleito
Agente público é expressão que engloba todas as por mandatos transitórios.
pessoas lotadas na Administração, isto é, trata-se daque- b) servidores públicos, que se dividem em funcioná-
les que servem ao Poder Público. “A expressão agente rio público, empregado público e contratados em
público tem sentido amplo, significa o conjunto de pes- caráter temporário. Os servidores públicos formam
soas que, a qualquer título, exercem uma função públi- a grande massa dos agentes do Estado, desenvol-
ca como prepostos do Estado. Essa função, é mister que vendo variadas funções. O funcionário público é o
se diga, pode ser remunerada ou gratuita, definitiva ou tipo de servidor público que é titular de um cargo,
transitória, política ou jurídica. O que é certo é que, quan- se sujeitando a regime estatutário (previsto em es-
do atuam no mundo jurídico, tais agentes estão de algu- tatuto próprio, não na CLT). O empregado público
ma forma vinculados ao Poder Público. Como se sabe, o é o tipo de servidor público que é titular de um
Estado só se faz presente através das pessoas físicas que emprego, sujeitando-se ao regime celetista (CLT).
em seu nome manifestam determinada vontade, e é por Tanto o funcionário público quanto o emprega-
isso que essa manifestação volitiva acaba por ser imputa- do público somente se vinculam à Administração
da ao próprio Estado. São todas essas pessoas físicas que mediante concurso público, sendo nomeados em
constituem os agentes públicos”2. caráter efetivo. Contratados em caráter temporário
Neste sentido, o artigo 2º da Lei nº 8.429/92 (Lei de são servidores contratados por um período certo e
Improbidade Administrativa): determinado, por força de uma situação de excep-
Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, cional interesse público, não sendo nomeados em
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou caráter efetivo, ocupando uma função pública.
sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, c) particulares em colaboração com o Estado – são
contratação ou qualquer outra forma de investidura agentes que, embora sejam particulares, executam
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas enti- funções públicas especiais que podem ser qualifi-
dades mencionadas no artigo anterior. cadas como públicas. Ex.: mesário, jurado, recruta-
Quanto às entidades as quais o agente pode estar dos para serviço militar.
vinculado, tem-se o artigo 1º da Lei nº 8.429/92:
Os atos de improbidade praticados por qualquer
#FicaDica
agente público, servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes Os agentes públicos podem ser agentes polí-
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municí- ticos, particulares em colaboração com o Es-
pios, de Território, de empresa incorporada ao patrimô- tado e servidores públicos. Logo, o servidor
nio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
público é uma espécie do gênero agente pú-
erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquen-
blico. Com efeito, funcionário público é uma
ta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão
espécie do gênero servidor público, abran-
punidos na forma desta lei.
gendo apenas os servidores que se sujeitam
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalida- a regime estatutário.
des desta lei os atos de improbidade praticados con-
tra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão 2.1. Natureza jurídica da relação de emprego
público bem como daquelas para cuja criação ou cus- público
teio o erário haja concorrido ou concorra com menos
de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita O servidor público de sociedade de economia mista e
de empresa pública não se sujeita a Estatuto, mas sim à
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimo-


nial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Em suma, não
cofres públicos. são estatutários e sim celetistas. Logo, a natureza jurídi-
ca da relação de emprego público é contratual, embo-
ra o vínculo tenha natureza pública. Inclusive, eventuais
CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICOS conflitos trabalhistas são resolvidos perante a justiça do
trabalho.
Apesar disso, são contratados mediante concurso pú-
Os agentes públicos subdividem-se em: blico de provas ou provas e títulos, pois mesmo as em-
presas públicas e as sociedades de economia mista são
a) agentes políticos – “são os titulares dos cargos es- obrigadas a respeitar um núcleo obrigatório mínimo, que
truturais à organização política do País [...], Presi- envolve o dever de contratar apenas por concurso.

2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administra- 3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrati-
tivo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. vo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

137
classificação e o prazo de sua validade.
#FicaDica Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso
e o desenvolvimento do servidor na carreira, median-
Empregado público é celetista – Sujeita-se à
te promoção, serão estabelecidos pela lei que fixar as
CLT – Relação contratual
diretrizes do sistema de carreira na Administração Pú-
Servidor público é estatutário – Sujeita-se à
blica Federal e seus regulamentos.
respectiva lei especial – Relação estatutária
No concurso de provas o candidato é avaliado ape-
3. Ausência de competência: agente de fato nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos
concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua
O agente precisa estar legitimamente investido num atividade profissional também é considerado.
cargo para praticar um ato administrativo, isto é, deve Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não
ter competência para tanto. Contudo, existe a situação exige concurso público, sendo exceção à regra geral.
do agente de fato, que é aquele em relação ao qual a Em todas outras situações, a administração direta e
investidura está maculada de um defeito. indireta é obrigada a prover seus cargos, empregos e
Di Pietro4 exemplifica tal situação: “falta de requisito funções por meio de concursos públicos. Inclusive, por
legal para investidura, como certificado de sanidade ven- mais que empresas públicas e sociedades de economia
cido; inexistência de formação universitária para função mista sejam pessoas jurídicas de direito privado, devem
que a exige, idade inferior ao mínimo legal; o mesmo respeitar o núcleo mínimo de imposições ao poder pú-
ocorre quando o servidor está suspenso do cargo, ou blico, inclusive a obrigação de prover seus empregos por
exerce funções depois de vencido o prazo de sua contra- meio de concurso público.
tação, ou continua em exercício após a idade-limite para
aposentadoria compulsória”. #FicaDica
Essa ilegalidade gera efeitos na competência do ato
administrativo, mas não pode ser confundida com o cri- Todas entidades da administração direta e in-
me de usurpação de função (art. 328, CP), no qual o su- direta devem realizar concurso público para
jeito exerce uma atribuição de cargo, emprego ou função contratar funcionários públicos.
pública, sem ocorrer nenhuma forma de investidura. No Exceção: cargo em comissão, baseado em
caso do agente de fato, há investidura, mas ela se deu confiança.
sem os devidos requisitos.
Quanto aos atos praticados pelo agente de fato, a
doutrina majoritária considera-os válidos, por causa da 4. Servidor ocupante de cargo em comissão
aparência de conformidade com a lei e em preservação
da boa-fé dos administrados. Entretanto, será necessá- Os cargos em comissão são de nomeação livre, dis-
rio ponderar no caso concreto, utilizando como vetores pensando concurso público.
a segurança jurídica e a boa-fé da população, bem como O ocupante de cargo em comissão não precisa ser
observando se a falta de competência não poderia ser titular de cargo efetivo.
facilmente detectada. Serve para cargos de chefias, assessoramento e dire-
ção, notadamente, cargos de confiança.
3.1. Exigência de concurso público para investidura Os servidores que ocupam cargo em comissão po-
em cargo ou emprego público dem ser exonerados a qualquer tempo, pois não adqui-
rem estabilidade e nem as garantias que dela decorrem
Art. 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego pú- (exonerado “ad nutum”).
blico depende de aprovação prévia em concurso públi- Se sujeita ao regime geral da previdência social.
co de provas ou de provas e títulos, de acordo com a Quanto ao regime de trabalho, será o mesmo dos de-
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na mais servidores do órgão em que ocupa o cargo – se for
estatutário, seguirá o mesmo estatuto e fará jus aos direi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para


cargo em comissão declarado em lei de livre nomea- tos ali previstos, exceto os de natureza previdenciária; se
ção e exoneração. for celetista, seguirá as normas da CLT e terá os mesmos
direitos ali assegurados, inclusive FGTS.
Neste sentido, preconiza o artigo 10 da Lei nº
8.112/1990: #FicaDica
Art. 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de Servidor que ocupe cargo em comissão ja-
carreira ou cargo isolado de provimento efetivo de- mais adquire estabilidade.
pende de prévia habilitação em concurso público de Pode ser exonerado a qualquer tempo.
provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de Não se sujeita a regime estatutário – contri-
bui pelo INSS e se sujeita à CLT.
4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São
Paulo: Atlas editora, 2010.

138
4.1. Servidor efetivo e vitalício: garantias 5. Estágio probatório

O servidor público efetivo, aquele que foi provido Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a
em cargo mediante nomeação seguida da aprovação ser lido em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990:
em concurso público, está apto a adquirir estabilidade,
nos moldes do artigo 41, CF, após três anos de efetivo Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo
exercício. exercício os servidores nomeados para cargo de provi-
Os primeiros 3 anos de serviço correspondem ao es- mento efetivo em virtude de concurso público.
tágio probatório, período em que o servidor deverá ser § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
submetido a uma avaliação especial de desempenho. I - em virtude de sentença judicial transitada em
Nos moldes do artigo 41, §1º, CF, o servidor apenas julgado;
perderá o cargo em virtude de sentença judicial transi- II - mediante processo administrativo em que lhe seja
tada em julgado, mediante processo administrativo em assegurada ampla defesa;
que lhe seja assegurada ampla defesa ou mediante pro- III - mediante procedimento de avaliação periódica de
cedimento de avaliação periódica de desempenho, na desempenho, na forma de lei complementar, assegu-
forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. rada ampla defesa.
Logo, é possível a perda do cargo mesmo após adquirir a § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do
estabilidade, mas há garantias quanto à forma como isso servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual
pode ocorrer. ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo
Além das hipóteses citadas, existe mais uma possibi- de origem, sem direito a indenização, aproveitado em
lidade de perda de cargo (sem caráter punitivo), mesmo outro cargo ou posto em disponibilidade com remune-
que o seu detentor seja estável no serviço público. Tra- ração proporcional ao tempo de serviço.
ta-se da perda de cargo para adequação dos gastos do § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessida-
Estado à Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF. de, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
A Constituição Federal inicialmente impõe que os en- remuneração proporcional ao tempo de serviço, até
tes federativos, no caso de extrapolação dos limites de seu adequado aproveitamento em outro cargo.
gastos previstos na LRF, reduzam as despesas com servi- § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
dores públicos comissionados e não estáveis, conforme é obrigatória a avaliação especial de desempenho por
art. 169, §3º, CF. Mas se as medidas previstas no §3º do comissão instituída para essa finalidade.
art. 169 não forem suficientes para adequar e controlar Art. 20, Lei nº 8.112/1990. Ao entrar em exercício, o
as despesas públicas, a CF/88 prevê, em seu §4º, a perda servidor nomeado para cargo de provimento efetivo
do cargo até mesmo na hipótese em que o seu ocupante ficará sujeito a estágio probatório por período de 24
detenha estabilidade no serviço público. Se ocorrer esta (vinte e quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e
hipótese, o servidor estável que perder o cargo terá di- capacidade serão objeto de avaliação para o desem-
reito a indenização correspondente a 1 mês de remune- penho do cargo, observados os seguinte fatores:
ração por ano de serviço público. I - assiduidade;
Existem alguns servidores públicos efetivos que não II - disciplina;
possuem apenas estabilidade, mas sim vitaliciedade. São III - capacidade de iniciativa;
eles os membros do Poder Judiciário e do Ministério Pú- IV - produtividade;
blico (artigo 95, I, CF; artigo 128, §5º, I, “a”, CF). V - responsabilidade.
O prazo para a aquisição da vitaliciedade é diferente § 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do es-
do prazo para aquisição da estabilidade, sendo adquiri- tágio probatório, será submetida à homologação da
da após 2 anos de serviço público. Durante esse perío- autoridade competente a avaliação do desempenho
do, também é submetido o servidor a “estágio probató- do servidor, realizada por comissão constituída para
rio”, chamado de processo de vitaliciamento. essa finalidade, de acordo com o que dispuser a lei
Um fator importantíssimo a favor dos agentes vi- ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo,
talícios é que eles somente podem perder o cargo em sem prejuízo da continuidade de apuração dos fatores
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

decorrência de decisão judicial transitada em julgado. enumerados nos incisos I a V do caput deste artigo.
Então, as várias hipóteses de perda de cargo previstas § 2º O servidor não aprovado no estágio probatório
para servidores estáveis não se aplicam aos servidores será exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo
vitalícios. anteriormente ocupado, observado o disposto no pa-
rágrafo único do art. 29.
§ 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer
#FicaDica
quaisquer cargos de provimento em comissão ou fun-
Apenas o servidor público efetivo pode se ções de direção, chefia ou assessoramento no órgão
tornar estável. ou entidade de lotação, e somente poderá ser cedido a
A estabilidade depende de aprovação no es- outro órgão ou entidade para ocupar cargos de Natu-
tágio probatório, cujo período é de 3 anos. reza Especial, cargos de provimento em comissão do
Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de
níveis 6, 5 e 4, ou equivalentes.

139
§ 4º Ao servidor em estágio probatório somente po- Readaptação é a passagem do servidor para outro
derão ser concedidas as licenças e os afastamentos cargo compatível com a deficiência física que ele venha
previstos nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem a apresentar.
assim afastamento para participar de curso de forma- Reversão é o retorno ao serviço ativo do servidor
ção decorrente de aprovação em concurso para outro aposentado por invalidez quando insubsistentes os mo-
cargo na Administração Pública Federal. tivos da aposentadoria.
§ 5º O estágio probatório ficará suspenso durante as Aproveitamento é o retorno ao serviço ativo do ser-
licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, vidor que se encontrava em disponibilidade e foi apro-
veitado em cargo semelhante àquele anteriormente
§ 1º, 86 e 96, bem assim na hipótese de participação
ocupado.
em curso de formação, e será retomado a partir do
Reintegração é o retorno ao serviço ativo do servi-
dor que fora demitido, quando a demissão for anulada
término do impedimento.
administrativamente ou judicialmente, voltando para o
O estágio probatório pode ser definido como um lap- mesmo cargo que ocupava anteriormente.
so de tempo no qual a aptidão e capacidade do servidor Recondução é o retorno ao cargo anteriormente ocu-
serão avaliadas de acordo com critérios de assiduidade, pado, do servidor que não logrou êxito no estágio pro-
disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade e res- batório de outro cargo para o qual foi nomeado decor-
ponsabilidade. O servidor não aprovado no estágio pro- rente de outro concurso.
batório será exonerado ou, se estável, reconduzido ao Obs.: São consideradas formas inconstitucionais de
cargo anteriormente ocupado. Não existe vedação para provimento a transferência, que era a passagem de um
um servidor em estágio probatório exercer quaisquer servidor de um quadro para outro dentro de um mesmo
cargos de provimento em comissão ou funções de di- poder, e a ascensão, que significava a passagem de uma
reção, chefia ou assessoramento no órgão ou entidade carreira para outra.
de lotação. Em relação às formas de vacância, que ocorre quando
Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a dis- o cargo púbico anteriormente ocupado fica livre, colo-
ciplina do estágio probatório mudou, notadamente au- cam-se: falecimento, aposentadoria, promoção, demis-
mentando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista são, exoneração, readaptação, posse em outro cargo cuja
que a norma constitucional prevalece sobre a lei federal, acumulação seja vedada.
mesmo que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir
o disposto no artigo 41 da Constituição Federal.
#FicaDica
Uma vez adquirida a aprovação no estágio probató-
rio, o servidor público somente poderá ser exonerado nos Vacância = liberação do cargo que antes se en-
casos do §1º do artigo 40 da Constituição Federal, nota-
contrava ocupado/provido.
Provimento = preenchimento do cargo vago,
damente: em virtude de sentença judicial transitada em podendo ser originário ou derivado.
julgado; mediante processo administrativo em que lhe
seja assegurada ampla defesa; ou mediante procedimen-
to de avaliação periódica de desempenho, na forma de
lei complementar, assegurada ampla defesa (sendo esta PODERES, DEVERES E PRERROGATIVAS
lei complementar ainda inexistente no âmbito federal).

5.1. Formas de provimento e vacância dos cargos O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os
públicos princípios da administração pública estudados no tópico
anterior, aos quais estão sujeitos servidores de quaisquer
Provimento é o preenchimento do cargo público; ao dos Poderes em qualquer das esferas federativas, e, em
passo que vacância é a sua desocupação.
seus incisos, regras mínimas sobre o serviço público:
O provimento pode se dar de forma originária ou
derivada.
Art. 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas
De forma originária, o provimento pressupõe que não
são acessíveis aos brasileiros que preencham os requi-
exista uma relação jurídica anterior entre servidor público
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

sitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangei-


e Administração.
ros, na forma da lei.
A única forma de provimento originário é a nomea-
ção, que pode ser em caráter efetivo (mediante aprova-
Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº
ção em concurso) ou em comissão (tratando-se de cargo
de confiança). 8.112/1990, que prevê:
De forma derivada, o provimento pressupõe que exis-
ta uma relação jurídica anterior entre servidor público e Art. 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para
Administração. investidura em cargo público:
Pode se dar de diversas formas: promoção, rea- I - a nacionalidade brasileira;
daptação, reversão, aproveitamento, reintegração e II - o gozo dos direitos políticos;
recondução. III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
Promoção é a elevação de um servidor de uma classe IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício
para outra dentro de uma mesma carreira. do cargo;

140
V - a idade mínima de dezoito anos; § 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver
VI - aptidão física e mental. candidato aprovado em concurso anterior com prazo
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigên- de validade não expirado.
cia de outros requisitos estabelecidos em lei. [...]
§ 3º As universidades e instituições de pesquisa cientí- O edital delimita questões como valor da taxa de ins-
fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de
com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de validade. Havendo candidatos aprovados na vigência do
acordo com as normas e os procedimentos desta Lei. prazo do concurso, ele deve ser chamado para assumir
eventual vaga e não ser realizado novo concurso.
Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:
8.112/1990 e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no arti-
go 207 da Constituição, permitindo que estrangeiros as- Art. 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos
sumam cargos no ramo da pesquisa, ciência e tecnologia. incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição
da autoridade responsável, nos termos da lei.
Art. 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego pú-
blico depende de aprovação prévia em concurso públi- Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabi-
co de provas ou de provas e títulos, de acordo com a lização daquele que viola as diretrizes mínimas sobre o
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na ingresso no serviço público, que em regra se dá por con-
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para curso de provas ou de provas e títulos.
cargo em comissão declarado em lei de livre nomea-
ção e exoneração. Art. 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas ex-
clusivamente por servidores ocupantes de cargo efeti-
Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990: vo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por
servidores de carreira nos casos, condições e percen-
Art. 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de tuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às
carreira ou cargo isolado de provimento efetivo de- atribuições de direção, chefia e assessoramento.
pende de prévia habilitação em concurso público de Observa-se o seguinte quadro comparativo5:
provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de
classificação e o prazo de sua validade. Função de Confiança Cargo em Comissão
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso
e o desenvolvimento do servidor na carreira, median- Exercidas exclusivamente Qualquer pessoa, obser-
te promoção, serão estabelecidos pela lei que fixar as por servidores vado o percentual
diretrizes do sistema de carreira na Administração Pú- ocupantes de cargo efe- mínimo reservado ao ser-
blica Federal e seus regulamentos. tivo. vidor de carreira.
Com concurso público, já
No concurso de provas o candidato é avaliado ape- que somente pode exer- Sem concurso público,
nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos cê-la o servidor de cargo ressalvado o percentual
concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua efetivo, mas a função mínimo reservado ao ser-
atividade profissional também é considerado. Cargo em em si não prescindível de vidor de carreira.
comissão é o cargo de confiança, que não exige concurso concurso público.
público, sendo exceção à regra geral. É atribuído posto (lugar)
num dos quadros da
Somente são conferidas
Art. 37, III, CF. O prazo de validade do concurso pú- Administração Pública,
atribuições
blico será de até dois anos, prorrogável uma vez, por conferida atribuições e
e responsabilidade
igual período. responsabilidade àquele
Art. 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável pre- que irá ocupá-lo
visto no edital de convocação, aquele aprovado em Destinam-se apenas às Destinam-se apenas às
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

concurso público de provas ou de provas e títulos será atribuições de direção, atribuições de direção,
convocado com prioridade sobre novos concursados chefia e assessoramento chefia e assessoramento
para assumir cargo ou emprego, na carreira.
De livre nomeação e exo-
neração no que se refere De livre nomeação e exo-
Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:
à função e não em relação neração
ao cargo efetivo.
Art. 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá
validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado
Art. 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o
uma única vez, por igual período.
direito à livre associação sindical.
§1º O prazo de validade do concurso e as condições de
sua realização serão fixados em edital, que será publi-
cado no Diário Oficial da União e em jornal diário de
5 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/quadro-
grande circulação. -comparativo-funcao-de-confianca.html

141
A liberdade de associação é garantida aos servidores Art. 37, X, CF. A remuneração dos servidores públicos
públicos tal como é garantida a todos na condição de e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente
direito individual e de direito social. poderão ser fixados ou alterados por lei específica, ob-
servada a iniciativa privativa em cada caso, assegura-
Art. 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos da revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
termos e nos limites definidos em lei específica. distinção de índices.
Art. 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos ocu-
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servi- pantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis,
dores públicos possuem o direito de greve, devendo se ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo
atentar pela preservação da sociedade quando exercê-lo. e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
Enquanto não for elaborada uma legislação específica Art. 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea
para os funcionários públicos, deverá ser obedecida a lei de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40
geral de greve para os funcionários privados, qual seja a
ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
Lei n° 7.783/89 (Mandado de Injunção nº 20).
emprego ou função pública, ressalvados os cargos
acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos
Art. 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos cargos
eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de
e empregos públicos para as pessoas portadoras de
deficiência e definirá os critérios de sua admissão. livre nomeação e exoneração.

Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990: Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos
artigos 40 e 41:
Art. 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de de-
ficiência é assegurado o direito de se inscrever em con- Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
curso público para provimento de cargo cujas atribui- exercício de cargo público, com valor fixado em lei.
ções sejam compatíveis com a deficiência de que são Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efeti-
portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% vo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes
(vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. estabelecidas em lei.
§ 1º A remuneração do servidor investido em função
Prossegue o artigo 37, CF: ou cargo em comissão será paga na forma prevista
no art. 62.
Art. 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contrata- § 2º O servidor investido em cargo em comissão de
ção por tempo determinado para atender a necessida- órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá
de temporária de excepcional interesse público. a remuneração de acordo com o estabelecido no § 1º
do art. 93.
A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Cons- § 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das
tituição, definindo a natureza da relação estabelecida vantagens de caráter permanente, é irredutível.
entre o servidor contratado e a Administração Pública, § 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para
para atender à “necessidade temporária de excepcional cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mes-
interesse público”. mo Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressal-
“Em se tratando de relação subordinada, isto é, de vadas as vantagens de caráter individual e as relativas
relação que comporta dependência jurídica do servidor à natureza ou ao local de trabalho.
perante o Estado, duas opções se ofereciam: ou a rela-
§ 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior
ção seria trabalhista, agindo o Estado iure gestionis, sem
ao salário mínimo.
usar das prerrogativas de Poder Público, ou institucional,
estatutária, preponderando o ius imperii do Estado. Me-
Ainda, o artigo 37 da Constituição:
lhor dizendo: o sistema preconizado pela Carta Política
de 1988 é o do contrato, que tanto pode ser trabalhista
(inserindo-se na esfera do Direito Privado) quanto ad- Art. 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos ocu-
ministrativo (situando-se no campo do Direito Público). pantes de cargos, funções e empregos públicos da
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

[...] Uma solução intermediária não deixa, entretanto, de administração direta, autárquica e fundacional, dos
ser legítima. Pode-se, com certeza, abonar um sistema membros de qualquer dos Poderes da União, dos Esta-
híbrido, eclético, no qual coexistam normas trabalhistas e dos, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detento-
estatutárias, pondo-se em contiguidade os vínculos pri- res de mandato eletivo e dos demais agentes políticos
vado e administrativo, no sentido de atender às exigên- e os proventos, pensões ou outra espécie remunera-
cias do Estado moderno, que procura alcançar os seus tória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas
objetivos com a mesma eficácia dos empreendimentos as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza,
não-governamentais”6. não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie,
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-
-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito,
6 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Contratação de servidores para aten- e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal
der a necessidade temporária de excepcional interesse público. Dispo-
do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsí-
nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Art.s/
Art_Gustavo.htm>. Acesso em: 23 dez. 2014. dio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do

142
Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores A preocupação do constituinte, ao implantar tal pre-
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e ceito, foi de que não eclodisse no sistema remuneratório
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, dos servidores, ou seja, evitar que se utilize uma vanta-
em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Fede- gem como base de cálculo de um outro benefício. Dessa
ral, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite forma, qualquer gratificação que venha a ser concedida
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores ao servidor só pode ter como base de cálculo o próprio
e aos Defensores Públicos. vencimento básico. É inaceitável que se leve em conside-
Art. 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder ração outra vantagem até então percebida.
Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser su-
periores aos pagos pelo Poder Executivo. Art. 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remunerada
de cargos públicos, exceto, quando houver compatibi-
Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42: lidade de horários, observado em qualquer caso o dis-
posto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a
Art. 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor pode- de um cargo de professor com outro, técnico ou cientí-
rá perceber, mensalmente, a título de remuneração, fico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de pro-
importância superior à soma dos valores percebidos fissionais de saúde, com profissões regulamentadas.
como remuneração, em espécie, a qualquer título, no
âmbito dos respectivos Poderes, pelos Ministros de Es- Art. 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se
tado, por membros do Congresso Nacional e Ministros a empregos e funções e abrange autarquias, funda-
do Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. Ex- ções, empresas públicas, sociedades de economia mis-
cluem-se do teto de remuneração as vantagens pre- ta, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta
vistas nos incisos II a VII do art. 61. ou indiretamente, pelo poder público.

Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem apro- Segundo Carvalho Filho7, “o fundamento da proibição
fundamentos sobre o mencionado inciso XI: é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com
que o servidor não execute qualquer delas com a ne-
Art. 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efeito cessária eficiência. Além disso, porém, pode-se observar
dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do que o Constituinte quis também impedir a cumulação de
caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizató- ganhos em detrimento da boa execução de tarefas pú-
rio previstas em lei. blicas. [...] Nota-se que a vedação se refere à acumulação
Art. 37, § 12, CF. Para os fins do disposto no inciso remunerada. Em consequência, se a acumulação só en-
XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados cerra a percepção de vencimentos por uma das fontes,
e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante não incide a regra constitucional proibitiva”.
emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a
como limite único, o subsídio mensal dos Desembar- questão:
gadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a
noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento Art. 118, Lei nº 8.112/1990. Ressalvados os casos pre-
do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal vistos na Constituição, é vedada a acumulação remu-
Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo nerada de cargos públicos.
aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e § 1o A proibição de acumular estende-se a cargos,
dos Vereadores. empregos e funções em autarquias, fundações públi-
cas, empresas públicas, sociedades de economia mista
Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Territó-
equiparação salarial: rios e dos Municípios.
§ 2o A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica
Art. 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equipa- condicionada à comprovação da compatibilidade de
ração de quaisquer espécies remuneratórias para o horários.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

efeito de remuneração de pessoal do serviço público. § 3o Considera-se acumulação proibida a percepção


de vencimento de cargo ou emprego público efetivo
Os padrões de vencimentos são fixados por conselho com proventos da inatividade, salvo quando os cargos
de política de administração e remuneração de pessoal, de que decorram essas remunerações forem acumulá-
integrado por servidores designados pelos respectivos veis na atividade.
Poderes (artigo 39, caput e § 1º), sem qualquer garantia Art. 119, Lei nº 8.112/1990. O servidor não poderá
constitucional de tratamento igualitário aos cargos que exercer mais de um cargo em comissão, exceto no
se mostrem similares. caso previsto no parágrafo único do art. 9o, nem ser
remunerado pela participação em órgão de delibera-
Art. 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebi- ção coletiva.
dos por servidor público não serão computados nem
acumulados para fins de concessão de acréscimos
7 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administra-
ulteriores. tivo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

143
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica centou, no artigo 37 da Carta Magna, o inciso XVIII, esta-
à remuneração devida pela participação em conse- belecendo a sua precedência e de seus servidores sobre
lhos de administração e fiscal das empresas públicas os demais setores da Administração Pública, dentro de
e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e suas áreas de competência”9.
controladas, bem como quaisquer empresas ou enti-
dades em que a União, direta ou indiretamente, dete- Art. 37, XIX, CF. Somente por lei específica poderá ser
nha participação no capital social, observado o que, a criada autarquia e autorizada a instituição de em-
respeito, dispuser legislação específica. presa pública, de sociedade de economia mista e de
Art. 120, Lei nº 8.112/1990. O servidor vinculado ao fundação, cabendo à lei complementar, neste último
regime desta Lei, que acumular licitamente dois car- caso, definir as áreas de sua atuação.
gos efetivos, quando investido em cargo de provimen- Art. 37, XX, CF. Depende de autorização legislativa,
to em comissão, ficará afastado de ambos os cargos em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades
efetivos, salvo na hipótese em que houver compatibi- mencionadas no inciso anterior, assim como a partici-
lidade de horário e local com o exercício de um deles, pação de qualquer delas em empresa privada.
declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou
entidades envolvidos. Órgãos da administração indireta somente podem ser
criados por lei específica e a criação de subsidiárias des-
“Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem tes dependem de autorização legislativa (o Estado cria
da acumulação de cargos e funções públicas, regulamen- e controla diretamente determinada empresa pública ou
tam, no âmbito do serviço público federal a vedação ge- sociedade de economia mista, e estas, por sua vez, pas-
nérica constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Cons- sam a gerir uma nova empresa, denominada subsidiária.
tituição da República. De fato, a acumulação ilícita de Ex.: Transpetro, subsidiária da Petrobrás). “Abrimos um
cargos públicos constitui uma das infrações mais comuns parêntese para observar que quase todos os autores
praticadas por servidores públicos, o que se constata ob- que abordam o assunto afirmam categoricamente que,
servando o elevado número de processos administrati- a despeito da referência no texto constitucional a ‘sub-
sidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior’,
vos instaurados com esse objeto. O sistema adotado pela
Lei nº 8.112/90 é relativamente brando, quando cotejado
somente empresas públicas e sociedades de economia
mista podem ter subsidiárias, pois a relação de controle
com outros estatutos de alguns Estados, visto que propi-
que existe entre a pessoa jurídica matriz e a subsidiá-
cia ao servidor incurso nessa ilicitude diversas oportuni-
ria seria própria de pessoas com estrutura empresarial,
dades para regularizar sua situação e escapar da pena de
e inadequada a autarquias e fundações públicas. OU-
demissão. Também prevê a lei em comentário, um pro-
SAMOS DISCORDAR. Parece-nos que, se o legislador de
cesso administrativo simplificado (processo disciplinar de
um ente federado pretendesse, por exemplo, autorizar
rito sumário) para a apuração dessa infração – art. 133” 8.
a criação de uma subsidiária de uma fundação pública,
NÃO haveria base constitucional para considerar inválida
Art. 37, XVIII, CF. A administração fazendária e seus sua autorização”10.
servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de com- Ainda sobre a questão do funcionamento da adminis-
petência e jurisdição, precedência sobre os demais se- tração indireta e de suas subsidiárias, destaca-se o pre-
tores administrativos, na forma da lei. visto nos §§ 8º e 9º do artigo 37, CF:
Art. 37, XXII, CF. As administrações tributárias da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- Art. 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamentária
cípios, atividades essenciais ao funcionamento do Es- e financeira dos órgãos e entidades da administração
tado, exercidas por servidores de carreiras específicas, direta e indireta poderá ser ampliada mediante con-
terão recursos prioritários para a realização de suas trato, a ser firmado entre seus administradores e o po-
atividades e atuarão de forma integrada, inclusive der público, que tenha por objeto a fixação de metas
com o compartilhamento de cadastros e de informa- de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à
ções fiscais, na forma da lei ou convênio. lei dispor sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

“O Estado tem como finalidade essencial a garantia II - os controles e critérios de avaliação de desem-
do bem-estar de seus cidadãos, seja através dos serviços penho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
públicos que disponibiliza, seja através de investimentos dirigentes;
na área social (educação, saúde, segurança pública). Para III - a remuneração do pessoal.
atingir esses objetivos primários, deve desenvolver uma Art. 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se às
atividade financeira, com o intuito de obter recursos in- empresas públicas e às sociedades de economia mista
dispensáveis às necessidades cuja satisfação se compro- e suas subsidiárias, que receberem recursos da União,
meteu quando estabeleceu o “pacto” constitucional de dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios
1988. [...] A importância da Administração Tributária foi
reconhecida expressamente pelo constituinte que acres-
9 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_administracao_tributaria_
8 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos sao_paulo.htm
da União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/ 10 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo Descomplicado.
artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. São Paulo: GEN, 2014.

144
para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio para as menos graves (pena de advertência), contados
em geral. da data em que o fato se tornou conhecido pela admi-
nistração pública. Se a infração disciplinar for crime,
Continua o artigo 37, CF: valerão os prazos prescricionais do direito penal, mais
longos, logo, menos favoráveis ao servidor. Interrup-
Art. 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados ção da prescrição significa parar a contagem do prazo
na legislação, as obras, serviços, compras e alienações para que, retornando, comece do zero. Da abertura da
serão contratados mediante processo de licitação pú- sindicância ou processo administrativo disciplinar até
blica que assegure igualdade de condições a todos os a decisão final proferida por autoridade competente
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obriga- não corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo
ções de pagamento, mantidas as condições efetivas começa a contar do zero. Passado o prazo, não caberá
da proposta, nos termos da lei, o qual somente per- mais propor ação disciplinar.
mitirá as exigências de qualificação técnica e econô- Art. 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público
mica indispensáveis à garantia do cumprimento das e as de direito privado prestadoras de serviços públi-
obrigações. cos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui nor- culpa.
mas para licitações e contratos da Administração Pública Este dispositivo, que aborda a questão da respon-
e dá outras providências. Licitação nada mais é que o sabilidade civil do Estado e dos seus agentes a ser
conjunto de procedimentos administrativos (adminis- aprofundada adiante, deixa clara a formação de uma
trativos porque parte da administração pública) para as relação jurídica autônoma entre o Estado e o agente
compras ou serviços contratados pelos governos Federal, público que causou o dano no desempenho de suas
Estadual ou Municipal, ou seja todos os entes federati- funções. Nesta relação, a responsabilidade civil será
vos. De forma mais simples, podemos dizer que o go- subjetiva, ou seja, caberá ao Estado provar a culpa do
verno deve comprar e contratar serviços seguindo regras agente pelo dano causado, ao qual foi anteriormente
de lei, assim a licitação é um processo formal onde há a
condenado a reparar. Direito de regresso é justamente
competição entre os interessados.
o direito de acionar o causador direto do dano para
obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada
a existência de uma relação obrigacional que se forma
Art. 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de pres-
entre a vítima e a instituição que o agente compõe.
crição para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, res-
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
salvadas as respectivas ações de ressarcimento.
te causar aos membros da sociedade, mas se este agente
agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que
A prescrição dos ilícitos praticados por servidor en-
foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar
contra disciplina específica no artigo 142 da Lei nº condutas incompatíveis com o comportamento ético
8.112/1990: dele esperado.11
Art. 142, Lei nº 8.112/1990. A ação disciplinar Art. 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e as
prescreverá: restrições ao ocupante de cargo ou emprego da admi-
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com nistração direta e indireta que possibilite o acesso a
demissão, cassação de aposentadoria ou disponibili- informações privilegiadas.
dade e destituição de cargo em comissão;
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre o
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência. conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego
§ 1o O prazo de prescrição começa a correr da data do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores
em que o fato se tornou conhecido. ao exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2o Os prazos de prescrição previstos na lei penal vos da Lei nº 9.986, de 18 de julho de 2000, e das Medi-
aplicam-se às infrações disciplinares capituladas tam- das Provisórias nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e
bém como crime. 2.225-45, de 4 de setembro de 2001.
§ 3o A abertura de sindicância ou a instauração de Neste sentido, conforme seu artigo 1º:
processo disciplinar interrompe a prescrição, até a de-
cisão final proferida por autoridade competente. Art. 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que confi-
§ 4o Interrompido o curso da prescrição, o prazo guram conflito de interesses envolvendo ocupantes
começará a correr a partir do dia em que cessar a de cargo ou emprego no âmbito do Poder Executivo
interrupção. federal, os requisitos e restrições a ocupantes de cargo
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do ou emprego que tenham acesso a informações privi-
direito de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de
5 anos para as infrações mais graves, 2 para as de gra-
11 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
vidade intermediária (pena de suspensão) e 180 dias Método, 2011.

145
legiadas, os impedimentos posteriores ao exercício do VI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei esta-
cargo ou emprego e as competências para fiscaliza- belecer requisitos diferenciados de admissão quando a
ção, avaliação e prevenção de conflitos de interesses natureza do cargo o exigir.
regulam-se pelo disposto nesta Lei. § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato ele-
tivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais
Já a questão do exercício de mandato eletivo pelo e Municipais serão remunerados exclusivamente por
servidor público encontra previsão constitucional em seu subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo
artigo 38, que notadamente estabelece quais tipos de de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
mandatos geram incompatibilidade ao serviço público e verba de representação ou outra espécie remunera-
regulamenta a questão remuneratória: tória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art.
37, X e XI.
Art. 38, CF. Ao servidor público da administração di- § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
reta, autárquica e fundacional, no exercício de man-
dos Municípios poderá estabelecer a relação entre a
dato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:
maior e a menor remuneração dos servidores públi-
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual
cos, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art.
ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou
37, XI.
função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário pu-
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar blicarão anualmente os valores do subsídio e da re-
pela sua remuneração; muneração dos cargos e empregos públicos.
III - investido no mandato de Vereador, havendo com- § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
patibilidade de horários, perceberá as vantagens de dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos or-
seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remu- çamentários provenientes da economia com despesas
neração do cargo eletivo, e, não havendo compatibili- correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para
dade, será aplicada a norma do inciso anterior; aplicação no desenvolvimento de programas de quali-
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para dade e produtividade, treinamento e desenvolvimento,
o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço modernização, reaparelhamento e racionalização do
será contado para todos os efeitos legais, exceto para serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou
promoção por merecimento; prêmio de produtividade.
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de § 8º A remuneração dos servidores públicos organiza-
previdência social, permanecerá filiado a esse regime, dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
no ente federativo de origem. § 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter
temporário ou vinculadas ao exercício de função de
Regulamenta-se o regime de remuneração e pre- confiança ou de cargo em comissão à remuneração
vidência dos servidores públicos nos artigo 39 e 40 da do cargo efetivo.
Constituição Federal: Art. 40. O regime próprio de previdência social dos
servidores titulares de cargos efetivos terá caráter
Art. 39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal contributivo e solidário, mediante contribuição do res-
e os Municípios instituirão conselho de política de pectivo ente federativo, de servidores ativos, de apo-
administração e remuneração de pessoal, integrado sentados e de pensionistas, observados critérios que
por servidores designados pelos respectivos Poderes. preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
§ 1º O servidor abrangido por regime próprio de pre-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998 e aplicação suspensa pela ADIN nº 2.135-4, des-
vidência social será aposentado:
tacando-se a redação anterior: “A União, os Estados, o
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no
Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito
cargo em que estiver investido, quando insuscetível de
de sua competência, regime jurídico único e planos de
carreira para os servidores da administração pública readaptação, hipótese em que será obrigatória a rea-
direta, das autarquias e das fundações públicas”). lização de avaliações periódicas para verificação da
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais continuidade das condições que ensejaram a conces-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

componentes do sistema remuneratório observará: são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo


I - a natureza, o grau de responsabilidade e a comple- ente federativo;
xidade dos cargos componentes de cada carreira; II - compulsoriamente, com proventos proporcionais
II - os requisitos para a investidura; ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de
III - as peculiaridades dos cargos. idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão forma de lei complementar;
escolas de governo para a formação e o aperfeiçoa- III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos
mento dos servidores públicos, constituindo-se a parti- de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de
cipação nos cursos um dos requisitos para a promoção idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito
na carreira, facultada, para isso, a celebração de con- Federal e dos Municípios, na idade mínima estabele-
vênios ou contratos entre os entes federados. cida mediante emenda às respectivas Constituições e
§ 3º -Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo pú- Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e
blico o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,X- os demais requisitos estabelecidos em lei complemen-

146
tar do respectivo ente federativo. trital ou municipal será contado para fins de aposen-
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser tadoria, observado o disposto nos §§ 9º e 9º-A do art.
inferiores ao valor mínimo a que se refere o § 2º do 201, e o tempo de serviço correspondente será conta-
art. 201 ou superiores ao limite máximo estabelecido do para fins de disponibilidade.
para o Regime Geral de Previdência Social, observado § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de
o disposto nos §§ 14 a 16. contagem de tempo de contribuição fictício. (Incluído
§ 3º As regras para cálculo de proventos de aposen- pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
tadoria serão disciplinadas em lei do respectivo ente § 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
federativo. total dos proventos de inatividade, inclusive quando
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios di- decorrentes da acumulação de cargos ou empregos
ferenciados para concessão de benefícios em regime públicos, bem como de outras atividades sujeitas a
próprio de previdência social, ressalvado o disposto contribuição para o regime geral de previdência so-
nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. cial, e ao montante resultante da adição de proventos
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei comple- de inatividade com remuneração de cargo acumulável
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo na forma desta Constituição, cargo em comissão de-
de contribuição diferenciados para aposentadoria de clarado em lei de livre nomeação e exoneração, e de
servidores com deficiência, previamente submetidos a cargo eletivo.
avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi- § 12. Além do disposto neste artigo, serão observa-
profissional e interdisciplinar. dos, em regime próprio de previdência social, no que
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei comple- couber, os requisitos e critérios fixados para o Regime
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo Geral de Previdência Social.
de contribuição diferenciados para aposentadoria de § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusiva-
ocupantes do cargo de agente penitenciário, de agen- mente, de cargo em comissão declarado em lei de livre
te socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tra- nomeação e exoneração, de outro cargo temporário,
tam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o
caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. Regime Geral de Previdência Social.
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei comple- § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo nicípios instituirão, por lei de iniciativa do respectivo
de contribuição diferenciados para aposentadoria de Poder Executivo, regime de previdência complementar
servidores cujas atividades sejam exercidas com efe- para servidores públicos ocupantes de cargo efetivo,
tiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos observado o limite máximo dos benefícios do Regime
prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, Geral de Previdência Social para o valor das aposenta-
vedada a caracterização por categoria profissional ou dorias e das pensões em regime próprio de previdên-
ocupação cia social, ressalvado o disposto no § 16.
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão ida- § 15. O regime de previdência complementar de que
de mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação às trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente na
idades decorrentes da aplicação do disposto no inciso modalidade contribuição definida, observará o dis-
III do § 1º, desde que comprovem tempo de efetivo posto no art. 202 e será efetivado por intermédio de
exercício das funções de magistério na educação in- entidade fechada de previdência complementar ou de
fantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei entidade aberta de previdência complementar.
complementar do respectivo ente federativo. § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção,
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servi-
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é dor que tiver ingressado no serviço público até a data
vedada a percepção de mais de uma aposentadoria da publicação do ato de instituição do correspondente
à conta de regime próprio de previdência social, apli- regime de previdência complementar.
cando-se outras vedações, regras e condições para a § 17. Todos os valores de remuneração considerados
acumulação de benefícios previdenciários estabeleci- para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão de-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

das no Regime Geral de Previdência Social. vidamente atualizados, na forma da lei.


§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quan- § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo-
do se tratar da única fonte de renda formal auferida sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que
pelo dependente, o benefício de pensão por morte será trata este artigo que superem o limite máximo esta-
concedido nos termos de lei do respectivo ente federa- belecido para os benefícios do regime geral de previ-
tivo, a qual tratará de forma diferenciada a hipótese dência social de que trata o art. 201, com percentual
de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decor- igual ao estabelecido para os servidores titulares de
rente de agressão sofrida no exercício ou em razão da cargos efetivos.
função. § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para do respectivo ente federativo, o servidor titular de car-
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, go efetivo que tenha completado as exigências para a
conforme critérios estabelecidos em lei. aposentadoria voluntária e que opte por permanecer
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, dis- em atividade poderá fazer jus a um abono de perma-

147
nência equivalente, no máximo, ao valor da sua con- e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo
tribuição previdenciária, até completar a idade para poder público.
aposentadoria compulsória.
§ 20. É vedada a existência de mais de um regime pró- ( ) CERTO ( ) ERRADO
prio de previdência social e de mais de um órgão ou
entidade gestora desse regime em cada ente federa- Resposta: Errado
tivo, abrangidos todos os poderes, órgãos e entidades Prevê o artigo 37, XVII, CF: “a proibição de acumular
autárquicas e fundacionais, que serão responsáveis estende-se a empregos e funções e abrange autar-
pelo seu financiamento, observados os critérios, os quias, fundações, empresas públicas, sociedades de
parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei com- economia mista, suas subsidiárias, e sociedades con-
plementar de que trata o § 22. troladas, direta ou indiretamente, pelo poder público”.
§ 21. (Revogado).
§ 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios 2. (CESPE – 2018) Julgue o seguinte item de acordo
de previdência social, lei complementar federal esta- com as disposições constitucionais e legais acerca dos
belecerá, para os que já existam, normas gerais de or- agentes públicos. A acumulação remunerada de cargos
ganização, de funcionamento e de responsabilidade públicos é vedada, exceto quando houver compatibilida-
em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos, sobre: de de horários, caso em que será possível, por exemplo,
I - requisitos para sua extinção e consequente migra- acumular até três cargos de profissionais de saúde.
ção para o Regime Geral de Previdência Social;
II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utiliza- ( ) CERTO ( ) ERRADO
ção dos recursos;
III - fiscalização pela União e controle externo e social; Resposta: Errado
IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; V - Limita-se a acumulação, no caso, a dois cargos, con-
condições para instituição do fundo com finalidade forme artigo 37, XVI, “c”: “é vedada a acumulação re-
munerada de cargos públicos, exceto, quando houver
previdenciária de que trata o art. 249 e para vincula-
compatibilidade de horários, observado em qualquer
ção a ele dos recursos provenientes de contribuições e
caso o disposto no inciso XI: [...] c) a de dois cargos ou
dos bens, direitos e ativos de qualquer natureza;
empregos privativos de profissionais de saúde, com
VI - mecanismos de equacionamento do deficit
profissões regulamentadas”.
atuarial;
VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do
3. (CESPE – 2018) A respeito do direito administrativo,
regime, observados os princípios relacionados com
dos atos administrativos e dos agentes públicos e seu
regime, julgue o item a seguir.
governança, controle interno e transparência;
VIII - condições e hipóteses para responsabilização
As funções de confiança, correspondentes a encargos de
daqueles que desempenhem atribuições relacionadas, direção, chefia ou assessoramento, só podem ser exerci-
direta ou indiretamente, com a gestão do regime; das por titulares de cargos efetivos.
IX - condições para adesão a consórcio público;
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e ( ) CERTO ( ) ERRADO
definição de alíquota de contribuições ordinárias e
extraordinárias. Resposta: Certo
Disciplina o artigo 37, V, CF: “as funções de confian-
#FicaDica ça, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes
de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
Muitas vezes os preceitos constitucionais
preenchidos por servidores de carreira nos casos, con-
não são expressamente cobrados na maté-
dições e percentuais mínimos previstos em lei, des-
ria de direito administrativo, mas o são em
tinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
direito constitucional. Fique atento ao seu
assessoramento”.
edital e dê atenção especial a este conteúdo
que muitas vezes poderá ser cobrado não
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

em uma, mas em DUAS matérias! RESPONSABILIDADE CIVIL, CRIMINAL E


ADMINISTRATIVA

s EXERCÍCIOS COMENTADOS Nos dias atuais, temos a total compreensão da ideia


de responsabilidade civil e extracontratual do Estado.
1. (CESPE – 2018) Em relação ao direito administrativo, Significa dizer que ao Estado é imputado o dever de
julgue o item seguinte. ressarcir particulares pelos prejuízos praticados na con-
A proibição estabelecida na Constituição Federal de duta de seus agentes, independentemente de qualquer
1988, acerca de acumulação remunerada de cargos pú- acordo ou pacto estabelecido. Todavia, essa concepção
blicos, não abrange autarquias, fundações, empresas pú- que temos atualmente não “brotou da terra”: ela foi o
blicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, resultado de uma longa evolução histórica sobre a for-

148
ma de atuação do Poder Público na esfera privada. Por A Constituição Federal de 1988 adotou a teoria da
isso, importante analisar a evolução histórica da respon- responsabilidade objetiva, na variação de risco adminis-
sabilidade estatal, tendo como foco os países ocidentais, trativo, que admite algumas excludentes ao dever de in-
sobretudo o Brasil. denizar, conforme se depreende da leitura do art. 37, §
6º, da CF/1988:
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE DO “As pessoas jurídicas de direito público e as de direi-
ESTADO to privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causa-
De modo geral, pode-se afirmar que a responsabi- rem a terceiros, assegurado o direito de regresso con-
lidade civil da Administração passou por três grandes tra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Observe
fases. A primeira fase, denominada Teoria da Irresponsa- que o texto constitucional imputa as pessoas jurídicas de
bilidade, adveio na época dos Estados Absolutistas, onde direito privado, como sociedades de economia mista e
havia uma concentração do poder político nas mãos de empresas públicas, o dever de reparar na mesma moda-
uma única pessoa. O Monarca, assim, praticava atos que lidade que as pessoas da Administração Direta. A Lei nº
jamais poderiam ensejar a reparação pelos danos, uma 8.112/1990, que dispõe sobre o regime dos servidores
vez que o Monarca fazia a sua vontade ter força de lei. públicos, apresenta uma seção sobre responsabilidades
A fundamentação dessa soberania dos reis absolutistas dos agentes públicos, colocando em destaque a respon-
era baseada na teoria político-teológica de que eles eram sabilidade objetiva. Prescreve o art. 112 da referida Lei:
representantes de Deus na terra, investidos desse Poder “A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou co-
por obra divina. Tal teoria seria superada com o advento missivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao
do Estado de Direito francês, sobretudo do julgamento erário ou a terceiros”.
pelo Tribunal de Conflitos da França, denominado Aresto O dever estatal de indenizar os particulares possui
Blanco, no ano de 1873. O julgamento consistia na im- dois fundamentos distintos: a legalidade, e a igualdade.
putação ao Estado do dever de reparar danos causados Na hipótese do Poder Público praticar um ato ilícito, cau-
por um vagão da Companhia Nacional de Manufatura sador de danos patrimoniais para a coletividade, o dever
do Fumo, que havia atropelado uma menina enquanto de indenizar advém do princípio da legalidade, uma vez
brincava na rua. que a atuação do agente público deve ser feita sempre
A Teoria da Responsabilidade Subjetiva foi a primeira de acordo com a lei (secundum legem). Há, também, ca-
tentativa de explicar a imputação ao Estado do dever de sos em que a Administração pratique atos lícitos, mas
reparar os danos patrimoniais e demais prejuízos cau- que também podem causar prejuízos especiais ao parti-
sados pela conduta de seus agentes. Por essa corrente cular. Nessas hipóteses, o dever de indenizar advém do
teórica, o Estado passaria a adquirir uma segunda perso- princípio da isonomia, que pressupõe a igual repartição
nalidade denominada “fisco”, sendo esta uma personali- dos encargos sociais.
dade patrimonial, capaz de ressarcir os particulares pela
prática de atos de gestão. Tem seu fundamento ligado às 1. Características do Dano Indenizável
noções mais de responsabilidade mais amplas do que o
âmbito de Direito Civil, o que significa que, para o Estado Para que haja a configuração da responsabilidade ci-
ser considerado responsável, deve haver a comprovação vil do Estado, importante a presença de três elementos:
de que este agiu com culpa lato sensu, abrangendo as
hipóteses de dolo (intenção de lesar), bem como as de a) um ato do agente público,
negligência, imprudência e imperícia (culpa stricto sen- b) dano ao particular,
su). Essa era a grande dificuldade dessa teoria: pelo fato c) nexo de casualidade entre o dano e o ato pratica-
da relação entre a Administração Pública e o particular do. Em relação ao segundo elemento, a doutrina
ser desigual, a vítima muitas vezes não possuía meios su- costuma apontar quais são os danos que ensejam
ficientes para comprovar a conduta dolosa ou culposa do o dever de indenizar, isso é, quais são os denomi-
Estado. No Brasil, adotamos a teoria subjetiva no Direito nados danos indenizáveis.
Público, excepcionalmente, nos casos de omissão da Ad-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ministração, ou na possibilidade de ação regressiva desta Assim, considera-se dano indenizável:


perante seus agentes.
A terceira teoria, denominada Teoria da Responsabi- a) Dano anormal: é o dano que ultrapassa os incon-
lidade Objetiva, surge nos meados de 1946. Consiste no venientes naturais e esperados da vida em socie-
afastamento da necessidade de comprovação de dolo dade. A vida em sociedade é caracterizada pelo
ou culpa do agente público, tendo por fundamento do advento de certos incômodos normais e toleráveis
dever de indenizar a concepção de risco administrati- a todos os cidadãos. Tais desconfortos só enseja-
vo. Quem presta um serviço público, assume o risco dos ram o dever de indenizar se forem considerados
prejuízos que eventualmente causar a outrem. Não cabe, intoleráveis. Assim, por exemplo, a feira colocada
dessa forma, a discussão sobre aspectos subjetivos da em rua residencial não enseja dever de indenizar.
responsabilidade estatal, exceto nas hipóteses de ação b) Dano específico: é aquele que atinge uma certa
regressiva. pessoa, ou uma certa categoria de pessoas. Dessa
forma, se o ato da Administração é capaz de cau-

149
sar danos de modo geral, para toda a coletividade, comuns da vida em sociedade (por exemplo, infeliz-
não se caracteriza dano indenizável. Por exemplo: mente os assaltos são comuns e o Estado não res-
não é considerado dano indenizável o aumento da ponde por todo assalto que ocorra, a não ser que na
tarifa do transporte público, haja vista que todos as circunstância específica possuía o dever de impedir
pessoas daquela cidade sofrerão com tal medida. o assalto, como no caso de uma viatura presente no
local - muito embora o direito à segurança pessoal
RESPONSABILIDADE POR ATO COMISSIVO DO seja um direito humano reconhecido).
ESTADO 2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe
dentro da administração pública, tenha ingressa-
RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DO ESTADO do ou não por concurso, possua cargo, emprego
ou função. Envolve os agentes políticos, os servi-
REQUISITOS PARA A DEMONSTRAÇÃO DA RES- dores públicos em geral (funcionários, emprega-
PONSABILIDADE DO ESTADO dos ou temporários) e os particulares em colabo-
ração (por exemplo, jurado ou mesário).
No caso da responsabilidade civil do Estado, o cons- 3) Dano causado quando o agente estava agindo nes-
tituinte viu por bem adotar como regra geral a teoria da ta qualidade - é preciso que o agente esteja lan-
responsabilidade objetiva: çando mão das prerrogativas do cargo, não agin-
do como um particular.
Art. 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito pú-
blico e as de direito privado prestadoras de serviços Sem estes três requisitos, não será possível acionar o
públicos responderão pelos danos que seus agentes, Estado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o mais relevante que tenha sido a esfera de direitos atin-
direito de regresso contra o responsável nos casos de gida. Assim, não é qualquer caminho que permite a res-
dolo ou culpa. ponsabilização civil do Estado, mas somente aquele que
é causado por um agente público no exercício de suas
Logo, para que se caracterize a responsabilidade do funções e que exceda as expectativas do lesado quanto
Estado basta a comprovação dos elementos ação, nexo à atuação do Estado.
causal e dano, como regra geral. Contudo, tomadas as
exigências de características dos danos acima colacio-
nadas, notadamente a anormalidade, considera-se que #FicaDica
para o Estado ser responsabilizado por um dano, ele Tomada a teoria da responsabilidade objetiva,
deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não cabe que exige ação, nexo causal e dano, pode-se
exigir do Estado uma excepcional vigilância da sociedade dizer que são requisitos da responsabilidade
e a plena cobertura de todas as fatalidades que possam do Estado:
acontecer em território nacional. Fato do serviço – A ação foi praticada por um
Diante de tal premissa, entende-se que a responsa- agente público;
bilidade civil do Estado será objetiva apenas no caso de Nexo de causalidade – Entre o fato do serviço
ações, mas subjetiva no caso de omissões. Em outras pa- e o dano;
lavras, verifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas con- Dano – Causado pelo agente público no exer-
dições de não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir cício da função.
quando tinha plenas condições de fazê-lo, acarretando
em prejuízo dentro de sua previsibilidade.
São casos nos quais se reconheceu a responsabilida- CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RES-
de omissiva do Estado: morte de filho menor em creche PONSABILIDADE DO ESTADO
municipal, buracos não sinalizados na via pública, ten-
tativa de assalto a um usuário do metrô resultando em Não é sempre que o Estado será responsabilizado.
morte, danos provocados por enchentes e escoamento Há excludentes da responsabilidade estatal, aprofunda-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

de águas pluviais quando o Estado sabia da problemática das abaixo, notadamente: a) caso fortuito (fato de tercei-
e não tomou providência para evitá-las, morte de deten- ro) ou força maior (fato da natureza) fora dos alcances
to em prisão, incêndio em casa de shows fiscalizada com da previsibilidade do dano; b) culpa exclusiva da vítima.
negligência, etc. Todas estas excludentes geram a exclusão do elemen-
to nexo causal, que é o liame subjetivo entre a ação/
Requisitos para a demonstração da responsabili- omissão e o dano, não do elemento culpa, que envolve
dade do Estado o aspecto volitivo da ação/omissão. Afinal, em regra, a
responsabilidade civil do Estado é objetiva, de modo que
1) Dano - somente é indenizável o dano certo, es- a ausência de culpa ainda caracteriza a responsabilidade.
pecial e anormal. Certo é o dano real, existente. Logo, caso se esteja diante de uma hipótese de respon-
Especial é o dano específico, individualizado, que sabilidade civil do Estado subjetiva por omissão, também
atinge determinada ou determinadas pessoas. a ausência de culpa excluirá o dever de indenizar.
Anormal é o dano que ultrapassa os problemas

150
a) Fortuito ofensa à dignidade). A palavra adequada para designar
Hoje, fortuito e força maior são sinônimos. Trata-se ambos é REPARAÇÃO (vide caput do artigo 948, que fala
de fato externo à conduta do agente de natureza em outras reparações, trazendo lucro cessante e dano
inevitável (externabilidade + inevitabilidade), con- emergente nos incisos).
forme artigo 393, parágrafo único, CC. Imprevisibi- O artigo 5º, X, CF constitucionalizou como direito fun-
lidade não é atributo de caso fortuito (ex.: terremo- damental a reparação do dano moral. Hoje, não há dú-
to no Japão é previsível, mas é externo e inevitável, vida de que cabe ação pleiteando exclusivamente dano
logo, o caso é fortuito). moral – é o dano moral puro, presente na expressão “ain-
Fortuito interno é diferente de fortuito externo. da que exclusivamente moral” do artigo 186, CC.
Fortuito interno se relaciona com a atividade ordi-
nária do causador do dano – há responsabilidade, Direito de regresso
por exemplo, falha dos freios gerando acidente de
ônibus. O fortuito externo não é introduzido pelo Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
agente, por exemplo, assalto, infarto, chuva forte.
No fortuito interno o risco é de dentro pra fora, no Art. 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito pú-
fortuito externo é de fora pra dentro. Apenas no blico e as de direito privado prestadoras de serviços
primeiro há dever de indenizar, isto é, mostra-se públicos responderão pelos danos que seus agentes,
necessário o vínculo com a atividade. nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
Ex.: Para o STF, o banco tem o dever de dar segu- direito de regresso contra o responsável nos casos de
rança, tudo o que ocorre nele é fortuito interno. dolo ou culpa.
Inclusive, o STJ diz que fazem parte do risco da ins-
tituição financeira os golpes que possa sofrer, por Este artigo deixa clara a formação de uma relação ju-
exemplo, subtração fraudulenta dos cofres em sua rídica autônoma entre o Estado e o agente público que
guarda (Informativo nº 468, STJ). causou o dano no desempenho de suas funções. Nesta
b) Fato exclusivo da vítima relação, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja,
Quem provocou o dano foi a própria vítima. caberá ao Estado provar a culpa do agente pelo dano
Fato concorrente – Fenômeno da causalidade múl- causado, ao qual foi anteriormente condenado a reparar.
tipla ou autoria plural – 2 condutas concorrentes Direito de regresso é justamente o direito de acionar o
para produzir um único dano. Somente reduz o causador direto do dano para obter de volta aquilo que
montante de danos. pagou à vítima, considerada a existência de uma relação
c) Fato de terceiro obrigacional que se forma entre a vítima e a instituição
São casos em que a causa necessária para o dano que o agente compõe.
não foi nem o comportamento do agente e nem o Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
da vítima. O agente, na contestação, fará nomea- te causar aos membros da sociedade, mas se este agente
ção à autoria – gerando exclusão, não o futuro re- agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que
gresso da denunciação da lide. foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar
Terceiro não identificado – o agente não se respon- condutas incompatíveis com o comportamento ético
sabiliza, pois não teve um comportamento – act of dele esperado.12
God (do inglês, ato de Deus) – fortuito externo. A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro-
cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado
Reparação do dano contraditório e ampla defesa. Trata-se de responsabi-
lidade civil subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou
Não é de hoje que o Direito é pacífico ao afirmar o omissão com culpa do servidor que gere dano ao erário
fato de que a prática de um ato ilícito gera um dever (Administração) ou a terceiro (administrado), o servidor
de reparação. Há muito, o dever de reparação se dava terá o dever de indenizar. Não obstante, agentes públi-
pela causação de dano igual ao ofensor; nos ditames do cos que pratiquem atos violadores de direitos humanos
direito moderno, o dever de reparação se consolida pela se sujeitam à responsabilidade penal e à responsabili-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

obrigação de indenizar (tanto pelo dano material quanto dade administrativa, todas autônomas uma com relação
pelo dano moral). à outra e à já mencionada responsabilidade civil. Neste
Por um só fato pode caber dano patrimonial e dano sentido, o artigo 125 da Lei nº 8.112/90:
moral, se esta lesão gerar os 2 tipos de consequências –
súmula 37, STJ – pelo dano patrimonial busca-se a inde- Art. 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e
nização (eliminar o dano) ou ressarcimento (pagamento administrativas poderão cumular-se, sendo indepen-
da coisa), o que coloca a vítima na situação financeira que dentes entre si.
tinha antes do dano (retorno ao status quo ante); pelo
dano extrapatrimonial, como não há preço que repare a
ofensa à dignidade, o que se busca é uma compensação
ou satisfação (compensa-se pois o valor é uma resposta
do Judiciário no sentido de que a ofensa não ficará im-
12 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
pune; satisfação é a postura do Estado de responder pela Método, 2011.

151
Com efeito, no caso da responsabilidade civil, o Es- Quanto aos poderes administrativos, eles podem ser
tado é diretamente acionado e responde pelos atos de colocados como prerrogativas de direito público conferi-
seus servidores que violem direitos, cabendo eventual- das aos agentes públicos, com vistas a permitir que o Es-
mente ação de regresso contra ele. Contudo, nos casos tado alcance os seus fins. Evidentemente, em contrapar-
da responsabilidade penal e da responsabilidade admi- tida a estes poderes, surgem deveres ao administrador.
nistrativa aciona-se o agente público que praticou o ato. “O poder administrativo representa uma prerrogativa
Destaca-se a independência entre as esferas civil, penal especial de direito público outorgada aos agentes do Es-
e administrativa no que tange à responsabilização do tado. Cada um desses terá a seu cargo a execução de cer-
agente público que cometa ato ilícito. tas funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas
aos agentes, devem eles exercê-las, pois que seu exercí-
cio é voltado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo,
#FicaDica dentro dos limites que a lei traçou, pode dizer-se que
O fato de o agente público ter agido com usaram normalmente os seus poderes. Uso do poder,
culpa apenas é relevante para os fins de re- portanto, é a utilização normal, pelos agentes públicos,
gresso, ou seja, o Estado poderá retomar do das prerrogativas que a lei lhes confere”13.
agente o valor da indenização se ele agiu Neste sentido, “os poderes administrativos são outor-
com culpa ou dolo. Se o agente não tiver agi- gados aos agentes do Poder Público para lhes permitir
do com dolo ou culpa, ainda assim o Estado atuação voltada aos interesses da coletividade. Sendo
terá que indenizar (devido à adoção da teo- assim, deles emanam duas ordens de consequência: 1ª)
ria do risco administrativo para fins de res- são eles irrenunciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente
ponsabilidade objetiva do Estado), mas não exercidos pelos titulares. Desse modo, as prerrogativas
terá direito de regresso. públicas, ao mesmo tempo em que constituem poderes
para o administrador público, impõem-lhe o seu exer-
cício e lhe vedam a inércia, porque o reflexo desta atin-
Responsabilidade primária e subsidiária ge, em última instância, a coletividade, esta a real desti-
natária de tais poderes. Esse aspecto dúplice do poder
O Estado responde diretamente pelos danos causa- administrativo é que se denomina de poder-dever de
dos por seus agentes públicos, ou seja, por aqueles que agir”14. Percebe-se que, diferentemente dos particulares
estão vinculados a qualquer dos órgãos da administra- aos quais, quando conferido um poder, podem optar por
ção direta ou indireta: trata-se de responsabilidade pri- exercê-lo ou não, a Administração não tem faculdade de
mária, embora exista o direito de regresso. agir, afinal, sua atuação se dá dentro de objetos de in-
Contudo, existem situações em que o Estado apenas teresse público. Logo, a abstenção não pode ser aceita,
irá responder se o verdadeiro responsável pelo dano não o que transforma o poder de agir também num dever
puder repará-lo, por exemplo, no caso de suas conces- de fazê-lo: daí se afirmar um poder-dever. Com efeito, o
sionárias e delegatárias de serviços públicos. No caso, agente omisso poderá ser responsabilizado.
tem-se responsabilidade subsidiária. Os poderes da Administração se dividem em: hierár-
quico, disciplinar, regulamentar e de polícia. Há quem
diga que vinculado e discricionário são também poderes,
PODERES ADMINISTRATIVOS mas a doutrina mais técnica tem afirmado corretamente
que, na verdade, são formas de exercício dos demais po-
deres. Formas de exercício:
O Estado possui papel central de disciplinar a socie-
dade. Como não pode fazê-lo sozinho, constitui agentes 1. Forma vinculada
que exercerão tal papel. No exercício de suas atribuições,
são conferidas prerrogativas aos agentes, indispensáveis Quando o poder se manifesta numa forma vinculada
à consecução dos fins públicos, que são os poderes ad- não há qualquer liberdade quanto à atividade que deva
ministrativos. Em contrapartida, surgirão deveres especí- ser praticada, cabendo ao administrador se sujeitar por
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ficos, que são deveres administrativos. completo ao mandamento da lei. Nos atos vinculados,
Os poderes conferidos à administração surgem como o agente apenas reproduz os elementos da lei. Afinal, o
instrumentos para a preservação dos interesses da co- administrador se encontra diante de situações que com-
letividade. Caso a administração se utilize destes pode- portam solução única anteriormente prevista por lei.
res para fins diversos de preservação dos interesses da Não há espaço para que o administrador faça um juí-
sociedade, estará cometendo abuso de poder, ou seja, zo discricionário, de conveniência e oportunidade. Ele é
incidindo em ilegalidade. Neste caso, o Poder Judiciário obrigado a praticar o ato daquela forma, porque a lei
poderá efetuar controle dos atos administrativos que im- assim prevê.
pliquem em excesso ou abuso de poder.

13 CARVALHO FILHO, José dos Santos... Op. Cit.


14 Ibid.

152
Ex.: pedido de aposentadoria compulsória por servi- bem como ordenar e rever a atuação de seus agentes,
dor que já completou 70 anos; pedido de licença para estabelecendo uma relação de subordinação entre os
prestar serviço militar obrigatório – o administrador não servidores do seu quadro de pessoas. As relações de hie-
escolhe se concede ou não, apenas efetua a verificação rarquia são características únicas, existem somente no
dos requisitos e, se eles estiverem presentes, necessaria- âmbito do Poder Executivo, isso é, não existe hierarquia
mente deve tomar a decisão de conceder o pedido. entre órgãos do Poder Legislativo e do Judiciário. Além
disso, importante frisar que não existe poder hierárquico
2. Forma discricionária entre membros da Administração Indireta, pois estes são
entidades autônomas, que não se subordinam aos entes
Existem situações em que o próprio agente tem a que o criaram. Pela hierarquia, há a imposição ao subal-
possibilidade de valorar a sua conduta. Logo, quando o terno da estrita obediência às ordens e instruções legais
exercício do poder se manifesta na forma discricionária o superiores, além de definir a responsabilidade de cada
administrador não está diante de situações que compor- um de seus agentes e órgãos públicos.
tam solução única. Possui, assim, um espaço para exercer Quanto às suas características, diz-se que o poder
um juízo de valores de conveniência e oportunidade. hierárquico é interno e permanente. Interno é o poder
A discricionariedade pode ser exercida tanto quando que atinge apenas os próprios membros da Administra-
o ato é praticado quanto, num momento futuro, na cir- ção, não tem o condão de atingir as relações dos parti-
cunstância de sua revogação. culares. É também um poder permanente, porque não é
Uma das principais limitações à discricionariedade exercido de modo esporádico e episódico, como o que
é a adequação, correspondente à adequação da con- acontece no poder disciplinar.
duta escolhida pelo agente à finalidade expressa em Do poder hierárquico são decorrentes certas faculda-
lei. O segundo limite é o da verificação dos motivos15. des implícitas ao superior, tais como dar ordens e fis-
Neste sentido, discricionariedade não pode se confundir calizar o seu cumprimento, delegar e avocar atribuições,
com arbitrariedade – a última é uma conduta ilegítima bem como rever atos de seus inferiores.
e quanto a ela caberá controle de legalidade perante
o Poder Judiciário. “O controle judicial, entretanto, não
pode ir ao extremo de admitir que o juiz se substituta ao #FicaDica
administrador. Vale dizer: não pode o juiz entrar no terre- A Lei nº 9.784/1999 dispõe sobre a dele-
no que a lei reservou aos agentes da Administração, per- gação e a avocação. A delegação traduz-se
quirindo os critérios de conveniência e oportunidade que numa distribuição temporária de competên-
lhe inspiraram a conduta. A razão é simples: se o juiz se cias para um subalterno, representando um
atém ao exame da legalidade dos atos, não poderá ques- movimento centrífugo. As delegações devem
tionar critérios que a própria lei defere ao administrador. ser feitas nos casos em que as atribuições fo-
[...] Modernamente, os doutrinadores têm considerado os rem genéricas e não fixadas como privativas
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade como de certo executor. A avocação, por sua vez,
valores que podem ensejar o controle da discricionarie- concentra (absorve) as competências em um
dade, enfrentando situações que, embora com aparência único agente, caracterizando um movimento
de legalidade, retratam verdadeiro abuso de poder. [...] A centrípeto. Para melhor recordação:
exacerbação ilegítima desse tipo de controle reflete ofen- Delegação = Distribuição de competências
sa ao princípio republicano da separação dos poderes”16. Avocação = Absorção de competências
Há quem diga que, por haver tal liberdade, não existe
o dever de motivação, mas isso não está correto: aqui,
mais que nunca, o dever de motivar se faz presente, de-
A delegação é a transferência temporária de com-
monstrando que não houve arbítrio na decisão tomada
petência administrativa de seu titular, a outro órgão ou
pelo administrador. Basicamente, não é porque o ad-
agente público subordinado à autoridade outorgante
ministrador tem liberdade para decidir de outra forma
(delegação vertical), ou fora da sua linha hierárquica (de-
que o fará sem cometer arbitrariedades e, caso o faça,
legação horizontal). O art. 12 da Lei nº 9.784/1999 dispõe
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

incidirá em ilicitude. O ato discricionário que ofenda os


do mesmo modo: “Um órgão administrativo e seu titular
parâmetros da razoabilidade é atentatório à lei. Afinal,
poderão, se não houver impedimento legal, delegar par-
não obstante a discricionariedade seja uma prerrogativa
te da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda
da administração, o seu maior objetivo é o atendimento
que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
aos interesses da coletividade.
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de
índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial”.
PODER HIERÁRQUICO
Essa transferência de competência é sempre provisória,
o que significa que pode ser revogada a qualquer tempo.
Poder hierárquico é o poder que dispõe o Executi-
A regra geral é sempre a delegabilidade das com-
vo para organizar e distribuir as funções de seus órgãos,
petências. Todavia, a própria legislação (art. 13 da Lei nº
9.784/1999) assevera três matérias que não podem ser
15 Ibid. delegadas. Assim, são indelegáveis: a edição de ato de ca-
16 Ibid.

153
ráter normativo, pois constituem-se em regras gerais apli- Pública distribui e escalona as suas funções executivas.
cáveis a todos os órgãos, incompatível com a delegação; Já no uso do poder disciplinar, a Administração simples-
a decisão em recursos administrativos, para evitar que a mente controla o desempenho de funções e a condu-
mesma autoridade possa julgar o mesmo processo mais ta de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas
de uma vez pela delegação; e as matérias que forem con- porventura cometidas.
sideradas de competência exclusiva do órgão ou autorida- Em relação as suas características, o poder disciplinar
de. A avocação encontra-se disposta no art. 15 da Lei nº é interno, não-permanente ou temporário. Assim como
9.784/1999. Consiste na possibilidade da autoridade com- o poder hierárquico, a imposição de sanções pela Ad-
petente de chamar para si a competência de um agente ministração não se aplica aos particulares, somente a
ou órgão subordinado. Trata-se de medida excepcional e seus próprios servidores, salvo as hipóteses destes serem
temporária, e somente pode ser realizada dentro da mes- contratados pela Administração Pública. Todavia, distin-
ma linha hierárquica, o que significa que a avocação só gue-se do poder hierárquico na medida em que é não-
pode ser vertical, não se admite a avocação horizontal. -permanente, isso é, só será aplicado apenas se e quan-
Por fim, a revisão é a capacidade de rever os atos dos do o servidor cometer infração funcional. Percebe-se,
inferiores hierárquicos, apreciando todos os seus aspec- então, que o poder disciplinar apresenta caráter punitivo
tos para a análise de sua manutenção ou invalidação. É e sancionador, enquanto o poder hierárquico advém da
somente possível a revisão de atos praticados pelos ór- simples obediência dos subalternos para com a entida-
gãos públicos e agentes subordinados hierarquicamente. de detentora deste poder. A discricionariedade do poder
Para as entidades da Administração Indireta, existe disciplinar traduz-se na possibilidade da Administração
apenas uma forma de controle fiscalizatório e finalístico em poder escolher qual a punição mais apropriada para
de seus atos, o qual denomina-se supervisão ministerial, cada caso, isso é, ela possui certa margem de liberdade
que não tem relação com o poder hierárquico. A supervi- para o seu exercício.
são ministerial não admite a revisão dos atos praticados Os servidores públicos que cometerem qualquer
pelas autarquias, fundações, e demais entidades da Ad- infração no exercício de suas funções estão sujeitos às
ministração Indireta. seguintes penalidades, dispostas no art. 127 da Lei nº
8.112/1990: advertência; suspensão; demissão; cassa-
ção de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de
EXERCÍCIO COMENTADO cargo em comissão; e destituição de função comissio-
nada. A aplicação de qualquer uma dessas penalidades
1. (VUNESP – 2018) Os poderes de comando, de fisca- depende de prévio processo administrativo, respeitada
lização e revisão de atos administrativos, assim como os a garantia de contraditório e ampla defesa, sob pena de
poderes de delegação e avocação de competências são nulidade da sanção.
expressão do poder administrativo:

a) de autotutela. EXERCÍCIO COMENTADO


b) hierárquico.
c) disciplinar. 1. (NUCEPE – 2018) Para que a Administração Pública
d) de polícia judiciária. possa exercer suas funções, se faz necessário que seja
e) de polícia. dotada de poderes, a fim de que organize e cumpra o
seu planejamento. Assim, marque a alternativa CORRE-
Resposta: Letra B. TA em relação aos Poderes Administrativos:
Alternativa A está errada pois a autotutela não é po-
der, mas uma característica própria da Administração a) Poder hierárquico ocorre quando há a faculdade
Pública de rever os próprios atos sem a necessidade de punir internamente as infrações funcionais dos
de intervenção judicial. Alternativa C está incorreta servidores.
pois poder disciplinar sempre pressupõe a prática de b) Poder hierárquico é o de que dispõe o Executivo para
uma infração por um agente público (característica organizar e distribuir as funções de seus órgãos, esta-
sancionadora). Alternativas D e E estão incorretas por- belecendo a relação de subordinação entre os servi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

que o poder de polícia é, em regra, exercido contra os dores do seu quadro de pessoal.
particulares, e não dentro da esfera da Administração. c) Poder regulamentar tem como objetivo ordenar, coor-
Lembre-se que a delegação e a avocação são elemen- denar, controlar e corrigir as atividades administrati-
tos característicos do poder hierárquico. vas, no âmbito interno da Administração Pública.
d) Poder Revisional é o poder de avocar, delegar ou con-
PODER DISCIPLINAR ferir a outrem, da própria Administração Pública, seus
poderes originais.
O poder disciplinar consiste na faculdade da Adminis- e) Poder hierárquico deve detalhar a lei para sua correta
tração de punir seus agentes, nas hipóteses em que estes execução, ou de expedir decretos autônomos sobre
tenham cometido alguma infração de ordem funcional. matéria de sua competência ainda não disciplinada
Correlato com o poder hierárquico, mas não se confunde por lei. É um poder inerente do Chefe do Executivo.
com o mesmo. No poder hierárquico, a Administração

154
Resposta: Letra B. b) Regulamentos habilitados ou delegados: em
Alternativa A está errada, pois na verdade ela descreve alguns países, há a possibilidade do Poder Legis-
hipótese do poder disciplinar. Alternativa C está incor- lativo delegar ao Executivo a disciplina de maté-
reta porque ela descreve as características do poder rias reservadas privativamente à lei, havendo uma
hierárquico. Alternativa D está incorreta pois o poder transferência de competência legislativa. Tais regu-
revisional diz respeito à capacidade da Administração lamentos não são admitidos no direito adminis-
de rever seus próprios atos, é intrínseco ao poder hie- trativo brasileiro.
rárquico. Alternativa E está incorreta pois, na verdade, c) Regulamentos executivos: são os regulamentos
descreve as características do poder regulamentar. comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela
legislação, permitindo a fiel execução da norma le-
PODER REGULAMENTAR gal. É a hipótese do art. 84, IV, da CF/1988.
d) Regulamentos autônomos: são os que dispõem
O poder regulamentar consiste na possibilidade do sobre tema não disciplinado pela legislação. Há
Chefe do Poder Executivo de cada entidade da Federa- um conjunto de temas que a norma constitucio-
ção de editar atos administrativos gerais, abstratos ou nal retirou da competência do Poder Legislativo
concretos, expedidos para dar fiel cumprimento à lei. e atribuiu sua disciplina ao Poder Executivo. A EC
Seu fundamento legal encontra-se disposto no art. 84, nº 32/2001 elenca dois temas que só podem ser
IV, da CF/1988: “Compete privativamente ao Presidente disciplinados por decreto expedido pelo Presiden-
da República: te da República: a organização da administração
federal; e a extinção de funções e cargos vagos e
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem não ocupados.
como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução”.
EXERCÍCIO COMENTADO
Por ser de competência exclusiva do Chefe do Poder
Executivo, é indelegável a qualquer subordinado. Embora 1. (CONSULPLAN – 2018) Considerando os conceitos
o texto constitucional faça menção somente ao Presiden- de abuso de poder, excesso de poder e desvio de poder,
te da República, o referido poder pode ser exercido, por assinale a afirmativa em que a hipótese apresentada está
simetria, pelos Governadores e Prefeitos. corretamente identificada com a espécie de uso indevi-
Uma das palavras chave do poder regulamentar é do do poder:
“regulamento”. Trata-se de ato administrativo que tem
por escopo estabelecer detalhes e diretrizes quanto ao a) Excesso de poder – “o servidor deixa, propositada-
modo de aplicação dos dispositivos legais, dando maior mente, de praticar um ato de sua competência, estan-
concretude aos comandos gerais e abstratos presentes do presente o dever de agir”.
na legislação. Não se confunde com o decreto, que é ou- b) Desvio de poder – “remoção de um servidor, para ou-
tro ato administrativo que introduz o regulamento em tro setor, como medida disciplinar pela prática de in-
si. Decreto representa a forma do ato administrativo, en- fração administrativa”.
quanto o regulamento representa seu conteúdo. c) Desvio de poder – “a demissão de um servidor impro-
Ambos os decretos e regulamentos são atos em po- bo, realizada por sua chefia imediata, sendo tal com-
sição de inferioridade em relação as leis e, por isso, não petência da autoridade máxima”.
são capazes de criar direitos e obrigações aos particula- d) Excesso de poder – “qualquer forma de abuso de po-
res sem fundamento legal. Suas funções primordiais, no der ou desvio de poder perpetrada por agente público
entanto, são a redução da margem de interpretação das no exercício de suas funções”.
normas, pois se um decreto dispõe qual é a forma mais
correta de aplicação da lei, esta perde um pouco de seu Resposta: Letra B.
caráter geral e abstrato, seu campo de discricionariedade Alternativa A está incorreta pois o excesso de poder
é reduzido a uma única forma válida de aplicação no âm- pressupõe uma ação de agente que praticou conduta
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

bito jurídico. Por isso, o poder regulamentar apresenta fora de sua competência, não uma omissão. Alternati-
natureza vinculada. va C está incorreta pois trata-se de hipótese de exces-
Existem diversas espécies de regulamentos so de poder. Alternativa D está errada pois o abuso de
administrativos: poder é gênero, do qual o excesso de poder é espécie.

a) Regulamentos administrativos ou de organi- PODER DE POLÍCIA


zação: são aqueles que disciplinam questões in-
ternas de estruturação e funcionamento da Admi- A expressão “poder de polícia” pode ser interpretada
nistração Pública, bem como as relações jurídicas de duas maneiras: em um sentido amplo, corresponde a
de sujeição especial do Poder Público perante qualquer limitação estatal à liberdade e propriedade pri-
particulares. Exemplo: regulamento que disciplina vada, de origem administrativa ou legislativa. Há também
organização e funcionamento da administração fe- o poder de polícia em sentido restrito, mais utilizado pela
deral (art. 84, VI, a, da CF/1988). doutrina, que engloba apenas as restrições impostas pe-

155
las limitações administrativas, excluindo as limitações de vas ou de fazer, como é o caso da imposição da função
ordem legal. Em sentido restrito, envolve atividades ad- social da propriedade ao dono do imóvel, disposta no art.
ministrativas de fiscalização e condicionamento da esfera 5º, XXII, da CF/1988. O poder de polícia se manifesta pela
privada de interesses, em prol da coletividade. expedição de atos normativos, como é o caso das regras
O poder de polícia tem grande destaque no exercí- sobre o direito de construir, ou por meio de atos concre-
cio das funções da Administração moderna, junto com a tos, como a obtenção de licença para a reforma de um
prestação de serviços públicos e o fomento à iniciativa pri- imóvel, cujo interesse é exclusivo do particular (proprietá-
vada. Porém, essas duas funções representam uma atua- rio do imóvel, no caso).
ção estatal ampliativa, enquanto que o poder de polícia Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de
representa uma atuação restritiva do Estado, limitando a polícia, qual seja, agir em prol do interesse público. Por
liberdade e a propriedade individual em favor do interesse isso, o Estado deve conciliar os direitos individuais, com
público. o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica da Ad-
O art. 78 do Código Tributário Nacional (CTN) tem seu ministração Pública, pois tem como fundamento o prin-
conceito legal de poder de polícia: cípio sistêmico da primazia do interesse público sobre o
privado.
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinan- 1. Natureza jurídica do poder de polícia
do direito, interesse ou liberdade, regula a prática de
ato ou abstenção de fato, em razão de interesse públi- Quanto a sua natureza jurídica, é entendimento majo-
co concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos ritário que o poder de polícia é discricionário. Na dou-
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao trina, muitos autores costumam definir poder de polícia,
exercício de atividades econômicas dependentes de utilizando-se a expressão “faculdade que o Estado possui
concessão ou autorização do Poder Público, à tran- de impor limites...”. Isso quer dizer que não apresenta ca-
quilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos racterísticas de obrigação legal, mas de uma permissão.
direitos individuais ou coletivos. A escolha sobre qual método utilizar para o exercício do
referido poder, e quando, compete somente à própria Ad-
Diante de tudo que foi exposto, podemos conceituar ministração Pública.
poder de polícia como a atividade da Administração Pú- Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção de li-
blica, com fundamento na lei e na supremacia geral, que cença. A licença é ato administrativo relacionado ao poder
consiste na imposição de limites à liberdade e à proprie- de polícia, que apresenta previsão legal para a sua ob-
dade dos particulares, regulando a prática desses atos, ou tenção, tratando-se por isso, de ato vinculado. Com isso,
a abstenção dos mesmos, manifestando-se por meio de podemos afirmar que a manifestação do poder de polícia
atos normativos ou concretos, tudo isso em benefício do pode ocorrer mediante a expedição de atos no exercício
interesse público. da competência discricionária da Administração, ou por
Ao dizer que se trata de atividade da Administração meio de atos vinculados, com a devida previsão legal. O
Pública, procuramos enfatizar a concepção stricto sensu poder de polícia também é indelegável, uma vez que
do poder de polícia, que não se confunde com as limi- pressupõe a posição de superioridade de quem o exerce,
tações à liberdade e ao direito de propriedade impostas não podendo ser transferido a particulares (art. 4º, III, da
pelo legislador. Por ser atividade da Administração, deve Lei nº 11.079/2004).
ser exercido, respeitando os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. 2. Polícia administrativa e polícia judiciária
A fundamentação legal é outro aspecto importante do
poder de polícia, uma vez que a lei condiciona o exercí- A concepção do poder de polícia abrange muito mais
cio de determinadas atividades à obtenção de licenças ou do que a simples promoção de segurança pública. Todavia,
concessões pelo Poder Público. O legislador deve, então, imprescindível destacar as atividades estatais de prevenção
elaborar os requisitos necessários para o exercício do poder e repressão da criminalidade sob a ótica do poder de polí-
de polícia pelo Estado. cia. Assim, costuma-se dividir a atuação do Estado para pro-
O poder de polícia tem por objeto a imposição de li- moção da segurança pública em duas categorias de “polí-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

mitações à liberdade e propriedade dos particulares, cias” distintas: a polícia administrativa, e a polícia judicial.
instituindo condições capazes de compatibilizar seu exer- A polícia administrativa tem um caráter preventivo.
cício às necessidades de interesse público. Tais imposições Isso significa que a sua atuação deve ocorrer antes da prá-
também podem ser aplicadas ao Estado. Isso significa que tica do crime, tendo por finalidade evitar a sua ocorrência.
até mesmo o Poder Público pode ter suas liberdades e Submete-se às regras de Direito Administrativo. No Bra-
propriedades limitadas em detrimento das necessidades sil, a polícia administrativa é exercida pela Polícia Militar
do interesse público. e os vários órgãos de fiscalização de diversas áreas, como
Para o seu exercício, a Administração Pública deve re- saúde, educação, trabalho, previdência e assistência social.
gular a prática dos atos ou a abstenção de fatos. Em re- A polícia administrativa protege os interesses primordiais
gra, o poder de polícia manifesta-se em obrigações nega- da sociedade ao impedir comportamentos individuais que
tivas, ou de não fazer, impostas aos particulares, limitando possam causar prejuízos maiores à coletividade.
a esfera de atuação dos seus direitos. Excepcionalmente,
pode também manifestar-se mediante obrigações positi-

156
A polícia judiciária, por sua vez, apresenta caráter re- • Dever de probidade: trata-se de um dos deveres
pressivo. Sua atuação ocorre após a constatação do cri- mais relevantes, correspondendo à obrigação do
me. Após a ocorrência do crime, deve a polícia judiciária agente público de agir de forma honesta e reta,
abrir um processo de investigação em busca da autoria respeitando a moralidade administrativa e o inte-
e materialidade do crime. Sua razão de ser é a punição resse público. A violação deste dever caracteriza
dos infratores. Rege-se pelas regras de Direito Processual ato de improbidade, punível, conforme artigo 37,
Penal. Ela incide sobre pessoas, ao contrário da polícia ad- §4º, CF e Lei nº 8.429/92, que se sujeita a diversas
ministrativa, que age sobre a atividade das pessoas. A po- penas, como suspensão de direitos políticos, perda
lícia judiciária é exercida pelas corporações especializadas, da função pública, proibição de contratar com o
denominadas Polícia Civil e Polícia Federal. poder público, multa, além de restituição ao erário
por enriquecimento ilícito e/ou reparação de da-
nos causados ao erário.
EXERCÍCIO COMENTADO • Dever de prestar contas: como o que é gerido pelo
administrador não lhe pertence, é seu dever prestar
contas do que realizou à coletividade, isto é, infor-
1. (FGV – 2018) Poder de polícia pode ser conceituado mar em detalhes qual o destino dado às verbas e
como uma atividade da Administração Pública que se ex- aos bens sob sua gestão. Este dever abrange não só
pressa por meio de seus atos normativos ou concretos, aqueles que são agentes públicos, mas a todos que
com fundamento na supremacia geral do interesse pú- tenham sob sua responsabilidade dinheiros, bens
blico para, na forma da lei, condicionar a liberdade e a ou interesses públicos, independentemente de se-
propriedade individual, mediante ações fiscalizadoras pre- rem ou não administradores públicos.
ventivas e repressivas.
“A prestação de contas de administradores pode ser re-
De acordo com ensinamentos da doutrina de Direito Ad- alizada internamente através dos órgãos escalonados
ministrativo, são características ou atributos do poder de em graus hierárquicos, ou externamente. Neste caso,
polícia: o controle de contas é feito pelo Poder Legislativo por
ser ele o órgão de representação popular. No Legislati-
a) a hierarquia, a disciplina e a legalidade. vo se situa, organicamente, o Tribunal de Contas, que,
b) a imperatividade, a delegabilidade e a imprescritibilidade. por sua especialização, auxilia o Congresso Nacional
c) a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilidade. na verificação de contas dos administradores”18.
d) a indelegabilidade, a hierarquia e o respeito às forças
de segurança pública.
• Dever de eficiência: a atividade administrati-
e) a imposição da força policial, a voluntariedade e a
va deve ser célere e técnica, mesclando qualida-
disciplina.
de e quantidade. Para tanto, é necessário atribuir
competências aos cargos conforme a qualificação
Resposta: Letra C.
Lembre-se que, como regra geral, o poder de polícia é exigida para ocupá-los; bem como desempenhar
função da Administração que atinge os particulares, o atividades com perfeição, coordenação, celerida-
que a diferencia do poder hierárquico e disciplinar. O de e técnica. Não significa que perfeccionismo em
poder de polícia não precisa de prévia autorização do excesso seja valorizado, pois ele afeta o elemento
Poder Judiciário (autoexecutoriedade). Não há relação quantitativo do serviço, que também é essencial
de hierarquia, embora o Poder Público utilize-se de para que ele seja eficiente.
força física (coercibilidade) para impor limitações aos • Dever de agir: o administrador possui um poder-
direitos e liberdades dos particulares. A Administração -dever de agir. Não se trata de mero poder, por-
possui margem de liberdade para escolher a melhor que priorizam atender ao interesse da coletividade
forma de impor tais limites (discricionariedade). e, em razão disso, o poder de agir é também um
dever, que é irrenunciável e obrigatório. Ao ad-
USO E ABUSO DO PODER ministrador é vedada a inércia. Logo, poderá ser
responsabilizado por omissão ou silêncio, abrindo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Conforme Carvalho Filho, uso do poder “é a utilização possibilidade de obter o ato não realizado: pela via
normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a extrajudicial, notadamente ao exercer o direito de
lei lhes confere”17. Significa que se um agente toma suas petição; ou por via judicial, por intermédio de man-
atitudes dentro dos limites dos poderes administrativos, dado de segurança, quando ferir direito líquido e
está agindo conforme a lei. Um dos principais guias para certo do interessado comprovado de plano, ou por
determinar se a ação está ou não em conformidade é o ação de obrigação de fazer.
dos deveres administrativos.
Assim, além de poderes, os agentes administrativos, Vale destacar que nem toda omissão do poder pú-
obviamente, detêm deveres, em razão das atribuições que blico é ilegal. As denominadas omissões genéricas, que
exercem. Dentre os principais, podem ser citados os se- envolvem prerrogativas de ação do administrador de ca-
guintes, conforme aponta doutrina a respeito do assunto: ráter geral e sem prazo determinado para atendimento,

17 CARVALHO FILHO, José dos Santos... Op. Cit. 18 Ibid.

157
inseridas em seu poder discricionário, não autorizam a
alegação de ilegalidade por violação do poder-dever de #FicaDica
agir. Insere-se aqui a denominada reserva do possível
Excesso de poder = incompetência / além
– por óbvio sempre existirão algumas omissões tendo
do permitido na legislação.
em vista a escassez de recursos financeiros. Ex.: deixar
Abuso de poder = competência = desvio
de reformar a entrada de um edifício, não construir um
de finalidade / motivos diversos dos legal-
estabelecimento de ensino. São ilegais, com efeito, as
mente previstos.
omissões específicas, que são omissões do poder públi-
co mesmo diante de imposição expressa legal e prazo
fixado em lei para atendimento. Nestas situações, caberá
até mesmo responsabilização civil, penal ou administrati-
va do agente omisso. EXERCÍCIOS COMENTADOS
Abuso de poder 1. (CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativos aos
poderes da administração pública. O desvio de poder
Havendo poderes, naturalmente será possível o abu- ocorre quando o ato é realizado por agente público sem
so deles. Abuso de poder é a utilização inadequada por competência para a sua prática.
parte dos administradores das prerrogativas a eles con-
feridas no âmbito dos poderes da administração, por vio- ( ) CERTO ( ) ERRADO
lação expressa ou tácita da lei.
“A conduta abusiva dos administradores pode decor- Resposta: Errado.
rer de duas causas: O excesso de poder ocorre quando o ato é realizado
por agente público sem competência para a sua práti-
1ª o agente atua fora dos limites de sua competência; e ca, não o desvio de poder.
2ª o agente, embora dentro de sua competência,
afasta-se do interesse público que deve nortear 2. (CESPE – 2018) No que se refere aos poderes admi-
todo o desempenho administrativo. nistrativos, julgue o item que se segue. Não configurará
excesso de poder a atuação do servidor público fora da
No primeiro caso, diz-se que o agente atuou com competência legalmente estabelecida quando houver re-
‘excesso de poder’ e no segundo, com ‘desvio de po- levante interesse social.
der’”19. Basicamente, havendo abuso de poder é possível
que se caracterize excesso de poder ou desvio de poder. ( ) CERTO ( ) ERRADO
No excesso de poder, o agente nem teria competência
para agir naquela questão e o faz. No abuso de poder, Resposta: Errado.
o agente possui competência para agir naquela questão, Caracteriza-se excesso de poder justamente quando o
mas não o faz em respeito ao interesse público, ou seja, servidor atua fora dos limites da lei e ingressa na esfe-
desvirtua-se do fim que deveria atingir o seu ato, por ra de competência de outrem, independentemente de
isso o desvio de poder também é denominado desvio justificativa com base em interesse social.
de finalidade. A conduta abusiva é passível de controle,
inclusive judicial. 3. (CESPE – 2018) No que se refere aos poderes admi-
“Pela própria natureza do fato em si, todo abuso de nistrativos, julgue o item que se segue. O abuso de po-
poder se configura como ilegalidade. Não se pode con- der pode ocorrer tanto na forma comissiva quanto na
ceber que a conduta de um agente, fora dos limites de omissiva, uma vez que, em ambas as hipóteses, é pos-
sua competência ou despida da finalidade da lei, pos- sível afrontar a lei e causar lesão a direito individual do
sa compatibilizar-se com a legalidade. É certo que nem administrado.
toda ilegalidade decorre de conduta abusiva; mas todo
abuso se reveste de ilegalidade e, como tal, sujeita-se à ( ) CERTO ( ) ERRADO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

revisão administrativa ou judicial”20.


Se é possível o excesso ou o abuso de poder, é claro Resposta: Certo.
que a legislação não apenas confere poderes ao adminis- O abuso de poder pode acontecer tanto por ação
trador, mas também estabelece deveres. quanto por omissão. A omissão pode se caracterizar
por inércia da administração ou recusa injustificada.

19 Ibid.
20 Ibid.

158
convalidação. Alternativa E está incorreta pois as certi-
ATO ADMINISTRATIVO dões e enunciados são atos meramente enunciativos,
não são passíveis de revogação.

VALIDADE, EFICÁCIA E ATRIBUTOS REQUISITOS

CONCEITO Os requisitos ou elementos dos atos administrativos


é matéria com grande divergência doutrinária. A maioria
Tudo que praticamos nas nossas vidas podem ser dos concursos públicos ainda adota a concepção mais
considerados atos. Mas, para o Direito, os atos são aque- clássica dos requisitos dos atos administrativos e, por
les capazes de produzir efeitos jurídicos. E, assim como isso, daremos maior destaque a ela. De modo geral, a
as pessoas na vida privada, a Administração Pública tam- corrente clássica, defendida por autores como Hely Lo-
bém pratica atos, que são capazes de produzir efeitos pes Meirelles, tende a atribuir aos atos administrativos
jurídicos diversos. cinco requisitos para a sua formação, utilizando como
Os atos administrativos são as manifestações de von- inspiração o preceito legal disposto no art. 2º da Lei nº
tade da Administração Pública que objetivam adquirir, 4.717/1965. São eles:
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar di-
reitos ou impor obrigações aos particulares ou a si pró- a) competência,
pria. Isso significa que a Administração, antes mesmo de b) objeto,
iniciar sua atuação, deve expedir uma declaração que ex- c) forma,
prime a sua vontade de realizar o referido ato. d) motivo,
Importante frisar o caráter infralegal dos atos admi- e) finalidade.
nistrativos, pois imprescindível é a submissão da Ad-
ministração Pública, seus agentes e órgãos à soberania 1. Competência
popular. O ato administrativo, dessa forma, deve estar
previsto em lei, e seu conteúdo não pode ser contrário à Competência diz respeito à capacidade do agente pú-
lei (contra legem), mas complementar a ela, isso é, deve blico para o exercício dos atos administrativos. É requisi-
estar conforme a lei (secundum legem). to de validade, haja vista que, no Direito Administrativo, a
lei é quem estabelece as competências atribuídas a seus
agentes para o desempenho de suas funções. Quando o
EXERCÍCIO COMENTADO agente atua fora dos limites da lei, diz-se que cometeu
ato nulo por excesso de poder. É, por isso, sempre um
1. (AOCP – 2018) Referente aos atos administrativos, as-
ato vinculado.
A competência possui certas características próprias,
sinale a alternativa correta.
a saber: obrigatória, intransferível, irrenunciável, imodi-
a) Atos de gestão são os praticados pela Administração ficável, imprescritível e improrrogável. Obrigatória por-
Pública com todas as prerrogativas e privilégios de au- que representa um dever do agente público. Irrenun-
toridade, como os atos de polícia. ciável porque o agente público não pode abrir mão de
b) Atos complexos são os que decorrem da declaração sua competência. Imprescritível, porque a competência
de vontade de um único órgão, desde que este seja perdura ao longo do tempo, ela não caduca. Improrro-
colegiado. gável significa dizer que se é competente hoje, continua-
c) Ato composto é o que resulta da manifestação de dois rá sendo sempre, exceto por previsão legal expressa em
ou mais órgãos, em que a vontade de um é instrumen- sentido contrário. Intransferível, ou inderrogável, é a im-
tal em relação a de outro, que edita o ato principal. possibilidade de se transferir a competência de um para
d) Os atos que apresentarem defeitos sanáveis, estes en- outro, por interesse das partes.
tendidos por vícios na forma e no motivo, poderão ser No entanto, essas características não vedam a possi-
convalidados pela própria Administração, desde que bilidade de delegação ou avocação, quando prevista em
não acarretem lesão ao interesse público ou prejuízo a lei. Por isso, pode-se dizer também que a delegabilidade
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

terceiros. é outra característica da competência. Porém, atente-se


e) Prevalece na doutrina que os meros atos administra- ao disposto no art. 13 da Lei nº 9.784/1999: “Não podem
tivos, como certidões e atestados, são suscetíveis de ser objeto de delegação:
revogação pela Administração.
I - a edição de atos de caráter normativo;
Resposta: Letra C. II - a decisão de recursos administrativos;
Alternativa A está incorreta pois os atos de polícia são III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou
considerados atos de império, e não de gestão. Alter- autoridade”. Alguns atos, então, não podem ser de-
nativa B está errada pois atos complexos são aqueles legados a outras autoridades, principalmente se tais
manifestados por dois ou mais órgãos distintos. Alter- atos são de competência exclusiva do agente público.
nativa D está incorreta pois os vícios quanto ao motivo
dos atos é caso de nulidade, não sendo possível sua

159
2. Objeto 5. Finalidade

Objeto é o conteúdo do ato, ou o resultado que pre- Finalidade é o objetivo a ser almejado pela prática
tende ser almejado pela prática do ato administrativo. daquele ato administrativo. Em muitos casos, o objetivo
Todo ato administrativo tem por objeto a criação, modi- almejado é a proteção do interesse público. Sempre que
ficação, ou comprovação de situações jurídicas concer- o ato for praticado tendo em vista o interesse alheio, será
nentes a pessoas, bens, ou atividades sujeitas ao exercí- nulo por desvio de finalidade.
cio do Poder Público. É através dele que a Administração Além dessa concepção clássica, há também uma classi-
exerce seu poder, concede um benefício, aplica uma ficação mais moderna dos requisitos dos atos administra-
sanção, declara sua vontade, estabelece um direito do tivos, elaborada por autores como Celso Antônio Bandeira
administrado, etc. de Mello. Por ser pouco utilizada em concursos públicos,
O objeto pode não estar previsto expressamente na observaremos apenas os pontos essenciais e didáticos da
legislação, cabendo ao agente competente a opção que referida classificação.
seja mais oportuna e conveniente ao interesse público. Para essa concepção moderna, são requisitos dos atos
A definição de objeto do ato administrativo trata-se, por administrativos:
isso, de ato discricionário.
a) sujeito;
3. Forma b) motivo;
c) requisitos procedimentais;
A forma é o modo através do qual se exterioriza o d) finalidade;
ato administrativo, é seu revestimento. O desrespeito à e) causa
forma do ato acarreta na sua nulidade. Trata-se de ato f) formalização.
vinculado, quando exigida por Lei, e discricionário quan-
do a sua escolha couber ao próprio agente público. Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os re-
Em regra, os atos administrativos são sempre exterio-
quisitos vinculados, enquanto que o motivo, a finalidade e
rizados por escrito, mas podem também ser orais, ges-
a formalização são requisitos discricionários.
tuais, ou até mesmo expedidos por máquinas. O art. 22
da Lei nº 9.784/1999 determina que “os atos do processo
administrativo não dependem de forma determinada se- EXERCÍCIO COMENTADO
não quando a lei expressamente a exigir”.
1. (FCC – 2018) Desvio de poder é a denominação de
4. Motivo um dos possíveis vícios que acometem os atos adminis-
trativos, implicando invalidade. Referido vício relaciona-
O motivo é a circunstância de fato ou de direito que -se diretamente ao elemento:
determina ou autoriza a prática do ato, isso é, a situação
fática que justifica a realização do ato. Situação de fato a) objeto, também conhecido como conteúdo do ato.
é o conjunto de circunstâncias que motivam a realização b) forma, que diz respeito às formalidades essenciais à
do ato; questões de direito é a previsão legal que leva à existência do ato.
realização do ato. c) finalidade do ato, podendo, também, estar vinculado à
O motivo pode ser tanto requisito vinculado como dis- competência.
cricionário, dependendo do comando legal imposto aos d) pressuposto fático, que leva à inexistência do ato.
agentes. O motivo será vinculado quando a lei expressa- e) motivos de fato, em razão, no Brasil, da teoria dos mo-
mente obrigar o agente a agir de um certo modo, como tivos determinantes.
na hipótese de lançamento tributário (o fiscal da Receita
não tem direito de escolha, se deve ou não fazer o lança- Resposta: Letra C.
mento). Situação diversa é a do pedido de demissão de Desvio de poder é hipótese de vício de ato adminis-
servidor público no caso de incontinência pública (art. 132, trativo praticado com finalidade diversa daquela le-
V, da Lei nº 8.112/1990), hipótese em que a autoridade galmente prevista. Por haver uma sobreposição de
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

competente tem maior liberdade para avaliar se a demis- interesses particulares do agente público em face do
são é realmente ato necessário ou não, dependendo do interesse público, trata-se de ato inválido, sujeito a
caso concreto. anulação com efeitos retroativos.
Não se confunde motivo com motivação. Esta é a jus-
tificativa para a realização de determinado ato. O motivo ATRIBUTOS
ocorre em momento anterior a prática do ato, enquanto
que a motivação, por ser uma série de explicações que Atributos são as características dos atos administra-
justificam a expedição do ato, ocorre sempre em momen- tivos, que os distinguem dos demais atos jurídicos, pois
to posterior. Assim, todo o ato tem seu motivo, mas nem estão submetidos ao regime jurídico administrativo. Es-
sempre é expedido adjunto com a motivação, que nada sas características traduzem em prerrogativas concedi-
mais é do que a exteriorização dos motivos. das à Administração Pública para que ela possa atender
de maneira adequada às necessidades da população.

160
A doutrina mais moderna faz referência a cinco atri- A justificativa da criação unilateral, ainda que contra
butos distintos: a vontade dos administrados, dos atos administrativos é
o Poder coercitivo do Estado, também denominado Po-
a) presunção de legitimidade e veracidade; der Extroverso. Esse não é um atributo comum a todos os
b) imperatividade; atos, mas tão somente aos que impõem obrigações aos
c) exigibilidade; administrados. Assim, não têm essa característica os atos
d) autoexecutoriedade; e que outorgam direitos (autorização, permissão, licença),
e) tipicidade. bem como aqueles meramente administrativos (certidão,
parecer).
1. Presunção de legitimidade e veracidade
3. Exigibilidade
Também pode ser denominado presunção de legali-
dade, significa que todo ato administrativo é considera- Consiste no atributo que permite à Administração Pú-
do válido no âmbito jurídico, até surgir prova em contrá- blica aplicar sanções aos particulares por violação da or-
rio. Se, pelo princípio da legalidade, ao Administrador só dem jurídica, sem a necessidade de recorrer ao processo
cabe fazer o que a lei permite, então presume-se que o judicial, que é demasiado longo e repleto de solenidades.
fez respeitando a lei. A exigibilidade permite ao Administrador aplicar as san-
Nosso Direito admite duas formas de presunção: pre- ções administrativas, como multas, advertências, e interdi-
sunção juris et de jure que significa “de direito e por di- ção de estabelecimentos comerciais.
reito”, é presunção absoluta, que não admite prova em
contrário. Temos também a presunção juris tantum, re- 4. Autoexecutoriedade
sultante do próprio direito e, embora por ele estabeleci-
da como verdadeira, admite prova em contrário. A pre- A autoexecutoriedade permite que a Administração
sunção dos atos administrativos é juris tantum. Trata-se, Pública possa realizar a execução material de seus atos. A
então, de presunção relativa. Cabe ao particular que ale-
expressão “auto” advém do fato de que o Poder Público
gou a ilegalidade do ato administrativo provar a carência
não necessita de autorização judicial para desconstituir a
de legitimidade do mesmo.
situação irregular e violadora da ordem jurídica, o que a
A presunção atinge todos os atos, inclusive aqueles
difere da exigibilidade, que não tem o condão de, por si
praticados pela Administração com base no direito priva-
só, desconstituir a irregularidade do ato, apenas pune o in-
do. Qualquer que seja o ato, se praticado pela Administra-
frator. Para tanto, necessita da presença de dois requisitos:
ção Pública, será presumidamente legítimo e verdadeiro.
a previsão legal, como nos casos de Poder de Polícia; e o
caráter de urgência, a fim de preservar o interesse coletivo.
Assim, não há necessidade de intervenção judicial nas
2. Imperatividade
hipóteses de: apreensão de mercadorias contrabandea-
Compreendida também como coercibilidade, os atos
das, na demolição de construção irregular, na interdição
de estabelecimento comercial irregular, entre outros. To-
administrativos se impõem aos destinatários, independen-
temente de sua concordância, outorgando-lhes deveres e
davia, afirmar que a execução independe de manifestação
obrigações. A imperatividade garante ao Poder Público a
do Judiciário não significa dizer que escapa do controle
capacidade de produzir atos que geram consequências
judicial. Poderá ser levado ao crivo, mas somente a poste-
riori, depois de seu cumprimento, se houver provocação
perante terceiros.
A justificativa da criação unilateral, ainda que contra
da parte interessada. As medidas judiciais mais adequadas
a vontade dos administrados, dos atos administrativos é
para contestar a força coercitiva administrativa são o man-
o Poder coercitivo do Estado, também denominado Po-
dado de segurança e o habeas data (art. 5º, LXIX e LXVIII,
der Extroverso. Esse não é um atributo comum a todos os
da CF/1988).
atos, mas tão somente aos que impõem obrigações aos
Importante ressaltar ainda que os princípios da razoa-
administrados. Assim, não têm essa característica os atos
bilidade e proporcionalidade impõem limites na atuação
que outorgam direitos (autorização, permissão, licença),
coercitiva dos agentes públicos. A autoexecutoriedade
bem como aqueles meramente administrativos (certidão,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

(leia-se o uso de força física) deve ser utilizada com bom


parecer).
senso e moderação.
2. Imperatividade
5. Tipicidade
Compreendida também como coercibilidade, os atos
A tipicidade diz respeito à necessidade de respeitar
as finalidades específicas delimitadas pela lei, para cada
administrativos se impõem aos destinatários, independen-
temente de sua concordância, outorgando-lhes deveres e
espécie de ato administrativo. Dependendo da finalidade
obrigações. A imperatividade garante ao Poder Público a
que o Poder Público almeja, existe um ato definido em
capacidade de produzir atos que geram consequências
lei. A lei deve sempre estabelecer os tipos de atos e suas
consequências, promovendo ao particular a garantia de
perante terceiros.
que a Administração Pública não fará uso de atos inomi-
nados, sem tipificação, que impõem obrigações cuja pre-

161
visão legal não existe. É um atributo que deriva do próprio uma série de regras para a prática de um ato, mas
princípio da legalidade. deixa certo grau de liberdade ao agente público,
que poderá optar por um entre vários caminhos
igualmente válidos. Há uma avaliação subjetiva
#FicaDica prévia à edição do ato. É o caso das permissões
A tipicidade é característica marcante da ex- para o uso de bem público.
propriação de bens particulares pelo Poder b) Quanto à formação de vontade:
Público. É o caso de desapropriação admi- Atos simples: são aqueles que nascem da mani-
nistrativa, hipótese em que o Poder Público festação de vontade de apenas um órgão, seja ele
tem a prerrogativa de tirar da esfera de al- unipessoal (formado só por uma pessoa) ou co-
guma pessoa física a titularidade sobre bem legiado (composto por várias pessoas). O ato que
imóvel, transformando-o em bem público. altera o horário de atendimento da repartição pú-
Para tanto, deve realizar um procedimento blica, emitido por uma única pessoa, bem como
envolvendo aspectos mais complexos, como a decisão administrativa do Conselho de Contri-
a declaração de utilidade ou necessida- buintes do Ministério da Fazenda, que expressa
de pública (art. 5º, XXIV, da CF/1998), bem vontade única apesar de ser órgão colegiado, são
como a necessidade de prévia indenização exemplos de atos simples.
ao particular que teve seu bem expropriado, Atos complexos: são aqueles que se formam pela
em pecúnia (art. 182, § 3º, da CF/1988). união de várias vontades, isso é, que necessitam da
manifestação de vontade de dois ou mais órgãos
diferentes para a sua formação. Enquanto todos os
órgãos competentes não se manifestarem da for-
EXERCÍCIO COMENTADO ma devida, o ato não estará perfeito.
Atos compostos: é aquele que advém de mani-
1. (FCC – 2018)O atributo do ato administrativo que de- festação de apenas um órgão. Porém, para que
pende de expressa previsão legal ou se justifica diante de produza efeitos, depende da aprovação, visto, ou
necessidade urgente denomina-se: anuência de outro ato, que o homologa, como
condição para a executoriedade daquele ato. Cos-
tuma-se afirmar que o ato posterior é acessório do
a) autoexecutoriedade.
anterior, pois a manifestação do segundo ato não
b) presunção de legitimidade e veracidade.
possui a mesma matéria do primeiro: ele apenas
c) motivo ou finalidade.
complementa a aplicação deste. Exemplo: a no-
d) unilateralidade ou tipicidade. meação de servidor público, que deve sempre an-
e) imperatividade. teceder a sua aprovação em concurso público.
c) Quanto aos destinatários:
Resposta: Letra A. Atos gerais: são o conjunto de regras de caráter
A autoexecutoriedade permite que a Administração abstrato e impessoal. Seus destinatários são mui-
Pública possa realizar a execução material de seus tos, mas unidos por características em comum, que
atos. Necessita da presença de dois requisitos auto- os faz destinatários do mesmo ato. Para produzi-
rizadores: a expressa previsão legal, como nos casos rem seus efeitos, já que externos, devem ser publi-
de poder de polícia, e o caráter de urgência, a fim de cados na imprensa oficial. Exemplos: os editais de
preservar o interesse coletivo. concurso público, as instruções normativas.
Atos coletivos: são aqueles expedidos a um grupo
CLASSIFICAÇÃO, ESPÉCIES E EXTERIORIZAÇÃO definido de destinatários. É o caso, por exemplo,
de alteração de horário de funcionamento de uma
Atos administrativos existem dos mais variados tipos. repartição pública. Tal ato, evidentemente, somen-
Para efeitos didáticos, costuma-se dividir e agrupá-los, te é do interesse daqueles funcionários. A publici-
formando-se uma verdadeira classificação desses atos. dade é atendida apenas com a comunicação dos
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Portanto, passemos a analisar as diversas modalidades de interessados, visto que é um ato interno da Admi-
atos administrativos, observando os seguintes critérios: nistração Pública.
Atos individuais: são aqueles destinados a ape-
a) Quanto ao grau de liberdade: nas um único destinatário. Exemplo: a promoção
Atos vinculados: são aqueles praticados pela de um determinado servidor público. A exigência
Administração Pública sem nenhuma liberdade da publicidade depende somente da comunicação
de atuação. A lei define todas as margens de sua do interessado, não há necessidade de publicação
conduta. Havendo vício no ato vinculado, pode-se pelo Diário Oficial.
d) Quanto aos efeitos:
pleitear a sua anulação e não a revogação, pois tra-
Atos constitutivos: são aqueles que geram uma
ta-se de vício de legalidade. É o caso, por exemplo,
nova situação jurídica aos destinatários. Pode ser
da concessão de aposentadoria para o contribuin-
pela outorga de um novo direito, como permis-
te beneficiário.
são de uso de bem público, ou a imposição de
Atos discricionários: a lei também estabelece

162
uma obrigação, como estabelecer um período de jetivas necessárias e previstas em lei.
suspensão. b) vinculado, de natureza bilateral, que se denomina
Atos declaratórios: são aqueles que afirmam uma licença.
situação já existente, seja de fato ou de direito. c) discricionário e precário, que se denomina licença e se
Não cria, transfere ou extingue situação jurídica, fundamenta no poder disciplinar.
apenas a reconhece. É o caso da expedição de uma d) discricionário, mas não precário, bilateral, podendo
certidão de tempo de serviço. denominar-se licença ou autorização, indistintamente.
Atos modificativos: são os que têm capacidade e) unilateral, discricionário e precário, que se denomina
de alterar a situação já existente, sem que seja ex- autorização.
tinta. Todavia, não tem o condão de criar direitos
e obrigações. Exemplo: a alteração do horário de Resposta: Letra E.
atendimento da repartição No caso mencionado, é evidente que o interesse pelo
Atos extintivos: também denominados atos des-
porte de arma é somente do particular. A análise das
constitutivos, são aqueles que põem termo a um
condições, nesse caso, está submetida aos requisitos
direito ou dever pré-existentes. Exemplo: a demis-
de conveniência e oportunidade (“aspectos subjetivos
são de servidor público.
do requerente”). Não se trata de ato vinculado, logo,
e) Quanto ao objeto:
Atos de império: são aqueles praticados pela Ad- jamais poderia ser a licença. A autorização é ato admi-
ministração em posição de superioridade perante nistrativo discricionário e precário pelo qual a Admi-
os particulares, como na imposição de multa por nistração autoriza o particular a exercer determinada
infração administrativa. atividade que seja de seu interesse.
Atos de gestão: são expedidos pela Administra-
ção, em posição de igualdade em relação aos ad- Espécies de atos administrativos
ministrados. É o caso da alienação de bem público.
Atos de expediente: são atos internos, elaborados Os atos administrativos tipificados pela legislação bra-
por autoridade subalterna, que não têm capacida- sileira são diversos. Por isso, também é utilizado, para fins
de decisória. Exemplo: numeração dos autos no didáticos, uma sistematização dos atos administrativos. A
processo judicial. doutrina divide os atos administrativos previstos da legis-
f) Quanto à exequibilidade: lação em cinco espécies distintas:
Atos perfeitos: são aqueles que completaram seu
processo de formação, e estão prestes a produzir a) Atos normativos: são aqueles que apresentam
seus efeitos. Perfeição não se confunde com vali- comandos gerais e abstratos para o cumprimento
dade, pois um ato válido pode não ser obrigatoria- da lei. Alguns autores, inclusive, chegam a consi-
mente perfeito. derar tais atos “leis em sentido material”. São atos
Atos imperfeitos: são os que ainda não completa-
normativos: os decretos e regulamentos; as instru-
ram seu processo de formação, e por isso mesmo,
ções normativas; os regimentos; as resoluções; e as
não estão aptos a produzirem efeitos. Atos imper-
feitos geralmente necessitam de outro ato que os deliberações.
homologuem. b) Atos ordinatórios: correspondem a manifesta-
Atos pendentes: são aqueles que se sujeitam a ções internas da Administração Pública decorren-
condição ou termo para começar a produzir efei- tes do poder hierárquico, estabelecendo regras de
tos. Seu ciclo de formação está concluído, porém funcionamento de seus órgãos internos e regras
depende ainda de um evento para tornar-se apto de conduta de seus agentes. Tais atos não podem
a produzir efeitos. disciplinar as condutas dos particulares. São atos
ordinatórios: as instruções; as circulares; os avisos;
Os critérios apresentados não são exaustivos: há outras as portarias; os ofícios; as ordens de serviço; os
formas de classificação dos atos administrativos adotadas despachos; entre outros.
por diversos autores. Escolhemos apresentar aqueles que c) Atos negociais: são aqueles que manifestam a
têm mais chances de aparecer em uma questão de con- vontade da Administração em consonância com
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

curso público. o interesse dos particulares. Exemplos: a licença,


a autorização, a permissão, a concessão, a apro-
vação, a homologação, a renúncia, etc. Os atos
EXERCÍCIO COMENTADO negociais podem ser vinculados (licença) ou dis-
cricionários (autorização), definitivos ou precários,
1. (FCC – 2018)Um particular interessado em obter por-
sendo passíveis de revogação pelo Poder Público
te de arma solicitou à Administração consentimento para
tanto. Nesta hipótese, a manifestação positiva da Admi-
a qualquer tempo. A característica especial desses
atos é que eles não disciplinam direitos, e sim inte-
nistração, que demanda análise de aspectos subjetivos
do requerente, consistirá em um ato administrativo:
resses dos particulares.
d) Atos enunciativos: também denominados “atos
de pronúncia”, são aqueles que certificam, ou ates-
a) unilateral e vinculado, que faculta o uso, sem restri-
tam a existência de uma situação jurídica peculiar.
ções, quando o particular preencher as condições ob-
Tais atos possuem caráter predominantemente de-

163
claratório. São atos enunciativos: as certidões; os veniente que altera, ou impede a permanência da si-
atestados; os pareceres; etc. tuação jurídica anterior.
e) Atos punitivos: como o próprio nome supõe, são
os atos que aplicam sanções aos particulares, ou VINCULAÇÃO, DISCRICIONARIEDADE, EXTINÇÃO,
aos servidores que pratiquem condutas irregula- DESFAZIMENTO E SANATÓRIO
res, nos termos da lei. São atos punitivos: as mul-
tas, as interdições; e a destruição de coisas. Os atos administrativos possuem um ciclo de vida.
Eles são criados, começam a produzir efeitos, e depois
de um tempo, desaparecem. Vamos analisar com mais
EXERCÍCIOS COMENTADOS detalhes justamente o desaparecimento dos atos admi-
nistrativos, embora seja preferível utilizar o termo “extin-
1. (FUNDATEC – 2018) Considerando o entendimento ção” (ou “invalidação”) dos atos administrativos.
da clássica e majoritária doutrina administrativista, quan- Para melhor compreensão do tema, a doutrina utili-
to às espécies de atos administrativos, é incorreto afir- za-se de uma sistematização das formas de extinção dos
mar que: atos administrativos. A principal divisão que deve ser fei-
ta é em relação a produção de efeitos: existem atos ad-
a) A instrução normativa pode ser classificada como ato ministrativos eficazes, e atos ineficazes. Quando ineficaz,
administrativo negocial. o ato pode ser extinto pela retirada, ou pela sua recusa
b) O alvará é ato administrativo que formaliza o consen- pelo beneficiário. Tratando-se de atos eficazes, há quatro
timento da administração pública para o exercício de formas de distinção dos atos administrativos:
atividades pelos particulares.
c) O parecer é considerado ato administrativo que exte- a) Extinção ipsu iure pelo cumprimento dos efeitos: é
rioriza manifestação técnica de caráter opinativo, sal- a extinção que ocorre pelo cumprimento integral
vo previsão legal em contrário. dos efeitos do ato administrativo. É a extinção na-
d) O regimento interno é ato administrativo normativo. tural esperada por todo ato administrativo. Pode
e) As certidões podem ser classificadas como atos admi- ocorrer mediante: a.1) esgotamento do conteúdo,
nistrativos enunciativos. como a vacinação de enfermos após expedição de
ordem de entrega das vacinas; a.2) execução da or-
Resposta: Letra A. dem, como o guinchamento de veículo; a.3) imple-
A instrução normativa é modalidade de ato normati- mento de condição resolutiva ou termo final, como
vo, que apresenta comandos gerais e abstratos para o prazo final para renovação da CNH.
o fiel cumprimento da lei. Os atos negociais, por sua b) Extinção ipsu iure pelo desaparecimento da pes-
vez, são aqueles que manifestam uma declaração de soa ou objeto: os atos administrativos podem di-
vontade do Poder Público coincidente com a preten- zer respeito a pessoas, ou coisas. Desaparecendo
são do particular, visando à concretização de negócios um desses elementos, o ato extingue-se automa-
jurídicos públicos ou à atribuição de certos direitos ou ticamente, pois perdeu a sua utilidade. As pessoas
vantagens ao interessado. “desaparecem” com seu falecimento, como a mor-
te de servidor público que receberia promoção; e
2. (CESPE – 2018) Determinado prefeito exarou ato ad- as coisas com a sua ruína ou destruição, como o
ministrativo autorizando o uso de bem público em favor desabamento de prédio que recebeu licença para
de um particular. Pouco tempo depois, lei municipal alte- a sua reforma.
rou o plano diretor, no que tange à ocupação do espaço c) Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio
urbano, tendo proibido a destinação de tal bem público beneficiário abre mão da situação proporcionada
à atividade particular. Nessa situação hipotética, o refe- pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de
rido ato administrativo de autorização de uso de bem cargo público a pedido do seu ocupante.
público extingue-se por d) Retirada do ato: é a forma mais importante de ex-
tinção dos atos administrativos, para os concur-
a) revogação.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

sos públicos. É a extinção que se dá pela expedi-


b) anulação. ção de um segundo ato, elaborado para extinguir
c) contraposição. ato administrativo anterior a ele. Comporta cinco
d) caducidade. modalidades, que serão vistas com maiores deta-
e) cassação. lhes: revogação, anulação, cassação, caducidade e
contraposição.
Resposta: Letra D.
Pela leitura do enunciado, podemos perceber que a 1. Revogação
extinção da referida autorização de uso de bem públi-
co se deu pela edição de lei municipal que alterou o Revogação é a extinção de ato administrativo que se
plano diretor da cidade. A única hipótese cabível é a encontra perfeito e apto a produzir seus efeitos, pratica-
caducidade, por ser justamente hipótese de extinção do pela própria Administração Pública, fundada em ra-
de ato administrativo devido a norma jurídica super- zões de conveniência e oportunidade, sempre almejando

164
a proteção do interesse público. Nessa hipótese, ocor- a anulação deve desconstituir os efeitos desde a data da
re uma causa superveniente, que altera o juízo de con- prática daquele ato. Podemos afirmar, então, que a anu-
veniência e oportunidade sobre a permanência de ato lação possui efeito retroativo, ou ex tunc. Em regra, não
discricionário, obrigando a Administração a expedir um gera ao particular direito à indenização pela anulação de
segundo ato capaz de revogar esse ato anterior. ato ilegal, salvo se comprovar ter sofrido dano anormal
O conceito de revogação tem previsão no art. 53 da para ocorrência, do qual não tenha participado.
Lei nº 9.784/1999: “A Administração deve anular seus
próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e 3. Cassação
pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportu-
nidade, respeitados os direitos adquiridos”. Sobre o mes- São hipóteses em que o administrado deixa de preen-
mo assunto, a Súmula nº 473, do STF: “A administração cher condição necessária para a permanência da referi-
pode anular seus próprios atos, quando eivados de ví- da vantagem. Exemplo: habilitação da CNH cassada por
cios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
pessoa enferma.
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
4. Caducidade
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e res-
salvada, em todos os casos, a apreciação judicial”.
Também denominada decaimento, consiste na mo-
Por tratar-se de questão de mérito, a revogação so- dalidade de extinção de ato administrativo em conse-
mente pode ser decretada pela própria Administração quência de norma jurídica superveniente, a qual impede
Pública. É, também, decorrência do princípio da autotu- a permanência da situação anteriormente consentida.
tela: a Administração Pública tem competência para anu- Como não pode produzir efeitos automaticamente, é ne-
lar e revogar seus atos, sendo descabido a manifestação cessária a prática de um ato secundário, determinando
do Poder Judiciário nos atos administrativos discricioná- a extinção do ato decaído. Exemplo: perda do direito de
rios. A revogação é elaborada pela mesma autoridade comercializar em área que passa a ser considerada exclu-
que praticou o ato principal. sivamente residencial.
O ato revocatório é sempre secundário, constitutivo e
discricionário. Seu objeto será sempre o ato administra- 5. Contraposição
tivo ou a relação jurídica anterior perfeita e eficaz, desti-
tuído de qualquer vício. A revogação atinge somente os É o modo de extinção que ocorre com a expedição
atos discricionários: para os atos vinculados, a medida de um segundo ato, fundado em competência diversa,
cabível é a anulação. cujos efeitos são contrapostos aos do ato inicial. É uma
Por fim, em relação a seus efeitos, a revogação não espécie de revogação praticada por autoridade distinta
pode atingir as situações jurídicas do passado. Isso signi- da que expediu o ato inicial. Exemplo: nomeação de um
fica que a revogação produz efeitos futuros, não retroa- funcionário anteriormente exonerado de seu cargo.
tivos, ou ex nunc. Há a possibilidade do particular, que se
sentiu prejudicado com a referida medida, ingressar em
juízo com pedido de indenização contra a Administração.
EXERCÍCIOS COMENTADOS

2. Anulação 6. (CESPE – 2018) Determinado prefeito exarou ato ad-


ministrativo autorizando o uso de bem público em favor
É a extinção de ato administrativo defeituoso, pois de um particular. Pouco tempo depois, lei municipal alte-
carece de legalidade, podendo ser expedido pela Admi- rou o plano diretor, no que tange à ocupação do espaço
nistração Pública, ou até mesmo pelo Poder Judiciário. urbano, tendo proibido a destinação de tal bem público
A anulação deriva do próprio princípio da legalidade e à atividade particular.
Nessa situação hipotética, o referido ato administrativo
autotutela. Também possui fundamento no art. 53, da Lei
de autorização de uso de bem público extingue-se por
nº 9.784/1999, bem como na Súmula nº 473, do STF.
A anulação realizada pela própria Administração
a) revogação.
ocorre mediante a expedição de ato anulatório. Suas ca-
b) anulação.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

racterísticas principais são: ato secundário, constitutivo c) contraposição.


e vinculado. Tanto a Administração como o Poder Judi- d) caducidade.
ciário podem decretar a anulação de ato administrativo. e) cassação.
Outra característica importante é o prazo definido pelo
caput do art. 54 da Lei nº 9.784/1999: “O direito da Ad- Resposta: Letra D.
ministração de anular os atos administrativos de que de- Pela leitura do enunciado, podemos perceber que a
corram efeitos favoráveis para os destinatários decai em extinção da referida autorização de uso de bem públi-
cinco anos, contados da data em que foram praticados, co se deu pela edição de lei municipal que alterou o
salvo comprovada má-fé”. O prazo decadencial de cinco plano diretor da cidade. A única hipótese cabível é a
anos é atributo exclusivo da anulação. caducidade, por ser justamente hipótese de extinção
Por fim, em relação a seus efeitos, importante frisar de ato administrativo devido a norma jurídica super-
que o ato nulo (aquele que carece de legalidade), tem o veniente que altera, ou impede a permanência da si-
seu defeito constatado desde a sua concepção. Por isso, tuação jurídica anterior.

165
c) Presunção de legalidade, autoexecutoriedade, tipici-
HORA DE PRATICAR dade e imperatividade.
d) Presunção de legalidade, autoexecutoriedade, motivo
e competência.
1. (IADES – 2018) A administração pública pode ser clas-
e) Finalidade, forma, competência, objeto e motivo.
sificada no sentido subjetivo e no sentido objetivo. No
sentido subjetivo, a expressão administração pública
5. (IADES – 2019) Acerca dos atributos do ato adminis-
trativo, assinale a alternativa correta.
a) indica o universo de órgão e pessoas que desempe-
nham a função administrativa.
a) Tipicidade é a característica segundo a qual o ato deve
b) define o dever do Estado de prestar serviços à preencher os requisitos previamente definidos em lei,
sociedade. para que possa produzir os respectivos efeitos.
c) é a função do Estado de incentivar pessoas de direito b) Autoexecutoriedade corresponde à necessidade de
privado à prestação de atividade de interesse social. ordem judicial para que o ato seja válido e eficaz.
d) representa as limitações ao exercício do direito à liber- c) Finalidade é a motivação descrita pelo agente público
dade ou à propriedade. que delimita o âmbito de incidência do ato.
e) consiste nos atos de regulação e fiscalização das ativi- d) Competência é o atributo fundamental para a prática
dades privadas. do ato e garante a liberdade plena de ação do agente
público.
2. (IADES – 2019) Quanto aos princípios informativos do e) Presunção de legitimidade é a possibilidade de o ad-
direito administrativo, assinale a alternativa correta. ministrador impor obrigações unilateralmente.

a) A indisponibilidade do interesse público autoriza que 6. (IADES – 2018) Por esse atributo do ato administrati-
a administração escolha, de forma discricionária, o vo, o poder público tem a prerrogativa de executar dire-
melhor ato a ser praticado. tamente o ato, inclusive com o uso da força, sem prévia
b) Pelo princípio da especialidade, não é possível o con- manifestação do Poder Judiciário.
trole jurisdicional da atividade administrativa. A definição apresentada refere-se ao atributo dos atos
c) A supremacia do interesse público permite que os administrativos chamado
interesses dos agentes econômicos privados prevale-
çam sobre as ações de interesse coletivo. a) autoexecutoriedade.
d) O princípio da segurança jurídica condiciona a valida- b) imperatividade.
de e a existência do ato administrativo à autorização c) exigibilidade.
prévia do Poder Judiciário. d) tipicidade.
e) Pelo princípio da autotutela, o administrador exerce e) presunção de legitimidade e de veracidade.
controle dos próprios atos, podendo anular os atos
ilegais e revogar atos por motivos de conveniência e 7. (IADES – 2019) Em relação aos atos administrativos,
oportunidade. assinale a alternativa correta.

3. (IADES – 2018) Todo direito pressupõe a noção de li- a) A revogação do ato administrativo ocorre nos casos
mite e da proibição do excesso, visando a evitar toda for- de atos inválidos, que deixaram de ser convenientes
ma de intervenção ou restrição abusiva ou desnecessária ou oportunos ao interesse público, com efeitos ex
da Administração Pública, mesmo no caso do exercício tunc.
do poder discricionário. Assim, o princípio que melhor b) A anulação do ato administrativo constitui a extinção
desenvolve esse papel é o da do ato por motivos de ilegalidade e oportunidade, e
possui somente efeitos ex nunc.
a) legalidade. c) A anulação de um ato administrativo pode ser decla-
b) moralidade. rada pela própria administração pública e pelo Poder
c) segurança jurídica. Judiciário.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

d) proporcionalidade. d) A revogação é a extinção do ato administrativo por


e) autotutela. motivo de ilegalidade.
e) O ato administrativo vinculado só pode ser revogado.
4. (IADES – 2019) Assinale a alternativa que apresenta
corretamente os requisitos de validade ou elementos 8. (IADES – 2018) A doutrina entende que efeitos pro-
dos atos administrativos. duzidos durante a formação do ato administrativo deno-
minam-se efeitos
a) Motivação, finalidade, competência e
discricionariedade. a) típicos.
b) atípicos.
b) Competência, finalidade, motivo, tipicidade e
c) preliminares ou prodômicos.
imperatividade.
d) reflexos.
e) retroativos.

166
9. (IADES – 2018) Em relação a atos administrativos, as- d) Tem relação com as disciplinas das universidades
sinale a alternativa correta. públicas.
e) Somente pode ser exercido por autoridade judiciária
a) A imperatividade dos atos administrativos significa que tenha competência hierárquica.
que a administração pública possui a prerrogativa de
executar diretamente a respectiva vontade, inclusive 13. (IADES – 2019) A Administração Pública pode con-
com o uso moderado da força, independentemente dicionar, regular ou restringir direitos em nome do inte-
da manifestação do Poder Judiciário. resse público por meio do poder
b) Os atos administrativos perfeitos são aqueles que
completaram o respectivo ciclo de formação e estão a) de polícia.
aptos para produção de efeitos jurídicos. b) legislativo.
c) Os atos administrativos constitutivos declaram a exis- c) mandamental.
tência de situações jurídicas preexistentes ou reconhe- d) concedente.
cem direitos. e) discricionário.
d) Os atos administrativos pendentes são aqueles que já
exauriram os próprios efeitos, tornando-se irretratá- 14. (IADES – 2019) De modo geral, o Poder de Polícia
veis, ressalvada a possibilidade de invalidação quando é a atividade da Administração Pública de restringir ou
verificada eventual ilegalidade. condicionar o exercício de direitos individuais (liberdade
e) O ato administrativo simples é aquele elaborado pela e propriedade) em benefício da coletividade. De acor-
manifestação autônoma de diversos órgãos públicos. do com a melhor doutrina, quais são os atributos desse
poder?
10. (IADES – 2019) No que se refere à anulação, revo-
gação e convalidação dos atos administrativos, assinale a a) Discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade.
alternativa correta. b) Autoexecutoriedade, regulamentação e discricionariedade.
c) Coercibilidade, hierarquia e vinculação.
a) Os atos administrativos ilegais podem ser anulados ou d) Disciplina, autoexecutoriedade e regulamentação.
revogados, a critério da Administração. e) Coercibilidade, discricionariedade e disciplina.
b) Os atos que já exauriram os respectivos efeitos e os
atos vinculados podem ser revogados. 15. (IADES – 2018) A respeito do abuso de poder, assi-
c) Vícios de legalidade e na forma admitem convalidação. nale a alternativa correta.
d) O Poder Judiciário pode apreciar pedido de revogação
e revogar ato administrativo, ainda que seja necessária a) O abuso de poder pode revestir-se exclusivamente
a análise da discricionariedade (oportunidade e con- da forma comissiva, porque é a única forma capaz
veniência) do ato. de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do
e) A Administração pode anular os próprios atos, quando administrado.
eivados de vícios que os tornam ilegais, ou revogá-los, b) O abuso de poder pode ocorrer na espécie excesso de
por motivo de conveniência ou oportunidade, respei- poder quando o agente público atua fora dos limites
tados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os da respectiva esfera de competências.
casos, a apreciação judicial. c) O abuso de poder pode ocorrer na espécie desvio de
poder quando o agente, embora dentro da própria ór-
11. (IADES – 2019) O poder administrativo que permite bita de competências, acata a finalidade explícita ou
certa flexibilidade nos próprios atos, conforme critérios implícita na lei que determinou a atuação deste.
de conveniência e oportunidade, a bem da administração d) Os atos praticados com abuso de poder na espécie
pública, é o poder excesso de poder afrontam o princípio da supremacia
do interesse público e são nulos por vício no motivo.
a) vinculado. e) Os atos praticados com abuso de poder na espé-
b) de polícia. cie desvio de finalidade são anuláveis por vício na
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

c) discricionário. competência.
d) hierárquico.
e) regulamentar. 16. (IADES – 2019) No que concerne às entidades da
administração pública indireta, assinale a alternativa
12. (IADES – 2019) Com relação ao poder disciplinar, correta.
assinale a alternativa correta.
a) Fundações públicas são pessoas jurídicas de direito
a) Não pode ser exercido no âmbito do Poder Executivo. público, criadas por lei, para executar atividades típi-
b) É o processo judicial por meio do qual são cobradas as cas da administração pública direta.
multas dos servidores. b) Sociedades de economia mista são pessoas jurídicas
c) É o poder pelo qual a Administração responsabiliza os de direito privado, criadas por autorização legislativa,
próprios servidores pelas faltas cometidas. com a maioria do capital público e sempre constituí-
das sob a forma de sociedade anônima (S/A).

167
c) Empresas públicas são pessoas jurídicas de direito pú- b) A culpa do Estado deve ser comprovada no processo
blico, criadas por lei específica, com a totalidade de judicial.
capital público e organizadas por qualquer forma so- c) Somente é cabível no Poder Executivo Federal.
cietária admitida legalmente. d) O Estado responde de forma objetiva, independente-
d) Autarquias são pessoas jurídicas com patrimônio mente de culpa.
personalizado, cuja criação depende de autorização e) Aplica-se somente aos ocupantes de cargo em
legislativa. comissão.
e) Autarquias são pessoas jurídicas de direito público,
criadas por autorização legislativa para executar so- 20. (IADES – 2018) Com relação à responsabilidade civil
mente atividades atípicas da administração pública do Estado, assinale a alternativa correta.
direta.
a) A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direi-
17. (IADES – 2018) Acerca do tema organização da ad- to privado prestadoras de serviço público é objetiva
ministração pública, assinale a alternativa correta. relativamente a apenas terceiros usuários do serviço,
excluindo-se os terceiros não usuários.
a) O controle da tutela administrativa é a manifestação b) À responsabilidade civil estatal não se aplica a teoria
do controle hierárquico. do risco administrativo, tanto no que diz respeito às
b) É defeso a qualquer fundação a qualificação como condutas estatais omissivas quanto relativamente às
agência executiva. comissivas.
c) É possível a criação de autarquia vinculada ao Poder c) Nos casos de posse em cargo público determinada
Legislativo. por decisão judicial, o servidor faz jus a indenização,
d) Os dirigentes de uma agência reguladora ocupam car- sob fundamento de que deveria ter sido investido em
go em comissão de livre nomeação e exoneração. momento anterior, visto se tratar de situação típica de
e) As sociedades de mera participação, cujo capital per- responsabilização estatal.
tencente ao Estado é minoritário, integram a adminis- d) Considerando que é dever do Estado, imposto pelo
tração pública indireta. sistema normativo, manter, nos respectivos presí-
dios, os padrões mínimos de humanidade previstos
18. (IADES – 2019) No que concerne à organização ad- no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade
ministrativa e aos conceitos de centralização, desconcen- a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais,
tração e descentralização, assinale a alternativa correta. comprovadamente causados aos detentos em decor-
rência da falta ou insuficiência das condições legais de
a) A descentralização acontece quando o Estado executa encarceramento.
as respectivas tarefas diretamente, por meio de ór- e) A omissão do poder público, quando lesiva aos direi-
gãos e agentes integrantes da administração direta. tos de qualquer pessoa, induz apenas à responsabili-
b) A centralização administrativa dá-se quando o Esta- dade civil objetiva do Estado.
do desempenha algumas das próprias atribuições por
meio de outras pessoas jurídicas e não pela adminis-
tração direta, como ocorre quando se cria uma autar- GABARITO
quia para execução de determinadas atividades.
c) A desconcentração é técnica administrativa de distri-
1 A
buição interna de competências, que ocorre dentro da
2 E
estrutura de uma pessoa jurídica, como, por exemplo,
3 D
quando uma autarquia estabelece uma divisão interna
4 E
de funções.
5 A
d) A descentralização é técnica administrativa de distri-
6 A
buição interna de competências, que se efetua den-
7 C
tro da estrutura de uma pessoa jurídica, como, por
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

8 C
exemplo, quando determinada autarquia estabelece
9 B
uma divisão interna de funções.
10 E
e) A desconcentração ocorre quando o Estado desempe-
11 C
nha algumas das próprias atribuições por meio de ou-
12 C
tras pessoas jurídicas e não pela administração direta,
13 A
como verifica-se quando é criada uma autarquia para
14 A
execução de determinadas atividades.
15 B
16 B
19. (IADES – 2019) No que tange à responsabilidade ci-
17 C
vil do Estado, assinale a alternativa correta.
18 C
19 D
a) Não é possível o direito de regresso contra o
20 D
responsável.

168
• Novatio legis in pejus – é a lei posterior que agrava
a situação
NOÇÕES DE DIREITO PENAL • Novatio legis incriminadora – é a lei posterior que
cria um tipo incriminador, tornando típica a condu-
ta antes considerada irrelevante pela lei penal.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL A lei posterior não retroage para atingir os fatos pra-
ticados na vigência da lei mais benéfica (“Irretroatividade
da lei penal”). Contudo, haverá extratividade da lei mais
O Código Penal, logo no art. 1º, dispõe que não há benéfica, pois será válida mesmo após a cessação da vi-
crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem gência (Ultratividade da Lei Penal).
prévia cominação legal. Ressalta-se, por fim, que aos crimes permanentes e
A lei penal não pode retroagir, o que é denominado continuados, aplica-se a lei nova ainda que mais grave,
como irretroatividade da lei penal. nos termos da Súmula 711 do STF.
Contudo, há exceção à regra. Ainda no art. 1º, do CP, há o princípio da legalidade,
A Lei poderá retroagir quando trouxer benefício ao
em que a maioria dos nossos autores considera o princí-
réu.
pio da legalidade sinônimo de reserva legal.
Em regra, aplica-se a lei penal a fatos ocorridos du-
rante sua vigência, porém, por vezes, verificamos a extra- A doutrina, orienta-se maciçamente no sentido de
tividade da lei penal. não haver diferença conceitual entre legalidade e reserva
A extratividade da lei penal se manifesta de duas ma- legal.
neiras, ou pela ultratividade da lei ou retroatividade da O professor Fernando Capez diz que o princípio da
lei. legalidade é gênero que compreende duas espécies: re-
Assim, considerando que a extra atividade da lei penal serva legal e anterioridade da lei penal.
é o seu poder de regular situações fora de seu período Com efeito, o princípio da legalidade corresponde
de vigência, podendo ocorrer seja em relação a situações aos enunciados dos arts. 5º, XXXIX, da Constituição Fede-
passadas, seja em relação a situações futuras. ral e 1º do Código Penal (“não há crime sem lei anterior
Quando a lei regula situações passadas, fatos anterio- que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”)
res a sua vigência, ocorre a denominada retroatividade. e contém, nele embutidos, dois princípios diferentes: o
Já, se sua aplicação se der para fatos após a cessação de da reserva legal, reservando para o estrito campo da lei
sua vigência, será chamada ultratividade. a existência do crime e sua correspondente pena (não
Em se tratando de extratividade da lei penal, observa- há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia co-
-se a ocorrência das seguintes situações: minação legal), e o da anterioridade, exigindo que a lei
esteja em vigor no momento da prática da infração penal
• Abolitio criminis – trata-se da supressão da figura
(lei anterior e prévia cominação).
criminosa;
Assim, a regra do art. 1º, denominada princípio da le-
• Novatio legis in melius ou lex mitior – é a lei penal
mais benigna. galidade, compreende os princípios da reserva legal e da
anterioridade.
Tanto a abolitio criminis como a novatio legis in me- Não é difícil compreender a lei penal no tempo e no
lius, aplica-se o princípio da retroatividade da Lei penal espaço.
mais benéfica. Porém, há detalhes que vamos apresentar.
A Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006 descrimina- Um dos autores que leciona muito bem sobre a lei
lizou os artigos 217 e 240, do Código Penal, respectiva- penal no tempo é Damásio Evangelista de Jesus.
mente, os crimes de “sedução” e “adultério”, de modo A lei nova descriminante, atuando retroativamente,
que o sujeito que praticou uma destas condutas em fe- exclui todos os efeitos jurídico-penais do comportamen-
vereiro de 2006, por exemplo, não será responsabilizado to antes considerado infração.
na esfera penal. Há extinção do jus puniendi in concreto e do jus
Segundo a maior parte da doutrina, a Lei nº 11.106 punitionis.
de 28 de março de 2006, não descriminalizou o crime de Na prática:
rapto, previsto anteriormente no artigo 219 e seguintes
do Código Penal, mas somente deslocou sua tipicida- 1ª) a persecutio criminis ainda não foi movimentada:
de para o artigo 148 e seguintes (“sequestro” e “cárce- o inquérito policial ou o processo não pode ser
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

re privado”), houve, assim, uma continuidade normativa


iniciado;
atípica.
2ª) o processo está em andamento: deve ser “trancado”
A abolitio criminis faz cessar a execução da pena e
todos os efeitos penais da sentença. mediante decretação da extinção da punibilidade;
A Lei nº 9.099/1999 trouxe novas formas de substitui- 3ª) já existe sentença condenatória com trânsito em
ção de penas e, por consequência, considerando que se julgado: a pretensão executória não pode ser efeti-
trata de novatio legis in melius ocorreu retroatividade de vada (a pena não pode ser executada);
sua vigência a fatos anteriores a sua publicação: 4ª) o condenado está cumprindo a pena: decretada a
extinção da punibilidade, deve ser solto.

169
A condenação é registrada e lançado o nome do réu
no rol dos culpados, ato que permite a documentação #FicaDica
da decisão condenatória para que produza seus efeitos
secundários. O fato mais relevante sobre o tempo e lu-
Ocorrendo a abolitio criminis, a condenação é decla- gar do crime reside no conflito aparente de
rada inexistente e o nome do condenado é riscado do rol normas.
dos culpados: o comportamento, como conduta punível, O conflito aparente de normas é o conflito
deixa de figurar em sua vida pregressa. que se estabelece entre duas ou mais nor-
Se vier a praticar outra infração, a conduta anterior, mas aparentemente aplicáveis ao mesmo
tornada inexistente, não o poderá prejudicar. fato.
No caso de lei intermediária mais benéfica, pode
acontecer que o sujeito pratique o fato sob o império de
uma lei, surgindo, depois, sucessivamente, duas outras, Há conflito porque mais de uma pretende regular o
regulando o mesmo comportamento, sendo a interme- fato, mas é aparente, porque, com efeito, apenas uma
diária a mais benigna. delas acaba sendo aplicada à hipótese.
O que se deve fazer é analisar os efeitos das três leis, Fernando Capez nos ensina que para que se configu-
veremos que a primeira é ab-rogada pela intermédia e, re o conflito aparente de normas é necessária a presença
sendo mais severa, não tem ultra atividade; a interme- de certos elementos:
diária, mais favorável que as outras duas, retroage em
relação à primeira e possui ultra atividade em face da • unidade do fato (há somente uma infração penal);
terceira; esta, mais severa, não retroage. • pluralidade de normas (duas ou mais normas pre-
tendendo regulá-lo);
A LEI PENAL NO TEMPO • aparente aplicação de todas as normas à espécie (a
incidência de todas é apenas aparente);
• efetiva aplicação de apenas uma delas (somen-
Art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momen-
te uma é aplicável, razão pela qual o conflito é
to do resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
aparente).
1984)

A respeito do tempo do crime, existem três teorias: A solução dá-se pela aplicação de alguns princípios,
Teoria da Atividade: O tempo do crime consiste no os quais, ao mesmo tempo em que afastam as normas
momento em que ocorre a conduta criminosa. não incidentes, apontam aquela que realmente regula-
Teoria da Resultado: O tempo do crime consiste no menta o caso concreto.
momento do resultado advindo da conduta criminosa.
Teoria da Ubiquidade ou Mista: O tempo do crime TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE
consiste no momento tanto da conduta como do resul-
tado que adveio da conduta criminosa. Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
O Código Penal vigente seguiu os moldes do Código convenções, tratados e regras de direito internacional,
Penal português em que também é adotada a Teoria da ao crime cometido no território nacional.
Atividade para o tempo do crime. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como ex-
Em decorrência disso, aquele que praticou o crime no tensão do território nacional as embarcações e aero-
momento da vigência da lei anterior terá direito a aplica- naves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
ção da lei mais benéfica. governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem
O menor de 18 anos, por exemplo, não será consi- como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mer-
derado imputável mesmo que a consumação ocorrer cantes ou de propriedade privada, que se achem, res-
quando tiver completado idade equivalente a maiorida- pectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em
de penal. alto-mar.
E, também, o deficiente mental será imputável, se na § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes
época da ação era consciente, tendo sofrido moléstia praticados a bordo de aeronaves ou embarcações es-
mental tão somente na época do resultado. trangeiras de propriedade privada, achando-se aque-
Novamente, observa-se a respeito dos crimes perma- las em pouso no território nacional ou em voo no es-
nentes, tal como o sequestro, nos quais a ação se pro- paço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
longa no tempo, de modo que em se tratando de novatio
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

territorial do Brasil.
legis in pejus, nos termos da Súmula 711 do STF, a lei
mais grave será aplicada.
Há várias teorias para fixar o âmbito de aplicação da
norma penal a fatos cometidos no Brasil:
A LEI PENAL NO ESPAÇO
Princípio da territorialidade: A lei penal só tem aplica-
Art. 6º, do CP. Considera-se praticado o crime no lu- ção no território do Estado que a editou, pouco impor-
gar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em tando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo.
parte, bem como onde se produziu ou deveria produ- Princípio da territorialidade absoluta: Só a lei nacional
zir-se o resultado. é aplicável a fatos cometidos em seu território.

170
Princípio da territorialidade temperada: A lei nacional se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, excep-
cionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção interna-
cional. Foi este o princípio adotado pelo art. 5º do Código Penal: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
O Território nacional abrange todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania: o solo, rios, lagos, mares inte-
riores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12 milhas) e espaço aéreo.
Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometi-
do por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas acima:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


b) houve requisição do Ministro da Justiça.

É a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior.


A extraterritorialidade possui os seguintes princípios norteadores:
Princípio da nacionalidade ativa: Aplica-se a lei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local da
infração.
Princípio da nacionalidade passiva: A lei nacional do autor do crime aplica-se quando este for praticado contra bem
jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade.
Princípio da defesa real: Prevalece a lei referente à nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o
local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. É também chamado de princípio da proteção.
Princípio da justiça universal: Todo Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do
sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território (que tenha voltado a
seu país, p. ex.).
Princípio da representação: A lei nacional é aplicável aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarca-
ções privadas, desde que não julgados no local do crime.
Ainda sobre a extraterritorialidade é importante saber:

• Os crimes (hipóteses, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro):
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de em-
presa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
• Os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em territó-
rio estrangeiro e aí não sejam julgados.

Nestes casos, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:

a) entrar o agente no território nacional;


b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo
a lei mais favorável.

INFRAÇÃO PENAL
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O crime ocorre quando uma pessoa pratica qualquer conduta descrita na lei e, através dessa conduta, ofende um
bem jurídico de uma terceira pessoa. Constituem determinados comportamentos humanos proibidos por lei, sob a
ameaça de uma pena.
A legislação brasileira, apresenta um sistema bipartido sobre as espécies de infração penal, uma vez que existem
apenas duas espécies (crime = delito ≠ contravenção). Situação diferente ocorre com alguns países tais como a França
e a Espanha que adotaram o sistema tripartido (crime ≠ delito ≠ contravenção).

171
ELEMENTOS

“A“ mata “B“


“A“ Prática conduta Art. 121 Matar “A” com uso de “B“ morre en CRIME
descrita na lei ⟶ alguém ⟶ uma arma, dispara ⟶ decorrência ⟶ Descrito no
Código Penal) e mata “B” dos disparos Art.121, do
efetuados por “A” Código Penal

As duas espécies de infração penal são: o crime, considerado o mesmo que delito, e a contravenção. Ilustre-se, po-
rém que, apesar de existirem duas espécies, os conceitos são bem parecidos, diferenciando-se apenas na gravidade da
conduta e no tipo (natureza) da sanção ou pena.
No que diz respeito à gravidade da conduta, os crimes e delitos se distinguem por serem infrações mais graves,
enquanto a contravenção refere-se às infrações menos graves.
Em relação ao tipo da sanção, a diferença tem origem no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei
3.914/41).

Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente,
quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isola-
damente, penas de prisão simples ou de multa, ou ambas. Alternativa ou cumulativamente.

Em razão dos crimes serem condutas mais graves, então eles são repelidos através da imposição de penas mais
graves (reclusão ou detenção e/ou multa).
As contravenções, todavia, por serem condutas menos graves, são sancionadas com penas menos graves (prisão
simples e/ou multa).
A escolha se determinada infração penal será crime/delito ou contravenção é puramente política, da mesma forma
que o critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo Direito Penal. Além disso, o que hoje é considerado
crime pode vir, no futuro, a ser considerada infração e vice-versa. O exemplo disso aconteceu com a conduta de por-
tar uma arma ilegalmente. Até 1997, tal conduta caracterizava uma mera contravenção, porém, com o advento da Lei
9.437/97, esta infração passou a ser considerada crime/delito.

DIFERENÇAS PRÁTICAS ENTRE CRIMES E CONTRAVENÇÕES

Diferenças CRIME CONTRAVENÇÃO


TENTATIVA Punível Por força do Art. 4º do Decreto-Lei
3.688/41, a tentativa não é puní-
vel
EXTRATERRITORIALIDADE Aplicada, nas situações do Art. 7º do Código Penal Não é aplicada
TEMPO MÁXIMO DE PENA 40 anos 5 anos
REINCIDÊNCIA Ocorre após a prática de crime ou contravenção no Não há reincidência após a prática
Brasil e após a prática de crime no estrangeiro de contravenção no estrangeiro

SEMELHANÇA NO ESTUDO DOS CRIMES E CONTRAVENÇÕES

Vimos que em termos práticos existem algumas diferenças entre crime e contravenção, porém, não podemos falar
o mesmo sobre a essência dessas infrações. Tanto a contravenção como o crime, substancialmente, são fatos típicos,
ilícitos e, para alguns, culpáveis.
Ou seja, possuem a mesma estrutura.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ESPÉCIES

CRIMES HEDIONDOS

Diferente do que costuma se pensar no senso comum, juridicamente, crime hediondo não é o crime praticado com
extrema violência e com requintes de crueldade e sem nenhum senso de compaixão ou misericórdia por parte de seus
autores, mas sim um dos crimes expressamente previstos na Lei nº 8.072/90. Portanto, são crimes que o legislador
entendeu merecerem maior reprovação por parte do Estado.

172
Os crimes hediondos, do ponto de vista criminoló- SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO DA INFRAÇÃO
gico, são os crimes que estão no topo da pirâmide de PENAL
desvaloração criminal, devendo, portanto, ser entendi-
dos como crimes mais graves ou revoltantes, que causam Sujeito ativo
maior aversão à coletividade.
Do ponto de vista semântico, o termo hediondo sig- Sujeito Ativo ou agente: é aquele que ofende o bem
nifica ato profundamente repugnante, imundo, horren- jurídico protegido por lei. Em regra, só o ser humano
do, sórdido, ou seja, um ato indiscutivelmente nojento, maior de 18 anos pode ser sujeito ativo de uma infra-
segundo os padrões da moral vigente. ção penal. A exceção acontece nos crimes contra o meio
O crime hediondo é o crime que causa profunda e ambiente onde existe a possibilidade da pessoa jurídica
consensual repugnância por ofender, de forma acentua- ser sujeito ativo, conforme preconiza o Art. 225, § 3º da
damente grave, valores morais de indiscutível legitimi- Constituição Federal.
dade, como o sentimento comum de piedade, de frater-
nidade, de solidariedade e de respeito à dignidade da Art. 225 [...].
pessoa humana. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas
O conceito de crime hediondo repousa na ideia de ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas fí-
que existem condutas que se revelam como a antítese sicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
extrema dos padrões éticos de comportamento social, independentemente da obrigação de reparar os danos
de que seus autores são portadores de extremo grau de causados.
perversidade, periculosidade e em razão disso, merecem
sempre o grau máximo de reprovação ética por parte da Sujeito passivo
sociedade e do próprio sistema de controle.
Destarte, foi aprovada por unanimidade na Câmara O Sujeito Passivo pode ser de dois tipos. O sujeito
dos Deputados um projeto de lei que restringe o benefí- passivo formal é sempre o Estado, pois tanto ele como
cio da progressão de regime para os presos condenados a sociedade são prejudicados quando as leis são deso-
por crimes hediondos. A lei 11.464/07 mudou a progres- bedecidas. O sujeito passivo material é o titular do bem
são de regime, no caso dos condenados aos crimes he- jurídico ofendido e pode ser tanto pessoa física como
diondos e equiparados, dar-se-á após o cumprimento de pessoa jurídica.
2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e É possível que o Estado seja ao mesmo tempo sujeito
de 3/5 (três quintos), se reincidente. passivo formal e sujeito passivo material. Como exemplo,
podemos citar o furto de um computador de uma repar-
CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO tição pública.
Princípio da Lesividade: uma pessoa não pode ser, ao
Vejamos a posição de Damásio de Jesus acerca dos mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo de uma in-
crimes de menor potencial ofensivo: fração penal.
O princípio da lesividade diz que, para haver uma in-
De acordo com a Lei dos Juizados Especiais Criminais fração penal, a lesão deve ocorrer a um bem jurídico de
(Lei n. 9.099/95), consideram-se infrações de menor alguém diferente do seu causador, ou seja, a ofensa deva
potencial ofensivo, sujeitando-os à sua competência, extrapolar o âmbito da pessoa que a causou.
os crimes aos quais a lei comine pena máxima não Dessa forma, se uma pessoa dá vários socos em seu
superior a dois anos (art. 61). próprio rosto (autolesão), não há crime de lesão corporal
(Art. 129 do CP), pois não foi ofendido o bem jurídico de
A Lei dita que: consideram-se infrações de menor po- uma terceira pessoa.
tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que Entretanto, a autolesão pode caracterizar o crime de
a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou fraude para recebimento de seguro (Art. 171, § 2o, V do
multa. CP) ou criação de incapacidade para se furtar ao serviço
Assim, sejam da competência da Justiça Comum ou militar (Art. 184 do CPM).
Federal, devem ser considerados delitos de menor po-
tencial ofensivo aqueles aos quais a lei comine, no máxi- TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE,
mo, pena detentiva não superior a dois anos, ou multa; PUNIBILIDADE
de maneira que os Juizados Especiais Criminais da Justiça
Comum passam a ter competência sobre todos os delitos
a que a norma de sanção imponha, no máximo, pena de- Fato típico é denominado como o comportamen-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tentiva não superior a dois anos (até dois anos) ou multa. to humano que se molda perfeitamente aos elementos
Ao não se adotar essa orientação, absurdos poderão constantes do modelo previsto na lei penal.
ocorrer na prática, em prejuízo de princípios constitucio- A primeira característica do crime é ser um fato típico,
nais, como da igualdade e da proporcionalidade. descrito, como tal, numa lei penal. Um acontecimento da
De modo que o delito mais grave, por atingir um bem vida que corresponde exatamente a um modelo de fato
jurídico coletivo, seria absurdamente considerado de contido numa norma penal incriminadora, a um tipo.
menor potencial ofensivo; enquanto o outro, de menor Para que o operador do Direito possa chegar à con-
lesividade objetiva, por afetar bem jurídico individual, te- clusão de que determinado acontecimento da vida é um
ria a qualificação de crime de maior potencial ofensivo. fato típico, deve debruçar-se sobre ele e, analisando-o,

173
decompô-lo em suas faces mais simples, para verificar, Vamos exemplificar para facilitar:
com certeza absoluta, se entre o fato e o tipo existe re-
lação de adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e Crime doloso agravado dolosamente
absoluta. Essa relação é a tipicidade.
Para que determinado fato da vida seja considerado Art. 121, §2º, do CP – homicídio qualificado, ou
típico, é preciso que todos os seus componentes, todos art. 123, § 2º, IV, do CP, lesão grave qualificado pela
os seus elementos estruturais sejam, igualmente, típicos. deformidade.
Os componentes de um fato típico são a conduta hu-
mana, a consequência dessa conduta se ela a produzir (o Isso é chamado de dupla tipicidade dolosa.
resultado), a relação de causa e efeito entre aquela e esta
(nexo causal) e, por fim, a tipicidade. Crime culposo agravado culposamente

Conduta Incêndio culposo qualificado culposamente pela


morte culposa de alguém, art. 250, combinado com o art.
Considera-se conduta a ação ou omissão humana 258, do CP.
consciente e voluntária dirigida a uma finalidade.
Isso é chamado de dupla tipicidade culposa.
Resultado
Crime culposo agravado dolosamente
A expressão resultado tem natureza equívoca, já que
possui dois significados distintos em matéria penal. Pode Art. 121, § 4º, 2ª figura, do CP - homicídio culposo,
se falar, assim, em resultado material ou naturalístico e agravado por omissão de socorro, ou art. 267, § 2º,
em resultado jurídico ou normativo. do CP - epidemia com resultado morte, ou art. 302,
O resultado naturalístico ou material consiste na mo- parágrafo único, III, da Lei nº 9.503/1997, homicídio
dificação no mundo exterior provocada pela conduta. culposo de trânsito majorado pela omissão de socorro.
Trata-se de um evento que só se faz necessário em cri-
mes materiais, ou seja, naquele cujo tipo penal descreva Crime doloso agravado culposamente
a conduta e a modificação no mundo externo, exigindo
ambas para efeito de consumação. Art. 129, § 3º, do CP - lesão corporal seguida de
O resultado jurídico ou normativo reside na lesão ou morte.
ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma
penal. Todas as infrações devem conter, expressa ou im- E agora que sabemos, pelos exemplos, o que são cri-
plicitamente, algum resultado, pois não há delito sem mes agravados pelo resultado.
que ocorra lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a al-
gum bem penalmente protegido. Qual das hipóteses se encaixa no crime preterdoloso?
A doutrina moderna dá preferência ao exame do
resultado jurídico. Este constitui elemento implícito de Crime PRETERDOLOSO ou PRETERINTENCIONAL,
todo fato penalmente típico, pois se encontra ínsito na encaixa-se na hipótese do crime doloso agravado
noção de tipicidade material. culposamente.
O resultado naturalístico, porém, não pode ser me- Assim, podemos afirmar que crime preterdoloso é
nosprezado, uma vez que se cuida de elementar presente uma espécie de crime agravado pelo resultado, consti-
em determinados tipos penais, de tal modo que despre- tuído de dolo no antecedente e culpa no consequente.
zar sua análise seria malferir o princípio da legalidade.
Vejamos: Quais são os elementos do crime preterdoloso?

CONDUTA PRETERDOLOSA Conduta dolosa visando determinado resultado.

É uma espécie de crime agravado pelo resultado, ha- Provocação de resultado culposo + grave do que
vendo verdadeiro concurso de dolo e culpa no mesmo o desejado.
fato (dolo no antecedente – conduta + culpa no conse- Nexo causal entre conduta e resultado.
quente – resultado).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Quando o resultado mais grave advém de caso fortui-


Dolo + Culpa = Preterdolo to ou força maior não se imputa a agravação ao agente.
O resultado mais grave deve ser pelo menos culposo.
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a Exemplo 1: “A” desfere um soco em “B” num ambien-
pena, só responde o agente que o houver causado ao te lotado de mesas.
menos culposamente. “A” cai, bate a cabeça e morre. Lesão corporal seguida
de morte (art. 129, §3º, do CP).
O que são crimes agravados pelo resultado? Exemplo 2: “A” empurra “B” em lugar cheio de cadei-
ras e obstáculos, e na queda, “B” bate a cabeça e morte.

174
Aqui temos vias de fato, contravenção (dolo) e morte tiverem discernimento sobre os seus atos ou não possuí-
culposa. Estamos diante do Art. 121, §3º, do CP, homicí- rem autocontrole, são isentos de pena.
dio culposo, ficando a contravenção absorvida. Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o dis-
cernimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos
CULPABILIDADE ou prejudicados por doença ou transtorno mental.
Causas que excluem a imputabilidade
A Culpabilidade é um elemento integrante do concei- Doença Mental,
to definidor de uma infração penal. A motivação e objeti- Desenvolvimento mental incompleto,
vos subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A Desenvolvimento mental retardado e
culpabilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta Embriaguez completa proveniente de caso fortuito
ilícita é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo ou força maior.
(intenção), ou pelo menos com imprudência, negligência
ou imperícia, nos casos em que a lei prever como puní- Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descum-
veis tais modalidades primento de um dever jurídico imposto por normas de
direito público, sujeitando o agente a uma pena.
O excesso Punível Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição
entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típi-
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou co, até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a
em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente um tipo penal, é antijurídico.
pode encontrar-se em três situações diferentes:
Exclusão de ilicitude
• usa de um meio moderado e dentro do necessário
para repelir à agressão; Exclusão da ilicitude é uma causa excepcional que
retira o caráter antijurídico de uma conduta tipificada
Haverá necessariamente o reconhecimento da legíti- como criminosa (fato típico).
ma defesa.
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o
• de maneira consciente emprega um meio des- fato:
necessário ou usa imoderadamente o meio I - em estado de necessidade;
necessário; II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exer-
A legítima defesa fica afastada por excluído um dos cício regular de direito.
seus requisitos essenciais. Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipó-
• após a reação justa (meio e moderação) por impre-
teses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou
vidência ou conscientemente continua desneces-
sariamente na ação.
culposo.

No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifi- Não há crime quando o agente pratica o fato
ca demasiada e desnecessariamente a reação inicialmen-
te justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O Em estado de Em legítima Em estrito
agente responderá pela conduta constitutiva do excesso. necessidade defesa cumprimento
de dever
PUNIBILIDADE legal ou no
exercício
A punibilidade é uma das condições para o exercício regular de
da ação penal (CPP, art. 43, II) e pode ser definida como a direito
possibilidade jurídica de o Estado aplicar a sanção penal
(pena ou medida de segurança) ao autor do ilícito.
A ação do homem será típica sob o aspecto criminal
A Punibilidade, portanto, é consequência do crime.
quando a lei penal a descreve como sendo um delito.
Assim, é punível a conduta que pode receber pena.
Numa primeira compreensão, isso também basta para
A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um
se afirmar que ela está em desacordo com a norma,
indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segun-
que se trata de uma conduta ilícita ou, noutros termos,
do prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

antijurídica.
também, definir a imputabilidade como a capacida-
Essa ilicitude ou antijuridicidade, contudo, consisten-
de do agente entender o caráter ilícito do fato por ele
te na relação de contrariedade entre a conduta típica
do autor e o ordenamento jurídico, pode ser suprimida,
perpetrado ou, de determinar-se de acordo com esse
desde de que, no caso concreto, estejam presentes uma
entendimento.
É, portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo
das hipóteses previstas no artigo 23 do Código Penal: o
entre a ação e seu agente, imputando a alguém a realiza-
estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cum-
ção de um determinado ato.
primento do dever legal ou o exercício regular de direito.
Quando existe algum agravo à saúde mental, os in-
O estado de necessidade e a legítima defesa são con-
divíduos podem ser considerados inimputáveis – se não
ceituados nos artigos 24 e 25 do Código Penal, merecen-

175
do destaque, neste tópico, apenas o estrito cumprimento A legítima defesa fica afastada por excluído um dos
do dever legal e o exercício regular de um direito, como seus requisitos essenciais.
excludentes da ilicitude ou da antijuridicidade.
A expressão estrito cumprimento do dever legal, por • após a reação justa (meio e moderação) por impre-
si só, basta para justificar que tal conduta não é ilícita, vidência ou conscientemente continua desneces-
ainda que se constitua típica. Isso porque, se a ação do sariamente na ação.
homem decorre do cumprimento de um dever legal, ela
está de acordo com a lei, não podendo, por isso, ser con- No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifi-
trária a ela. Noutros termos, se há um dever legal na ação ca demasiada e desnecessariamente a reação inicialmen-
do autor, esta não pode ser considerada ilícita, contrária te justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O
ao ordenamento jurídico. agente responderá pela conduta constitutiva do excesso.
Um exemplo possível de estrito cumprimento do de-
ver legal pode restar configurado no crime de homicí- EXCLUDENTES DE ILICITUDE E DE
dio, em que, durante tiroteio, o revide dos policiais, que
estavam no cumprimento de um dever legal, resulta na
CULPABILIDADE
morte do marginal. Neste sentido - RT 580/447.
O exercício regular de um direito, como excludente Para que haja ilicitude em uma conduta típica, inde-
da ilicitude, também quer evitar a antinomia nas relações pendentemente do seu elemento subjetivo, é necessário
jurídicas, posto que, se a conduta do autor decorre do que inexistam causas justificantes. Isto porque estas cau-
exercício regular de um direito, ainda que ela seja típica, sas tornam lícita a conduta do agente.
não poderá ser considerada antijurídica, já que está de As causas justificantes têm o condão de tornar líci-
ta uma conduta típica praticada por um sujeito. Assim,
acordo com o direito.
Um exemplo de exercício regular de um direito, como
aquele que pratica fato típico acolhido por uma exclu-
excludente da ilicitude, é o desforço imediato, emprega-
dente, não comete ato ilícito, constituindo uma exceção
do pela vítima da turbação ou do esbulho possessório,
enquanto possuidor que pretende reaver a posse da coi- à regra que todo fato típico será sempre ilícito.
sa para si (RT - 461/341). As excludentes de ilicitude estão previstas no artigo
A incidência da excludente da ilicitude, conduto, não 23 do Código Penal brasileiro. São elas: o estado de ne-
pode servir de salvo conduto para eventuais excessos do cessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do
autor, que venham a extrapolar os limites do necessário dever legal e o exercício regular de direito.
para a defesa do bem jurídico, do cumprimento de um
dever legal ou do exercício regular de um direito. Haven- Estado de necessidade
do excesso, o autor do fato será responsável por ele, caso
restem verificados seu dolo ou sua culpa. Nesse sentido é Trata-se de uma excludente de ilicitude que constitui
a regra do parágrafo único do artigo 23 do Código Penal. no sacrifício de um bem jurídico penalmente protegido,
visando salvar de perigo atual e inevitável direito pró-
CULPABILIDADE prio do agente ou de terceiro - desde que no momento
da ação não for exigido do agente uma conduta menos
A Culpabilidade é um elemento integrante do concei- lesiva. Nesta causa justificante, no mínimo dois bens ju-
to definidor de uma infração penal. A motivação e objeti- rídicos estarão postos em perigo, sendo que para um ser
vos subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A
protegido, o outro será prejudicado.
culpabilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta
Para que se caracterize a excludente de estado de
ilícita é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo
necessidade exige dois requisitos: existência de perigo
(intenção), ou pelo menos com imprudência, negligência
ou imperícia, nos casos em que a lei prever como puní- atual e inevitável e a não provocação voluntária do peri-
veis tais modalidades go pelo agente. Quanto ao primeiro, importante destacar
que se trata do que está acontecendo, ou seja, o perigo
O excesso Punível não é remoto ou incerto além disso, o agente não pode
ter opção de tomar outra atitude, pois caso contrário,
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou não se justifica a ação. Enquanto o segundo requisito
em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente significa que o agente não pode ter provocado o perigo
pode encontrar-se em três situações diferentes: intencionalmente. A doutrina majoritária entende que se
o agente cria a situação de perigo de forma culposa, ain-
da assim poderá se utilizar da excludente.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• usa de um meio moderado e dentro do necessário


para repelir à agressão; Vale observar o tema abordado por Rogério Greco
quanto ao estado de necessidade relacionado a neces-
Haverá necessariamente o reconhecimento da legíti- sidades econômicas. Trata-se de casos em que devido a
ma defesa. grandes dificuldades financeiras, o agente comete crimes
em virtude de tal situação.
• de maneira consciente emprega um meio des-
Conforme o doutrinador, não é qualquer dificuldade
necessário ou usa imoderadamente o meio
econômica que autoriza o agente a agir em estado de
necessário;
necessidade, somente se permitindo quando a situa-
ção afete sua própria sobrevivência. Como é o caso, por

176
exemplo, do pai que vendo seus familiares com fome e derá pelos resultados do excesso a título de dolo. A se-
não sem condições de prover sustento, furta alimentos gunda se configura quando o agente que age reagindo
num mercado. É razoável que prevaleça o direito à vida contra a agressão, excede os limites da causa justificante
do pai e de sua família ante ao patrimônio do mercado. por negligência, imprudência ou imperícia. O resultado
[4] lesivo causado deve estar previsto em lei como crime
culposo, para que o agente possa responder. E a últi-
Legítima Defesa ma, que é proveniente do erro, se configura no caso de
legítima defesa subjetiva. Aqui, o agente incide em erro
O conceito de legítima defesa, esta que é a excluden- sobre a situação que ocorreu, supondo que a agressão
te mais antiga de todas, está baseado no fato de que o ainda existe. Responderá por culpa, caso haja previsão e
Estado não pode estar presente em todos os lugares pro- se for evitável.
tegendo os direitos dos indivíduos, ou seja, permite que Foi acrescido ao art. 25, do CP, o parágrafo único que,
o agente possa, em situações restritas, defender direito em síntese, dispõe que considera legítima defesa o agen-
seu ou de terceiro. te de segurança pública que repele agressão ou risco de
Assim sendo, a legítima defesa nada mais é do que agressão a vítima mantida refém durante a prática de cri-
a ação praticada pelo agente para repelir injusta agres- mes. Reafirma que a legítima defesa não necessariamen-
são a si ou a terceiro, utilizando-se dos meios necessários te é a própria, mas inclui a legítima defesa de terceiros.
com moderação.
Estrito cumprimento do dever legal
A formação da legítima defesa depende de alguns re-
quisitos objetivos. São eles: O agente que cumpre o seu dever proveniente da lei,
não responderá pelos atos praticados, ainda que consti-
a) Agressão injusta, atual ou iminente; tuam um ilícito penal. Isto porque o estrito cumprimento
b) Direito próprio ou alheio; de dever legal constitui outra espécie de excludente de
c) Utilização de meios necessários com moderação. ilicitude, ou causa justificante.
O primeiro requisito para formação desta excludente
O elemento subjetivo existente na legítima defesa de ilicitude é a existência prévia de um dever legal. Este
é a vontade de se defender ou defender direito alheio. requisito engloba toda e qualquer obrigação direta ou
Além de preencher os requisitos objetivos, o agente pre- indireta que seja proveniente de norma jurídica. Dessa
cisa ter o animus defendendi no momento da ação. Se forma, pode advir de qualquer ato administrativo infrale-
o agente desconhecia a agressão que estava por vir e gal, desde que tenham sua base na lei. Também pode ter
age com intuito de causar mal ao agressor, não haverá sua origem em decisões judiciais, já que são proferidas
exclusão da ilicitude da conduta, pois haverá mero caso pelo Poder Judiciário no cumprimento de ordens legais.
de coincidência. Outro requisito é o cumprimento estrito da ordem.
Ponto bastante discutido entre os doutrinadores é o Para que se configure esta causa justificante, é necessá-
que trata de ofendículos. Para alguns autores, constituem rio que o agente se atenha aos limites presentes em seu
legítima defesa preordenada e para outros, exercício regu- dever, não podendo se exceder no seu cumprimento.
lar de direito, embora ambos se enquadrem na exclusão Aquele que ultrapassa os limites da ordem legal poderá
da antijuricidade da conduta. Ofendículos são aparatos que responder por crime de abuso de autoridade ou algum
visam proteger o patrimônio ou qualquer outro bem su- outro específico no código Penal. Por fim, o último re-
jeito a invasões, como por exemplo, as cercas elétricas em quisito é a execução do ato por agente público, e ex-
cima de um muro de uma casa. A jurisprudência entende cepcionalmente, por particular. Para que se caracterize
que todos os aparatos dispostos para defender o patrimô- a causa justificante, o agente precisa ter consciência de
nio devem ser visíveis e inacessíveis a terceiros inocentes, que pratica o ato em cumprimento de dever legal a ele
somente afetando aquele que visa invadir ou atacar o bem incumbido, pois, do contrário, o seu ato configuraria um
tutelado alheio. Preenchendo estes requisitos, o agente não ilícito. Trata-se do elemento subjetivo desta excludente,
responderá pelos danos causados ao agressor, pois confi- que é a ação do agente praticada no intuito de cumprir
gurará caso de legítima defesa preordenada. Só serão con- ordem legal.
ceituados como exercício regular de direito quando levados Ao tratar de coautores e partícipes, Fernando Capez
em consideração o momento de sua instalação. suscita uma questão interessante. Para ele, ambos não
Por fim, faz-se necessário analisar quando o agente poderiam ser responsabilizados, pois não como falar em
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

deverá responder por excesso, em caso de legítima de- ato lícito para, e para o outro ilícito. Porém, se um de-
fesa. São três as situações: a primeira refere-se à forma les desconhecer a situação justificante que enseja o uso
dolosa, a segunda culposa e a última é aquela que se a excludente de ilicitude, e age com propósito de lesar
origina de erro. direito alheio, respondera pelo delito praticado, mesmo
A primeira o agente tem ciência de que a agressão isoladamente.
cessou, mesmo assim, continua com sua conduta, lesan-
do o bem jurídico do agressor inicial. Neste caso, o agen-
te que inicialmente se encontra em estado de legítima
defesa e excede conscientemente seus limites, respon-

177
Exercício regular do direito do time rival. Um dos dispositivos disparados explodiu
dentro de uma das residências desse edifício e feriu uma
Aquele que exerce um direito garantido por lei não criança de 5 anos de idade que ali se encontrava. Com
comete ato ilícito. Uma vez que o ordenamento jurídi- relação à conduta do indivíduo B, é correto afirmar que
co permite determinada conduta, se dá a excludente do
exercício regular do direito. a) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime
O primeiro requisito exigido por esta causa justifican- de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido
te é a existência de um direito, podendo ser de qualquer com negligência.
natureza, desde que previsto no ordenamento jurídico. O b) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime
segundo requisito é a regularidade da conduta, isto é, o de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido
agente deve agir nos limites que o próprio ordenamento com imperícia.
jurídico impõe aos direitos. Do contrário haveria abuso c) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime
de direito, configurando excesso doloso ou culposo. de lesão corporal dolosa.
Também se faz necessário que o agente tenha conhe- d) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime
cimento da situação em que se encontra para poder se de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido
valer desta excludente de ilicitude. É preciso saber que com imprudência.
está agindo conforme um direito a ele garantido, pois do e) o indivíduo B não poderá ser responsabilizado pelo
contrário, subsistiria a ilicitude da ação. Fernando Capez crime de lesão corporal, tendo em vista que o pai da
traz o exemplo do pai que pratica vias de fato ou lesão criança lesionada percebeu que as explosões estavam
corporal leve contra seu filho, mas sem o intuito de cor- ocorrendo próximo às janelas e não as fechou.
reção, tendo dentro de si a intenção de lhe ofender a
integridade física. Resposta: Letra C.
Algumas situações são relevantes merecem ser men- Tinha conhecimento de que poderia causar algum re-
cionadas quanto ao alcance do exercício regular do di- sulta. Mais provavelmente uma lesão corporal. B con-
reito. Uma delas é a intervenção médica e cirúrgica. Seria tinuou a conduta assumindo o risco, e o resultado cri-
incompreensível considerar atos de médicos que salvam me de lesão corporal ocorreu. O que é dolo? O crime
vidas como ilícitos. Porém, para que haja exercício regu- doloso ocorre quando o agente quis o resultado ou
lar do direito, é necessário que exista a anuência do pa- assumiu o risco de produzi-lo.
ciente, pois, do contrário, haveria estado de necessidade
3. (VUNESP – 2015) De acordo com o artigo 18 do Có-
praticado em favor de terceiro, podendo restar respon-
sabilidade no âmbito civil.
digo Penal, diz-se o crime culposo quando o agente deu
causa ao resultado por:

EXERCÍCIOS COMENTADOS a) embriaguez.


b) desídia no desempenho das funções.
1. ( VUNESP – 2015) Se da lesão corporal dolosa resulta c) negligência.
morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não d) imprudência, negligência ou imperícia.
quis o resultado morte, nem assumiu o risco de produzi- e) negligência e imperícia.
-lo, configura(m)-se
Resposta: Letra D.
a) lesão culposa e homicídio culposo, cujas penas serão
Diz que o crime é culposo quando o agente deu causa
aplicadas cumulativamente.
ao resultado por imprudência, negligência ou imperí-
b) lesão corporal seguida de morte.
cia, art. 18, II, do CP.
c) homicídio culposo qualificado pela lesão.
d) homicídio doloso (dolo eventual).
4. (VUNESP – 2015) A previsão legal do Código Penal
e) homicídio doloso (dolo indireto).
acerca do concurso formal de crimes dispõe que: “Quan-
do o agente, ______ , pratica dois ou mais crimes, idênti-
Resposta: Letra B.
Lesão corporal seguida de morte por ser crime agra- cos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabí-
vado pelo resultado. Crime doloso agravado culpo- veis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada,
samente, conforme descrito no art. 129, § 3º, do CP em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
- lesão corporal seguida de morte, crime preterdoloso. aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

omissão é ________ e os crimes concorrentes resultam de


2. (VUNESP – 2015) O indivíduo B, com a finalidade de desígnios autônomos”.
comemorar a vitória de seu time de futebol, passou a dis-
parar “fogos de artifício” de sua residência, que se situa Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
ao lado de um edifício residencial. Ao ser alertado por mente, o enunciado.
um de seus amigos sobre o risco de que as explosões
poderiam atingir as residências do edifício e que havia a) mediante mais de uma ação ou omissão … culposa.
algumas janelas abertas, B respondeu que não havia pro- b) mediante mais de uma ação ou omissão … dolosa.
blema porque naquele prédio só moravam torcedores c) mediante uma só ação ou omissão … culposa.

178
d) mediante uma ou mais de uma ação ou omissão … culposa.
e) mediante uma só ação ou omissão … dolosa.

Resposta: Letra C.
Trata de concurso formal de crimes, pois um conduta resulta em vários crimes, vide art. 70, do CP, quando o agente,
mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se a mais grave das penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de de-
sígnios autônomos.

5. (VUNESP – 2014) Condutor dirige seu veículo e vê seu maior desafeto atravessando a rua na faixa de pedestres.
Estando próximo à faixa, o condutor, consciente, deliberada e intencionalmente, acelera seu veículo e o coloca na dire-
ção de seu desafeto, acabando por atropelá-lo e matá-lo. De acordo com o Código Penal, o crime cometido deve ser
considerado,

a) culposo porque o agente deu causa ao resultado por imperícia.


b) doloso porque o agente não atentou para a faixa de pedestres.
c) doloso porque o agente tinha intenção de matar seu desafeto.
d) culposo porque o agente deu causa ao resultado por negligência.
e) culposo porque o agente deu causa ao resultado por imprudência.

Resposta: Letra C.
Dolo direto o agente prevê determinado resultado, dirigindo sua conduta na busca de realizar esse mesmo resultado.

IMPUTABILIDADE PENAL

A Imputação Objetiva representa uma nova dogmática, revolucionária em vários aspectos, que procura solucionar
de maneira concisa questões ainda sem resposta dentro do ordenamento jurídico-penal.
A teoria da imputação objetiva surge no mundo jurídico sob a doutrina de Roxin, que passa a fundamentar os es-
tudos da estrutura criminal analisando os aspectos políticos do crime.
Parte da doutrina entende que a teoria da imputação objetiva consiste na fusão entre a teoria causal, finalista e
a teoria da adequação social, em contrapartida, sendo considerada também, conforme ilustrado, uma teoria nova e
revolucionária que conceitua que no âmbito do fato típico, deve-se atribuir ao agente apenas responsabilidade penal,
não levando em consideração o dolo do agente, pois este, é requisito subjetivo e deve ser analisado somente no que
tange a imputação subjetiva.
Esta teoria determina que não há imputação objetiva quando o risco criado é permitido, devendo o agente respon-
der penalmente apenas se ele criou ou desenvolveu um risco proibido relevante.
Assim, um resultado causado por um agente pode ser imputado ao tipo objetivo se a conduta do autor cria um pe-
rigo para um bem jurídico não coberto pelo risco permitido e esse perigo também foi realizado no resultado concreto.

DOLO E CULPA

Sempre que estudamos os elementos subjetivos do tipo vem à memória “dolo” e “culpa”, e junto uma tentativa de
simplificar ao máximo para passar a matéria adiante.
Depois ficamos surpresos com as questões elaboradas pelas bancas dos concursos.
Primeiro, vamos a lei seca, Código Penal e verificar o que está disposto sobre o dolo e a culpa.

Art. 18. Diz-se o crime:


Crime doloso
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;


Crime culposo
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único – Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão
quando o pratica dolosamente.

179
Essa é a definição que encontramos no Código Penal.

Vamos estudar o DOLO.

• quis o resultado
O DOLO é quando o agente ou
• assumiu o risco de produzi-lo

São elementos do DOLO:

Elementos do dolo

consciência da consciência da relação vontade de realizar


conduta e do causal objetiva entre a a conduta e de
resultado conduta e o resultado produzir o resultado

O DOLO pode ser direto, indireto alternativo ou indireto eventual.

Dolo direto: quer o resultado.


Dolo indireto alternativo: quer um ou outro resultado previsto.
Dolo indireto eventual: não quer diretamente o resultado, mas assume o risco.

Agora vamos estudar a CULPA.

A CULPA é quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Quando estudamos CULPA, não podemos deixar de lado a imprudência, negligência e imperícia.

O agente que, deixando de empregar a cautela a que estava


Imprudência obrigado pelas circunstâncias, não prevê o resultado que podia
prever dá causa ao resultado.

O agente que, deixando de empregar a atenção a que estava


Negligência obrigado pelas circunstâncias, não prevê o resultado que podia
prever e dá causa ao resultado, desatenção.

O agente pretica a conduta sem possuir conhecimentos técnico


Imperícia no exercício de qualquer conduta.

Culpa inconsciente: não prevê o resultado que podia prever.


Culpa consciente: prevendo-o supõe levianamente que não se realizaria ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

que poderia evitá-lo.

Sempre nas questões que envolve dolo eventual e culpa consciente, numa leitura rápida ficamos com dúvida.
Portanto, vamos fazer a segunda leitura da questão e identificar as palavras que diferenciam o dolo eventual da culpa
consciente.

180
Dolo indireto (indeterminado)
#FicaDica
O agente com sua conduta, não busca realizar resul-
DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE tado determinado.

Dolo alternativo: o agente prevê pluralidade de resul-


Dolo eventual: Culpa
o agente tem a consciente: tados, porém, dirigindo sua conduta na busca de realizar
precisão do resultado o agente tem qualquer um deles.
e consente na sua a previsão do Exemplo: o agente vai para cometer homicídio ou
produção, não resultado e supõe lesão corporal, está com certeza que praticará um dos
desiste, prefere se que não se crimes, pois “ele quer”.
arriscar a interromper realizará. Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de resulta-
a sua ação. dos, porém dirige sua conduta na realização de um deles.
Quer um resultado, mas aceita o outro resultado.
Exemplo: agente prevê lesão e homicídio, ele dirige
a conduta na lesão, é o que ele quer, porém se ocorrer
Vamos avançar mais um pouco. um homicídio, ele aceita, assume o risco de produzir um
Estudaremos as TEORIAS DO DOLO. homicídio.
Teoria da vontade: dolo é a vontade consciente de
querer praticar a infração penal. Dolo cumulativo
Teoria da Representação: ocorre dolo, toda vez que o
agente prevendo o resultado como possível, continua a O agente pretende alcançar dois resultados em
sua conduta. sequência.
Teoria do consentimento (ASSENTIMENTO): é como Exemplo: quero ferir e depois quero matar.
se fosse um corretivo da anterior – ocorre dolo toda vez
que o agente prevendo o resultado como possível, de-
Dolo de dano
cide prosseguir com a conduta, assumindo o risco de
produzi-lo.
A vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem
Previsão + prosseguir = assumindo risco.
Prevalece que o Brasil adota a Teoria da vontade + jurídico tutelado.
Teoria do assentimento. Exemplo: quando eu falo em bem jurídico vida = a
intenção do agente é matar.
Quais são as espécies de dolo?
Dolo de perigo
Vejamos:
O agente atua com a intenção de expor a risco o bem
Dolo direto (determinado) jurídico tutelado.
Exemplo: se eu tenho o bem jurídico vida = a inten-
Ocorre quando o agente prevê determinado resulta- ção é periclitar a vida de outrem.
do, dirigindo sua conduta na busca de realizar esse mes-
mo resultado. Dolo genérico

Tem duas espécies: O agente tem vontade de realizar a conduta descrita


no tipo penal, sem fim específico.
Dolo de primeiro grau: conduta dirigida a determina- Exemplo: o interesse é querer matar, basta esta von-
do resultado. tade, não interessa para quê.
Dolo de segundo grau (ou dolo necessário): neste
dolo, o agente produz resultado paralelo ao visado, pois Dolo específico
necessário à realização deste. Consiste na vontade do
agente dirigida a determinado resultado, efetivamente O agente tem vontade de realizar a conduta descrita
desejado, em que a utilização dos meios para alcançá-lo, no tipo penal COM fim específico.
inclui, obrigatoriamente, efeitos colaterais de verificação Exemplo: importa o fim com que o agente agiu, fal-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

praticamente certa (o agente não deseja imediatamente sidade ideológica “com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
os efeitos colaterais, mas tem por certa sua ocorrência
caso concretize o resultado pretendido – o dolo dele
relevante”.
quanto aos efeitos colaterais é de segundo grau).
Exemplo: irmãos siameses. Quero matar um, acabo
matando os dois. Respondo por 121 com dolo de 1º
Dolo geral (ou ‘erro sucessivo’, espécie de erro so-
grau, quanto ao que eu queria matar; e 121 com dolo bre o nexo causal)
de 2º grau, quanto ao irmão. Concurso formal impróprio
(Cezar Bitencourt). Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado
um resultado por ele visado, pratica nova ação que efe-

181
tivamente o provoca. É uma espécie de erro de tipo aci- Violação de um dever de cuidado objetivo
dental, não isentando o agente de pena.
Exemplo: pai e mãe esganam uma filha, achando que O agente atua em desacordo com o que esperado
ela está morta, jogam-na pela janela, quando então, efe- pela lei e pela sociedade.
tivamente ela morre na queda.
Nexo causal
Dolo normativo
Deve haver a relação de causalidade entre a conduta
Adotado pela teoria psicológica normativa da culpa- do agente e o resultado crime.
bilidade, este dolo integra a culpabilidade tendo como Resultado (involuntário) em regra, naturalístico.
requisitos: Previsão/Previsibilidade (ou previsibilidade objetiva e
• Consciência subjetiva)
• Vontade Tipicidade culposa (deve ser previsto como crime
• Consciência atual da ilicitude culposo)
O que entendemos por violação do dever de cuidado
Dolo natural (modalidades da culpa)?
A violação do dever de cuidado está contido na im-
Adotado pela teoria normativa pura da culpabilidade, prudência, negligência e imperícia.
de base finalista, este dolo integra o fato típico, tendo Imprudência: afoiteza. Comissiva.
como requisitos: Negligência: ausência de precaução. Omissiva.
Imperícia: falta de aptidão técnica para o exercício de
• Consciência profissão, arte ou ofício.
• Vontade
Previsibilidade
Dolo antecedente/concomitante/subsequente
Previsibilidade é diferente de previsão. Previsibilidade
é a possibilidade de o agente conhecer o perigo. Diferen-
te de previsão, onde há efetivo conhecimento do perigo.
Analisa-se o dolo no momento da conduta. Nucci
(2014) esclarece que para haver o crime só nos interessa Na culpa consciente tem conduta, violação de dever,
o dolo concomitante. O dolo antecedente é mera cogi- resultado, nexo, e tem mais que previsibilidade, tem pre-
tação, o dolo subsequente também não nos interessa se visão. O perigo na culpa consciente não é previsível, ele
não estava presente desde a conduta. foi previsto.
A previsibilidade se divide em:
Dolo de propósito ou refletido Previsibilidade subjetiva - analisada sobre o prisma
subjetivo do autor do fato, levando em consideração
Pode configurar agravante. Nem sempre majora a pena. seus dotes intelectuais, sociais e culturais, não é elemen-
to da culpa, mas será considerada pelo magistrado no
Dolo de ímpeto ou repentino juízo da culpabilidade (aqui analisará a exigibilidade ou
inexigibilidade de conduta diversa).
Configura atenuante de pena. Previsibilidade objetiva – analisada sob o ponto de
Exemplo: crimes multitudinários, seguindo a onda. vista objetivo, se aquilo era objetivamente previsível, no
O crime dolo tem outras relevâncias no direito penal. comum, no geral.
Neste momento, apenas para exemplificar, assunto
que será tratado em outra aula, no concurso formal de Tipicidade
crime, art. 70, do CP, quando o agente, mediante uma só
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos No silêncio da lei não se pune a modalidade culposa,
ou não, será aplicada a mais grave das penas cabíveis somente a dolosa.
ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
qualquer caso, de um sexto até metade. Porém, as pe- Art. 18, Parágrafo único, do CP - Salvo os casos expres-
nas se aplicam cumulativamente se a ação ou omissão é sos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios como crime, senão quando o pratica dolosamente.
autônomos.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Quais são as espécies de dolo?


Vamos estudar um pouco mais os elementos do cri-
me culposo.
Vejamos:
Conduta humana voluntária
Culpa consciente
A vontade do agente circunscreve-se à realização da O agente prevê o resultado decidindo prosseguir
conduta – não quer nem assume o risco do resultado. com sua conduta, acredita que pode evitar o perigo ou
que nunca ocorrerá, culpa com previsão.

182
Culpa inconsciente

O agente não prevê o resultado que, entretanto, lhe era inteiramente previsível, culpa sem previsão, culpa com
previsibilidade.

Culpa própria

É gênero do qual são espécies, culpa consciente e culpa inconsciente.


O agente não quer e nem assume o risco de produzir o resultado.
Esta é a culpa propriamente dita.

Culpa imprópria

A culpa imprópria, culpa por extensão, assimilação ou equiparação, decorre do erro de tipo evitável nas descri-
minantes putativas ou do excesso nas causas de justificação.
Nessas circunstâncias, o agente quer o resultado em razão de a sua vontade encontrar-se viciada por um erro que,
com mais cuidado poderia ser evitado.

CONDUTA PRETERDOLOSA

É uma espécie de crime agravado pelo resultado, havendo verdadeiro concurso de dolo e culpa no mesmo fato
(dolo no antecedente – conduta + culpa no consequente – resultado).

Dolo + Culpa = Preterdolo

Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos
culposamente.

O que são crimes agravados pelo resultado?

Vamos exemplificar para facilitar:

Crime doloso agravado dolosamente

Art. 121, §2º, do CP – homicídio qualificado, ou art. 123, § 2º, IV, do CP, lesão grave qualificado pela deformidade.

Isso é chamado de dupla tipicidade dolosa.

Crime culposo agravado culposamente

Incêndio culposo qualificado culposamente pela morte culposa de alguém, art. 250, combinado com o art. 258, do CP.

Isso é chamado de dupla tipicidade culposa.

Crime culposo agravado dolosamente

Art. 121, § 4º, 2ª figura, do CP - homicídio culposo, agravado por omissão de socorro, ou art. 267, § 2º, do CP - epi-
demia com resultado morte, ou art. 302, parágrafo único, III, da Lei nº 9.503/1997, homicídio culposo de trânsito
majorado pela omissão de socorro.

Crime doloso agravado culposamente


NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Art. 129, § 3º, do CP - lesão corporal seguida de morte.

E agora que sabemos, pelos exemplos, o que são crimes agravados pelo resultado.

Qual das hipóteses se encaixa no crime preterdoloso?

Crime PRETERDOLOSO ou PRETERINTENCIONAL, encaixa-se na hipótese do crime doloso agravado culposamente.


Assim, podemos afirmar que crime preterdoloso é uma espécie de crime agravado pelo resultado, constituído de
dolo no antecedente e culpa no consequente.

183
Quais são os elementos do crime preterdoloso?

Conduta dolosa visando determinado resultado.


Provocação de resultado culposo + grave do que
o desejado.
Nexo causal entre conduta e resultado.

Quando o resultado mais grave advém de caso fortuito ou força maior não se imputa a agravação ao agente. O
resultado mais grave deve ser pelo menos culposo.
Exemplo 1: “A” desfere um soco em “B” num ambiente lotado de mesas.
“A” cai, bate a cabeça e morre. Lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º, do CP).
Exemplo 2: “A” empurra “B” em lugar cheio de cadeiras e obstáculos, e na queda, “B” bate a cabeça e morte.
Aqui temos vias de fato, contravenção (dolo) e morte culposa. Estamos diante do Art. 121, §3º, do CP, homicídio
culposo, ficando a contravenção absorvida.

CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO

Para estudarmos os crimes consumados e os crimes tentados, é importante conhecermos a iter criminis.
Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho do crime, corresponde às etapas percorridas pelo agente para a
prática de um fato previsto em lei como infração penal.
Considerando que já estudamos crime doloso, podemos concluir que iter criminis é um instituto exclusivo dos
crimes dolosos.

Os crimes possuem as seguintes fases:

Cogitação ou É a fase mental de preparação do crime: idealização, deliberação e resolução.


fase interna Não há conduta penalmente relevante.

Atos prepara- O crime começa a se prejetar no mundo exterior, o agente adquire arma de
tórios fogo. Em regra não são puníveis, salvo nos crimes obstáculos.

Atos de execu- O agente começa a realizar o núcleo do tipo penal, de forma idônea e inequí-
ção voca. Essa fase pode haver punição pela tentativa

Consumação Crime consumado é quando nele se reúne todos os elementos de sua defini-
ção legal. Fim do iter criminis.

exaurimento Não influi na tipicidade, mas pode influenciar na dosimetria da pena, ser
reconhecido como qualificadora ou configurar crime autônomo

O que é crime-obstáculo?
Classifica-se de crime-obstáculo quando os atos preparatórios são punidos como crime autônomo, por exemplo,
associação criminosa, art. 288, do CP.
Atos preparatórios e atos de execução.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

184
Teoria Subjetiva
• Importa a extoriorização da vontade criminosa pelo agente.
• Não distingue atos preparatórios de atos executórios.

Teoria Objetiva-formal (mojoritária)


• A execução inicia-se quando o agente começa a praticar o núicleo contido no tipo penal
• Antes disso, os atos são preparatórios.

Teoria objetiva-material
• São atos executórios aqueles em que se inicia a prática do núcleo do tipo, bem como os atos imediatamente
anteriores, com base na visão de terceira pessoa alheia à conduta cruminosa. (Rogério Cunha Sanches)

Teoria objetiva-individual
• São atos executórios aqueles em que se inicia a prática do núcleo do tipo, bem como os atos imediatamente
anteriores, com base no plano concreto do agente.

Teoria da hostilidade ao bem jurídico


• A execução inicia-se quando o agente ataca o bem jurídico.

E se persistirem a dúvida se o ato é preparatório ou de execução?


Deve considerar, neste caso, o ato preparatório, por ser mais benéfico ao agente.
Para cada classificação do crime há o momento da consumação.

Consumação de crime de ROUBO X LATROCÍNIO

Súmula 582, STJ: cunsuma-se o crime Súmula 610, STF: Há crime de latrocínio,
Crime de Roubo

Crime de Latrocínio

de roubo com a inversão da posse do quando o homicídio se consuma, ainda


bem mediante emprego de vioência que não realize a agente a subtração de
ou grave ameaça, ainda que breve bens da vítima.
tempo e em seguida á perseguição Há tentativa de latrocínio quando o
imediata ao agente e recuperação da sujeuito age com dolo de subtrair e dolo
coisa roubada, sendo prescindível a de matar, mas o resultado morte não
posse mansa e pacífica ou desvigiada ocorre por circunstâncias alheia à sua

⇒ vontade
O fator determinante para a consumação
do latrocínio é a ocorrência do resultado
morte, sendo dispensada a efetiva
inversão da posse.

ROUBO MORTE LATROCÍNIO


Consumado Consumada Consumado
Tentado Tentada Tentado
Consumado Tentada Tentado
Tentado Consumada Consumada
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O crime é consumado, quando nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal.
A tentativa ocorre, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstância alheias à vontade do agente.

185
Tentativa

Branca ou incruenta Vermelha ou cruenta


(Improfícua)

O bjetivo do crime não é atingido pela O bjetivo do crime não é atingido pela
conduta. O iter criminis percorrido, o conduta. Considerando o iter criminis
quantum de redução deve se aproximar da percorrido, o quantum de redução da
fração máxima (2/3) tentativa deve se aproximar do mínimo
(1/3)

Tentativa

Perfeita ou acabada Imperfeita ou inacabada


Crime falho Tentativa propriamente dita

O agente esgota todos os meios de O agente, por fatores alheios a sua


execução à sua disposição e, mesmo assim, a vontade, não esgota os meios de
consumação não sobrevém por circunstância execução ao seu alcance, dentro daquilo
alheias a sua vontade. que considera sufuciente, em seu projeto
criminoso, para alcançar resultado.

Agente dispara tiros na vítima, mas é Agente, no segundo disparo, é


socorrida e sobrevive. interrompido pela chegada de
policiais e o crime não se consuma por
circunstância alheia à sua vontade.

Quais são os crimes que admitem tentativa?

Crimes dolosos

Crimes plurissubsistentes (formais e de mera conduta)

ADMITEM TENTATIVA Omissivos impróprios

Crimes de perigo concreto


NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Crimes permanetes

186
Quais os crimes que não admitem tentativa?

Crimes culposos, exceto a culpa imprópria

Contravenções penais

Crimes habituais

Crimes omissivos próprios

Crimes unissubjetivos

Crimes preterdolosos

NÃO ADMITEM TENTATIVA

Crimes de resultado

Crimes de empreendimento (atentodo)

Crimes impossíveis

Crimes de perigo comum

Crimes subordinados a uma condição objetiva de punibilidade

Crimes-obstáculos

Pena da tentativa

Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de
1 a 2/3.
A tentativa é uma causa de diminuição de pena.
A redução deve ser basear no iter criminis percorrido pelo agente.
A definição do crime tentado (at. 14, II, do CP) é uma norma de extensão ou de ampliação, uma vez que, o tipo penal
deve ser conjugado com o art. 14, II, do CP.
O art. 14, II, do CP, dispõe que a tentativa é o início de execução de um crime que somente não se consuma por
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

circunstâncias alheias à vontade do agente.


O ato de tentativa é um ato de execução.
Exige-se que o sujeito tenha praticado atos executórios, daí não sobrevindo a consumação por forças estranhas ao
seu propósito, o que acarreta em tipicidade não finalizada, sem conclusão.

A tentativa tem três elementos na sua estrutura

1) Início da execução do crime


2) Ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente
3) Dolo de consumação

187
No exemplo 1 o crime foi consumado, por isso foi
#FicaDica aplicada a pena de 2 anos (lembrando que a pena previs-
ta para furto é de um a quatro anos, e multa).
Não esqueça que o dolo da tentativa é No exemplo 2 o crime foi tentado, motivo pelo qual
igual ao dolo da consumação. a pena de 2 anos foi diminuída de 2/3, resultando em 1
O sujeito quer o resultado! ano e 4 meses.
A tentativa constitui-se em causa obrigatória de dimi-
nuição da pena.
“A” quer subtrair o celular de “B”. Na consumação, “A”
Incide na terceira fase de aplicação da pena privativa
consegue subtrair. Na tentativa, quando “A” consegue
de liberdade, e sempre a reduz.
colocar a mão no celular, é surpreendido por “C” que à
distância, percebeu a ação de “A”. Neste momento, “A” A liberdade do magistrado repousa unicamente no
deixa o celular e foge do local. A vontade de “A” era: quantum da diminuição, balizando-se entre os limites
subtrair o celular. legais, de 1 (um) a 2/3 (dois terços). Deve reduzi-la, po-
O art. 14, II, do CP não tem autonomia, pois a tentati- dendo somente escolher o montante da diminuição. E,
va não existe por si só, isoladamente. para navegar entre tais parâmetros, o critério decisivo é a
Sua aplicação exige a realização de um tipo incrimi- maior ou menor proximidade da consumação, é dizer, a
nador, previsto na Parte Especial do CP ou pela legislação distância percorrida do iter criminis.
penal especial. Excepcionalmente, entretanto, é aceita a teoria subje-
O CP e a legislação extravagante não preveem, para tiva, voluntarística ou monista, consagrada pela expres-
cada crime, a figura da tentativa, nada obstante a maioria são “salvo disposição em contrário”.
deles seja com ela compatível. Olhe as teorias novamente.
Isso explica o motivo pelo qual não encontramos a Essas teorias têm a tese de que a pena para os crimes
descrição do crime, a pena prevista em caso de consu-
consumados são as mesmas para os crimes tentados.
mação e outra pena para a hipótese de tentativa.
A tentativa de furto é a combinação de “subtrair, para Aplica-se essas teorias em alguns casos.
si ou para outrem, coisa alheia móvel” com iniciada a Há casos, restritos, em que o crime consumado e o
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à crime tentado comportam igual punição: são os delitos
vontade do agente”, certo! de atentado ou de empreendimento. Por exemplo:
Furto tentado é: art. 155, caput, c/c o art. 14, II, ambos
do CP. 1) evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352
do CP), em que o preso ou indivíduo submetido à
medida de segurança detentiva, usando de violên-
#FicaDica
cia contra a pessoa, recebe igual punição quando
A lei penal (CP ou lei extravagante) não se evade ou tenta evadir-se do estabelecimento
prevê a tentativa para cada crime, mas de- em que se encontra privado de sua liberdade;
fine o delito e prevê a pena para o caso de 2) Lei nº 4.737/1965 – Código Eleitoral, art. 309, no
consumação. qual se sujeita a igual pena o eleitor que vota
Por isso, todo o crime tentado deve incluir ou tenta votar mais de uma vez, ou em lugar de
na descrição do delito o art. 14, II, do CP. outrem.

Crimes punidos apenas na forma tentada


E a pena para o caso de crime tentado?
A punibilidade da tentativa é disciplinada pelo art. 14, A regra vigente no sistema penal brasileiro é a puni-
parágrafo único, do CP. ção dos crimes nas modalidades consumada e tentada.
O CP acolheu como regra a teoria objetiva, realística Mas em algumas situações não se admite a tendência,
ou dualista. seja pela natureza da infração penal, seja em obediência
Quando falamos das teorias assusta. Mas fique a determinado mandamento legal, razão pela qual ape-
tranquilo... nas é possível a imposição de sanção penal para a forma
Teoria objetiva, realística ou dualista significa que consumada do delito ou da contravenção penal.
ao determinar a pena da tentativa deve corresponder à É o que se verifica, a título ilustrativo, nos cri-
pena do crime consumado, diminuída de 1 (um) a 2/3 mes culposos (salvo na culpa imprópria) e nos crimes
(dois terços).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

unissubsistentes.
Como o desvalor do resultado é menor quando com- Relembrando:
parado ao do crime consumado, o agente deve suportar Culpa: O agente não quer e nem assume o risco de
uma punição mais branda. produzir o resultado.
Vamos exemplificar: Culpa imprópria: decorre do erro de tipo evitável
nas descriminantes putativas ou do excesso nas causas
1. “A” subtrai o celular de “B” e foi condenado a pena de justificação. O agente quer o resultado em razão de a
de 2 anos. sua vontade encontrar-se viciada por um erro que, com
2. “A” tentou subtrair o celular de “B” e foi condenado mais cuidado poderia ser evitado.
a pena de 1 ano e 4 meses.

188
Crime unissubsistente: é realizado por ato único, não sendo admitido o fracionamento da conduta, como, por exem-
plo, no desacato (art. 331, do CP) praticado verbalmente.

Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é cabível a punição de determinados delitos na forma tentada, pois
nesse sentido orientou-se a previsão legislativa quando da elaboração do tipo penal.
Exemplos disso encontram-se nos arts. 9º e 11 da Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional.

Art. 9º - Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país.
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta morte aumen-
ta-se até a metade.
Art. 10 - Aliciar indivíduos de outro país para invasão do território nacional.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
Parágrafo único - Ocorrendo a invasão, a pena aumenta-se até o dobro.
Art. 11 - Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país independente.
Pena: reclusão, de 4 a 12 anos.

Crime impossível

Crime impossível: se, nas circunstâncias, o crime é impossível, não há relevância penal na conduta, pois não há risco
ao bem jurídico.

Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.

CRIME IMPOSSÍVEL
Inidoneidade absoluta do Impropriedade absoluta do objeto: Obra do agente provocador:
meio: meio escolhido não o objeto material não reveste o bem flagrante preparado, ou seja,
tem qualquer possibilidade jurídico protegido pela norma penal, quando o Estado instiga o
razoável de lesar o bem como tentar matar alguém já morto. crime para que o sujeito caia
jurídico (matar alguém com em uma “armadilha”, tendo
“poder da mente”) tomado providências para que
o bem jurídico não sofra risco.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Se o sujeito inicia o processo executório, mas desiste voluntariamente de nele prosseguir, evitando a consumação,
há desistência voluntária.
Se o sujeito já esgotou o processo executório imaginado, mas resolve voluntariamente atuar para evitar a consuma-
ção, com sucesso, há arrependimento eficaz.
Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a consequência é que o sujeito deve responder apenas pelos resultados já
produzidos.
Basta desistir da execução para
Desistência Voluntária
impedir a consumação

Necessária ação salvadora para


Arrependimento Eficaz
impedir a consumação

Antes de esgotar a execução Depois de esgotar a Execução Consequência jurídica


NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Motivos alheios à Tentativa imperfeita ou inaca- Tentativa perfeita ou acabada Responde pela tentativa:
vontade do agente bada ou crime falho pena do crime consumado
reduzida de 1/3 (um terço)
a 2/3 (dois terços)
Modificação da Desistência voluntária Arrependimento eficaz Só responde pelos atos já
vontade do agente praticados

189
Arrependimento posterior

Causa de diminuição de pena para os crimes praticados sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa, nos quais
o prejuízo é reparado por ato voluntário do infrator até o momento do recebimento da denúncia ou queixa.
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois terços, e prevalece que a redução será tanto maior quando mais
célere a reparação.

Casos excepcionais de arrependimento posterior no Código Penal:

a) a reparação do dano no crime de estelionato por meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem efeito
diverso.

Conforme interpretação da Súmula 554 do STF não há justa causa para a ação penal nos casos em que, no crime
previsto no art. 171, § 2.º, VI, do CP, há reparação do dano antes do recebimento da denúncia.

b) no peculato culposo (art. 312, § 2.º, do CP), a reparação do dano até a sentença definitiva extingue a punibilidade,
e se posterior ainda reduz a pena em metade (art. 312, § 3.º, do CP).

CONCURSO DE PESSOAS

O concurso de pessoas é o cometimento da infração penal por mais de uma pessoa. Tal cooperação da prática da
conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria, participação, concurso de delinquentes ou de agentes, entre outras
formas. Existem ainda três teorias sobre o concurso de pessoas, vejamos:

a) teoria unitária: quando mais de um agente concorre para a prática da infração penal, mas cada um praticando
conduta diversa do outro, obtendo, porém, um só resultado. Neste caso, haverá somente um delito. Assim, todos
os agentes incorrem no mesmo tipo penal. Tal teoria é adotada pelo Código Penal.
b) teoria pluralista: quando houver mais de um agente, praticando cada uma conduta diversa dos demais, ainda que
obtendo apenas um resultado, cada qual responderá por um delito. Esta teoria foi adotada pelo Código Penal
ao tratar do aborto, pois quando praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do art. 124, se praticado por
outrem, aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento ocorre na corrupção ativa e passiva.
c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver mais de um agente, com diversidades de conduta, provo-
cando-se um resultado, deve-se separar os coautores e partícipes, sendo que cada “grupo” responderá por um
delito.

Autoria e participação

Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora ambos dentro da teoria objetiva:

a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor é o agente que pratica a figura típica descrita no tipo penal,
e partícipe é aquele que comete ações não contidas no tipo, respondendo apenas pelo auxílio que prestou (en-
tendimento majoritário). Exemplo: o agente que furta os bens de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do
CP, enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo a fugir, responderá apenas pela colaboração.
b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além de praticar a figura típica, comanda a ação dos demais (“autor
executor” e “autor intelectual”). Já o partícipe é aquele colabora para a prática da conduta delitiva, mas sem rea-
lizar a figura típica descrita, e sem ter controle das ações dos demais. Assim, aquele que planeja o delito e aquele
que o executa são coautores.

Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária - teoria formal, o executor de reserva é apenas partícipe, ou seja,
se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mario também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de reserva) res-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ponderá apenas pela participação, pois não praticou a conduta matar, já que atirou em um cadáver. Ressalta-se, porém,
que o juiz poderá aplicar penas iguais para autor e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último, quando,
por exemplo, for o mentor do crime.
Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade”, dessa forma deve-se analisar cada caso concreto de modo a verificar
a proporção da colaboração. Além disso, se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um
sexto a um terço, segundo disposição do § 1º do artigo supramencionado, e se algum dos concorrentes quis participar
de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º, do CP).

190
Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se não houver antijuridicidade, não há o que se falar em punição
ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada.

Coautoria e concurso de pessoas

Crimes próprios Crimes de mão própria

Admitem coautoria: dois funcionários, juntos,


praticam peculato Não dmitem coautoria: o crime só pode ser
praticado pelo agente indicado no tipo penal.
Exceção: falsa perícia, pode ser praticado em
conscurso

Participação

O Código Penal não distingue autoria e participação.


Na participação, unem-se o propósito de colaborar (elemento subjetivo) e a colaboração efetiva (participação moral
ou material).

Induzimento e instigação: Induzir é fazer surgir a ideia criminosa na


Moral mente do autor. Instigar é estimular uma ideia criminosa que já existe
na mente do autor.

PARTICIPAÇÃO

Auxílio material: O partícipe, de algum modo,facilita a prática do


Material crime. “A” empresta seu carro para que “B” encontre um ponto de
venda de drogas.

Participação de menor importância

Art. 29, § 1º, do CP, se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a 1/3.
Esse dispositivo somente se aplica à participação.
A atuação do coautor é sempre relevante.

EXERCÍCIOS COMENTADOS
1. (VUNESP – 2018) Sobre o concurso de pessoas e as previsões expressas da legislação penal, assinale a alternativa
correta.

a) Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
b) Se a participação for de menor importância, será aplicada atenuante genérica.
c) Ao concorrente que quis participar de crime menos grave, será aplicada a mesma pena do concorrente, diminuída,
no entanto, de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

d) As circunstâncias e as condições de caráter pessoal, mesmo quando elementares do crime, são incomunicáveis aos
coautores.
e) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são puníveis ainda que o crime não chegue a ser tentado.

Resposta: Letra A.
Observe o que diz o art. 29, do CP, pois, quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.

191
2. ( VUNESP – 2018) A respeito do concurso de pessoas, Resposta: Letra D.
é correto afirmar que: Afirmativa I – Incorreta – Adota-se no Brasil a teoria
da acessoriedade média ou limitada, segundo a qual
a) Mévio e Caio, pelo ajuste da prática de furto à resi- é exigível para a punição da participação tão somente
dência de Tício, uma vez descoberto o plano, serão que o fato seja típico e ilícito.
punidos, ainda que o crime não chegue a ser tentado. Afirmativa II – Incorreta – “(...) é a participação que
b) Mévio e Caio, tendo furtado a residência dos pais de ocorre nas situações em que o sujeito não está vin-
Caio, são isentos de pena, aplicando-se a ambos o culado à conduta criminosa e não possui o dever de
perdão legal que exime de pena os crimes patrimo- agir para impedir o resultado. Exemplo: um transeunte
niais, cometidos sem violência, em detrimento de assiste ao roubo de uma pessoa desconhecida e nada
ascendentes. faz. Não é partícipe. Portanto, o mero conhecimento
c) Mévio, tendo ajustado com Caio apenas a prática de de um fato criminoso não confere ao indivíduo a po-
furto à residência de Tício, responderá pelos demais sição de partícipe por força de sua omissão, salvo se
crimes eventualmente praticados por Caio, ainda que presente o dever de agir para impedir a produção do
não previsíveis. resultado.” (MASSON)
d) Caio, empresário, ciente da condição de funcionário Afirmativa III – Incorreta – De acordo com o art. 29, §
público de Mévio, tendo o auxiliado na prática de pe- 2º, do CP, se algum dos concorrentes quis participar
culato-furto, não responderá pelo crime funcional, já de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena des-
que a condição pessoal de funcionário público de Mé- te; essa pena será aumentada até a 1/2 (metade), na
vio a ele não se comunica. hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
e) Mévio, pela participação de menor importância na Afirmativa IV – Correta – “Entendemos que se o partí-
prática de furto à residência de Tício, poderá ter a cipe houver induzido ou instigado o autor, incutindo-
pena diminuída. -lhe a ideia criminosa ou reforçando-a a ponto de este
sentir-se decidido pelo cometimento do delito, e vier
a se arrepender, somente não será responsabilizado
Resposta: Letra E.
penalmente se conseguir fazer com que o autor não
De acordo com o art. 29, § 1º, do CP, se a participação
pratique a conduta criminosa.” (GRECCO)
for de menor importância, a pena pode ser diminuída
de um sexto a um terço.
4. (FCC – 2018) Hamilton resolve chamar um táxi pelo
aplicativo do celular a fim de conduzi-lo até determina-
3. (MPE-MS – 2018) Analise as proposições a seguir so-
do endereço. Após ingressar no veículo, Hamilton recebe
bre concurso de pessoas.
uma ligação em seu telefone, ocasião em que diz a pes-
soa que está do outro lado da linha que está se dirigindo
I. Adota-se, no ordenamento penal brasileiro, a teoria da
até o endereço do amante de sua esposa a fim de ma-
participação integrada, exigindo-se do partícipe ape- tá-lo. O motorista do táxi, mesmo após ouvir a conver-
nas envolvimento objetivo com o resultado ocorrido. sa de seu passageiro, o conduz até seu destino. No dia
II. O ordenamento jurídico brasileiro permite a respon- seguinte, o motorista toma conhecimento pelo noticiário
sabilização penal da participação negativa nos crimes televisivo de que Hamilton realmente matou o amante
ambientais, que ocorre quando o agente, mesmo que de sua mulher. Diante do caso hipotético, o taxista.
não tenha o dever de evitar o resultado, não adota
medidas para fazer cessar a prática de infração penal a) responderá pelo crime de homicídio doloso como
que tomou conhecimento. partícipe.
III. O desvio subjetivo de conduta não é alcançado pe- b) responderá pelo crime de homicídio doloso como
las disposições do Código Penal sobre concurso de coautor.
pessoas. c) responderá pelo crime de homicídio culposo.
IV. Caso ocorra o arrependimento do partícipe que tenha d) responderá pelo crime de favorecimento pessoal.
instigado o agente à prática da infração, o partícipe e) não responderá por nenhum crime.
somente não será responsabilizado se impedir que o
agente realize a conduta criminosa. Resposta: Letra E.
“Ainda quanto à participação, temos a chamada par-
Assinale a alternativa correta. ticipação negativa (ou conivência), situação em que
o agente não tem qualquer vínculo com a conduta
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

a) Somente os itens II e IV estão corretos criminosa (não induziu, instigou ou auxiliou o autor),
b) Somente o item I está correto. nem tampouco a obrigação de impedir o resultado.
c) Somente os itens III e IV estão corretos. Não há, na realidade, participação, pois a simples con-
d) Somente o item IV está correto. templação de um crime por alguém que não adota
e) Todos os itens estão corretos. medidas para evitá-lo, e nem era obrigado a fazê-lo,
não caracteriza o concurso de pessoas, que exige,
dentre outros requisitos, conduta que apresente re-
levância causal para o alcance do resultado”. (Rogério
Sanches Cunha)

192
5. (FCC – 2018) É certo que um crime pode ser praticado • É crime de forma livre: pode ser praticado com
por uma ou mais pessoas. Quando isso acontece, está-se qualquer modo de execução (a tiros, facadas, pau-
diante da hipótese de concurso de pessoas, também co- ladas, por meio de veneno, entre outros);
nhecido como concurso de agentes. Nesse caso. • É crime instantâneo de efeitos permanentes: a con-
duta delituosa não se prolonga no tempo e, após a
a) ainda que algum dos concorrentes tenha querido par- consumação, os efeitos são irreversíveis;
ticipar de crime menos grave, ser-lhe-á, obrigatoria- • É crime plurissubsistente: pode ser praticado por
mente, aplicada a pena idêntica do crime praticado meio de um ou mais atos de execução;
pelo seu comparsa, ante a adoção pelo Código Penal • É crime unissubjetivo: pode ser praticado por um
da teoria monista. ou mais agentes.
b) em hipótese alguma se comunicam as circunstâncias e • É importante que você saiba as classificações des-
as condições de caráter pessoal na coautoria. critas acima, já que elas são bastante cobradas em
c) o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são provas.
sempre puníveis, ainda que o crime não venha a ser
tentado. 1.1 Homicídio simples
d) os crimes plurissubjetivos não admitem a coautoria e
a participação. O Homicídio simples está previsto no caput do artigo
e) se a participação for de menor importância, a pena 121.
pode ser diminuída de um sexto a um terço. Ele é bastante difícil de ser configurado, já que dificil-
mente ocorre este crime sem que alguma qualificadora
Resposta: Letra E. (que veremos a seguir) seja aplicada.
Art. 29, § 1º, do CP, quem, de qualquer modo, concor- Podemos entender, então, que o homicídio simples
re para o crime incide nas penas a este cominadas, na é residual.
medida de sua culpabilidade. Se a participação for de Será simples o homicídio quando ele não for
menor importância, a pena pode ser diminuída de um qualificado.
sexto a um terço. Sobre o homicídio simples, a informação mais impor-
tante é que, em regra, ele não é crime hediondo, entre-
tanto, se for praticado em atividade típica de grupo de
CRIMES CONTRA A PESSOA extermínio, ainda que cometido por um só agente, será,
sim, crime hediondo.
O homicídio simples só será crime hediondo quando
CRIMES CONTRA A VIDA praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente.
Os crimes contra a vida são divididos da seguinte
forma: 1.2 Homicídio privilegiado
Os crimes contra a vida tutelam o bem jurídico mais
relevante que temos: a vida, nas suas modalidades in- Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias legais
trauterina ou extrauterina. específicas, vinculadas ao tipo penal incriminador, provo-
A vida intrauterina é aquela que ocorre dentro do cadoras da diminuição da faixa de aplicação da pena, em
útero. Já a vida extrauterina, fora do útero. patamares prévia e abstratamente estabelecidas pelo le-
O crime de aborto protege a vida intrauterina; já o gislador, alterando o mínimo e o máximo previstos para
homicídio, o induzimento, instigação ou auxílio a suicídio o crime.
e o infanticídio protegem a vida extrauterina. Para fins do nosso estudo, vamos entender o homicí-
dio privilegiado como uma modalidade mais branda do
1. Homicídio crime de homicídio.
O homicídio privilegiado está previsto no Artigo 121,
O crime de homicídio tem como ação a seguinte con- § 1º, e se configura em uma das seguintes situações:
duta: Matar Alguém.
O verbo descrito no tipo penal é matar, que fica confi- • Relevante valor social;
gurado quando se faz interromper ou cessar a vida. • Relevante valor moral;
O alguém, previsto na conduta, necessariamente, • Sob o domínio de violenta emoção, logo em segui-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

deve ser a pessoa humana. da a injusta provocação da vítima.


É um crime classificado de diversas modalidades. As
principais classificações são: Quando reconhecido o privilégio, no crime de ho-
micídio, quais as consequências? O juiz pode reduzir a
• É crime comum: pode ser praticado por qualquer pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). Muita
pessoa, sem que necessite de quaisquer condições atenção com o patamar de redução.
especiais; Sobre o homicídio privilegiado, algumas considera-
• É crime material: para sua consumação, é exigida a ções são muito importantes para a sua prova:
ocorrência do resultado morte;

193
• Não é considerado crime hediondo; veneno) ou cruéis (asfixia, tortura) ou que possam resul-
• Não se comunica para coautores ou partícipes. tar em perigo comum (fogo, explosivo).
Como assim? Em relação ao emprego de veneno, segundo a dou-
trina majoritária, tal qualificadora só irá se configurar se
O crime de homicídio é cometido por 2 (dois) agentes ficar comprovado que a vítima ingeriu o veneno sem sa-
(Vicente e Gabriel). Gabriel o pratica sob o domínio de ber que o fazia. Caso a vítima saiba que está ingerindo
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação veneno, outra qualificadora poderá ser aplicada, a de
da vítima; Vicente, não. Nesta hipótese, Gabriel respon- meio cruel.
derá por homicídio privilegiado e Vicente por Homicídio. É muito importante que você compreenda que, no
Direito Penal, o agente é punido, em regra, pelo crime
1.3 Homicídio qualificado que queria praticar. Assim, caso o agente queira torturar,
mas se exceda e acabe matando a vítima, irá responder
No homicídio qualificado, o agente estará submeti- por tortura qualificada pelo resultado morte. Se o agente
do a uma pena maior, mais grave. As qualificadoras são queria matar e usa a tortura como meio para atingir a
fatores que tornam a conduta praticada pelo agente, de sua finalidade, irá responder por homicídio qualificado
alguma forma, mais reprováveis por parte da sociedade. pela tortura.
A pena do homicídio qualificado vai de 12 (doze) a 30 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
(trinta) anos. ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a de-
O Código Penal, em seu Artigo 121, § 2º, estabelece fesa do ofendido.
as seguintes qualificadoras. As qualificadoras acima também estão relacionadas
Se o homicídio é cometido mediante paga ou pro- aos meios empregados pelo agente. Quando o agente
messa de recompensa, ou por outro motivo torpe. comete um homicídio, praticando-o de forma que a de-
Motivo torpe é algo repugnante, nojento, abjeto. fesa da vítima seja dificultada ou se torne impossível, ele
O Código Penal nos exemplifica o que vem a ser mo- responderá na modalidade qualificada.
tivo torpe: mediante paga ou promessa de recompensa. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade
Os demais casos de torpeza serão interpretados analogi- ou a vantagem de outro crime.
camente pela autoridade judicial. Nesta forma qualificada, o agente pratica o homicídio
O homicídio praticado mediante paga ou promessa para, de alguma forma, garantir uma vantagem relacio-
de recompensa é conhecido doutrinariamente como ho- nado a um outro crime. A doutrina chama esta qualifica-
micídio mercenário. dora de conexão instrumental, que pode ser teleológica
Ele fica configurado quando o agente pratica o crime ou consequencial.
motivado por alguma recompensa (segundo a doutrina, Segundo a doutrina majoritária, não é necessário que
deve ser de natureza econômica), que pode ser anterior o crime anterior ou posterior pode ter sido praticado por
(na modalidade paga) ou posterior (na modalidade pro- uma outra pessoa, não existindo a obrigatoriedade de
messa de recompensa). que seja o próprio autor do homicídio.
Recentemente, entendeu o STJ que a comunicabili- Contra a mulher por razões da condição de sexo
dade da qualificadora “mediante paga ou promessa de feminino.
recompensa” não é automática, tratando-se de qualifica- Este dispositivo tem sido exaustivamente cobrado em
dora de natureza pessoal, que não irá se comunicar auto- provas de concursos públicos.
maticamente ao mandante do crime, respondendo este, Estamos falando do feminicídio.
na modalidade qualificada se torpe for o motivo que o Você acertará todos os itens correspondentes quando
levou a pagar pela morte da vítima. entender que nem toda morte de mulher será conside-
Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a inten- rada feminicídio, mas tão somente a morte de mulher,
ção de matar um desafeto, chamado Antoniel, pagar R$ praticada devido a sua condição de sexo feminino.
1.000,00 (mil reais) a Fabrício, para que este mate Anto- O Código Penal estabelece que se considera que há
niel, a qualificadora será aplicada a Fabrício, já para Ales- razões de condição de sexo feminino quando a morte da
sandro, o mandante, o homicídio não será necessaria- mulher envolver violência doméstica ou familiar ou me-
mente qualificado. nosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Por motivo fútil: motivo fútil é o motivo pequeno,
desproporcional, banal. Há desproporcionalidade entre
a conduta praticado e a motivação.
#FicaDica
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

O homicídio será qualificado por motivo fútil quando, O feminicídio ficará configurado com a
por exemplo, for motivado por uma dívida de uma car- morte da mulher devido à violência de gê-
teira de cigarro. nero e não quando ocorrer a morte da mu-
Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tor- lher em qualquer situação.
tura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum.
Temos aqui qualificadoras relacionadas aos meios Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142
empregados pelo agente para praticar o crime, que po- e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
dem estar relacionadas a meios insidiosos (emprego de prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no

194
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra A imperícia é a falta de aptidão técnica para o desem-
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até penho de determinada atividade.
terceiro grau, em razão dessa condição. Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresenta com
O homicídio será qualificado quando praticado con- mais frequência, poderemos ver a diferença entre a ne-
tra os seguintes agentes ou autoridades: gligência e a imperícia.
Exemplo 1: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia, ao
• Integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bisturi dentro do
ou Aeronáutica). paciente, que vem a óbito.
• Integrantes dos órgãos de segurança pública: Po- Exemplo 2: Teobaldo é médico clínico geral em perío-
lícia federal; Polícia Rodoviária Federal; Polícia Fer- do de residência. Ele vai fazer uma cirurgia renal, erra no
roviária Federal; Policiais Civis; Policiais Militares; procedimento e a vítima morre.
Corpo de Bombeiros Militares. No primeiro exemplo: Adolfo irá responder por homi-
• Integrantes do Sistema Penitenciário. cídio culposo por negligência. Observe que ele é médico
• Integrantes da Força Nacional. cirurgião, logo, tem perícia para a realização de cirurgias,
mas foi omisso ao esquecer o equipamento dentro do
Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a paciente.
sua prova que não é a morte de qualquer dos agentes No segundo exemplo: Teobaldo irá responder por
ou autoridades descritas acima que irá qualificar o ho- homicídio culposo por imperícia, já que faltava a ele ap-
micídio, mas tão somente se a morte deles for praticada tidão necessária para realizar perícias.
no exercício da função (enquanto eles trabalham) ou em No caso do homicídio culposo, é possível a aplicação
razão da função (devido ao cargo que eles ocupam ou do instituto do perdão judicial, previsto no Artigo 121,
função que eles exercem). § 5° do Código Penal: o juiz poderá deixar de aplicar a
A qualificadora também será aplicada se o homicídio pena, se as consequências da infração atingirem o pró-
for praticado contra o cônjuge, companheiro ou parente prio agente de forma tão grave que a sanção penal se
consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos agentes ou au-
torne desnecessária.
Você pode entender a aplicação do perdão judicial
toridades que vimos acima, também motivado pela fun-
ao seguinte caso: pai que, por imprudência, provoca um
ção que os agentes ou autoridades exercem.
acidente de trânsito e mata o próprio filho. Neste caso,
Agora, que estudamos todas as qualificadoras do
as consequências da infração penal (homicídio) atingem
crime de homicídio. Pode ter surgido a seguinte dúvida
o pai de forma tão grave (o seu filho morreu) que é des-
para você: é possível que o homicídio seja privilegiado e
necessária a aplicação de sanção penal, podendo o juiz
qualificado ao mesmo tempo?
deixar de aplicar a pena.
A resposta é positiva. É possível, porém, é necessário
O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos
que a qualificadora seja de natureza objetiva (relaciona-
casos de homicídio culposo.
da aos meios empregados pelo agente para executar o Vamos falar agora das causas de aumento de pena
crime). aplicadas ao homicídio.
Segundo doutrina majoritária, o homicídio privilegia- A doutrina chama essas hipóteses de homicídio
do-qualificado não será considerado hediondo, porque o majorado.
privilégio (motivo) afasta a hediondez. Para facilitar nosso estudo, veremos as causas de au-
mento de pena aplicadas ao homicídio doloso e, em se-
1.4 Homicídio culposo guida, as aplicadas ao homicídio culposo.
Causas de aumento de pena aplicáveis ao homicídio
O homicídio culposo é aquele que o agente não quer doloso:
o resultado morte, nem assume o risco de assumi-lo, mas
acaba causando a morte de alguém por imprudência, ne- • Se praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze)
gligência ou imperícia. anos ou maior de 60 (sessenta) anos – aumento de
A imprudência fica configurada quando o agente é 1/3 (um terço);
afoito, praticando conduta não recomendada pela vida • Se praticado por milícia privada, sob o pretexto de
em sociedade. Exemplo: Josivaldo está mudando alguns prestação de serviço de segurança ou por grupo
móveis em apartamento, que fica no 4º andar. Ele decide de extermínio – aumento de 1/3 (um terço) até a
que não quer mais um jarro de plantas e, para se livrar do metade.
objeto, joga-o pela janela. O jarro cai na cabeça de Silvio,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• Nos casos de feminicídio, se o crime for praticado


que morre imediatamente. durante a gestação ou nos 3 (três) meses posterio-
Observe que Josivaldo não queria a morte de Silvio, res ao parto; se praticado contra pessoa menor de
nem assumiu o risco de matá-lo, mas, por ter sido impru- 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos,
dente (praticado uma ação não recomendável), acabou ou com deficiência, ou se praticado na presença de
causando a morte da vítima. descendente ou ascendente da vítima – aumento
de 1/3 (um terço) até a metade.
A negligência fica configurada quando o agente é
omisso ou relapso. Ele não faz algo que a vida em socie- Causas de aumento de pena aplicáveis ao homicídio
dade recomenda. culposo:

195
• Se o crime resulta de inobservância de regra téc- Se da tentativa de suicídio resultar apenas lesão cor-
nica de profissão, arte ou ofício – aumento de 1/3 poral de natureza leve, aquele que induziu, instigou ou
(um terço); auxiliou não será responsabilizado penalmente. O fato
• Se o agente deixa de prestar imediato socorro à será atípico.
vítima, não procura diminuir as consequências do Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resul-
seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante – ta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena
aumento de 1/3 (um terço). cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Se o suicídio se consuma ou se da automutilação re-
2. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou sulta morte, sanção prevista de reclusão, de 2 (dois) a 6
a automutilação (seis) anos.
A pena é duplicada:
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autolesão,
ou seja, uma pessoa não será punida penalmente caso • se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
provoque mal somente a si próprio. ou fútil;
O tipo penal que iremos estudar não pune o suicídio, • se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
que consiste na eliminação da própria vida, mas sim a quer causa, a capacidade de resistência.
conduta daquele que induz, instiga ou auxilia a prática de
um suicídio ou a automutilação.
FIQUE ATENTO!
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a A pena é aumentada até o dobro se a con-
praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material duta é realizada por meio da rede de com-
para que o faça: putadores, de rede social ou transmitida
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. em tempo real.
Aumenta-se a pena em metade se o agen-
Inicialmente, devemos entender o que significa cada te é líder ou coordenador de grupo ou de
um dos verbos que configuram o tipo penal: rede virtual.

• Induzir: é criar uma ideia que não existe. A vítima


Se o crime de automutilação ou tentativa de suicídio
nunca pensou em se suicidar e o agente faz surgir
resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é co-
esta ideia na cabeça dela;
metido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
• Instigar: é reforçar uma ideia que já existe. A vítima
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
pensa ou já pensou em se suicidar e o agente re-
força essa ideia;
necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
• Auxiliar: o agente presta auxílio material à vítima.
responde o agente pelo crime lesão corporal gravíssima.
Por exemplo, emprestando uma arma, uma corda,
Se consuma o crime de suicídio ou da automutilação
entre outras formas de auxílio.
resulta a morte e é cometido contra menor de 14 (qua-
torze) anos ou contra quem não tem o necessário dis-
A doutrina majoritária exige, para configuração deste
tipo penal, que a vítima tenha algum discernimento para
cernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
a prática do suicídio. Caso a conduta seja praticada con-
agente pelo crime de homicídio simples.
tra alguém sem qualquer discernimento, não estaremos
diante do crime de induzir, instigar ou auxiliar a prática
3. Infanticídio
de suicídio, mas sim diante do crime de homicídio.
Sempre houve muita discussão doutrinária sobre a
O infanticídio é classificado pela doutrina como crime
possibilidade de caber tentativa a este tipo penal.
bi próprio, já que ele exige qualidades especiais tanto do
Hoje, prevalece o entendimento de que o crime de in-
sujeito ativo quanto do sujeito passivo.
duzimento, instigação ou auxílio ao suicídio não admite
É necessário que o sujeito ativo seja a própria mãe e
tentativa, podendo ocorrer 3 (três) possibilidades:
que o sujeito passivo seja o próprio filho, para que este
tipo penal fique configurado.
• Se o suicídio se consuma (crime consumado), pena
São outros requisitos que devem estar presentes para
de reclusão de dois a seis anos;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

configuração do crime de infanticídio:


• Se da tentativa de suicídio não ocorre a morte, mas
resulta em lesão corporal de natureza grave (crime
• Que a mãe esteja sob a influência do estado
consumado), pena de reclusão de um a três anos;
puerperal;
• Se da tentativa de suicídio, não ocorre a morte, não
ocorre lesão corporal de natureza grave (indiferen-
O estado puerperal é uma alteração emocional pela
te penal), não haverá conduta típica.
qual passam algumas mães durante o período corres-
pondente ao parto.

196
Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou na jurisprudência, sobre quanto tempo dura este estado puerperal.
Logo, qualquer alternativa que tente definir um prazo estará incorreta.

• Que a conduta seja praticada durante ou logo após o parto.

O infanticídio admite tentativa.

4. Aborto

O Código Penal estabelece três modalidades de aborto, previstos nos artigos 124, 125 e 126.
O crime de aborto tem como sujeito passivo o feto. Quando praticado sem o consentimento da gestante, esta
também será o sujeito passivo.
No primeiro caso, aborto praticado pela gestante ou com o seu consentimento, temos uma hipótese de crime pró-
prio, já que só pode ser praticado pela gestante.
No segundo caso, aborto praticado por terceiro sem o consentimento da gestante, temos um crime comum, que
pode ser praticado por qualquer pessoa. É um crime de mão livre, que pode ser praticado de qualquer forma, desde
que o agente saiba que a vítima está grávida e destine sua conduta a atingir a finalidade aborto.
É importante mencionar que se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, é alienada ou débil mental ou se o
consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência, o agente irá responder pela segunda modali-
dade de aborto – praticado por terceiro sem o consentimento da gestante.
No terceiro caso, aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante, também temos um crime co-
mum, praticável por qualquer pessoa, que pratica o fato, mas a gestante consente.
É importante mencionar que, neste caso, o terceiro responde pelo artigo 126, ao passo que a mãe responde pelo
artigo 124, constituindo, assim, uma exceção pluralística à teoria monista aplicada como regra aos casos de concurso
de pessoas.
É importante que a gestante tenha a capacidade necessária para prestar o seu consentimento, caso não a tenha, o
agente responderá pelo crime de aborto praticado sem o consentimento da gestante.
As penas serão aumentadas no caso de aborto praticado por terceiro com ou sem o consentimento da gestante
(Artigo 125 e Artigo 126).
O assunto a seguir, é sempre muito cobrado em provas de concursos públicos.
Não será punido o aborto, segundo o Código Penal, caso praticado por médico, nos seguintes casos:

• Se não há outro meio de salvar a vida da gestante (a doutrina chama de aborto necessário);
• Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de
seu representante legal (a doutrina chama de aborto humanitário).

Para finalizar os crimes contra a vida, é importante que você saiba que todos são processados mediante ação penal
pública incondicionada, e que você fique atento às seguintes informações:

Crime Modalidade Culposa Tentativa


Homicídio SIM SIM
Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio NÃO NÃO
Infanticídio NÃO SIM
Aborto NÃO SIM

LESÕES CORPORAIS

Você pode entender lesão corporal como qualquer alteração provocada na integridade corporal ou na saúde de
uma pessoa.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

A lesão corporal é comum, material, instantâneo e de forma livre, portanto, pode ser praticado por qualquer pessoa,
exige a ocorrência do resultado para fins de consumação, a conduta não se prolonga no tempo e pode ser praticada
de qualquer maneira (pedradas, pauladas, tiros, socos, chutes, arranhões etc).
As lesões corporais estão previstas no Artigo 129 do Código Penal e podem ser divididas da seguinte forma:

• Lesão corporal simples


• Lesão corporal grave;
• Lesão corporal gravíssima;

197
• Lesão corporal seguida de morte; Lesão Grave Lesão Gravíssima
• Lesão corporal culposa;
• Lesão corporal privilegiada. Debilidade permanente Perda ou inutilização
de membro, sentido ou do membro sentido ou
As lesões corporais graves, gravíssimas e seguida de função. função.
morte compõem o grupo lesões corporais qualificadas, Exemplo: Devido às le-
Exemplo: Devido às le-
segundo a doutrina penalista. sões sofridas, a vítima
sões sofridas, a vítima
Antes de analisarmos cada uma das lesões, vamos fa- perde 1 (um) dos olhos,
perde a visão.
lar da ação penal. mas ainda enxerga.
O crime de lesão corporal é classificado como delito
não-transeunte, que é aquele que deixa vestígios, sendo O Código Penal não divide as lesões em graves ou
necessário a realização de exame de corpo de delito. gravíssimas. Para o CPB, todas elas são graves. Esta divi-
são é uma construção doutrinária. Cuidado.
1. Lesão corporal leve
4. Lesão corporal seguida de morte
A lesão leve, também chamada de simples, prevista
no Caput do Artigo 129, é residual. Teremos configurada A lesão corporal seguida de morte irá ficar configu-
tal modalidade de lesão, caso não se configure nenhuma rada quando ficar configurado que o agente não queria
das outras. o resultado morte (dolo direto no resultado morte) ou
A lesão corporal qualificada está prevista nos pará- assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual no resulta-
grafos 1º, 2º e 3º do Artigo 129. do morte).
Se o agente quer matar, ele responderá pelo homi-
2. Lesão corporal grave cídio. Porém, caso o agente queira apenas causar lesões
corporais, mas, por algum motivo, acabe se excedendo,
A lesão corporal grave irá se configurar se resultar: provocando a morte da vítima, ele irá responder por le-
são corporal seguida de morte, desde que fique eviden-
• Incapacidade para as ocupações habituais, por ciado que ele não quis nem assumiu o risco de produzir
mais de 30 (trinta) dias; o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um cri-
É necessário que a incapacidade dure mais de 30 me preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado pelo
(trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso contrá- resultado, em que temos dolo na conduta inicial e culpa
rio, a lesão corporal não será grave. no resultado produzido.

A incapacidade está relacionada a qualquer ocupação 5. Lesão corporal culposa


habitual, como estudo, treinos, rotinas domésticas, e não
somente ao trabalho; A lesão corporal culposa é aquela que o agente não
quer causar lesão corporal na vítima, mas a produz por
• Perigo de vida; ter sido imprudente, negligente ou imperito.
• Debilidade permanente de membro, sentido ou É importante que você compreende que não há gra-
função; dações na lesão corporal culposa, ou seja, ela não se di-
• Aceleração do parto; vide em leve, grave ou gravíssima, mas tão somente irá
ser lesão corporal culposa.
3. Lesão corporal gravíssima No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o insti-
tuto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de aplicar
A lesão corporal gravíssima irá se configurar se a pena se as consequências da infração penal atingirem
resultar: o agente de forma que a aplicação de sanção penal se
torne desnecessária.
• Incapacidade permanente para o trabalho; Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão corporal
• Enfermidade incurável; culposa.
• Perda ou inutilização do membro, sentido ou
função;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

6. Lesão corporal privilegiada


• Deformidade permanente;
• Aborto. Os motivos que levam o agente a praticar a le-
são corporal privilegiada são os mesmos do homicídio
Tome cuidado para não se confundir: privilegiado.
Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de vio-
lenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3
(um terço).

198
É aplicável o instituto da substituição de pena nos ca- • Se a lesão for praticada contra autoridade ou
sos de lesão corporal. agente das forças armadas (Marinha, Exército ou
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão privi- Aeronáutica), das forças de segurança pública
legiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pessoas se (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia
lesionam umas às outras), o juiz poderá ainda substituir a Ferroviária Federal, Policiais Civis, Policias Militares
pena de detenção pela de multa. ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes do
O Código Penal traz disposições específicas para os sistema prisional (agentes penitenciários) e da For-
casos de lesão corporal praticada no âmbito de violência ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da
doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais grave, função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
estando ele submetido a auto de prisão em flagrante e companheiro ou parente consanguíneo até o ter-
não somente a mero termo circunstanciado (salvo nos ceiro grau, em razão dessa condição.
casos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte).
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência
PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou
A periclitação da vida e da saúde são considerados
nos seguintes casos:
crimes de perigo, sendo criada, pelo autor do fato, uma
situação de perigo a que é exposta a vítima.
• Ascendente; Crimes de perigo são aqueles que não exigem a efe-
• Descendente; tiva ocorrência de dano, apesar de poder acontecer, para
• Cônjuge ou companheiro; que se configurem.
• Quem conviva ou tenha convivido. Os crimes de perigo são divididos em:

É importante mencionar que, caso a vítima seja mu- • Crimes de perigo concreto: é exigida uma com-
lher, teremos a aplicação da Lei Maria da Penha e, mes- provação de que realmente aconteceu um risco
mo que seja caso de lesão corporal leve, a ação penal de perigo ou lesão ao bem jurídico protegido pela
será pública incondicionada. norma penal.
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime de • Crimes de perigo abstrato: Não se exige nenhuma
lesões corporais. Há diversas causas de aumento de pena comprovação, já que o perigo é presumido.
para este crime, portanto, leia-as com bastante atenção.
Nos casos de lesão corporal culposa: Iremos analisar os seguintes crimes: perigo de con-
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: tágeo venéreo, perigo de contágio de moléstia grave;
abandono de incapaz; exposição ou abandono de re-
• Se o crime resulta de inobservância de regra técni-
cém-nascido e omissão de socorro.
ca de profissão, arte ou ofício;
• Se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima;
1. Perigo de contágio venéreo
• Se o autor não procura diminuir as consequências
do seu ato; Este crime fica configurado quando o agente expõe
• Se o agente foge para evitar prisão em flagrante. alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe
Nos casos de lesão corporal dolosa: ou deve saber que está contaminado.
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: A forma qualificada deste crime se dá se o agente tem
a intenção de transmitir a moléstia venérea.
• A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 Este crime somente se procede mediante representa-
(sessenta) anos; ção, ou seja, trata-se de crime promovido mediante ação
• For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima penal pública condicionada.
ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos O que é moléstia venérea: Segundo a doutrina, é o
casos de violência doméstica vistas acima; nome genérico dado a qualquer doença que possa ser
• Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio- transmitida por meio de relação sexual, como sifilis.
lência doméstica vistas logo acima, for pessoa por- O crime se consuma com a prática do ato sexual, ca-
tadora de deficiência. paz de transmitir a moléstia venérea. Caso a vítima seja
contaminada, tal fato será mero exaurimento do crime.
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

metade:

• Se a lesão corporal for praticada por milícia pri-


vada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio;

A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois


terços):

199
Transmite-se moléstia Transmite-se moléstia
#FicaDica
venérea grave
É importante mencionar, pela própria natu- É norma penal em branco É norma penal em branco
reza do tipo penal, que não se exige, para
Não se exige dolo espe-
a sua configuração simples, dolo específico Exige-se dolo específico
do agente em transmitir a doença venérea cífico
(caso ocorra esta hipótese, o crime será qua- Ação penal pública condi- Ação penal pública incon-
lificado), bastando que ele tenha a intenção cionada dicionada
de ter a relação sexual, sabendo ou devendo
saber que está contaminado. 3. Abandono de incapaz

O crime de abandono de incapaz se configura quan-


do o agente abandona pessoa que está sob seu cuidado,
Segundo a doutrina majoritária, é crime comum, que guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer mo-
pode ser praticado por qualquer pessoa. tivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
abandono.
2. Perigo de contágio de moléstia grave São formas qualificadas do crime de abandono de
incapaz:
Este crime se configura quando o agente praticar,
com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que • Se do abandono, resulta lesão corporal de nature-
está contaminado, ato capaz de transmitir o contágio. za grave;
É necessário que o sujeito passivo, que pode ser qual- • Se do abandono, resulta a morte.
quer pessoa, não seja contaminado pela moléstia grave
que o sujeito ativo pretende transmitir. Quem é o incapaz: Entenda incapaz como qualquer
A moléstia grave, neste caso, não precisa, necessa- pessoa que não tenha condições de se proteger sozinha,
riamente, ser transmitida por meio de relação sexual, podendo ficar exposta, em razão do abandono, a situa-
podendo, entretanto, ser transmitida por qualquer outro ção de perigo. Tenha como exemplo o pai que deixa o
meio. filho, de apenas 2 (dois) anos de idade, sozinha em casa.
Temos como exemplo o agente que, de qualquer for- Esta criança não tem capacidade de se defender sozi-
ma ou por qualquer meio, intencionalmente (exige-se o nha, configurando, assim, o tipo penal de abandono de
dolo específico de transmitir a doença) transmite à vítima incapaz.
a tuberculose (moléstia grave). Para que o crime de abandono de incapaz seja qua-
Trata-se de norma penal em branco, complementada lificado, é necessário que o resultado seja lesão corporal
por meio dos atos praticados por órgãos administrativos grave ou a morte. Caso resulte apenas lesão corporal de
da área de saúde. natureza leve (bastante explorado pelas bancas), o crime
Mais uma vez, reitero: exige-se para a configuração será configurado em sua modalidade simples.
deste tipo penal o dolo específico, que consiste na inten- Analise com bastante cuidado as causas de aumento
ção do agente de transmitir a moléstia grave. de pena.
A doutrina não admite, para este crime, o dolo even- Veja características do crime de abandono de incapaz:
tual, quando o agente não quer diretamente transmitir a
doença, mas assume o risco de transmiti-la. • É crime próprio, já que se exige uma condição es-
Trata-se de crime formal, que se consuma com a prá- pecial do agente: ser pessoa que tem o cuidado,
tica do ato destinado a transmitir a moléstia grave, não guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima;
se exigindo, para fins de consumação, a efetiva transmis- • É crime formal, que não exige que ocorra qualquer
são da moléstia. coisa com o abandonado (vítima) para fins de con-
Ao contrário do crime de Perigo de Contágeo Venéreo, sumação do crime.
procede-se mediante ação penal pública incondicionada.
Antes de passarmos para a análise de outros tipos pe- 4. Exposição ou abandono de recém nascido
nais, é importante que façamos uma distinção entre os
dois tipos penais que acabamos de ver: O crime de exposição ou abandono de recém-nas-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cido se configura quando o agente expõe ou abandona


Perigo de Contágio Perigo de Contágio de recém-nascido, para ocultar desonra própria.
Venéreo Moléstia Grave Este crime será praticado na modalidade qualificada
se do fato resultar:
A transmissão deve se
A transmissão se dá por
dar por meio de relação • Lesão corporal de natureza grave;
qualquer meio
sexual • Morte.

200
Este crime exige dolo específico, ou seja, um especial É necessário que o atendimento médico seja emer-
fim de agir, que consiste na prática da conduta para ocul- gencial. Assim, este crime não ira se configurar caso o
tar desonra própria. atendimento médico seja algo rotineiro, com uma sim-
Segundo a doutrina majoritária, é exigido que o re- ples consulta, por exemplo.
cém-nascido fique exposto à situação concreta de perigo Este tipo penal também apresenta causas de aumen-
para que o crime se consume. to de pena.
A pena será aumentada até o dobro se da negativa de
atendimento resulta:
#FicaDica
Ainda, conforme doutrina majoritária, tra- • Lesão corporal grave.
ta-se de crime próprio, que somente pode-
rá ser praticado pelo pai ou pela mãe que A pena será aumentada até o triplo se da negativa de
buscam ocultar desonra própria. Leve como atendimento resulta:
exemplo a mãe que expõe ou abandono o
filho recém-nascido numa lata de lixo para • Morte.
ocultar uma desonra (sua infidelidade).
RIXA

O crime será promovido mediante ação penal pública A rixa está prevista no artigo 137 do Código Penal.
incondicionada. O crime irá ocorrer quando o agente participar de
rixa, salvo para separar os contendores.
5. Omissão de socorro Estamos diante de crime de concurso necessário, que
só irá existir caso presente no mínimo 3 (três) pessoas,
O crime de omissão de socorro está previsto no artigo umas contra as outras. Caso seja possível definir dois
135 do Código Penal. Irá se configurar quando o agente grupos específicos (grupo A x grupo B), este tipo penal
deixar de prestar assitência, quando possível fazê-lo sem não irá existir.
risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à Para que a rixa se configure, exige-se que haja no
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e mínimo três grupos distintos (independentemente da
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da quantidade de pessoas que integre cada grupo) se agre-
autoridade competente. dindo mutuamente.
Não se aplica este tipo penal ao agente que causou o No caso de ocorrer uma briga entre a torcida do Co-
perigo. Assim, se um indivíduo, com a intenção de causar rinthians e a torcida do Palmeiras, não há que se falar no
lesões corporais, arremessa uma pedra na vítima e foge, crime de rixa, já que temos 2 (dois) grupos bem definidos.
não poderá ele ser responsabilizado por omissão de so- Aquele que participa da rixa, apenas com a finalidade
corro por não ter prestado socorro à vítima ou por não de separar os contendores não irá responder por este
ter comunicado o fato à autoridade. tipo penal.
Fique atento às seguintes informações sobre a omis- O crime de rixa não admite a forma culposa.
são de socorro: Sobre este crime, é importante que você fique atento
aos posicionamentos da doutrina dominante.
• Não admite tentativa (é crime omissivo próprio);
• Não admite a modalidade culposa. • Não admite tentativa;
• Consuma-se quando se inicia a rixa ou, caso já ini-
Fique bastante atento às causas de aumento de pena ciada, quando o agente entra na rixa;
do crime de omissão de socorro. • Pode ser praticado à distância, não se exigindo que
Em 2012, foi inserido no Código Penal um novo tipo necessariamente ocorre contato físico. Por exem-
penal, chamado de condicionamento de atendimento plo: rixa em que os agentes jogam pedras, garrafas
médico-hospitalar emergencial, que irá se configurar ou mesas uns nos outros.
quando o agente exigir cheque-caução, nota promissória
ou qualquer garantia, bem como o preenchimento pré- A rixa será qualificada quando ocorrer, devido à rixa,
vio de formulários administrativos, como condição para lesão corporal de natureza grave ou a morte. Segundo
o atendimento médico-hospitalar emergencial. a doutrina majoritária, salvo no caso de ser possível se
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Suponha que um indivíduo ingresse em um hospi- identificar corretamente o autor da lesão grave ou da
tal necessitando de atendimento médico emergencial. O morte, todos os agentes que participaram da rixa irão
funcionário do hospital exige que ele deixe um cheque- responder pela modalidade qualificada, exceto, também,
-caução para que o atendimento médico seja realizado. se tiverem ingressado na rixa após a ocorrência da lesão
Pronto, configurou-se o tipo penal de condicionamento grave ou da morte.
de atendimento médico-hospitalar emergencial.

201
A reclusão será de 2 (dois) a 8 (oito) anos, se cometido:
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
• Com destruição ou rompimento de obstáculo à
subtração da coisa.
FURTO • Com abuso de confiança, ou mediante fraude, es-
calada ou destreza.
Este crime pode ser dividido da seguinte forma: • Com emprego de chave falsa.

• Simples; Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas


• Qualificado;
• Majorado; e Na destruição ou rompimento de obstáculo, o agen-
• Privilegiado. te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daquele
que arromba o portão de uma casa, para entrar e subtrair
uma televisão.
Furto simples No abuso de confiança, o agente se vale da confiança
que o dono da coisa tem nele, para poder subtrair, como,
O crime de furto irá se configurar quando o agente por exemplo, quando o agente é amigo do dono da casa,
subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. que deixa sua carteira sobre a mesa e vai ao banheiro
Como foi possível se observar, este crime possui 3 despreocupado, momento em que o agente, aproveitan-
(três) partes elementares: do desta confiança, subtrai a carteira.
Verbo: subtrair – que consiste no ato de se apossar O uso de fraude fica configurado quando o agente
de propriedade de outra pessoa; para si ou para outra usa de artifício para enganar a vítima, para subtrair a coi-
pessoa; sa, a exemplo do agente que se passa por funcionário de
Coisa alheia móvel – é necessário que o objeto mate- empresa de telefonia para conseguir entrar numa casa e
rial do crime de furto seja coisa móvel e que pertença a subtrai um aparelho celular que nela estava.
outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou que pertença ao
autor, este crime não estará configurado.
#FicaDica
O furto tem as seguintes características:
Você não pode confundir o furto mediante
• É crime comum, que pode ser praticado por qual- fraude com o estelionato. Naquele, o agen-
quer pessoa; te usa a fraude sobre a vítima para subtrair
• É crime material, que exige a ocorrência do resulta- a coisa; neste, o agente emprega a fraude
do naturalístico para fins de consumação; para ludibriar a vítima e fazer com que ela
• Não admite a modalidade culposa – muita atenção mesma entregue a coisa.
com esta característica (as bancas adoram): o furto
só se pratica dolosamente;
• É crime plurissubsistente, que, portanto, admite a No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a
modalidade tentada. entrada em um local se dá por um meio anormal, que
exige do agente esforço físico incomum. Para a doutrina
Sobre a consumação deste crime, é importante que majoritária, não é relevante se ocorre por cima ou por
você leve para a sua prova o posicionamento adotado baixo, desde que o agente não pratique nenhuma forma
pelas cortes superiores (STF e STJ). Os tribunais superio- de destruição ou rompimento de obstáculo, quando apli-
res adotam a teoria da apprehensio, também chamada caremos outra qualificadora ao fato.
de amotio, que considera consumado o crime de furto No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso
(e também o roubo) quando o agente se apossa da coi- de alguma habilidade especial. Segundo a doutrina, o
sa alheia móvel, mesmo que por um breve período de exemplo clássico é o batedor de carteira.
No emprego de chave falsa, o agente faz uso de cha-
tempo, não sendo necessário que a coisa saia da área de
ve distinta da chave original para subtrair a coisa ou ob-
vigilância da vítima.
jeto capaz de abrir um cadeado ou fechadura.
Sobre o concurso de pessoas, o STJ editou a Súmula
Furto qualificado 442, que diz: É inadmissível aplicar, no furto qualificado,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.


O furto qualificado é aquele que as suas penas são Esta súmula foi editada para sanar divergência dou-
modificadas nos patamares mínimos e máximo, aumen- trinária sobre a aplicação da qualificadora, já que o con-
tando consideravelmente. As qualificadoras são sempre curso de pessoas constitui apenas causa de aumento de
muito cobradas pelas bancas, portanto, preste bastante pena no crime de roubo, deveria ser assim também com
atenção nesta parte de nosso estudo. o crime de furto.
O furto será qualificado nas seguintes hipóteses.

202
A reclusão será de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do
subtração: privilégio previsto no § 2º do art. 155 o CP nos casos
de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a
• For de veículo automotor que venha a ser trans- primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
portado para outro Estado ou para o exterior. qualificadora for de ordem subjetiva.

A reclusão será de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, se a O furto de uso constitui fato atípico
subtração:
Sendo assim, se o agente subtrai a coisa, com a in-
• For de semovente domesticável (animais, como: tenção de usar e devolver depois, não cometerá o crime
bovinos, suínos, equinos) de produção, ainda de furto.
que abatido ou dividido em partes no local de Este crime exige a intenção de se apoderar, para
subtração.
si ou para outra pessoa, da coisa alheia móvel que foi
subtraída.
A reclusão será de 4 (quatro) a 10 (dez) anos:
Já vi questões de prova que tentaram cobrar do can-
didato a aplicação do instituto do “uso” ao roubo. Está
• Se houver emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum; incorreto.
• A subtração for de substâncias explosivas ou de O furto de uso é fato atípico, tal instituto não se aplica
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi- ao crime de roubo.
bilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Segundo jurisprudência, tanto do STF quanto do STJ,
o uso de sistema de monitoramento eletrônico e de vi-
Furto majorado gilância no local em que se pratica o crime de furto não
torna, por si só, o fato como crime impossível.
O furto será majorado quando a ele for aplicado a
causa de aumento de pena prevista no Artigo 155, § 1º, Súmula 567 do STJ: Sistema de vigilância realizado
do Código Penal. por monitoramento eletrônico ou por existência de se-
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o crime gurança no interior de estabelecimento comercial, por
de furto for praticado durante o repouso noturno. si só, não torna impossível a configuração do crime
Sobre o repouso noturno, considere que, segundo o de furto.
STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de pena se
aplica ao furto simples e ao furto qualificado. Aplica-se
FIQUE ATENTO!
também mesmo se o local for comercial ou desabitado.
Por fim, para encerrarmos as disposições
Furto privilegiado do crime de furto, é importante que você
saiba que o Código Penal equipara à coisa
O furto privilegiado é assunto sempre muito presente móvel a energia elétrica ou qualquer outra
em questões de concurso, tendo sido, inclusive, cobrado coisa que possua valor econômico.
em prova discursiva do cargo de Escrivão de Polícia da
Polícia Civil do Distrito Federal do concurso de 2013.
Está previsto no Artigo 155, § 2º, do Código Penal. Assim, o agente que subtrai energia elétrica cometerá
São características do furto privilegiado: o crime de furto. Porém, saiba que a doutrina dominante
entende que se faz necessário que a subtração se dê so-
• Réu primário; bre a energia elétrica de outra pessoa, não constituindo
• Coisa furtada de pequeno valor – Segundo a juris- este crime se o agente se apoderar da energia elétrica
prudência, até 1 (um) salário mínimo. que se encontra em seu nome (sob sua posse).
Sobre a subtração de sinal de TV a cabo, a jurispru-
No caso do furto privilegiado, o juiz poderá adotar dência do STF entende que se trata de fato atípico, po-
uma das seguintes medidas: rém, para o STJ, entende que pode ser equiparada ao fur-
to de energia elétrica a subtração de sinal de TV a cabo.
• Substituir a pena de reclusão pela de detenção; É muito importante que você se atenha ao enunciado
• Diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois da questão, para verificar qual o posicionamento a banca
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

terços); está cobrando. Caso o enunciado seja vago, adote o po-


• Aplicar somente a pena de multa. sicionamento do STF.

Segundo o STJ, é possível o reconhecimento privi- Furto de coisa comum


légio para o furto simples ou para o furto qualificado,
entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser de Mas, você acabou de dizer que é necessário que a
natureza objetiva (emprego de chave falsa, por exemplo). coisa seja alheia no crime de furto!
Agora estamos diante de um crime específico:

203
• o furto de coisa comum, que irá se configurar Roubo com violência imprópria: o agente subtrai coisa
quando o agente for condômino, coerdeiro ou móvel alheia, depois de havê-la, por qualquer meio, re-
sócio, e subtrair, para si ou para outrem, a quem duzido à impossibilidade de resistência.
legitimamente a detém, coisa comum. Exemplo 1: Tício, fazendo uso de arma de fogo para
intimidar a vítima, anuncia um assalto e subtrai a mochila
Temos aqui um crime próprio, que somente poderá de Mévio – temos aqui o roubo próprio.
ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio. Exemplo 2: Tício subtrai uma garrafa de vinho cara em
um supermercado. Ao sair, verifica que o segurança está
É crime de ação penal pública condicionada à vindo em sua direção. Neste momento, Tício, para poder
representação. fugir com a garrafa de vinho, desfere um soco no rosto
do segurança, que cai – temos aqui o roubo impróprio.
O Código Penal é expresso ao fixar que se a coisa Exemplo 3: Tício conhece Mévia em uma festa. Os
dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero na bebida
comum for fungível (substituível por outra da mesma
dela, que entra em sono profundo, em seguida, o agente
espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a sua
subtrai todo o dinheiro existente na carteira de Mévia –
subtração caso o valor não exceda a quota a que tem
temos aqui o roubo com violência imprópria.
direito o agente.
Vamos falar das características do crime de roubo:
Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego sejam só-
cios. A sociedade é avaliada no valor de R$ 150.000,00 • É crime comum, já que pode ser praticado por
(cento e cinquenta mil reais). As partes na sociedade são qualquer pessoa;
iguais. • É crime complexo, já que atinge mais de um bem
Assim, caso Alessandro subtraia R$ 50.000,00 (cin- jurídico penalmente relevante (há mais de um cri-
quenta mil), não cometerá crime, já que o valor subtraído me configurando o tipo penal do crime de roubo):
não é superior à sua quota. furto mais (+) ameaça ou violência;
O furto de coisa comum não é tão cobrado em provas • Não admite a modalidade culposa;
de concursos públicos, porém, quando cobrado, tentam • É crime material, que exige a ocorrência do resulta-
misturar suas características com as características do do para fins de consumação;
furto tradicional. • Para consumação, adota-se, assim como o furto, a
É importante que você fique atento a essas diferenças: teoria da apprehensio, ou amotio.
Furto: coisa alheia, crime comum e ação penal
incondicionada.
Roubo majorado
Furto de coisa comum: coisa comum, crime próprio e
ação penal condicionada.
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis ao
crime de roubo.
ROUBO
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até metade:
O roubo pode ser dividido da seguinte forma:
• Se há concurso de duas ou mais pessoas;
• Simples; • Se a vítima está em serviço de transporte de valo-
• Majorado; e res e o agente conhece tal circunstância;
• Qualificado. • Se a subtração for de veículo automotor que ve-
nha a ser transportado para outro Estado ou para
Roubo simples o exterior;
• Se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
Irá praticar o crime de roubo o agente que subtrair tringindo sua liberdade;
coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante • Se a subtração for de substâncias explosivas ou de
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de ha- acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi-
vê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de bilitem sua fabricação, montagem ou emprego
resistência. – causa de aumento de pena acrescida pela Lei
Também irá praticar o crime de roubo o agente que, 13.654/2018;
logo depois de subtraída a coisa, emprega violência con- • Se a subtração for de substâncias explosivas ou de
tra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impu- acessórios que, conjunta ou isoladamente, possi-
nidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para bilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

terceiro. Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018;


O roubo, previsto no Artigo 157 do Código Penal, é • Se a violência ou grave ameaça é exercida com em-
dividido de 3 (três) formas: prego de arma branca. Incluído pela Lei nº 13.964,
Roubo próprio: antes ou durante a subtração da coisa de 2019, Pacote Anticrimes.
móvel, o agente emprega violência ou grave ameaça;
Roubo impróprio: o agente subtrai a coisa móvel, em
seguida, a fim de assegurar a impunidade do crime ou
a detenção da coisa para si ou para terceiro, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça;

204
Constitui crime hediondo.
FIQUE ATENTO! Para compreendermos o momento de consumação
Em relação à causa de aumento de pena re- do latrocínio, é necessário que você conheça a Súmula
ferente ao concurso de duas ou mais pesso- 610 do STF.
as, entende o STJ, em se tratando de hipóte-
se de associação criminosa, que os agentes Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o
respondem pelo roubo com aumento de homicídio se consuma, ainda que não realize o agente
pena e pelo crime de associação criminosa, a subtração de bens da vítima.
em concurso material.
Sendo assim, amigos, apesar de ser crime contra o
patrimônio, o marco para consumação do crime de latro-
cínio é a morte da vítima.
O roubo praticado com restrição da liberdade é aque-
le que o agente mantém a vítima em seu poder, restrin- Subtração Morte Latrocínio
gindo a sua liberdade. Por exemplo, imagine que Tiago, Consumada Tentada Latrocínio
portando uma faca, anuncie um assalto para subtrair o
veículo de Diego. O autor subtrai o veículo, coloca a víti- Tentada Tentada tentado
ma no porta-malas e o leva por 10 quilômetros, liberan- Consumada Consumada Latrocínio
do-o em seguida. Tentada Consumada consumado
No exemplo acima, será aplicada a causa de aumento
de pena a Tiago, já que ele restringiu a liberdade de Die-
go, vítima do roubo. FIQUE ATENTO!
A pena será aumentada de 2/3 (dois terços): Caso o agente mate o seu comparsa, após
a prática do roubo, para ficar com a van-
• Se a violência ou ameaça é exercida com empre- tagem com crime somente para si, não há
go de arma de fogo – causa de aumento de pena que se falar, neste caso, em crime de latro-
acrescida pela Lei 13.654/2018; cínio.
• Se há destruição ou rompimento de obstáculo me-
diante o emprego de explosivo ou de artefato aná-
logo que cause perigo comum – causa de aumento Estaremos diante da prática do crime de homicídio
de pena acrescida pela Lei 13.654/2018. qualificado.
Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre o
Se a violência ou grave ameaça é exercida com em- latrocínio, fique atento ao seguinte: o latrocínio é o rou-
prego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, apli- bo qualificado pelo resultado que da violência emprega-
ca-se em dobro a pena. da pelo agente, resultou-se uma morte.
Pena prevista: reclusão de quatro a dez anos, e multa. Logo, se a morte resultar de outro elemento que
Aplica-se a pena e multiplica por dois. não seja a violência empregada, não há que se falar em
O emprego de arma de brinquedo não caracteriza latrocínio.
a aplicação da causa de aumento de pena, entretanto,
pode contribuir para a configuração do crime de roubo, EXTORSÃO
já que pode caracterizar a grave ameaça.
O crime de extorsão, previsto no Artigo 158 do Códi-
Roubo qualificado go Penal, irá se configurar quando o agente constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
O roubo será qualificado pelo resultado em duas intuito de obter para si ou para outrem indevida vanta-
hipóteses: gem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de
fazer alguma coisa.
• Lesão corporal grave; Neste crime, amigos, observe que não se fala em coi-
• Morte – latrocínio. sa móvel, mas sim em indevida vantagem econômica.
Logo, para a configuração da extorsão, é possível que a
A doutrina majoritária entende que a lesão corporal
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

vantagem econômica seja coisa imóvel.


grave e a morte não precisam ser praticadas intencional- Características da Extorsão:
mente pelo agente, ou seja, é possível que o roubo seja
qualificado pelo resultado, mesmo se o resultado tiver • É crime comum, que pode ser praticado por qual-
sido provocado pelo agente culposamente, quando ele quer pessoa;
faz uso de violência. • É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio
O latrocínio é um crime qualificado pelo resultado quanto a liberdade individual;
morte. • Não admite a modalidade culposa (só pode ser
Por incrível que pareça, não se trata de crime contra praticado dolosamente);
vida, mas sim de crime contra o patrimônio.

205
• É crime formal, que se consuma com o constran- Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o re-
gimento, mediante violência ou grave ameaça, in- sultado morte ou o resultado lesão corpora de natureza
dependentemente de o agente conseguir ou não grave, o agente será punido com as mesmas penas apli-
obter a indevida vantagem econômica. cadas ao crime de extorsão mediante sequestro qualifi-
cada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos, respectivamente).
Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-se in-
dependentemente da obtenção da vantagem indevida. Extorsão mediante sequestro

É importante que você não confunda o crime de A extorsão mediante sequestro, prevista no Artigo
extorsão com o crime de roubo, que acabamos de 159 do Código Penal, configurar-se-á quando o agente
estudar: sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço de
Roubo: o agente emprega a violência ou grave amea- resgate.
ça visando à subtração; a participação da vítima é dispen- Neste crime, amigos, temos a restrição da liberdade
sável (caso ela nada faça, o agente pode simplesmente da vítima (mediante sequestro ou cárcere privado), só
pegar a coisa); que o agente possui uma finalidade específica (exige-se
Extorsão: o agente emprega a violência ou grave dolo específico): obter qualquer vantagem (segundo a
ameaça para determinar um comportamento da vítima doutrina deve ser vantagem indevida e de natureza pa-
e obter indevida vantagem econômica; a participação da trimonial), como condição ou preço de resgate.
vítima é indispensável, sem ela, o autor não consegue Características da extorsão mediante sequestro:
obter a indevida vantagem econômica.
A extorsão apresenta as seguintes causas de aumento • É crime comum – qualquer pessoa pode cometê-lo;
de pena. • É crime complexo (junção de 2 (dois) crimes – ex-
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a torsão mais sequestro ou cárcere privado;
metade: • É crime permanente, já que sua conduta se protrai
(prolonga) – atenção com a aplicação da súmula
• Se cometido por 2 (duas) ou mais pessoas; 711 do STF;
• Se cometido com o emprego de arma. • É crime formal, que se consuma com a restrição da
liberdade, desde que motivada pela obtenção de
Vejamos as formas qualificadas do crime de extorsão: condição ou preço de resgate.
• Não admite a modalidade culposa;
• Lesão corporal de natureza grave; • Admite tentativa.
• Morte.
É importante mencionar que o agente deve seques-
Em 2009, foi inserido no nosso ordenamento jurídico trar “pessoa”. Caso seja um animal (parece bobo, mas já
uma nova modalidade de extorsão qualificada. foi cobrado em prova), não haverá o crime de extorsão
Estamos falando da extorsão praticada mediante res- mediante sequestro.
trição da liberdade da vítima, chamada pela doutrina de
sequestro relâmpago.
Para que o sequestro relâmpago fique configurado,
#FicaDica
o Código Penal exige a restrição da liberdade da vítima É importante mencionar um entendimento
e que essa condição seja necessária para a obtenção da defendido pela doutrina majoritária: sobre
vantagem econômica. o resultado morte, não é necessário que
Exemplo: “A”, criminoso conhecido na Cidade, aborda seja a vítima, podendo ser qualquer pessoa
“B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan- em decorrência da extorsão mediante
do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco- sequestro. Assim, por exemplo, se um
nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo de empregado for ao local combinado com os
origem duvidosa, ao Banco, constrangendo a vítima, que sequestradores, a pedido de seus patrões,
sacar R$ 1.000,00 para o autor. entregar o resgate e seja morto pelos
No exemplo acima, ficou configurado o crime de autores, a qualificadora será aplicada da
extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os mesma forma (observe que o empregado
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

elementos: não é vítima do crime – não foi sequestrado


e nem pagou o resgate).
• Emprego de grave ameaça;
• Constrangimento à vítima;
• Objetivo de obter indevida vantagem econômica; A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão me-
• Restrição da liberdade, que foi condição necessária diante sequestro, segundo entendimento doutrinário
para obtenção da vantagem. dominante, quando dela for exigida a vantagem corres-
pondente ao resgate.

206
A extorsão mediante sequestro traz em suas disposi- • É crime simples – pode ser praticado por qualquer
ções a possibilidade de aplicação do instituto da delação pessoa;
premiada. • Não admite a forma culposa. O dano culposo
A deleção será aplicada no caso de o crime ser come- constitui ilícito de ordem civil;
tido em concurso de pessoas, ao concorrente que denun- • É crime material, que exige a ocorrência do resulta-
ciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado. do (destruição, inutilização ou deterioração);
Neste caso, o concorrente que denunciou terá a pena • Admite a tentativa.
reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
Dano qualificado
Extorsão indireta
O dano será praticado na modalidade qualificada, se
A extorsão indireta constitui forma mais branda de o dano for cometido em uma das hipóteses a seguir:
extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação • Com violência à pessoa ou grave ameaça.
de alguém, documento que pode dar causa a procedi- • Com emprego de substância inflamável ou explo-
mento criminal contra a vítima ou contra terceiro. siva, se o fato não constitui crime mais grave (caso
Como dito acima, é uma forma mais branda de extor- constitua crime mais grave, o agente responderá
são, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três) por ele e não pelo dano).
anos, enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, • Contra patrimônio da União, de Estado, do Distrito
tem como pena a reclusão, de 4 (quatro) a 10 (anos). Federal, de Município ou de autarquia, fundação
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pública, empresa pública, sociedade de econo-
pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece- mia mista ou empresa concessionária de serviços
ber) como garantia de dívida. públicos.
É necessário que o agente abuse da condição de • Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, para a vítima.
aproveitando-se da condição de desespero pela qual se
passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho Caso o crime de dano seja praticado com violência
deste se encontra internado em estado grave e ele preci- à pessoa (forma qualificada vista acima), o agente res-
se do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento ponderá pelo crime de dano em concurso com a pena
que possa dar causa a procedimento criminal – pronta, correspondente à violência.
teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota O crime de dano será de ação penal privada, proces-
abusou da condição da vítima. sando-se mediante queixa, tanto na sua modalidade sim-
No verbo exigir, este crime é formal, consumando-se ples quanto na sua modalidade qualificada por motivo
com a exigência do documento. egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima.
Já no verbo receber, é crime material, consumando-se Nas demais hipóteses qualificadas, a ação penal será
com o efetivo recebimento do documento. pública incondicionada.
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter criminis
fracionado. APROPRIAÇÃO INDÉBITA
É crime comum, já que não se exige qualquer condi-
ção especial do sujeito. O crime de apropriação indébita está previsto no Ar-
tigo 168 do Código Penal. Este crime irá se configurar
DANO quando o agente se apropriar de coisa alheia móvel, de
que tem a posse ou a detenção.
O crime de dano, previsto no Artigo 163 do Código Neste crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel.
Penal, poderá ser praticado, mediante a execução das se- Para que você compreenda a apropriação indébita, é
guintes condutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa necessário que você saiba que o agente já tem a posse
alheia. ou a detenção da coisa, passando, posteriormente, a se
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina agir como se dono da coisa fosse.
estabelece sobre cada um dos verbos): Você não pode confundir a apropriação indébita com
Destruir – dano total da coisa alheia; o crime de estelionato.
Veja a diferença:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Inutilizar – dano parcial, mas que torna a coisa alheia


sem utilidade;
Deteriorar – dano parcial da coisa alheia, que fica es- • Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa de
tragado, por exemplo. boa-fé, depois, muda seu dolo e passa a agir como
Preste bastante atenção: o tipo penal fala em coisa se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé).
alheia, sem exigir que seja móvel. Portanto, caso o agen- • Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
te destrua, por exemplo, uma casa, praticará o crime de com a intenção de ficar com ela desde o início.
dano.
Características do crime de dano:

207
A apropriação indébita é crime que decorre de uma • Recolher contribuições devidas à previdência so-
relação de confiança entre o autor e a vítima. Esta en- cial que tenham integrado despesas contábeis ou
trega a coisa móvel ao agente, devido à confiança que custos relativos à venda de produtos ou à presta-
deposita nele. ção de serviços.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas, de- • Pagar benefício devido a segurando, quando as
pois (parte da doutrina chama de dolo subsequente), respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem-
altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a agir bolsados à empresa pela previdência social.
como dono dela.
Veja as principais características da apropriação Trata-se de norma penal em branco, complemen-
indébita: tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária
correspondente.
• É crime comum, que pode ser praticado por qual- Veja as características do crime de apropriação indé-
quer pessoa; bita previdenciária:
• Não admite a forma culposa;
• Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá- • É crime omissivo, como falado acima, já que o
ria, tratando-se de crime unissubsistente; agente não pratica a conduta que se espera dele
• É crime material, que se consuma quando o agente (repassar);
inverte a posse da coisa alheia móvel. • Não admite a modalidade culposa;
• Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o
A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando o STF, não é necessário dolo específico (especial fim
agente receber a coisa: de agir);
• Não admite tentativa;
• Em depósito necessário; • Segundo a jurisprudência, tanto do STF quanto do
• Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida- STJ, é crime material;
tário, inventariante, testamenteiro ou depositário • O STJ admite a aplicação do princípio da insignifi-
judicial; cância ao delito de apropriação indébita previden-
• Em razão de ofício, emprego ou profissão. ciária, quando o valor do débito com a Previdência
Social não ultrapassar o valor de R$ 10.000,00 (dez
Apropriação indébita previdenciária mil reais);
• O STF também admite a aplicação do princípio da
Este é um crime que possui muito posicionamento insignificância ao crime de apropriação indébita
jurisprudencial importante. Apesar de não ser cobrado previdenciária, entretanto, a Corte Suprema tem
em provas com tanta frequência, como os crimes que já sido bem mais rigorosa para com a aplicação.
vimos, é bastante importante para o seu estudo.
A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da
É importante que você conheça a conduta princi- punibilidade), caso o agente, espontaneamente, declare,
pal e as condutas equiparadas. confesse e efetue o pagamento das contribuições, im-
portâncias ou valores e preste as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regula-
FIQUE ATENTO!
mento, antes do início da ação fiscal.
Conduta principal: ficará configurada Apesar de o Código Penal estabelecer que a conduta
quando o agente deixar de repassar à pre- do agente, para que sua punibilidade seja extinta, seja
vidência social as contribuições recolhidas praticada antes do início da ação fiscal, o STF e o STJ têm
dos contribuintes, no prazo e forma legal admitido a aplicação da exclusão da punibilidade com o
ou convencional. pagamento efetuado a qualquer tempo, desde que antes
do trânsito em julgado (sentença definitiva).
Para encerrarmos o crime de apropriação indébita
Observe que o tipo penal principal é praticado na previdenciária, vamos verificar uma hipótese de perdão
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar uma judicial e de crime privilegiado.
conduta que deveria (repassar à previdência as contribui- A Lei nº 13.606/2018, lei bastante atual, diga-se de
ções recolhidas após reter os valores). passagem (importante que você preste bastante aten-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Condutas equiparadas: receberá a mesma pena do ção), acrescentou dispositivo ao Código Penal que es-
crime principal o agente que: tabelece que a faculdade atribuída ao juiz de deixar de
aplicar a pena ou de aplicar somente a pena de multa
• Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im- não se aplica aos casos de parcelamento de contribui-
portância destinada à previdência social que tenha ções cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior
sido descontada de pagamento efetuado a segu- àquele estabelecido, administrativamente, como sendo
rados, a terceiros ou arrecadada do público. mínimo para ajuizamento de suas execuções fiscais.

208
Faculta-se ao juiz: Para que este crime se configure, é necessário que
o tesouro tenha sido localizado em prédio que possua
• Deixar de aplicar a pena (perdão judicial); proprietário.
• Aplicar somente a pena de multa (crime privilegiado).
Apropriação de coisa achada
Se o agente for primário e de bons antecedentes,
desde que o agente: E aquele lance do “achado não é roubado”, ditado
popular muito do dito?
• Tenha promovido, após o início da ação fiscal e an- O crime de apropriação de coisa achada não é muito
tes de oferecida a denúncia, o pagamento da con- conhecido, mas existe.
tribuição social previdenciária, inclusive acessórios; Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia
• O valor das contribuições devidas, inclusive aces- perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, dei-
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido xando de restitui-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
pela previdência social, administrativamente, como entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de
sendo o mínimo para o ajuizamento de suas exe- 15 (quinze) dias.
cuções fiscais. Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para sua
consumação, exige que transcorra determinado período
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortui- (15 dias).
to ou força da natureza É crime comum, que pode ser praticado por qualquer
pessoa.
Neste crime, a apropriação se dá, não devido a rela- O crime de apropriação de coisa achada poderá se
ção de confiança existente entre autor e vítima, mas sim, configurar:
porque a coisa chegou ao poder do agente por erro, caso
fortuito ou força da natureza. • Se o agente deixa de restituir a coisa achada ao
Exemplo: “A” recebe em sua casa, por erro do entre- dono ou legítimo possuidor
gador das Casas Bahia, uma televisão de 50 polegadas. O • Se o agente deixa de entregar a coisa achada à au-
agente se apropria da coisa havida por erro. toridade competente.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas, pos-
teriormente, altere a posse da coisa, apropriando-se dela, Por fim, o Código Penal estabelece a possibilidade de
irá cometer o crime de apropriação de coisa havida por se aplicar aos crimes previstos no capítulo da apropria-
erro, caso fortuito ou força da natureza. ção indébita, os institutos aplicáveis ao furto privilegiado.
Este crime não admite a modalidade culposa, poden- Logo:
do ser praticado apenas a título de dolo.
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer • Se o criminoso é primário;
pessoa. • Se é de pequeno valor a coisa.
O Código Penal apresenta duas hipóteses asseme-
lhadas, punidas com a mesma pena: a apropriação de O juiz poderá:
tesouro e a apropriação de coisa achada.
• Substituir a pena de reclusão pela pena de
Apropriação de tesouro detenção;
• Diminuir a pena de 1/3 a 2/3;
Irá praticar este crime o agente que acha tesouro em • Aplicar somente a pena de multa.
prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quo-
ta a que tem direito o proprietário do prédio. ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha te-
souro em prédio que pertence a outra pessoa e se apro- Estelionato
pria da quota-parte que o proprietário do prédio tem
direito, de acordo com o Código Civil, que estabelece O crime de estelionato será praticado quando o
que o tesouro deve ser dividido igualmente entre aquele agente obtiver, para si ou para outrem, vantagem ilíci-
que achou e entre o proprietário do local em que ele foi ta, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício ardil ou qualquer outro meio
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

achado.
O Código Civil conceitua tesouro como depósito an-
fraudulento.
Observe que o crime fala em vantagem ilícita (segun-
tigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja
do a doutrina majoritária, deve ser vantagem de natureza
memória.
patrimonial), podendo ser coisa móvel ou imóvel.
O tipo penal não se caracteriza com o verbo “achar”.
A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se utiliza
Tome cuidado. Aquele que acha tesouro não comete cri- de artificio ardil (método de enganar) ou qualquer outro
me algum. A conduta criminosa se encontra no verbo tipo de fraude.
“apropriar-se”, quando o agente se apropria da parte a Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro e o
que tem direito o proprietário do prédio. agente o faz) ou mantém a vítima em erro (ela estava em
erro, o agente, de má-fé, faz com que ela permaneça).

209
No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido Lembre-se que o agente não é punido penalmente
enganada, colabora com o agente, entregando-lhe, de por causar mal somente a si mesmo, sendo assim, caso
alguma forma, a vantagem. ele se lesione com o fim de receber seguro, ele não
A condição acima, inclusive, é fator que serve para será sujeito passivo do crime. O sujeito passivo será a
diferenciar o estelionato de outros tipos penais que com seguradora.
ele possam se confundir.
Características do crime de estelionato: • Emite cheque, sem suficiente prisão de fundos em
poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento –
• Crime comum: não se exige características especí- fraude no pagamento por meio de cheque.
ficas do sujeito ativo;
• É crime material: o crime se consuma com a ocor- Leve em consideração que, para configuração des-
rência do resultado obtenção da vantagem ilícita, ta forma equiparada de estelionato é necessário que o
acarretando prejuízo a terceiro; agente saiba desde o início que não dispõe de fundos
• Não admite a forma culposa: só se pratica a título para cobrir o cheque, não se englobando nesta modali-
de dolo; dade criminosa os casos de não pagamento de cheque
• Admite a modalidade tentada. por motivos cotidianos (sem má-fé).

O estelionato privilegiado é aquele em que o agente É importante que você conheça duas súmulas do
é primário e é de pequeno valor o prejuízo, poderá o juiz, STF, referentes ao crime de fraude no pagamento por
neste caso, substituir a pena de reclusão pela pena de meio de cheque.
detenção; diminuir a pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar somen-
te a pena de multa. Súmula 521: O foro competente para o processo e jul-
Vejamos as formas equiparadas do crime de estelio- gamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade
nato, que serão submetidas às mesmas penas. da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é
Nas mesmas penas incorre quem:
o local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Súmula 554: O pagamento de cheque emitido sem
• Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou
provisão de fundos, após o recebimento da denúncia,
em garantia coisa alheia como própria – disposição
não obsta ao prosseguimento da ação penal.
de coisa alheia como própria.
Podemos concluir, pela leitura da Súmula 554, que se
O agente, neste crime, faz com que coisa alheia se
o agente pagar os valores referentes ao cheque emitido
passe como dele, enganando outrem. Os verbos previs-
tos no tipo são: vender, permutar (trocar), dar como pa-
sem fundos, antes do recebimento da denúncia, será im-
gamento, locação ou garantia. pedido o início da ação penal.
Para responder esta pergunta, você deve conhecer a
• Vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no esteliona-
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou liti- to, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
giosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, Entenda da seguinte forma: se o uso do documento
mediante pagamento em prestações, silenciando falso se exaurir (extinguir) na prática do estelionato, este
sobre qualquer dessas circunstâncias – alienação crime absorverá aquele.
ou oneração fraudulenta de coisa própria; Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois cri-
• Defrauda, mediante alienação não consentida pelo mes em concurso formal.
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, Observe as causas de aumento de pena previstas no
quando tem a posse do objeto empenhado – de- Código Penal para o estelionato.
fraudação de penhor; A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o crime
• Defrauda substância, qualidade ou quantidade, de é praticado:
coisa que deve entregar a alguém – fraude na en-
trega de coisa; • Em detrimento de entidade de direito público ou
• Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa pró- de instituto de economia popular, assistência so-
pria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava cial ou beneficência;
as consequências da lesão ou doença, com o intui- • É chamado de estelionato previdenciário.
to de haver indenização ou valor de seguro – frau-
A pena será aplicada em dobro:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

de para recebimento de indenização ou valor de


seguro.
• Se o crime de estelionato for praticado contra idoso.
O crime de fraude para recebimento de indenização
ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritária, é cri- Somente se procede mediante representação, salvo
me formal, que se consuma com a prática da conduta, in- se a vítima for:
dependentemente de o agente conseguir ou não receber
os valores referentes a indenização ou valor de seguro. • A Administração Pública, direta ou indireta;
• Criança ou adolescente;
• Pessoa com deficiência mental; ou

210
• Maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. A receptação é crime de tipo misto alternativo, po-
dendo o agente ser responsabilizado penalmente caso
Outras fraudes pratique qualquer um dos verbos descritos no tipo penal.

O crime fica configurado quando o agente tomar re- Receptação qualificada


feição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se
de meio de transporte sem dispor de recursos para efe- A receptação qualificada é aquela praticada no exer-
tuar o pagamento. cício de atividade comercial ou industrial.
É necessário (elementar do tipo penal) que o agente Será qualificada a receptação quando o agente ad-
não tenha recursos para pagar a refeição, o alojamento quirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em de-
ou o meio de transporte. pósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à
Caso o agente tenha os recursos necessários, entre- venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito pró-
tanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não cometerá o prio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
crime de outras fraudes. industrial, coisa que deve saber ser produto de crime.
Deve-se se identificar a má-fé do agente, quando da A pena no caso da modalidade qualificada será de 3
prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve saber (três) a 8 (oito) anos.
que não dispõe de recursos para pagar e mesmo assim É admitido, na receptação qualificada, tanto o dolo
utiliza dos serviços descritos. Caso ocorra um imprevisto, direto quanto o dolo eventual (coisa que deve saber ser
o agente perde seu dinheiro sem saber, por exemplo, ele produto de crime).
não será responsabilizado penalmente. Será equiparada à atividade comercial, para fins de
Trata-se de crime promovido mediante ação penal receptação qualificada, qualquer forma de comércio ir-
pública condicionada à representação da vítima. regular ou clandestino, inclusive aquele exercido em
Admite-se a aplicação do instituto do perdão judicial, residência.
já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá deixar
de aplicar a pena. Receptação culposa

RECEPTAÇÃO Segundo entendimento doutrinário majoritário, a re-


ceptação será culposa quando o agente adquirir ou re-
O crime de receptação pode ser dividido em: ceber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção
entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a ofe-
• Receptação simples; rece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.
• Receptação qualificada; Exemplo: Fulano adquiri uma motocicleta, avaliada
• Receptação culposa; em R$ 10.000,00, de Ciclano, que pediu por ela o valor de
• Receptação de animal. R$ 2.500,00. Fulano é abordado por policiais civis, iden-
tificando-se, posteriormente, que a motocicleta é objeto
Antes de iniciarmos a análise de cada uma das divi- de furto.
sões feitas acima, é importante mencionar que, segundo É possível que Fulano seja responsabilizado crimi-
posicionamento doutrinário majoritária, confirmada pela nalmente por receptação culposa, já que há muita des-
jurisprudência do STF, a coisa deve ser móvel. proporção entre o valor da coisa e o preço pedido pelo
É importante que você saiba, também, que a recepta- agente, tendo ele elementos para presumir que a coisa
ção é punível ainda que desconhecido ou isento de pena foi obtida por meio criminoso.
o autor do crime de que proveio a coisa. À receptação culposa se aplica o instituto do perdão
Logo, a punição da receptação não depende da puni- judicial, podendo o juiz deixar de aplicar a pena, levando
em consideração as circunstâncias do fato e caso o crimi-
ção do crime anterior, de que se obteve a coisa.
noso seja primário.
No caso de receptação dolosa, aplica-se o instituto
do privilégio, podendo o juiz, caso o agente seja primá-
Receptação simples
rio e seja de pequeno valor a coisa, substituir a pena de
O crime de receptação, previsto no Artigo 180 do Có- reclusão pela pena de detenção, reduzir a pena de 1/3 a
digo Penal, pratica-se quando o agente adquirir, receber, 2/3; ou aplicar somente a pena de multa.
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou Em 2017, por meio da Lei 13.531, foi inserido impor-
alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir tante dispositivo ao Código Penal, que aumenta a pena
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. do agente do dobro.


A doutrina divide a receptação simples em própria ou A pena prevista para a receptação simples (própria ou
imprópria. Conheça tal divisão: imprópria) será aplicada em dobro, tratando-se de bens
do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal,
• Receptação Própria: adquirir, receber, transportar, de Município ou de autarquia, fundação pública, empre-
conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, sa pública, sociedade de economia mista ou empresa
coisa que sabe ser produto de crime. concessionária de serviços públicos.
• Receptação Imprópria: influir para que terceiro, de
boa-fé, a adquira, receba ou oculte.

211
Receptação de animal É fundamental que você compreenda a aplicação
das disposições gerais.
Podemos entender este crime como uma forma qua-
lificada de receptação, já que se altera os patamares mí- Exemplo 1: Sandro subtrai, para si, R$ 1.500,00 na car-
nimos e máximos da pena. teira de sua esposa, com quem é casado há 5 anos.
A receptação simples tem a pena de reclusão, de 1 a No exemplo 1, será possível aplicar a Sandro a escu-
4 anos, e multa; já a receptação de animal tem a pena de sa absolutória, ficando ele isento de pena, já que prati-
reclusão, de 2 a 5 anos e multa. cou crime de furto contra a sua esposa na constância do
O crime de receptação de animal está previsto no Ar- casamento.
tigo 180-A do Código Penal. Exemplo 2: Barros, mediante uso de artifício ardil, in-
Foi inserido pela Lei 13.330/2016, sendo, portanto, duzindo a vítima a erro, obtém o aparelho celular do seu
um tipo penal bastante recente. tio Francisco, com quem mora junto há 10 anos.
Este crime será praticado quando o agente adquirir, No exemplo 2, Barros poderá ser processado pelo
receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito crime de estelionato, porém, o crime irá se proceder me-
ou vender, com a finalidade de produção ou de comer- diante ação penal pública condicionada (o estelionato é
cialização, semovente domesticável de produção, ainda crime de ação incondicionada), já que Francisco é tio e
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser coabita com o agente.
produto de crime. Exemplo 3: Jefferson pretende subtrair R$ 5.000,00 de
Aqui, também é admitido o dolo eventual (que deve seu pai Zé Maria, idoso de 65 anos de idade. Para praticar
saber ser produto de crime). o crime, Jefferson chama seu vizinho e amigo Hudson.
Semovente domesticável de produção pode ser en- Ambos entram na casa de Jefferson e, aproveitando que
tendido como o animal de bando, como bovinos e suí- Zé Maria está dormindo, subtraem os valores menciona-
nos, que constituem patrimônio de alguém, domestica- dos que estava guardado dentro de uma gaveta.
dos com finalidade produtiva. No exemplo 3, não poderá ser aplicada a escusa abso-
lutório a Jefferson e a Hudson, porque a vítima é pessoa
Exemplo: Fulano adquiri, no exercício do comércio em
seu açougue, gado abatido após ser furtado em uma fa-
que conta com mais de 60 anos de idade. Caso a idade
da vítima fosse inferior a 60 anos, poderia ser aplicada a
zenda, com a finalidade de comercializar a carne.
escusa absolutória a Jefferson, mas a Hudson não, já que
Fulano praticou o crime de receptação de animal.
este é terceiro estranho que participa do crime.
DISPOSIÇÕES GERAIS

As informações que veremos a seguir se aplicam aos EXERCÍCIO COMENTADO


crimes contra o patrimônio de maneira geral.
As disposições gerais dos crimes contra o patrimô- 1. (CESPE – 2018) Com relação aos crimes em espécie,
nio apresentam hipóteses de isenção de pena, em que o julgue o item que se segue, considerando o entendi-
crime se procederá mediante ação penal condicionada à mento firmado pelos tribunais superiores e a doutrina
representação. majoritária.
Nos casos das hipóteses de isenção de pena, estare- Situação hipotética: Um indivíduo, penalmente impu-
mos diante da doutrina chamada de escusas absolutórias.
tável, ameaçou com arma de fogo um adolescente e
O caso de ação penal condicionada é importante, já
que, em regra, os crimes contra o patrimônio se promo-
subtraiu-lhe todos os pertences, incluindo-se valores e
vem mediante ação pública incondicionada. objetos pessoais. O autor foi preso logo depois, em fla-
Será isento de pena quem cometer qualquer crime grante delito, todavia, quando da abordagem policial, já
contra o patrimônio em prejuízo: não mais portava a arma utilizada no roubo.
Assertiva: Nessa situação, o agente responderá pelo
• Do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; roubo na forma simples, sendo indispensável a apreen-
• De ascendente ou descendente, seja o parentesco são da arma de fogo pela autoridade policial para a ca-
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. racterização da correspondente majorante do crime.

Os crimes contra o patrimônio somente se procede- ( ) CERTO ( ) ERRADO


rão mediante representação se cometido em prejuízo:
Não se aplica as disposições ao lado: Resposta: Errado.
Neste caso, o agente responderá por roubo majorado,
• Se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

quando haja emprego de grave ameaça ou violên-


pois, de acordo com os tribunais superiores, dispensa-
cia à pessoa; -se a apreensão da arma quando possível comprovar
• Ao estranho que participa do crime; o seu uso por outros meios de prova.
• Se o crime é praticado contra pessoa com idade Informativo 536: Não é obrigatório que a arma de fogo
igual ou superior a 60 (sessenta) anos; seja periciada ou apreendida, desde que, outros meios
• Do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; de prova demonstrem seu potencial lesivo. Exemplos de
• De irmão, legítimo ou ilegítimo; provas: testemunhas, imagens de câmera de segurança.
• De tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

212
2. (CESPE – 2018) Cada um do item a seguir apresenta 5. (CESPE – 2013) Em cada item a seguir, é apresentada
uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser
julgada, a respeito da aplicação e da interpretação da lei julgada com base no direito penal.
penal, do concurso de pessoas e da culpabilidade. Três criminosos interceptaram um carro forte e domina-
Um indivíduo, penalmente imputável, em continuidade ram os seguranças, reduzindo-lhes por completo qual-
delitiva, foi flagrado por autoridade policial no decorrer quer possibilidade de resistência, mediante grave ameaça
da prática criminosa de furtar sinal de TV a cabo. Nessa e emprego de armamento de elevado calibre. O grupo,
situação, de acordo com o atual entendimento do Supre- entretanto, encontrou vazio o cofre do veículo, pois, por
mo Tribunal Federal, aplica-se a analogia ao caso concre- erro de estratégia, efetuara a abordagem depois que os
to, no sentido de imputar ao agente a conduta típica do valores e documentos já haviam sido deixados na agên-
crime de furto de energia elétrica. cia bancária. Por fim, os criminosos acabaram fugindo
sem nada subtrair. Nessa situação, ante a inexistência
( ) CERTO ( ) ERRADO de valores no veículo e ante a ausência de subtração
de bens, elementos constitutivos dos delitos patrimo-
Resposta: Errado. niais, ficou descaracterizado o delito de roubo, subsis-
tindo apenas o crime de constrangimento ilegal quali-
Vamos ser bem objetivos: ficado pelo concurso de pessoas e emprego de armas.
STF entende que “o sinal de TV a cabo não é energia,
e assim, não pode ser objeto material do delito previsto ( ) CERTO ( ) ERRADO
no art. 155, § 3º, do Código Penal”.
STJ entende que sinal de TV é energia, punindo-se na Resposta: Errado.
forma do art. 155, § 3º, do Código Penal. Muita atenção nesta questão. Segundo o STF, “A ine-
xistência de bens ou dinheiro em poder da vítima de
3. (CESPE – 2015) A respeito dos crimes contra o patri- roubo não caracteriza a hipótese de crime impossível,
mônio, julgue o item a seguir. O crime de extorsão me-
uma vez que o delito de roubo é complexo, cuja exe-
diante sequestro, desde que se prove que a intenção do
cução inicia-se com a violência ou grave ameaça à ví-
agente era, de fato, sequestrar a vítima, se consuma no
tima” (HC 78.700-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 16.3.99).
exato instante em que a pessoa é sequestrada, privada
de sua liberdade, independentemente de o(s) seques-
trador(es) conseguir(em) solicitar(em) ou receber(em) o CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
resgate. PÚBLICA

( ) CERTO ( ) ERRADO CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS PÚBLI-


COS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Resposta: Certo.
O crime de extorsão, mediante sequestro, art. 159, do Trata-se de crimes próprios, que exigem uma condi-
Código Penal, consuma-se com a realização da priva- ção especial do sujeito ativo: ser funcionário público.
ção da liberdade da vítima, pois se trata de crime for- Os crimes praticados por funcionário público con-
mal. Fique atento que o recebimento da quantia exi- tra a administração em geral são chamados de crimes
gida pelo sequestrador, é mero exaurimento do crime. funcionais.
Crimes funcionais são aqueles praticados contra a ad-
4. (CESPE – 2015) A respeito dos crimes contra o patri- ministração pública por indivíduo que se encontra inves-
mônio, julgue o item a seguir. tido em uma função pública.
Considere que um indivíduo tenha encontrado, na rua, Os crimes funcionais são divididos em funcionais pró-
um celular identificado e totalmente desbloqueado. Con- prios ou puros e funcionais impróprios ou impuros.
Os crimes funcionais próprios são aqueles que se-
sidere, ainda, que esse indivíduo tenha mantido o objeto
rão atípicos caso não sejam praticados por funcionários
em sua posse, deixando de restituí-lo ao dono. Nessa si-
públicos.
tuação, só existirá infração penal se o legítimo dono do
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma hipóte-
objeto tiver reclamado a sua posse e o objeto não lhe se de atipicidade absoluta.
tiver sido devolvido. Vejamos, a conduta que define o crime de prevarica-
ção será atípica caso não seja praticada por um funcio-
( ) CERTO ( ) ERRADO
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

nário público.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que se-
Resposta: Errado. rão desclassificados para outras infrações penais caso
A questão trata do crime de apropriação de coisa não sejam praticados por funcionários públicos.
achada, art. 168, II, do Código Penal. O sujeito que Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma hipóte-
acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou se de atipicidade relativa.
parcialmente, deixando de restitui-la ao dono ou legí- Já a conduta que define o crime de peculato, pratica-
timo possuidor, ou de entregá-la à autoridade compe- da por meio do verbo subtrair, será desclassificada para
tente, dentro do prazo de quinze dias, pratica o crime o crime de furto, caso não seja praticada por um funcio-
de apropriação de coisa achada. nário público.

213
O Código Penal responde a esta pergunta em seu Ar- 1. Peculato
tigo 327.
O crime de peculato, previsto no Artigo 312, é dividi-
do da seguinte forma:
#FicaDica
Considera-se funcionário público, para os • Peculato-apropriação;
efeitos penais, quem, embora transitoria- • Peculato-desvio;
mente ou sem remuneração, exerce cargo, • Peculato-furto;
emprego ou função pública. • Peculato culposo;
Como é possível de se observar, o conceito • Peculato mediante erro de outrem.
de funcionário público é bastante amplo.
No artigo 327, § 1º, o Código Penal equi- Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte divisão
para a funcionário público quem exerce para o crime de peculato:
cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa • PRÓPRIO: peculato-apropriação e peculato-desvio;
prestadora de serviço contratada ou con- • IMPRÓPRIO: peculato-furto.
veniada para a execução de atividade típica
da Administração Pública. O peculato-apropriação irá se configurar quando o
funcionário público se apropriar de dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo
Nesta situação, é necessário que a entidade ou em-
É muito importante que você fique atento, em relação
presa executem atividades típicas da administração pú-
ao peculato apropriação, ao seguinte:
blica, para que o agente venha a ser equiparado a fun-
• Para que se configure, é necessário que o agente
cionário público.
No § 2º do Artigo 327, o Código Penal apresenta uma
tenha a posse do bem em razão do seu cargo;
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes • O bem pode ser público ou particular (imagine um
praticados por funcionário público contra a administra- objeto particular apreendido numa delegacia de
ção em geral. Observe: polícia);
A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quando • O sujeito passivo é a administração pública, con-
os autores dos crimes praticados por funcionário públi-
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
co contra a administração em geral forem ocupantes de
também será sujeito passivo do delito.
cargos em comissão ou de função de direção ou assesso-
ramento de órgão da administração direta, sociedade de
O peculato-desvio irá se configurar quando o fun-
economia mista, empresa pública ou fundação instituída
cionário público desviar, em proveito próprio ou alheio,
pelo poder público.
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
É importante saber que a pena não será aumentada
particular.
caso o funcionário público ocupe cargo em comissão ou
Segundo posicionamento majoritário, apesar de algu-
função de direção ou assessoramento em autarquias, por
mas posições jurisprudenciais em sentido contrário, para
falta de previsão legal. Lembre-se que o nosso ordena-
mento jurídico não admite a analogia para prejudicar o que se configure o peculato-desvio, é necessário que o
agente. bem seja desviado para integrar o patrimônio do próprio
Os crimes funcionais admitem a coautoria de particu- funcionário público ou de terceiros, não se configurando
lar, sendo possível que este venha a ser responsabiliza- o tipo penal caso ocorra mero desvio de finalidade.
do por delito funcional contra a administração pública,
desde que pratique a infração penal em concurso com FIQUE ATENTO!
funcionário público e conheça esta qualidade.
É importante que você saiba que parte da
Vamos exemplificar: José, funcionário público, convi-
doutrina, minoritária, defende que, para
da seu amigo de infância, Jonas, para juntos, subtraírem
que se configure o peculato-desvio, não é
um computador na repartição pública que aquele traba-
necessário a intenção de assenhoramento
lha. O funcionário público obteria facilidades para prati-
(apoderar-se) por parte do funcionário pú-
car o crime, já que havia ficado com a chave da repartição
blico, podendo se configurar com o mero
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

naquele período. No dia determinado, os agentes vão ao


uso irregular da coisa pública, em proveito
local e subtraem o computador.
No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas próprio ou alheio.
responderão pelo crime de peculato (vamos estudar suas
características a seguir), já que praticaram a conduta em
Com base no que foi exposto logo acima, é importan-
concurso de pessoas e a condição de caráter pessoal (ser
te mencionar que: o peculato de uso, em regra, é consi-
funcionário público) se comunica aos demais agentes (é
derado figura atípica.
necessário que eles conheçam a condição). Segundo Cleber Masson, o uso momentâneo de coisa
infungível, sem a intenção de incorporá-lo ao patrimônio

214
pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral restitui- • O sujeito passivo é a administração pública. Caso
ção a quem de direito é atípico. o bem seja particular, também será sujeito passivo
É importante mencionar que é necessário, para que da infração penal o dono do bem.
não seja típica a conduta do peculato de uso, que o bem • É crime material.
seja infungível e não consumível, a exemplo de um carro
oficial ou de um computador. O peculato culposo, previsto no Artigo 312, § 2º, con-
Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo do figura-se quando o funcionário público concorre culpo-
dinheiro, a conduta será típica. samente para o crime de outrem.
Se a conduta relacionada ao Peculato de Uso for pra-
Dos crimes praticados por funcionário público contra
ticada por Prefeito, o fato será típico, independentemen-
a administração em geral, o peculato é o único que prevê
te da natureza do bem, por expressa previsão legal no
expressamente a possibilidade de ser cometido na mo-
Artigo 1º, II, do Decreto-Lei nº 201/1967.
O Peculato-furto irá se configurar quando o funcioná- dalidade culposa.
rio público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor No peculato culposo, o funcionário público não tem
ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, intenção em praticar o crime, contudo, por culpa, acaba
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade concorrendo para a subtração da coisa.
que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Vejamos: José, agente de polícia legislativa, esquece,
O peculato-furto pode ser praticado de duas formas: por omissão, já que queria assistir a um jogo de futebol,
de trancar uma porta da Câmara Legislativa do Distrito
• Subtraindo o dinheiro, valor ou bem; Federal, ao qual somente ele tem acesso. No ambiente
• Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro, em que a porta se encontra, há vários objetos de valor
valor ou bem. considerável para o Poder Legislativo distrital. Simba,
também policial legislativo, aproveitando-se do fato de
É importante mencionar que: a porta estar aberta, ingressa no local e subtrai uma câ-
mera fotográfica.
• Para que se configure este crime, é necessário que Neste exemplo, José poderá ser responsabilizado
o funcionário público não tenha a posse da coisa; criminalmente pelo crime de peculato culposo, já que
• Para que se configure o peculato-furto na modali- concorreu culposamente para o crime de outrem (pecu-
dade “concorrer para que seja subtraído”, é neces- lato-furto de Simba). O agente foi omisso ao deixar de
sário que o ato seja doloso; trancar a porta, fator que contribuiu para a prática da
• A qualidade de funcionário público deve acarretar subtração.
alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso Sobre o peculato culposo, as bancas cobram inten-
não haja facilidade, o agente responderá por furto samente as disposições previstas no § 3º do Artigo 312:
normalmente. a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de me-
Vamos trazer dois exemplos: tade a pena imposta.
Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Aos finais de O peculato mediante erro de outrem está previsto no
semana, ele é responsável por trancar a repartição públi- Artigo 313 do Código Penal, configurando-se quando o
ca, sendo ele o último a sair. Certo dia, na hora de sair, funcionário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
valendo-se do fato de estar sozinho na repartição, Carlos utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
subtrai um notebook do órgão público. Está certamente outrem
configurado o crime de peculato-furto, já que a condição Parte da doutrina chama esta modalidade de pecula-
de funcionário público de Carlos foi uma facilidade para to de peculato-estelionato.
que ele subtraísse o bem. É importante levar em consideração as seguintes
Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tribunal características do crime de peculato mediante erro de
Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma escola que outrem:
se encontra próxima a sua casa, Michele percebe que o
vigilante esqueceu a porta dos fundos aberta, estando • É crime material, que se consuma quando o agente
próximo um aparelho celular da escola. Michele entra inverte a propriedade do dinheiro ou outra utili-
pela porta e subtrai o aparelho. Não há que se falar em dade, sabendo que eles chegaram ao seu poder
peculato-furto, já que a qualidade de funcionária pública por erro de outra pessoa, passando a agir como se
de Michele em nada contribuiu para a prática da sub- dono fosse;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

tração, podendo qualquer pessoa, na mesma situação, • Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
praticar a conduta delituosa apresentada pelo exemplo. dade tentada;
Michele responderá pelo crime de furto. • O funcionário público deve receber a coisa em ra-
Observe que: zão do cargo que exerce;
• O sujeito passivo é a administração pública. Caso o
• Admite a modalidade tentada, já que se trata de bem seja particular, também será sujeito passivo o
crime plurissubsistente; dono do bem.
• O bem subtraído pode ser público ou particular. • Parte da doutrina entende que se a pessoa for in-
duzida a erro, irá se configurar o crime de este-

215
lionato, previsto no Artigo 171, sendo necessário, • Admite a tentativa;
portanto, para caracterização do crime de peculato • Só pode ser praticado dolosamente, exigindo-se,
mediante erro de outrem, que a vítima entregue a ainda, uma finalidade específica: obter vantagem
coisa por erro próprio. indevida ou causar dano.

2. Inserção de dados falsos em sistemas de 3. Modificação ou alteração não autorizada de sis-


informação temas de informação

O crime de inserção de dados falsos em sistemas de O crime de modificação ou alteração não autorizada
informação está previsto no Artigo 313-A do Código de sistemas de informação está previsto no Artigo 313-B,
Penal. do Código Penal.
Este tipo penal irá se configurar quando o agente mo-
dificar ou alterar sistema de informações ou programa de
#FicaDica informática sem autorização ou solicitação de autoridade
competente.
É chamado por parte da doutrina de Caso o funcionário público seja autorizado ou prati-
peculato eletrônico. que a conduta por solicitação da autoridade competente,
o fato será atípico.
A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
Inserção de dados falsos em sistemas de informação terço) até metade: caso da modificação ou alteração
é chamado de peculato eletrônico. resulte dano para a Administração Pública ou para o
A conduta que define este tipo penal é a seguinte: administrado.
Fique atento às diferenças entre os tipos penais do
• Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a in- crime de inserção de dados falsos em sistemas de infor-
serção de dados falsos, alterar ou excluir indevida- mação e do crime de modificação ou alteração não auto-
mente dados corretos nos sistemas informatizados rizada de sistemas de informação.
ou bancos de dados da Administração Pública com Inserção de Dados Falsos em Sistemas de Informação:
o fim de obter vantagem indevida para si ou para
outrem ou para causar dano. • Verbos: Inserir, facilitar a inserção, alterar, excluir
indevidamente
Para que este crime se configure, é necessário que • Deve ser praticado por funcionário autorizado
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas • Exige dolo específico de obter vantagem indevida
por funcionário público autorizado a operar os sistemas ou de causar dano
informatizados ou bancos de dados da administração
pública. Modificação ou Alteração não Autorizada de Siste-
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal mas de Informação:
descreve vários verbos que podem ser praticados para a
sua configuração. • Verbos: modificar ou alterar
Condutas: • Se praticado por funcionário autorizado, será fato
atípico
• Inserir dados falsos; • Não exige dolo específico
• Facilitar a inserção de dados falsos;
• Alterar dados corretos; 4. Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou
• Excluir indevidamente dados corretos. documento

Objeto Material: Está previsto no artigo 314 do Código Penal.


Este crime se configurará quando o agente extraviar
• Sistemas informatizados ou bancos de dados da livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guar-
Administração Pública
da em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou
parcialmente.
Finalidade (dolo específico):
Sobre este crime, é importante que você saiba:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• Obter vantagem indevida para si ou para outrem;


• Causar dano. • Trata-se de crime subsidiário, respondendo por
ele, o funcionário público, apenas se não se confi-
As características a seguir são importantes: gurar crime mais grave;
• Não admite a modalidade culposa;
• Segundo entendimento dominante, trata-se de cri- • Admite tentativa.
me formal, que se consuma no momento em que o • O extravio, a sonegação e inutilização podem ser
agente pratica as condutas previstas no tipo penal, parciais ou totais.
independentemente de conseguir efetivamente
obter a vantagem indevida ou causar dano;

216
5. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas joritário, não necessita ser patrimonial, podendo ser
qualquer outra vantagem.
Previsto no Artigo 316 do Código Penal, o crime de É importante mencionar que a concussão se dará em
emprego irregular de verbas ou rendas públicas irá se razão da função do agente público, não se exigindo que
configurar com a prática da seguinte conduta: dar às ver- o fato seja praticado no efetivo desempenho das atribui-
bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida ções do cargo. Sendo assim, este crime pode ser come-
em lei: tido por funcionário público de férias e, segundo a dou-
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res- trina dominante, nomeado, mas não empossado (antes
de assumi-la).
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o
A violência ou grave ameaça não são elementos inte-
Decreto 201/1967.
grantes do crime de concussão.
Exige que o emprego irregular se dê em benefício da
Se o funcionário público exigir o pagamento de van-
própria administração pública, contrariando a legislação, tagem indevida, mediante violência ou grave ameaça, es-
não podendo o agente desviar as verbas ou rendas em tará cometendo o crime de extorsão, previsto no Artigo
benefício próprio, sob pena de responder por outro crime. 158 do Código Penal.
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do Municí- Sobre a concussão, é importante que você conheça
pio XYZ aprova a utilização de um milhão de reais para as seguintes informações, frequentemente cobradas em
construção de uma passarela. A autoridade pública com- prova:
petente utiliza a verba mencionada para a construção de
uma escola. • Não pode ser praticada na modalidade culposa;
Pronto, configurou-se o crime de emprego irregular • Trata-se de crime formal, que se consuma com a
de verbas ou rendas públicas. O agente deu às verbas prática da exigência, sendo o recebimento da van-
públicas destinação diversa daquela estabelecida em lei. tagem mero exaurimento do crime;
Observe que a destinação da verba se deu no inte- • O particular, de quem se exigiu a vantagem inde-
resse da administração, já que, caso se dê em benefício vida, é sujeito passivo secundário deste crime. A
próprio, o agente responderá por outro crime. administração pública é o sujeito passivo primário.
É importante mencionar a aplicação da excludente de • Em regra, não admite a tentativa, salvo quando
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da
ilicitude do estado de necessidade: caso o emprego se
concussão praticada mediante carta endereçada à
dê devido a uma situação de perigo iminente (utilizou-
vítima;
-se verba pública destinada ao esporte, para se construir
• É possível se praticar a concussão indiretamente,
um abrigo durante perigo de chuvas que desabrigaram
quando, por exemplo, o funcionário público exi-
grande parte da população), o fato será típico, mas não
ge a vantagem indevida por intermédio de outra
será antijurídico.
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas públi- pessoa.
cas, é importante mencionar:
7. Excesso de exação
• Este crime será praticado pelo funcionário público
que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren- O excesso de exação, previsto no Artigo 316, § 1º, do
das públicas, podendo delas dispor; Código Penal, é uma forma de concussão. Configura-se
• Não exige nenhum fim específico; quando o funcionário público exige tributo ou contri-
• Não admite a modalidade culposa; buição social, que sabe ou deveria saber indevido, ou,
• Admite a tentativa; quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
• Não exige a ocorrência de dano pela administra- gravoso, que a lei não autoriza.
ção pública para a sua configuração. Vajamos:
José, funcionário público da prefeitura do Município
6. Concussão de Simplicidade, sabendo que seu vizinho, Márcio, deve
dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca uma faixa
Previsto no Artigo 316 do Código Penal, a concussão enorme na entrada da rua, com a seguinte escrita: Már-
é praticada quando o agente público exigir, para si ou
cio, deixe de ser irresponsável e pague os dez mil reais
para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
que você deve de tributo à prefeitura.
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta-
No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo
gem indevida.
No crime de concussão, o funcionário público, valen- uso de meio vexatório, não autorizado por lei, configu-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

do-se de sua autoridade, exige (conduta mais forte do rando-se, assim, o excesso de exação.
que apenas pedir) o pagamento de vantagem, não devi- Sobre o excesso de exação, é importante mencionar:
da pela pessoa. O particular, por temer qualquer represá-
lia por parte do funcionário público pode ou não pagar a • Não admite a modalidade culposa;
vantagem indevida. • Admite a tentativa quando for possível fracionar o
Vamos exemplificar: funcionário público, agente de iter criminis, a exemplo do excesso de exação pra-
trânsito, exige de particular a quantia de R$ 2.000,00 para ticado mediante carta endereçada à vítima;
que libere o seu veículo, sob pena de levá-lo indevida-
mente ao pátio do Detran.
A vantagem indevida, segundo posicionamento ma-

217
• Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou • É possível se praticar a corrupção passiva indireta-
de outrem, o que recebeu indevidamente para re- mente, quando, por exemplo, o funcionário públi-
colher aos cofres públicos, responderá por excesso co exige a vantagem indevida por meio de outra
de exação na modalidade qualificada. pessoa.

Quando observamos a forma qualificada do excesso O particular que paga a vantagem indevida solicita-
de exação, é possível compreender que o tipo penal não da pelo funcionário público não pratica crime algum, por
exige que o funcionário público tenha a intenção de ficar falta de tipicidade penal.
para si ou para outro aquilo que recebeu. Caso o faça, A corrupção passiva possui uma forma privilegiada.
responderá pelo crime na forma qualificada. Observe que na corrupção passiva privilegiada, o
Na concussão propriamente dita, exige-se que o fun- agente pratica a conduta não com a finalidade de conse-
cionário público pratique a conduta visando obter a van- guir alguma vantagem indevida, mas sim com a finalida-
tagem indevida para si ou para outrem, constituindo-se, de de ceder a pedido ou influência de outro.
assim, elemento de distinção entre os tipos penais. A pena da corrupção passiva será aumentada de 1/3
(um terço): se, em consequência da vantagem ou promes-
8. Corrupção passiva sa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer
ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
A corrupção passiva, prevista no Artigo 317 do Códi- Não seja surpreendido por peguinhas em prova, a
go Penal, irá se configurar quando o funcionário público corrupção passiva e a concussão se diferenciam nos ver-
solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou in- bos que configuram o tipo penal incriminador.
diretamente, ainda que fora da função ou antes de assu-
mi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar • CORRUPÇÃO PASSIVA: solicitar, receber ou aceitar
promessa de tal vantagem. promessa.
A doutrina classifica a corrupção passiva em própria • CONCUSSÃO: exigir.
ou imprópria, antecedente ou subsequente.
Corrupção passiva: 9. Facilitação de contrabando ou descaminho

• Própria: Quando o funcionário público pratica os O crime de facilitação de contrabando ou descami-


verbos do tipo penal para praticar ato ilícito. nho está previsto no Artigo 318 do Código Penal. Irá se
• Imprópria: Quando o funcionário público pratica configurar quando o funcionário público facilitar, com
os verbos do tipo penal para praticar ato lícito. infração de dever funcional, a prática de contrabando ou
• Antecedente: Quando a vantagem indevida é en- descaminho.
tregue ao funcionário público antes de sua ação ou É possível se extrair da leitura do tipo penal que o
omissão. crime será praticado pelo funcionário público que tem o
• Subsequente: Quando a vantagem indevida é en- dever funcional de evitar a prática dos crimes de contra-
tregue ao funcionário público depois de sua ação bando e descaminho.
ou omissão. A doutrina dominante entende que, caso o funcio-
nário público não tenha o dever funcional de evitar a
Entende a doutrina majoritária que o mero presen- prática do contrabando ou descaminho, responderá
te recebido pelo funcionário público, a exemplo de uma como partícipe do crime de contrabando ou do crime de
lembrancinha de natal, não configura o crime de corrup- descaminho.
ção passiva. Sobre este crime, é pertinente saber:
A vantagem indevida, segundo posicionamento ma-
joritário, não necessita ser patrimonial, podendo ser • Pode ser praticado de forma comissiva ou omissiva;
qualquer outra vantagem. • Não admite a modalidade culposa;
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração que: • É crime formal, que se consuma com a facilitação,
independente ou não de o agente conseguir prati-
• Não pode ser praticada na modalidade culposa; car o contrabando ou o descaminho;
• Trata-se de crime formal, quando praticada por • Admite a tentativa.
meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, que
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

se consuma com a conduta, sendo o efetivo rece- 10. Prevaricação


bimento da vantagem mero exaurimento do cri-
me. Quando praticada por meio do verbo receber, O crime de prevaricação é dividido em:
é crime material, que exige o efetivo recebimento
para se consumar. • Própria – prevista no Artigo 319 do Código Penal;
• Em regra, não admite a tentativa, salvo quando • Imprópria – prevista no Artigo 319-A do Código
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da Penal.
corrupção passiva praticada mediante emprego de
carta;

218
A prevaricação própria irá se configurar quando o Observe a conduta que configura este tipo penal:
funcionário público retardar ou deixar de praticar, inde-
vidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição • Deixar o funcionário, por indulgência, de responsa-
expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento bilizar subordinado que cometeu infração no exer-
pessoal. cício do cargo ou, quando lhe falte competência,
A prevaricação poderá ser praticada de 3 (três) formas não levar o fato ao conhecimento da autoridade
diferentes: competente

• Retardar indevidamente a prática de ato de ofício; Este crime pode ser praticado de duas formas:
• Deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
• Praticar ato de ofício contra disposição expressa de • Quando o funcionário público, por indulgência,
lei. deixa de responsabilizar o subordinado que come-
teu infração no exercício do cargo;
O crime de prevaricação exige um fim específico de • Quando o funcionário público, que não é com-
agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal. petente para responsabilizar aquele que cometeu
Você pode entender interesse ou sentimento pessoal infração no exercício do cargo, por indulgência,
de diversas formas: vingança, compaixão, ódio, amizade, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
preguiça, entre outros. competente.
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova:
A doutrina majoritária entende que o crime de con-
• Não admite a forma culposa; descendência criminosa só pode ser praticado por supe-
• Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou rior hierárquico.
deixar de praticar) ou comissiva (praticar); Você pode entender indulgência como compaixão,
• Admite tentativa apenas quando praticado de for- pena, piedade.
ma comissiva. Há um requisito que deve ser cumprido para a prática
da condescendência criminosa: uma infração funcional
Tentativa na prevaricação: (que pode ser uma violação administrativa ou penal) pra-
Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ticada por subordinado no exercício das atribuições do
ofício: não admite tentativa: seu cargo.
Sobre a condescendência criminosa, fique atento:
• Praticar ato de ofício contra disposição expressa de
lei: admite tentativa. • Não admite a forma culposa;
• É crime omissivo;
• Não admite tentativa.
A prevaricação imprópria irá se configurar quando o
diretor de penitenciária e/ou agente público deixar de Como é possível observar, os crimes de corrupção
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho passiva privilegiada, prevaricação e condescendência cri-
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunica- minosa possuem características similares.
ção com outros presos ou com o ambiente externo. Vejamos as diferenças:

• CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA: O agente


FIQUE ATENTO! deixa de praticar ato de ofício cedendo a pedido
A prevaricação imprópria só poderá ser pra- ou influência de outrem.
ticada pelo diretor de penitenciária ou pelo • PREVARICAÇÃO: O agente deixa de praticar ato
funcionário público que tem o dever funcio- de ofício para satisfazer sentimento ou interesse
nal de impedir que o preso tenha acesso a pessoal.
aparelho de comunicação com outros pre- • CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA: O agente deixa
sos ou com o ambiente externo. de praticar ato de ofício (responsabilizar o subal-
terno) por indulgência.

Sobre a prevaricação imprópria, é importante 12. Advocacia administrativa


NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ressaltar:
O crime de advocacia administrativa, previsto no Ar-
• Não admite a forma culposa; tigo 321 do Código Penal, pode ser praticado na modali-
• Não admite tentativa. dade simples ou qualificada.
Modalidade simples: configura-se quando o funcio-
11. Condescendência criminosa nário público patrocinar, direta ou indiretamente, inte-
resse privado perante a administração pública, valendo-
A condescendência criminosa está prevista no Artigo -se da qualidade de funcionário.
320 do Código Penal.

219
É necessário que a condição de funcionário público 14. Abandono de função
proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que pa-
trocina interesse de terceiro, pessoa privada, caso não O crime de abandono de função está tipificado no
haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, o fato Artigo 323 do Código Penal.
será atípico. A sua conduta típica é: abandonar cargo público, fora
O agente pode praticar este crime de diversas manei- dos casos permitidos em lei.
ras, como, por exemplo, fazendo uma petição, solicitan- O nome do crime é abandono de função, porém, o
do um benefício. tipo penal fala em abandono de cargo público. É impor-
Modalidade qualificada: o crime de advocacia admi- tante que você saiba que o conceito de função pública é
nistrativa será qualificado caso o interesse privado seja mais amplo que o de cargo público (não há cargo sem
ilegítimo. função, mas há função sem cargo).
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero aban-
dono de função pública (apesar do nome) ou de emprego
• FORMA SIMPLES: interesse privado legítimo.
público, mas tão somente no caso de abandono de cargo
• FORMA QUALIFICADA: interesse privado ilegítimo.
público (não se admite a analogia in malam partem).
De acordo com posicionamento doutrinário majo-
Sobre a advocacia administrativa, fique atento em sua
ritário, as hipóteses de greve não configuram este tipo
prova: penal.
As hipóteses em que o agente abandona o cargo pú-
• Não admite a modalidade culposa; blico, admitidas em lei, não configuram o crime de aban-
• É crime formal, que se consuma com a conduta, dono de função.
não se exigindo que se atinja o interesse privado O crime de abandono de função tem circunstâncias
pleiteado; que o qualificam:
• Segundo doutrina majoritária, admite tentativa
quando for possível se fracionar o iter criminis. • Se o fato resulta prejuízo público;
• Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
13. Violência arbitrária de fronteira.

Este crime, previsto no Artigo 322 do Código Pe- Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
nal, configurar-se-á quando o funcionário público pra- vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo deter-
ticar violência no exercício de função ou a pretexto de minado. Entende a doutrina que o prazo será fixado pelo
exercê-la. estatuto a que estiver submetido o funcionário público.
Conforme posicionamento doutrinário majoritá- Em regra: o prazo será de 30 (trinta) dias – prazo pre-
rio, este tipo penal foi revogado tacitamente pela Lei visto na maioria dos estatutos de servidores públicos.
4.898/1965 (Lei de Abuso de Autoridade). Sobre o crime de abandono de função, leve para a
É possível encontrar alguns posicionamentos juris- sua prova:
prudenciais, tanto do STF quanto do STJ, entendendo
que este crime continua em vigência. • É crime omissivo;
A prática da violência deve se dar em razão da função • Não admite tentativa;
pública, não havendo a exigência de que seja praticado • Só pode ser praticado dolosamente – não admite a
no efetivo desempenho das funções do cargo, podendo, culpa.
portanto, ser praticada, por exemplo, por um funcionário
público que se encontre de folga. 15. Exercício funcional ilegalmente antecipado ou
O agente que fizer uso de violência arbitrária respon- prolongado
derá por este crime e pelo crime correspondente a vio-
lência praticada. Este crime está previsto no Artigo 324 do Código
Apesar da divergência existente sobre a revogação ou Penal.
não deste tipo penal, leve em consideração que: Conduta típica: entrar no exercício de função pública
antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a
• A violência arbitrária não admite a forma culposa, exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente
devendo ser praticado dolosamente; que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:
• Admite tentativa; Este crime pode ser praticado de duas formas:
• Segundo Rogério Greco, o objeto material será o
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

administrado contra o qual é praticada a violência • Entrar no exercício de função pública antes de sa-
arbitrária; tisfeitas as exigências legais;
• A violência tem que ser praticada arbitrariamente,
• Continuar a exercer a função pública, sem autori-
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses
zação, depois de saber oficialmente que foi exone-
de uso necessário e progressivo da força, admiti-
dos em lei. rado, removido, substituído ou suspenso. É exigido
que o funcionário público tenha sido oficialmen-
te comunicado sobre sua exoneração, remoção,
substituição ou suspensão.

220
Sobre o tipo penal em comento, é importante saber: A doutrina dominante entende que o crime de viola-
ção de sigilo de proposta de concorrência foi revogado
• Não admite a forma culposa; tacitamente pela Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações).
• Admite tentativa.
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
16. Violação de sigilo funcional A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

O crime de violação de sigilo funcional se encontra Os crimes praticados por particular contra a adminis-
previsto no Artigo 325 do Código Penal. tração pública estão previstos entre os Artigos 328 e 337-
Este delito irá se configurar quando o agente públi- A do Código Penal.
co revelar fato de que tem ciência em razão do cargo Trata-se de crimes comuns, que não exigem nenhuma
e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a condição ou qualidade especial do sujeito ativo, poden-
revelação. do ser praticados por qualquer pessoa.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
1. Usurpação de função pública
• Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
e que deva permanecer em segredo; O crime de usurpação de função pública irá se con-
• Facilitar a revelação de fato de que tem ciência figurar quando o agente usurpar o exercício de função
em razão do cargo e que deva permanecer em pública.
segredo. Usurpar = apoderar-se.
Inicialmente, é importante que você não confun-
É importante mencionar que o agente toma conhe- da o usurpador de função com o funcionário ou agen-
cimento do fato que deve permanecer em segredo em te público de fato. (Assunto bastante cobrado, tanto
razão do cargo que ocupa, não se exigindo que tenha na disciplina Direito Penal, quanto na disciplina Direito
sido no efetivo desempenho das atribuições do cargo. Administrativo).
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o agente
tomar conhecimento do fato durante período de licença, • Usurpação de função pública: o agente exerce a
mas em razão do cargo. função sem nenhum tipo de investidura, apode-
O Código Penal apresenta duas formas equiparada rando-se dela. É crime.
do crime de violação de sigilo funcional. • Funcionário ou agente de fato: o Agente exerce a
Observe: função pública, por ter ocorrido alguma irregulari-
Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público dade. Não é crime
que:
FIQUE ATENTO!
• Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
mento e empréstimo de senha ou qualquer outra Segundo posicionamento doutrinário ma-
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sis- joritário, é necessário, para fins de consu-
temas de informações ou banco de dados da Ad- mação, que o agente execute algum ato
ministração Pública; inerente ao exercício da função, não con-
• Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito. figurando o crime a mera apresentação a
terceiros como funcionário público.
Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
Vamos exemplificar:
dano à Administração Pública ou a outrem.
Exemplo 1: Antônio se apresenta como policial militar
Sobre este crime, fique atento:
para seus conhecidos como forma de se autovalorizar.
Não há que se falar em configuração do crime de usur-
• Só será praticado dolosamente – não admite forma
pação de função pública, já que o agente não praticou
culposa;
nenhum ato inerente ao exercício da função policial mili-
• Em regra, não admite tentativa, salvo casos ex-
tar, podendo, conforme o caso, configurar outra infração
cepcionais, a exemplo de ser praticado na forma
penal.
escrita.
Exemplo 2: Antônio adquire, fraudulentamente, uma
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

farda da polícia militar. Em determinado dia, ele promove


17. Violação de sigilo de proposta de concorrência
uma falsa barreira e passa a abordar as pessoas que nela
passam. Há a prática do crime de usurpação de função
Este tipo penal está previsto no Artigo 326 do Código
pública, já que o agente praticou ato inerente ao exercí-
Penal.
cio da função policial militar.
Conduta típica: devassar o sigilo de proposta de con-
Você não pode confundir o crime de usurpação de
corrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de
função pública com o crime exercício funcional ilegal-
devassá-lo.
mente antecipado ou prolongado.
É um crime relacionado ao procedimento licitatório.

221
Usurpação de Função Pública: • Deve ser praticado dolosamente;
• A oposição constitui um ato positivo, devendo o
• O agente não possui vínculo algum com a adminis- agente empregar violência ou grave ameaça.
tração pública (em relação à função usurpada)
• É crime praticado por particular contra a adminis- O direito brasileiro não pune a resistência passiva,
tração pública que é aquela em que o agente resiste ao ato sem o uso
de violência ou ameaça, a exemplo daquele que, ao ser
Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou preso, deita-se no chão para impedir o ato.
Prolongado
• A violência ou ameaça deve ser empregada contra
• O agente possui algum tipo de vínculo com a ad- pessoa, não constituindo o crime se empregada
ministração pública contra coisa (posição dominante);
• É crime praticado por funcionário público contra a • É crime formal, que se consuma com a prática da
administração pública violência ou ameaça;
• Admite tentativa, nas hipóteses de fracionamento
Há uma forma qualificada do crime de usurpação de do iter criminis.
função pública:
Resistência Qualificada:
• Usurpação de função pública qualificada
• Se, em razão da resistência, o ato não se executa.
Se do fato, o agente auferir vantagem (qualquer tipo
de vantagem e não necessariamente financeira). Por fim, leve para a sua prova: o agente responderá
Sobre o crime de usurpação de função pública, é im- pela resistência e pela violência empregada.
portante que você leve em consideração: Vejamos: se, para se opor à execução de ato legal
praticado por funcionário competente, o particular usa
• Não admite a modalidade culposa; de violência, causando lesão corporal de natureza grave,
• Admite tentativa; responderá pelos dois crimes: resistência e lesão grave.
• Pode ser praticado por funcionário público, segun-
do posicionamento que prevalece, mas a função 3. Desobediência
usurpada deve ser totalmente alheia à função dele
(sendo ele considerado particular); Este crime está previsto no Artigo 330 do Código Pe-
• É crime formal, não se exigindo para a sua configu- nal. Irá se configurar quando o agente desobedecer a or-
ração prejuízo ou dano à administração pública. dem legal de funcionário público.
A ordem deve ser legal. Caso de trate de ordem ilegal,
2. Resistência não há que se falar na configuração deste tipo penal.
Sobre a desobediência, é importante que você leve
O crime de resistência está previsto no Artigo 329 do em consideração:
Código Penal.
A conduta típica deste crime é: opor-se à execução • Não admite a culpa;
de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário • Pode ser praticado tanto na forma omissiva quanto
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja pres- na forma comissiva;
tando auxílio. • Na forma omissiva, não admite tentativa, na forma
comissiva, admite;
Sobre a conduta típica, três informações são muito • Deve haver ordem emanada por funcionário
importantes: público, não caracterizando este crime a mera
solicitação.
• Exige-se que o ato praticado pelo funcionário pú-
blico seja legal; 3. Desacato
• Se o ato praticado por funcionário público for ile-
gal, não há que se falar em resistência. O crime de desacato, previsto no Artigo 331 do Có-
• Exige-se que o funcionário público seja competen- digo Penal, tem como conduta típica: desacatar funcio-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

te para executar o ato; nário público no exercício da função ou em razão dela.


• Não se exige que a violência ou ameaça seja em- Desacatar = ofender, faltar com respeito.
pregada diretamente contra o funcionário compe- Não se exige que o funcionário público esteja no efe-
tivo desempenho das atribuições do seu cargo para ca-
tente, podendo ser empregada contra o terceiro
racterização do crime de desacato, mas sim que a ofensa
que esteja auxiliando o funcionário.
se dê em razão da função pública.
Exemplo 1: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
Sobre a resistência, é importante que você leve em
que estava no exercício de sua função, de “policialzinho
consideração: de merda”, quando este estava prestes a prender aquele.

222
Exemplo 2: Diego Souza xinga Cássio, policial civil, Sobre o tráfico de influência, é importante que você
num restaurante em Porto Seguro, durante as férias de- tome cuidado com as seguintes informações:
les, de “policialzinho de merda”, pelo fato de Cássio tê-lo
prendido no passado. • A pessoa que paga a vantagem pratica indiferente
Exemplo 3: Diego Souza xinga Cássio, policial civil, de penal, por falta de previsão legal desta conduta;
“babaca sem noção”, numa partida de futebol, pelo fato • Em regra, é crime formal, consumando-se com a
deste ter pegado um pênalti daquele. solicitação, exigência ou cobrança.
Nos exemplos 1 e 2, configura-se o crime de desaca- • No caso do verbo obter, o crime é material;
to, já que a ofensa proferida pelo agente se deu em razão • Só pode ser praticado dolosamente;
da função exercida pelo funcionário público. • Exige um especial fim de agir: obter vantagem ou
No exemplo 3, não há que se falar em desacato. Em- promessa de vantagem para si ou para outrem.
bora Cássio seja funcionário público, a ofensa proferida
pelo agente em nada tem a ver com a função pública.
A pena do crime de tráfico de influência será aumen-
Sobre o desacato, é importante que você fique atento
tada de metade:
às seguintes considerações:
Se o agente alega ou insinua que a vantagem é tam-
bém destinada ao funcionário.
• O desacato pode se dar por qualquer meio: insul-
tos, vias de fato, gestos, entre outros;
• O desacato deve ser praticado contra funcionário 5. Corrupção ativa
público, não caracterizando este tipo penal a críti-
ca ou ofensa à repartição pública; O crime de corrupção ativa, previsto no Artigo 333 do
• É crime formal, que se consuma com a prática da Código Penal, é um dos tipos penais mais cobrados em
conduta descrita no tipo penal, independentemen- relação aos crimes contra a administração pública.
te de o funcionário público se considerar ofendido Conduta típica: oferecer ou prometer vantagem inde-
ou não; vida a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
• Só pode ser praticado dolosamente; omitir ou retardar ato de ofício.
• Deve ser praticado na presença do funcionário pú- Fique atento às informações a seguir, muito impor-
blico – doutrina dominante. tantes em relação à corrupção ativa:

Em dezembro de 2016, a 5ª turma do STJ decidiu pela • Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal
descriminalização do crime de desacato, por entender prevê mais de um verbo para sua prática: oferecer
que este crime viola a liberdade de expressão do indiví- e prometer;
duo, em julgamento de Habeas Corpus. • É crime formal, que se consuma com a prática da
Contudo, a 3ª seção do STJ pacificou posicionamento conduta delituosa, não se exigindo que o funcio-
do tribunal no sentido de que o desacato continua sendo nário público aceite a vantagem ou promessa de
crime, que não viola a liberdade de expressão. vantagem;
• Não admite a forma culposa;
4. Tráfico de influência • Exige-se dolo específico: a intenção de determinar
o funcionário público a praticar, omitir ou retardar
O crime de tráfico de influência está previsto no Arti- ato de ofício;
go 332 do Código Penal. • O verbo pagar não faz parte do tipo penal. Por-
Conduta típica: solicitar, exigir, cobrar ou obter, para
tanto, caso o particular pague vantagem solicitada
si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
ou exigida por funcionário público, não praticará
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário pú-
crime algum.
blico no exercício da função.
• A pena da corrupção ativa será aumentada de 1/3
Trata-se de crime plurinuclear, que pode ser praticado
com o exercício de qualquer um dos verbos previstos no
(um terço): se em razão da vantagem ou promessa,
tipo penal:
o funcionário público retarda ou omite ato de ofí-
cio, ou o pratica infringindo dever funcional
• Solicitar
• Exigir
Você não pode confundir os crimes de corrupção ati-
va, corrupção passiva e concussão:
• Cobrar
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• Obter
Corrupção Ativa:
O agente não tem influência sobre o funcionário pú-
blico, mas passa a impressão de que a tem, com a finali-
• Verbos: oferecer e prometer;
dade de obter vantagem ou promessa de vantagem.
• Crime praticado por particular contra a administra-
Caso o agente realmente tenha poder de influência
ção da justiça.
sobre o funcionário público que praticará o ato, não há
que se falar em tráfico de influência, podendo, no entan-
to, configurar-se outro crime.

223
Corrupção Passiva: de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
residências.
• Verbos: solicitar, receber e aceitar promessa; A pena do crime de descaminho será aplicada em do-
• Crime praticado por funcionário público contra a bro se o crime é praticado em transporte aéreo, marítimo
administração pública. ou fluvial.
Sobre o crime de descaminho, é importante que você
Concussão: leve em consideração:

• Verbo: exigir; • Trata-se de crime comum, que pode ser praticado


• Crime praticado por funcionário público contra a por qualquer pessoa;
administração pública. • Admite a forma tentada;
• A fraude utilizada pelo agente para iludir o paga-
mento de imposto pode se dar tanto em relação
6. Descaminho e contrabando
à quantidade quanto em relação à qualidade do
produto;
Os crimes de descaminho e contrabando, previstos
• Não admite a modalidade culposa;
nos Artigos 334 e 334-A, respectivamente, do Código
• Admite a aplicação do princípio da insignificância,
Penal, constituem práticas distintas, que devem ser ob- nos casos em que o valor seja inferior àquele con-
servadas por vocês. siderado irrelevante para fins de execução fiscal;
Vamos simplificar estes crimes:
Descaminho: consiste em não pagar direito ou impos- Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente, po-
to devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria; derá ser aplicado o princípio da insignificância ao crime
Contrabando: consiste na importação ou exportação de descaminho que não exceda o valor de R$ 20.000,00
de mercadoria proibida. (vinte mil reais).
No descaminho, a mercadoria não tem a comerciali-
zação proibida no território brasileiro, já no contrabando, CONTRABANDO
sim.
No passado, os dois tipos penais estavam previstos Conduta típica: importar ou exportar mercadoria
no mesmo dispositivo. Contudo, houve alteração e, no proibida.
momento, cada um destes crimes integra um tipo penal São figuras equiparadas ao crime de contrabando, in-
distinto. correndo nas mesmas penas quem:

DESCAMINHO
• Pratica fato assimilado, em lei especial, a contraban-
Conduta típica: iludir, no todo ou em parte, o paga- do;
mento de direito ou imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo de mercadoria. • Importa ou exporta clandestinamente mercadoria
São figuras equiparadas ao crime de descaminho, in- que dependa de registro, análise ou autorização de
correndo nas mesmas penas quem: órgão público competente;

• Pratica navegação de cabotagem, fora dos casos • Reinsere no território nacional mercadoria brasileira
permitidos em lei; destinada à exportação;
• Pratica fato assimilado, em lei especial, a descami-
nho; • Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
• Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou no exercício de atividade comercial ou industrial,
alheio, no exercício de atividade comercial ou in- mercadoria proibida pela lei brasileira;
dustrial, mercadoria de procedência estrangeira que
introduziu clandestinamente no País ou importou • Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de intro- alheio, no exercício de atividade comercial ou indus-
dução clandestina no território nacional ou de im- trial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

portação fraudulenta por parte de outrem;


• Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou O Código Penal equipara, para os efeitos do crime
alheio, no exercício de atividade comercial ou indus- de contrabando, à atividade comercial qualquer forma
trial, mercadoria de procedência estrangeira, desa- de comércio irregular ou clandestino de mercadorias es-
companhada de documentação legal ou acompa- trangeiras, inclusive o exercido em residências.
nhada de documentos que sabe serem falsos. O crime de contrabando apresenta, também, uma
causa que aumenta a pena pelo dobro para o caso de
O Código Penal estabelece que a atividade comercial o crime ser praticado em transporte aéreo, marítimo ou
é equiparada, para os efeitos do crime de descaminho, fluvial.
a qualquer forma de comércio irregular ou clandestino

224
Sobre o crime de contrabando, é importante que ção federal, estadual ou municipal, ou por entida-
você leve para a sua prova: de paraestatal;
• É crime formal nas seguintes condutas: afastar ou
• Trata-se de crime comum, que pode ser praticado procurar afastar concorrente ou licitante, por meio
por qualquer pessoa; de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimen-
• Não admite a modalidade culposa; to de vantagem;
• Admite tentativa; • Admite tentativa.
• Não admite a aplicação do princípio da
insignificância. 8. Inutilização de edital ou de sinal

É importante mencionar que no caso de produtos es- Conduta típica: rasgar ou, de qualquer forma inutilizar
pecíficos, a exemplo de armas de fogo ou substâncias ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
entorpecentes, irá prevalecer a aplicação da legislação público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por
especial, aplicando-se, respectivamente, o estatuto do determinação legal ou por ordem de funcionário público,
desarmamento (Lei 10.826/2003) e a Lei de Drogas (Lei para identificar ou cerrar qualquer objeto.
11.343/2006). O crime de inutilização de edital ou de sinal, previsto
no Artigo 336 do Código Penal, é de ação múltipla, po-
7. Impedimento, perturbação ou fraude de dendo ser praticado da seguinte forma:
concorrência
• Rasgar ou, de qualquer forma inutilizar ou cons-
Praticará o crime de impedimento, perturbação ou purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não
fraude de concorrência, previsto no Artigo 335 do Có- possa ser utilizado) edital afixado por ordem de
digo Penal, o agente que impedir, perturbar ou fraudar funcionário público;
concorrência pública ou venda em hasta pública, promo- • Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por
vida pela administração federal, estadual ou municipal, determinação legal ou por ordem de funcionário
ou por entidade paraestatal. público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual-
Afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, quer objeto.
por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofereci-
mento de vantagem. Sobre o crime de inutilização de edital ou de sinal,
Trata-se de tipo penal misto alternativo (crime de leve em consideração:
ação múltipla), que poderá ser praticado mediante a exe-
cução de vários verbos: • É crime comum;
• Só pode ser praticado dolosamente;
• Impedir; • Admite tentativa;
• Perturbar; • Segundo posicionamento doutrinário dominante,
• Fraudar; caso a conduta seja praticada quando não mais
• Afastar; produz efeito o edital (fora do seu prazo de vali-
• Procurar afastar. dade, por exemplo), não irá se configurar este tipo
penal;
Caso o crime seja praticado mediante violência, o
agente responderá também por ela (detenção, de seis 9. Subtração ou inutilização de livro ou documento
meses a dois anos, ou multa, além da pena correspon-
dente à violência). O crime de subtração ou inutilização de livro ou do-
Forma equiparada: responderá com a mesma pena cumento, previsto no Artigo 337 do Código Penal.
do impedimento, perturbação ou fraude de concorrência Conduta típica: subtrair, ou inutilizar, total ou parcial-
o agente que se abstém de concorrer ou licitar, em razão mente, livro oficial, processo ou documento confiado à
da vantagem oferecida. custódia de funcionário, em razão de ofício ou de parti-
Responderá pelo crime em sua forma equiparada o cular em serviço público.
agente que se abster de concorrer ou licitar, devido à Sobre o este tipo penal, é importante que você fique
vantagem oferecida. Caso seja por algum outro motivo, atento ao seguinte:
como por violência ou grave ameaça, aquele que se abs-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ter não será responsabilizado criminalmente. • É crime comum;


Sobre este crime, é importante que você fique atento • Admite tentativa;
ao seguinte: • É crime subsidiário, respondendo o agente por ele
apenas caso não se configure um crime mais grave;
• Não admite forma culposa; • Somente será praticado na modalidade dolosa.
• É crime comum;
• É crime material nas seguintes condutas: impedir,
perturbar ou fraudar concorrência pública ou ven-
da em hasta pública, promovida pela administra-

225
10. Sonegação de contribuição previdenciária CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
O crime de sonegação de contribuição previdenciária
está previsto no Artigo 337-A, do Código Penal. Dividem-se em dois tipos penais:
Conduta típica: Suprimir ou reduzir contribuição so-
cial previdenciária e qualquer acessório, por meio das • Corrupção ativa em transação comercial
seguintes condutas: internacional;
• Tráfico de influência em transação comercial
• Omitir de folha de pagamento da empresa ou de internacional.
documento de informações previsto pela legisla-
ção previdenciária segurados empregado, empre- Inicialmente, é importante destacar quem é o funcio-
sário, trabalhador avulso ou trabalhador autôno- nário público estrangeiro e quem se equipara a funcioná-
rio público estrangeiro.
mo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
• Deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios
Funcionário Público Estrangeiro:
da contabilidade da empresa as quantias descon-
tadas dos segurados ou as devidas pelo emprega-
• Quem, ainda que transitoriamente ou sem remu-
dor ou pelo tomador de serviços; neração, exerce cargo, emprego ou função pública
• Omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros em entidades estatais ou em representações diplo-
auferidos, remunerações pagas ou creditadas e máticas de país estrangeiro.
demais fatos geradores de contribuições sociais
previdenciárias. Equipara-se a Funcionário Público Estrangeiro:

Extinção da punibilidade: caso o agente, de forma es- • Quem exerce cargo, emprego ou função em em-
pontânea, declare ou confesse as contribuições, impor- presas controladas, diretamente ou indiretamente,
tâncias ou valores e preste as informações devidas à pre- pelo Poder Público de país estrangeiro ou em or-
vidência social, na forma definida em lei ou regulamento, ganizações públicas internacionais.
antes do início da ação fiscal (não se exige o pagamento
do tributo sonegado). 1. Corrupção ativa em transação comercial
A declaração ou confissão e a prestação das informa- internacional
ções deverão ocorrer antes do início da ação fiscal.
Sobre o crime de sonegação de contribuição previ- O crime de corrupção ativa em transação comercial
denciária, é importante ficar atento ao seguinte: internacional, previsto no Artigo 337-B do Código Penal,
é bastante parecido com o tipo penal de corrupção ativa,
• Não admite a modalidade culposa; crime praticado por particular contra a administração em
• De acordo com o Artigo 34 da Lei 9.249/95, con- geral, que já analisamos.
firmado pela doutrina majoritária, o pagamento Veja a figura típica: prometer, oferecer ou dar, direta
integral do tributo ou contribuição social, após a ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário pú-
ação fiscal, mas antes do recebimento da denún- blico estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo
cia, também acarretará a extinção da punibilidade; a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à
transação comercial internacional:
Lei 9.249/1995 Corrupção Ativa em Transação Comercial Internacional:

Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes defini- • Verbos: prometer, oferecer e dar;
dos na Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei • Fim específico: determinar o funcionário público es-
4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente pro- trangeiro a praticar, omitir ou retardar ato de ofício
mover o pagamento do tributo ou contribuição social, relacionado à transação comercial internacional.
inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.
Corrupção Ativa:
Segundo posicionamento adotado pelo STF, haverá a Verbos: oferecer e prometer;
extinção da punibilidade deste crime caso ocorra o pa- Fim específico: determinar o funcionário público a
gamento do débito desde que ocorra antes da sentença praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

penal definitiva: O crime de corrupção ativa em transação comercial


internacional terá sua pena aumentada de 1/3 (um terço)
• A competência para julgar o crime de sonegação se:
de contribuição previdenciária é da justiça federal;
• Admite a forma tentada; • Em razão da vantagem ou promessa, o funcionário
• É crime material; público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofí-
• Este tipo penal admite a aplicação do princípio da cio, ou o pratica infringindo dever funcional.
insignificância, excluindo-se, assim, a tipicidade
material do crime.

226
Sobre este crime, é importante mencionar que: CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Só poderá ser praticado dolosamente; Os crimes contra a administração da justiça têm como
• É crime comum; finalidade proteger uma regular fruição da atividade ju-
• Nos verbos oferecer e prometer, trata-se de crime dicial brasileira, incluindo atividades de natureza policial.
formal, de consumação antecipada; A atividade judicial é de fundamental importância
• No verbo dar, trata-se de crime material, que se para a sociedade, necessitando, assim, de proteção por
consuma com a obtenção do resultado; parte do Direito Penal.
• Admite tentativa, quando for possível fracionar o
iter criminis. 1. Reingresso de estrangeiro expulso

2. Tráfico de influência em transação comercial Este crime, previsto no Artigo 338 do Código Penal,
internacional irá se configurar quando o estrangeiro que foi expulso do
Brasil reingressar ao território nacional.
O crime de tráfico de influência em transação comer-
cial internacional, previsto no Artigo 337-C do Código
FIQUE ATENTO!
Penal, é muito parecido com o crime de tráfico de in-
fluência, crime praticado por particular contra a adminis- O agente será responsabilizado penalmen-
tração em geral, previsto no Artigo 332 do Código Penal. te, podendo, ainda, sofrer nova expulsão do
Figura típica do tráfico de influência em transação território brasileiro.
comercial internacional: solicitar, exigir, cobrar ou obter,
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, van-
tagem ou promessa de vantagem a pretexto de influir Sobre o crime de reingresso de estrangeiro expulso, é
em ato praticado por funcionário público estrangeiro no importante ficar atento ao seguinte:
exercício de suas funções, relacionado a transação co-
mercial internacional. • É crime de mão própria, praticado pelo estrangeiro
Tráfico de Influência em Transação Comercial expulso, não podendo a figura típica ser praticada
Internacional: por intermédio de terceira pessoa.

• Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter; O fato de o crime ser de mão própria não exclui a
• Pretexto: influir em ato praticado por funcionário possibilidade de concurso de pessoas na modalidade
público estrangeiro no exercício de suas funções, participação.
relacionado a transação comercial internacional. É necessário, para configuração do crime, que o es-
trangeiro tenha ciência de que foi expulso do território
Tráfico de Influência: brasileiro.

• Verbos: solicitar, exigir, cobrar ou obter; • Admite tentativa;


• Pretexto: influir em ato praticado por funcionário • É crime material, que se consuma com o devido
público no exercício da função. reingresso ao território nacional;
• Trata-se de crime de competência da justiça
O crime de tráfico de influência em transação comer- federal.
cial internacional terá sua pena aumentada da metade se:
3. Denunciação caluniosa
• Se o agente alega ou insinua que a vantagem é
também destinada ao funcionário A denunciação caluniosa está prevista no Artigo 339
do Código Penal.
Em relação a este tipo penal, é importante ficar atento Tem como figura típica a seguinte conduta: dar causa
ao seguinte: à instauração de investigação policial, de processo judi-
cial, instauração de investigação administrativa, inqué-
• Só poderá ser praticado dolosamente; rito civil ou ação de improbidade administrativa contra
• É crime comum; alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• Nos verbos solicitar, exigir e cobrar, trata-se de cri- Como é possível se extrair pela leitura da figura típi-
me formal, de consumação antecipada; ca que o crime pode ser praticado mesmo que o agen-
• No verbo obter, trata-se de crime material, que se te dê causa a outro procedimento, ainda que não seja
consuma com a obtenção do resultado; processo judicial, a exemplo de investigação policial ou
• Admite tentativa, quando for possível fracionar o administrativa. É importante compreender isso. Muitas
iter criminis; questões abordam esta situação.
Sobre o crime de denunciação caluniosa, é importan-
te ficar atento ao seguinte:

227
• Só pode ser praticado dolosamente;
FIQUE ATENTO!
Parte da doutrina não admite o dolo eventual neste
crime, já que o tipo penal exige que o agente saiba que o Ao contrário do que ocorre no crime de de-
fato é imputado contra pessoa inocente. nunciação caluniosa, no crime de falsa comu-
A denunciação caluniosa poderá se configurar quan- nicação de crime ou contravenção, o agente
do o agente imputa crime que realmente aconteceu con- não individualiza o autor, imputando a al-
tra pessoa que sabe ser inocente ou quando imputa a guém o fato que não existiu, mas apenas co-
alguém a prática de crime que não existiu (neste caso munica à autoridade crime ou contravenção
não há dúvidas sobre a inocência da pessoa, já que o fato penal que sabe não ter ocorrido.
sequer aconteceu).

• É necessário que o fato imputado seja CRIME ou Sobre este crime, é importante mencionar que:
CONTRAVENÇÃO PENAL (no caso de contraven-
ção penal, a pena será reduzida de metade), não se • Não admite a forma culposa. Assim, se o agente
configurando este tipo penal caso o agente impute comunica à autoridade, sem intenção, crime ou
infração administrativa ou civil; contravenção penal, provocando a ação desta, este
• É crime comum; tipo penal não estará configurado.
• Admite a forma tentada; • É crime comum;
• A pessoa contra quem se imputa o crime deve ser • Admite tentativa;
determinada, sendo ela, assim como o Estado, su- • Se o fato imputado for infração administrativa ou
jeito passivo da prática delituosa; civil, não irá se configurar o crime.
• Em regra, a denunciação caluniosa absorve o crime
de calúnia. Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção:

A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte). • O agente não aponta pessoa certa e determinada
Caso o agente se sirva de anonimato ou de nome como autora da infração penal, mas apenas comu-
suposto. nica fato inexistente
A pena será diminuída de metade.
Caso a imputação seja de prática de contravenção Denunciação Caluniosa
penal.
Observe as principais diferenças entre a denunciação • O agente aponta pessoa certa e determinada como
caluniosa e o crime de calúnia. autora da infração penal
Denunciação Caluniosa:
Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Facebook
• É crime contra a administração da justiça relacionada a um aborto. De imediato, ligou em uma de-
• A ação penal é pública incondicionada legacia de polícia e comunicou o crime ao delegado de
• Punida pelo fato de o agente movimentar falsa- polícia, que iniciou as investigações sobre o fato. Entre-
mente o aparato estatal, tentando prejudicar a víti- tanto, não sabia José Carlos que o aborto não existiu, já
ma perante o Estado que a publicação se tratava de uma brincadeira por parte
• É admitida a imputação falsa de crime ou contra- daquele que a realizou.
venção penal Não há que se falar em figura típica da comunicação
falsa de crime, já que o agente não teve dolo de comuni-
Calúnia: car falsamente o fato que não existiu.

• É crime contra a honra 5. Autoacusação falsa


• A ação penal é privada
• Punida pelo fato de o agente ofender a honra ob- Este crime se configura quando o agente se acusar,
jetiva da vítima perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado
• É admitida a imputação falsa apenas de crime por outrem.
É possível a configuração deste tipo penal quando o
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

4. Comunicação falsa de crime ou contravenção agente se acusar de:

Configura-se este tipo penal quando o agente provo- • Crime não existente (a conduta criminosa sequer
car a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência foi praticada, sequer existiu);
de crime ou de contravenção penal que sabe não se ter • Crime existente, mas praticado por outra pessoa (a
verificado. conduta criminosa foi realmente realizada, mas foi
outro indivíduo que a praticou).

228
Sobre a autoacusação falsa, é importante levar em • Seja realizada no processo em que ocorreu o ilícito
consideração: (no processo em que se deu o falso e não no pro-
cesso referente ao falso);
• Só pode ser praticado dolosamente; • Se realizada antes da sentença (ainda prevale-
• Admite a modalidade tentada; ce o entendimento de que se trata da sentença
• Não se exige que seja praticado apenas perante recorrível).
a autoridade policial, mas na presença de qual-
quer autoridade competente (delegado de polícia, Não irá responder pelo crime de falso testemunho a
membro do Ministério Público, autoridade judicial, pessoa que praticar as condutas descritas no tipo penal
etc.); incriminador com a finalidade de não se autoincriminar.
• Não se exige a prática de qualquer ato por parte da Lembre-se que ninguém será prejudicado por não pro-
autoridade para a consumação do crime, bastando duzir provas contra si mesmo.
a autoacusação falsa. O Artigo 343 do Código Penal apresenta um outro
tipo penal, chamado por parte da doutrina de corrup-
6. Falso testemunho ou falsa perícia ção ativa de testemunha contador, perito, intérprete ou
tradutor.
O crime de falso testemunho ou falsa perícia está pre- A figura típica é: dar, oferecer ou prometer dinheiro
visto no Artigo 342 do Código Penal. ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, con-
O crime tem a seguinte conduta típica: fazer afirma- tador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa,
ção falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálcu-
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo ju- los, tradução ou interpretação.
dicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
arbitral. • Verbos: dar, oferecer ou prometer;
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser prati- • Destinatário: testemunha, perito, contador, tradu-
cado mediante a execução de quaisquer um dos verbos tor ou intérprete;
previstos no tipo penal. • Finalidade: fazer com que as pessoas façam afirma-
O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão a ção falsa, neguem ou calem a verdade em depoi-
pena do agente. As penas aumentam-se de 1/6 (um sex- mento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação.
to) a um terço, se o crime é
As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a um
• Praticado mediante suborno terço), se o crime é:
• Cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal • Cometido com o fim de obter prova destinada a
• Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal;
produzir efeito em processo civil em que for par- • Cometido com o fim de obter prova destinada a
te entidade da administração pública direta ou produzir efeito em processo civil em que for par-
indireta. te entidade da administração pública direta ou
indireta.
Sobre o crime de falso testemunha ou falsa perícia, é
importante levar para a sua prova: Sobre o crime de corrupção ativa de testemunha con-
tador, perito, intérprete ou tradutor, é importante ficar
• Não admite a forma culposa; atento ao seguinte:
• É crime de mão própria, que só poderá ser pratica-
do por uma das pessoas previstas no tipo penal; • Não pode ser praticado culposamente;
• Nos verbos oferecer ou prometer, é crime formal;
• No verbo dar, é crime material;
Segundo posicionamento doutrinário dominante: • Admite tentativa, quando for possível fracionar o
iter criminis.
• O falso testemunho não admite coautoria, mas é
possível a participação; 7. Coação no curso do processo
• A falsa perícia admite coautoria e participação.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Este crime, previsto no Artigo 344 do Código Penal,


O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos ver- configura-se com a seguinte conduta típica: usar de vio-
bos previstos no tipo penal não pratica o crime de falso lência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse
testemunho, já que ele não é testemunha; próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer
Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá ter outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em
extinta a punibilidade do crime, desde que: processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo
arbitral.
O crime de coação no curso do processo é aquele em
que, para beneficiar a si ou a terceiro, o agente emprega

229
de violência ou grave ameaça contra pessoas que partici- • É crime comum, que pode ser praticado por qual-
pam do processo ou juízo arbitral. quer pessoa;
Suponha que André tenha praticado um crime de • Só poderá ser praticado dolosamente;
roubo a um supermercado, estando ele sendo proces- • Admite tentativa;
sado por isso. Thais, funcionária do supermercado, é • Caso o agente pratique o crime com emprego de
testemunha, tendo sido marcado um dia para que ela violência, responderá também por ela.
comparecesse em juízo para dar seu depoimento. André,
com a finalidade de favorecer seus próprios interesses, No Artigo 346 do Código Penal, há uma outra figura
vai à casa de Thais e, utilizando-se de uma arma de fogo típica, bastante parecida com o crime de exercício arbi-
para ameaçá-la, exige que ela diga que não foi ele quem trário das próprias razões.
praticou o fato, mas outra pessoa. Observe: tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
André praticou o crime de coação no curso do pro- própria, que se acha em poder de terceiro por determi-
cesso, já que empregou de grave ameaça contra pessoa nação judicial ou convenção
chamada a intervir em processo judicial. Sobre este tipo penal, é importante salientar:
Caso o agente utilize de violência para praticar o
crime de coação no curso do processo, responderá por • Só pode ser praticado dolosamente;
este, além da pena correspondente à violência. • É crime de ação múltipla, que irá se configurar com
Sobre a coação no curso do processo, fique atento às a prática de quaisquer um dos verbos previstos no
seguintes informações: tipo penal: tirar, suprimir, destruiu ou danificar;
• Exige-se que a coisa seja própria do agente que
• Pode ser praticado contra as autoridades respon- praticou a conduta delituosa;
sáveis pela condução do processo, como: juízes, • O objeto deve estar em poder de terceiro por de-
promotores, delegados de polícia, entre outros; terminação judicial ou convenção. Se for por outro
• Só pode ser praticado dolosamente; motivo, não se configurará este crime;
• Exige-se o dolo específico por parte do agente de
• Admite tentativa.
favorecer interesse próprio ou alheio;
• É crime formal, que se consuma com o uso de vio-
9. Fraude processual
lência ou grave ameaça, independentemente de o
coagido ceder;
Com previsão legal no Artigo 347 do Código Penal,
• Admite a forma tentada;
o crime de fraude processual irá se configurar quando o
agente inovar artificiosamente, na pendência de proces-
8. Exercício arbitrário das próprias razões
so civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou
de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
Com previsão no Artigo 345 do Código Penal, o cri-
me de exercício arbitrário das próprias razões tem como Aplica-se a pena em dobro.
figura típica a seguinte conduta: fazer justiça pelas pró- Se a inovação se destina a produzir efeito em proces-
prias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, so penal, ainda que não indiciado o agente.
salvo quando a lei o permite. Carlos praticou o crime de homicídio, ao matar Cláu-
Observe a parte final da figura típica: salvo quando a dio, que lhe devia uma quantia em dinheiro. Com a fina-
lei o permite. lidade de simular uma hipótese de legítima defesa, para
Pode-se concluir que, quando houver permissão induzir o perito a erro, Carlos coloca, fraudulentamente,
legal, o agente que fizer justiça com as próprias mãos nas mãos da vítima, uma arma de fogo, modificando o
não será responsabilizado criminalmente. Assim, caso estado de pessoa.
o agente mate alguém em legítima defesa, não será ele Carlos praticou o crime de fraude processual, respon-
responsabilizado criminalmente. dendo pelo crime com a pena dobrada, já que inovou
Kelmon é proprietário de uma casa, que se encon- artificiosamente, na pendência de processo penal.
tra alugada para Diogo. O inquilino está devendo 6 (seis) Sobre o crime de fraude processual, fique atento ao
meses de aluguel. Kelmon, indignado com a situação, vai seguinte:
até o local, troca todas as fechaduras e coloca os objetos
pessoais de Diogo do lado de fora. • É crime comum;
Kelmon praticou o crime de exercício arbitrário das • Não admite a modalidade culposa;
próprias razões, já que fez justiça com as próprias mãos, • Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

para satisfazer pretensão legítima (ele tinha o direito de perito;


receber os valores correspondentes ao aluguel de seu • É crime formal, que se consuma com a prática da
imóvel). conduta prevista no tipo penal, ainda que não seja
A pretensão do agente deveria ter sido solucionada efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
pelos meios legais pertinentes. • Admite a modalidade tentada;
Sobre o exercício arbitrário das próprias razões, deve-
-se ficar atento ao seguinte:

230
10. Favorecimento pessoal 11. Favorecimento real

O favorecimento pessoal, previsto no Artigo 348 do Previsto no Artigo 349 do Código Penal, o favoreci-
Código Penal, irá se configurar quando o agente auxiliar mento real tem como figura típica a seguinte conduta:
a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de
a que é cominada pena de reclusão. receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito
Este tipo penal pode gerar algumas dúvidas em você. do crime.
Para esclarecê-las, vamos analisar alguns exemplos: Requisitos do favorecimento real:
Exemplo 1: Junior pratica o crime de roubo. O dele-
gado de polícia da região está a sua procura. O autor do • Prestar auxílio a criminoso;
crime pede para se esconder do delegado na casa de Da- • O auxílio é destinado a tornar seguro o proveito do
nilo, seu amigo. Danilo, em sua casa, esconde Junior. Ju- crime (que já ocorreu);
nior responderá pelo crime de roubo; Danilo, pelo crime • Aquele que presta auxílio não pode ser coautor ou
de favorecimento pessoal, já que auxiliou a se subtrair receptador do crime praticado anteriormente.
da ação de autoridade pública autor de crime a que se
comina pena de reclusão. Ao favorecimento real, não se aplica a escusa penal
Exemplo 2: Francisco, Jefferson e César combinam um absolutória mesmo que a conduta seja praticada pelo as-
crime de roubo. Francisco e Jefferson vão praticar o ver- cendente, descendente, cônjuge ou irmão.
bo descrito no tipo penal, César irá dar fuga aos agen- Sobre o favorecimento real, é importante mencionar
tes. O crime é praticado, os policiais acabam tomando que:
conhecimento da prática delituosa e vão atrás dos cri-
minosos, contudo, eles conseguem se evadir. todos os • Não admite a culpa.
agentes responderão apenas pelo crime de roubo. Não • Admite tentativa;
se aplicando a César, responsável pela fuga, o crime de • O auxílio não pode ter sido combinado previamen-
favorecimento pessoal, porque, para que se configure te pelos agentes, caso seja, não haverá o crime de
este crime, não pode o agente ter participado do crime favorecimento real, mas sim participação;
anterior e nem pode haver liame subjetivo prévio entre
• É crime comum.
• Há uma conduta típica, prevista no Artigo 349-A
os agentes.
do Código Penal, inserida no ano de 2009, cha-
Este crime apresenta uma forma privilegiada, ao qual
mado por parte da doutrina de favorecimento real
se comina uma pena mais branda: se ao crime pratica-
impróprio.
do não é cominada pena de reclusão (detenção, por
exemplo).
Observe: ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou
Ficará isento de pena (escusa penal absolutória), caso
facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunica-
a conduta que configura o favorecimento pessoal seja
ção móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
praticado pelo: estabelecimento prisional.
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser prati-
• Ascendente; cado mediante a execução de quaisquer um dos verbos
• Descendente; descritos no tipo penal incriminador.
• Cônjuge; Sobre este crime, é importante levar para a sua prova:
• Irmão.
• Não admite a culpa;
Sobre o favorecimento pessoal, leve para a sua prova • Caso haja autorização legal para ingresso do apa-
o seguinte: relho, o fato será atípico;
• É crime comum;
• Não pode ser praticado culposamente; • A pessoa que se encontra presa poderá responder
• É crime comum; por este tipo penal, contudo, caso apenas utilize
• O crime se consuma com o êxito na subtração do o aparelho que ingressou no estabelecimento pri-
criminoso; sional, não será punido por este crime, cometendo
• Caso não ocorra êxito na subtração, haverá a mo- apenas falta grave, de acordo com a Lei de Execu-
dalidade tentada; ções Penais.
• É crime acessório, que exige a ocorrência de delito
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

anterior; 12. Exercício arbitrário ou abuso de poder

• Não pratica o crime o agente que auxiliar a sub- Este crime, previsto no Artigo 350 do Código Penal,
trair-se à ação de autoridade pública autor de con- encontrava-se revogado tacitamente pela Lei de Abuso
travenção penal. de Autoridade, Lei 4.898/1965.
Com a Lei nº 13.964/2019, o crime foi expressamente
revogado.

231
13. Fuga de pessoa presa ou submetida à medida Caso não haja emprego de violência ou se esta for
de segurança empregada contra coisa, não irá se configurar este crime.
Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciária fe-
Previsto no Artigo 351 do Código Penal, este crime minina, para fugir, emprega violência contra uma agente
tem a seguinte figura típica: prisional, conseguindo, assim, evadir-se.
Exemplo 2: Michele, presa em uma penitenciária fe-
• promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmen- minina, aproveitando de um momento de descuido dos
te presa ou submetida a medida de segurança agentes prisionais, quebra uma janela com um soco e
detentiva. foge do estabelecimento prisional.
Como se pode observar. Pela leitura da figura típica, Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária femi-
este tipo penal poderá ser praticado de 2 (duas) formas: nina, ao verificar que os agentes prisionais estão distraí-
dos, foge, pulando o muro do estabelecimento prisional.
• Com a promoção da fuga; Apenas no exemplo 1, haverá a configuração do cri-
• Com a facilitação da fuga. me de evasão mediante violência contra pessoa, já que
no exemplo 2 a violência foi empregada contra coisa e no
Este crime apresenta, também, formas qualificadas e exemplo 3 não houve emprego de violência.
uma forma culposa.
Na forma culposa, é crime próprio, que será pratica- 15. Arrebatamento de preso
do pelo funcionário incumbido da guarda ou custódia da
pessoa presa O crime de arrebatamento de preso, previsto no Ar-
Sobre o crime de fuga de pessoa presa ou subme- tigo 353 do Código Penal, tem como figura típica a se-
tida à medida de segurança, é importante levar em guinte conduta: arrebatar preso, afim de maltratá-lo, do
consideração: poder de quem o tenha sob custódia ou guarda.
Sobre este crime, são relevantes as seguintes
• Pode ser praticado tanto intramuros (no interior
informações:
de estabelecimento de natureza prisional) quando
extramuros (durante procedimento de escolta ou
• Não admite a modalidade culposa;
condução);
• Exige dolo específico: fim de maltratar o preso
• Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser
(aplicar-lhe uma surra, por exemplo);
praticado por qualquer pessoa.
• É crime comum;
• Entretanto, em uma de suas formas qualificadas (se
• O preso arrebatado é sujeito passivo secundário;
o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia
ou guarda está o preso ou internado) e na modali-
• É crime formal, que se consuma com o arrebata-
dade culposa, será crime próprio; mento, independentemente de se conseguir mal-
• Admite a forma culposa; tratar o preso;
• É necessário, para configuração do crime, que a • Admite a forma tentada;
prisão a que está submetida a pessoa seja legal; • O agente também responde pela pena relaciona-
• Trata-se de crime material, que se consuma com a da à violência que for empregada contra a pessoa
efetiva fuga; presa.
• Admite a forma tentada;
• Caso seja praticado mediante violência contra pes- 16. Motim de presos
soa, responderá o agente também pela violência.
O crime de motim de presos, previsto no Artigo 354
14. Evasão mediante violência contra pessoa do Código Penal, irá se configurar quando se amotina-
rem presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão.
Previsto no Artigo 352 do Código Penal, este crime Sobre este crime, fique atento ao seguinte:
irá se configurar quando o preso ou indivíduo submetido
a medida de segurança detentiva se evadir ou tentar se • É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário,
evadir, usando de violência contra a pessoa. já que será praticado por “presos”;
Sobre este crime, é muito importante que você leve • É crime próprio, que só poderá ser praticado por
em consideração: pessoas presas;
• Só pode ser praticado dolosamente;
• Trata-se de crime próprio, que só poderá ser prati- • O Código Penal não faz referência ao número de
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

cado por pessoa presa ou submetida a medida de presos que são necessários para a configuração do
segurança detentiva; tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime
• Só pode ser praticado dolosamente; coletivo;
• É crime de atentado ou de empreendimento, que • Não é relevante, para fins de caracterização des-
não admite a tentativa; te crime, se o interesse dos presos é legítimo ou
• Exige-se o emprego de violência contra pessoa. ilegítimo;
• Caso seja praticado com emprego de violência,
responderá os agentes, também, por ela.
• Admite a forma tentada.

232
17. Patrocínio infiel 19. Exploração de prestígio

No Artigo 355 do Código Penal, temos 2 (dois) crimes Está previsto no Artigo 357 do Código Penal.
distintos, com as seguintes condutas típicas. O crime de exploração de prestígio tem como figura
Patrocínio Infiel: trair, na qualidade de advogado ou típica a seguinte conduta: solicitar ou receber dinheiro
procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz,
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado. jurado, órgão do ministério público, funcionário de justi-
ça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
• O patrocínio simultâneo se configura quan- De forma alguma, você poderá confundir este tipo
do o advogado patrocinar as partes contrárias penal com o crime de tráfico de influência, previsto no
simultaneamente; Artigo 332 do CP.
• Patrocínio simultâneo ou tergiversação: defender, A pena do crime de exploração de prestígio será au-
na mesma causa, o advogado ou procurador judi- mentada de 1/3 (um terço):
cial, simultânea (patrocínio simultâneo) ou suces-
sivamente (tergiversação ou patrocínio sucessivo), • Se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou
partes contrárias. utilidade também se destina ao juiz, ao jurado,
• A tergiversação se configura quando o advogado ao órgão do ministério público, ao funcionário de
deixa de patrocinar o seu cliente para patrocinar a justiça, ao perito, ao tradutor, ao intérprete ou à
parte contrária. testemunha.

Sobre o crime de patrocínio infiel, é importante que Sobre o crime de exploração de prestígio, leve para
você saiba que: a sua prova:

• É crime próprio, que só será praticado pelo advo- • É crime comum, que poderá ser praticado por
gado ou procurador que trair o dever funcional; qualquer pessoa;
• É crime material, que se consuma quando se preju- • Só poderá ser praticado dolosamente;
dicar o interesse do representado; • No verbo solicitar é crime formal;
• Não admite forma culposa; • No verbo receber é crime material;
• Admite tentativa; • Admite tentativa.
• É crime próprio;
• Não admite a forma culposa; 20. Violência ou fraude em arrematação judicial
• É crime formal, que não exige o prejuízo;
• Admite tentativa. Previsto no Artigo 358, este crime irá se configurar
quando o agente impedir, perturbar ou fraudar arrema-
18. Sonegação de papel ou objeto de valor tação judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou
probatório licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de vantagem.
Previsto no Artigo 356 do Código Penal, este crime Sobre este crime, é importante ficar atento ao
se configura quando o agente inutilizar, total ou parcial- seguinte:
mente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto
de valor probatório, que recebeu na qualidade de advo- • É crime comum, que pode ser praticado por qual-
gado ou procurador. quer pessoa;
Este crime pode ser praticado de 2 (duas) formas: • Não admite a forma culpada;
• As condutas relacionadas ao licitante foram revo-
• Inutilizar, total ou parcialmente, autos, documento gadas pela Lei 8.666/93 (lei de licitação);
ou objeto de valor probatório (forma comissiva); • No caso de emprego de violência, responderá o
• Deixar de restituir autos, documento ou objeto de agente, também, por ela.
valor probatório (forma omissiva).
21. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou
Sobre este tipo penal, é importante ficar atento ao suspensão de direito
seguinte:
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Este crime está previsto no Artigo 359 do Código Pe-


• É crime próprio, que só pode ser praticado pelo nal e irá se configurar quando o agente exercer função,
advogado ou procurador que recebeu os autos, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi sus-
documento ou objeto de valor probatório; penso ou privado por decisão judicial.
• Não é punido na modalidade culposa; Sobre este crime, é importante que você leve em con-
• A doutrina dominante admite a tentativa na moda- sideração as seguintes informações:
lidade comissiva, mas não admite na modalidade
omissiva. • Só poderá ser praticado dolosamente;
• Admite a modalidade tentada;

233
• Exige-se que a suspensão ou privação se dê por Sobre este crime, é importante que você leve em
decisão judicial. Caso se trate de decisão adminis- consideração:
trativa, não irá se configurar este tipo penal.
• Não admite a modalidade culposa;
CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS • Caso o agente pratique as condutas com autoriza-
ção legislativa prévia, o fato será atípico;
Os crimes contra as finanças públicas foram acres- • Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal;
cidos ao Código Penal, em capítulo próprio dos crimes • No verbo realizar, o crime é material.
contra a administração pública, no ano 2000.
Estão previstos do Artigo 359-A ao Artigo 359-H. 2. Inscrição de despesas não empenhadas em res-
tos a pagar

#FicaDica Este crime está previsto no Artigo 359-B do Código


Penal. Irá se configurar quando o agente ordenar ou au-
Já adianto que os crimes contra as finanças torizar a inscrição em restos a pagar de despesa que não
públicas são próprios, praticados por fun- tenha sido previamente empenhada ou que exceda limi-
cionário público (crimes funcionais), exi- te estabelecido em lei.
gindo-se que este funcionário possa dispor Pode ser praticado de duas formas (Inscrição de des-
sobre as finanças públicas. pesas não empenhadas em restos a pagar:

• Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pa-


gar de despesa que não tenha sido previamente
FIQUE ATENTO!
empenhada;
Parte considerável da doutrina entende ser • Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar
possível que o particular seja sujeito ativo de despesa que exceda limite estabelecido em lei
dos crimes contra as finanças públicas, mas
desde que, por força de lei, tenha disponi- Sobre este crime, é importante levar em consideração:
bilidade sobre elas. Entretanto, tal possibili-
dade se trata de caso extremamente excep- • Não admite a modalidade culposa; e
cional. • Trata-se de crime de ação múltipla.
Todos os crimes contra as finanças públicas
são processados mediante ação penal públi- 3. Assunção de obrigação no último ano do man-
ca incondicionada. dato ou legislatura

Este crime, previsto no Artigo 359-C do Código Pe-


1. Contratação de operação de crédito nal, tem como figura típica a seguinte conduta: ordenar
ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos
Este crime se encontra previsto no Artigo 359-A do quadrimestres do último ano do mandato ou legislatu-
Código Penal. ra, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício
Conduta típica: ordenar, autorizar ou realizar opera- financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício
ção de crédito, interno ou externo, sem prévia autoriza- seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de dis-
ção legislativa. ponibilidade de caixa.
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser Pode ser praticado de 2 (duas) formas:
praticado mediante a execução de qualquer um dos ver-
bos previstos no tipo penal. Respondendo por este crime • Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos
aquele que:
dois últimos quadrimestres do último ano do man-
dato ou legislatura, cuja despesa não possa ser
Há formas equiparadas do crime de contratação
paga no mesmo exercício financeiro;
de operação de crédito, incorrendo nas mesmas penas
• Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação,
aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de cré-
nos dois últimos quadrimestres do último ano do
dito, interno ou externo: mandato ou legislatura, se restar parcela a ser paga
no exercício seguinte, que não tenha contrapartida
• Com inobservância de limite, condição ou montan- suficiente de disponibilidade de caixa.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

te estabelecido em lei ou em resolução do Senado


Federal; Sobre este crime, é importante que você fique atento
• Quando o montante da dívida consolidada ultra- às seguintes disposições:
passa o limite máximo autorizado por lei.
• Só pode ser praticado dolosamente;
• Este crime só se configura se as condutas típicas
forem praticadas nos dois últimos quadrimestres
(oito meses anteriores ao término do mandato) do
último ano do mandato ou legislatura.

234
• É crime de ação múltipla; e Sobre este crime, leve em consideração o seguinte:
• Admite a modalidade tentada, apesar de ser de di-
fícil comprovação, segundo posicionamento dou- • Só pode ser praticado dolosamente;
trinário majoritário. • É crime de ação múltipla;
• Para sua configuração, deve ser praticado nos 180
4. Ordenação de despesa não autorizada dias que antecedem o fim do mandato ou legisla-
tura. Caso realizado em outro período, não irá se
O crime de ordenação de despesa não autorizada configurar;
está previsto no Artigo 359-D. Irá se configurar quando o • Admite tentativa.
agente ordenar despesa não autorizada por lei.
Sobre este tipo penal, é importante mencionar que: 8. Oferta pública ou colocação de títulos no
mercado
• Não admite a forma culposa;
• É crime de ação simples;
Este crime se encontra previsto no Artigo 359-H do
• Caso a despesa seja ordenada com autorização le-
Código Penal.
gislativa, o fato será atípico;
A conduta típica é: ordenar, autorizar ou promover a
• É crime formal, segundo Nucci.
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro de
5. Prestação de garantia graciosa títulos da dívida pública sem que tenham sido criados
por lei ou sem que estejam registrados em sistema cen-
Está previsto no Artigo 359-E do Código Penal. tralizado de liquidação e de custódia.
Conduta típica: prestar garantia em operação de cré- Sobre este crime, é importante mencionar:
dito sem que tenha sido constituída contragarantia em
valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na • Só pode ser praticado dolosamente;
forma da lei. • É crime de ação múltipla;
Sobre este crime, fique atento: • Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
dos por lei ou estejam registrados no sistema cen-
• Este crime não admite a modalidade culposa. tralizado de liquidação e de custódia, a prática da
• Não basta que seja constituída a contragarantia, conduta prevista no tipo penal irá ser atípico.
exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da
garantia prestada.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Caso a contragarantia seja inferior ou não seja presta-
da, este crime estará configurado.
1. (CESPE – 2019) Em uma rodovia federal, próxima à
6. Não cancelamento de restos a pagar fronteira do Brasil com o Paraguai, um caminhão foi pa-
rado e vistoriado por policiais rodoviários federais. Além
Previsto no Artigo 359-F do Código Penal, o crime do motorista e de um passageiro, o veículo transportava,
de não cancelamento de restos a pagar irá se configurar ilegalmente, grande quantidade de mercadoria lícita de
quando o agente deixar de ordenar, de autorizar ou de procedência estrangeira, mas sem o pagamento dos de-
promover o cancelamento do montante de restos a pa- vidos impostos de importação. O motorista, penalmente
gar inscrito em valor superior ao permitido em lei. imputável e proprietário do caminhão, admitiu a pro-
Sobre este crime, fique atento ao seguinte: priedade dos produtos. O passageiro, que se identificou
como servidor público alfandegário lotado no posto de
• Só pode ser praticado dolosamente; fiscalização fronteiriço pelo qual o veículo havia passado
• É crime omissivo; para adentrar no território nacional, alegou desconhecer
• Não admite tentativa. a existência dos produtos no caminhão e que apenas pe-
gou carona com o motorista.
7. Aumento de despesa total com pessoal no últi- Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o
mo ano do mandato ou legislatura item a seguir.
Caso fique comprovada a participação do servidor públi-
Previsto no Artigo 359-G, este crime tem como figura co na conduta delituosa, ele responderá pelo delito de
típica a seguinte conduta: ordenar, autorizar ou executar descaminho em sua forma qualificada: ela tinha o dever
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ato que acarrete aumento de despesa total com pessoal, funcional de prevenir e de reprimir o crime.
nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato
ou da legislatura. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Este crime tem como finalidade evitar que se aumente
as despesas totais com pessoal, concedendo aumentos, Resposta: Errado.
contratando, alterações na carreira, entre outras formas, O autor do descaminho responde pelo artigo 334 do
nos últimos dias do mandato ou legislatura, deixando CP, o funcionário público que facilita a ação será in-
para outro funcionário público a responsabilidade de ar- curso no art. 318, do CP, Facilitação de contrabando
car com os compromissos. ou descaminho:

235
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a Resposta: Errado.
prática de contrabando ou descaminho. Vamos à lei:
Inserção de dados falsos em sistema de informações
2. (CESPE – 2019) Em uma rodovia federal, próxima à Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autoriza-
fronteira do Brasil com o Paraguai, um caminhão foi pa- do, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir in-
rado e vistoriado por policiais rodoviários federais. Além devidamente dados corretos nos sistemas informati-
do motorista e de um passageiro, o veículo transportava, zados ou bancos de dados da Administração Pública
ilegalmente, grande quantidade de mercadoria lícita de com o fim de obter vantagem indevida para si ou para
procedência estrangeira, mas sem o pagamento dos de- outrem ou para causar dano:
vidos impostos de importação. O motorista, penalmente Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
imputável e proprietário do caminhão, admitiu a pro- Funcionário público autorizado a promover alterações
priedade dos produtos. O passageiro, que se identificou no sistema.
como servidor público alfandegário lotado no posto de Modificação ou alteração não autorizada de sistema
fiscalização fronteiriço pelo qual o veículo havia passado de informações. Art. 313-B. Modificar ou alterar, o
para adentrar no território nacional, alegou desconhecer funcionário, sistema de informações ou programa de
a existência dos produtos no caminhão e que apenas pe- informática sem autorização ou solicitação de autori-
gou carona com o motorista. dade competente:
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
item a seguir.
multa.
A conduta do motorista configura crime de descaminho
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
em sua forma consumada, ainda que não tenha havido
terço até a metade se da modificação ou alteração
constituição definitiva do crédito tributário e a ocorrên-
cia de efetivo prejuízo ao erário. resulta dano para a Administração Pública ou para o
administrado.
( ) CERTO ( ) ERRADO Qualquer funcionário possa praticar o crime, desde
que não seja quem está autorizado a promover alte-
Resposta: Certo. ração no sistema.
A resposta encontramos no Informativo 904 STF: O des-
caminho é crime tributário formal. Logo, para que seja 5. (CESPE – 2013) No que concerne a crimes, julgue o
proposta ação penal por descaminho NÃO é necessária item a seguir.
a prévia constituição definitiva do crédito tributário. O agente de polícia que deixar de cumprir seu dever de
vedar ao preso o acesso a telefone celular, permitindo
3. (CESPE – 2013) No que concerne a infração penal, fato que este mantenha contato com pessoas fora do estabe-
típico e seus elementos, formas consumadas e tentadas lecimento prisional, cometerá o crime de condescendên-
do crime, culpabilidade, ilicitude e imputabilidade penal, cia criminosa.
julgue o item que se segue.
O peculato é conceituado doutrinariamente como crime ( ) CERTO ( ) ERRADO
funcional impróprio ou misto, porquanto na hipótese de
não ser praticado por funcionário público, opera tipici-
Resposta: Errado.
dade relativa, passando a constituir tipo penal diverso.
Vejamos a diferença dos crimes:
( ) CERTO ( ) ERRADO Prevaricação imprópria - Art. 319-A. Deixar o diretor
de penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu
Resposta: Certo. dever de vedar ao preso o acesso à aparelho telefô-
Atenção: Crimes funcionais próprios: se não for funcio- nico, de rádio ou similar, que permita a comunicação
nário público, não é crime, por exemplo, prevaricação. com outros presos ou com o ambiente externo.
Crimes funcionais impróprios: se não for funcioná- Crime de condescendência criminosa - Art. 320. Deixar
rio público, o crime passa a ser outro, por exemplo, o funcionário, por indulgência (sentimento de piedade,
peculato-furto. de clemência, corporativismo), de responsabilizar su-
bordinado que cometeu infração no exercício do car-
4. (CESPE – 2013) Com relação aos crimes previstos no go ou, quando lhe falte competência, não levar o fato
CP, julgue o item que se segue. ao conhecimento da autoridade competente.
Os delitos de inserção de dados falsos e de modifica-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

ção ou alteração de dados não autorizada em sistema de


informações só se configuram se praticados por funcio-
nário público autorizado, com o fim específico de obter
vantagem indevida para si ou para outrem, ou para cau-
sar dano, sendo as penas aumentadas de um terço até
a metade se da modificação ou alteração resultar dano
para a administração pública ou para o administrado.

( ) CERTO ( ) ERRADO

236
Considerando hipoteticamente que João pratique tal de-
HORA DE PRATICAR lito no período de vigência da lei em comento, em suma,
o juiz poderá condená-lo
1. (IADES – 2019) O sistema penal constitucional esta-
a) após o prazo de vigência da lei temporária, dado que
belece disposições específicas para a elaboração de nor-
o delito ocorreu durante a vigência desta.
mas infraconstitucionais, bem como orienta a atuação de
b) se a prática do delito for anterior à vigência da referida
todos os agentes envolvidos com a questão da segurança
pública. No que se refere às disposições constitucionais
lei temporária.
c) somente até a data de término de vigência da referida
aplicáveis ao direito penal, assinale a alternativa correta.
lei temporária.
d) se a prática do delito for posterior à vigência da refe-
a) As penas privativas de liberdade poderão ser impostas
rida lei temporária.
aos sucessores do condenado.
e) se a venda de bebidas alcóolicas ocorreu no raio de
b) A prática de racismo não é considerada crime, salvo se
cinco quilômetros, visto que o delito aconteceu du-
a vítima for detentora de função pública.
rante a vigência da lei temporária.
c) Às presidiárias serão asseguradas condições para que
possam permanecer com os próprios filhos durante o
5. (IADES – 2018) Suponha que José praticou o crime
período de amamentação.
de roubo a bordo de uma embarcação privada de ban-
d) Os presos têm assegurado o respeito à respectiva in-
deira inglesa, que estava atracada no porto de Santos, no
tegridade física, mas não à integridade moral.
Brasil. Com base nesse caso hipotético, assinale a alter-
e) A lei penal não retroagirá, mesmo que seja para bene-
ficiar o réu.
nativa correta.

a) Não se aplica a lei brasileira, considerando-se o princí-


2 (IADES – 2018) A Constituição da República Federati-
pio da bandeira ou da representação.
va do Brasil estabelece, no artigo 5o, inciso XLVII, que não
b) Não se aplica a lei brasileira, considerando-se que o
haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declara-
da, nos termos do artigo 84, inciso XIX, e nem penas de
navio privado estava atracado no porto de Santos,
portanto, ostentando a bandeira inglesa em razão do
caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento
respectivo registro.
e cruéis.
c) Aplica-se a lei brasileira, considerando-se o princípio
As informações apresentadas referem-se ao princípio da
da universalidade ou cosmopolita.
d) Aplica-se a lei brasileira, considerando-se o princípio
a) humanidade.
b) intervenção mínima.
da nacionalidade passiva.
e) Aplica-se a lei brasileira, considerando-se que o navio
c) legalidade.
d) fragmentariedade.
privado estava atracado no porto de Santos e, por-
tanto, tornou-se extensão do território nacional por
e) lesividade.
ficção jurídica.
3. (IADES – 2019) Dois colombianos explodiram bom-
6. (IADES – 2018) A respeito da definição de crime, é
bas em uma agência do Banco do Brasil, sediada em
correto afirmar que, segundo o conceito
Nova Iorque (Estados Unidos da América), para acessar
os valores que lá se encontravam. Nessa hipótese, ambos
a) político, crime é toda ação ou omissão humana proibi-
estão sujeitos à aplicação da lei penal brasileira por se
da por lei, sob ameaça de pena.
tratar de uma hipótese de
b) formal, crime é ação ou omissão que contraria os valo-
res ou interesses do corpo social, exigindo a respectiva
a) territorialidade temperada.
proibição com ameaça de pena.
b) extraterritorialidade condicionada, dada a incidência
c) material, crime é toda ação ou omissão proibida por
do princípio da nacionalidade ativa.
lei, sob ameaça de pena.
c) extraterritorialidade incondicionada, dada a incidência
d) analítico, crime é fato típico, ilícito e culpável.
do princípio real.
e) zetético, crime é fato típico, ilícito, culpável e punível.
d) extraterritorialidade incondicionada, dada a incidência
do princípio da bandeira.
7. (IADES – 2018) Não constituem crimes a ação do
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

e) extraterritorialidade condicionada, dada a incidência


agente penitenciário que encarcera o criminoso, do po-
do princípio cosmopolita.
licial que realiza um flagrante delito e do policial que
conduz coercitivamente uma testemunha que, após ser
4. (IADES – 2018) Lei temporária estabelece que cons-
devidamente intimada, nega-se a comparecer em Juí-
titui delito a venda de bebidas alcoólicas no raio de dois
zo, desde que, em nenhuma delas, ocorra excesso, jus-
quilômetros dos locais destinados à realização da Copa
tamente por serem hipóteses de causas excludentes da
América no Brasil.
ilicitude. Acerca desse tema, é correto afirmar que as hi-
póteses relatadas configuram

237
a) legítima defesa. Com base nessa informação, se um funcionário público
b) estrito cumprimento do dever legal. concorre para que outrem se aproprie, desvie ou subtraia
c) exercício regular de direito. o objeto material da proteção penal, em razão de sua
d) estado de necessidade. inobservância ao dever objetivo de cuidado necessário,
e) causa supralegal de exclusão da ilicitude. configura-se

8. (IADES – 2018) Todo tipo penal pressupõe a exis- a) peculato-culposo.


tência do dolo geral e, em algumas hipóteses, do dolo b) peculato-desvio.
específico. Já as modalidades de culpa (imprudência, ne- c) peculato-furto.
gligência e imperícia) estarão presentes na lei de forma d) peculato-apropriação.
expressa. Em alguns crimes, o Código Penal une o dolo e) peculato-posse.
e a culpa no mesmo tipo penal como elemento impres-
cindível para a respectiva caracterização. Acerca desse 12. (IADES – 2019) Em relação ao crime de corrupção
tema, é correto afirmar que o preterdolo está presente passiva, assinale a alternativa correta.
no crime de
a) Caracteriza-se quando o agente exige, para si ou para
a) homicídio culposo. outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
b) roubo simples. função ou antes de assumi-la, mas, em razão dela,
c) estupro de vulnerável. vantagem indevida.
d) lesão corporal seguida de morte. b) Admite a forma privilegiada quando o funcionário
e) aborto provocado por terceiro. pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com
infração de dever funcional, cedendo a pedido ou in-
9. (IADES – 2018) No crime de furto, a pena aumenta fluência de outrem.
em um terço se o crime é praticado c) Se praticada sem a interferência de funcionário públi-
co, dá-se o crime de corrupção privada.
a) mediante concurso de duas ou mais pessoas. d) Desde o advento da Lei nº 12.683/2012, não pode ser
b) com abuso de confiança ou mediante fraude, escalada mais considerada como infração antecedente do deli-
ou destreza. to de lavagem de dinheiro.
c) durante o repouso noturno. e) Desde o julgamento da Ação penal 470 (Mensalão)
d) com destruição ou rompimento de obstáculo à sub- pelo Supremo Tribunal Federal, tem-se exigido, por
tração da coisa. parte do Ministério Público, a indicação precisa do ato
e) com emprego de chave falsa. de ofício que foi objeto de vantagem indevida para o
oferecimento de denúncia e condenação.
10. (IADES – 2019) E. L. P. pegou o carro de M. A. V.,
com devida anuência, para limpeza no lava a jato. Após 13. (IADES – 2018) Determinado empregado de uma
a lavagem, E. L. P. decidiu não mais devolver o carro e empresa brasileira de exportação, em negociação rea-
sumiu. Com base nessa situação hipotética, assinale a al- lizada fora do Brasil, oferece vantagem indevida a fun-
ternativa que indica o crime praticado por E. L. P. cionário público estrangeiro com o intuito de fechar ne-
gócio e, de imediato, a proposta ilícita é recusada pelo
a) Furto qualificado pela fraude. funcionário público estrangeiro.
b) Apropriação indébita. Com base nos fatos hipotéticos narrados, assinale a al-
c) Estelionato. ternativa correta.
d) Furto simples.
e) Roubo simples. a) O empregado brasileiro será punido nos termos do
Código Penal Brasileiro, mesmo que esse oferecimen-
11. (IADES – 2019) O Código Penal estabelece o crime to tenha se dado fora do Brasil, e mesmo que o fun-
de peculato nos termos do art. 312, conforme a seguir. cionário estrangeiro não o tenha aceitado.
“Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou b) Será possível punir o empregado brasileiro apenas nas
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que leis estrangeiras.
tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito c) Não será possível punir o empregado brasileiro ape-
próprio ou alheio: Pena – reclusão, de dois a doze anos, nas em razão de o fato ter ocorrido fora do Brasil.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

e multa. § 1º – Aplica-se a mesma pena, se o funcionário d) Não será possível punir o empregado brasileiro com
público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou base nas leis penais brasileiras em razão de o fato ter
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em ocorrido fora do Brasil e de o funcionário público es-
proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que trangeiro não ter aceitado a proposta.
lhe proporciona a qualidade de funcionário. § 2º – Se o e) Não será possível punir o empregado da empresa bra-
funcionário concorre culposamente para o crime de ou- sileira com base no Código Penal Brasileiro por não
trem: Pena – detenção, de três meses a um ano.” haver, no referido diploma, a conceituação do que
vem a ser estrangeiro.

238
14. (IADES – 2019) Suponha que Maria emprestou o ____________________________________________________________
próprio notebook e três livros para o amigo José, no
intuito de ajudá-lo com uma demanda de trabalho de ____________________________________________________________
conclusão de curso exigida para a obtenção do diplo- ____________________________________________________________
ma de nível superior no curso de psicologia. Após alguns
dias, necessitando do notebook dela por motivo de or- ____________________________________________________________
dem pessoal, ela solicitou ao amigo que o devolvesse,
juntamente com os três livros anteriormente empresta- ____________________________________________________________
dos. Diante da inércia de José em devolver os bens, Maria ____________________________________________________________
pegou a bicicleta dele para a quitação do empréstimo,
dado que o valor dos bens é quase equivalente. Nessa ____________________________________________________________
hipótese, Maria praticou
____________________________________________________________
a) favorecimento pessoal. ____________________________________________________________
b) exercício arbitrário ou abuso de poder.
c) denunciação caluniosa. ____________________________________________________________
d) exercício arbitrário das próprias razões.
e) exploração de prestígio. ____________________________________________________________

____________________________________________________________
GABARITO ____________________________________________________________

____________________________________________________________
1. C
2. A ____________________________________________________________
3. C
4. A ____________________________________________________________
5. E ____________________________________________________________
6. D
7. B ____________________________________________________________
8. D
9. C ____________________________________________________________
10. B
____________________________________________________________
11. A
12. B ____________________________________________________________
13. A
14. D ____________________________________________________________

____________________________________________________________
____________________________________________________________

____________________________________________________________
ANOTAÇÕES
____________________________________________________________

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

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239
FINALIDADE, CARACTERÍSTICAS, FUNDAMENTO E
TITULARIDADE
NOÇÕES DE DIREITO
PROCESSUAL PENAL #FicaDica
Como o inquérito policial é mera peça in-
formativa, eventuais vícios dele constantes
INQUÉRITO POLICIAL não têm o condão de contaminar o proces-
so penal a que der origem.
NOTITIA CRIMINIS
Para que se possa dar início a um processo criminal
A polícia judiciária é exercida pelas autoridades po- contra alguém, faz-se necessária a presença de um lastro
liciais, delegados de polícia civil e delegados de polícia probatório mínimo, apontando no sentido da prática de
federal, no território de suas respectivas circunscrições uma infração penal e da probabilidade de o acusado ser
e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua o seu autor. Daí a finalidade do inquérito policial, instru-
autoria. Esta competência não exclui a de autoridades mento usado pelo Estado para a colheita desses elemen-
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma tos de informação, viabilizando o oferecimento da peça
função. acusatória quando houver justa causa para o processo.
Nos crimes de ação pública o inquérito policial será A denominação inquérito policial, no Brasil, surgiu
iniciado de ofício, ou mediante requisição da autoridade com a edição da Lei 2.033, de 20 de setembro de 1871,
judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do regulamentada pelo Decreto 4.824, de 22 de novembro
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. de 1871, encontrando-se no art. 42 do citado decreto a
O requerimento a que se refere do ofendido ou de seguinte definição: “O inquérito policial consiste em to-
quem tiver qualidade para representar a vítima, deve das as diligências necessárias para o descobrimento dos
conter, sempre que possível, a narração do fato, com fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores
todas as circunstâncias, além da individualização do in- e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito”.
diciado ou seus sinais característicos e as razões de con- Passou a ser função da polícia judiciária a sua elaboração.
vicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou Apesar de seu nome ter sido mencionado pela primeira
os motivos de impossibilidade de fazê-lo. E também, se vez na referida Lei 2.033, as suas funções, que são da
possível, a nomeação das testemunhas, com indicação natureza do processo criminal, existem de longa data e
de sua profissão e residência. tornaram-se especializadas com a aplicação efetiva do
Delatio criminis é quando qualquer pessoa do povo princípio da separação da polícia e da judicatura. Por-
que tiver conhecimento da existência de infração penal tanto, já havia no Código de Processo de 1832 alguns
em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por dispositivos sobre o procedimento informativo, mas não
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verifi- havia o nomen juris de inquérito policial.
cada a procedência das informações, mandará instaurar Características do IP:
inquérito.
Nos crimes em que a ação pública depender de re- • Escrito.
presentação, o inquérito policial não poderá ser iniciado • Dispensável, quando já há justa causa para o ofere-
sem a representação. cimento da acusação.
Já nos crimes de ação privada, a autoridade policial • Sigiloso.
somente poderá proceder a inquérito a requerimento de • Inquisitorial, pois ainda não é um processo
quem tenha qualidade para intentá-la. acusatório.
• Discricionário, a critério do delegado que deve de-
HISTÓRICO, NATUREZA E CONCEITO terminar o rumo das diligências de acordo com as
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

peculiaridades do caso concreto.


O Inquérito Policial é definido pela doutrina como um • Oficial, incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou
procedimento administrativo inquisitório e preparatório, federal) a presidência do inquérito policial.
presidido pelo Delegado de Polícia, com vistas a identifi- • Oficioso, ao tomar conhecimento de notícia de cri-
cação de provas e a colheita de elementos de informação me de ação penal pública incondicionada, a auto-
quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim ridade policial é obrigada a agir de ofício.
de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar • Indisponível, a autoridade policial não poderá
em juízo. mandar arquivar autos de inquérito policial.
Em outras palavras, o inquérito policial consiste em
um conjunto de diligências realizadas pela polícia inves-
tigativa. Assim, trata-se de procedimento de natureza
administrativa. Nesse momento, ainda não há o exercí-
cio de pretensão acusatória. Não se trata, pois, de proces-
so judicial, nem tampouco de processo administrativo.

241
FIQUE ATENTO! #FicaDica
Súmula Vinculante nº 14: É direito do Os crimes de menor potencial ofensivo são
defensor, no interesse do representado, aqueles com a pena máxima até 02 anos e
ter acesso amplo aos elementos de prova as contravenções penais.
que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam FUNÇÃO DE FILTRO DO INQUÉRITO POLICIAL
respeito ao exercício do direito de defesa.
O inquérito visa proteger o indivíduo do constrangi-
DO INQUÉRITO POLICIAL- ALTERAÇÃO PACOTE mento de responder a um processo judicial injustamente,
ANTI CRIME funcionando como um filtro, que através dos elementos
encontrados durante as investigações, determinará se o
(art. 14-A, do Código de Processo Penal). sujeito é passível de responder a um processo ou não.
Arquivamento do Inquérito Policial: antes o arquivamen- O processo representa uma pena em si mesmo, pois
to do IP era realizado no âmbito da Justiça, porém agora o ainda que inocentado, o sujeito adquire um etiqueta-
Ministério poderá ordenar diretamente o arquivamento e mento social que o torna um marginalizado dentro da
remeter os autos à revisão ministerial para fins de homolo- sociedade.
gação (não precisa requerer o arquivamento ao Juiz!) A Teoria do Labeling Approach ou Teoria do Etiqueta-
mento entende que as noções de crime e criminoso são
construídas socialmente a partir da definição legal e das
FIQUE ATENTO! ações de instâncias oficiais de controle social a respeito
Súmula 524: Arquivado o inquérito poli- do comportamento de determinados indivíduos. A crimi-
cial, por despacho do juiz, a requerimento nalidade é uma “etiqueta” atribuída a certos indivíduos
do promotor de justiça, não pode a ação que a sociedade entende como delinquentes.
penal ser iniciada, sem novas provas. Uma pessoa processada injustamente, acaba sendo
estigmatizada pela sociedade como um criminoso, por-
tanto, o inquérito policial visa evitar este etiquetamento
O que é “auto de resistência”? O exemplo típico ocor- social.
re quando o policial mata um suspeito, alegando que
houve resistência dele. A ocorrência é registrada como
“auto de resistência”. Como as testemunhas são os pró-
prios policiais, o crime geralmente não passa por uma
EXERCÍCIOS COMENTADOS
profunda investigação.
1. (CESPE – 2019) A respeito de ação penal e do dispos-
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, to na Lei de Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei n.º
resistência à prisão em flagrante ou à determinada 9.099/1995), julgue o item seguinte: “o inquérito policial
por autoridade competente, o executor e as pessoas é dispensável para a promoção da ação penal desde que
que o auxiliarem poderão usar dos meios necessá- a denúncia esteja minimamente consubstanciada nos
rios para defender-se ou para vencer a resistência, do elementos exigidos em lei”.
que tudo se lavrará auto subscrito também por duas
testemunhas. ( ) CERTO ( ) ERRADO

TERMO CIRCUNSTANCIADO Resposta: Certo.


A assertiva é verdadeira, uma vez que, conforme reza
De acordo com a Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Espe- a doutrina majoritária, o inquérito policial não é peça
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

ciais Criminais) a autoridade policial que tomar conhe- obrigatória para o oferecimento da denúncia.
cimento da ocorrência de um crime de menor potencial
ofensivo lavrará termo circunstanciado (TC), substitutivo 2. (FCC – 2019) Segundo entendimento sumulado do
do IP, e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com Superior Tribunal de Justiça, INAPLICÁVEL o princípio da
o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisi- insignificância
ções dos exames periciais necessários.
Ao autor do fato que, após a lavratura do TC, for ime- a) Aos crimes ambientais e aos crimes patrimoniais sem
diatamente encaminhado ao juizado ou assumir o com- violência ou grave ameaça à pessoa, se reincidente o
promisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em acusado.
flagrante, nem se exigirá fiança. b) Aos crimes praticados contra a criança e o adolescente
Se não há previsão de pena de prisão para o crime, e aos crimes contra a ordem tributária.
mesmo que o autor do fato não assuma tal compromisso c) Às contravenções penais praticadas contra a mulher
não poderá ser preso, pela falta de previsão legal neste no âmbito das relações domésticas e aos crimes con-
sentido (ex. drogas para consumo pessoal). tra a Administração pública.

242
d) Aos crimes de licitações e às infrações de menor po- Partindo da premissa de que os elementos de infor-
tencial ofensivo, já que regidas por lei especial. mação produzidos na fase investigatória devem ter como
e) Aos crimes de violação de direito autoral e aos crimes objetivo precípuo a formação da convicção do titular da
previstos no estatuto do desarmamento. ação penal e, eventualmente, subsidiar a decretação de
medidas cautelares, não se pode admitir que o juiz da
Resposta: Letra C. instrução e julgamento forme seu convencimento com
Conforme dispõem as súmulas 589 e 599 do STJ: base neles.
Súmula 589 – É inaplicável o princípio da insignificân- Uma sentença condenatória em um Estado Demo-
cia nos crimes ou contravenções penais praticados con- crático de Direito só poderá ter por fundamento provas
tra a mulher no âmbito das relações domésticas. produzidas validamente no curso da instrução proces-
Súmula 599 – O princípio da insignificância é inaplicá- sual, com plena observância da publicidade, oralidade,
vel aos crimes contra a administração pública. imediação, contraditório e ampla defesa, o que afasta a
possibilidade de utilização residual dos elementos infor-
3. (CESPE – 2019) Com relação à licitude do procedi- mativos, cuja produção não assegura a observância des-
mento de busca e apreensão de celular por autoridade ses postulados.
policial, assinale a opção correta.

a) Em se tratando de celular de propriedade de vítima


#FicaDica
morta, é ilegal a realização de perícia sem prévia au- Ante a criação do juiz das garantias, o ideal
torização judicial se o aparelho tiver sido entregue a é concluir que a investigação preliminar
autoridade policial pelo cônjuge da vítima. não mais poderá integrar os autos do pro-
b) É lícita a prova obtida pela polícia a partir da escuta, cesso judicial, salvo no tocante às provas
por viva-voz, de conversa entre investigado e sua mãe, irrepetíveis, antecipadas e meios de ob-
mesmo que sem autorização judicial ou consentimen- tenção de prova.
to dos interlocutores, sendo válida a consequente pri-
são em flagrante.
c) É dispensada autorização judicial para extração de De acordo com o art. 3-B, verifica-se o baixo valor pro-
dados e conversas registradas em aparelho celular batório das investigações para a conclusão do processo:
apreendido no momento de prisão em flagrante.
d) É lícito o acesso aos dados armazenados em celular § 3º Os autos que compõem as matérias de competên-
apreendido após determinação judicial de busca e cia do juiz das garantias ficarão acautelados na secre-
apreensão, mesmo que a decisão não tenha expressa- taria desse juízo, à disposição do Ministério Público e
mente previsto tal medida. da defesa, e não serão apensados aos autos do proces-
e) É ilegal a análise de celular por policiais no momento so enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressal-
de prisão em flagrante, mesmo com a autorização vo- vados os documentos relativos às provas irrepetíveis,
luntária e consciente do acusado. medidas de obtenção de provas ou de antecipação de
provas, que deverão ser remetidos para apensamento
Resposta: Letra D. em apartado.
Conforme expõe o julgado abaixo:
Se o telefone celular foi apreendido em busca e Apesar do enfraquecimento da investigação para
apreensão determinada por decisão judicial, não há a decisão final, não há dúvidas sobre a importância do
óbice para que a autoridade policial acesse o conteú- procedimento investigatório para o nascimento do pro-
do armazenado no aparelho, inclusive as conversas do cesso, pois essa apuração preliminar evita que inocentes
Whatsapp. Para a análise e a utilização desses dados sejam processados sem justa causa, o que sem dúvidas
armazenados no celular não é necessária nova auto- macula a imagem do indivíduo inocente e o seu próprio
rização judicial. A ordem de busca e apreensão de- senso de (in)justiça.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

terminada já é suficiente para permitir o acesso aos


dados dos aparelhos celulares apreendidos (STJ. 5ª FORMAS DE INSTAURAÇÃO
Turma. RHC 77.232/SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO
em 03/10/2017).
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas auto-
GRAU DE COGNIÇÃO E VALOR PROBATÓRIO ridades policiais no território de suas respectivas cir-
cunscrições e terá por fim a apuração das infrações
A finalidade de toda e qualquer investigação prelimi- penais e da sua autoria. (Redação dada pela Lei nº
nar é a identificação de fontes de prova da autoria e ma- 9.043, de 9.5.1995)
terialidade, e, na sequência, a colheita desses elementos Parágrafo único. A competência definida neste artigo
informativos, de modo a auxiliar na formação da opinio não excluirá a de autoridades administrativas, a quem
delicti do titular da ação penal. por lei seja cometida a mesma função.
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial
será iniciado:

243
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do FIQUE ATENTO!
Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou Cabe Agravo de Instrumento contra despa-
de quem tiver qualidade para representá-lo. cho que indeferir o requerimento de abertu-
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá ra de inquérito.
sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais ca- A autoridade policial deverá, logo que tiver conheci-
racterísticos e as razões de convicção ou de presunção mento da prática da infração penal:
de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impos-
sibilidade de o fazer; • dirigir-se ao local, providenciando para que não
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de se alterem o estado e conservação das coisas, até a
sua profissão e residência. chegada dos peritos criminais.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de • apreender os objetos que tiverem relação com o
fato, após liberados pelos peritos criminais.
abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de
• colher todas as provas que servirem para o escla-
Polícia.
recimento do fato e suas circunstâncias.
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento
• ouvir o ofendido.
da existência de infração penal em que caiba ação pú- • ouvir o indiciado, com observância, no que for apli-
blica poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la cável, do disposto sobre o interrogatório do acusa-
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência do, devendo o respectivo termo ser assinado por
das informações, mandará instaurar inquérito. duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura.
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública • proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e
depender de representação, não poderá sem ela ser a acareações.
iniciado. • determinar, se for caso, que se proceda a exame
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial de corpo de delito e a quaisquer outras perícias.
somente poderá proceder a inquérito a requerimento • ordenar a identificação do indiciado pelo processo
de quem tenha qualidade para intentá-la. datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da in- sua folha de antecedentes deve ter ressalvas. O art.
fração penal, a autoridade policial deverá: 5º, LVIII, da CF, passou a estabelecer que o civil-
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se mente identificado não será submetido a identi-
alterem o estado e conservação das coisas, até a che- ficação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
gada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº lei. Esta norma, pretendeu resguardar o indivíduo
8.862, de 28.3.1994) civilmente identificado, preso em flagrante, indi-
II - apreender os objetos que tiverem relação com o ciado ou mesmo denunciado, do constrangimento
fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação de se submeter às formalidades de identificação
dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) criminal - fotográfica e datiloscópica - considera-
III - colher todas as provas que servirem para o escla- das por muitas vexatórias, principalmente quando
recimento do fato e suas circunstâncias; documentadas pelos órgãos da imprensa.
IV - ouvir o ofendido; • averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for ponto de vista individual, familiar e social, sua con-
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, des- dição econômica, sua atitude e estado de ânimo
antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
te Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por
outros elementos que contribuírem para a aprecia-
duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
ção do seu temperamento e caráter.
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e • colher informações sobre a existência de filhos, res-
a acareações; pectivas idades e se possuem alguma deficiência e
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame o nome e o contato de eventual responsável pelos
de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo proces-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

so datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos O art. 7º, do CPP, trata de reprodução simulada dos
sua folha de antecedentes; fatos, que para verificar a possibilidade de haver a infra-
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ção sido praticada de determinado modo, a autoridade
ponto de vista individual, familiar e social, sua condi- policial poderá usar esse recurso, desde que esta não
ção econômica, sua atitude e estado de ânimo antes contrarie a moralidade ou a ordem pública.
e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros Havendo prisão em flagrante, deverá observar que,
elementos que contribuírem para a apreciação do seu apresentado o preso à autoridade competente, esta ou-
temperamento e caráter. virá o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, en-
X - colher informações sobre a existência de filhos, res- tregando a este cópia do termo e recibo de entrega do
pectivas idades e se possuem alguma deficiência e o preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas
nome e o contato de eventual responsável pelos cui- que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
dados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada
pela Lei nº 13.257, de 2016) oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autorida-
de, afinal, o auto.

244
Resultando das respostas fundada a suspeita contra Quando o fato for de difícil elucidação, e o indicia-
o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, do estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz
exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que
prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. Há hipó-
isso for competente. E se não o for competente, enviará teses em que, para dar início à ação penal, o Ministério
os autos à autoridade que o seja. A falta de testemunhas Público pode requer diligências, por meio da autoridade
da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; judiciária, para a autoridade policial em prazo por aquele
mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo fixando.
menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre- Os instrumentos do crime, bem como os objetos
sentação do preso à autoridade. que interessarem à prova, acompanharão os autos do
Observe que quando o acusado se recusar a assinar, inquérito.
não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei-
xa, sempre que servir de base a uma ou outra.
flagrante será assinado por duas testemunhas, que te-
Incumbirá ainda à autoridade policial:
nham ouvido sua leitura na presença deste.
Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá
• fornecer às autoridades judiciárias as informa-
constar a informação sobre a existência de filhos, respec- ções necessárias à instrução e julgamento dos
tivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome processos.
e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos • realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo
filhos, indicado pela pessoa presa. Ministério Público.
A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon- • cumprir os mandados de prisão expedidos pelas
tre serão comunicados imediatamente ao juiz competen- autoridades judiciárias.
te, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa • representar acerca da prisão preventiva.
por ele indicada. Em até 24 (vinte e quatro) horas após
a realização da prisão, será encaminhado ao juiz compe- Nos crimes previstos nos arts. 148, sequestro e cárce-
tente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado re privado, 149, redução a condição análoga de escravo,
não informe o nome de seu advogado, cópia integral 149-A, tráfico de pessoas, no § 3º do art. 158, extorsão
para a Defensoria Pública. mediante a restrição da liberdade da vítima, sendo esta
No mesmo prazo, será entregue ao preso, median- condição necessária para a obtensão da vantagem eco-
te recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, nômica, e no art. 159, extorsão mediante sequestro, tudo
com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das do CP, e ainda no art. 239, da Lei nº 8.069, de 13 de julho
testemunhas. de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, promo-
Quando o fato for praticado em presença da au- ver ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de
toridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, criança ou adolescente para o exterior com inobservân-
constarão do auto a narração deste fato, a voz de prisão, cia das formalidades legais ou com o objetivo de obter
as declarações que fizer o preso e os depoimentos das lucro, o membro do Ministério Público ou o delegado de
testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade, pelo polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder
preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao público ou de empresas da iniciativa privada, dados e in-
juiz a quem couber tomar conhecimento do fato deli- formações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
tuoso, se não o for a autoridade que houver presidido Esta requisição será atendida no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas e conterá:
o auto.
Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
• o nome da autoridade requisitante.
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.
• o número do inquérito policial.
Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro- • a identificação da unidade de polícia judiciária res-
cesso, reduzidas a escrito e rubricadas pela autoridade. ponsável pela investigação.

FIQUE ATENTO! Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes


relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Minis-
O inquérito deverá terminar no prazo de 10 tério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar,
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

dias, se o indiciado tiver sido preso em fla- mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de
grante, ou estiver preso preventivamente, serviço de telecomunicações e/ou telemática que dispo-
contado o prazo, nesta hipótese, a partir do nibilizem imediatamente os meios técnicos adequados,
dia em que se executar a ordem de prisão. como sinais, informações e outros, que permitam a locali-
O inquérito deverá terminar no prazo de 30 zação da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.
dias, quando estiver solto, mediante fiança Sobre a prevenção e a repressão dos crimes relacio-
ou sem ela. nados ao tráfico de pessoas, não havendo manifestação
judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade com-
petente requisitará às empresas prestadoras de serviço
Com a conclusão do inquérito, a autoridade fará mi- de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
nucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará au- imediatamente os meios técnicos adequados, como si-
tos ao juiz competente. Neste relatório autoridade pode nais, informações e outros, que permitam a localização
indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com ime-
mencionando o lugar onde possam ser encontradas. diata comunicação ao juiz.

245
Para os efeitos acima exposto, sinal significa posicio- A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre
namento da estação de cobertura, setorização e intensi- de despacho nos autos e somente será permitida quando
dade de radiofrequência. Ainda nesta hipótese, o sinal: o interesse da sociedade ou a conveniência da investiga-
ção o exigir. Esse dispositivo contido no art. 21, e seu pa-
• não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação rágrafo único, do CPP, apesar de não ter sido revogado
de qualquer natureza, que dependerá de autoriza- expressamente, torna-se inaplicável em razão do disposto
ção judicial, conforme disposto em lei. no art. 136, § 3º, IV, da CF, que veda a incomunicabilidade,
• deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia até mesmo quando decretado o estado de defesa.
móvel celular por período não superior a 30 (trin-
No Distrito Federal e nas comarcas em que houver
mais de uma circunscrição policial, a autoridade com
ta) dias, renovável por uma única vez, por igual
exercício em uma delas poderá, nos inquéritos a que es-
teja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de
período.
• para períodos superiores a 30 (trinta) dias, será ne- outra, independentemente de precatórias ou requisições,
cessária a apresentação de ordem judicial. e bem assim providenciará, até que compareça a auto-
ridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em
FIQUE ATENTO! sua presença, noutra circunscrição.
Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz
Ainda nesta hipótese, prevenção e repres- competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de
são dos crimes relacionados ao tráfico de Identificação e Estatística, ou repartição congênere, men-
pessoas o inquérito policial deverá ser ins- cionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os
taurado no prazo máximo de 72 (setenta dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado.
e duas) horas, contado do registro da res-
pectiva ocorrência policial.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, 1. (CESPE/CEBRASPE – 2020) Maria foi vítima de estu-
ou não, a juízo da autoridade policial. pro praticado por um desconhecido em um parque. Ao
Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador comparecer à delegacia, ela comunicou formalmente o
pela autoridade policial. ocorrido e submeteu-se a exame de corpo de delito, que
O Ministério Público não poderá requerer a devolu- comprovou a violência sexual; em seguida, foi feito o re-
ção do inquérito à autoridade policial, senão para novas trato falado do estuprador. Apesar dos esforços da auto-
diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. ridade policial, o autor do crime somente foi identificado
A autoridade policial não poderá mandar arquivar au- e reconhecido pela vítima sete meses após a ocorrência
tos de inquérito. do fato.
Depois de ordenado o arquivamento do inquérito Nessa situação hipotética, concluídas as investigações, o
pela autoridade judiciária, por falta de base para a de- Ministério Público deve
núncia, a autoridade policial poderá proceder a novas
pesquisas, se de outras provas tiver notícia. a) oferecer a denúncia, visto que estão presentes as con-
dições da ação penal.
b) manifestar-se pelo arquivamento do inquérito policial
FIQUE ATENTO! por falta de interesse de agir.
Súmula n. 524 do Supremo Tribunal Fe- c) manifestar-se pelo arquivamento do inquérito policial
deral: “arquivado o inquérito policial, por por falta de possibilidade jurídica do pedido.
despacho do juiz, a requerimento do pro- d) manifestar-se pelo arquivamento do inquérito policial
motor de justiça, não pode a ação penal por falta de justa causa.
ser iniciada sem novas provas”. e) oficiar à vítima para que ela informe se ainda tem inte-
resse na propositura da ação penal.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Nos crimes em que não couber ação pública, os autos Resposta: Letra A.
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde Uma vez que se trata de Ação Penal Pública Incondi-
aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu represen- cionada, a ser ajuizada pelo Ministério Público.
tante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado. 2. (CESPE/CEBRASPE – 2020) Maria foi vítima de estu-
A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces- pro praticado por um desconhecido em um parque. Ao
sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da comparecer à delegacia, ela comunicou formalmente o
sociedade. Nos atestados de antecedentes que lhe forem ocorrido e submeteu-se a exame de corpo de delito, que
solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar comprovou a violência sexual; em seguida, foi feito o re-
quaisquer anotações referentes a instauração de inquéri- trato falado do estuprador. Apesar dos esforços da auto-
to contra os requerentes. ridade policial, o autor do crime somente foi identificado
e reconhecido pela vítima sete meses após a ocorrência
do fato.

246
Nessa situação hipotética, concluídas as investigações, o 5. (CESPE/CEBRASPE – 2019) A respeito de ação penal
Ministério Público deve e do disposto na Lei de Juizados Especiais Cíveis e Crimi-
nais (Lei n.º 9.099/1995), julgue o item seguinte.
a) oferecer a denúncia, visto que estão presentes as con- O inquérito policial é dispensável para a promoção da
dições da ação penal. ação penal desde que a denúncia esteja minimamente
b) manifestar-se pelo arquivamento do inquérito policial consubstanciada nos elementos exigidos em lei.
por falta de interesse de agir.
c) manifestar-se pelo arquivamento do inquérito policial ( ) CERTO ( ) ERRADO
por falta de possibilidade jurídica do pedido.
d) manifestar-se pelo arquivamento do inquérito policial Resposta: Certo.
por falta de justa causa. Uma das características do IP é ser dispensável, de
e) oficiar à vítima para que ela informe se ainda tem inte- acordo com o art. 39 do CPP:
resse na propositura da ação penal. § 5º O órgão do Ministério Público dispensará o in-
quérito, se com a representação forem oferecidos ele-
Resposta: Letra A. mentos que o habilitem a promover a ação penal, e,
Uma vez que se trata de Ação Penal Pública Incondi- neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze
cionada, a ser ajuizada pelo Ministério Público. dias.

3. (CESPE/CEBRASPE – 2019) Lúcio é investigado pela 6. (CESPE/CEBRASPE – 2019) João, de 19 anos de idade,
prática de latrocínio. Durante a investigação, apurou-se a foi vítima de crime de calúnia praticado por Maria. Ciente
participação de Carlos no crime, tendo sido decretada de da autoria do ato delituoso, João relatou os fatos infor-
ofício a sua prisão temporária. malmente ao delegado de polícia e solicitou orientação
A partir dessa situação hipotética e do que dispõe a le- sobre as providências a serem adotadas.
gislação, julgue o item seguinte. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção
Como Lúcio está solto, o inquérito policial não terá prazo correta, acerca de crime que se apura mediante ação pe-
para ser concluído. nal privada.

( ) CERTO ( ) ERRADO a) Em face do princípio da oficiosidade, o delegado de


polícia deverá instaurar o procedimento investigató-
Resposta: Errado. rio, independentemente da formalização do requeri-
Pois o IP tem prazo definido no CPP: mento de João.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 b) A instauração do inquérito policial suspende a fluência
dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou do prazo decadencial para o ingresso da ação penal
estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta em juízo até a completa apuração dos fatos.
hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem c) Caso João venha a falecer após a instauração do in-
de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver sol- quérito policial e antes da ação penal, o direito de ofe-
to, mediante fiança ou sem ela. recer queixa-crime passará ao cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.
4. (CESPE/CEBRASPE – 2019) Lúcio é investigado pela d) Por ser João menor de 21 anos de idade, o direito de
prática de latrocínio. Durante a investigação, apurou-se a queixa poderá ser exercido por ele ou por seu repre-
participação de Carlos no crime, tendo sido decretada de sentante legal.
ofício a sua prisão temporária. e) Instaurada a ação penal competente e havendo inércia
A partir dessa situação hipotética e do que dispõe a le- de João, o Ministério Público poderá dar prossegui-
gislação, julgue o item seguinte. mento à referida ação.
Como Lúcio está solto, o inquérito policial não terá prazo
para ser concluído. Resposta: Letra C.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

De acordo com o art. 100 do CP:


( ) CERTO ( ) ERRADO § 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido
declarado ausente por decisão judicial, o direito de
Resposta: Errado. oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao
Pois o IP tem prazo definido no CPP: cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10
dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou 7. (CESPE/CEBRASPE – 2019) O Código de Processo Pe-
estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta nal, em diversos dispositivos, utiliza a expressão indicia-
hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem do para indicar a pessoa em relação à qual existe inqué-
de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver sol- rito policial em curso. Assinale a opção correta, acerca do
to, mediante fiança ou sem ela. indiciamento no âmbito do procedimento policial.

247
a) Quando ausente ou deficiente, vicia o inquérito poli- Resposta: Certo.
cial e, consequentemente, contamina também o pro- Trata-se da súmula vinculante nº 14: É direito do de-
cesso criminal a que se destina. fensor, no interesse do representado, ter acesso am-
b) Poderá ser viabilizado após o recebimento da plo aos elementos de prova que, já documentados em
denúncia. procedimento investigatório realizado por órgão com
c) Vincula o ofendido ao oferecimento da queixa na hi- competência de polícia judiciária, digam respeito ao
pótese de ação penal privada. exercício do direito de defesa.
d) Deverá ser formulado pela autoridade policial quando
requisitado pelo Ministério Público. 10. (CESPE/CEBRASPE – 2019) Aldo, delegado de polí-
e) Poderá ser formalizado de forma indireta ante a não cia, recebeu em sua unidade policial denúncia anônima
localização do investigado. que imputava a Mauro a prática do crime de tráfico de
drogas em um bairro da cidade. A denúncia veio acom-
Resposta: Letra E. panhada de imagens em que Mauro aparece entregando
O indiciamento é denominado indireto em caso de a terceira pessoa pacotes em plástico transparente com
ausência do investigado. Ademais, consiste em ativi- considerável quantidade de substância esbranquiçada e
dade privativa do delegado de polícia, ninguém pode recebendo dessa pessoa quantia em dinheiro.
ordená-lo a fazer, podendo fazê-lo até o recebimento Em diligências realizadas, Aldo confirmou a qualificação
da denúncia. Por fim, vale lembrar que eventuais vícios de Mauro e, a partir das informações obtidas, instaurou
na investigação não comprometem a ação penal. IP para apurar o crime descrito no art. 33, caput, da Lei
n.º 11.343/2006 — Lei Antidrogas —, sem indiciamen-
8. (CESPE/CEBRASPE – 2019) Com relação às caracte- to. Na sequência, ele representou à autoridade judiciá-
rísticas do inquérito policial (IP), assinale a opção correta. ria pelo deferimento de medida de busca e apreensão
na residência de Mauro, inclusive do telefone celular do
a) O IP, por consistir em procedimento indispensável à investigado.
formação da opinio delicti, deverá acompanhar a de- Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção
núncia ou a queixa criminal. correta.
b) Não poderá haver restrição de acesso, com base em
sigilo, ao defensor do investigado, que deve ter am- a) A instauração do IP constituiu medida ilegal, pois se
plo acesso aos elementos de prova já documentados fundou em denúncia anônima.
no IP, no que diga respeito ao exercício do direito de b) Recebido o IP, verificados a completa qualificação de
defesa. Mauro e os indícios suficientes de autoria, o juiz pode-
c) É viável a oposição de exceção de suspeição à autori- rá determinar o indiciamento do investigado à autori-
dade policial responsável pelas investigações, embora dade policial.
o IP seja um procedimento de natureza inquisitorial. c) Em razão do caráter sigiloso dos autos do IP, nem
d) Não se admite a utilização de elementos colhidos no Mauro nem seu defensor constituído terão o direito
IP, salvo quando se tratar de provas irrepetíveis, como de acessá-los.
fundamento para a decisão condenatória. d) Como não houve prisão, o prazo para a conclusão do
e) A autoridade policial não poderá determinar o arqui- IP será de noventa dias.
vamento dos autos de IP, salvo na hipótese de mani- e) Deferida a busca e apreensão, a realização de exame
festa atipicidade da conduta investigada. pericial em dados de telefone celular que eventualmen-
te seja apreendido dependerá de nova decisão judicial.
Resposta: Letra B.
Trata-se da súmula vinculante nº 14: É direito do de- Resposta: Letra D.
fensor, no interesse do representado, ter acesso am- O prazo para a conclusão do IP na lei de drogas é de
plo aos elementos de prova que, já documentados em 30 dias, em caso de réu preso, e 90 dias em caso de
procedimento investigatório realizado por órgão com réu solto. Ademais, a denúncia veio acompanhada de
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

competência de polícia judiciária, digam respeito ao conteúdo probatório, não havendo ilegalidade na in-
exercício do direito de defesa. vestigação. Quem pode decidir pelo indiciamento é
exclusivamente a autoridade policial. Ademais, o man-
9. (CESPE/CEBRASPE – 2019) No que se refere aos direi- dado de busca e apreensão autoriza por si só o exame
tos individuais e à aplicação dos princípios do contradi- do celular. Por fim, não esqueça da súmula vinculante
tório e da ampla defesa, julgue o item a seguir. nº 14: É direito do defensor, no interesse do represen-
É garantido ao defensor de investigado o pleno acesso tado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
aos documentos já anexados ao procedimento investiga- documentados em procedimento investigatório reali-
tório, mesmo que o inquérito policial esteja classificado zado por órgão com competência de polícia judiciária,
como sigiloso. digam respeito ao exercício do direito de defesa.

( ) CERTO ( ) ERRADO

248
NOTITIA CRIMINIS
DELATIO CRIMINIS #FicaDica

O Código de Processo Penal traz, em seu arts. 6º e A condição de indiciado poderá ser atribuída
7º, um rol exemplificativo de diligências investigatórias já no auto de prisão em flagrante ou até o
que poderão ser adotadas pela autoridade policial ao to- relatório final do delegado de polícia. Logo,
mar conhecimento de um fato delituoso. Algumas são de uma vez recebida a peça acusatória, não será
caráter obrigatório, como, por exemplo, a realização de mais possível o indiciamento, já que se trata
exame pericial quando a infração deixar vestígios; outras, de ato próprio da fase investigatória.
no entanto, têm sua realização condicionada à discricio-
nariedade da autoridade policial, que deve determinar Considera-se indispensável a presença de elementos
sua realização de acordo com as peculiaridades do caso informativos acerca da materialidade e da autoria do de-
concreto. lito para que seja feito o indiciamento. Assim, o delegado
de polícia deve cientificar o investigado, atribuindo-lhe,
Notitia criminis fundamentadamente, a condição jurídica de “indiciado”.
Esse procedimento funciona como um poder-dever da
Notitia criminis é o conhecimento, espontâneo ou autoridade policial, uma vez convencida da concorrência
provocado, por parte da autoridade policial, acerca de dos seus pressupostos.
um fato delituoso. Subdivide-se em:
Notitia criminis de cognição imediata (ou espontâ-
nea): ocorre quando a autoridade policial toma conhe- Indiciamento Direto
Indiciamento Indireto
cimento do fato delituoso por meio de suas atividades (regra)
rotineiras. O indiciamento indireto
O indiciamento direto
Notitia criminis de cognição mediata (ou provocada): ocorre quando o indi-
ocorre quando o indi-
ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento ciado está ausente, ex.
ciado está presente.
da infração penal através de um expediente escrito. foragido.
Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre quan-
do a autoridade policial toma conhecimento do fato de- Ausente qualquer elemento de informação quanto ao
lituoso através da apresentação do indivíduo preso em envolvimento do agente na prática delituosa, a jurispru-
flagrante. dência tem admitido a possibilidade de impetração de
habeas corpus a fim de sanar o constrangimento ilegal
Delatio criminis daí decorrente, buscando-se o desindiciamento.

A delatio criminis é uma espécie de notitia criminis,


consubstanciada na comunicação de uma infração penal
FIQUE ATENTO!
feita por qualquer pessoa do povo à autoridade policial. De acordo com o STF, o indiciamento é ato
A depender do caso concreto, pode funcionar como uma privativo do delegado de polícia, ninguém
notitia criminis de cognição imediata, quando a comuni- pode ordená-lo a fazer isso.
cação à autoridade policial é feita durante suas atividades
rotineiras, ou como notitia criminis de cognição mediata,
na hipótese em que a comunicação à autoridade policial Por fim, em se tratando de crimes de lavagem de capi-
feita por terceiro se dá através de expediente escrito. tais, a lei determina o afastamento do servidor público de
suas funções como efeito automático do indiciamento,
PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS E INDICIAMENTO permitindo seu retorno às atividades funcionais apenas
se houver decisão judicial fundamentada nesse sentido.
Indiciar é atribuir a autoria de uma infração penal a
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

uma pessoa. É apontar uma pessoa como provável au- GARANTIAS DO INVESTIGADO E CONCLUSÃO
tora ou partícipe de um delito. Possui caráter ambíguo,
constituindo-se, ao mesmo tempo, fonte de direitos, Conforme o Código de Processo Penal:
prerrogativas e garantias processuais, e fonte de ônus
e deveres que representam alguma forma de constran- Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10
gimento, além da inegável estigmatização social que a dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou
publicidade lhe imprime. estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta
De acordo com o art. 5º da CF: hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem
de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito mediante fiança ou sem ela.
em julgado de sentença penal condenatória; § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os sido apurado e enviará autos ao juiz competente.
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
a assistência da família e de advogado;

249
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar teste- § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não con-
munhas que não tiverem sido inquiridas, mencionan- cordar com o arquivamento do inquérito policial, po-
do o lugar onde possam ser encontradas. derá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indi- comunicação, submeter a matéria à revisão da instân-
ciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao cia competente do órgão ministerial, conforme dispu-
juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, ser a respectiva lei orgânica.
que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados
em detrimento da União, Estados e Municípios, a revi-
são do arquivamento do inquérito policial poderá ser
#FicaDica provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
Mais recentemente, o art. 3º-B, §2º, do representação judicial.
CPP,110 incluído pela Lei n. 13.964/19, pas-
sou a prever que se o investigado estiver De acordo com o novo regramento constante do
preso, o juiz das garantias poderá, median- art. 28 do CPP, deixará de haver qualquer controle ju-
te representação da autoridade policial, dicial sobre a promoção de arquivamento apresentada
e ouvido o Ministério Público, prorrogar, pelo órgão ministerial. O controle sobre tal decisão ficará
uma única vez, a duração do inquérito por restrito ao Ministério Público. Todavia, a eficácia desse
até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda dispositivo foi suspensa em virtude de medida cautelar
assim a investigação não for concluída, a concedida pelo Min. Luiz Fux nos autos da ADI n. 6.305
prisão será imediatamente relaxada. (j. 22/01/2020).

• CPP: 10 + 15 (réu preso); 30 prorrogável (réu solto); EXERCÍCIOS COMENTADOS


• IP federal: 15 + 15 (réu preso); 30 dias (réu solto);
• Drogas: 30 + 30 (réu preso); 90+ 90 (réu solto); 1. (CESPE – 2019) O Código de Processo Penal, em diver-
• Crime contra a economia popular: 10 sempre; sos dispositivos, utiliza a expressão indiciado para indicar
• Prisão temporária decretada em inquérito policial a pessoa em relação à qual existe inquérito policial em
relativo a crimes hediondos e equiparados: 30 + 30 curso. Assinale a opção correta, acerca do indiciamento
(réu preso). no âmbito do procedimento policial.

Concluída a investigação policial, os autos do inqué- a) Quando ausente ou deficiente, vicia o inquérito poli-
rito policial devem ser encaminhados primeiramente ao cial e, consequentemente, contamina também o pro-
Poder Judiciário, e somente depois ao Ministério Público. cesso criminal a que se destina.
Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa b) Poderá ser viabilizado após o recebimento da
privada, deve o juiz determinar a permanência dos autos denúncia.
em cartório, aguardando-se a iniciativa do ofendido ou c) Vincula o ofendido ao oferecimento da queixa na hi-
de seu representante legal. pótese de ação penal privada.
Cuidando-se de crime de ação penal pública, os autos d) Deverá ser formulado pela autoridade policial quando
do inquérito policial são remetidos ao Ministério Público, requisitado pelo Ministério Público.
que poderá: formalizar acordo de não persecução penal; e) Poderá ser formalizado de forma indireta ante a não
oferecer denúncia; entender pelo arquivamento; requisi- localização do investigado.
tar diligências; declinar competência.
Resposta: Letra E.
FIQUE ATENTO! O indiciamento pode ocorrer de forma indireta, quan-
do o investigado não é encontrado, estando em local
Incumbe exclusivamente ao Ministério
incerto e não sabido.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Público avaliar se os elementos de infor-


mação de que dispõe são (ou não) sufi-
2. (FUNDEP – 2019) No curso de inquérito policial, a au-
cientes para o oferecimento da denúncia,
toridade policial que o presidia constatou que teria ocor-
razão pela qual nenhum inquérito pode
rido extinção da punibilidade pela prescrição da preten-
ser arquivado sem expressa determinação
são punitiva. Diante disso, assinale a alternativa correta.
ministerial.
a) A Autoridade Policial deverá declarar a extinção da
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito poli- punibilidade pela prescrição, em razão do princípio da
cial ou de quaisquer elementos informativos da mes- legalidade do inquérito policial.
ma natureza, o órgão do Ministério Público comuni- b) A Autoridade Policial deverá prosseguir na apuração,
cará à vítima, ao investigado e à autoridade policial em razão do princípio do impulso oficial do inquérito
e encaminhará os autos para a instância de revisão policial.
ministerial para fins de homologação, na forma da lei.

250
c) A Autoridade Policial deverá remeter de imediato os 5. (MPE-SC – 2019) A notitia criminis de cognição ime-
autos do inquérito ao Poder Judiciário, em razão do diata ocorre quando a autoridade policial toma conhe-
princípio da indisponibilidade do inquérito policial. cimento do fato delituoso através da apresentação do
d) A Autoridade Policial deverá arquivar o inquérito po- indivíduo preso em flagrante-delito, enquanto a denún-
licial, em razão do princípio da eficiência do inquérito cia anônima é considerada notitia criminis inqualificada.
policial.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: Letra C.
Resposta: Errado.
Não cabe à autoridade policial arquivar o inquérito, A assertiva está errada, pois o flagrante delito não é
nos termos do art. 16 do CPP, devendo remetê-lo ao notitia criminis de cognição imediata, mas sim uma
Poder Judiciário para que seja determinado o seu ar- notitia criminis de cognição coercitiva.
quivamento pela extinção da punibilidade.
6. (IADES – 2019) A partir do momento em que determi-
3. (AOCP – 2019) Acerca do inquérito policial brasileiro, nado delito é praticado, surge para o Estado o poder-de-
assinale a alternativa correta. ver de punir o suposto autor do ilícito. Assim, para que
o Estado possa deflagrar a persecução criminal em juízo,
a) A presidência da investigação de natureza criminal é é indispensável a presença de elementos de informação
privativa da polícia judiciária. quanto à autoria e quanto à materialidade da infração
b) É permitido ao Ministério Público conduzir o inquérito penal. Diferencia-se o inquérito policial da instrução pro-
policial como autoridade máxima. cessual por esse motivo. Acerca do valor probatório do
inquérito policial, assinale a alternativa correta.
c) A autoridade policial pode contrariar a moralidade
ou a ordem pública na reprodução simulada de fatos
concernentes a crimes contra a dignidade sexual. a) Os elementos de informação, em que pese sejam co-
d) A competência de apuração das infrações penais e da lhidos na fase de investigação, possuem valor proba-
sua autoria não excluirá a de outras autoridades admi- tório absoluto no processo penal, quando inexistir ou-
nistrativas que não a polícia judiciária, a quem, por lei, tro elemento de prova que possa servir de convicção
seja cometida a mesma função. ao juízo.
e) Do despacho que indeferir o requerimento de abertu- b) Os elementos de informação, colhidos na fase inquisi-
ra de inquérito, caberá recurso para o Tribunal Regio- torial, jamais serão admitidos como base de convicção
nal Federal. jurisdicional.
c) Levando-se em consideração que os elementos de in-
Resposta: Letra D. formação quanto à autoria e à materialidade do delito
Embora a presidência do inquérito policial seja privati- não são colhidos sob a égide do contraditório e da
va da polícia judiciária, tal competência não obsta que ampla defesa, deduz-se que o inquérito policial tem
outras autoridades administrativas apurem infrações valor probatório relativo.
e sua autoria, desde que esta função possua previsão d) Os elementos do inquérito não podem influir na for-
legislativa. mação do livre convencimento do juiz para a decisão
da causa, mesmo quando complementam outros indí-
4. (CESPE – 2019) A respeito de inquérito policial, assi- cios e provas que passam pelo crivo do contraditório
nale a opção correta. em juízo.
e) Não há o que se falar em produção de elementos de
a) Em regra, a apreensão de objetos na fase inquisitorial informação em inquérito policial, sem que haja irres-
não depende de autorização judicial. trito respeito à ampla defesa e ao contraditório.
b) A não conclusão do inquérito policial no prazo legal
acarreta a nulidade do procedimento.
Resposta: Letra C.
c) Diante de notícia de novas provas, a autoridade poli-
O inquérito policial possui valor probatório relativo,
cial poderá desarquivar, de ofício, inquérito policial já
em razão da necessidade dos elementos ali colhidos
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

encerrado.
serem reproduzidos na fase judicial, sob o crivo da
d) O inquérito policial é peça imprescindível ao ofereci-
mento da denúncia e se encerra com a apresentação ampla defesa e do contraditório.
do relatório final pela autoridade policial.
e) Aplicam-se às autoridades policiais as mesmas re- 7. (AOCP – 2019) Nos crimes de ação penal privada, o
gras de suspeição e impedimento concernentes aos inquérito policial será iniciado
magistrados.
a) de ofício pela autoridade policial.
Resposta: Letra A. b) a requerimento do ofendido ou, se ausente, ao cônju-
Logo que tiver conhecimento da prática da infração ge, ascendente, descendente ou seu irmão.
penal, a autoridade policial deverá, dentre outras di- c) por requisição do Poder Judiciário.
ligências, apreender os objetos que tiverem relação d) com a lavratura de boletim de ocorrência de terceiro
com o fato, após liberados pelos peritos criminais. interessado ao fato e alheio ao ofendido.
e) por requisição do Ministério Público ou a requerimen-
to do ofendido.

251
Resposta: Letra B. Exclusiva: a iniciativa da ação penal é da vítima, mas,
Nos crimes de ação privada, a autoridade policial so- se esta for menor ou incapaz, a lei prevê que possa ser
mente poderá proceder a inquérito a requerimento de proposta pelo representante legal. Ademais, em caso
quem tenha a qualidade para intentá-la. de morte da vítima, a ação poderá ser iniciada por seus
sucessores (cônjuge, companheiro, ascendente, descen-
dente ou irmão) e, se já estiver em andamento por oca-
AÇÃO PENAL sião do falecimento, poderão eles prosseguir no feito.
Personalíssima: a ação só pode ser proposta pela víti-
ma. Se ela for menor, deve -se esperar que complete 18
ESPÉCIES anos. Se for doente mental, deve -se aguardar eventual
restabelecimento.
Em AÇÃO PENAL, vamos seguir um esquema bem di-
dático de André Estefan e Victor Eduardo Rios Gonçalves,
#FicaDica
extraído do livro Direito Penal Parte Geral, Esquematiza-
do (2014). Em caso de morte, a ação não pode ser
A ação penal é o procedimento judicial iniciado pelo proposta pelos sucessores. Se já tiver sido
titular da ação quando há indícios de autoria e de mate- proposta na data do falecimento, a ação se
rialidade, a fim de que o juiz declare procedente a pre- extingue pela impossibilidade de sucessão
tensão punitiva estatal e condene o autor da infração no polo ativo.
penal.
Durante o transcorrer da ação penal, será assegura-
do ao acusado amplo direito de defesa, além de outras Subsidiária da pública: é a ação proposta pela vítima
garantias, como a estrita observância do procedimento em crime de ação pública, possibilidade que só existe
previsto em lei, de só ser julgado pelo juiz competente, quando o Ministério Público, dentro do prazo que a lei
de ter assegurado o contraditório e o duplo grau de ju- lhe confere, não apresenta qualquer manifestação.
risdição etc. Observe -se, por fim, que a ação penal somente
A ação penal, conforme dispõe o art. 100, caput, do tem início efetivo quando o juiz recebe a denúncia ou
a queixa.
CP, o Estado é detentor do direito e do poder de punir
(jus puniendi), pode conferir a iniciativa do desencadea-
CONDIÇÕES GERAIS DA AÇÃO
mento da ação penal a um órgão público (Ministério Pú-
blico) ou à própria vítima, dependendo da modalidade São condições que devem estar presentes para a pro-
de crime praticado. positura de toda e qualquer ação penal:
Por isso, para cada delito previsto em lei existe a pré-
via definição da espécie de ação penal: Legitimidade de parte
• iniciativa pública Se a ação for pública, deve ser proposta pelo Minis-
• iniciativa privada tério Público e, se for privada, pelo ofendido ou por seu
representante legal.
Desse modo, as infrações penais são divididas nestas O acusado deve ser maior de 18 anos e ser pessoa
duas categorias: física, pois, salvo nos crimes ambientais, pessoa jurídica
não pode figurar no polo passivo de uma ação penal,
• crimes de ação pública pois, em regra, não cometem crime.
• crimes de ação privada. Os inimputáveis por doença mental ou por depen-
dência em substância entorpecente podem figurar no
AÇÃO PENAL PÚBLICA polo passivo da ação penal, pois, se provada a acusa-
ção, serão absolvidos, mas com aplicação de medida de
É aquela em que a iniciativa é exclusiva do Ministério segurança ou de sujeição a tratamento médico contra a
Público, nos termos do art. 129, I, da CF.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

dependência.
A peça processual que a ela dá início é a Denúncia.
A ação pública apresenta as seguintes modalidades: Interesse de agir
Incondicionada: o exercício da ação independe de
qualquer condição especial. Para que a ação penal seja admitida, é necessária a
Condicionada: a propositura da ação penal depende existência de indícios suficientes de autoria e de mate-
rialidade a ensejar sua propositura. Além disso, é preciso
da prévia existência de uma condição especial (represen-
que não esteja extinta a punibilidade pela prescrição ou
tação da vítima ou requisição do Ministro da Justiça, o
qualquer outra causa.
art. 100, § 1º, do CP).
Possibilidade jurídica do pedido
AÇÃO PENAL PRIVADA
No processo penal, o pedido que se endereça ao juí-
É aquela em que a iniciativa da propositura é conferi-
zo é o de condenação do acusado a uma pena ou medi-
da à vítima. A peça inicial é a Queixa-crime.
da de segurança.
Subdivide -se em:

252
Para ser possível requerer a condenação, é preciso 3. (CESPE – 2018) Considerando essa situação hipotéti-
que o fato descrito na denúncia ou queixa seja típico, ca, julgue o item subsequente:
isso é, que se mostrem presentes no caso concreto todas Para que fique caracterizado o concurso de pessoas, é
as elementares exigidas na descrição abstrata da infração necessário que exista o prévio ajuste entre os agentes
penal. delitivos para a prática do delito.
Além dessas condições gerais, algumas espécies de
ação penal exigem condições específicas, como a ação ( ) CERTO ( ) ERRADO
pública condicionada, que pressupõe a existência de re-
presentação da vítima ou de requisição do Ministro da Resposta: Errado. “Para a caracterização do concurso
Justiça. de pessoas, basta a adesão voluntária, antes da consu-
Existem, ainda, na legislação algumas outras condi- mação, à conduta criminosa e a cooperação no sentido
ções (de procedibilidade) específicas, como: de realização do tipo penal, sendo irrelevante a exis-
tência de prévio acordo (TJMG, AC 1.0390.06. 014669-
• A entrada do autor da infração no território na- 8/001, Rel. Des. Hélcio Valentim, DJ 11/5/2009).
cional, nas hipóteses de extraterritorialidade da lei
penal brasileira previstas nos §§ 2º e 3º, do art. 7º, 4. (CESPE – 2013) Com relação aos princípios, institutos
do Código Penal. e dispositivos da parte geral do Código Penal (CP), julgue
• Autorização da Câmara dos Deputados para a ins- os itens seguintes.
tauração de processo criminal contra o Presidente Em relação ao concurso de pessoas, o CP adota a teoria
da República, Vice-Presidente ou Ministros de Es- monista, segundo a qual todos os que contribuem para
a prática de uma mesma infração penal cometem um
tado, perante o Supremo Tribunal Federal (art. 51,
único crime, distinguindo-se, entretanto, os autores do
I, da CF).
delito dos partícipes.
• Autorização da respectiva Casa Legislativa para
proceder a ação penal contra Senadores da Repú- ( ) CERTO ( ) ERRADO
blica e Deputados Federais e Estaduais.
Resposta: Certo. “O nosso Código Penal adota em
seu artigo 29 a teoria monista temperada ou mitigada,
EXERCÍCIOS COMENTADOS porquanto, embora não faça distinção entre autores,
coautores e partícipes, nos casos de concorrência para
1. (CESPE – 2018) Considerando essa situação hipotéti- uma mesma infração penal, todos devem responder
ca, julgue o item subsequente. pelo mesmo crime, sendo que, no entanto, cada um
na medida da sua culpabilidade (autor ou partícipe)”.
João e Pedro tiveram participação de menor importância
(Gílson Campos, 2011)
no crime de furto; assim, eventual indiciamento dos dois
será na condição de partícipes, razão por que eles pode- 5. (CESPE – 2018) Julgue o item subsequente, relativo ao
rão ser beneficiados pela diminuição de um a dois terços delito praticado em concurso de pessoas.
da pena. Para a configuração do concurso de pessoas, é necessá-
rio que três ou mais agentes se auxiliem mutuamente na
( ) CERTO ( ) ERRADO prática do ilícito penal

Resposta: Errado. Vamos observar o disposto no art. ( ) CERTO ( ) ERRADO


29, caput e § 1º, do CP: Quem, de qualquer modo, con-
corre para o crime incide nas penas a este cominadas, Resposta: Errado. Concurso de pessoas é a colabo-
na medida de sua culpabilidade. Se a participação for ração empreendida por duas ou mais pessoas para a
de menor importância, a pena pode ser diminuída de realização de um crime ou de uma contravenção pe-
um sexto a um terço. nal. (MASSAON, 2014)
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

2. (CESPE – 2018) Considerando essa situação hipotéti- JURISDIÇÃO


ca, julgue o item subsequente:
Como as ações paralelas de João, Pedro e Ana — agentes
diversos — lesionaram o mesmo bem jurídico, consta- COMPETÊNCIA
ta-se a ocorrência da autoria colateral, haja vista que o
resultado foi previamente planejado em conjunto. A competência jurisdicional é determinada por:

( ) CERTO ( ) ERRADO • lugar da infração.


• domicílio ou residência do réu.
Resposta: Errado. A autoria colateral ocorre na hipó- • natureza da infração.
tese em que duas ou mais pessoas, desconhecendo a • distribuição.
intenção uma da outra, praticam determinada condu- • conexão ou continência.
ta visando o mesmo resultado. Não há concurso pela • prevenção.
ausência de vínculo subjetivo. • prerrogativa de função.

253
Competência pelo lugar da infração
FIQUE ATENTO!
A competência será, de regra, determinada pelo lu- Se, iniciado o processo perante um juiz, hou-
gar em que se consumar a infração ou, no caso de ten- ver desclassificação para infração de compe-
tativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de tência de outro, a este será remetido o pro-
execução. cesso, salvo se mais graduada for a jurisdição
Quando se tratar de extraterritorialidade, deve-se ob- do primeiro, que, em tal caso, terá sua com-
servar que se iniciada a execução no território nacional, petência prorrogada.
a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no
Brasil, o último ato de execução. E quando o último ato
de execução for praticado fora do território nacional, Competência por distribuição
será competente o juiz do lugar em que o crime, embo-
ra parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu A precedência da distribuição fixa a competência
resultado. quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais
Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais de um juiz igualmente competente. A distribuição reali-
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ser a infra- zada para o efeito da concessão de fiança ou da decre-
ção consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais tação de prisão preventiva ou de qualquer diligência an-
jurisdições, a competência será firmada pela prevenção, terior à denúncia ou queixa irá prevenir a da ação penal.
ou seja, será prevento o juiz que adiantar-se aos demais
na prática de algum ato ou medida a este relativa, ainda Competência por conexão ou continência
que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa.
Tratando-se de infração continuada ou permanente,
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a Conexão Continência
competência também será por prevenção.
Se, ocorrendo duas ou
Competência pelo domicílio ou residência do réu mais infrações, houverem
sido praticadas, ao Duas ou mais pessoas
Não sendo conhecido o lugar da infração, a compe- mesmo tempo, por várias forem acusadas pela
tência será regulada pelo domicílio ou residência do réu. pessoas reunidas, ou mesma infração. crime
Se o réu tiver mais de uma residência, a competência por várias pessoas em único cometido por duas
será firmada também pela prevenção, aquele juiz que se concurso, embora diverso ou mais pessoas em
adianta aos demais na prática de algum ato ou medida. o tempo e o lugar, ou coautoria ou participação.
Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o por várias pessoas, umas
seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro to- contra as outras.
mar conhecimento do fato.
Se, no mesmo caso,
houverem sido umas
FIQUE ATENTO! praticadas para facilitar Ocorre em todos os
Nos casos de exclusiva ação privada, o que- ou ocultar as outras, casos de concurso
relante poderá preferir o foro de domicílio ou ou para conseguir
da residência do réu, ainda quando conheci-
formal, bem como nas
impunidade ou vantagem hipóteses de erro na
do o lugar da infração. em relação a qualquer execução (aberratio ictus)
delas. ou resultado diverso do
Competência pela natureza da infração Quando a prova de uma pretendido (aberratio
infração ou de qualquer criminis) com duplo
A competência pela natureza da infração será regula- de suas circunstâncias resultado.
da pelas leis de organização judiciária, salvo a competên- elementares influir na
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

cia privativa do Tribunal do Júri. prova de outra infração.


Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida previstos nos arts. 121, §§ 1º e § Na determinação da competência por conexão ou
2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127, do CP, continência, deve-se observar que no concurso entre a
consumados ou tentados. competência do Júri e a de outro órgão da jurisdição co-
Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para mum, prevalecerá a competência do Júri.
outra atribuída à competência de juiz singular, deverá E se a competência por conexão ou continência for
observar que o juiz tem que determinar a inquirição das em concurso de jurisdições da mesma categoria deverá:
testemunhas e a realização das diligências requeridas pe-
las partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias, como pres-
creve o art. 410, do CPP. Contudo, se a desclassificação
for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente
caberá proferir a sentença nos termos do art. 492, § 2º,
do CPP.

254
• preponderar a do lugar da infração, à qual for co- Verificada a reunião dos processos por conexão ou
minada a pena mais grave. continência, ainda que no processo da sua competência
• prevalecer a do lugar em que houver ocorrido o própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença ab-
maior número de infrações, se as respectivas penas solutória ou que desclassifique a infração para outra que
forem de igual gravidade. não se inclua na sua competência, continuará competen-
• firmar-se a competência pela prevenção, nos ou- te em relação aos demais processos.
tros casos.

E não são somente essas hipóteses. FIQUE ATENTO!


Ocorrendo a determinação da competência ou conti- Reconhecida inicialmente ao júri a compe-
nência, também deve observar que no concurso de juris- tência por conexão ou continência, o juiz,
dições de diversas categorias, irá predominar a de maior se vier a desclassificar a infração ou impro-
graduação, e que no concurso entre a jurisdição comum nunciar ou absolver o acusado, de maneira
e a especial, prevalecerá esta, a especial. que exclua a competência do júri, remeterá o
A conexão e a continência importarão unidade de processo ao juízo competente.
processo e julgamento.
A unidade de processo e julgamento tem exceção:
Se, não obstante a conexão ou continência, forem
instaurados processos diferentes, a autoridade de juris-
• no concurso entre a jurisdição comum e a militar,
dição prevalente deverá avocar os processos que corram
Justiça Militar não julga crime comum conexo, quer
perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sen-
tença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só
cometido pelo militar, quer por terceiro. O crime
militar é julgado na Justiça Especial e o comum na se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de uni-
Justiça Comum. ficação das penas.
• no concurso entre a jurisdição comum e a Vara da
Infância e da Juventude, na hipótese de um adul- Competência por prevenção
to e um adolescente cometem infração penal em
conjunto. O maior é julgado na Justiça Comum Verificar-se a competência por prevenção toda vez
e o menor na Vara da Infância e da Juventude, que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente com-
aplicando-se a este medida socioeducativa, ou petentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver
seja, advertência, liberdade assistida, internação. antecedido aos outros na prática de algum ato do pro-
cesso ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao
oferecimento da denúncia ou da queixa.
FIQUE ATENTO!
Cessará, em qualquer caso, a unidade do Competência pela prerrogativa de função
processo, se, em relação a algum co-réu
possui doença mental que foi verificada que A competência pela prerrogativa de função é do Su-
esta sobreveio à infração o processo ficará premo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça,
suspenso até que o acusado se restabeleça. dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça
Neste caso o juiz nomeará curador ao acu- dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pes-
sado, quando determinar o exame, ficando soas que devam responder perante eles por crimes co-
suspenso o processo, se já iniciada a ação muns e de responsabilidade.
penal, salvo quanto às diligências que pos- Nos processos por crime contra a honra, em que fo-
sam ser prejudicadas pelo adiamento. rem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à
jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento,
A unidade do processo não poderá importar a do jul- quando oposta e admitida a exceção da verdade.
gamento, se houver co-réu foragido que não possa ser
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ao Supremo Tribunal Federal competirá, privativa-


julgado à revelia, ou houver o caso de o julgamento não mente, processar e julgar:
ser adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo
se uma das partes tiver requerido a sua intimação por • os seus ministros, nos crimes comuns.
mandado, declarando não prescindir do depoimento e • os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos
indicando a sua localização. com os do Presidente da República.
Será facultativa a separação dos processos quando as • o procurador-geral da República, os desembar-
infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de gadores dos Tribunais de Apelação, os minis-
tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo tros do Tribunal de Contas e os embaixadores e
número de acusados e para não lhes prolongar a prisão ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de
provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar responsabilidade.
conveniente a separação.

255
Compete, originariamente, aos Tribunais de Justiça o Resposta: Letra B.
julgamento dos governadores ou interventores nos Esta- O princípio do juiz natural, instituído em razão da ma-
dos ou Territórios, e governador do Distrito Federal, seus téria e em razão da pessoa, configura hipótese de com-
respectivos secretários e chefes de Polícia, juízes de ins- petência absoluta, inafastável por vontade das partes
tância inferior e órgãos do Ministério Público. processuais, revelando a natureza pública do interesse
No processo por crimes praticados fora do território em disputa, somente se admitindo a sua flexibilização
brasileiro, será competente o juízo da Capital do Esta- por oportunidade da aplicação de norma da mesma es-
do onde houver por último residido o acusado. Se este tatura, ou seja, de norma ou princípio igualmente cons-
nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da titucional. Contudo, em razão do lugar, a competência
Capital da República. é relativa.
Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas
águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fron-
teiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, PRISÃO EM FLAGRANTE
em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça
do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação,
após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do últi- PRISÃO PREVENTIVA
mo em que houver tocado.
Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, As medidas cautelares deverão ser aplicadas obser-
dentro do espaço aéreo correspondente ao território vando-se a:
brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave es-
trangeira, dentro do espaço aéreo correspondente ao • necessidade para aplicação da lei penal, para a
território nacional, serão processados e julgados pela investigação ou a instrução criminal e, nos casos
justiça da comarca em cujo território se verificar o pouso expressamente previstos, para evitar a prática de
após o crime, ou pela da comarca de onde houver parti- infrações penais.
do a aeronave. • adequação da medida à gravidade do crime, cir-
Quando incerta e não se determinar de acordo com cunstâncias do fato e condições pessoais do indi-
situações acima descritas, a competência será pela ciado ou acusado.
prevenção.
As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada
ou cumulativamente. Elas serão decretadas pelo juiz, de
EXERCÍCIO COMENTADO ofício ou a requerimento das partes ou, quando no cur-
so da investigação criminal, por representação da auto-
1 (FCC – 2012) Competência: ridade policial ou mediante requerimento do Ministério
Público.
a) não se aplicam as regras de conexão de natureza obje- Observe que ressalvados os casos de urgência ou de
tiva ao tribunal do júri, em razão de expressa previsão perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pe-
constitucional de sua competência para o julgamento dido de medida cautelar, deverá determinar a intimação
de crimes dolosos contra a vida. da parte contrária, acompanhada de cópia do requeri-
b) o princípio do juiz natural, instituído ratione personae mento e das peças necessárias, permanecendo os autos
e ratione materiae, configura hipótese de competência em juízo. E, no caso de descumprimento de qualquer das
absoluta, inafastável por vontade das partes proces- obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante re-
suais, somente se admitindo a sua flexibilização por querimento do Ministério Público, de seu assistente ou
oportunidade da aplicação de norma constitucional. do querelante, poderá substituir a medida, impor outra
c) a expedição de mandado de busca e apreensão não em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão
configura ato de prevenção do juízo, tendo em vista preventiva.
a ausência de conteúdo decisório deste ato judicial. O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-
d) a competência inicialmente atribuída à justiça fede- -la quando verificar a falta de motivo para que subsista,
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

ral para o julgamento dos crimes de competência da bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que
justiça estadual em razão de conexão de natureza ob- a justifiquem.
jetiva é cessada caso haja absolvição em relação ao A prisão preventiva será determinada quando não for
único crime conexo de competência da justiça federal, cabível a sua substituição por outra medida cautelar.
devendo o juiz federal encaminhar o processo rema- É importante destacar que ninguém poderá ser preso
nescente para a justiça estadual competente. senão em flagrante delito ou por ordem escrita e funda-
e) viola as garantias fundamentais do juiz natural e do mentada da autoridade judiciária competente, em decor-
devido processo legal a atração por continência ou rência de sentença condenatória transitada em julgado
conexão do processo do corréu ao foro por prerroga- ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude
tiva de função de um dos denunciados, por tratar- se de prisão temporária ou prisão preventiva.
de regra de prorrogação de competência de natureza As medidas cautelares não se aplicam à infração a
infraconstitucional. que não for isolada, cumulativa ou alternativamente co-
minada pena privativa de liberdade.

256
A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão de-
qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à invio- terminada no mandado de prisão registrado no Conselho
labilidade do domicílio. Como isso, o art. 5º, XI, da CF, Nacional de Justiça, ainda que fora da competência terri-
garante que a casa é asilo inviolável do indivíduo, nin- torial do juiz que o expediu. E, ainda que sem registro no
guém nela podendo penetrar sem consentimento do Conselho Nacional de Justiça, adotando as precauções
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, necessárias para averiguar a autenticidade do manda-
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determi- do e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este
nação judicial. providenciar, em seguida, o registro do mandado.
Não será permitido o emprego de força, salvo a indis- A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga local de cumprimento da medida o qual providenciará a
do preso. certidão extraída do registro do Conselho Nacional de
A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res- Justiça e informará ao juízo que a decretou.
pectivo mandado. O mandado de prisão: O preso será informado de seus direitos, constantes
no ar. 5º, LXIII, da CF, entre os quais o de permanecer ca-
• será lavrado pelo escrivão e assinado pela lado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
autoridade. advogado, caso o autuado não informe o nome de seu
• designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu advogado, será comunicado à Defensoria Pública.
nome, alcunha ou sinais característicos. Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a le-
• mencionará a infração penal que motivar a prisão. gitimidade da pessoa do executor ou sobre a identidade
• declarará o valor da fiança arbitrada, quando afian- do preso, com fundadas razões, poderão pôr em custó-
çável a infração. dia o réu, até que fique esclarecida a dúvida.
• será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de
execução. outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-
-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o
O mandado será passado em duplicata, e o executor imediatamente à autoridade local, que, depois de lavra-
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exem- do, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para
plares com declaração do dia, hora e lugar da diligência. a remoção do preso.
Da entrega deverá o preso passar recibo no outro exem- Entender-se-á que o executor vai em perseguição do
plar; se recusar, não souber ou não puder escrever, o réu, quando:
fato será mencionado em declaração, assinada por duas
testemunhas. • tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrup-
Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do ção, embora depois o tenha perdido de vista.
mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal caso, • sabendo, por indícios ou informações fidedignas,
será imediatamente apresentado ao juiz que tiver expe- que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal
dido o mandado. ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for
Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exi- no seu encalço.
bido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a
quem será entregue cópia assinada pelo executor ou Quando as autoridades locais tiverem fundadas ra-
apresentada a guia expedida pela autoridade competen- zões para duvidar da legitimidade da pessoa do executor
te, devendo ser passado recibo da entrega do preso, com ou da legalidade do mandado que apresentar, poderão
declaração de dia e hora. O recibo poderá ser passado no pôr em custódia o réu, até que fique esclarecida a dúvida.
próprio exemplar do mandado, se este for o documento A prisão em virtude de mandado será feita desde que
exibido. o executor, fazendo-se conhecer do réu, lhe apresente o
Quando o acusado estiver no território nacional, fora mandado e o intime a acompanhá-lo.
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên-
prisão, devendo constar da precatória o inteiro teor do cia à prisão em flagrante ou à determinada por autorida-
de competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

mandado.
Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão poderão usar dos meios necessários para defender-se ou
por qualquer meio de comunicação, do qual deverá para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto
constar o motivo da prisão, bem como o valor da fiança subscrito também por duas testemunhas.
se arbitrada.
A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as
FIQUE ATENTO!
precauções necessárias para averiguar a autenticidade
da comunicação. É vedado o uso de algemas em mulheres
O juiz processante deverá providenciar a remoção do grávidas durante os atos médico-hospitala-
preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da res preparatórios para a realização do parto
efetivação da medida. e durante o trabalho de parto, bem como
O juiz competente providenciará o imediato registro em mulheres durante o período de puerpé-
do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo rio imediato.
Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade.

257
Se o executor do mandado verificar, com segurança, As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas
que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o mo- das que já estiverem definitivamente condenadas, nos
rador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de termos da lei de execução penal.
prisão. Se não for obedecido imediatamente, o execu- O militar preso em flagrante delito, após a lavratu-
tor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à ra dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da
força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo instituição a que pertencer, onde ficará preso à disposi-
noite, o executor, depois da intimação ao morador, se ção das autoridades competentes.
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando
a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará 1. Prisão em Flagrante
as portas e efetuará a prisão. O morador que se recusar a
entregar o réu oculto em sua casa será levado à presença Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
da autoridade, para que se proceda contra ele como for e seus agentes deverão prender quem quer que seja en-
de direito. No mesmo sentido, este procedimento é ado- contrado em flagrante delito.
tado em casas de prisão em flagrante Considera-se em flagrante delito quem:
Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à
disposição da autoridade competente, quando sujeitos a • está cometendo a infração penal.
prisão antes de condenação definitiva: • acaba de cometê-la.
• é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
• os ministros de Estado. ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que
• os governadores ou interventores de Estados e faça presumir ser autor da infração.
Territórios, o Prefeito do Distrito Federal, seus res- • é encontrado, logo depois, com instrumentos, ar-
pectivos secretários, os prefeitos municipais, os ve- mas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
readores e chefes de Polícia. autor da infração.
• os membros do Parlamento Nacional, do Conselho
de Economia Nacional e das Assembleias Legislati-
Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
vas dos Estados.
• os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”.
Apresentado o preso à autoridade competente, ouvi-
• os oficiais das Forças Armadas e os militares dos
rá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura,
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do
• os magistrados.
preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas
• os diplomados por qualquer das faculdades supe-
que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
riores da República.
sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada
• os ministros de confissão religiosa.
• os ministros do Tribunal de Contas. oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autorida-
• os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente de, afinal, o auto.
a função de jurado, salvo quando excluídos da lista Resultando das respostas fundada a suspeita contra
por motivo de incapacidade para o exercício da- o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão,
quela função. exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e
• os delegados de polícia e os guardas-civis dos Es- prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para
tados e Territórios, ativos ou inativos. isso for competente; se não o for, enviará os autos à au-
toridade que o seja.
A prisão especial consiste exclusivamente no recolhi- A falta de testemunhas da infração não impedirá o
mento em local distinto da prisão comum. auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o
Não havendo estabelecimento específico para o pre- condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas
so especial, este será recolhido em cela distinta do mes- que hajam testemunhado a apresentação do preso à
mo estabelecimento. A cela especial poderá consistir em autoridade.
alojamento coletivo, atendidos os requisitos de salubri- Quando o acusado se recusar a assinar, não souber
dade do ambiente, pela concorrência dos fatores de ae- ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

ração, insolação e condicionamento térmico adequado à assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua
existência humana. O preso especial não será transporta- leitura na presença deste.
do juntamente com o preso comum. Os demais direitos Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá
e deveres do preso especial serão os mesmos do preso constar a informação sobre a existência de filhos, respec-
comum. tivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome
Para o cumprimento de mandado expedido pela au- e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos
toridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir filhos, indicado pela pessoa presa.
tantos outros quantos necessários às diligências, deven- Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
do neles ser fielmente reproduzido o teor do mandado pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois
original. de prestado o compromisso legal.
A captura poderá ser requisitada, à vista de manda- A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon-
do judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas tre serão comunicados imediatamente ao juiz competen-
pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as precau- te, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa
ções necessárias para averiguar a autenticidade desta. por ele indicada.

258
A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
FIQUE ATENTO! rantia da ordem pública, da ordem econômica, por con-
Em até 24 (vinte e quatro) horas após a veniência da instrução criminal, ou para assegurar a apli-
realização da prisão, será encaminhado cação da lei penal, quando houver prova da existência do
ao juiz competente o auto de prisão em crime e indício suficiente de autoria. A prisão preventiva
flagrante e, caso o autuado não informe também poderá ser decretada em caso de descumpri-
o nome de seu advogado, cópia integral mento de qualquer das obrigações impostas por força de
para a Defensoria Pública. outras medidas cautelares
Será admitida a decretação da prisão preventiva:

No prazo de 24 (vinte e quatro) horas será entregue • nos crimes dolosos punidos com pena privativa de
ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos.
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condu- • se tiver sido condenado por outro crime doloso,
tor e os das testemunhas. em sentença transitada em julgado, ressalvada a
Quando o fato for praticado em presença da au- circunstância atenuante de pena de ser o agen-
toridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, te menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou
constarão do auto a narração deste fato, a voz de prisão,
maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença.
as declarações que fizer o preso e os depoimentos das
testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade, pelo • se o crime envolver violência doméstica e familiar
preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao contra a mulher, criança, adolescente, idoso, en-
juiz a quem couber tomar conhecimento do fato deli- fermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
tuoso, se não o for a autoridade que houver presidido execução das medidas protetivas de urgência.
o auto.
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver Também será admitida a prisão preventiva quando
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
lugar mais próximo. quando esta não fornecer elementos suficientes para es-
Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, clarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. em liberdade após a identificação, salvo se outra hipóte-
Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deve- se recomendar a manutenção da medida.
rá fundamentadamente: A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o
• relaxar a prisão ilegal; ou
agente praticado na condição de estado de necessidade,
• converter a prisão em flagrante em preventiva,
quando for por garantia da ordem pública, da or- legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal ou
dem econômica, por conveniência da instrução no exercício regular de direito. A decisão que decretar,
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei pe- substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre
nal, quando houver prova da existência do crime motivada.
e indício suficiente de autoria, e se revelarem ina- O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no cor-
dequadas ou insuficientes as medidas cautelares rer do processo verificar a falta de motivo para que sub-
diversas da prisão; ou sista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem ra-
• conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. zões que a justifiquem.

FIQUE ATENTO! 3. Prisão Domiciliar

Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em A prisão domiciliar consiste no recolhimento do in-
flagrante, que o agente praticou o fato nas diciado ou acusado em sua residência, só podendo dela
condições de estado de necessidade, legí- ausentar-se com autorização judicial.
tima defesa, estrito cumprimento de dever Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

legal ou no exercício regular de direito, ciliar quando o agente for:


poderá, fundamentadamente, conceder
ao acusado liberdade provisória, mediante • maior de 80 (oitenta) anos.
termo de comparecimento a todos os atos • extremamente debilitado por motivo de doença
processuais, sob pena de revogação. grave.
• imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência.
2. Prisão Preventiva • gestante.
• mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
Em qualquer fase da investigação policial ou do pro- incompletos.
cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo • homem, caso seja o único responsável pelos cui-
juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requeri- dados do filho de até 12 (doze) anos de idade
mento do Ministério Público, do querelante ou do assis- incompletos.
tente, ou por representação da autoridade policial.

259
4. Outras Medidas Cautelares • em caso de prisão civil ou militar.
• quando presentes os motivos que autorizam a de-
São medidas cautelares diversas da prisão: cretação da prisão preventiva.

• comparecimento periódico em juízo, no prazo e O valor da fiança será fixado pela autoridade que a
nas condições fixadas pelo juiz, para informar e conceder nos seguintes limites:
justificar atividades.
• proibição de acesso ou frequência a determinados • de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se
lugares quando, por circunstâncias relacionadas
tratar de infração cuja pena privativa de liberda-
ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
de, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro)
distante desses locais para evitar o risco de novas
infrações. anos.
• proibição de manter contato com pessoa determi- • de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos,
nada quando, por circunstâncias relacionadas ao quando o máximo da pena privativa de liberdade
fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer cominada for superior a 4 (quatro) anos.
distante.
• proibição de ausentar-se da Comarca quando a Se assim recomendar a situação econômica do preso,
permanência seja conveniente ou necessária para a fiança poderá ser:
a investigação ou instrução.
• recolhimento domiciliar no período noturno e nos • dispensada. Neste caso o preso deverá compare-
dias de folga quando o investigado ou acusado te- cer perante a autoridade, todas as vezes que for
nha residência e trabalho fixos. intimado para atos do inquérito e da instrução
• suspensão do exercício de função pública ou de criminal e para o julgamento. Não poderá mudar
atividade de natureza econômica ou financeira de residência, sem prévia permissão da autoridade
quando houver justo receio de sua utilização para processante, ou ausentar-se por mais de oito dias
a prática de infrações penais. de sua residência, sem comunicar àquela autorida-
• internação provisória do acusado nas hipóteses de
de o lugar onde será encontrado.
crimes praticados com violência ou grave ameaça,
• reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços).
quando os peritos concluírem ser inimputável ou
semi-imputável e houver risco de reiteração. • aumentada em até 1.000 (mil) vezes.
• fiança, nas infrações que a admitem, para assegu-
rar o comparecimento a atos do processo, evitar a Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá
obstrução do seu andamento ou em caso de resis- em consideração a natureza da infração, as condições
tência injustificada à ordem judicial. pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as cir-
• monitoração eletrônica. cunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como
a importância provável das custas do processo, até final
A fiança poderá ser cumulada com outras medidas julgamento.
cautelares. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a
A proibição de ausentar-se do País será comunicada comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for
pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saí- intimado para atos do inquérito e da instrução criminal
das do território nacional, intimando-se o indiciado ou e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a
acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vin- fiança será havida como quebrada.
te e quatro) horas. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra-
A autoridade policial somente poderá conceder fian- mento da fiança, mudar de residência, sem prévia per-
ça nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade missão da autoridade processante, ou ausentar-se por
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Nos demais
mais de oito dias de sua residência, sem comunicar àque-
casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
la autoridade o lugar onde será encontrado.
(quarenta e oito) horas.
Não será concedida fiança: Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá
um livro especial, com termos de abertura e de encerra-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

• nos crimes de racismo. mento, numerado e rubricado em todas as suas folhas


• nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecen- pela autoridade, destinado especialmente aos termos
tes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como de fiança. O termo será lavrado pelo escrivão e assinado
crimes hediondos. pela autoridade e por quem prestar a fiança, e dele ex-
• nos crimes cometidos por grupos armados, civis trair-se-á certidão para juntar-se aos autos.
ou militares, contra a ordem constitucional e o Es- O réu e quem prestar a fiança serão pelo escrivão
tado Democrático. notificados das obrigações e da sanção de que deverá
comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for
Não será, igualmente, concedida fiança: intimado para atos do inquérito e da instrução criminal
e para o julgamento. Acrescenta-se também que não
• aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado poderá mudar de residência, sem prévia permissão da
fiança anteriormente concedida ou infringido, sem autoridade processante, ou ausentar-se por mais de oito
motivo justo, qualquer das obrigações a que se re- dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade
ferem os arts. 327 e 328 deste Código. o lugar onde será encontrado.

260
A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em de- Será julgada quebrada a fiança quando o acusado:
pósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos,
títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, • regularmente intimado para ato do processo, dei-
ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. xar de comparecer, sem motivo justo.
A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou me- • deliberadamente praticar ato de obstrução ao an-
tais preciosos será feita imediatamente por perito no- damento do processo.
meado pela autoridade. • descumprir medida cautelar imposta cumulativa-
Quando a fiança consistir em caução de títulos da dí- mente com a fiança.
vida pública, o valor será determinado pela sua cotação • resistir injustificadamente a ordem judicial.
em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que • praticar nova infração penal dolosa.
se acham livres de ônus.
Se vier a ser reformado o julgamento em que se de-
O valor em que consistir a fiança será recolhido à re-
clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue
seus efeitos.
ao depositário público, juntando-se aos autos os respec-
O quebramento injustificado da fiança importará na
tivos conhecimentos. perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir
Nos lugares em que o depósito não se puder fazer sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se
de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa for o caso, a decretação da prisão preventiva.
abonada, a critério da autoridade, e dentro de três dias Será perdido, na totalidade, o valor da fiança, se, con-
dar-se-á ao valor o destino que lhe assina este artigo, o denado, o acusado não se apresentar para o início do
que tudo constará do termo de fiança. cumprimento da pena definitivamente imposta.
Em caso de prisão em flagrante, será competente No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as
para conceder a fiança a autoridade que presidir ao res- custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado,
pectivo auto, e, em caso de prisão por mandado, o juiz será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.
que o houver expedido, ou a autoridade judiciária ou po- No caso de quebra da fiança, o valor restante também
licial a quem tiver sido requisitada a prisão. será recolhido ao fundo penitenciário. Portanto, o saldo
Depois de prestada a fiança, que será concedida in- será entregue a quem houver prestado a fiança, depois
dependentemente de audiência do Ministério Público, de deduzidos os encargos a que o réu estiver obrigado.
este terá vista do processo a fim de requerer o que julgar Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por
conveniente. meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo
A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar cível pelo órgão do Ministério Público.
em julgado a sentença condenatória. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre-
Recusando ou retardando a autoridade policial a ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor.
concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a
prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz com- situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liber-
petente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. dade provisória, sujeitando-o às obrigações de que deverá
O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for
pagamento das custas, da indenização do dano, da pres- intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e
para o julgamento. Não poderá mudar de residência, sem
tação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. Esta
prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-
regra terá aplicação ainda no caso da prescrição depois
-se por mais de oito dias de sua residência, sem comunicar
da sentença condenatória
àquela autoridade o lugar onde será encontrado.
Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo, qual-
julgado sentença que houver absolvido o acusado ou quer das obrigações ou medidas impostas, o juiz, de
declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir, ofício ou mediante requerimento do Ministério Público,
atualizado, será restituído sem desconto, salvo em caso de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a
de prescrição depois da sentença condenatória. medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso,
A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie decretar a prisão preventiva.
será cassada em qualquer fase do processo. Será tam-
bém cassada a fiança quando reconhecida a existência
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

5. Prisão Civil
de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica-
ção do delito. Vamos ao art. 5º, LXVII, da CF.
Será exigido o reforço da fiança:
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do res-
• quando a autoridade tomar, por engano, fiança ponsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável
insuficiente. de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
• quando houver depreciação material ou pereci-
mento dos bens hipotecados ou caucionados, ou A liberdade é um direito fundamental e a prisão sem-
depreciação dos metais ou pedras preciosas. pre está relacionada a condutas tipificadas na legislação
• quando for inovada a classificação do delito. penal como medida de exceção. Deveria, portanto, ser
mais restrita a possibilidade de prisão civil por dívida.
A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à A Constituição permite a modalidade de prisão im-
prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for posta como coerção para o cumprimento de obrigação
reforçada. legal em duas hipóteses.

261
Na primeira, pelo descumprimento voluntário de obrigação alimentar, ou seja, quando a pessoa podendo, se nega
a pagar alimentos a seus dependentes. Cabe, neste caso, a prisão decorrente de pensão se a dívida for inescusável,
justamente por se tratar de meio de coerção e não de pena, e pelo mesmo motivo ele deve ser solto ao pagar a dívida.
A restrição ao direito fundamental à liberdade justifica-se pela promoção de outro importante direito fundamental:
a subsistência de quem depende dos alimentos de outra pessoa para viver.
A segunda hipótese versa sobre o depositário infiel, assim considerado aquela pessoa que recebe um bem para
manter em depósito para posterior restituição ao proprietário e, no momento da devolução, descumpre este dever
desviando ou consumindo o bem.
O STF entendeu não ser mais cabível a prisão do depositário infiel. Com a ratificação do Pacto de San José da Costa
Rica em 1992, só considera como válida a prisão civil do devedor de alimentos.
Observe a Súmula Vinculante 25:
É ilícita a prisão civil do depositário infiel qualquer que seja modalidade do depósito.
DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓRIA. CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS (§§ 2º
ao 6º, do art. 282, art. 283, art. 287, art. 310-313, art. 316 do Código de Processo Penal)
A principal novidade do tema “medidas cautelares” – e que deve ser pegadinha frequente em concursos – é a elimi-
nação das hipóteses da atuação de ofício do Juiz. Agora, as medidas cautelares só podem ser requeridas pelas partes
ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
Ministério Público.
Além disso, em caso de descumprimento da medida cautelar, o Juiz também NÃO poderá mais atuar de ofício, seja
substituindo a medida ou cumulando com outra ou decretando a prisão provisória. Porém, o Juiz poderá revogar ou subs-
tituir a medida cautelar de ofício quando faltar motivo para que subsista ou quando sobrevierem razões que a justifique.

FIQUE ATENTO!
Embora seja possível a concessão da medida liminar sem a manifestação da parte contrária, em especial
quando for o caso de urgência, em regra o Juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, deverá intimar a
parte contrária para se manifestar no prazo de 05 dias.
Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada
em julgado. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso,
em tal caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para a realização de
audiência de custódia.

Prisão Preventiva
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão pre-
Momento de Decretação ventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
assistente, ou por representação da autoridade policial.
Garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução cri-
minal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade
Hipóteses de Cabimento do imputado.
Descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares.
A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motiva-
da e fundamentada.
Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sen-
tença ou acórdão, que:
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar


sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
Requisitos III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fun-
damentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àque-
les fundamentos; ou
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a supera-
ção do entendimento.

262
O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no
correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista,
bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
Encerramento da Prisão Preventiva
Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessida-
de de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de
ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

FIQUE ATENTO!
NÃO será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento
de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de
denúncia. A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar, observado demais medidas cautelares, e o NÃO cabimento da substituição por
outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso
concreto, de forma individualizada.

PRISÃO TEMPORÁRIA (LEI N° 17.960/1989)

LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989

Conversão da Medida Provisória nº 111, de 1989


(Vide Lei nº 13.869, de 2019) (Vigência) Dispõe sobre prisão temporária.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1° Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou par-
ticipação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848,
de 1940)
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide
Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de
1940)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput,
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

combinado com art. 285);


l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei nº 13.260, de 2016)
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial ou de reque-
rimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade.
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte
e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do requerimento.

263
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Quanto à natureza jurídica do HC, o Código de Pro-
Ministério Público e do Advogado, determinar que o cesso Penal enquadra-o como recurso, porém essa afir-
preso lhe seja apresentado, solicitar informações e es- mação esta ultrapassada, tendo em vista que a Consti-
clarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a tuição Federal (que é posterior ao CPP) conferiu ao HC o
exame de corpo de delito. patamar de Ação Autônoma de Impugnação.
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á Quanto à legitimidade, tem-se que há três perfis
mandado de prisão, em duas vias, uma das quais será diferentes:
entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa.
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente a) Legitimidade ativa: É o impetrante, podendo ser
o período de duração da prisão temporária estabele- qualquer pessoa, tendo em vista que o HC não é
cido no caput deste artigo, bem como o dia em que o peça privativa de advogado. Importante lembrar
preso deverá ser libertado. (Incluído pela Lei nº 13.869. que criança, inimputável, pessoa jurídica não po-
de 2019) dem impetrar HC.
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da
expedição de mandado judicial. Na mesma esteira, não se admite HC apócrifo, que é
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará aquele impetrado por pessoa anônima.
o preso dos direitos previstos no art. 5° da Constituição
Federal. b) Legitimidade passiva: Normalmente o HC é impe-
§ 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o trado contra funcionário público que praticou abu-
preso deverá ser posto imediatamente em liberdade, so/ilegalidade. Entretanto, em alguns casos poderá
salvo se já tiver sido decretada sua prisão preventiva. ser impetrado HC contra ato de particular (ex: rela-
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, ções médicas hospitalares).
a autoridade responsável pela custódia deverá, inde- c) Paciente: É a pessoa que poderá ser beneficiado
pendentemente de nova ordem da autoridade judicial, pelo HC, devendo sempre ser uma pessoa física.
pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo se já Não cabe HC em favor de objeto ou animal.
tiver sido comunicada da prorrogação da prisão tem-
porária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluí- Quanto à competência do HC, vejamos o quadro a
do pela Lei nº 13.869. de 2019) seguir:
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de
prisão no cômputo do prazo de prisão temporária. AUTORIDADE
(Redação dada pela Lei nº 13.869. de 2019) QUE PRATICOU A
COMPETÊNCIA PARA
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, JULGAR O HC
ILEGALIDADE
obrigatoriamente, separados dos demais detentos.
Pessoa comum (ex:
Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro Juiz de 1º grau
diretor de hospital)
de 1965, fica acrescido da alínea i, com a seguinte
redação: Delegado Estadual Juiz estadual de 1º grau
“Art. 4° ............................................................... Delegado Federal Juiz federal de 1º grau
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena
Membro do Ministério Tribunal de Justiça do
ou de medida de segurança, deixando de expedir em
Público Estadual Estado
tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem
Membro do Ministério
de liberdade;” Tribunal Regional Federal
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias ha- Público Federal
verá um plantão permanente de vinte e quatro horas Juiz do juizado especial Turma recursal
do Poder Judiciário e do Ministério Público para apre- criminal competente
ciação dos pedidos de prisão temporária. Turma recursal em âmbito Tribunal de Justiça do
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua estadual Estado
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

publicação.
Turma recursal em âmbito
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. Tribunal Regional Federal
federal
Brasília, 21 de dezembro de 1989; 168° da Indepen-
dência e 101° da República. Tribunal de Justiça do
Juiz estadual de 1º grau
Estado
Juiz federal de 1º grau Tribunal Regional Federal
HABEAS CORPUS
Membro do Tribunal
Superior Tribunal de
de Justiça ou Tribunal
Justiça
Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém so- Regional Federal
frer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação Ministro do Superior
Supremo Tribunal Federal
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abu- Tribunal de Justiça
so de poder.

264
É admissível a concessão de liminar em HC, para que Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por
se permita obter imediatamente a ordem pretendida ao qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem
final. Tal fato deve estar amparado pelo perigo da demo- como pelo Ministério Público.
ra e fumaça do bom direito. § 1o A petição de habeas corpus conterá:
Vejamos agora o que dispõe o Código de Processo a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de
Penal acerca do HC: sofrer violência ou coação e o de quem exercer a vio-
lência, coação ou ameaça;
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em
sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou caso de simples ameaça de coação, as razões em que
coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos funda o seu temor;
casos de punição disciplinar. c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a
I - quando não houver justa causa; designação das respectivas residências.
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do § 2o Os juízes e os tribunais têm competência para ex-
que determina a lei; pedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no
III - quando quem ordenar a coação não tiver compe- curso de processo verificarem que alguém sofre ou
tência para fazê-lo; está na iminência de sofrer coação ilegal.
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escri-
a coação; vão, o oficial de justiça ou a autoridade judiciária ou
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, policial que embaraçar ou procrastinar a expedição de
nos casos em que a lei a autoriza; ordem de habeas corpus, as informações sobre a cau-
VI - quando o processo for manifestamente nulo; sa da prisão, a condução e apresentação do paciente,
VII - quando extinta a punibilidade. ou a sua soltura, será multado na quantia de duzentos
Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas
sua jurisdição, fará passar imediatamente a ordem em que incorrer. As multas serão impostas pelo juiz do
impetrada, nos casos em que tenha cabimento, seja tribunal que julgar o habeas corpus, salvo quando se
qual for a autoridade coatora. tratar de autoridade judiciária, caso em que caberá ao
Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apelação
pedido de habeas corpus: impor as multas.
I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz,
Art. 101, I, g, da Constituição; se julgar necessário, e estiver preso o paciente, man-
II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de dará que este Ihe seja imediatamente apresentado em
violência ou coação forem atribuídos aos governado- dia e hora que designar.
res ou interventores dos Estados ou Territórios e ao Parágrafo único. Em caso de desobediência, será ex-
prefeito do Distrito Federal, ou a seus secretários, ou pedido mandado de prisão contra o detentor, que será
aos chefes de Polícia. processado na forma da lei, e o juiz providenciará para
§ 1o A competência do juiz cessará sempre que a vio- que o paciente seja tirado da prisão e apresentado em
lência ou coação provier de autoridade judiciária de juízo.
igual ou superior jurisdição. Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo
§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão ad- escusará a sua apresentação, salvo:
ministrativa, atual ou iminente, dos responsáveis por I - grave enfermidade do paciente;
dinheiro ou valor pertencente à Fazenda Pública, al- Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se
cançados ou omissos em fazer o seu recolhimento nos atribui a detenção;
prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado de III - se o comparecimento não tiver sido determinado
prova de quitação ou de depósito do alcance verifica- pelo juiz ou pelo tribunal.
do, ou se a prisão exceder o prazo legal. Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, paciente se encontrar, se este não puder ser apresen-
nem porá termo ao processo, desde que este não este- tado por motivo de doença.
ja em conflito com os fundamentos daquela. Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o
Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude paciente estiver preso.
de nulidade do processo, este será renovado. Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já ces-
Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude sou a violência ou coação ilegal, julgará prejudicado
de habeas corpus, será condenada nas custas a autori- o pedido.
dade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o pa-
determinado a coação. ciente, o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de
Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Minis- 24 (vinte e quatro) horas.
tério Público cópia das peças necessárias para ser pro- § 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo
movida a responsabilidade da autoridade. posto em liberdade, salvo se por outro motivo dever
ser mantido na prisão.

265
§ 2o Se os documentos que instruírem a petição eviden- Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus
ciarem a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal or- de competência originária do Supremo Tribunal Fede-
denará que cesse imediatamente o constrangimento. ral, bem como nos de recurso das decisões de última
§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido ou única instância, denegatórias de habeas corpus,
o paciente admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará observar-se-á, no que lhes for aplicável, o disposto nos
o valor desta, que poderá ser prestada perante ele, re- artigos anteriores, devendo o regimento interno do tri-
metendo, neste caso, à autoridade os respectivos au- bunal estabelecer as regras complementares.
tos, para serem anexados aos do inquérito policial ou
aos do processo judicial.
§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para #FicaDica
evitar ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á Não cabe HC em caso de militar preso por
ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz. infração disciplinar (art. 142, § 2º do CF)
§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à au-
toridade que tiver ordenado a prisão ou tiver o pa-
ciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos
do processo.
EXERCÍCIO COMENTADO
§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que
não seja o da sede do juízo ou do tribunal que con-
ceder a ordem, o alvará de soltura será expedido pelo 1. (CESPE – 2018) Julgue o seguinte item, acerca do ha-
telégrafo, se houver, observadas as formalidades esta- beas corpus e de medidas coativas de prisão.
belecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou por Não se admite a impetração de habeas corpus para ata-
via postal. car sentença cuja condenação se tenha limitado a pena
Art. 661. Em caso de competência originária do Tri- de natureza pecuniária.
bunal de Apelação, a petição de habeas corpus será
apresentada ao secretário, que a enviará imediata- ( ) CERTO ( ) ERRADO
mente ao presidente do tribunal, ou da câmara cri-
minal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro Resposta: Certo.
tiver de reunir-se. Súmula 693/STF: Não cabe habeas corpus contra de-
Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. cisão condenatória a pena de multa, ou relativo a pro-
654, § 1º, o presidente, se necessário, requisitará da cesso em curso por infração penal a que a pena pecu-
autoridade indicada como coatora informações por niária seja a única cominada.
escrito. Faltando, porém, qualquer daqueles requisitos,
o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for
apresentada a petição. HORA DE PRATICAR
Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão
ordenadas, se o presidente entender que o habeas cor- 1. (IADES – 2019) A partir do momento em que determi-
pus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a nado delito é praticado, surge para o Estado o poder-de-
petição ao tribunal, câmara ou turma, para que deli- ver de punir o suposto autor do ilícito. Assim, para que o
bere a respeito. Estado possa deflagrar a persecução criminal em juízo,
Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, é indispensável a presença de elementos de informação
o habeas corpus será julgado na primeira sessão, po- quanto à autoria e quanto à materialidade da infração
dendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a ses- penal. Diferencia- se o inquérito policial da instrução
são seguinte. processual por esse motivo. Acerca do valor probatório
Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria do inquérito policial, assinale a alternativa correta.
de votos. Havendo empate, se o presidente não tiver
tomado parte na votação, proferirá voto de desempa- a) Os elementos de informação, em que pese sejam co-
lhidos na fase de investigação, possuem valor proba-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

te; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais favo-


rável ao paciente. tório absoluto no processo penal, quando inexistir ou-
Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem tro elemento de prova que possa servir de convicção
que, assinada pelo presidente do tribunal, câmara ao juízo.
ou turma, será dirigida, por ofício ou telegrama, ao b) Os elementos de informação, colhidos na fase inquisi-
detentor, ao carcereiro ou autoridade que exercer ou torial, jamais serão admitidos como base de convicção
ameaçar exercer o constrangimento. jurisdicional.
Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama c) Levando-se em consideração que os elementos de in-
obedecerá ao disposto no art. 289, parágrafo único, formação quanto à autoria e à materialidade do delito
in fine. não são colhidos sob a égide do contraditório e da
Art. 666. Os regimentos dos Tribunais de Apelação ampla defesa, deduz-se que o inquérito policial tem
estabelecerão as normas complementares para o pro- valor probatório relativo.
cesso e julgamento do pedido de habeas corpus de sua
competência originária.

266
d) Os elementos do inquérito não podem influir na for- c) legal, pois se trata de um crime instantâneo, portanto,
mação do livre convencimento do juiz para a decisão como a consumação não se prolonga no tempo, não é
da causa, mesmo quando complementam outros indí- possível o flagrante delito a qualquer momento.
cios e provas que passam pelo crivo do contraditório d) legal, pois se trata de um crime permanente, portanto,
em juízo. como a consumação se prolonga no tempo, é possível
e) Não há o que se falar em produção de elementos de o flagrante delito a qualquer momento.
informação em inquérito policial, sem que haja irres- e) ilegal, pois se trata de um crime instantâneo, portanto,
trito respeito à ampla defesa e ao contraditório. como a consumação não se prolonga no tempo, não é
possível o flagrante delito a qualquer momento.
2. (IADES – 2018) No que se refere à notitia criminis
e à delatio criminis no inquérito policial em crimes de 5. (IADES – 2018) Nos termos dos artigos 323 e 324 do
ação penal pública incondicionada, assinale a alternativa Código de Processo Penal, será concedida fiança
correta.
a) nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes
a) Notitia criminis indireta é verificada quando o próprio e drogas afins, terrorismo e os definidos como crimes
delegado investiga, por qualquer meio, e descobre um hediondos.
fato-crime, devendo apurá-lo. b) em caso de prisão militar.
b) Delatio criminis inquisitorial intercorre quando o pró- c) nos crimes de racismo.
prio juiz procede à investigação. d) nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou
c) Notitia criminis direta acontece quando a vítima pro- militares, contra a ordem constitucional e o estado
voca a atuação do delegado, bem como quando o democrático.
promotor ou juiz requisitam tal atuação. e) quando ausente um dos motivos que autorizam a pri-
d) Delatio criminis ocorre quando qualquer pessoa do são preventiva.
povo comunica à autoridade policial, ou membro do
Ministério Público, ou juiz, acerca da ocorrência da in-
fração penal. GABARITO
e) Delatio criminis indireta cumpre-se quando a autori-
dade policial investiga, por qualquer meio, e descobre
1 C
um fato-crime, devendo apurá-lo.
2 D
3 A
3. (IADES – 2018) Suponha que a Polícia Militar tome
4 D
conhecimento de que ocorrerá uma grande transação
5 E
de drogas ilícitas nas proximidades da Feira da Torre de
TV. As viaturas são acionadas e, quando chegam ao local,
aguardam a consumação do crime. Realizado o tráfico
de drogas, os policiais perseguem os veículos até Sobra-
dinho, efetuando a prisão em flagrante dois dias após a ANOTAÇÕES
perseguição.
Essa situação hipotética trata-se de flagrante
___________________________________________________________
a) esperado, sendo legal a prisão.
b) provocado, sendo ilegal a prisão. ____________________________________________________________
c) ilegal, tendo em vista que a prisão se realizou 24 horas
após a prática do crime. ____________________________________________________________
d) forjado, sendo legal a prisão.
____________________________________________________________
e) preparado, sendo legal a prisão.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

___________________________________________________________
4. (IADES – 2018) Considere que um traficante tem 300
kg de cocaína armazenados e acondicionados em um ar- ____________________________________________________________
mazém de determinado porto. A polícia decide ingres-
____________________________________________________________
sar no local e efetuar a prisão em flagrante do traficante.
Nessa hipótese, o flagrante é ____________________________________________________________

a) forjado, pois a polícia plantou o objeto do crime no ____________________________________________________________


local para configurar a materialidade do delito.
____________________________________________________________
b) preparado ou provocado, pois um agente policial
atuou de maneira a ensejar que o traficante praticasse ____________________________________________________________
o delito para poder efetuar a prisão.
____________________________________________________________

267
A lei penal militar, em regra, não retroage. Mas cabe
exceção, quando a nova lei penal retroagir para benefi-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL ciar o réu. Quando se trata de novatio legis in pejus, a lei
não retroage. Porém, no caso de novatio legis in mellius a
MILITAR lei retroage por beneficiar o réu.
Aprecia-se a nova lei penal militar nos casos concre-
tos para verificar se a lei posterior é realmente benéfica
APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR ao réu. Por exemplo, se a nova lei reduzir o mínimo e
o máximo da pena em abstrato, e majorar o aumento
de pena para as qualificadoras do crime, apreciam-se as
APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR NO TEMPO circunstâncias para concluir sobre a retroatividade da lei.
Agora, no caso de leis excepcionais ou temporárias a
O Direito Penal Militar possui legislação específica, o lei penal militar poderá ser ultra-ativa. Isto significa que
CPM (Código de Processo Militar; Decreto-Lei nº 1.001, a lei pode manter seus efeitos de regular acontecimento
de 21 de outubro de 1969) é dividido em Parte Geral (Li- ocorrido durante sua vigência, mesmo que os fatos estão
vro Único) e Parte Especial que possui Livro I (Dos Crimes sendo apurados após sua revogação.
Militares em Tempo de Paz) e Livro II (Dos Crimes Milita- As leis temporárias são as que entram em vigor após
res em Tempo de Guerra). a publicação e é revogada em data pré-estabelecida. As
Muitas teorias e conceitos são semelhantes ao direito leis excepcionais possuem apenas data de início da en-
penal, que identificaremos de direito penal comum para trada em vigor, sendo a data da revogação correspon-
diferenciar do direito penal militar. dente ao fim da situação excepcional. Um exemplo claro
Deve-se ter atenção aos tipos penais que estão pre- está no Livro II da Parte Especial do CPM (Crimes Mili-
vistos somente no CPM (CPM), bem como identificar as tares em Tempo de Guerra), em que lei entra em vigor
circunstâncias imprescindíveis para que o crime que pos- com a declaração da guerra e é revogada com o fim das
sui idêntica definição na legislação penal comum e na lei atividades beligerantes.
penal militar seja de competência da Justiça Militar. Ainda sobre a aplicação da lei penal militar no tempo,
Ademais, identificaremos as semelhanças e as dife- há a norma penal militar em branco. Esta norma necessi-
renças entre a Justiça Militar da União e a Justiça Militar ta de complementação para efetivar o preceito primário
Estadual. do tipo penal. Ela pode ser em sentido lato ou homogê-
E um ponto importante que não podemos esquecer, nea, quando o complemento provém da mesma fonte
todos os tipos penais de competência da justiça castren-
material que a norma penal, ou pode ser em sentido es-
se (militar) está contido exclusivamente no CPM.
trito ou heterogênea, quando se busca o complemento
O CPM faz referência a dois conceitos que merecem
em fonte material de natureza diversa da norma penal.
ser atualizados para o contexto da aula. Ministério em
que o militar pertence, deve ser entendido como Coman- É exemplo de norma penal em branco em sentido
do em que o militar pertence, visto que a partir de 1999 lato ou homogênea o crime de desobediência:
foi criado o Ministério de Estado da Defesa, órgão do Go-
verno Federal que exerce a direção superior das Forças Art. 301, do CPM. Desobedecer a ordem legal de au-
Armadas que é constituída pelo Comando da Marinha, toridade militar.
Comando do Exército e Comando da Aeronáutica. Art. 22, do CPM. É considerada militar, para efeito
O outro conceito é o assemelhado, servidor civil da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em
submetido a preceitos de disciplina militar em virtude tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças
de lei ou regulamento (art. 21 do CPM) que não existe armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou
mais no universo jurídico desde a edição do Decreto nº sujeição à disciplina militar.
23.203/1947.
O art. 1º, do CPM, possui a mesma redação do art. 1º Um exemplo de norma penal em branco em senti-
do CP, XXXIX, do art. 5º, da CF, não há crime sem lei ante- do estrito ou heterogênea é o artigo 290 do CPM, que
rior que o define, nem pena sem prévia cominação legal. traz no preceito primário um conjunto de ações: receber,
Está contido no art. 1º, do CPM, o Princípio da Le- preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuita-
galidade. Por este princípio, somente a União por meio mente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ain-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

do Poder Legislativo (por lei) pode definir fato típico e da que para uso próprio, guardar, ministrar ou entregar
cominar a pena. E também o Princípio da Anterioridade, de qualquer forma a consumo substância entorpecente,
por ser necessária além da lei define o delito e comina a ou que determine dependência física ou psíquica, em lu-
pena, a lei deve estar em vigor antes de o agente praticar gar sujeito à administração militar, sem autorização ou
a conduta delitiva. em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Assim como no Código Penal, o CPM afirma que nin- Neste caso precisa de complemento que vem por meio
guém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de da Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, que aprova o
considerar crime (abolitio criminis – lei supressiva de in- regulamento técnico sobre substâncias e medicamentos
criminação), cessando, em virtude dela, a própria vigên-
sujeitos a controle especial.
cia de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto
E há norma penal em branco ao inverso (avesso ou
aos efeitos de natureza civil.
revés) quando o complemento é necessário para integrar
o preceito secundário, a pena em abstrato. A doutrina

269
do direito penal comum exemplifica por meio do art. 1º ao crime cometido, no todo ou em parte, no território
da lei nº 2.889/1956 (crime de genocídio) que trás no nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente
preceito secundário que a pena para o agente que ma- esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela jus-
tar membro de grupo nacional, étnico, racial ou religioso tiça estrangeira.
está sujeito as penas do art. 121, §2 do CP, ou seja, reclu- A doutrina justifica a adoção do princípio da extra-
são, de 12 a 30 anos. territorialidade ao direito penal militar pelo fato de os
No Direito Penal Militar, o exemplo de norma penal militares atuarem em missões de manutenção da paz ou
em branco ao inverso também é o art. 290 do CPM. O outras atividades fora do território nacional.
preceito secundário deste artigo é a pena abstrata de re- Entende-se por território o solo, subsolo, águas in-
clusão de até 5 anos. O complemento está no art. 59, do teriores, mar territorial e espaço aéreo onde o Estado
próprio COM, em que estabelece que o mínimo da pena exerce sua soberania. Consideram-se como extensão do
de reclusão é de 1 ano. território nacional as aeronaves e os navios do país, onde
Conhecemos a lei penal. A entrada em vigor da lei quer que se encontrem, sob comando militar ou militar-
penal militar e seu período de vigência. Sabemos que a mente utilizados ou ocupados por ordem legal de auto-
lei não retroage, exceto em benefício para o réu. Mas, ridade competente, ainda que de propriedade privada.
quando se considera o tempo do crime? Considerando o fato de o agente poder ser processa-
Pois bem, considera-se o tempo do crime o momento do ou ter sido julgado pela justiça estrangeira, não po-
da conduta correspondente à ação ou à omissão. Nos demos esquecer que a homologação da decisão estran-
crimes de ação (comissivos), como no homicídio, o tem- geira deve ser feita pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ),
po do crime é o momento em que o agente efetua os art. 101, I, i, da CF. A pena cumprida no estrangeiro ate-
disparos contra a vítima. Já no estelionato, quando o nua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
agente ilude a vítima para obter vantagem ilícita. diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Nos crimes omissivos o fato considera-se pratica-
do no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida,
por exemplo, na omissão de socorro. O lugar do cri- EXERCÍCIOS COMENTADOS
me é aquele em que se iniciou a execução da conduta
criminosa. 1. (CESPE - 2010) No que concerne ao direito penal mi-
Há ainda os crimes omissivos impróprios. O CPM litar e a seus critérios de aplicação, julgue o item a seguir.
adotou neste caso a teoria normativa: hipótese em que Considere que um militar, no exercício da função e den-
o agente está obrigado a agir para impedir o resultado. tro de unidade militar, tenha praticado crime de abuso
Ele assume a condição de garantidor (garante). Não é de autoridade, em detrimento de um civil. Nessa situa-
qualquer pessoa que está obrigada a agir para evitar o ção, classifica-se a sua conduta como crime propriamen-
resultado, mas apenas aquelas pessoas que estão nas te militar, porquanto constitui violação de dever funcio-
nal havida em recinto sob administração militar.
situações previstas na norma. São exemplos, o médico
militar tem por obrigação de cuidado garantir que não ( ) CERTO ( ) ERRADO
haja o resultado morte e salva-vidas como garantidor de
banhistas. Resposta: Errado
O erro da questão está em afirmar que o crime é pro-
APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO priamente militar. A doutrina majoritária diz que crime
militar é aquele praticado exclusivamente por militar,
O CPM adotou a teoria da ação ou da atividade para por ser uma exigência do tipo penal.
determinar o tempo do crime. Considera-se praticado
o crime no momento da ação ou da omissão, no todo CRIME
ou em parte e ainda que sob forma de participação,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
resultado.
Neste sentido, é possível identificar que o CPM ado- O art. 29, do CPM, diz que o resultado de que depen-
tou a teoria mista ou da ubiquidade para os crimes co- de a existência do crime somente é imputável a quem lhe
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

missivos, ou seja, o lugar em que se desenvolveu o fato deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a
pode ser tanto o lugar do início da execução como aque- qual o resultado não teria ocorrido.
le em que ocorreu o resultado ou deveria ocorrer. Já estudamos autor, coautor e partícipe, assim como
estudamos ação e omissão. Relembrando, ação pode ser
E adotou a teoria da atividade para os crimes omis-
realizada por vários atos, pode ainda ser em diversos
sivos, pois considera praticado o crime no lugar em que
momentos sucessivos. Pode ser unissubsistente quando
deveria realizar-se a conduta omitida. um só ato executório é suficiente para a consumação. Ou
Outro ponto a ser tratado como aplicação da lei penal pode ser plurissubsistente se dois ou mais atos executó-
militar no espaço versa a territorialidade e a extraterri- rios são necessários para a consumação.
torialidade. O CP adota como regra o princípio da terri- Para tratar da relação de causalidade, estudaremos
torialidade e o CPM o princípio da extraterritorialidade, duas teorias, a teoria causal ou naturalista e a teoria fi-
uma vez que se aplica a lei penal militar, sem prejuízo nalista da ação.
de convenções, tratados e regras de direito internacional,

270
A teoria causal ou naturalista, para Mirabete, “… basta Observa-se que o art. 53, §3º, do CPM não define par-
a certeza de que o agente atuou voluntariamente, sen- ticipação de somenos importância, ficando ao arbítrio do
do irrelevante o que queria, para se afirmar que praticou juiz (conselho de justiça). Também não define o quantum
a ação típica.” Verifica-se o vínculo entre a conduta do para a redução da pena, devendo-se utilizar o art. 73 do
agente e o resultado ilícito. CP castrense que fixa entre um terço, redução máxima, e
Nesta teoria o dolo e a culpa não integram o crime. um quinto, redução mínima (redução máxima e mínima
O dolo e a culpa serão abordados quando estudarmos genérica).
o crime. Por enquanto, fixa-se que prevalece a vontade
de fazer ou não do indivíduo, sendo irrelevante o que o 1. Consumado e tentado
agente queria.
Para a teoria finalista da ação Heleno Fragoso enten- Art. 30. Diz-se o crime:
de que é “… comportamento humano voluntário cons- I – consumado, quando nele se reúnem todos os ele-
cientemente dirigido a um fim. Crime nada mais é que
mentos de sua definição legal;
atividade humana”.
II – Tentado, quando, iniciada a execução, não se con-
Deve-se observar a intenção e a finalidade objetiva
suma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
do autor para que possa lhe imputar a conduta. Para esta
teoria, a ação ou a omissão combinada com o dolo e com
Parágrafo único: Pune-se a tentativa com a pena cor-
a culpa são os elementos para a composição da conduta. respondente ao crime, diminuída de um a dois ter-
Qual a teoria adotada no Código Penal? ços, podendo o juiz, no caso de excepcional gravidade,
Teoria Finalista da Ação; crime como atividade hu- aplicar a pena do crime consumado.
mana. A reforma do CP (Parte Geral; Lei nº 7.209/1984).
Anteriormente o dolo se encontrava na culpabilidade, Nos crimes materiais, de ação e resultado, o momen-
propriamente dita, a reforma deslocou o dolo, para in- to consumativo é o da produção deste: homicídio com a
tegrá-lo como elemento constitutivo do tipo penal (art. morte da vítima; o aborto com a morte do feto.
18, I). Nos crimes de mera conduta, em que o tipo não faz
Pois bem, retornamos a pergunta do item anterior. menção ao resultado, a consumação se dá com a simples
Qual a teoria adotada no CPM? ação: violação de domicílio, simples entrada.
O CPM não foi alterado com a reforma de 1984. Para Nos crimes formais existe o resultado, mas a lei não o
o CPM o dolo e a culpa não integram o fato típico, mas, exige para a consumação: extorsão mediante sequestro
sim, encontra-se na culpabilidade, consoante artigo 33 não é necessário o aferimento da vantagem para que o
do CPM, portanto, o CPM adota a teoria causalista neo- crime esteja consumado, arrebatamento da vítima carac-
clássica da culpabilidade. teriza o crime.
Pode-se trabalhar com a doutrina finalista da ação
sendo o CPM causalista? A sistematização de conceitos 1.1. Tentativa perfeita (crime falho):
extraídos de um programa de política criminal permite
aplicar a teoria finalista da ação no CPM formalizado em A consumação não ocorre, apesar de ter o agente pra-
lei, e em que a construção dogmática é transcendente à ticado os atos necessários à produção de evento; a vítima
letra da lei. A adoção da teoria psicológico-normativa da de envenenamento é salva por intervenção médica.
culpabilidade, com o dolo e a culpa no conceito de cul-
pabilidade, não obsta à aplicação de dogmas finalistas ao 1.2. Tentativa imperfeita:
conceito causal da ação (Enio Luiz Rossetto).
Agora podemos responder a outra pergunta do item
O agente não consegue praticar todos os atos ne-
anterior. O CPM permite a aplicação de qual teoria sobre
cessários à consumação por interferência externa; o
o autor?
agente é segurado quando está desferindo golpes de
Enio Luiz Rossetto ensina que o CPM não adota a
teoria finalista, sem que isso signifique, definitivamente,
faca contra a vítima.
a adoção da teoria do domínio do fato, o código cas-
trense permite a punição de cada concorrente, segundo 2. Desistência voluntária e arependimento eficaz
sua culpabilidade, agrava a pena daquele que promove
ou organiza a cooperação do crime ou dirige a ativida- Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

de dos demais agentes, do cabeça e daquele que instiga prosseguir na execução ou impede que o resultado se
ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua produza, só responde pelos atos já praticados.
autoridade, ou não punível em virtude de condição ou
qualidade pessoal. 2.1. Desistência voluntária:
Portando, o CPM adota a teoria subjetiva causal ou
extensiva. Por essa teoria, art. 53 do CPM, a pena para o O agente, podendo prosseguir na execução, interrompe
autor (ou coautor) e partícipe pode ser a mesma. Como a ação, voluntariamente.
a doutrina aponta, há certos casos em que a participação Arrependimento eficaz
é tão tênue que a aplicação da pena igual para autor e O agente, tendo praticado todos os atos necessários e
partícipe mostra-se extremamente injusta. Sendo assim, suficientes para que advenha o resultado, pratica atos que
o CPM, na mesma linha que o Código Penal, possibilita a o impedem.
aplicação de pena diferente.

271
3. Crime impossível 4.3. Negligência:

Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio em- O agente que, deixando de empregar a atenção a que
pregado ou por absoluta impropriedade do objeto, estava obrigado pelas circunstâncias, não prevê o resulta-
é impossível consumar-se o crime, nenhuma pena é do que podia prever e dá causa ao resultado, desatenção.
aplicável. O militar que limpa a arma carregada na proximidade de
outros militares.
O CPM adota a Teoria Objetiva Temperada: se houver
ineficácia relativa do meio e relativa impropriedade do
FIQUE ATENTO!
objeto haverá tentativa.
Ineficácia absoluta do meio: impossibilidade de o ins- O CPM não cuida do que se pode chamar
trumento utilizado consumar o delito de qualquer forma: de IMPERÍCIA, falta de conhecimento técni-
co no exercício da profissão.
usar um alfinete para matar uma pessoa adulta, o sujei-
to deseja matar a vítima por meio de ato de magia ou
bruxaria. 4.5. Previsibilidade subjetiva:
Absoluta impropriedade do objeto: a conduta do
agente não é capaz provocar qualquer resultado lesivo à O agente que, deixando de empregar a diligência or-
vítima: matar um cadáver. dinária ou especial a que estava obrigado, segundo as ap-
tidões e poder pessoal, pelas circunstâncias, não prevê o
4. Culpabilidade resultado que podia prever e dá causa ao resultado. Homo
medius.
Art. 33. Diz-se o crime:
I – Doloso, quando o agente quis o resultado ou assu- 4.6. Culpa consciente:
miu o risco de produzi-lo;
II – Culposo, quando o agente, deixando de empregar O agente prevê o resultado, mas supõe levianamente
a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou especial, que não se realizará o que poderá evitá-lo.
a que estava obrigado em face das circunstâncias, não
prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o su- FIQUE ATENTO!
põe levianamente que não se realizaria ou que pode- Dolo eventual: o agente tem a previsão do
ria evitá-lo. resultado e consente na sua produção, não
Dolo – elementos: desiste, prefere se arriscar a interromper a
sua ação.
• consciência da conduta e do resultado; Culpa consciente: o agente tem a previsão
• consciência da relação causal objetiva entre a con- do resultado e supõe que não se realizará.
duta e o resultado; e
• vontade de realizar a conduta e de produzir o
resultado. EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)

Dolo direto: quer o resultado. Antijuridicidade ou ilicitude é a contrariedade de uma


Dolo indireto alternativo: quer um ou outro resultado conduta com o direito, causando lesão a um bem jurídico
previsto. protegido.
Dolo indireto eventual: não quer diretamente o resul-
tado, mas assume o risco. Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
4.1. Culpa: II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal;
II – Culposo, quando o agente, deixando de empregar IV – em exercício regular de direito.
a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou especial,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

Parágrafo único – Não há igualmente crime quando


a que estava obrigado em face das circunstâncias, não o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra,
prevê o resultado que podia prever (Inconsciente) ou, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele
prevendo-o supõe levianamente que não se realizaria os subalternos, por meios violentos, a executar servi-
ou que poderia evitá-lo (Consciente). ços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou
vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a
4.2. Imprudência: rendição, a revolta ou o saque.

O agente que, deixando de empregar a cautela a que 1. Estado de necessidade:


estava obrigado pelas circunstâncias, não prevê o resulta-
do que podia prever e dá causa ao resultado. O militar que Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem
dirige veículo automotor em alta velocidade. pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de
perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de

272
outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua A inimputabilidade penal é uma das condições que
natureza e importância é consideravelmente inferior exclui a culpabilidade, isto é, o crime persiste, mas não se
ao mal evitado, e o agente não era legalmente obri- aplica a pena por ausência de responsabilidade.
gado a arrostar o perigo. Causas de exclusão da imputabilidade:

2. Legítima defesa: • mental;


• Desenvolvimento mental incompleto, menor de 18
Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usan- anos; e
do moderadamente dos meios necessários, repele in- • Desenvolvimento mental retardado, deficiente
justa agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de mental.
outrem. • Nos ensinamentos de Enio Luiz Rossetto (2015), a
doença mental é a enfermidade, permanente ou
3. Estrito cumprimento do dever legal: transitória, que tira do agente a capacidade de en-
tender e de querer.
Não há crime quando o agente pratica o fato em es- • Desenvolvimento mental incompleto é o menor de
trito cumprimento de dever legal, como no caso do oficial idade, no caso, menor de dezoito anos há presun-
de justiça que apreende bens a penhora, ou militar que ção legal de que não tem capacidade de entender
efetua uma prisão em flagrante, ou, ainda, quando ocor- e de querer.
re o fuzilamento do condenado pelo executor no caso de
pena de morte. Os arts. 50, 51 e 52, do CPM, não foram recepciona-
dos pela CF e possuem as seguintes redações:
4. Exercício regular do direito:
Menores:
Não há crime quando o agente pratica o fato no exer-
cício regular de direito, como na recusa em depor em juí- Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável,
zo por parte de quem tem o dever legal de sigilo, na in- salvo se, já tendo completado dezesseis anos, revela
tervenção cirúrgica ou na violência esportiva, desde que suficiente desenvolvimento psíquico para entender o
respeitadas, respectivamente, as regras da atividade ou caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com
profissão. este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é di-
minuída de um terço até a metade.

EXERCÍCIOS COMENTADOS Equiparação a maiores:

1. (CESPE - 2017) Acerca da aplicação da lei penal mili- Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos,
tar, dos crimes militares e da aplicação da pena no âm- ainda que não tenham atingido essa idade:
bito militar, cada um do item que se segue apresenta a) os militares;
uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser b) os convocados, os que se apresentam à incorporação
julgada. e os que, dispensados temporariamente desta, deixam
Um oficial foi preso em flagrante delito pelo cometimen- de se apresentar, decorrido o prazo de licenciamento;
to de crime militar que não se consumou por circuns- c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos
tâncias alheias à sua vontade, tendo sido denunciado e de ensino, sob direção e disciplina militares, que já te-
se tornado réu em ação penal militar. Nessa situação, a nham completado dezessete anos.
depender da gravidade, o juiz poderá aplicar a pena do
crime consumado, sem diminuí-la. Art. 52. Os menores de dezesseis anos, bem como os
menores de dezoito e maiores de dezesseis inimputá-
( ) CERTO ( ) ERRADO veis, ficam sujeitos às medidas educativas, curativas
ou disciplinares determinadas em legislação especial.
Resposta: Certo
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

É necessário ter atenção para esta questão, pois dife- Desenvolvimento metal retardado é o que não pôde
rente do código penal comum, o CPM adota também chegar à maturidade psíquica. Trata-se da situação em
a teoria subjetiva, autorizando o juiz, no caso de ex- que a graduação da inteligência é incompatível como es-
cepcional gravidade, a aplicar a pena da figura típica tágio da vida em que se encontra a pessoa.
consumada ao crime tentado. Se a doença ou deficiência mental não suprime, mas
diminui consideravelmente a capacidade de entendi-
IMPUTABILIDADE PENAL mento da ilicitude do fato ou a de autodeterminação,
não fica excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser
A imputabilidade penal é o conjunto de condições atenuada, podendo, se o condenado necessitar de es-
pessoais de sanidade e maturidade que dão ao agente pecial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade
capacidade para lhe ser imputada juridicamente a prática pode ser substituída pela internação em estabelecimento
de um fato punível. psiquiátrico.

273
independente de terem ou não praticado a ação descrita
EXERCÍCIOS COMENTADOS no tipo penal (Cícero Coimbra).
Teoria formal objetiva ou restritiva. Esta teoria define
autor como quem realiza, no todo ou em parte, a condu-
1. (CESPE - 2011) Um adolescente com dezessete anos
ta típica, aquele que executa o crime. Aquele que induz,
de idade que, convocado ao serviço militar, após ser
instiga ou auxilia outrem é o partícipe (Enio Luiz Rosset-
incorporado, praticar conduta definida no CPM como
to). Em princípio a conduta do partícipe não se amolda
crime de insubordinação praticado contra superior será
à figura penal. São autores os que praticam os atos de
alcançável pela lei penal militar, a qual adotou, para os
execução previstos no tipo penal, enquanto os partícipes
menores de dezoito e maiores de dezesseis anos de ida-
de, o sistema biopsicológico, em que o reconhecimento
concorrem para o resultado do crime sem praticar, no
todo ou em parte, a ação tipificada (Cícero Coimbra). Esta
da imputabilidade fica condicionado ao seu desenvolvi-
teoria é criticada por considerar partícipe, por exemplo,
mento psíquico.
o chefe de uma quadrilha, pois ele não pratica conduta
( ) CERTO ( ) ERRADO típica apesar de ter o controle de seus componentes. De
modo semelhante, responde por estupro quem aponta
a arma para a vítima, porque é crime constranger. E não
Resposta: Errado
responde pelo crime aquele que pratica a conjunção car-
A questão está errada porque o critério adotado para
os menores de 18 anos é o critério puramente bioló-
nal por ser fato atípico.
Teoria do domínio do fato ou objetivo-subjetiva ou
gico. O sistema aplicado aos menores de 18 anos é
final-objetiva. A teoria em estudo concilia os critérios
o ECA. Eles não podem se sujeitar as penalidades do
objetivos e subjetivos, os quais se mostram insuficientes
CPM ou do CP.
na distinção entre autoria e participação. Autor é quem,
consciente do fim, tem o domínio sobre o fato, autor é
CONCURSO DE AGENTES
quem tem o poder sobre a realização do fato (Wilzel).
Autor é quem obra com vontade e possui o domínio sub-
AUTOR, COAUTOR E PARTÍCIPE
jetivo do fato e obre como tal (Álvaro Mayrink da Costa).
Considera autor o agente que detém o controle da ação,
Autor é aquele que realiza a conduta principal des-
embora possa não praticar atos executórios previstos no
crito no tipo penal. A Coautoria é quando duas ou mais
tipo penal (Cícero Coimbra).
pessoas praticam a conduta descrita no tipo incrimina-
Participação por omissão, segundo doutrina (Nelson
dor. O Partícipe é aquele que, sem realizar a conduta des-
Hungria, citado por Enio Luiz Rossetto), basta que se não
crita no tipo, concorre para sua realização.
tenha impedido o crime faltando a um dever jurídico. O
Algumas considerações sobre autor são importan-
dever jurídico de impedir o resultado é indispensável,
tes. Há três teorias que tentam conceituar o autor, e as
pois, se inexiste o dever jurídico de atuar, não há cum-
questões de concurso utilizam, às vezes, nomenclaturas
plicidade, mas simples conveniência, impunível (Heleno
menos usuais. Então vamos conhecer as nomenclaturas e
Fragoso citado por Rossetto). E complementa, além do
conceitos das teorias do autor.
dever jurídico de impedir o resultado, o omitente deve
Teoria subjetiva causal ou extensiva. Observe as defi-
aderir à prática do crime.
nições de vários autores. Esta teoria tem orientação cau-
Note-se que a omissão é relevante como causa quan-
salista e não distingue autor e partícipe, pois são autores
do o omitente devia e podia agir para evitar o resultado,
todos os que colaboram na realização do crime (Nélson
conferindo esse dever de cuidado, proteção ou vigilância
Hungria). Todo colaborador é autor (Aníbal Bruno). O có-
digo diz quem de qualquer modo concorrer para o crime
a quem assume a responsabilidade de impedir o resul-
incide nas penas a ele cominadas (Enio Luiz Rossetto).
tado. Trata-se, no ensinamento de Cícero Coimbra, da
figura do garante ou garantidor. E exemplifica ao des-
Também é conhecida como teoria unitária ou monista,
crever a hipótese de um militar que vê um estupro em
e é a regra do CPM. Aquele que presta uma colabora-
andamento e, por qualquer razão, ainda que possa agir
ção pouco ou nada significativa, pode ser até atípica,
é abrangido pela concepção extensiva (José Henrique
para impedir o crime, decide quedar-se inerte, tendo por
lei obrigação de agir, o militar passará a figurar no polo
Pierangeli).
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

ativo do mesmo crime como partícipe, e não por prevari-


A teoria é subjetiva porque, do ponto de vista ob-
cação como poderia supor.
jetivo, as atividades do autor e do cúmplice devem ser
Com toda a informação, não podemos prosseguir
consideradas unicamente como condições do resultado
no estudo sem sedimentar o conhecimento com alguns
(Álvaro Mayrink da Costa). Note-se que qualquer agente
questionamentos. O CPM permite a aplicação de qual
que tenha praticado a conduta direta ou indireta respon-
teoria sobre o autor? Para respondermos essa questão
de na mesma proporção pelo crime. Enio Luiz Rossetto
vamos estudar a relação de causalidade. O CPM adota a
ilustra o fato de que Caio entrega a arma de fogo para
teoria causal (ou naturalista) ou a teoria finalista da ação?
Tício matar outra pessoa, a atividade de Caio e a de Tício
Agora são duas questões. As respostas possuem
são condições do resultado e, desse modo, não há dife-
renças objetivas. Finalizando, nesta teoria todos os agen-
elo e, por isso, compreenderemos esses dois assuntos
tes que dão causa ao evento são considerados autores,
simultaneamente.

274
1. Cabeça b) reclusão;
c) detenção;
Conforme redação do art. 54, do CPM, o ajuste, a de- d) prisão;
terminação ou instigação e o auxílio, salvo disposição em e) impedimento;
contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo
menos, a ser tentado. ou função;
No direito penal militar há a figura do “Cabeça”. Na g) reforma.
prática de crime de autoria necessária, reputam-se ca- Morte:
beças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a
ação. Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamen-
É importante destacar que quando o crime é cometi- to. (CPPM)
do por inferiores e um ou mais oficiais, são estes consi-
derados cabeças, assim como os inferiores que exercem Art. 400. Praticar homicídio, em presença do inimigo
função de oficial. (…)
Assim como no direito penal comum, no direi- III – no caso do §2º do artigo 205. (homicídio
to penal militar os crimes pode ser unissubjetivos ou qualificado)
plurissubjetivos. Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos,
Os crimes unissubjetivos são aqueles que podem ser grau mínimo.
praticados por apenas um agente, porém nada impede a
coautoria, quando todos praticam o núcleo do tipo pe- Art. 707, do CPPM. O militar que tiver de ser fuzilado
nal. E pode haver também apenas participação, quando sairá da prisão com uniforme comum e sem insígnias,
o agente, sem praticar o núcleo do tipo penal, auxilia na e terá os olhos vendados, salvo se o recusar, no mo-
prática do ilícito, neste caso, pode-se chamar de concur- mento em que tiver de receber as descargas. As vozes
so eventual. de fogo serão substituídas por sinais.
Os crimes plurissubjetivos exigem dois ou mais agen-
tes para a prática da conduta. No crime de motim há O civil será executado nas mesmas condições.
condutas paralelas. No delito de pederastia, condutas
convergentes. E na rixa, condutas divergentes. Será permitido ao condenado receber socorro
Como alerta Cícero Coimbra, há crimes que não ad- espiritual.
mitem a coautoria, mas apenas a participação, denomi- A pena será executada sete dias após a comunicação
nado de crime de mão própria, como o caso do crime de ao Presidente da República.
falso testemunho (art. 346, do CPM). Reclusão:

Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano,


EXERCÍCIOS COMENTADOS e o máximo de trinta anos
(…)
1. (CESPE - 2004) O CPM, ao estabelecer que aquele
que, de qualquer modo, concorrer para o crime incidirá Art. 232. Constranger mulher à conjunção carnal,
nas penas a este cominadas, adotou, em matéria de con- mediante violência ou grave ameaça:
curso de agentes, a teoria monista. Pena – reclusão, de três a oito anos, sem prejuízo da
correspondente à violência.
( ) CERTO ( ) ERRADO Detenção:

Resposta: Certo Art. 58. (…) o mínimo da pena de detenção é de trinta


Conforme art. 53, do CPM, quem, de qualquer modo, dias, e o máximo de dez anos.
concorre para o crime incide nas penas a este comina-
das. Esta é a regra geral. Apesar de o nome da regra Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:
tratar apenas de coautoria, quem concorrer para o cri- Pena – detenção de seis meses a um ano, se o fato não
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

me, responde pela pena, independentemente de ser constitui crime mais grave.
coautor ou partícipe.
Art. 228. Divulgar, sem justa causa, conteúdo de do-
PENAS cumento particular sigiloso ou de correspondência
confidencial, de que é detentor ou destinatário, desde
O CPM, diferente do CP, apresenta as penas princi- que da divulgação possa resultar dano a outrem:
pais, aquelas que integram o preceito secundário do tipo Pena – detenção, até seis meses.
penal, e as penas acessórias que podem ser aplicadas em
circunstâncias legais. Art. 58. (…) o mínimo da pena de detenção é de trinta
dias, e o máximo de dez anos.
Art. 55. As penas principais são:
a) morte; Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dig-

275
nidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a posto, graduação, cargo ou função, de 3 (três) meses
autoridade: a 1 (um) ano.
Pena – reclusão até quatro anos, se o fato não consti- Reforma:
tui crime mais grave.
Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à si-
Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, tuação de inatividade, não podendo perceber mais de
e o máximo de trinta anos; (…) um, vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço,
Prisão: nem perceber importância superior à do soldo.

Art. 59. A pena de reclusão ou detenção até dois Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem justa
anos, aplicada a militar, é convertida em pena de causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou es-
prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão trangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos que
condicional. hajam pedido socorro:
Oficial: estabelecimento militar. Pena – suspensão do exercício do posto, de um a três
Praça: estabelecimento penal militar, separado de anos ou reforma.
presos disciplinares e presos com pena superior a dois
anos.
Se a pena aplicada de reclusão ou detenção for supe- EXERCÍCIOS COMENTADOS
rior a dois anos?
1. (CESPE - 2004) No direito penal militar, as penas prin-
Art. 61. A pena privativa da liberdade por mais de 2 cipais são: morte, reclusão, detenção, prisão, impedimen-
(dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em peni- to, reforma e suspensão do exercício do posto, gradua-
tenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento ção, cargo ou função.
prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao
regime conforme a legislação penal comum, de cujos ( ) CERTO ( ) ERRADO
benefícios e concessões, também, poderá gozar.
Se a pena privativa de liberdade for aplicada a civil? Resposta: Certo
A questão está contida de forma taxativa no art. 55,
Art. 62. O civil cumpre a pena aplicada pela Justi- do CPM.
ça Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando
ele sujeito ao regime conforme a legislação penal co-
mum, de cujos benefícios e concessões, também, po- CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ
derá gozar.
Impedimento:
CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA
MILITAR
Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado
a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da
1. Motim
instrução militar.
Insubmissão:
Art. 149 - Reunirem-se militares ou assemelhados:
I - contra a ordem recebida de superior ou negando-se
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à in-
a cumpri-la;
corporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou,
apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de
II - recusando obediência a superior, quando estejam
agindo sem ordem ou praticando violência;
incorporação:
III - assentindo em recusa conjunta de obediência,
Pena – impedimento, de três meses a um ano.
ou em resistência ou violência, em comum, contra
Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
superior;
função:
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

estabelecimento militar, ou dependência de qualquer


Art. 64. A pena de suspensão do exercício do posto,
deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou via-
graduação, cargo ou função consiste no afastamento,
tura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles lo-
no licenciamento ou na disponibilidade do condena-
do, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do
cais ou meios de transporte. para ação militar, ou prá-
tica de violência em desobediência à ordem superior
seu comparecimento regular à sede do serviço. Não
ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar.
será contado como tempo de serviço, para qualquer
Pena - reclusão, de quatro a oito anos com aumento
efeito, o do cumprimento da pena.
de um terço para os cabeças.
Art. 324. Deixar, no exercício da função, de observar
lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à
prática de ato prejudicial à administração militar:
Pena: (...) se por negligência, suspensão do exercício do

276
2. Revolta Se a violência resulta lesão corporal, aplica-se, além
da pena da violência, a do crime contra a pessoa.
Parágrafo único - Se os agentes estavam armados: Se da violência resulta morte, a pena será de reclusão,
Pena - reclusão de oito a vinte anos com aumento de de 12 a 30 anos.
um terço para os cabeças. Quanto aos meios empregados pelo agente do delito,
A distinção entre o motim e a revolta é que no primei- o crime se apresenta com duas feições: cometido com
ro a reunião é sem armas e, no segundo, a condição arma ou sem arma.
para configuração do delito é que o grupamento de Conforme decisão do TJM/RS, comete o crime descri-
militares esteja armado. to no art. 158, § 3º, o militar que desfere, contra seu
Sujeito ativo: crime plurissubjetivo, necessidade de no oficial de serviço, seis tiros de revólver, pelas costas,
mínimo 2 militares. Exemplo, uma companhia que re- causando-lhe a morte.
cebe ordem para instrução ou outra atividade e, em
5. Desrespeito a Superior
vez de obedecê-la, dirige-se, sem ordem ou autoriza-
ção, à sede do Comando para apresentação de suas
Art. 160 - Desrespeitar superior diante de outro
reivindicações.
militar:
Pena - detenções de três meses a um ano, se o fato
FIQUE ATENTO! não constitui crime mais grave.
A diferença entre a prática do motim e da O desrespeito consiste na falta de consideração, de
revolta está no fato desta última os agentes respeito, de acatamento, praticada pelo subordinado
na relação com seu superior hierárquico, na presença
estarem armados.
de outro militar e desde que o fato não constitua crime
mais grave.
Conforme decisão do TJM/MG, o soldado que, com pa-
3. Violência Contra Superior
lavras insolentes e desdenhosas, desrespeita o cabo,
na presença de outros militares, fica incurso nas san-
Art. 157 - Praticar violência contra superior: ções do artigo 160 do Código Penal Militar.
Pena - detenção, de três meses a dois anos. O Parágrafo único do artigo em comento, traz circuns-
Sujeito ativo é o subordinado hierárquico. tância qualificadora, se o fato é praticado contra o co-
A autoridade do superior hierárquico agredido é ma- mandante da unidade a que pertence o agente, oficial
culada perante o subordinado ou terceiros que te- general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena
nham presenciado ou tomado conhecimento do fato. é aumentada da metade.
Violência = força física, próprio corpo ou objeto.
Exemplo: empurrão, bofetada, arrancar distintivo, ba- 6. Recusa de Obediência
ter com um objeto.
Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos. Art. 163 - Recusar obedecer à ordem do superior so-
São formas qualificadas: bre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a
Se o superior é comandante da unidade a que perten- dever imposto em lei, regulamento ou instrução:
ce o agente ou oficial general: Pena - detenção, de um a dois anos se o fato não
Pena - reclusão, de três a nove anos. constitui crime mais grave.
Se a violência é praticada com arma, a pena é aumen-
tada de um terço. A ordem que trata o presente artigo é a expressão da
Conforme decisão do TJM/RS, o delito foi configura- vontade do superior dirigida a um ou mais subordinados
do no caso concreto em que o soldado que agride e determinados para que cumpram com uma prestação ou
ofende um cabo comete violência contar superior, ain- abstenção no interesse do serviço. Esta ordem deve ser
da que da agressão não resultem lesões corporais na imperativa, uma exigência para o subordinado; pessoal,
vítima. dirigida a um ou mais subordinados, descartando as or-
dens de caráter geral, que constitui transgressão discipli-
4. Violência Contra Militar de Serviço nar; e, por fim, concreta, pois o cumprimento da ordem
não deve estar sujeito à apreciação do subordinado.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

Art. 158 - Praticar violência contra oficial de dia, de


7. Oposição à Ordem de Sentinela
serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou
plantão:
Art. 164 - Opor-se às ordens da sentinela:
Pena - reclusão de três a oito anos. Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não
Sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa. Porém o su- constitui crime mais grave.
jeito passivo, como exige no tipo penal, deve ser Ofi- Sentinela é o militar legalmente encarregado de guar-
cial de dia, Oficial de serviço ou Oficial de quarto, ou, dar, com ou sem arma, determinado lugar sob admi-
ainda, sentinela, vigia ou plantão. nistração militar, usando os acessórios que indiquem
São formas qualificadas: encontrar-se em serviço.
Se a violência é praticada com arma, a pena é aumen- O presente delito pode ser praticado por qualquer
tada de um terço. pessoa.

277
8. Reunião Ilícita

Art. 165 - Promover a reunião de militares, ou nela tomar parte, para discussão de ato de superior ou assunto ati-
nente à disciplina militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano a quem promove a reunião, de dois a seis meses a quem dela participa, se
o fato não constitui crime mais grave.

A finalidade é a discussão de ato de superior ou assunto atinente à disciplina militar.


Superior é o militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação.

FIQUE ATENTO!
Não configura reunião ilícita ou qualquer outro fato típico quando a tropa deixa de cumprir operação
militar sem ordem superior, imputando-se o fato ao comandante da tropa:

CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR

1. InsubmissãO

Art. 183 - Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentan-
do-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação:
Pena - impedimento, de três meses a um ano.

O delito de insubmissão ocorre de duas formas: o alistado, após ter sido aprovado em todos os exames é con-
vocado para o serviço militar e, não se apresenta na data marcada, ou, apresenta-se e, antes de ter sido oficialmente
incorporado, se ausenta.
Na mesma pena incorre quem, dispensado temporariamente da incorporação, deixa de se apresentar decorrido o
prazo de licenciamento.

2. Criação ou Simulação de Incapacidade Física

Art. 184 - Criar ou simular incapacidade física, que inabilite o convocado para o serviço militar:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

A autolesão ou simulação dela, tem como objetivo específico fugir do serviço militar obrigatório, pune-se quando
ocorre com a finalidade delituosa.

3. Deserção

Art. 187 - Ausentar-se militar, sem licença, da unidade em que serve, ou de lugar em que deve permanecer, por mais
de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

Na mesma pena incorre o militar que:

I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias,, findo o prazo de trânsito ou férias;
II - deixa de se apresentar à autoridade competente, dentro do prazo de oito dias contado daquele em que termina ou
é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado o estado de sítio ou de guerra;
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar dentro do prazo de oito dias;
IV- consegue exclusão do serviço ativo ou situação inatividade, criando ou simulando incapacidade.

A deserção é crime permanente e formal. Permanente porque a consumação se prolonga no tempo e somente
cessa quando o militar se apresenta ou é capturado. É formal porque se configura com a ausência pura e simples do
militar, além do prazo estabelecido em lei.
A deserção somente se consuma depois de transcorridos oito dias após a ausência do militar. Antes desse prazo não
haverá militar desertor e sim, militar ausente, que é definido como sanção disciplinar nos termos dos regulamentos de
cada força singular (Marinha, Exército e Aeronáutica) e das forças auxiliares (Polícia Militar e Bombeiro Militar).
A contagem do prazo de graça inicia-se no dia seguinte ao dia da verificação da ausência, enquanto o dia final é
contado por inteiro. Se, por exemplo, a ausência ocorreu no dia 13, inicia-se a contagem do prazo a zero hora do dia
14 e consumar-se-á a deserção a partir de zero hora do dia 22.

278
(FONTE: CARTILHA DO STM, 2013)

É considerado atenuante, se o agente se apresenta voluntariamente dentro de oito dias após a consumação do
crime, a pena é diminuída de metade; e de um terço, se de mais de oito dias e até sessenta.
E é considerado agravante especial se a deserção ocorre em unidade estacionada em fronteira ou país estrangeiro,
a pena é agravada de um terço.
E, considera deserção especial:

Art. 190 - Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do navio ou aeronave, de que é tripulante, ou da
partida ou deslocamento da unidade ou força em que serve.
Pena - detenção, até três meses, se, após a partida ou deslocamento, se apresentar, dentro em vinte e quatro horas, à
autoridade militar do lugar, ou, na falta desta, à autoridade policial, para ser comunicada a apresentação a comando
militar da região, distrito ou zona.
§ 1º - Se a apresentação se der dentro do prazo superior a vinte e quatro horas e não excedente a cinco dias:
Pena - detenção, de dois a oito meses.
§ 2º - Se superior a cinco dias e não excedente a dez dias:
Pena - detenção de três meses a um ano.
§ 3º - Se tratar de oficial, a pena é agravada.

A deserção no momento da partida, denomina-se deserção instantânea porque decorre de ausência do militar, em
determinado momento. Inexiste nessa espécie o prazo de graça.

ABANDONO DE POSTO - ART. 195, DO CPM

Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou a serviço que
lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

O abandono de posto é delito instantâneo, consumando-se no exato momento em que o militar se afasta do local
onde deveria permanecer.
Conforme decisão do Superior Tribunal Militar, configura-se o crime do art. 195, do CPM, o fato de o militar, sem ordem
superior, ausentar-se do posto, onde deveria permanecer, em virtude de escala regular de serviço. O pouco tempo de vida
militar e a primariedade do agente não excluem a culpabilidade, tal a gravidade do crime, face à segurança do quartel.
Crime militar próprio, pois é necessário que o sujeito ativo seja militar da ativa. É crime de mão própria por não admitir
coautoria. O sujeito passivo é a instituição militar.

279
EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO – ART. 202, DO COM c) Reclusão, de seis meses a um ano diminuindo-se a
pena se o agente é oficial.
Art. 202. Embriagar-se o Militar, quando em serviço, d) Reclusão, de um a dos anos diminuindo-se a peã se o
ou apresentar-se embriagado para prestá-lo: agente é oficial.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. e) Detenção, de três meses a um ano.

O delito de embriaguez apresenta duas modalidades. Resposta: Letra E


A primeira o militar está em serviço e, nessa qualidade se A pena cominada para o crime de abandono de posto
é de detenção, de três meses a um ano, sendo possível
embriaga. Caso ingira bebida alcoólica e não se embria-
verificar pela leitura do tipo penal que não há menção
gue, inexiste crime, assim como no caso de a embriaguez
se o fato é praticado por oficial ou comandante, tam-
ocorrer fora do serviço, resolvendo-se nestas hipóteses
bém não apresenta qualificadoras ou causas de dimi-
no âmbito disciplinar. A segunda modalidade, o militar nuição ou aumento de pena.
se apresenta embriagado para prestar serviço para confi-
gurar crime. Exige-se que o sujeito tenha ciência de que 2. (MARINHA DO BRASIL – 2014) Assinale a opção que
iniciaria o serviço. É juridicamente impossível a tentativa. NÃO corresponde a um Crime Contra o Serviço Militar e
É um crime propriamente militar por exigir a quali- o Dever Militar, previsto no Código Penal Militar.
dade de militar do agente. Não tem correspondência na
legislação penal comum. É crime contra o serviço militar a) Amotinamento.
e o dever militar. b) Insubmissão.
Tutela o serviço e o dever militar. Crime de mão pró- c) Deserção.
pria por não admitir concurso de pessoas. O sujeito ativo d) Abandono de posto.
é a instituição militar. e) Embriaguez em serviço.

DORMIR EM SERVIÇO - ART. 203, DO COM Resposta: Letra A


O crime de embriaguez em serviço está contido no
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como título “Abando de posto e outros crimes” no capítulo
“dos crimes contra o serviço militar e o dever militar”.
oficial de quarto ou de ronda, ou em situação, ou, não
Além de conhecer o tipo penal, deve-se identificar o
sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às
que o delito tutela.
máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço
de natureza semelhante: 3. ( PM-MG – 2016)
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Marque a alternativa CORRETA. Um militar que estando
Por ser crime contra o serviço militar e o dever mili- de serviço de sentinela no Quartel, posto fixo de observa-
tar, a lei penal castrense pune o militar que é encontrado ção avançada, em noite fria e chuvosa, após iniciar o ser-
dormindo quando deveria estar alerta. Para não confun- viço é surpreendido por seu superior hierárquico, dentro
dir com infrações ou transgressões disciplinares, a dou- do paiol de munição, afastado de seu posto, deitado e
trina exige que o fato demonstre a intenção de dormir, enrolado em um espesso cobertor, à luz do Código Pe-
por exemplo, o militar alivia as peças de fardamento para nal Militar (CPM), Decreto-Lei nº 1.001, de 21/10/1969,
ter conforto e dormir, ou no caso de o militar deixar o lo- comente:
cal em que deveria permanecer e dormir em alojamento,
mesmo que próximo do posto de serviço. a) Dormir em serviço, art. 203 do CPM.
A doutrina ensina que o dormir é entendido como b) Descumprimento da missão, artigo 196 do CPM.
pegar no sono profundo de modo a não acordar facil- c) Abandono de posto, art. 195 do CPM.
mente. É diferente cochilar, dormitar, que significa dor- d) Recusa de obediência, art. 163 do CPM.
mir levemente.
Resposta: Letra A
Exige a vontade de dormir, o dolo. Fadiga, excesso de
Narra-se o fato de o militar estar dormindo no mo-
trabalho, ingestão de medicamento, afastam o dolo. Isso
mento em que deveria estar alerta. Verifica ainda que
significa que não há previsão deste crime na modalidade
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

o militar tem dolo, vontade de dormir, pelo fato de es-


culposa. Juridicamente é impossível a tentativa. tar enrolado em um espesso cobertor. Trata, portanto,
de crime militar de dormir em serviço.
Referências
EXERCÍCIOS COMENTADOS ROSSETO, Enio Luiz. CPM Comentado. 2. ed. São Pau-
lo: Revista dos Tribunais, 2015.
1. (IBFC – 2017) Assinale a alternativa correta sobre a NEVES, Cícero R. Coimbra. STREIFINGER, Marcello.
pena prevista para o crime de abandono de posto. Manual de Direito Penal Militar. 2. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2012.
a) Detenção, de seis meses a um ano diminuindo-se a NUCCI, Guilherme de Souza. CPM Comentado. 2. ed.
pena se o agente for oficial. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
b) Reclusão, de um a dois anos diminuindo-se a pena se
a agente exercia função de comando.

280
CRIMES CONTRA A PESSOA ou seja, se a lesão corporal não é de natureza grave ou
gravíssima, então, a lesão será tida como leve. Se o agen-
1. Homicídio Simples te praticar lesão de natureza leve poderá responder pelo
CAPUT somente do art. 209 CPM.
Art. 205 - Matar alguém: Há no Código Penal Militar a lesão levíssima, em que
Pena - reclusão de seis a vinte anos. o juiz pode considerar a infração como disciplinar. Absol-
O homicídio culposo resulta em pena de detenção, de ve-se o agente do crime de lesão por considerar o fato
um a quatro anos. como transgressão disciplinar.
O homicídio é a eliminação de vida de uma pessoa Se a lesão é culposa, a pena prevista é de detenção,
praticada por outra. O objetivo jurídico é a preser- de dois meses a um ano.
vação de vida humana, sendo que o agente pode ser
qualquer pessoa, tanto militar como civil.
4. Calúnia
A lei penal militar define considera como homicídio
qualificado se o fato for praticado:
Art. 214 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsa-
I - por motivo fútil;
II - mediante paga ou promessa de recompensa, por mente fato definido como crime:
cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou por Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
outro motivo torpe; § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, ex- imputação, a propala ou divulga.
plosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum; 5. Exceção da Verdade
IV - a traição, de emboscada, com surpresa ou me-
diante outro recurso insidioso, que dificultou ou tor- § 2º - A prova da verdade do fato imputado exclui o
nou impossível a defesa da vítima; crime, mas não é admitida:
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impuni- I - se, constituindo o fato imputado crime de ação
dade ou vantagem de outro crime; privada, o ofendido não foi condenado por sentença
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço. irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indi-
2. Genocídio cadas no Inciso I do artigo 218;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o
Art. 208 - Matar membros de um grupo nacional,
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
étnico, religioso ou pertencente a determinada raça,
com o fim de destruição total ou parcial desse grupo.
A calúnia é crime militar impróprio, podendo ser co-
Pena - reclusão, de 15 a 30 anos.
metido por qualquer pessoa, militar ou civil, observando-
A palavra genocídio tem origem em Genus que signi- -se quanto a este último que sua possibilidade decorrerá
fica raça, povo, nação, e Excidium, destruição. de o fato ofender ou não as instituições militares.
A calúnia é, por definição, imputação falsa. Admite,
A Lei nº 2.889, 01 OUT 1956, trata do crime de geno- portanto, a exceção da verdade, isto é, admite que o
cídio fora da competência da justiça militar, e o crime agente prove que é verdade o que alegou, afastando o
em tela também é objeto de definição do Estatuto de caráter ilícito da conduta.
Roma.
6. Difamação
3. Lesão Corporal
Art. 215 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen-
Art. 209 - Ofender a integridade corporal ou a saúde sivo à sua reputação:
de outrem: Pena - de três meses a um ano. - A exceção da verdade
Pena - detenção de três meses a um ano. somente se é relativa ao exercício da função pública,
militar ou civil, do ofendido.
A lesão será grave se produz, dolosamente, perigo de
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

vida, debilidade permanente de membro, sentido ou fun-


A difamação é crime militar impróprio, podendo ser
ção, ou incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias, pena de reclusão, até cinco anos.
cometido por qualquer pessoa, militar ou civil, observan-
Será considerada lesão gravíssima se se produz, dolo- do-se quanto a este último que sua possibilidade decor-
samente, enfermidade incurável, perda ou inutilização de rerá de o fato ofender ou não as instituições militares.
membro, sentido ou função, incapacidade permanente Difere da calúnia e da injúria. Enquanto na calúnia
para o trabalho, ou deformidade duradoura, com pena existe imputação de fato definido como crime, na di-
de reclusão, de dois a oito anos. famação o fato é meramente ofensivo à reputação do
A lesão pode ocorrer de duas formas: integridade fí- ofendido. Além disso, o tipo da calúnia exige o elemento
sica de outrem ou saúde de outrem. Os parágrafos 1º e normativo da falsidade da imputação o que é irrelevante
2º do art. 209 CPM definem perfeitamente as lesões gra- no delito de difamação. Enquanto na injúria o fato ver-
ves e gravíssimas respectivamente. Fica faltando definir sa sobre qualidade negativa da vítima, ofendendo-lhe a
a lesão leve. O critério a ser empregado é o de exclusão, honra subjetiva, na difamação há ofensa à reputação do

281
ofendido, versando sobre o fato a ela ofensivo. Conforme decisão do TJM/MG, configura o delito de
Adite a exceção da verdade se a ofensa é relativa ao atentado violento ao pudor praticado por militares em
exercício da função pública, militar ou civil, do ofendido. serviço por prática de ato libidinoso diverso da conjun-
ção carnal contra menor de 15 anos.
7. Injúria
10. Estupro
Art. 216 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
ou o decoro: Art. 232 - Constranger mulher a conjunção carnal,
Pena - detenção até seis meses. mediante violência ou grava ameaça:
Pena - reclusão de três a oito anos, sem prejuízo da
A injúria é delito militar impróprio, podendo ser co- correspondente à violência.
metido por qualquer pessoa, militar ou civil.
E crime que se caracteriza pela ofensa à honra sub- O estupro é crime próprio, o sujeito ativo é o homem,
jetiva da pessoa, que constitui o sentimento próprio a por conta de ser a conjunção carnal a cópula entre do
respeito dos atributos físicos, morais e intelectuais de homem com a mulher, com a intromissão do pênis na
cada um. cavidade vaginal, mediante o emprego da violência física
Injuria é humilhar, achincalhar, ofender, ridicularizar, ou moral.
atentar contra a honra. A consumação, nos crimes con- Deve-se ficar atento que no Código Penal Militar há
tra a honra, ajuda na diferenciação. Na calúnia, como na dois crimes distintos, o atentado violento ao pudor e o
difamação, o crime se consuma quando terceira pessoa estupro, enquanto no Código Penal a conduta se con-
toma conhecimento da alegação, enquanto na injúria centra num único delito, o estupro.
a consumação se dá no momento que a vítima toma
conhecimento. 11. Pederastia ou Outro Ato de Libidinagem
8. Estupro
Art. 235 - Praticar ou permitir o militar que com ele
se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em
Art. 232 - Constranger mulher à conjunção carnal,
lugar sujeito à administração militar:
mediante violência ou grave ameaça:
Pena - detenção de seis meses a um ano.
Pena - reclusão de três a oito anos, sem prejuízo da
correspondente à violência.
O crime de pederastia é militar próprio porque exige
a condição especial de ser o agente militar, somente por
O estupro é crime militar impróprio, visto estar pre-
este podendo o crime ser cometido, quer por ação, quer
visto igualmente na legislação penal comum. O bem jurí-
por omissão, ou seja, praticar ou permitir que com ele se
dico tutelado pela norma é a liberdade sexual da mulher
e o direito de dispor de seu corpo da maneira que me- pratique, em lugar sujeito a administração militar.
lhor lhe aprouver.
Para consumar este delito é necessário que o sujeito FIQUE ATENTO!
ativo seja do sexo masculino, afastando-se assim, a pos- Importante decisão do STF, em 28 de outu-
sibilidade de a mulher assumir tal posição, sabido que só bro de 2015.
o homem pode ter conjunção carnal com a mulher. Não
O STF mantém no Código Penal Militar cri-
se exige a condição de ser o agente militar.
me de ato libidinoso. Por maioria, na sessão
Para a configuração do estupro, há necessidade da in-
desta quarta-feira (28), o Plenário do Su-
trodução, total ou parcial, do membro viril do homem no
premo Tribunal Federal julgou parcialmente
órgão sexual feminino, ocorrendo ou noção a ejaculação.
procedente a Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) 291, que
9. Atentado Violento ao Pudor
questionava a constitucionalidade do artigo
235 do Código Penal Militar (CPM). O Códi-
Art. 233 - Constranger alguém, mediante violência
go trata como crime sexual a “pederastia ou
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

ou grave ameaça, a presenciar, praticar ou permitir


que com ele pratique ato libidinoso diverso da con- outro ato de libidinagem” e estabelece pena
junção carnal: de detenção de seis meses a um ano ao “mi-
Pena - reclusão de dois a seis anos, sem prejuízo do litar que praticar ou permitir que com ele se
correspondente à violência. pratique ato libidinoso, homossexual ou não,
em lugar sujeito a administração militar”.
No atentado violento ao pudor, o bem juridicamente A Corte declarou como não recepcionados
tutelado é a liberdade sexual da vítima, que pode ser ho- pela Constituição Federal os termos "pede-
mem ou mulher, militar ou não, constrangida pelo agente, rastia ou outro" e "homossexual ou não",
que também pode ser homem ou mulher, militar ou não. expressos no dispositivo do CPM.
O crime se consuma com a efetiva prática de ato li-
bidinoso diverso da conjunção carnal, como sexo oral, a
masturbação e o coito anal.

282
A ADPF, ajuizada pela Procuradoria Geral da Repú- 12. Ato Obsceno
blica, alegava violação aos princípios da isonomia, li-
berdade, dignidade da pessoa humana, pluralidade e Art. 238 - Praticar ato obsceno em lugar sujeito à ad-
do direito à privacidade, e pedia que fosse declarada a ministração militar:
não recepção do dispositivo pela Constituição de 1988. Pena - detenção, de três meses a um ano.
Mas também, subsidiariamente, pedia a declaração de Parágrafo único - A pena é agravada, se o fato é pra-
inconstitucionalidade do termo “pederastia” e da expres- ticado por militar em serviço ou por oficial.
são “homossexual ou não” na tipificação penal. Para a
PGR, a norma impugnada, um decreto-lei de 1969, foi
O STM afirma que caracteriza ato obsceno qualquer
editada no contexto histórico de um regime militar dita-
atitude impudica, lasciva, realizada com manifestações
torial, marcado pelo autoritarismo e pela intolerância às
positivas de idoneidade ofensiva ao sentimento médio
diferenças.
O ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo, de pudor ou bons costumes, máxime quando o agente
apresentou voto, inicialmente, pela integral procedência agarra a vítima à força para beijar e abraçar, expondo seu
do pedido da PGR. Para o ministro, a redação do artigo órgão sexual, em local acessível ao público.
235 do Código Penal Militar criminaliza o sexo consensual
entre adultos, desde que ocorram em duas circunstân- 13. Escrito ou Objeto Obsceno
cias: o agente seja militar e o ato ocorra em lugar sujeito
à administração militar. Barroso citou que, na literalidade, Art. 239 - Produzir, distribuir, vender, expor à venda,
o dispositivo criminaliza tanto atos homossexuais como exibir, adquirir ou ter em depósito para fim de venda,
heterossexuais. “A prática de ato sexual ou de atos libidi- distribuição ou exibição, livros, jornais, revistas, escri-
nosos, ainda que consensuais, no local de trabalho, pode tos, pinturas, gravuras, estampas, imagens, desenhos
e frequentemente constituirá conduta imprópria, seja no ou qualquer outro objeto de caráter obsceno, em lugar
ambiente civil ou militar, e no direito é um comporta- sujeito à administração militar ou durante o período
mento sancionado. No direito do trabalho, por exemplo, de exercício ou manobras:
permite-se a rescisão do contrato de trabalho por justa Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
causa nessa hipótese, portanto não está em discussão Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem dis-
a possibilidade de se sancionar questão de conduta im-
tribui, vende oferece à venda ou exibe a militares em
própria no local de trabalho e sim a natureza e o grau da
serviço objeto de caráter obsceno.
sanção”, disse o ministro.
Barroso destacou ainda que há, no dispositivo im-
pugnado do Código Militar, uma criminalização exces- O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou
siva e citou que o direito penal constitui o último e mais civil. Sujeito passivo é a coletividade.
drástico instrumento a ser utilizado pelo Estado. “A cri- Para o agente ser punido, basta que realize a conduta
minalização das condutas só deve ocorrer quando seja de uma das ações descritas no delito.
necessário, e quando não seja possível, proteger adequa-
damente o bem jurídico por outra via. Esse é o princípio CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
da intervenção mínima do direito penal”.
Contudo, a maioria dos ministros entendeu que o 1. Furto
tipo penal deveria ser mantido, desde que invalidadas
as expressões “pederastia ou outro” e “homossexual ou Art. 240 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa
não”, constantes na tipificação, uma vez que têm caráter alheia móvel:
discriminatório. Assim, o relator alinhou-se ao entendi- Pena reclusão até seis anos.
mento majoritário, votando pela parcial procedência da
ação. O agente pode ser qualquer pessoa, militar ou civil.
O ministro Marco Aurélio, que também votou pela Consuma-se o crime desde que a coisa furtada esca-
procedência parcial da ADPF, ressaltou que o STF tem pe à esfera de vigilância do dono, não importando que
atuado com “muita temperança” quando em jogo a dis- seja mais adiante apreendida, conforme decisão do STM.
ciplina normativa militar, destacando que o artigo 235 do O furto será atenuado se o agente é primário e é de
CPM visa proteger a administração militar, a disciplina e pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir pena
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

a hierarquia. Contudo, segundo ele, as expressões “pede- de reclusão pela detenção e diminuí-la de um a dois ter-
rastia” e “homossexual ou não”, constantes no tipo penal, ços, ou considerar a infração como disciplinar. Entende-
ofendem direitos fundamentais. Para ele, não seria o caso -se pequeno o valor que não exceda a um décimo da
de se declarar a não recepção da norma na sua íntegra, quantia mensal do mais alto salário mínimo do país. A
mas apenas afastar as expressões que revelam postura atenuação em estudo é igualmente aplicável no caso em
discriminatória. que o criminoso, sendo primário, restitui a coisa ao seu
Ficaram vencidos na votação os ministros Celso de dono ou repara o dano causado, antes de instaurada a
Mello e Rosa Weber, que julgavam integralmente proce- ação penal.
dente a ação. Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qual-
quer outra que tenha valor econômico.

283
Será qualificado, por exemplo, se o furto ocorre du- Pode ser agente ativo o militar, ou o civil desde que o
rante a noite; se a coisa furtada pertence à Fazenda Na- fato atente contra as instituições militares.
cional; se o furto é praticado com destruição ou rom- O delito ocorre quando o sujeito tem a posse ou de-
pimento de obstáculo à subtração da coisa; ou com tenção do objeto material e, em dado momento faz mu-
emprego de chave falsa. dar o título da posse ou da detenção, comportando-se
como se dono fosse.
2. Furto de Uso O STM julgou induvidosa a conduta criminosa leva-
da a efeito pelo réu que de posse de bens, entregues
em confiança por companheiro de farda, os desviou para
FIQUE ATENTO!
quitar dívidas pessoais.
O furto de uso é crime previsto no Código A apropriação de coisa havida acidentalmente possui
Penal Militar. Art. 241, se a coisa é subtraída a seguinte tipificação:
para o fim de uso momentâneo e, a seguir,
vem a ser imediatamente restituída ou re- Art. 249 -. Apropriar-se alguém de coisa alheia vin-
posta no lugar onde se achava, a pena pre- da ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
vista é de detenção, até seis meses. natureza;
Pena - detenção, até um ano.

A pena é aumentada de metade, se a coisa usada é Neste caso a coisa foi entregue ao agente ou a coisa
veículo motorizado; e de um terço, se é animal de sela vem ao poder do agente por acaso, resultante de erro ou
ou de tiro. caso fortuito ou força da natureza.
O STM julgou procedente a denúncia na hipótese em
3. Roubo que, comprovadamente, sabia a acusada que os valores
depositados não eram mais devidos à sua mãe, em face
Art. 242 - Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para do falecimento desta, mesmo assim, perseverou retiran-
outrem, mediante emprego ou ameaça de empre- do-os da entidade bancária, aproveitando-se da sua con-
go de violência contra pessoa, ou depois de havê-la, dição de correntista conjunto.
por qualquer modo, reduzido à impossibilidade de
resistência: 5. Estelionato
Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, em seguida à Art. 251 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
subtração da coisa, emprega ou ameaça empregar ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al-
violência contra pessoas, a fim de assegurar a impuni- guém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer
dade do crime ou a detenção da coisa para si ou para outro meio fraudulento.
outrem. Pena - reclusão de dois a sete anos.

Roubo é a subtração de coisa móvel alheia mediante Caracteriza-se o estelionato pela presença de seus
violência, grave ameaça ou qualquer meio capaz de anu- elementos constitutivos: o artifício fraudulento; o induzi-
lar a capacidade de resistência da vítima. mento por meio dele, das vítimas em erro; o prejuízo por
Constitui também roubo o fato de o sujeito, logo de- estas sofridas; o correspondente locupletamento ilícito
pois de tirada a coisa móvel alheia, empregar violência dos agentes e o dolo.
contra pessoa ou grave ameaça, com o objetivo de con- O engano é característica essencial do estelionato.
seguir a impunidade do fato ou continuar na detenção Fique atento: as decisões estão consolidadas no Tri-
do objeto material. bunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais, e o
A pena aumenta de um terço até a metade se a vio- Superior Tribunal Militar segue o mesmo raciocínio: prá-
lência ou ameaça é exercida com emprego de arma; se tica estelionato o militar que adultera notas fiscais, indu-
há concurso de duas ou mais pessoas; se a vítima está em zindo em erro a administração militar e obtendo vanta-
serviço de natureza militar; etc. gem ilícita, decisão do TJM/MG.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

Pratica o crime de estelionato o militar que, ao con-


4. Apropriação Indébita feccionar folha de pagamento, inclui, indevidamente, a
seu favor, ajuda de custo, a que não tinha direito, decisão
Art. 248 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que do TJM/MG.
tem a posse ou detenção:
Pena - reclusão, até seis anos. 6. Receptação
Parágrafo único - A pena é agravada, se o valor da
coisa excede vinte vezes o maior salário mínimo, ou se Art. 254 - Adquirir, receber ou ocultar em proveito
o agente recebeu a coisa: próprio ou alheio, coisa proveniente de crime, ou in-
I - em depósito necessário; fluir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
II - em razão de oficio, emprego ou profissão. ou oculte.

284
7. Dano É crime militar próprio, sendo que exige do agente
a condição especial de ser militar, mais que isso, de ser
Art. 259 - Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer desa- subordinado da vítima.
parecer coisa alheia: Conforme decisão do TJM/MG, a utilização de pala-
Pena - detenção até seis meses. vras de baixo calão, de desrespeito a superior hierárqui-
Parágrafo único - Se se trata de bem público: co, ofendendo-lhe a dignidade diante de terceiros, depri-
Pena - detenção, de seis meses a três anos. mindo-lhe a autoridade, caracteriza o crime de desacato
a superior.
O dano simples é crime doloso, ou seja, prescinde da O Tribunal decidiu que comete o crime de desacato
vontade livre e consciente de destruir, inutilizar, deterio- a superior, atentando contra a ordem administrativa mi-
rar ou fazer desaparecer a coisa alheia. litar, o militar que, inconformado com as determinações
Atribui o presente delito no caso do militar que capo- recebidas, encara o superior, rogando-lhe palavras alta-
tou viatura militar dolosamente, decisão do TJM/RS. mente ofensivas, em franco desafio à autoridade de que
O dano será atenuado se: se acha investido.
A pena é agravada se o superior é oficial general ou
Art. 260 - Nos casos do artigo anterior, se o criminoso comandante da unidade a que pertence o agente.
é primário e a coisa é de valor não excedente a um
décimo do salário mínimo, o juiz pode atenuar a pena, 2. Desacato a Militar
ou considerar a infração como disciplinar.
Parágrafo único - o benefício previsto no artigo é Art. 299 - Desacatar militar no exercício de função de
igualmente aplicável, se, dentro das condições nele natureza militar ou em razão dela:
estabelecidas, o criminoso prepara o dano causado Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato
antes de instaurada a ação penal. não constitui outro crime.
O dano será, portanto, qualificado se cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; O agente ativo do delito pode ser qualquer pessoa,
II - com emprego de substâncias inflamável ou explo-
sendo necessário que este se encontre no exercício de
função militar ou que a ofensa se relacione com essa
siva, se o fato não constitui crime mais grave;
III - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável:
função.
Pena - reclusão, até quatro anos, além da pena corres-
pondente à violência.
3. Desobediência
8. Dano em Material ou Aparelhamento de Guerra
Art. 301 - Desobedecer a ordem legal de autoridade
militar.
Art. 262 - Praticar dano em material ou aparelha-
Pena - detenção, até 6 meses.
mento de guerra ou de utilidade militar, ainda que em
construção ou fabricação, ou em efeitos recolhidos a
depósito, pertencentes ou não às Forças Armadas. 4. Ingresso Clandestino

É também tipificado o desaparecimento, consumação Art. 302 - Penetrar em fortaleza, quartel, estabeleci-
ou extravio: mento militar, navio, aeronave, hangar ou em outro
lugar sujeito a administração militar, por onde seja
Art. 265 - Fazer desaparecer, consumir ou extraviar defeso ou não haja passagem regular, ou iludindo a
combustível, armamento, munição, peças de equi- vigilância de sentinela ou de vigia.
pamento de navio ou de aeronave ou de engenho de Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, se o fato não
guerra motomecanizado. constitui crime mais grave.

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR 5. Peculato

Art. 303 - Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer


NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

1. Desacato a Superior
outro bem móvel, público ou particular, de que tem
Art. 298 - Desacatar superior, ofendendo-lhe a digni- posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão,
dade ou procurando deprimir-lhe a autoridade: ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não consti- Pena - reclusão de três a quinze anos.
tui crime mais grave. §1º - A pena aumenta um terço, se o objeto da apro-
priação ou desvio é de valor superior a vinte vezes o
É crime doloso devido à vontade livre e consciente de salário mínimo.
proferir palavra ou praticar ato injurioso e, o especial fim
de agir está na finalidade de desprestigiar a autoridade Primeiramente, protege-se a administração militar.
do superior hierárquico. Em segundo, e eventualmente, protege-se também o
patrimônio do particular, quando o objeto material lhe
pertence.

285
O peculato somente pode ser praticado por funcioná- Oferecer vantagem indevida a policial militar para
rio público, militar ou civil. que se omita quanto ao flagrante que presenciara carac-
teriza o delito de corrupção ativa e ainda que o policial
6. Corrupção Passiva esteja fora de seu horário de trabalho e à paisana, pois,
ao surpreender a prática de crime, age no cumprimento
Art. 308 - Receber, para si ou para outrem, direta ou do dever legal e nos limites de sua competência, confor-
indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de me decisão do TJSP.
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem: 8. Falsificação de Documento
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Aumento de pena. Art. 311 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
§ 1º - a pena é aumentada de um terço, se, em conse- público ou particular, ou alterar documento verdadei-
quência da vantagem ou promessa, o agente retarda ro, desde que o fato atente contra a administração ou
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o prati- o serviço militar:
ca infringindo o dever funcional. Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a
Diminuição de pena seis anos; sendo o documento particular, reclusão, até
§ 2º - se o agente prática, deixa de praticar ou retarda cinco anos.
o ato de ofício com infração de dever funcional, ceden-
do a pedido ou influência de outrem. A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce
Pena - detenção, de três meses a um ano. função em repartição militar.
Equipara-se a documento a, para os efeitos penais, o
O sujeito ativo é o servidor, militar ou civil, que recebe disco fonográfico ou a fita ou fio de aparelho eletromag-
ou aceita a vantagem. nético a que se incorpore declaração destinada à prova
Para a consumação do crime não é imprescindível es- de fato juridicamente relevante.
tar o agente no exercício da função, já que a lei ressalva O sujeito ativo pode ser tanto o militar quanto o civil,
a hipótese de a vantagem indevida ser recebida ainda desde que o fato atente contra as instituições militares.
que fora da função, ou antes de assumi-la, mas sempre O sujeito passivo é a administração militar.
em razão dela. Para que configure o delito é imprescindível que a
A corrupção passiva é delito formal, e consuma-se falsificação seja idônea de iludir terceiro. Se é grosseira,
com a simples solicitação, a não ser se esta é impossível perceptível à primeira vista, inexiste o delito em face da
de ser cumprida, ou seja, não esteja ao alcance da pessoa ausência de potencialidade lesiva do comportamento.
que é solicitada. Não admite tentativa. O STM decidiu que pratica o crime de falsidade de
O TJM/MG decidiu que militar, instrutor de auto es- documento o militar que falsifica atestado médico com o
cola em Unidade Militar, responsável pelo treinamento objetivo de conseguir prorrogação de licença para trata-
e exames de candidatos à habilitação para condução de mento de saúde.
automóveis, que se vale dessa função para receber van-
tagens indevidas, facilitando ou dispensando exames, 9. Falsidade Ideológica
comete o crime de corrupção passiva e são coautores
aqueles que intermedeiam. Art. 312 - Omitir, em documento público ou parti-
cular, declaração que dela devia constar, ou nele in-
7. Corrupção Ativa serir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito,
Art. 309 - Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou van- criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridi-
tagem indevida para a prática, omissão ou retarda- camente relevante, desde que o fato atente contra a
mento de ato funcional: administração militar ou serviço militar:
Pena - reclusão, até oito anos. Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é
Aumento de pena; público; reclusão, até três anos, se o documento é
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,
particular.
se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é re-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

tardado ou omitido o ato, ou praticado com infração


A falsidade documental pode ser de duas espécies: a
de dever funcional.
material e a ideológica. Aquela se revela no próprio docu-
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que, dá, mento, recaindo sobre elemento físico do papel escrito e
oferece ou promete dinheiro ou vantagem indevida. O verdadeiro. Esta não se revela em sinais exteriores da es-
servidor público, civil ou militar, também pode ser sujeito crita, mas concerne ao conteúdo do documento. Na falsi-
ativo, desde que esteja agindo como particular e despido dade ideológica, inexistem rasuras, emendas, omissões ou
de sua qualidade funcional. acréscimos, sendo falsa a ideia que o documento contém.
O sujeito passivo, ao contrário do que se possa pen- O TJM/RS decidiu que policiais militares que, ao co-
sar, não é o servidor público, mas, sim, a administração municarem o encontro do veículo furtado, fazem constar,
militar, em favor da qual aquele opera na qualidade de no boletim de ocorrência policial, que o veículo estava
seu agente. depenado, valendo-se disso o proprietário do automóvel
para tentar fraudar a seguradora.

286
10. Prevaricação autor pode ter na Justiça Militar é a de Juiz Militar;
portanto, o delito existe quando o Oficial se nega a
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevida- assumir a função de Juiz. Evidentemente, se houver
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa dis- motivo legal que o impeça de assumir tal função,
posição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento inexistirá o delito. O assunto vem disciplinado, por
pessoal: exemplo, pela Lei n. 8.457, de 4 de setembro de
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. 1992, que versa sobre os Conselhos de Justiça, seu
funcionamento, sorteio de Oficiais etc. Tão somen-
11. Condescendência Criminosa te Oficiais é que compõem os Conselhos Especiais
(processa e julga Oficiais) e Permanentes (processa
Art. 322 - Deixar de responsabilizar subordinado que e julga Praças) de Justiça, o que se vê corrobora-
comete infração no exercício do cargo, ou, quando lhe do pela pena prevista (suspensão do exercício de
falte competência, não levar o fato ao conhecimento posto).
da autoridade competente: • Elemento subjetivo: é somente o dolo.
Pena - se o fato foi praticado por indulgência, deten- • Consumação: o delito se consuma com a recusa do
ção, até 6 meses; se por negligência, detenção até 3 autor.
meses. • Tentativa: impossível, pois é delito de mera
conduta.
• Crime propriamente militar.
FIQUE ATENTO! • Tipicidade indireta: como o delito pode ser perpe-
Há crimes que são praticados por particular trado por qualquer pessoa, para se ter a completa
contra a administração militar e devem ter compreensão da tipicidade deste crime, deve-se
atenção para não associar aos crimes contra verificar o inciso I do art. 9 o do CPM, se o sujeito
a administração militar, como é o caso do ativo for militar da ativa, porquanto não há idênti-
delito de tráfico de influência. ca tipificação nos dois diplomas penais (comum e
militar).
• Ação penal: é pública incondicionada, nos termos
Art. 336. Obter para si ou para outrem, vantagem do art. 121 do CPM.
ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em
militar ou assemelhado ou funcionário de repartição
militar, no exercício de função: EXERCÍCIOS COMENTADOS
Pena - reclusão, até cinco anos.
1. (UNB – CESPE – 2011)
TÍTULO VIII
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA Considere a seguinte situação hipotética.
JUSTIÇA MILITAR O comandante de um batalhão do Exército, após a prisão
de um suboficial por policiais civis, determinou a invasão
Art. 340. Recusar o militar ou assemelhado exercer, da delegacia de polícia, a fim de livrar o suboficial da
sem motivo legal, função que lhe seja atribuída na ad- custódia, considerada, por esse, como irregular. Apesar
ministração da Justiça Militar: da determinação do superior, não houve aquiescência da
Pena – suspensão do exercício do posto ou cargo, de tropa, que permaneceu aquartelada sem sujeição às or-
dois a seis meses. dens do comandante.
Nessa situação hipotética, a conduta do comandante ca-
Objetividade jurídica: é a administração da Justiça
racteriza a figura típica de movimentação ilegal de tropa
e ação militar, sendo indiferente o cumprimento ou não
Militar.
Os sujeitos do delito são: o sujeito ativo é o militar,
da ordem emanada.
federal ou dos Estados, compreendido nos termos do
art. 22 do CPM. Como defendemos, o assemelhado é fi-
( ) CERTO ( ) ERRADO
gura extinta em nosso Direito, não figurando, portanto,
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

no polo ativo. Deve-se lembrar que o oficial da reserva


remunerada sorteado, para compor Conselho de Justiça
Resposta: Certo
O delito está contido no art. 169 do Código Penal Mi-
especial, tem como condição sua precedente reversão ao
serviço ativo, o que importa em ratificar que somente o
litar, que consiste em determinar o comandante, sem
militar da ativa cometeria este delito, por exemplo, ao se ordem superior e fora dos casos em que essa se dis-
recusar a compor Conselho de Justiça. pensa, movimento de tropa ou ação militar, recai a im-
O sujeito passivo, titular do bem jurídico aviltado, é putabilidade sobre o comandante da tropa.
a Justiça Militar.

• Elementos objetivos: o núcleo da conduta é “recu-


sar”, ou seja, negar, colocar-se contra. O autor re-
cusa função na Justiça Militar. A única função que o

287
2. (UNB – CESPE – 2011) b) o defeito do ato de incorporação não exclui a aplica-
Sobre os crimes contra a administração pública, julgue os ção da lei penal militar, mesmo que venha a ser alega-
próximos itens. do ou conhecido antes da prática do crime.
c) o militar estrangeiro, ainda que em comissão ou está-
I - Nos crimes de favorecimento pessoal e real, caso o gio nas Forças Armadas, não fica sujeito à lei penal mi-
sujeito ativo seja ascendente ou descendente do crimi- litar brasileira, mas à lei do respectivo país de origem.
noso, fica isento de pena. d) consideram-se crimes militares em tempo de guerra
II - A pessoa que exige para si vantagem a pretexto de somente aqueles previstos como tais no CPM.
influir em ato praticado por servidor público no exer- e) sempre que uma lei posterior alterar, no CPM, a tipi-
cício da função comete crime de tráfico de influên- ficação de um delito ou a pena a ele prescrita, tal lei,
cia. Caracteriza-se a exploração de prestígio quando mesmo que prejudicial ao agente, aplicar-se-á retroa-
a solicitação é feita a pretexto de influir, por exemplo, tivamente, ainda quando já tenha sobrevindo senten-
sobre juiz ou funcionário da justiça. ça condenatória irrecorrível.
III - Caso o indivíduo X, servidor público, aceite dinhei-
ro oferecido pelo indivíduo Y para retardar o anda- 3. (IADES – 2018) Com base em expressa previsão do
mento de processo que tramita na vara onde X exerce Código Penal Militar, no Título II da Parte Geral – Do Cri-
suas funções, os dois deverão responder por corrupção me, assinale a alternativa correta.
passiva, em concurso de pessoas.
a) No erro de direito, é isento de pena quem, ao praticar
( ) CERTO ( ) ERRADO o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a ine-
xistência de circunstância de fato que o constitui ou
Resposta: Errado a existência de situação de fato que tornaria a ação
Favorecimento pessoal e real são crimes contra a ad- legítima.
ministração da justiça militar, e a isenção da pena é b) No erro de fato, a pena pode ser atenuada ou substi-
tuída por outra menos grave quando o agente, salvo
cabível quando quem presta o auxílio é ascendente,
descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, somen-
em se tratando de crime que atente contra o dever
militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou erro de
te no delito de favorecimento pessoal.
interpretação da lei, se escusáveis.
c) O erro sobre a pessoa ocorre quando, por erro ou
outro acidente na execução, é atingido bem jurídico
HORA DE PRATICAR
diverso do visado pelo agente. Nessa hipótese, res-
ponde o agente por culpa, se o fato é previsto como
1. (IADES – 2018) Segundo a nova redação do arti- crime culposo.
go 9º do Código Penal Militar (CPM), dada pela Lei nº d) O erro quanto ao bem jurídico ocorre quando o agen-
13.491/2017, assinale a alternativa correta. te, por erro de percepção ou no uso dos meios de exe-
cução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez
a) Somente aqueles que estiverem previstos no CPM se- de outra. Nessa hipótese, o agente responde como se
rão crimes militares. tivesse praticado o crime contra aquela que realmente
b) O civil menor de 18 anos de idade responderá, pe- pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as con-
rante a Justiça Militar Estadual, por crime militar que dições e qualidades da vítima, mas as da outra pessoa,
praticar contra policial militar. para configuração, qualificação ou exclusão do crime,
c) Os crimes de que trata o artigo 9º do CPM, quando e agravação ou atenuação da pena.
dolosos contra a vida e cometidos por militares das e) Se o erro de fato é provocado por terceiro, responderá
Forças Armadas contra civil, serão da competência da este pelo crime, a título de dolo ou culpa, conforme o
Justiça Militar da União, se praticados no contexto do caso.
cumprimento de atribuições que lhes forem estabele-
cidas pelo presidente da República ou pelo ministro 4. (IADES – 2018) De acordo com expressa previsão do
de Estado da Defesa. Código Penal Militar (CPM), a respeito do crime, assinale
d) Somente aqueles cometidos em área sob administra-
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

a alternativa correta.
ção militar, e desde que cometidos por militar da ati-
va contra militar da ativa, serão considerados crimes a) Considera-se em estado de necessidade quem, usan-
militares. do moderadamente os meios necessários, repele in-
e) Não há mais hipótese de que crimes militares possam justa agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou
ser cometidos por civil, mesmo os de competência da de outrem.
Justiça Militar da União. b) Entende-se em legítima defesa quem pratica o fato
para preservar direito próprio ou alheio, de perigo
2. (IADES – 2018) Segundo o Código Penal Militar (CPM), certo e atual, que não provocou, nem podia de outro
modo evitar, desde que o mal causado, pela respectiva
a) aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo dis- natureza e importância, é consideravelmente inferior
posição especial, aplicam-se as penas cominadas para ao mal evitado, e o agente não era legalmente obriga-
o tempo de paz, com o aumento de um terço. do a arrostar o perigo.

288
c) Não há crime quando o comandante de navio, aero- a) motim.
nave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou b) revolta.
grave calamidade, compele os subalternos, por meios c) omissão de lealdade militar.
violentos, a executar serviços e manobras urgentes, d) milícia.
para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, e) organização de grupo para a prática de violência.
o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.
d) Entende-se em estrito cumprimento do dever legal 8. (IADES – 2018) Determinado soldado, pretendendo
quem pratica ato para proteger direito próprio ou de causar impressão aos demais companheiros de farda,
pessoa a quem está ligado por estreitas relações de após as férias, inseriu e passou a ostentar, em seu unifor-
parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que me, os distintivos correspondentes ao curso de resgate
não provocou, nem podia de outro modo evitar, sa- e ao de direção defensiva de viaturas policiais, sem ter
crifica direito alheio, ainda quando superior ao direito frequentado os cursos específicos. Nessa situação hipo-
protegido, desde que não lhe era razoavelmente exi- tética, o soldado cometeu o crime militar de
gível conduta diversa.
e) Entende-se em exercício regular de direito quem, ao a) uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar
praticar o crime, o faz supondo, por erro plenamente por qualquer pessoa.
escusável, a inexistência de circunstância de fato que b) estelionato.
o constitui ou a existência de situação de fato que tor- c) falsidade ideológica.
naria a ação legítima. d) despojamento desprezível.
e) exercício funcional ilegal.
5. (IADES – 2018) O Código Penal Militar veda a suspen-
são condicional da pena no caso do crime militar de 9. (IADES – 2018) De acordo com o expresso no artigo
183 do Código Penal Militar, constitui crime militar de
a) lesão corporal. insubmissão a conduta de
b) adormecimento em serviço.
c) desrespeito a superior.
a) deixar de apresentar-se o convocado à incorpora-
d) embriaguez em serviço.
ção, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apre-
e) uso de entorpecente.
sentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de
incorporação.
6. (IADES – 2018) Conforme prevê expressamente o
b) recusar obedecer à ordem do superior sobre assunto
artigo 149 do Código Penal Militar, caracteriza o crime
ou matéria de serviço, ou relativamente a dever im-
militar de motim a conduta de militares ou assemelhados
posto em lei, regulamento ou instrução.
c) desrespeitar superior diante de outro militar.
a) reunirem-se armados, ocupando quartel, fortaleza,
arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou depen- d) desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o
dência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou ae- decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade.
ronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de e) desacatar militar no exercício de função de natureza
qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para militar ou em razão dela.
ação militar, ou prática de violência, em desobediência
a ordem superior ou em detrimento da ordem ou da 10. (IADES – 2018) Com base em previsão do Código
disciplina militar. Penal Militar (CPM), assinale a alternativa correta.
b) reunirem-se agindo contra a ordem recebida de supe-
rior ou negando-se a cumpri-la. a) O crime militar de calúnia consiste na conduta de im-
c) promoverem a reunião de militares, ou nela tomarem putar a alguém fato ofensivo à respectiva reputação.
parte, para discussão de ato de superior ou assunto b) Nos crimes militares contra a honra, as penas comina-
atinente à disciplina militar. das aumentam-se em um terço se o delito é cometido
d) publicarem, sem licença, ato ou documento oficial, ou na presença de duas ou mais pessoas ou de inferior
criticarem publicamente ato de seu superior ou assun- do ofendido, ou por meio que facilite a divulgação da
to atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolu- calúnia, da difamação ou da injúria.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

ção do Governo. c) O crime militar de injúria consiste na conduta de im-


e) oporem-se à execução de ato legal, mediante ameaça putar falsamente a alguém fato definido como crime.
ou violência ao executor, ou a quem esteja prestando d) A conduta de emitir conceito desfavorável em aprecia-
auxílio. ção ou informação prestada no cumprimento de dever
de ofício, ainda que não haja intenção de injuriar, difa-
7. (IADES – 2018) O Código Penal Militar tipifica como mar ou caluniar, constitui ofensa punível como crime
doloso o ato de “reunirem-se dois ou mais militares ou militar contra a honra.
assemelhados, com armamento ou material bélico, de e) O crime militar de difamação consiste na conduta de
propriedade militar, praticando violência à pessoa ou ofender a dignidade ou o decoro de alguém.
à coisa pública ou particular em lugar sujeito ou não à
administração militar”. Essa conduta caracteriza o crime
militar de

289
11. (IADES – 2018) Prevê o Código Penal Militar que ____________________________________________________________
aquele que pratica a conduta de obter, para si ou para
outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ____________________________________________________________
ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou ____________________________________________________________
qualquer outro meio fraudulento, comete o crime impro-
priamente militar de ____________________________________________________________

a) abuso de pessoa. ____________________________________________________________


b) concussão. ____________________________________________________________
c) usura pecuniária.
d) peculato. ____________________________________________________________
e) estelionato.
____________________________________________________________
12. (IADES – 2018) Considere hipoteticamente que dois ____________________________________________________________
soldados, durante o patrulhamento ostensivo em viatura,
abordaram um civil que portava arma de fogo sem au- ____________________________________________________________
torização legal prevista, e dele exigiram R$ 200,00 para
omitirem as providências cabíveis. A conduta dos poli- ____________________________________________________________
ciais caracteriza o crime militar de ____________________________________________________________

a) corrupção passiva. ____________________________________________________________


b) corrupção ativa.
c) peculato. ____________________________________________________________
d) concussão. ____________________________________________________________
e) condescendência criminosa.
____________________________________________________________

GABARITO ____________________________________________________________

____________________________________________________________
1 C
____________________________________________________________
2 A
3 E ____________________________________________________________
4 C
5 C ____________________________________________________________
6 B
____________________________________________________________
7 E
8 A ____________________________________________________________
9 A
10 B ____________________________________________________________
11 E
____________________________________________________________
12 D
____________________________________________________________

____________________________________________________________

ANOTAÇÕES ____________________________________________________________

____________________________________________________________
NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR

___________________________________________________________ ____________________________________________________________

____________________________________________________________ ____________________________________________________________

____________________________________________________________ ____________________________________________________________

____________________________________________________________ ____________________________________________________________

___________________________________________________________ ____________________________________________________________

____________________________________________________________ ___________________________________________________________

____________________________________________________________ ___________________________________________________________

290
EXERCÍCIO COMENTADO
NOÇÕES DE DIREITO
PROCESSUAL PENAL MILITAR 1. (CESPE - 2004) Acerca da polícia judiciária militar, do
inquérito policial militar, da ação penal militar, do juiz e seus
auxiliares, julgue o item a seguir. À polícia judiciária militar,
que é exercida pelas autoridades militares, cabe auxiliar
POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR as polícias civil e federal na apuração de infrações penais
militares, dado que são estas que detêm a exclusividade
na apuração de quaisquer infrações penais.
A atividade de polícia judiciária militar está inserida na
fase investigatória. Não tem como estudar polícia judiciária ( ) CERTO ( ) ERRADO
militar sem estudar inquérito policial militar e vice-versa.
Resposta: Errado.
O Poder de Polícia Judiciária Militar está previsto de
O Poder de Polícia Judiciária Militar está previsto de
forma implícita no art. 144 §4º, da Constituição Federal, forma implícita no art. 144 §4º, da Constituição Federal,
quando afirma que às polícias civis, dirigidas por delegados quando afirma que às polícias civis, dirigidas por dele-
de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência gados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
da União, as funções de polícia judiciária e a apuração das competência da União, as funções de polícia judiciária
infrações penais, exceto as militares. e a apuração das infrações penais, exceto as militares.
A polícia judiciária militar destina-se à apuração de Cabe, portanto, à autoridade de polícia judiciária mili-
crimes militares, sendo o rol de atividades previstas no tar a apuração de autoria e materialidade de crime de
artigo 8º do CPPM de fácil compreensão, ressalvando que natureza militar.
à possibilidade de o magistrado requisitar diligências na
fase do inquérito policial militar.
Portanto, compete à Polícia Judiciária Militar: INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

• apurar os crimes militares, bem como os que, por


TÍTULO III
lei especial, estão sujeitos à jurisdição militar, e sua CAPÍTULO ÚNICO
autoria; DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR
• prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos
membros do Ministério Público as informações ne- Finalidade do inquérito
cessárias à instrução e julgamento dos processos,
bem como realizar as diligências que por eles lhe Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária
forem requisitadas; de fato, que, nos têrmos legais, configure crime militar,
• cumprir os mandados de prisão expedidos pela e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória,
Justiça Militar; cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos
• representar as autoridades judiciárias militares acer- necessários à propositura da ação penal.
ca da prisão preventiva e da insanidade mental do Parágrafo único. São, porém, efetivamente instrutó-
indiciado; rios da ação penal os exames, perícias e avaliações
• cumprir as determinações da Justiça Militar relativas realizados regularmente no curso do inquérito, por
aos presos sob sua guarda e responsabilidade, bem peritos idôneos e com obediência às formalidades pre-
como as demais prescrições do CPPM, nesse sentido; vistas neste Código.
• solicitar das autoridades civis as informações e me-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

didas que julgar úteis à elucidação das infrações Modos por que pode ser iniciado
penais, que esteja a seu cargo;
• requisitar da polícia civil e das repartições técnicas Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria:
civis as pesquisas e exames necessários ao comple- a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de
mento e subsídio de inquérito policial militar; jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal,
• atender, com observância dos regulamentos mi- atendida a hierarquia do infrator;
litares, a pedido de apresentação de militar ou b) por determinação ou delegação da autoridade militar
funcionário de repartição militar à autoridade civil superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por
competente, desde que legal e fundamentado o via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, poste-
pedido. riormente, por ofício;
c) em virtude de requisição do Ministério Público;
d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos têrmos
do art. 25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem le-
galmente a represente, ou em virtude de representação
devidamente autorizada de quem tenha conhecimento
de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar;

291
f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição Formação do inquérito
militar, resulte indício da existência de infração penal
militar. Art. 13. O encarregado do inquérito deverá, para a
Superioridade ou igualdade de pôsto do infrator formação dêste:
§ 1º Tendo o infrator pôsto superior ou igual ao do Atribuição do seu encarregado
comandante, diretor ou chefe de órgão ou serviço, em a) tomar as medidas previstas no art. 12, se ainda não
cujo âmbito de jurisdição militar haja ocorrido a infração o tiverem sido;
penal, será feita a comunicação do fato à autoridade b) ouvir o ofendido;
superior competente, para que esta torne efetiva a de-
c) ouvir o indiciado;
legação, nos têrmos do § 2° do art. 7º.
d) ouvir testemunhas;
Providências antes do inquérito
e) proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e
§ 2º O aguardamento da delegação não obsta que o
oficial responsável por comando, direção ou chefia, acareações;
ou aquêle que o substitua ou esteja de dia, de serviço f) determinar, se fôr o caso, que se proceda a exame de
ou de quarto, tome ou determine que sejam tomadas corpo de delito e a quaisquer outros exames e perícias;
imediatamente as providências cabíveis, previstas no g) determinar a avaliação e identificação da coisa sub-
art. 12, uma vez que tenha conhecimento de infração traída, desviada, destruída ou danificada, ou da qual
penal que lhe incumba reprimir ou evitar. houve indébita apropriação;
Infração de natureza não militar h) proceder a buscas e apreensões, nos têrmos dos arts.
§ 3º Se a infração penal não fôr, evidentemente, de na- 172 a 184 e 185 a 189;
tureza militar, comunicará o fato à autoridade policial i) tomar as medidas necessárias destinadas à proteção
competente, a quem fará apresentar o infrator. Em se de testemunhas, peritos ou do ofendido, quando coactos
tratando de civil, menor de dezoito anos, a apresentação ou ameaçados de coação que lhes tolha a liberdade de
será feita ao Juiz de Menores. depor, ou a independência para a realização de perícias
Oficial general como infrator ou exames.
§ 4º Se o infrator fôr oficial general, será sempre comu- Reconstituição dos fatos
nicado o fato ao ministro e ao chefe de Estado-Maior Parágrafo único. Para verificar a possibilidade de ha-
competentes, obedecidos os trâmites regulamentares.
ver sido a infração praticada de determinado modo, o
Indícios contra oficial de pôsto superior ou mais antigo
encarregado do inquérito poderá proceder à reprodu-
no curso do inquérito
§ 5º Se, no curso do inquérito, o seu encarregado ve-
ção simulada dos fatos, desde que esta não contrarie
rificar a existência de indícios contra oficial de pôsto a moralidade ou a ordem pública, nem atente contra
superior ao seu, ou mais antigo, tomará as providências a hierarquia ou a disciplina militar.
necessárias para que as suas funções sejam delegadas
a outro oficial, nos têrmos do § 2° do art. 7º. Assistência de procurador

Escrivão do inquérito Art. 14. Em se tratando da apuração de fato delituoso


de excepcional importância ou de difícil elucidação, o
Art. 11. A designação de escrivão para o inquérito ca- encarregado do inquérito poderá solicitar do procurador-
berá ao respectivo encarregado, se não tiver sido feita -geral a indicação de procurador que lhe dê assistência.
pela autoridade que lhe deu delegação para aquêle fim,
recaindo em segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado Encarregado de inquérito. Requisitos
fôr oficial, e em sargento, subtenente ou suboficial, nos
demais casos. Art. 15. Será encarregado do inquérito, sempre que
Compromisso legal possível, oficial de pôsto não inferior ao de capitão ou
Parágrafo único. O escrivão prestará compromisso de
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

capitão-tenente; e, em se tratando de infração penal


manter o sigilo do inquérito e de cumprir fielmente as
contra a segurança nacional, sê-lo-á, sempre que pos-
determinações dêste Código, no exercício da função.
sível, oficial superior, atendida, em cada caso, a sua
hierarquia, se oficial o indiciado.
Medidas preliminares ao inquérito

Art. 12. Logo que tiver conhecimento da prática de Sigilo do inquérito


infração penal militar, verificável na ocasião, a autori-
dade a que se refere o § 2º do art. 10 deverá, se possível: Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado
a) dirigir-se ao local, providenciando para que se não pode permitir que dêle tome conhecimento o advogado
alterem o estado e a situação das coisas, enquanto do indiciado.
necessário; (Vide Lei nº 6.174, de 1974)
b) apreender os instrumentos e todos os objetos que Art. 16-A. Nos casos em que servidores das polícias
tenham relação com o fato; militares e dos corpos de bombeiros militares figurarem
c) efetuar a prisão do infrator, observado o disposto como investigados em inquéritos policiais militares e
no art. 244; demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a
d) colhêr tôdas as provas que sirvam para o esclareci- investigação de fatos relacionados ao uso da força letal
mento do fato e suas circunstâncias. praticadosnoexercícioprofissional,deformaconsumada

292
ou tentada, incluindo as situações dispostas nos arts. 42 § 1º O escrivão lavrará assentada do dia e hora do
a 47 do Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969 início das inquirições ou depoimentos; e, da mesma
(Código Penal Militar), o indiciado poderá constituir forma, do seu encerramento ou interrupções, no final
defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) daquele período.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o Inquirição. Limite de tempo
investigado deverá ser citado da instauração do pro- § 2º A testemunha não será inquirida por mais de quatro
cedimento investigatório, podendo constituir defensor horas consecutivas, sendo-lhe facultado o descanso de
no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do meia hora, sempre que tiver de prestar declarações além
recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº 13.964, daquele têrmo. O depoimento que não ficar concluído
de 2019) às dezoito horas será encerrado, para prosseguir no
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º com ausência dia seguinte, em hora determinada pelo encarregado
de nomeação de defensor pelo investigado, a auto- do inquérito.
ridade responsável pela investigação deverá intimar § 3º Não sendo útil o dia seguinte, a inquirição poderá
a instituição a que estava vinculado o investigado à ser adiada para o primeiro dia que o fôr, salvo caso
época da ocorrência dos fatos, para que esta, no prazo de urgência.
de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para Prazos para terminação do inquérito
a representação do investigado. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) dias, se o indiciado estiver prêso, contado esse prazo a
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver
§ 6º As disposições constantes deste artigo aplicam-se sôlto, contados a partir da data em que se instaurar o
aos servidores militares vinculados às instituições dis- inquérito.
postas no art. 142 da Constituição Federal, desde que Prorrogação de prazo
os fatos investigados digam respeito a missões para § 1º Êste último prazo poderá ser prorrogado por mais
a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei nº vinte dias pela autoridade militar superior, desde que
13.964, de 2019) não estejam concluídos exames ou perícias já inicia-
dos, ou haja necessidade de diligência, indispensáveis
Incomunicabilidade do indiciado. Prazo. à elucidação do fato. O pedido de prorrogação deve
ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido
Art. 17. O encarregado do inquérito poderá manter antes da terminação do prazo.
incomunicável o indiciado, que estiver legalmente prêso, Diligências não concluídas até o inquérito
por três dias no máximo. § 2º Não haverá mais prorrogação, além da prevista no
§ 1º, salvo dificuldade insuperável, a juízo do ministro
Detenção de indiciado de Estado competente. Os laudos de perícias ou exa-
mes não concluídos nessa prorrogação, bem como os
Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o in- documentos colhidos depois dela, serão posteriormente
diciado poderá ficar detido, durante as investigações remetidos ao juiz, para a juntada ao processo. Ainda,
policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção no seu relatório, poderá o encarregado do inquérito
à autoridade judiciária competente. Êsse prazo poderá indicar, mencionando, se possível, o lugar onde se en-
ser prorrogado, por mais vinte dias, pelo comandante contram as testemunhas que deixaram de ser ouvidas,
da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante por qualquer impedimento.
solicitação fundamentada do encarregado do inquérito Dedução em favor dos prazos NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
e por via hierárquica. § 3º São deduzidas dos prazos referidos neste artigo
Prisão preventiva e menagem. Solicitação as interrupções pelo motivo previsto no § 5º do art. 10.
Parágrafo único. Se entender necessário, o encarrega-
do do inquérito solicitará, dentro do mesmo prazo ou Reunião e ordem das peças de inquérito
sua prorrogação, justificando-a, a decretação da prisão
preventiva ou de menagem, do indiciado. Art. 21. Tôdas as peças do inquérito serão, por ordem
cronológica, reunidas num só processado e dactilo-
Inquirição durante o dia grafadas, em espaço dois, com as fôlhas numeradas e
rubricadas, pelo escrivão.
Art. 19. As testemunhas e o indiciado, exceto caso de
urgência inadiável, que constará da respectiva assen- Juntada de documento
tada, devem ser ouvidos durante o dia, em período que
medeie entre as sete e as dezoito horas. Parágrafo único. De cada documento junto, a que prece-
derá despacho do encarregado do inquérito, o escrivão
Inquirição. Assentada de início, interrupção e lavrará o respectivo têrmo, mencionando a data.
encerramento

293
Relatório § 2º O Ministério Público poderá requerer o arquiva-
mento dos autos, se entender inadequada a instauração
Art. 22. O inquérito será encerrado com minucioso do inquérito.
relatório, em que o seu encarregado mencionará as
diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados Devolução de autos de inquérito
obtidos, com indicação do dia, hora e lugar onde ocor-
reu o fato delituoso. Em conclusão, dirá se há infração Art. 26. Os autos de inquérito não poderão ser devol-
disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando-se, vidos a autoridade policial militar, a não ser:
nesteúltimocaso,justificadamente,sôbreaconveniência I — mediante requisição do Ministério Público, para
da prisão preventiva do indiciado, nos têrmos legais. diligências por ele consideradas imprescindíveis ao
oferecimento da denúncia;
Solução II — por determinação do juiz, antes da denúncia, para o
preenchimento de formalidades previstas neste Código,
§ 1º No caso de ter sido delegada a atribuição para a
ou para complemento de prova que julgue necessária.
abertura do inquérito, o seu encarregado enviá-lo-á
Parágrafo único. Em qualquer dos casos, o juiz marcará
à autoridade de que recebeu a delegação, para que
prazo, não excedente de vinte dias, para a restituição
lhe homologue ou não a solução, aplique penalidade,
no caso de ter sido apurada infração disciplinar, ou dos autos.
determine novas diligências, se as julgar necessárias.
Suficiência do auto de flagrante delito
Advocação
Art. 27. Se, por si só, fôr suficiente para a elucidação do
§ 2º Discordando da solução dada ao inquérito, a au- fato e sua autoria, o auto de flagrante delito constituirá o
toridade que o delegou poderá avocá-lo e dar solução inquérito, dispensando outras diligências, salvo o exame
diferente. de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a iden-
tificação da coisa e a sua avaliação, quando o seu valor
Remessa do inquérito à Auditoria da Circunscrição influir na aplicação da pena. A remessa dos autos, com
breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á
Art. 23. Os autos do inquérito serão remetidos ao au- sem demora ao juiz competente, nos têrmos do art. 20.
ditor da Circunscrição Judiciária Militar onde ocorreu a
infração penal, acompanhados dos instrumentos desta, Dispensa de Inquérito
bem como dos objetos que interessem à sua prova.
Remessa a Auditorias Especializadas Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo
§ 1º Na Circunscrição onde houver Auditorias Espe- de diligência requisitada pelo Ministério Público:
cializadas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos
atender-se-á, para a remessa, à especialização de cada por documentos ou outras provas materiais;
uma. Onde houver mais de uma na mesma sede, es- b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de
pecializada ou não, a remessa será feita à primeira escrito ou publicação, cujo autor esteja identificado;
Auditoria, para a respectiva distribuição. Os incidentes c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código
ocorridos no curso do inquérito serão resolvidos pelo Penal Militar.
juiz a que couber tomar conhecimento do inquérito,
por distribuição.
§ 2º Os autos de inquérito instaurado fora do território AÇÃO PENAL MILITAR E SEU EXERCÍCIO,
nacional serão remetidos à 1ª Auditoria da Circunscri- JUIZ, AUXILIARES E PARTES DO PROCESSO
ção com sede na Capital da União, atendida, contudo,
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

a especialização referida no § 1º. José da Silva Loureiro Neto ensina que o Ministério
Público constitui o dominus litis, o senhor da ação penal,
Arquivamento de inquérito. Proibição pois a promove, sem que possa dela dispor, seja transi-
gindo, seja declinando de seu exercício.
Art.24.Aautoridademilitarnãopoderámandararquivar Vigora no ordenamento processual o princípio da lega-
autos de inquérito, embora conclusivo da inexistência lidade, ou seja, o Ministério Público é obrigado a promover
de crime ou de inimputabilidade do indiciado. a ação penal tão logo se forme a opinio delicti em face dos
elementos de convicção fornecidos pelo inquérito policial.
Instauração de nôvo inquérito A ação penal militar invoca a jurisdição do juiz, a fim
de que o Poder Judiciário aplique o direito objetivo a de-
Art 25. O arquivamento de inquérito não obsta a instau-
terminado caso concreto.
ração de outro, se novas provas aparecerem em relação
Actum trium personarum: autor, réu e juiz.
ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados
o caso julgado e os casos de extinção da punibilidade. A ação penal pode ser pública ou privada. A diferença
§ 1º Verificando a hipótese contida neste artigo, o juiz entre a ação penal pública e a ação penal privada reside
remeterá os autos ao Ministério Público, para os fins na legitimidade para agir.
do disposto no art. 10, letra c.

294
Na ação penal plena ou incondicionada, o Ministério Resposta: Errado.
Público propõe a ação independe de qualquer condição. Na legislação processual penal militar a ação penal
No silêncio da lei, a ação penal é incondicionada. poderá ser pública incondicionada ou condicionada,
Para relembrar, os crimes contra a honra, tipificados no sendo somente o Ministério Público o dono da ação.
Código Penal (art. 138, 139 e 140), procedem-se mediante
queixa, exceção no caso da injúria (art. 140, §2º), onde a No processo, o juiz proverá a regularidade do pro-
violência resulta lesão corporal, sendo portanto ação penal cesso e a execução da lei, e manterá a ordem no curso
pública condicionada. dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a
A injúria contra o Presidente da República e Chefe de força militar.
Estado Estrangeiro é necessária requisição do Ministro da Todas as vezes que se referir a juiz, esta denomina-
Justiça. Injúria contra funcionário público em razão de suas ção, de modo genérico, refere-se a quaisquer autorida-
funções, somente de procede mediante representação do des judiciárias, singulares ou colegiadas, no exercício das
ofendido, assim como o crime de ameça (art. 147), por se
respectivas competências atributivas ou processuais. No
exercício das suas atribuições, o juiz não deverá obediên-
tratar de ação penal pública condicionada. Destaca-se que
cia senão, nos termos legais, à autoridade judiciária que
na ação penal de iniciativa privada e na ação penal condi-
lhe é superior.
cionada à representação, o acordo homologado acarreta Muito semelhante ao processo penal, o Código de
renúncia da ação. Processo Penal Militar estabelece que o juiz não poderá
Na justiça militar há ação penal condicionada à requisi- exercer jurisdição no processo em que:
ção do Ministério Militar, hoje, Comandante de cada força
singular (Marinha, Exército e Aeronáutica), e condicionada a) como advogado ou defensor, órgão do Ministério
à requisição do Ministério da Justiça. Público, autoridade policial, auxiliar de justiça ou
Quanto à ação penal condicionada à representação perito, tiver funcionado seu cônjuge, ou parente
descrita pela lei nº 9.099/95, há doutrinadores e decisões consanguíneo ou afim até o terceiro grau inclusive;
que apontam para a sua aplicação na justiça militar dos b) ele próprio houver desempenhado qualquer des-
estados, porém, a maioria defende a tese de não aplica- sas funções ou servido como testemunha;
bilidade na justiça militar federal, sendo um dos funda- c) tiver funcionado como juiz de outra instância, pro-
mentos mais aclamados, a preservação da hierarquia e nunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
da disciplina. d) ele próprio ou seu cônjuge, ou parente consanguí-
Não se admite ação penal militar subsidiária da pú- neo ou afim, até o terceiro grau inclusive, for parte
blica quando houver omissão do Ministério Público na ou diretamente interessado.
propositura da ação, sendo assim, a vítima não poderá
substituir o dono da ação.
FIQUE ATENTO!
O dono da ação penal, o Ministério Público, poderá
requerer ao juiz o arquivamento do IPM nas seguintes Serão considerados inexistentes os atos pra-
hipóteses: ticados por juiz impedido.

• se não houver indícios de autoria: é uma decisão


jurisprudencial interlocutória mista de natureza ter- Caso de suspeição. O juiz dar-se-á por suspeito e, se
minativa; não faz coisa julgada, tanto que pode surgir o não fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
provas novas e dar continuidade a persecução penal.
Há exceção, caso julgado e os casos de extinção de a) se for amigo íntimo ou inimigo de qualquer delas;
punibilidade. b) se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente,
• se o fato for atípico: fórmula descritiva, a conduta de um ou de outro, estiver respondendo a proces-
deve-se ajustar a um modelo legal. so por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso
• prova de fato que, em tese, constitua crime: impossibi- haja controvérsia;
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

lidade de oferecer denúncia ante a ausência da prova c) se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou
do crime fornecida pelo, por exemplo, por meio de afim até o segundo grau inclusive, sustentar de-
laudo técnico. manda ou responder a processo que tenha de ser
julgado por qualquer das partes;
d) se ele, seu cônjuge, ou parente, a que alude a alí-
EXERCÍCIO COMENTADO nea anterior, sustentar demanda contra qualquer
das partes ou tiver sido procurador de qualquer
delas;
1. (CESPE - 2004) Acerca da polícia judiciária militar, do e) se tiver dado parte oficial do crime;
inquérito policial militar, da ação penal militar, do juiz e f) se tiver aconselhado qualquer das partes;
seus auxiliares, julgue o item a seguir. g) se ele ou seu cônjuge for herdeiro presuntivo, do
Nos crimes militares, a ação penal é, em regra, pública, con- natário ou usufrutuário de bens ou empregador de
dicionada ou incondicionada e promovida pelo Ministério qualquer das partes;
Público Militar; excepcionalmente, é privada, promovida h) se for presidente, diretor ou administrador de so-
pelo ofendido, quando a lei assim dispuser. ciedade interessada no processo;
i) se for credor ou devedor, tutor ou curador, de
( ) CERTO ( ) ERRADO qualquer das partes.

295
O CPPM ainda traz outras três hipóteses de suspei- c) não apresentar o laudo, ou concorrer para que a
ção. A suspeição entre adotante e adotado será conside- perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.
rada nos mesmos termos da resultante entre ascendente
e descendente, mas não se estenderá aos respectivos No caso de não comparecimento do perito, sem jus-
parentes e cessará no caso de se dissolver o vínculo da ta causa, o juiz poderá determinar sua apresentação, ofi-
adoção. ciando, para esse fim, à autoridade militar ou civil com-
A suspeição ou impedimento decorrente de paren- petente, quando se tratar de oficial ou de funcionário
tesco por afinidade cessará pela dissolução do casamen- público.
to que lhe deu causa, salvo sobrevindo descendentes. Não poderão ser peritos ou intérpretes:
Mas, ainda que dissolvido o casamento, sem descen-
dentes, não funcionará como juiz o parente afim em pri- a) os que estiverem sujeitos a interdição que os inabi-
meiro grau na linha ascendente ou descendente ou em lite para o exercício de função pública;
segundo grau na linha colateral, de quem for parte do b) os que tiverem prestado depoimento no proces-
processo. so ou opinado anteriormente sobre o objeto da
E, por fim, a suspeição não poderá ser declarada nem perícia;
reconhecida, quando a parte injuriar o juiz, ou de propó- c) os que não tiverem habilitação ou idoneidade para
sito der motivo para criá-la. o seu desempenho;
Os funcionários e serventuários da Justiça Militar d) os menores de vinte e um anos.
são, nos processos em que funcionam, auxiliares do juiz,
a cujas determinações devem obedecer. É extensivo aos peritos e intérpretes, no que lhes for
O escrivão providenciará para que estejam em or- aplicável, o disposto sobre suspeição de juízes.
dem e em dia as peças e termos dos processos.
O oficial de justiça realizará as diligências que lhe
atribuir a lei de organização judiciária militar e as que
lhe forem ordenadas por despacho do juiz, certificando EXERCÍCIOS COMENTADO
o ocorrido, no respectivo instrumento, com designação
de lugar, dia e hora. As diligências serão feitas durante 1. (CESPE - 2004) Acerca do Ministério Público, da De-
o dia, em período que medeie entre as seis e as dezoito fensoria Pública e dos serviços auxiliares da justiça militar
horas e, sempre que possível, na presença de duas teste- da União, julgue o item que se segue.
munhas. Os mandados serão entregues em cartório, logo As carreiras de auxiliar judiciário, técnico judiciário e ana-
depois de cumpridos, salvo motivo de força maior. lista judiciário compõem os quadros de pessoal do Po-
Nos impedimentos do funcionário ou serventuário der Judiciário da União e do Distrito Federal e territórios,
de justiça, o juiz convocará o substituto; e, na falta deste, sendo a escolaridade o requisito para o ingresso em cada
nomeará um ad hoc, que prestará compromisso de bem uma delas, o que se dá mediante concurso público de
desempenhar a função, tendo em atenção as ordens do provas ou de provas e títulos e cujo desenvolvimento se
juiz e as determinações de ordem legal. faz por meio de progressão e promoção funcional.
O funcionário ou serventuário de justiça fica sujeito,
no que for aplicável, às mesmas normas referentes a im- ( ) CERTO ( ) ERRADO
pedimento ou suspeição do juiz.
Há também a figura dos peritos e intérpretes que Resposta: Certa.
serão de nomeação do juiz, sem intervenção das partes. O Ministério Público e a Defensoria Pública não inte-
Os peritos ou intérpretes serão nomeados de prefe- gram o Poder Judiciário. São autônomos e possuem
rência dentre oficiais da ativa, atendida a especialidade. regulamentação própria. Os servidores que integram
O perito ou intérprete prestará compromisso de de- o Poder Judiciário possuem suas competências fixadas
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

sempenhar a função com obediência à disciplina judiciá- por ato do tribunal a que pertencem. As carreiras dos
ria e de responder fielmente aos quesitos propostos pelo
servidores compõem os quadros de pessoal do Poder
juiz e pelas partes.
Judiciário.
O encargo de perito ou intérprete não pode ser recu-
sado, salvo motivo relevante que o nomeado justificará,
2. (CESPE - 2004) Acerca da polícia judiciária militar, do
para apreciação do juiz.
inquérito policial militar, da ação penal militar, do juiz e
No caso de recusa irrelevante, o juiz poderá aplicar
seus auxiliares, julgue o item a seguir.
multa correspondente até três dias de vencimentos, se
No processo penal militar, o termo juiz denomina so-
o nomeado os tiver fixos por exercício de função; ou, se
mente o juiz togado e não, os militares, os quais são cha-
isto não acontecer, arbitrá-lo em quantia que irá de um
mados membros do conselho de justiça, como os jura-
décimo à metade do maior salário mínimo do país. In-
correrá na mesma pena o perito ou o intérprete que, sem dos nos processos do tribunal do júri.
justa causa:
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) deixar de acudir ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o
exame;

296
Resposta: Errada. E como se procede em caso de denúncia inepta?
No processo penal militar quando utiliza o termo “au- A denúncia inepta é quando não se reveste das for-
ditor” está se referindo apenas ao juiz togado. Quando malidades legais contidas no artigo 77 do Código de
o termo “juiz” é utilizado, é mais abrangente, refere-se Processo Penal Militar e, consequentemente, acarreta a
aos juízes que compõem o conselho de justiça, ou seja, rejeição da denúncia, nos moldes do artigo 78 do CPPM.
juiz togado e juiz militar. As partes não são auxiliares E se a denúncia for rejeitada?
do juiz. As partes serão o órgão acusador e o acusado. Se o juiz rejeitar a denúncia, pode o Ministério Pú-
blico recorrer. E se faltar requisitos da denúncia, o juiz
restitui os autos ao Ministério Público que terá três dias
DENÚNCIA para suprir os requisitos.
O Ministério Público não pode desistir da ação ou
do recurso.
Art. 30, CPPM, trata do Princípio da Obrigatorieda-
de da Denúncia. O oferecimento da denúncia demonstra Art. 32. Apresentada a denúncia, o Ministério Público
que, no entendimento do Ministério Público, há prova de não poderá desistir da ação penal.
que o fato, em tese, é crime, e que há indícios de autoria.
A ação penal militar também necessita de condições
de ação, assim:
EXERCÍCIO COMENTADO
• possibilidade jurídica do pedido: a conduta descri-
ta deve se ajustar a um tipo penal. 1. (CESPE - 2004) Julgue o item a seguir, relativo a par-
• interesse de agir ou justa causa: o pedido deve ser tes do processo, denúncia e competência da justiça mili-
idôneo, digno de ser julgado, pode faltar a descri- tar federal, medidas assecuratórias e preventivas, citação,
ção dos elementos de convicção e dos indícios de notificação e intimação no processo penal militar.
autoria. A denúncia no processo penal militar difere da denúncia
• legitimidade para agir: parte legítima, titular do no processo penal comum, primordialmente, por exigir
interesse. que o Ministério Público explicite as razões de convicção
ou presunção de delinquência.
A Denúncia é a peça inicial da ação penal militar pú-
blica, dá impulso ao procedimento criminal. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Os requisitos estão descritos no art. 77 do CPPM:
Resposta: Certo.
• a designação do juiz a que se dirigir. A diferença entre a denúncia no processo penal co-
• o nome, idade, profissão e residência do acu- mum e processo penal militar está no texto da lei,
sado, ou esclarecimentos pelos quais possa ser pois a exigência sobre as razoes de convicção ou pre-
qualificado. sunção de delinquência está contida no art. 77 do
• o tempo e o lugar do crime. CPPM.
• a qualificação do ofendido e a designação da pes-
soa jurídica ou instituição prejudicada ou atingida, COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR
sempre que possível. ESTADUAL
• a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO
• as razões de convicção ou presunção da NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
delinquência. A competência da justiça militar está definida na
• a classificação do crime. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e
• o rol das testemunhas, em número não superior a em seu artigo 122, estabelece que são órgãos da justiça
seis, com a indicação da sua profissão e residência; castrense o Superior Tribunal Militar (STM) e os Tribunais
e o das informantes com a mesma indicação. e Juízes Militares instituídos por lei.
Cabe consignar que o Superior Tribunal Militar é
É necessário destacar que o rol de testemunhas po- composto de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo
derá ser dispensado, se o Ministério Público dispuser de Presidente da República, depois de aprovada a indicação
prova documental suficiente para oferecer a denúncia, pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais
conforme parágrafo único do artigo em comento. da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército,
A denúncia será oferecida no prazo de 5 dias se o três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da
acusado estiver preso e em 15 dias se o acusado estiver ativa e do posto mais elevado da carreira, ou seja, respec-
solto. Após o oferecimento da denúncia o juiz – auditor tivamente, Almirante-de-Esquadra, General de Exército e
(Justiça Militar da União) ou o juiz de direito da justiça Tenente-Brigadeiro, e, ainda, cinco dentre civis. Os Minis-
militar (Justiça Militar Estadual) deve se manifestar em 15 tros civis serão escolhidos pelo Presidente da República
dias. Se o acusado estiver solto, o juiz pode prorrogar o dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo,
prazo da denúncia por despacho. três dentre advogados de notório saber jurídico e condu-

297
ta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade pro- Neste caso, consideram-se crimes militares em tempo
fissional, e dois, por escolha paritária, dentre juízes audi- de paz, as hipóteses descritas no art. 9º, do CPM. A pri-
tores e membros do Ministério Público da Justiça Militar. meira hipótese, nos termos do inciso I, do artigo do 9º,
Trata-se, portanto, da Justiça Militar da União, na qual do CPM, aponta os fatos típicos tratados no Código Penal
compete processar e julgar os crimes militares definidos Militar quando definidos de modo diverso na legislação
em lei. Inclui-se, também, a Lei nº 8.457, de 4 de setem- penal comum, por exemplo, o crime de ato obsceno, que
bro de 1992, que organiza e regulamenta a justiça militar é definido de modo diverso, art. 238, do CPM: “Praticar
no âmbito das Forças Armadas. ato obsceno em lugar sujeito à administração militar.” E,
Quando se trata da Justiça Militar no âmbito esta- art. 233, do CP: “Praticar ato obsceno em lugar público,
dual, que abrange os policiais militares e os bombeiros ou lugar aberto, ou exposto ao público.”
militares, a Constituição Federal determina que compete O mesmo acontece com o crime de desobediência,
aos Estados a organizarão de sua Justiça, observados os que possui definição distinta, art. 301, do CPM: “Desobe-
princípios constitucionais. decer a ordem legal de autoridade militar.” E no art. 330,
Compete, portanto, à Justiça Militar estadual proces- do CP: “Desobedecer a ordem legal de funcionário públi-
sar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares co.” Neste caso, ainda tem que complementar a norma
definidos em lei. Com a Emenda Constitucional nº 45, de incriminadora, que na definição do Código Penal Militar,
2004, acrescentou como competência da justiça castren- é considerada militar, para efeito da aplicação do CPM,
se estadual as ações judiciais contra atos disciplinares qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra,
militares, ressalvadas a competência do júri quando a seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em
vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar (art. 22,
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da do CPM). E quanto a funcionário público, para os efeitos
graduação das praças. penais, quem, embora transitoriamente ou sem remune-
A competência da justiça castrense está diretamente ração, exerce cargo, emprego ou função pública (art. 327,
ligada a definição legal de crime militar, que por sua vez, do CP). E ainda, quando o crime está definido apenas no
CPM e não se encontra definição correspondente em lei
encontra descrito no Código Penal Militar, Decreto-Lei nº
penal comum. Por exemplo, o crime constante no art. 202,
1.001, de 21 de outubro de 1969. É necessário observar
do CPM: “Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou
que em tempo de paz as circunstâncias de competência
apresentar-se embriagado para prestá-lo.”, art. 203, do
estão descritas no artigo 9º e, em tempo de guerra, no
COM: “Dormir o militar, quando em serviço, como oficial
art. 10 do CPM.
de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou,
Para que a conduta seja tipificada como crime militar
não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão
é imprescindível a análise do fato em razão da matéria
às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço
(ratione materiae), o bem jurídico que é protegido pela
de natureza semelhante.”, bem como o art. 183, do CPM:
lei penal militar, se é lesado ou posto em perigo de ser “Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação,
lesado pela ação delituosa. Em razão do local (ratione dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentan-
loci), pois não importa a condição do agente e do sujeito do-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação.”
passivo, o fato é considerado delito militar e for prati- Superada a supracitada circunstância de competência,
cado em local sujeito à administração militar. Em razão o inciso II do artigo 9º, do CPM traz a segunda hipótese.
da pessoa (ratione personae), pressupõe militar o delito São considerados crimes militares os que estão tipifica-
praticado por militar, sem outras condições. Em razão do dos no CPM, embora também o sejam com igual defini-
tempo (ratione temporis), se for praticado em tempo de ção na lei penal comum. Fato que ocorre, por exemplo
guerra. E, por fim, em razão da função (propter officium), com o crime de furto, subtrair para si ou para outrem,
o fato criminoso é considerado ilícito militar se o agente, coisa alheia móvel.
ainda que fora do horário de serviço, praticá-lo em razão Nesta hipótese, o próprio código aponta as circuns-
da função. tâncias para solucionar o conflito. Considera, portanto,
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

É oportuno compreender a definição de civil e de mi- que será crime de competência da justiça castrense o
litar. Civil é o cidadão e representa todas aquelas pessoas fato de militar em situação de atividade praticar crime
que não fazem parte das forças armadas do seu país, ou contra outro militar da mesma situação.
seja, que não são militares, definição dada pelo Direito Uma observação importante, esse dispositivo legal
Internacional Humanitário. E militar é relativo à guerra, descreve a figura de militar em situação de atividade ou
às Forças Armadas, à sua organização e às suas ativida- assemelhado. O termo assemelhado é uma alusão ao ci-
des, são os membros das Forças Armadas, que em razão vil que exerce atividade nas Forças Armadas, porém essa
de sua destinação constitucional, formam uma categoria figura não existe no universo jurídico desde a edição do
especial de servidores da Pátria, como descrito no art. Decreto nº 23.203/1947.
3º da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, Estatuto Outra solução de conflito nos casos de crimes com
dos Militares. Diante de possível conflito de competência mesma definição no CPM e em leis penais comuns versa
entre a justiça criminal e a justiça militar para julgar um sobre o fato ter sido praticado por militar em situação de
fato que, em tese, configura fato típico, deve-se buscar atividade em lugar sujeito à administração militar, e que
no artigo 9º do Código Penal Militar a circunstância de a vítima seja militar da reserva, ou reformado ou civil.
especialidade da justiça castrense. Por exclusão, caso o Ainda na mesma hipótese, o CPM aponta outra solu-
fato não de amolda as hipóteses do citado artigo, a com- ção. Que o fato seja praticado por militar em situação de
petência para julgar será da justiça criminal. atividade que esteja em serviço ou atuando em razão da

298
função, em comissão de natureza militar, ou em formatu- I – do cumprimento de atribuições que lhes forem es-
ra, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar tabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Mi-
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil. nistro de Estado da Defesa;
O mesmo conflito pode ser resolvido como de com- II – de ação que envolva a segurança de instituição
petência da justiça militar no caso de o militar praticar o militar ou de missão militar, mesmo que não belige-
fato delituoso durante o período de manobras ou exercí- rante; ou
cio, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil. III – de atividade de natureza militar, de operação de
Para concluir a hipótese em estudo, também será de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição
competência da justiça castrense se o delito for praticado subsidiária, realizadas em conformidade com o dis-
por militar em situação de atividade contra o patrimônio posto no art. 142 da Constituição Federal e na forma
sob a administração militar, ou a ordem administrativa dos seguintes diplomas legais:
militar. a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código
O Código Penal Militar aponta ainda a terceira hipó- Brasileiro de Aeronáutica;
tese de competência da Justiça Militar. São os casos de b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999 –
delitos praticados por militar da reserva, ou reformado, Lei de Preparo e Emprego das Forças Armadas;
ou por civil, contra as instituições militares, consideran- c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 -
do-se como tais não só os delitos tipificados no CPM e Código de Processo Penal Militar; e
na legislação penal comum com definições distintas, mas d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código
os tipos descritos do mesmo modo no CPM e nas legis- Eleitoral.
lações penais comum. Sendo assim, será de competên-
cia da justiça militar os delitos praticados por militar da A competência originária da Justiça Militar da União
reserva, ou reformada, ou civil contra o patrimônio sob está contida nos artigos 122 a 124 da Constituição Fede-
a administração militar, ou contra a ordem administra- ral e a organização está regulamentada na Lei nº 8.457,
tiva militar. Assim também será se o fato for praticado de 4 de setembro de 1992.
em lugar sujeito à administração militar contra militar em Compete à justiça militar processar e julgar os crimes
situação de atividade, ou contra funcionário civil do co- propriamente militares e os impropriamente militares.
mando militar ou da Justiça Militar, no exercício de fun- São julgados pela Justiça Militar da União os militares das
ção inerente ao seu cargo. Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e civis.
Inclui nesta hipótese do CPM o delito praticado Crime militar é “ratione legis”, pois cabe a lei eleger as
contra militar em formatura, ou durante o período e circunstâncias e os tipos penais que configuram o crime
prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, militar. A lei não distingue quais crimes são propriamen-
acampamento, acantonamento ou manobras. E, por der- te ou impropriamente militares, cabendo à doutrina essa
radeiro, ainda que fora do lugar sujeito à administração tarefa de separá-los, pois assim se exige.
militar, contra militar em função de natureza militar, ou
no desempenho de serviço de vigilância, garantia e pre- Observamos o disposto no artigo 5º, LXI da CF:
servação de ordem pública, administrativa ou jurídica,
quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em (…) ninguém será preso senão em flagrante delito ou
obediência à determinação legal superior. por ordem escrita e fundamentada de autoridade ju-
Em todas as três hipóteses apresentadas, deve-se diciária competente, salvo nos casos de transgressão
compreender que os militares em situação de atividade militar ou crime propriamente militar, definidos em
são os que, em tempo de paz ou de guerra, estão incor- lei.
porados na Marinha, no Exército ou na Aeronáutica, e
também os membros de Polícias Militares e Corpos de E, ainda, nos casos de reincidência, em que não há
Bombeiros Militares que são forças auxiliares e reservas reincidência entre crime comum e crime propriamente
das Forças Armadas. Inclui ainda para efeitos penais os militar, conforme descrito no Código Penal:
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

militares da reserva ou reformado empregado na ad-


ministração militar, conforme disposto no artigo 12 do Art. 64, do CP – Para efeito de reincidência:
CPM. O militar da reserva ou reformado é o inativo, que (...)
quando não estiver empregado na administração militar, II – não se consideram os crimes militares próprios e
para efeitos penais, é equiparado a civil. políticos.
Deve-se ter atenção quanto à Lei nº 13.491, de 2017,
que alterou o Código Penal Militar no sentido de que: Então, crimes propriamente militares são aqueles que
possuem tipificação exclusiva no Código Penal Militar
§ 1o Os crimes de que trata este artigo (artigo 9º), sem qualquer referência em legislação penal comum. Por
quando dolosos contra a vida e cometidos por mili- exemplo, crime de deserção, crime propriamente militar,
tares contra civil, serão da competência do Tribunal o autor não será considerado reincidente em futura prá-
do Júri. tica de delito comum.
§ 2o Os crimes de que trata este artigo (artigo 9º), Afasta-se, contudo, a teoria que afirmava que crimes
quando dolosos contra a vida e cometidos por mili- propriamente militares são aqueles que a conduta é pra-
tares das Forças Armadas contra civil, serão da com- ticada apenas por militar, visto que o crime de insubmis-
petência da Justiça Militar da União, se praticados no são é um delito em que apenas o civil pode praticá-lo,
contexto: artigo 183, do CPM:

299
Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se,
ausentar-se antes do ato oficial de incorporação.
É importante compreender o que é crime propriamente e impropriamente militar pelo fato de a Justiça Militar da
União processar e julgar os crimes definidos em lei. Tem competência para processar e julgar qualquer pessoa, seja civil
ou militar, pela prática de conduta tipificada como crime de natureza militar.
Acrescenta-se também que existem crimes no Código Penal Militar que podem ser cometidos por civis, como os
crimes contra a vida e os crimes contra o patrimônio, e também crimes contra o serviço militar e o dever militar, o delito
supracitado de insubmissão. Havendo ainda a possibilidade de cometimento de crime em coautoria.
Conforme o art. 1º, da Lei nº 8.457/1992, a Justiça Militar da União é composta pelo Superior Tribunal Militar (STM),
Auditoria de Correição, Conselhos de Justiça, Juízes Auditores e Juízes Auditores Substitutos.
O Superior Tribunal Militar é órgão colegiado. De acordo com o art. 3º, da Lei 8.457/1992, o STM, com sede na
Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional, compõe-se de quinze ministros vitalícios, nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo: três dentre oficiais-generais da
Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do
posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Compete ao Superior Tribunal Militar:

I. processar e julgar originariamente:


a) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei;
b) os pedidos de habeas corpus e habeas data, nos casos permitidos em lei;
c) o mandado de segurança contra seus atos, os do Presidente do Tribunal e de outras autoridades da Justiça Militar;
d) a revisão dos processos findos na Justiça Militar;
e) a reclamação para preservar a integridade da competência ou assegurar a autoridade de seu julgado;
f) os procedimentos administrativos para decretação da perda do cargo e da disponibilidade de seus membros e
demais magistrados da Justiça Militar, bem como para remoção, por motivo de interesse público, destes últimos,
observado o Estatuto da Magistratura;

II. julgar:
a) os embargos apostos às suas decisões;
b) os pedidos de correição parcial;
c) as apelações e os recursos de decisões dos juízes de primeiro grau; e
d) os incidentes processuais previstos em lei.

A Auditoria de Correição tem a incumbência de realizar as auditorias internas nos outros órgãos da Justiça Militar,
primando pelo correto andamento dos serviços, exerce funções administrativas.
Os Conselhos de Justiça, órgãos colegiados, porém de primeiro grau, formado por Juiz Auditor e por militares das
Forças Armadas.
E os Juízes Auditores e os Juízes Auditores Substitutos são os julgadores propriamente ditos, constituídos por juízes
togados, denominados juízes naturais dentro da doutrina do direito.
A Justiça Militar da União tem jurisdição em todo território nacional, mas por uma questão administrativa, a instituição,
em tempo de paz, divide o território nacional em doze regiões chamadas Circunscrições Judiciárias Militares. Essas divisões
administrativas do território nacional estão previstas no art. 2º da Lei 8.457/1990. Entende-se por circunscrição, o território,
uma região, uma área que delimita onde o órgão da justiça atua. Cada Circunscrição Judiciária Militar (CJM) corresponde a
uma auditoria e há algumas circunscrições que possuem mais de uma Auditoria, como é o caso da 1ª, 2ª e 3ª CJM.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

300
Fig. 1- Distribuição das Auditorias no território brasileiro. (Fonte: Cartilha do STM, 2013)

A atuação na primeira instância da Justiça Militar da União traz a figura do Conselho de Justiça. São duas espécies,
o Conselho Especial de Justiça e o Conselho Permanente de Justiça.
O Conselho Especial de Justiça é constituído pelo Juiz Auditor e por quatro Juízes Militares, sob a presidência, dentre
estes, de um oficial-general ou oficial superior, de posto mais elevado que o dos demais juízes militares, ou de maior
precedência hierárquica no caso de igualdade.
Compete processar e julgar oficiais, exceto oficiais-generais por serem julgados originariamente no STM, nos delitos
previstos na legislação penal militar, sendo, portanto, constituído para um determinado processo.
O Conselho Permanente de Justiça é constituído pelo Juiz Auditor, por um oficial superior, que será o presidente do
conselho, e três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão.
Compete processar e julgar os acusados, sejam civis ou militares, que não sejam oficiais, nos delitos previstos na
legislação penal militar. O Conselho é constituído para atuar nos processos por um período de três meses.
É necessário esclarecer que oficial general para a Marinha são os postos de Almirante de Esquadra, Vice-Almirante
e Contra-Almirante. Para o Exército, os postos de General de Exército, General de Divisão e General de Brigada. E para a
Aeronáutica, os postos de Tenente-Brigadeiro, Major-Brigadeiro e Brigadeiro. Para a Marinha, os oficiais superiores são
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

os postos de Capitão de Mar e Guerra, Capitão de Fragata e Capitão de Corveta. Para o Exército e para a Aeronáutica,
oficiais superiores são os postos de Coronel, Tenente-Coronel e Major. Os oficiais subalternos e inferiores da Marinha
são os postos de Capitão-Tenente, Primeiro-Tenente e Segundo-Tenente. Para o Exército e para a Aeronáutica, os pos-
tos de Capitão, Primeiro-Tenente e Segundo-Tenente.
Além das competências de cada conselho já citadas, há competências processuais comuns descritas no art. 28 da
Lei de Organização Judiciária Militar, ou seja:

I - decretar a prisão preventiva de acusado, revogá-la ou restabelecê-la;


II - conceder menagem e liberdade provisória, bem como revogá-las;
III - decretar medidas preventivas e assecuratórias, nos processos pendentes de seu julgamento;
IV - declarar a inimputabilidade de acusado nos termos da lei penal militar, quando constatada aquela condição no
curso do processo, mediante exame pericial;
V - decidir as questões de direito ou de fato suscitadas durante instrução criminal ou julgamento;
VI - ouvir o representante do Ministério Público sobre as questões suscitadas durante as sessões;
VII - conceder a suspensão condicional da pena, nos termos da lei;
VIII - praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.

301
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar


EXERCÍCIOS COMENTADOS
os militares dos Estados, nos crimes militares definidos
em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares mili- 1. (CESPE - 2004) José, sargento da Força Aérea Bra-
tares, ressalvada a competência do júri quando a vítima sileira, abandonou seu posto de serviço e, armado com
for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a duas pistolas privativas das Forças Armadas, rumou em
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação direção ao Gama – DF, onde tencionava matar a delega-
das praças, nos termos do § 4º do artigo 125 da Consti- da de polícia de plantão na 14.ª Delegacia Policial (DP).
tuição Federal. Ao chegar à DP, por estar embriagado, entrou na contra-
À Justiça Militar estadual competente para julgar os mão de direção, colidindo seu veículo com um veículo de
crimes militares conforme definido no Código Penal Mili- transporte de passageiros (táxi), sem causar lesões em si
tar, quando o autor for policial militar o bombeiro militar. mesmo ou no motorista do táxi. Ao ver o sargento arma-
O segundo grau de jurisdição estadual será de com- do, o motorista do táxi correu para a delegacia, pedindo
petência do Tribunal de Justiça Militar do Estado que é socorro. Vieram em seu socorro dois policiais civis. Um
criado facultativamente quando o estadual possuir mais postou-se à frente do veículo de José, e o outro solici-
de 20.000 militares na corporação. Não existindo tribunal tou-lhe apresentação de documentos. Ao aproximar-se
castrense, a competência recai para o Tribunal de Justiça do veículo, um dos policiais recebeu dois disparos de
pistola, vindo a falecer em razão dos ferimentos. José foi
do Estado.
preso em flagrante.
Atualmente, existem no Brasil três Tribunais de Justiça
Com referência a essa situação hipotética e considerando
Militar, em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
a disciplina legal e constitucional dos órgãos da justiça
Na Justiça Militar Estadual há a figura do Juiz de Direi-
militar da União, julgue o item a seguir.
to da Justiça Militar e dos Conselhos de Justiça, que jul-
O crime de abandono de posto praticado por José deve
gam os integrantes da Polícia Militar e Corpo de Bombei-
ser julgado pelo Conselho Permanente de Justiça da Au-
ro Militar, exceto os crimes dolosos contra a vida de civil.
ditoria Militar da 11.ª CJM, por tratar-se de crime militar.
A Justiça Militar Estadual possui dotação própria e
tem competência tratada na Lei de Organização Judiciá-
( ) CERTO ( ) ERRADO
ria dos Estados.
Os oficiais das instituições militares estaduais são jul- Resposta: Certo.
gados pelo Conselho Especial de Justiça, composto pelo O objetivo da questão é definir quais condutas se-
Juiz de Direito da Justiça Militar e por quatro juízes mili- rão processadas e julgadas pela justiça militar e quais
tares oficiais. Sendo réu, praça da instituição militar esta- serão pela justiça comum. O crime de abandono de
dual, será de competência do Conselho Permanente de posto é crime militar e previsto apenas no CPM. E é
Justiça julgá-la. Este conselho é composto por um Juiz de necessário ter atenção aos parágrafos do art. 9º do
Direito da Justiça Militar e quatro juízes militares, oficiais CPM, com a alteração trazida pela Lei nº 13.491, de 13
da corporação. de outubro de 2017.
Enquanto na Justiça Militar da União a presidência re-
caia sobre o juiz miliar de maior precedência hierárquica, 2. (CESPE - 2004) Julgue o item subsequentes, relativos
na Justiça Militar Estadual a sessão de julgamento é pre- à organização da justiça militar da União.
sidido pelo Juiz de Direito da Justiça militar. Em tempos de paz, o território nacional é dividido em
Os Conselhos de Justiça são instalados somente nos doze circunscrições judiciárias. Cada CJM corresponde a
crimes em que, além de o acusado ser militar em situação uma auditoria, exceto a primeira, a segunda, a terceira
de atividade, a vítima também seja militar. Caso a víti- e a décima primeira. Nas auditorias militares, funcionam
ma seja civil, todos os atos processuais serão conduzidos os conselhos de justiça, que são órgãos julgadores. Ao
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

pelo Juiz de Direito da Justiça Militar. Conselho Especial de Justiça, formado pelo juiz-auditor e
Os Conselhos de Justiça também não funcionarão quatro juízes militares, cabe processar e julgar os oficiais,
nos casos de ações contra atos disciplinares militares, exceto os oficiais-generais, nos crimes militares. Ao Con-
pois também é de competência do Juiz de Direito da Jus- selho Permanente de Justiça, constituído pelo juiz-audi-
tiça Militar. tor e quatro oficiais, cabe processar os acusados que não
Para os militares estaduais, os oficiais superiores são sejam oficiais nos crimes militares.
os postos de Coronel, Tenente-Coronel e Major, os ofi-
ciais subalternos e inferiores, os postos de Capitão, Pri- ( ) CERTO ( ) ERRADO
meiro-Tenente e Segundo-Tenente.
No âmbito estadual, não há o Ministério Público Mi- Resposta: Certo.
litar, sendo a fiscalização do cumprimento da lei penal A competência territorial da Justiça Militar da União
militar, o resguardo das normas da hierarquia e disciplina está contida na Lei nº 8.457, de 4 de setembro de
de competência do Ministério Público estadual. 1992, e a composição do Superior Tribunal Militar está
no art. 123 da Constituição Federal.

302
3. (CESPE - 2011) Julgue o item seguinte, relativos aos Artigo 172, CPPM. Proceder-se-á à busca domiciliar,
órgãos de primeira instância da justiça militar. quando fundadas razões a autorizarem, para:
Os juízes militares integrantes de conselho especial de a) prender o criminoso;
justiça podem ser do mesmo posto, desde que tenham b) apreender coisas obtidas por meios criminosos ou
maior antiguidade que a do acusado. guardadas ilicitamente;
c) apreender instrumentos de falsificação ou contrafação;
( ) CERTO ( ) ERRADO d) apreender armas e munições e instrumentos utiliza-
dos na prática de crime ou destinados a fim delituoso;
Resposta: Certo. e) encobrir objetos necessários à prova da infração ou
CERTO A composição do conselho de justiça e a dis- à defesa do acusado;
tribuição territorial da Justiça Militar da União estão f) apreender correspondência destinada ao acusado
descritos na Lei nº 8.457, de 4 de setembro de 1992, ou em seu poder, quando haja fundada suspeita de
porém é simples resolver questão, lembrando da hie- que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
rarquia, visto que o militar que integra o conselho de elucidação do fato;
justiça deve ter precedência hierárquica sobre o acu- g) apreender pessoas vítimas de crimes;
sado, assim como para fazer parte do conselho, o mili- h) colher elementos de convicção.
tar deve ser estar na ativa e ser de carreira.
A busca pessoal, por sua vez, conforme o que dispõe
o artigo 180, do CPPM, consiste na procura feita nas ves-
MEDIDAS PREVENTIVAS E ASSECURATÓRIAS tes, pastas, malas e outros objetos que estejam com a
pessoa revistada e, quando necessário, no próprio corpo.
Justifica-se a revista em casos de razoável suspeita de
A lei processual penal militar se preocupa em con- que alguém oculte consigo instrumentos ou produtos de
servar as provas. Diversos artigos tratam do modo de crime e elementos de prova.
prevenir as provas para que não se percam e assegurar A regra é que toda a busca, seja domiciliar ou pes-
a manutenção destas para que se alcance a verdade dos soal, necessita de mandado judicial. Mas há determi-
fatos, ou melhor, que se aproxime da verdade real. nadas situações em que haveria prejuízo à diligência se
O Código de Processo Penal Militar, no artigo 170, dependesse da expedição de mandado pela autoridade
dispõe sobre as espécies de buscas que poderão ser do- competente. Há, portanto, situações em que a revista in-
miciliar ou pessoal. depende de mandado, tais como:
A busca domiciliar se constitui na procura de objetos
necessários para a elucidação dos fatos. a) quando feita no ato da captura de pessoa que
O próprio código castrense define o termo casa: deve ser presa;
b) quando determinada no curso da busca domiciliar;
a) qualquer compartimento habitado; c) quando houver fundada suspeita de que o revis-
b) aposento ocupado de habitação coletiva, desde tando traz consigo objetos ou papéis que consti-
que fechado ao público; tuam corpo de delito;
c) compartimento não aberto ao público, onde al- d) quando feita na presença da autoridade judiciária
guém exerce profissão ou atividade. ou do presidente do inquérito.
Por outro lado, o mesmo código afirma que não se
compreende como “casa”: É importante observar que a busca em mulher deve
a) hotel, hospedaria ou qualquer outra habitação co- ser feita por outra mulher, conforme dispõe o art. 183,
letiva, enquanto abertas ao público; «se não importar retardamento ou prejuízo da diligên-
b) taverna, boate, casa de jogo e outras do mesmo cia». De acordo com:
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

gênero;
c) habitação usada como local para a prática de infra- Art. 181, do CPPM - Proceder-se-á à revista, quan-
ção penal. do houver fundadas suspeita de que alguém oculte
consigo:
A busca domiciliar deve ser ordenada pelo juiz de ofí- a) instrumento ou produto do crime;
cio ou a requerimento do Ministério Público, ou ainda da b) elementos de prova.
vítima.
Deve ser sempre precedida de mandado judicial, ex- Se o executor da busca encontrar as pessoas ou coi-
ceto se o próprio juiz realizar a diligência, com detalhe sas anteriormente referidas deverá apreendê-las. Deverá
importante, realizar durante o dia, observando-se o dis- igualmente apreender armas ou objetos pertencentes às
posto no artigo 5º, XI da Constituição Federal: “A casa é Forças Armadas ou de uso exclusivo de militares quando
o asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo estejam em posse indevida, ou seja incerta a propriedade.
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso As coisas apreendidas não poderão ser restituídas
de flagrante delito ou desastre, ou prestar socorro ou, enquanto interessarem ao processo. Não se restituem,
durante o dia, por determinação judicial.” entretanto, a qualquer tempo:
De acordo com o:

303
a) os instrumentos do crime, desde que consistam Salienta-se, por necessário, que o delito pode ser um
em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou de- crime ou uma contravenção, sendo que aquele se divi-
tenção constitua fato ilícito; de em comum, para os casos previstos no Código Penal
b) coisas que, pertencendo às Forças Armadas ou Comum, ou militar, se previstos no Código Penal Militar.
sendo de uso exclusivo de militares, estejam em Considera-se em flagrante delito (art. 244, do CPPM):
poder ou em uso do agente, ou de pessoa não
autorizada; a) está cometendo crime (Flagrante Próprio ou real);
c) abandonadas, ocultas ou desaparecidas. b) acaba de cometê-lo (Flagrante Próprio ou real);
c) é perseguido logo após o fato delituoso em situ-
Nos dois primeiros casos é ressalvado o direito do ação que faça acreditar ser ele o autor (Flagrante
lesado ou terceiro de boa-fé. Impróprio ou quase flagrante); e
Prisão é a supressão da liberdade ambulatória (li- d) é encontrado, logo depois, com instrumento, ob-
berdade de locomoção, de ir e vir, de movimentação no jetos, material ou papéis que façam presumir a sua
espaço). Constitui exceção a regra constitucionalmente participação no fato delituoso (Flagrante Ficto ou
prevista que é a liberdade, uma vez que a Carta Magna presumido).
Brasileira consagra o status libertatis do indivíduo como
uma das maiores conquistas do Estado de Direito. O Auto de Prisão em Flagrante (APF) é o documento
em que são registrados todos os dados necessários ao
Assim dispõe o artigo 5º, LXI da Constituição Federal: esclarecimento dos fatos imputados ao flagranteado.
Sua lavratura deverá obedecer ao prescrito em lei, de
Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por modo que o desatendimento de determinadas formali-
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciá- dades tem o condão de invalidá-lo.
ria competente, salvo nos casos de transgressão mili- Possuem competência para lavrar o flagrante: Co-
tar ou crime militar definidos em lei. mandante (detentor do poder de Polícia Judiciária), Ofi-
cial de dia, de serviço ou de quarto, ou autoridade cor-
Existe no Direito Brasileiro várias espécies de prisão: respondente ou autoridade judiciária, salientando que
esta competência poderá ser delegada a outro militar
a) Prisão Penal: é aquela decorrente de sentença pe- mediante portaria.
nal condenatória transitada em julgado; No que tange à função de escrivão, a autoridade
b) Prisão Processual ou provisória: é aquela que ocor- competente designará um capitão, primeiro ou segundo
re durante o inquérito, o curso do processo, an- tenente, se o indiciado for oficial e, nos demais casos;
tecedendo o trânsito em julgado da condenação um suboficial ou sargento, sendo que na falta ou impedi-
penal. Existem cinco tipos: mento de pessoas nestas condições, deverá ser designa-
b.1) Prisão em Flagrante – efetuada quando a infra- da qualquer pessoa idônea.
ção penal está ocorrendo ou acaba de ocorrer; Cabe consignar que deverá ser observada a ordem
b.2) Prisão Preventiva – decretada pelo juiz para para as inquirições, sendo ouvido primeiro o condutor,
garantir a ordem jurídica e social, tendo cabimento depois as testemunhas do fato e, por fim, o flagranteado.
quando demonstrados o fumus boni juris (fumaça Nota-se, que todos que participarem do flagrante deve-
do bom direito), e periculum in mora (perigo pela rão assinar o respectivo auto. Se o preso não quiser ou
demora), bem como estiverem presentes as condi- não puder assinar, o presidente do APF, mencionando
ções de sua admissibilidade. esse fato, deve colher a assinatura de testemunhas ins-
b.3) Prisão Temporária – prevista na Lei nº trumentárias ou de apresentação, ou seja, aquelas cha-
7.960/1989 madas apenas para assistir um ato.
b.4) Prisão por pronúncia Após dar a voz de prisão, é necessário adotar as se-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

b.5) Prisão por condenação recorrível guintes medidas:


c) Prisão Civil: é aquela que decorre do inadimple-
mento da prestação de alimentos; e a) Informar ao preso sobre seus direitos constitucio-
d) Prisão Administrativa: é a determinada por motivo nais (permanecer calado, assistência da família, as-
de ordem administrativa e com finalidade adminis- sistência do advogado, identificação dos responsá-
trativa, independentemente de envolvimento em veis por sua prisão);
infração penal ou existência de inquérito policial b) Providenciar para que não se alterem o estado e a
ou processo judicial. situação das coisas, enquanto necessário;
c) Apreender os instrumentos e todos os objetos
Conforme já consignado, Prisão em Flagrante é um que tenham relação com o fato e que possam ser-
dos tipos de Prisão Processual. vir de provas para o esclarecimento dele e de suas
Para a doutrina jurídica, flagrante delito é uma qua- circunstâncias;
lidade do delito que está sendo cometido, praticado, é d) Informar ao Juiz-Auditor da prisão, mencionando o
o ilícito patente, irrecusável, insofismável, que permite a motivo e o local onde o acusado se encontra;
prisão do seu autor sem mandado por ser considerado a
certeza visual do crime.

304
e) Nomear curador ao réu menor de 21 (vinte e um) O termo de deserção tem o caráter de instrução pro-
anos – apesar de estar descrito na lei, não há ne- visória e destina-se a fornecer os elementos necessários
cessidade de nomear curador, haja vista que a à propositura da ação penal, sujeitando, desde logo, o
maioridade civil foi reduzida de 21 para 18 anos, desertor à prisão.
conforme jurisprudência; O desertor que não for julgado dentro de sessenta
f) Encaminhar o preso para realização do Exame de dias, a contar do dia de sua apresentação voluntária ou
Corpo de Delito; captura, será posto em liberdade, salvo se tiver dado
g) Realizar a busca e apreensão dos instrumentos do causa ao retardamento do processo.
crime e qualquer outra diligência necessária ao seu Há no Código de Processo Penal Militar duas espécies
esclarecimento; de processo de deserção. Uma para o caso de o desertor
h) Entregar ao preso dentro de 24 horas após a pri- ser oficial e outra se o desertor for praça.
são a nota de culpa assinada pela autoridade, com O processo de deserção para oficial tem início após
motivo da prisão, o nome do condutor e os das transcorrido o prazo para consumar-se o crime de deser-
testemunhas. ção, o comandante da unidade, ou autoridade correspon-
dente ou ainda a autoridade superior, fará lavrar o termo
de deserção circunstanciadamente, inclusive com a quali-
FIQUE ATENTO! ficação do desertor, assinando-o com duas testemunhas
O emprego de força só se justifica quando idôneas, publicando-se em boletim ou documento equi-
indispensável, no caso de desobediência, re- valente, o termo de deserção, acompanhado da parte de
sistência ou tentativa de fuga. ausência.
O prazo para consumar o crime de deserção pode ser
chamado de prazo de graça.
Quanto ao emprego de algemas, estas deverão ser O oficial desertor será agregado, permanecendo nes-
evitadas, lembrando que nunca poderão ser utilizadas sa situação ao apresentar-se ou ser capturado, até deci-
nos casos de presos sujeitos a prisão especial, isto é, são transitada em julgado.
Ministros de Estado, governadores ou interventores de Agregado é a situação em que o militar fica sujeito
Estado, Território ou Distrito Federal, seus respectivos às obrigações disciplinares concernentes às suas relações
secretários e chefes de Polícia, membros do Congresso com outros militares e autoridades civis.
Nacional, dos Conselhos da União e das Assembleias Feita a publicação, a autoridade militar remeterá, em
Legislativas dos Estados, cidadãos inscritos no Livro de seguida, o termo de deserção à auditoria competente,
Mérito das ordens militares ou civis reconhecidas em lei, juntamente com a parte de ausência (documento inter-
magistrados, oficiais das Forças Armadas, das Polícias e no da Organização Militar que comunica a ausência do
dos Corpos de Bombeiros, Militares, inclusive os da re- militar), o inventário do material permanente da Fazenda
serva, remunerada ou não, e os reformados, oficiais da Nacional e as cópias do boletim ou documento equiva-
Marinha Mercante Nacional, diplomados por faculdade lente e dos assentamentos do desertor.
ou instituto superior de ensino nacional, ministros do Tri- Recebido o termo de deserção e demais peças, o Jui-
bunal de Contas e ministros de confissão religiosa. z-Auditor mandará autuá-los e dar vista do processo por
Já o uso de armas só se justifica quando absoluta- cinco dias, ao Procurador, podendo este requerer o ar-
mente necessário para vencer a resistência ou proteger a quivamento, ou que for de direito, ou oferecer denúncia,
incolumidade do executor ou a de seu auxiliar. se nenhuma formalidade tiver sido omitida, ou após o
cumprimento das diligências requeridas.
PROCESSO DE DESERÇÃO DE OFICIAL E DE Recebida a denúncia, o Juiz-Auditor determinará seja
aguardada a captura ou apresentação voluntária do deser-
PRAÇAS
tor. Apresentando-se ou sendo capturado o desertor, a NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
autoridade militar fará a comunicação ao Juiz-Auditor,
Consumado o crime de deserção, nos casos previsto com a informação sobre a data e o lugar onde o mes-
na lei penal militar, o comandante da unidade, ou autori- mo se apresentou ou foi capturado, além de quaisquer
dade correspondente, ou ainda autoridade superior, fará outras circunstâncias concernentes ao fato. Em segui-
lavrar o respectivo termo, imediatamente, que poderá ser da, procederá o Juiz-Auditor ao sorteio e à convocação
impresso ou datilografado, sendo por ele assinado e por do Conselho Especial de Justiça, expedindo o mandado
duas testemunhas idôneas, além do militar incumbido da de citação do acusado, para ser processado e julgado.
lavratura. Nesse mandado, será transcrita a denúncia. Reunido o
A contagem dos dias de ausência, para efeito da la- Conselho Especial de Justiça, presentes o procurador, o
vratura do termo de deserção, iniciar-se-á a zero hora defensor e o acusado, o presidente ordenará a leitura
do dia seguinte àquele em que for verificada a falta da denúncia, seguindo-se o interrogatório do acusado,
injustificada do militar. ouvindo-se, na ocasião, as testemunhas arroladas pelo
No caso de deserção especial, prevista no art. 190 do Ministério Público. A defesa poderá oferecer prova docu-
Código Penal Militar (deixar o militar de apresentar-se mental e requerer a inquirição de testemunhas, até o nú-
no momento da partida do navio ou aeronave, de que é mero de três, que serão arroladas dentro do prazo de três
tripulante, ou do deslocamento da unidade ou força em dias e ouvidas dentro do prazo de cinco dias, prorrogável
que serve), a lavratura do termo será, também, imediata. até o dobro pelo conselho, ouvido o Ministério Público.

305
Findo o interrogatório, e se nada for requerido ou de- Reincluída que a praça especial ou a praça sem esta-
terminado, ou finda a inquirição das testemunhas arro- bilidade, ou procedida à reversão da praça estável, o co-
ladas pelas partes e realizadas as diligências ordenadas, mandante da unidade providenciará, com urgência, sob
o presidente do conselho dará a palavra às partes, para pena de responsabilidade, a remessa à auditoria de cópia
sustentação oral, pelo prazo máximo de trinta minutos, do ato de reinclusão ou do ato de reversão. O Juiz-Audi-
podendo haver réplica e tréplica por tempo não exce- tor determinará sua juntada aos autos e deles dará vista,
dente a quinze minutos, para cada uma delas, passando por cinco dias, ao procurador que requererá o arquiva-
o conselho ao julgamento, observando-se o rito proces- mento, ou o que for de direito, ou oferecerá denúncia,
sual específico. se nenhuma formalidade tiver sido omitida, ou após o
O processo de deserção de praça inicia com o pro- cumprimento das diligências requeridas.
cedimento de ausência. Vinte e quatro horas depois de Recebida a denúncia, determinará o Juiz-Auditor a
iniciada a contagem dos dias de ausência de uma praça, citação do acusado, realizando-se em dia e hora previa-
o comandante da respectiva subunidade, ou autoridade mente designados, perante o Conselho Permanente de
competente, encaminhará parte de ausência ao coman- Justiça, o interrogatório do acusado, ouvindo-se, na oca-
dante ou chefe da respectiva organização, que mandará sião, as testemunhas arroladas pelo Ministério Público.
inventariar o material permanente da Fazenda Nacional, A defesa poderá oferecer prova documental e requerer
deixado ou extraviado pelo ausente, com a assistência de a inquirição de testemunhas, até o número de três, que
duas testemunhas idôneas. serão arroladas dentro do prazo de três dias e ouvidas
Quando a ausência se verificar em subunidade isola- dentro de cinco dias, prorrogáveis até o dobro pelo con-
da ou em destacamento, o respectivo comandante, ofi- selho, ouvido o Ministério Público.
cial ou não providenciará o inventário, assinando-o com Feita a leitura do processo, o presidente do conselho
duas testemunhas idôneas. dará a palavra às partes, para sustentação oral, pelo pra-
Decorrido o prazo para se configurar a deserção, o zo máximo de trinta minutos, podendo haver réplica e
comandante da subunidade, ou autoridade correspon- tréplica por tempo não excedente a quinze minutos, para
dente, encaminhará ao comandante, ou chefe compe- cada uma delas, passando o conselho ao julgamento, ob-
tente, uma parte acompanhada do inventário. servando-se o rito prescrito neste código.
Recebida a parte de que trata o parágrafo anterior, Em caso de condenação do acusado, o Juiz-Auditor
fará o comandante, ou autoridade correspondente, lavrar fará expedir, imediatamente, a devida comunicação à
o termo de deserção, onde se mencionarão todas as cir- autoridade competente, para os devidos fins e efeitos
cunstâncias do fato. Esse termo poderá ser lavrado por legais.
uma praça, especial ou graduada, e será assinado pelo Sendo absolvido o acusado, ou se este já tiver cum-
comandante e por duas testemunhas idôneas, de prefe- prido a pena imposta na sentença, o Juiz-Auditor provi-
rência oficiais. denciará, sem demora, para que seja posto em liberdade,
Consumada a deserção de praça especial ou praça mediante alvará de soltura, se por outro motivo não esti-
sem estabilidade, será ela imediatamente excluída do ver preso.
serviço ativo. Se praça estável, será agregada, fazendo- O curador ou advogado do acusado terá vista dos
-se, em ambos os casos, publicação, em boletim ou do- autos para examinar suas peças e apresentar, dentro do
cumento equivalente, do termo de deserção e remeten- prazo de três dias, as razões de defesa.
do-se, em seguida, os autos à auditoria competente. Voltando os autos ao presidente, designará este dia e
Recebidos do comandante da unidade, ou da auto- hora para o julgamento.
ridade competente, o termo de deserção e a cópia do Reunido o Conselho, será o acusado interrogado, em
boletim, ou documento equivalente que o publicou, presença do seu advogado, ou curador se for menor, as-
acompanhados dos demais atos lavrados e dos assenta- sinando com o advogado ou curador, após os juízes, o
mentos, o Juiz-Auditor mandará autuá-los e dar vista do auto de interrogatório, lavrado pelo escrivão.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

processo, por cinco dias, ao procurador, que requererá o Em seguida, feita a leitura do processo pelo escrivão,
que for de direito, aguardando-se a captura ou apresen- o presidente do Conselho dará a palavra ao advogado
tação voluntária do desertor, se nenhuma formalidade ti- ou curador do acusado, para que, dentro do prazo máxi-
ver sido omitida, ou após o cumprimento das diligências mo de trinta minutos, apresente defesa oral, passando o
requeridas. Conselho a funcionar, desde logo, em sessão secreta.
O desertor sem estabilidade que se apresentar ou Terminado o julgamento, se o acusado for condenado, o
for capturado deverá ser submetido à inspeção de saú- presidente do Conselho fará expedir imediatamente a devida
de e, quando julgado apto para o serviço militar, será comunicação à autoridade competente; e, se for absolvido
reincluído. ou já tiver cumprido o tempo de prisão que na sentença lhe
A ata de inspeção de saúde será remetida, com ur- houver sido imposto, providenciará, sem demora, para que
gência, à auditoria a que tiverem sido distribuídos os o acusado seja, mediante alvará de soltura, posto em liber-
autos, para que, em caso de incapacidade definitiva, dade, se por outro motivo não estiver preso. O relator, no
seja o desertor sem estabilidade isento da reinclusão e prazo de quarenta e oito horas, redigirá a sentença, que será
do processo, sendo os autos arquivados, após o pronun- assinada por todos os juízes.
ciamento do representante do Ministério Público Militar.

306
PROCESSO DE CRIME DE INSUBMISSÃO
EXERCÍCIO COMENTADO

Vamos relembrar o crime de insubmissão. 1. (CESPE - 2004) No que se refere a processos em es-
Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, pécie, nulidades e recursos, julgue o item subsequente.
dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando- O processo de rito ordinário aplica-se a todos os crimes
-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação. militares, inclusive aos de deserção, insubmissão, correi-
O convocado é o civil que será incorporado para a ção, restauração de autos e aos de competência originária
prestação do serviço militar. do STM.
Consumado o crime de insubmissão, o comandante, ( ) CERTO ( ) ERRADO
ou autoridade correspondente, da unidade para que fora
designado o insubmisso, fará lavrar o termo de insub- Resposta: Errado.
missão, circunstanciadamente, com indicação, de nome, O rito ordinário no processo penal militar, aplica-se a
filiação, naturalidade e classe a que pertencer o insub- todos os crimes militares, exceto nos casos em que há
misso e a data em que este deveria apresentar-se, sendo rito especial, como nos crimes de deserção e insub-
o termo assinado pelo referido comandante, ou autori- missão, além dos procedimentos de correição e res-
dade correspondente, e por duas testemunhas idôneas, tauração dos autos.
podendo ser impresso ou datilografado.
O termo, juntamente com os demais documentos re-
lativos à insubmissão, tem o caráter de instrução provisó- HORA DE PRATICAR
ria, destina-se a fornecer os elementos necessários à pro-
positura da ação penal e é o instrumento legal autorizador 1. (IADES – 2018) O Código de Processo Penal Militar
da captura do insubmisso, para efeito da incorporação. (CPPM) preconiza que se aplicam as suas normas
O comandante ou autoridade competente que tiver
lavrado o termo de insubmissão remetê-lo-á à auditoria, a) a bordo de aeronaves e navios estrangeiros, desde
acompanhado de cópia autêntica do documento hábil que em lugar sujeito à administração militar, e que a
infração atente contra as instituições militares ou a se-
que comprove o conhecimento pelo insubmisso da data
e local de sua apresentação, e demais documentos.
gurança nacional.
Recebido o termo de insubmissão e os documen-
b) somente no território nacional, seja em tempo de paz
tos que o acompanham, o Juiz-Auditor determinará sua
ou em tempo de guerra.
atuação e dará vista do processo, por cinco dias, ao pro-
c) em qualquer hipótese, a bordo de navios e aerona-
curador, que requererá o que for de direito, aguardando-
ves nacionais de propriedade privada, desde que se
-se a captura ou apresentação voluntária do insubmisso,
encontrem em território nacional e sob comando de
se nenhuma formalidade tiver sido omitida ou após cum-
cidadão brasileiros natos e não militares.
primento das diligências requeridas.
d) fora do território nacional ou em lugar de extraterri-
O insubmisso que se apresentar ou for capturado
terá o direito ao quartel por menagem e será subme- torialidade brasileira, quando se tratar de crime que
tido à inspeção de saúde. Se incapaz, ficará isento do atente contra as instituições militares ou a segurança
processo e da inclusão. nacional, salvo nos casos em que o agente seja pro-
A ata de inspeção de saúde será, pelo comandante cessado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira.
da unidade, ou autoridade competente, remetida, com e) somente em tempo de guerra.
urgência, à auditoria a que tiverem sido distribuídos
os autos, para que, em caso de incapacidade para o 2. (IADES – 2018) No que concerne ao exercício da po-
lícia judiciária militar, é correto afirmar que o Código de
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

serviço militar, sejam arquivados, após pronunciar-se o


Ministério Público Militar. Processo Penal Militar expressamente
Incluído o insubmisso, o comandante da unidade, ou
autoridade correspondente, providenciará, com urgên- a) determina que, se o indiciado é oficial da reserva ou
cia, a remessa à auditoria de cópia do ato de inclusão. O reformado, a delegação do exercício da atribuição de
Juiz-Auditor determinará sua juntada aos autos e deles polícia judiciária militar deverá recair sobre oficial da
dará vista, por cinco dias, ao procurador, que poderá re- ativa de maior antiguidade no posto que o indiciado.
querer o arquivamento, ou o que for de direito, ou ofere- b) fixa que compete à polícia judiciária militar apurar
cer denúncia, se nenhuma formalidade tiver sido omitida tanto os crimes militares quanto quaisquer crimes co-
ou após o cumprimento das diligências requeridas. muns, ainda que da competência da Justiça Comum,
O insubmisso que não for julgado no prazo de sessen- desde que praticados por militares da ativa.
ta dias, a contar do dia de sua apresentação voluntária ou c) estipula que, não sendo possível delegar as atribui-
captura, sem que para isso tenha dado causa, será posto ções de polícia judiciária militar a oficial de posto su-
em liberdade. perior ao do indiciado na ativa, nem a designação de
Aplica-se ao processo de insubmissão, para sua oficial do mesmo posto e que seja mais antigo, a ati-
instrução e julgamento, o disposto para o processo de vidade de polícia judiciária militar deverá ser conferida
deserção. a delegado de carreira da polícia civil.

307
d) proíbe requisitar da polícia civil e das repartições téc- a) A classificação do crime poderá ser dispensada, se o
nicas civis as pesquisas e os exames necessários ao Ministério Público dispuser de prova documental sufi-
complemento e subsídio de inquérito policial militar. ciente para oferecer a denúncia.
e) prevê que as atribuições de polícia judiciária militar b) O juiz não receberá a denúncia se já estiver extinta a
poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins es- punibilidade.
pecificados e por tempo limitado. c) A denúncia conterá rol de testemunhas em número
não superior a três, com indicação do nome, da natu-
3. (IADES – 2018) Considerando as disposições do Códi- ralidade e do estado civil destas.
go de Processo Penal Militar (CPPM) acerca do inquérito d) No caso de ilegitimidade do acusador, a denúncia será
policial militar (IPM), assinale a alternativa correta. rejeitada, situação que obstará o posterior exercício da
ação penal, ainda que proposta por acusador legítimo.
a) Se, no curso do inquérito, o encarregado deste veri- e) A alegação de óbito do acusado por parte da de-
ficar a existência de indícios contra oficial de posto fesa é suficiente para a declaração de extinção da
superior ao seu, ou mais antigo, nada obsta que ele punibilidade.
conserve consigo a delegação e prossiga nas investi-
gações até o encerramento do IPM. 6. (IADES – 2018) Conforme o Código de Processo Penal
b) O IPM tem o caráter de instrução provisória, cuja fina- Militar, no que concerne à denúncia, assinale a alterna-
lidade precípua é a de ministrar elementos necessários tiva correta.
à propositura da ação penal, sendo, porém, efetiva-
mente instrutórios da ação penal exames, perícias e a) Após oferecida, cumpre ao auditor manifestar-se
avaliações realizados regularmente no curso do in- quanto a ela dentro do prazo de 24 horas.
quérito, por peritos idôneos e com obediência às b) Não necessita indicar o rol de testemunhas, porque
formalidades previstas no CPPM. elas são obrigatoriamente indicadas apenas no trans-
c) Se o IPM concluir a inexistência de crime ou de inim- correr da ação penal militar.
putabilidade do indiciado, a autoridade militar que c) Não será recebida pelo juiz se o fato narrado não
mandou instaurar o inquérito deve arquivá-lo, sob constituir evidentemente crime da competência da
pena de prevaricação. Justiça Militar.
d) Ainda que o auto de flagrante delito seja, por si só, d) Se o acusado estiver preso, deverá ser oferecida den-
suficiente para a elucidação do fato e da respectiva tro do prazo de cinco dias, podendo esse prazo ser
autoria, deve ser sempre instaurado o IPM, porque se prorrogado, mediante despacho do juízo, ao dobro ou
trata de peça indispensável para o oferecimento da ao triplo, em caso excepcional.
denúncia pelo Ministério Público Militar. e) Após oferecida, não pode o Ministério Público re-
e) Não é possível prorrogar o prazo para terminação do quisitar maiores esclarecimentos, documentos com-
IPM, tampouco se permite a devolução do IPM para a plementares ou novos elementos de convicção de
realização de diligências, devendo, para esse fim, ser qualquer autoridade militar ou civil em condições
instaurado outro inquérito. de fornecê-los, tampouco requerer ao juiz que os
requisite.
4. (IADES – 2018) Quanto à ação penal militar e o res-
pectivo exercício e ao processo, considerando as dispo- 7. (IADES – 2018) Segundo o Código de Processo Penal
sições do Código de Processo Penal Militar, assinale a Militar (CPPM), o processo se efetiva com a (o)
alternativa correta.
a) abertura do inquérito policial militar.
a) O processo inicia-se com o recebimento da denún- b) oferecimento da denúncia pelo Ministério Público.
cia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e c) auto de prisão em flagrante delito.
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

extingue-se no momento em que a sentença definitiva d) recebimento da denúncia pelo juiz.


se torna irrecorrível, quer resolva o mérito, quer não. e) citação do acusado.
b) Para oferecimento da denúncia, é necessário prova
cabal do fato que, em tese, constitua crime militar e 8. (IADES – 2018) A respeito da prisão em flagrante, com
prova irrefutável da autoria. base nas previsões apresentadas pelo Código de Proces-
c) O Ministério Público pode desistir da ação penal a so Penal Militar, assinale a alternativa correta.
qualquer tempo.
d) Uma vez iniciado, o processo penal militar não pode a) Somente os militares poderão prender quem for in-
ser suspenso. submisso ou desertor ou que seja encontrado em fla-
e) A ação penal militar é pública, mas pode ser promovida grante delito por crime militar.
por denúncia do Ministério Público Militar ou median- b) Quando a prisão em flagrante por crime militar for
te queixa-crime, assinada por advogado constituído. efetuada em lugar não sujeito à administração militar,
o auto poderá ser lavrado por autoridade civil ou pela
5. (IADES – 2018) Considerando as disposições do Có- autoridade militar do lugar mais próximo daquele em
digo de Processo Penal Militar (CPPM), a respeito da de- que ocorrer a prisão.
núncia, assinale a alternativa correta.

308
c) Não se considera caracterizado o flagrante delito a) A prisão preventiva pode fundar-se na exigência da
quando o preso é encontrado logo depois, com ins- manutenção das normas ou dos princípios de hierar-
trumentos, objetos, material ou papéis que façam pre- quia e disciplina militares, quando ficarem ameaçados
sumir a respectiva participação no fato delituoso. ou atingidos com a liberdade do indiciado ou acusado.
d) No prazo de 72 horas após a prisão, será dada ao pre- b) A prisão preventiva tem lugar, obrigatoriamente, ain-
so a nota de culpa assinada pela autoridade, com o da que se evidencie dos autos ou por profissão, con-
motivo da prisão, o nome do condutor e os nomes das dições de vida ou interesse do indiciado ou acusado, a
testemunhas. presunção de que ele não fuja, nem exerça influência
e) Somente subtenentes ou sargentos podem ser desig- em testemunha ou perito, nem impeça ou perturbe,
nados para a função de escrivão do auto de prisão em de qualquer modo, a ação da justiça.
flagrante. c) A prisão preventiva pode ser decretada ainda que as
provas demonstrem que o agente praticou o fato em
9. (IADES – 2018) Segundo o Código de Processo Penal estrito cumprimento do dever legal.
Militar, acerca da liberdade provisória e da prisão pre- d) A prorrogação da prisão preventiva independe de pré-
ventiva, assinale a alternativa correta. via audiência do Ministério Público.
e) A periculosidade de indiciado ou acusado não é fun-
a) A liberdade provisória poderá ser concedida para in- damento para decretação da prisão preventiva.
fração punida com a pena de detenção não superior
a dois anos, hipótese que abrange delitos como a de- 12. (IADES – 2018) Considerando as disposições do Có-
serção e o desacato a militar. digo de Processo Penal Militar (CPPM) acerca da prisão,
b) O indiciado poderá livrar-se solto sempre que estiver assinale a alternativa correta.
incurso em caso de infração culposa, como na hipóte-
se de o indiciado, culposamente, revelar notícia, infor- a) Não é permitido o emprego de armas para a execução
mação ou documento cujo sigilo seja de interesse da da prisão.
segurança externa do Brasil. b) A recaptura de indiciado ou de acusado evadido se
c) Caso a liberdade provisória seja concedida, ela não dará somente mediante mandado judicial expedido
poderá ser suspensa no curso do processo. pela autoridade competente.
d) O indiciado ou acusado livrar-se-á solto no caso de c) A autoridade de polícia judiciária militar dispõe de 72
infração a que não for cominada pena privativa de horas para levar ao conhecimento da autoridade judi-
liberdade. ciária competente a prisão ou detenção de qualquer
e) Para a decretação da prisão preventiva, basta estar pessoa.
presente um dos seguintes requisitos: a prova do fato d) O emprego de algemas deve ser evitado, desde que
delituoso ou indícios suficientes de autoria. não haja perigo de fuga ou de agressão da parte do
preso, e de modo algum será permitido na hipóte-
10. (IADES – 2018) Quanto à prisão, de acordo com as se em que o preso for oficial da Marinha Mercante
previsões expressas pelo Código de Processo Penal Mili- Nacional.
tar, assinale a alternativa correta. e) Não se lavra auto de prisão em flagrante se inexistirem
testemunhas do delito.
a) A prisão de militar deve ser feita por outro militar,
mesmo em razão da prática de crime comum, ainda 13. (IADES – 2018) Quanto à deserção e insubmissão,
que o militar preso seja de posto ou graduação supe- de acordo com as previsões expressas pelo Código de
rior à do militar que executa a prisão. Processo Penal Militar, assinale a alternativa correta.
b) A prisão provisória pode ocorrer durante o inquérito
ou no curso do processo e, inclusive, após a condena- a) Se a deserção de praça especial ou praça sem estabili-
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

ção definitiva transitada em julgado. dade for consumada, será ela agregada, permanecen-
c) O executor da prisão, estando de posse de um man- do nessa situação ao apresentar-se ou ser capturado,
dado, mesmo sendo noite, poderá entrar à força no até decisão transitada em julgado.
interior de uma casa na qual suspeite que se encontra b) O oficial desertor será imediatamente excluído do ser-
a pessoa a ser presa, bastando convocar duas teste- viço ativo.
munhas para comprovar a legalidade da ação. c) O insubmisso que não for julgado no prazo de 30 dias
d) Se, ao tomar conhecimento da comunicação da pri- a contar do dia da respectiva apresentação voluntária
são, a autoridade judiciária verificar que a prisão não é ou captura, sem que para isso tenha dado causa, será
legal, deverá relaxá-la imediatamente. posto em liberdade.
e) Não há distinção entre presos provisórios e presos de- d) A legislação proíbe a concessão de menagem ao
finitivamente condenados, pelo que podem comparti- insubmisso.
lhar a mesma cela. e) O termo de deserção tem o caráter de instrução provi-
sória e destina-se a fornecer os elementos necessários
11. (IADES – 2018) Segundo o Código de Processo Pe- à propositura da ação penal, sujeitando, desde logo, o
nal Militar, com relação à prisão preventiva, assinale a desertor à prisão.
alternativa correta.

309
____________________________________________________________
GABARITO ____________________________________________________________

1 A ____________________________________________________________
2 E
____________________________________________________________
3 B
4 A ____________________________________________________________
5 B
6 C ____________________________________________________________
7 E
____________________________________________________________
8 B
9 D ____________________________________________________________
10 D
11 A ____________________________________________________________
12 D
13 E ____________________________________________________________

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ANOTAÇÕES ____________________________________________________________

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

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310
Princípios do SISNAD

NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO I - O respeito aos direitos fundamentais da pessoa hu-


mana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua
PENAL ESPECIAL liberdade;
II - O respeito à diversidade e às especificidades popu-
lacionais existentes;
LEI DE DROGAS (LEI N. 11.343/2006) III - A promoção dos valores éticos, culturais e de cida-
dania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fato-
res de proteção para o uso indevido de drogas e outros
O assunto relacionado às drogas no Brasil, atualmen- comportamentos correlacionados;
te, é regulado por lei específica – Lei nº 11.343/06 –, que IV - A promoção de consensos nacionais, de ampla
revogou expressamente as Leis nº 6368/76 e 10409/021. participação social, para o estabelecimento dos fun-
Quando comparada com a antiga lei de drogas (lei damentos e estratégias do Sisnad;
6368/76), percebe-se que a lei vigente, a Lei nº 11343/06, V - A promoção da responsabilidade compartilhada
conferiu um tratamento mais rigoroso ao traficante e entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importân-
mais brando ao usuário de drogas, bem como inovou cia da participação social nas atividades do Sisnad;
ao abolir a pena privativa de liberdade ao usuário de dro- VI - O reconhecimento da intersetorialidade dos fa-
gas (art. 28, caput, da Lei 11.343/06). tores correlacionados com o uso indevido de drogas,
com a sua produção não autorizada e o seu tráfico
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, ilícito;
transportar ou trouxer consigo, para consumo pes- VII - A integração das estratégias nacionais e interna-
soal, drogas sem autorização ou em desacordo com cionais de prevenção do uso indevido, atenção e rein-
determinação legal ou regulamentar será submetido serção social de usuários e dependentes de drogas e
às seguintes penas: de repressão à sua produção não autorizada e ao seu
I - advertência sobre os efeitos das drogas; tráfico ilícito;
II - prestação de serviços à comunidade; VIII - A articulação com os órgãos do Ministério Pú-
III - medida educativa de comparecimento a progra- blico e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à
ma ou curso educativo. cooperação mútua nas atividades do Sisnad;
IX - A adoção de abordagem multidisciplinar que
Em seus primeiros artigos, a Lei de Drogas institui o reconheça a interdependência e a natureza comple-
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SIS- mentar das atividades de prevenção do uso indevido,
NAD), direcionado a prescrever medidas de prevenção, atenção e reinserção social de usuários e dependentes
reinserção de usuários e repressão do tráfico. de drogas, repressão da produção não autorizada e do
tráfico ilícito de drogas;
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políti- X - A observância do equilíbrio entre as atividades de
cas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção de usuários e dependentes de drogas e de repressão à
sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito,
social de usuários e dependentes de drogas; estabelece
normas para repressão à produção não autorizada e
visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social;
ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.
XI - A observância às orientações e normas emanadas
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se
do Conselho Nacional Antidrogas - Conad.
como drogas as substâncias ou os produtos capazes
de causar dependência, assim especificados em lei ou
Objetivos do SISNAD
relacionados em listas atualizadas periodicamente
pelo Poder Executivo da União.
I - Contribuir para a inclusão social do cidadão, visan-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

A lei, inclusive, define o que é droga: Substâncias ou do a torná-lo menos vulnerável a assumir comporta-
produtos capazes de causar dependência, assim especi- mentos de risco para o uso indevido de drogas, seu trá-
ficados em lei ou relacionados em lista atualizada pelo fico ilícito e outros comportamentos correlacionados;
Poder Executivo da União (Presidente da República). II - Promover a construção e a socialização do conhe-
Exceções: cimento sobre drogas no país;
III - Promover a integração entre as políticas de pre-
• Hipótese de autorização legal ou regulamentar, venção do uso indevido, atenção e reinserção social de
ex.: para fins medicinais ou científicos. usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua
produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as polí-
ticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo
FIQUE ATENTO! da União, Distrito Federal, Estados e Municípios;
O SISNAD atuará em articulação com o SUS IV - Assegurar as condições para a coordenação, a in-
e o SUAS. tegração e a articulação das atividades.

311
Ademais, a lei prevê a realização do Plano Nacional • O fortalecimento da autonomia e da responsabi-
de Políticas sobre Drogas, de duração de 5 anos. Cabe lidade individual em relação ao uso indevido de
ao Poder Público a mais ampla divulgação de tal instru- drogas;
mento, que tem como objetivo: • O compartilhamento de responsabilidades e a
colaboração mútua com as instituições do setor
• Interdisciplinaridade: participação de diversos privado e com os diversos segmentos sociais, in-
segmentos; cluindo usuários e dependentes de drogas e res-
• Participação social: na formulação, implementação pectivos familiares, por meio do estabelecimento
e avaliação da política sobre drogas; de parcerias;
• Priorizar a prevenção: por meio de programas, • A adoção de estratégias preventivas diferenciadas
projetos, tendo a colaboração da escola, família e e adequadas às especificidades socioculturais das
sociedade; diversas populações, bem como das diferentes
• Ampliar as alternativas do usuário ou dependente:
drogas utilizadas;
por meio da inserção social e econômica, melhoria
• O reconhecimento do “não-uso”, do “retardamen-
na escolarização e qualificação profissional;
to do uso” e da redução de riscos como resulta-
• Promover o acesso aos serviços públicos: de usuá-
dos desejáveis das atividades de natureza preven-
rios e dependentes;
• Estabelecer diretrizes para a efetividade do pro- tiva, quando da definição dos objetivos a serem
grama: para garantir que seja cumprida a política alcançados;
sobre drogas; • O tratamento especial dirigido às parcelas mais
• Articular projetos de incentivo ao emprego: com o vulneráveis da população, levando em considera-
escopo de promover a inserção profissional; ção as suas necessidades específicas;
• Políticas públicas que conduzam à efetivação das • A articulação entre os serviços e organizações que
diretrizes: pois não basta estabelecer regras sem atuam em atividades de prevenção do uso inde-
satisfazê-las; vido de drogas e a rede de atenção a usuários e
• Articular saúde, assistência social e justiça: com o dependentes de drogas e respectivos familiares;
escopo de enfrentar o abuso de drogas; • O investimento em alternativas esportivas, cultu-
• Fomentar serviço de atendimento telefônico: com rais, artísticas, profissionais, entre outras, como
orientações e informações direcionadas ao apoio forma de inclusão social e de melhoria da qualida-
de usuários e dependentes; de de vida;
• Promover estudos e avaliação dos resultados. • O estabelecimento de políticas de formação con-
tinuada na área da prevenção do uso indevido de
drogas para profissionais de educação nos 3 níveis
FIQUE ATENTO! de ensino;
Os Conselhos dos Estados, DF e Municípios • A implantação de projetos pedagógicos de pre-
possuem o objetivo de auxiliar na elaboração venção do uso indevido de drogas, nas instituições
da política sobre drogas; celebrar instrumen- de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes
tos de cooperação; promover estudos; pro- Curriculares Nacionais e aos conhecimentos rela-
por políticas públicas etc. cionados a drogas;
• A observância das orientações e normas emanadas
do Conad;
As instituições que atendem usuários e dependen- • O alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle
tes precisam comunicar o órgão municipal de saúde os social de políticas setoriais específicas.
casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a
identidade das pessoas. O art. 19-A foi introduzido em 2019, assim merece a
São consideradas atividades de prevenção ao uso leitura em sua literalidade:
indevido de drogas aquelas direcionadas à redução dos
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

fatores de vulnerabilidade e risco, tendo em vista a pro- Art. 19-A. Fica instituída a Semana Nacional de Po-
moção e o fortalecimento dos fatores de proteção. líticas sobre Drogas, comemorada anualmente, na
Dessa forma, os princípios e diretrizes da prevenção quarta semana de junho.
são: § 1º No período de que trata o caput, serão intensifi-
cadas as ações de:
• O reconhecimento do uso indevido de drogas I - difusão de informações sobre os problemas decor-
como fator de interferência na qualidade de vida rentes do uso de drogas;
do indivíduo e na sua relação com a comunidade à II - promoção de eventos para o debate público sobre
qual pertence; as políticas sobre drogas;
• A adoção de conceitos objetivos e de fundamen- III - difusão de boas práticas de prevenção, tratamen-
tação científica como forma de orientar as ações to, acolhimento e reinserção social e econômica de
dos serviços públicos comunitários e privados e de usuários de drogas;
evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e IV - divulgação de iniciativas, ações e campanhas de
dos serviços que as atendam; prevenção do uso indevido de drogas;

312
V - mobilização da comunidade para a participação Art. 23-A. O tratamento do usuário ou dependente
nas ações de prevenção e enfrentamento às drogas; de drogas deverá ser ordenado em uma rede de aten-
VI - mobilização dos sistemas de ensino previstos na ção à saúde, com prioridade para as modalidades de
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Di- tratamento ambulatorial, incluindo excepcionalmente
retrizes e Bases da Educação Nacional , na realização formas de internação em unidades de saúde e hospi-
de atividades de prevenção ao uso de drogas. tais gerais nos termos de normas dispostas pela União
e articuladas com os serviços de assistência social e
Essa inovação é muito importante para atingir um em etapas que permitam:
dos principais propósitos da Lei de Drogas: a prevenção. I - articular a atenção com ações preventivas que atin-
Esse objetivo pode ser conquistado mediante as atitudes jam toda a população;
elencadas no art. 19-A, especificamente quando trata da II - orientar-se por protocolos técnicos predefinidos,
difusão de informação, mobilização social etc. baseados em evidências científicas, oferecendo aten-
dimento individualizado ao usuário ou dependente de
Atividade de Atenção Atividade de Reinserção drogas com abordagem preventiva e, sempre que in-
dicado, ambulatorial;
Visa a melhoria da quali- Direcionadas para a inte- III - preparar para a reinserção social e econômica,
dade de vida e a redução gração ou reintegração em respeitando as habilidades e projetos individuais por
dos riscos e danos. redes sociais. meio de programas que articulem educação, capaci-
tação para o trabalho, esporte, cultura e acompanha-
As atividades de atenção (preventivas) e as de reinser- mento individualizado; e
ção social (restaurativas) do usuário/dependentes/fami- IV - acompanhar os resultados pelo SUS, Suas e Sis-
liares devem observar os seguintes princípios e diretrizes: nad, de forma articulada.

• Respeito ao usuário e ao dependente; A prioridade é que o tratamento seja ambulatorial,


• Estratégias diferenciadas de acordo com as sendo excepcional a internação. A lei exige autorização
peculiaridades; por médico devidamente registrado no CRM do Estado
• Projeto terapêutico individualizado; onde se localize o estabelecimento no qual se dará a in-
• Equipes Multiprofissionais atuando, sempre que ternação, para que ocorra de fato a internação.
possível, no atendimento de usuários, dependen- Todas as internações e altas devem ser informadas no
tes e familiares; máximo em 72 horas ao MP, Defensoria e outros órgãos
• Observância das normas do CONAD; de fiscalização, por meio de sistema informatizado único,
• Alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle sendo garantido o sigilo.
social de políticas setoriais específicas; Ademais, é vedada a realização de internação nas
• Estímulo à capacitação técnica e profissional; comunidades terapêuticas acolhedoras. Essas se carac-
• Efetivação de políticas de reinserção social volta- terizam pela oferta de projetos terapêuticos àqueles que
das à educação continuada e ao trabalho; estão em abstinência, a adesão e a permanência são vo-
• Observância do plano individual de atendimento; luntárias, o ambiente é residencial, existe avaliação médi-
• Orientação adequada ao usuário ou dependente ca prévia e elaboração de plano individual, vedado o iso-
de drogas quanto às consequências lesivas do uso lamento do dependente/usuário. Todavia, casos graves
de drogas, ainda que ocasional. que mereçam atenção médico-hospitalar contínua ou de
emergência devem ser encaminhados à rede de saúde.
Atualmente entende-se pela excepcionalidade da
#FicaDica internação de dependentes em unidades de saúde ou
hospitais gerais. Tais locais são dotados de equipes mul-
As pessoas atendidas pelo SISNAD terão
tidisciplinares, e a medida necessita de autorização de
atendimento nos programas de educação
médico registrado no CRM do Estado onde se localize o
profissional e tecnológica, educação de jo- estabelecimento no qual ocorrerá a internação.
vens e adultos e alfabetização.
Com o consentimento do dependente.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

As redes dos serviços de saúde de todos os entes fe- Internação É precedida de declaração escrita do so-
derativos devem desenvolver programas de atendimento Voluntária licitante e seu término ocorre por deter-
minação do médico ou da própria pessoa.
ao usuário e ao dependente, mas existem 2 requisitos
essenciais: A pedido da família/responsável legal/
servidor público (salvo servidores da segu-
1º Respeitar as diretrizes do Ministério da Saúde; rança pública).
2º Previsão orçamentária. A decisão é do médico, indicada depois de
avaliação. Perdurará apenas pelo tempo
Internação
Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos necessário à desintoxicação (prazo máxi-
Involuntária
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvol- mo de 90 dias). O término é determinado
verão programas de atenção ao usuário e ao depen- pelo médico responsável, mas a família/re-
presentante legal podem a qualquer mo-
dente de drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério
mento requerer ao médico a interrupção
da Saúde e os princípios explicitados no art. 22 desta
Lei, obrigatória a previsão orçamentária adequada.
do tratamento.

313
Para o atendimento na rede de saúde existem Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
requisitos: transportar ou trouxer consigo, para consumo pes-
soal, drogas sem autorização ou em desacordo com
• Avaliação prévia por equipe técnica multidiscipli- determinação legal ou regulamentar será submetido
nar e multissetorial; às seguintes penas:
• Elaboração de um Plano Individual de Atendimen- I - advertência sobre os efeitos das drogas;
to (PIA), que com o passar do tempo é atualizado. II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a progra-
ma ou curso educativo.
FIQUE ATENTO!
A avaliação prévia da equipe técnica subsi- Trata-se do famoso crime de uso de drogas apenas
diará a elaboração e execução do projeto te- para consumo pessoal, que prescreve em 2 anos. As
rapêutico individual a ser adotado, levantan- mesmas medidas submete-se a quem, para seu consu-
do-se no mínimo: o tipo de droga e o padrão mo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas
de seu uso; e o risco à saúde física e mental à preparação de pequena quantidade de substância ou
do usuário ou dependente de drogas ou das produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
pessoas com as quais ele convive. Para determinar se a droga se destinava a consumo
pessoal, o juiz atenderá à:

Art. 23-B . O atendimento ao usuário ou dependente • Natureza e à quantidade da substância apreendida;


de drogas na rede de atenção à saúde dependerá de: • Ao local e às condições em que se desenvolveu a
I - avaliação prévia por equipe técnica multidisciplinar ação;
e multissetorial; e • Às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à
II - elaboração de um Plano Individual de Atendimen- conduta e aos antecedentes do agente.
to - PIA.
§ 1º A avaliação prévia da equipe técnica subsidiará As penas previstas nos incisos II e III serão aplicadas
a elaboração e execução do projeto terapêutico indivi- pelo prazo máximo de 5 meses. Em caso de reincidência,
dual a ser adotado, levantando no mínimo: as penas previstas nos incisos II e III serão aplicadas pelo
I - o tipo de droga e o padrão de seu uso; e prazo máximo de 10 meses.
II - o risco à saúde física e mental do usuário ou depen- A prestação de serviços à comunidade será cumpri-
dente de drogas ou das pessoas com as quais convive. da em programas comunitários, entidades educacionais
ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres,
O PIA deverá contemplar a participação dos familia- públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem,
res, os quais têm o dever de contribuir com o processo. preferencialmente, da prevenção do consumo ou da re-
Se o caso envolve crianças e adolescentes, os familiares cuperação de usuários e dependentes de drogas.
podem sofrer responsabilização civil, administrativa e Para garantia do cumprimento das medidas educa-
criminal. tivas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que
O prazo de até 30 dias, contados da data do ingresso injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz sub-
no atendimento, deve ser respeitado para a elaboração metê-lo, sucessivamente a: admoestação verbal; multa.
do PIA. As informações são sigilosas.

FIQUE ATENTO!
#FicaDica O juiz, atendendo à reprovabilidade da con-
duta, fixará o número de dias-multa, em
A União, os Estados, o Distrito Federal e os
quantidade nunca inferior a 40 nem superior
Municípios poderão conceder benefícios
a 100, atribuindo depois a cada um, segun-
às instituições privadas que desenvolverem
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

do a capacidade econômica do agente, o va-


programas de reinserção no mercado de tra-
lor de um trinta avos até 3 vezes o valor do
balho, do usuário e do dependente de dro-
maior salário mínimo. Os valores decorrentes
gas encaminhados por órgão oficial. As insti-
da imposição da multa serão creditados à
tuições da sociedade civil, sem fins lucrativos,
conta do Fundo Nacional Antidrogas.
com atuação nas áreas da atenção à saúde e
da assistência social, que atendam usuários
ou dependentes de drogas poderão receber De acordo com o STJ, a condenação pelo art. 28 (por-
recursos do Funad, condicionados à sua dis- te de droga para uso próprio) não configura reincidência.
ponibilidade orçamentária e financeira. E, segundo entendimento do STF, não cabe Habeas Cor-
pus para discutir processo criminal envolvendo o art. 28,
uma vez que não existe pena privativa de liberdade.
Em relação aos crimes e penas estabelecidos na Lei
de Drogas, vale conhecer a literalidade dos artigos:

314
Outras decisões, também, são muito interessantes,
por exemplo: não configura crime a importação de pe- FIQUE ATENTO!
quena quantidade de sementes de maconha. Segundo o STF, deve-se excluir qualquer sig-
Não configura crime a importação de pequena quan- nificado que enseje a proibição de manifes-
tidade de sementes de maconha. tações e debates acerca da descriminalização
STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Men- ou legalização do uso de drogas ou de qual-
des, julgado em 11/9/2018 (Info 915). quer substância que leve o ser humano ao
Ademais, não gera atenuação da pena o réu confessar entorpecimento episódico, ou então viciado,
que é usuário, se estiver sendo acusado de tráfico. Isso das suas faculdades psicofísicas.
ocorre, pois o Código Penal entende como atenuante si-
tuações nas quais o réu confessa o crime, ou seja, que ele
de fato é traficante. § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de
Ultrapassado o art. 28, o crime mais importante da Lei lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a
de Drogas consta no art. 33: consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pa-
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produ- gamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhen-
zir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, tos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no
ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, art. 28.
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou forne-
cer drogas, ainda que gratuitamente, sem autori- O art. 33 descreve condutas consideradas como tráfi-
co de drogas. O § 1º do art. 33 equipara outras condutas
ao tráfico: Tráfico de matéria-prima, insumos, produtos
zação ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: químicos destinados à preparação de drogas; cultivo de
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e paga- plantas para o tráfico de drogas; utilização de determi-
mento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) nado local para a prática do tráfico. O § 2º traz o indu-
dias-multa. zimento, instigação ou auxílio ao uso de drogas, como
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: figura autônoma. O § 3º traz a figura da cessão gratuita
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, eventual de drogas para consumo compartilhado.
vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em de-
pósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a
determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, dois terços, desde que o agente seja primário, de bons
insumo ou produto químico destinado à preparação antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
de drogas; nem integre organização criminosa.
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização
O § 4º trata-se do tráfico privilegiado, que inclusive
ou em desacordo com determinação legal ou regula- foi considerado como crime não hediondo pela atualiza-
mentar, de plantas que se constituam em matéria-pri- ção legislativa feita em 2019 (Pacote Anticrime). Ademais,
ma para a preparação de drogas; os tribunais superiores enquadram as “mulas” como caso
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que comum de incidência nessa causa de diminuição de pena.
tem a propriedade, posse, administração, guarda ou
vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ain- A jurisprudência é polêmica quanto a possibilidade
da que gratuitamente, sem autorização ou em desa- de aplicar o privilégio em caso de elevada quantidade de
cordo com determinação legal ou regulamentar, para droga. O que tem prevalecido é que as peculiaridades
o tráfico ilícito de drogas. do caso concreto podem servir para impedir a redu-
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, in- ção. Por outro lado, o simples fato de o réu ter alguma
sumo ou produto químico destinado à preparação de ocupação lícita não significa que terá direito, necessaria-
drogas, sem autorização ou em desacordo com a de- mente, à minorante.
Ademais, a Quinta Turma do STJ trouxe importante
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

terminação legal ou regulamentar, a agente policial


decisão sobre o tráfico privilegiado:
disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. “A causa redutora de pena prevista no § 4º do art. 33,
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso inde- da Lei n. 11.343/06 poderá ser aplicada quando cum-
vido de droga: pridos os seguintes requisitos: ser primário, possuir
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de bons antecedentes, não dedicar-se a atividades crimi-
100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa nosa e não integrar organização criminosa. De acordo
com a jurisprudência desta Quinta Turma, é possível
utilizar processos em andamento para justificar o
afastamento da benesse em questão quando com-
provem que o agente se dedicava ao tráfico ilícito
de entorpecentes, como no caso dos autos”.
(STJ, Quinta Turma, HC 365.103/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 02/10/2018)

315
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, ofe- O delito consuma-se no instante em que a informa-
recer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, ção chega ao conhecimento dos destinatários dos infor-
possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamen- mes, pouco importando a execução de posterior delito
te, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer de tráfico de drogas.
objeto destinado à fabricação, preparação, produção
ou transformação de drogas, sem autorização ou em Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, dro-
desacordo com determinação legal ou regulamentar: gas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e paga- doses excessivas ou em desacordo com determinação
mento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) legal ou regulamentar:
dias-multa. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
O exemplo clássico para esse tipo penal é o tráfico de dias-multa.
maquinário para a fabricação de drogas. Imagine, Pedri- Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao
nho é surpreendido com equipamento empregado para Conselho Federal da categoria profissional a que per-
compactar maconha, configurado está o art. 34. tença o agente.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o O crime de prescrição ou ministração culposa de dro-
fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos gas é crime próprio, cometido por médico, dentista, far-
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta macêutico ou enfermeiro.
Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e paga- Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o
mento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) consumo de drogas, expondo a dano potencial a inco-
dias-multa. lumidade de outrem:
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além
artigo incorre quem se associa para a prática reiterada da apreensão do veículo, cassação da habilitação res-
do crime definido no art. 36 desta Lei. pectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da
pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de
O art. 35 trata-se do crime de associação para o trá- 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.
fico, crime de concurso necessário de duas ou mais pes- Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas
soas. O crime se consuma com a mera união dos agentes cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro)
que visam praticar o tráfico de drogas. a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscen-
O parágrafo único prevê a associação para o finan- tos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste
ciamento do tráfico. Imagine, um grupo de amigos mui- artigo for de transporte coletivo de passageiros.
to ricos decidem se unir para custear o tráfico de forma
reiterada. O art. 39 trata-se de crime de condução de embar-
cação ou aeronave após o consumo de drogas. O que
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer se pretende proteger é a segurança no espaço aéreo e
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 aquático.
desta Lei: As penas dos crimes dos arts. 33, 34, 35, 36 e 37 são
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pa- aumentadas de 1/6 a 2/3 nas seguintes situações:
gamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro
mil) dias-multa. • Transnacionalidade do delito;
• O agente utilizar função pública, missão de educa-
O art. 36 traz a figura do financiamento ou custeio de ção, poder familiar, guarda ou vigilância para co-
drogas. O indivíduo não é punido como mero partícipe, meter o crime;
mas como praticante de crime autônomo. O delito con- • Nas imediações de estabelecimentos prisionais,
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

suma-se no instante em que o agente entrega o valor de ensino, hospitalares, culturais, recreativas, es-
ao traficante, pouco importando a efetiva execução do portivas, beneficentes, trabalho coletivo, onde se
crime de tráfico de drogas. Se o agente se autofinancia realizem espetáculos ou diversões, local de serviço
só responde pelo tráfico de drogas. de tratamento de dependente ou reinserção social,
unidades militares ou policiais, transporte público;
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, or- • Com violência/grave ameaça/emprego de arma de
ganização ou associação destinados à prática de qual- fogo/intimidação;
quer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e • Entre Estados;
34 desta Lei: • Visar a atingir criança ou adolescente ou quem
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamen- tenha diminuída capacidade de entendimento e
to de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. determinação;
• O agente financiar ou custear a prática do crime.

316
Algumas decisões recentes precisam ser conhecidas,
para melhor compreensão de tais causas de aumento. FIQUE ATENTO!
Por exemplo, a droga precisa ser comercializada dentro O indiciado ou acusado que colaborar vo-
do transporte público para que incida o aumento, o mero luntariamente com a investigação policial e
transporte é irrelevante. Por outro lado, basta o tráfico o processo criminal na identificação dos de-
nas imediações de presídio para a incidência da causa mais coautores ou partícipes do crime e na
de aumento, independente de quem seja o comprador. recuperação total ou parcial do produto do
Ou seja, não é necessário que a droga circule dentro do crime, no caso de condenação, terá pena re-
duzida de um terço a dois terços.
presídio.
Atente-se para que o fato de o tráfico de drogas ser
praticado com o intuito de introduzir substâncias ilícitas
em estabelecimento prisional não impede, por si só, a A jurisprudência traz interessantes exemplos que evi-
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva denciam alguns casos que são considerados como tráfi-
de direitos. Essa circunstância deve ser ponderada com co de drogas consumado. Por exemplo, a droga ser ne-
os requisitos necessários para a concessão do benefício. gociada pelo telefone já consuma o crime na modalidade
Conforme sumulado pelo STJ: Súmula 607 – “A ma- adquirir do art. 33. Outro exemplo comum é a disponibi-
jorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da lização do automóvel que vai ser usado para transportar
lei 11.343/06) se configura com a prova da destinação o entorpecente.
internacional das drogas, ainda que não consumada a O tráfico de drogas é crime equiparado a hedion-
transposição de fronteiras”. Ou seja, a transnacionalidade do, ressalvado o tráfico privilegiado. Ademais, consiste
do delito resta comprovada com atos que indiquem tal em crime inafiançável e insuscetível de anistia, graça e
plano, independentemente se de fato aconteça.
indulto.
No mesmo sentido, mas em âmbito nacional (inte-
restadual) o STJ, também, sumulou: Súmula 587 – “Para
Tráfico Privilegiado
a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da
Lei 11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste
fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a
artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a
demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfi-
dois terços, desde que o agente seja primário, de bons
co interestadual.” Assim, para incidir a interestadualidade
basta ficar demonstrado que a intenção do agente era
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
pulverizar a droga em mais de um Estado-membro.
nem integre organização criminosa.
Outra causa de aumento relevante para a jurispru-
dência atual é a prática do tráfico de drogas nas proxi- A habitualidade no crime e o pertencimento a organi-
midades dos estabelecimentos de ensino, pois entende- zações criminosas deverão ser comprovadas pela acusa-
-se desnecessária a prova que o ilícito visava atingir os ção, não sendo possível que o benefício do tráfico privi-
alunos. Por outro lado, se o tráfico aconteceu em dia e legiado seja afastado por simples presunção.
horário que a escola se encontrava fechada não incide o Outra curiosidade é que fica isento de pena o agente
aumento. que, em razão da dependência, ou sob o efeito, prove-
Sobre a aplicação da causa de aumento de pena re- niente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao
lacionada a participação do menor no crime, os tribunais tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido
superiores entendem como compatível com o crime de a infração penal praticada, inteiramente incapaz de en-
associação para o tráfico (art. 35). Ademais, o agente que tender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
pratica crime da lei de drogas com criança ou adoles- acordo com esse entendimento.
cente responde pelo crime da lei de drogas com causa Se o agente não possuía, ao tempo da ação ou da
de aumento, e não por corrupção de menores. Todavia, omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito
se o crime que envolver o menor não corresponder aos do fato ou de determinar-se de acordo com esse enten-
artigos 33 a 37 da lei de drogas, o agente responderá por dimento, a pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

corrupção de menores tipificado pelo ECA:


Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso for-
menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infra- tuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação
ção penal ou induzindo-o a praticá-la: ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. penal praticada, inteiramente incapaz de entender o
§ 1 o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se com esse entendimento.
de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de ba- Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhe-
te-papo da internet. cendo, por força pericial, que este apresentava, à épo-
§ 2 o As penas previstas no caput deste artigo são au- ca do fato previsto neste artigo, as condições referidas
mentadas de um terço no caso de a infração cometida no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na
ou induzida estar incluída no rol do art. 1 o da Lei n o sentença, o seu encaminhamento para tratamento
8.072, de 25 de julho de 1990 . médico adequado.

317
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a O grau de pureza da droga é irrelevante na dosimetria
dois terços se, por força das circunstâncias previstas no da pena. De acordo com a Lei 11.343/06 preponderam
art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da apenas a natureza e a quantidade da droga apreendida
ação ou da omissão, a plena capacidade de entender para o cálculo da dosimetria da pena.
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo Ao ser recebida cópia do auto de prisão em flagrante,
com esse entendimento. o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regulari-
Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base dade formal do laudo de constatação e determinará a
em avaliação que ateste a necessidade de encami- destruição das drogas apreendidas, guardando-se amos-
nhamento do agente para tratamento, realizada por tra necessária à realização do laudo definitivo. A destrui-
profissional de saúde com competência específica na ção das drogas será executada pelo delegado de polícia
forma da lei, determinará que a tal se proceda, obser- competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença do
vado o disposto no art. 26 desta Lei. Ministério Público e da autoridade sanitária.
A destruição das drogas apreendidas sem a ocorrên-
cia de prisão em flagrante será feita por incineração, no
FIQUE ATENTO!
prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data da
A multa nos arts. 33 a 39 tem valor não infe- apreensão, guardando-se amostra necessária à realiza-
rior a um trinta avos nem superior a 5 salários ção do laudo definitivo.
mínimos.
As multas, que em caso de concurso de cri-
mes serão impostas sempre cumulativamen- FIQUE ATENTO!
te, podem ser aumentadas até o décuplo se, O inquérito policial será concluído no prazo
em virtude da situação econômica do acusa- de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver pre-
do, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que so, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Os
aplicadas no máximo. prazos podem ser duplicados pelo juiz.

Quanto ao procedimento penal, vale lembrar que não A Lei de Drogas prevê a possibilidade de infiltração
cabe prisão em caso de uso de drogas, lavra-se termo de agentes de polícia, para apurar melhor os fatos, bem
circunstanciado, próprio do Juizado Especial Criminal (JE- como não atuação policial, com a finalidade de identi-
CRIM). Já nos demais crimes ocorre prisão em flagrante
ficar e responsabilizar maior número de integrantes de
imediatamente comunicada ao juiz, com vista ao MP em
operações de tráfico, sem prejuízo da ação cabível.
24 horas.
É interessante que a falta de laudo toxicológico defi- Atente-se para o fato que a investigação policial que
nitivo pode ser suprida pelo laudo provisório, em casos tem como única finalidade obter informações mais con-
excepcionais, desde que o laudo de constatação provi- cretas acerca da conduta e do paradeiro de determinado
sório permita grau de certeza idêntico ao definitivo, ex.: traficante, sem pretensão de identificar outros suspeitos,
elaborado por perito oficial, em procedimento e com não configura ação controlada, sendo dispensável a au-
conclusões equivalentes. torização judicial para a sua realização.
Ademais, nos casos em que não há apreensão da dro-
ga, é possível que a condenação pelo tráfico seja emba- Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal re-
sada em prova testemunhal ou documental. lativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos,
além dos previstos em lei, mediante autorização judi-
Tráfico. Não Apreensão da Droga. A ausência de cial e ouvido o Ministério Público, os seguintes proce-
apreensão da droga não torna a conduta atípica se dimentos investigatórios:
existirem outros elementos de prova aptos a compro- I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de
varem o crime de tráfico. No caso, a denúncia fun- investigação, constituída pelos órgãos especializados
damentou-se em provas obtidas pelas investigações pertinentes;
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

policiais, dentre elas a quebra de sigilo telefônico, que II - a não-atuação policial sobre os portadores de
são meios hábeis para comprovar a materialidade do
drogas, seus precursores químicos ou outros produ-
delito perante a falta da droga, não caracterizando,
tos utilizados em sua produção, que se encontrem no
assim, a ausência de justa causa para a ação penal.
HC 131.455-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado território brasileiro, com a finalidade de identificar e
em 2/8/2012. responsabilizar maior número de integrantes de ope-
rações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação
penal cabível.
#FicaDica Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo,
Para a lavratura do auto de prisão em fla- a autorização será concedida desde que sejam conhe-
grante é suficiente o laudo de constatação cidos o itinerário provável e a identificação dos agen-
da natureza e quantidade da droga. O perito tes do delito ou de colaboradores.
que subscreve o laudo não fica impedido de
participar da elaboração do laudo definitivo.

318
Ao ser oferecida denúncia pelo MP, o juiz ordenará
a notificação do acusado para oferecer defesa prévia FIQUE ATENTO!
em 10 dias. Caso não apresente, será nomeado defen-
A avaliação dos bens por oficial de justiça
sor para oferecê-la. Apresentada a defesa, o juiz decide
tem o prazo de 5 dias e por avaliador no-
em 5 dias. Caso entenda necessário, o juiz determinará a
apresentação do preso, realização de diligências, exames meado pelo juiz até 10 dias. Feita a avalia-
e perícias, em 10 dias. ção, o juiz intimará o órgão gestor do Funad,
De acordo com o posicionamento do STJ (RHC o Ministério Público e o interessado para se
94.446/MS, j. 15/05/2018), a falta de defesa preliminar manifestarem no prazo de 5 dias e, dirimidas
antes do recebimento da denúncia, nos termos do art. eventuais divergências, homologará o valor
55 da Lei 11.343/06, gera nulidade relativa. O STJ fun- atribuído aos bens. O MP fiscalizará.
damentou que se não demonstrado, com base em ele-
mentos concretos, eventuais prejuízos suportados pela
não observância do mencionado rito, não se reconhece Os bens devem ser vendidos por meio de hasta públi-
a nulidade. ca, preferencialmente por meio eletrônico, assegurada a
Recebida a denúncia pelo juiz, será designado dia e venda pelo maior lance, por preço não inferior a 50% do
hora para a audiência de instrução e julgamento, orde- valor da avaliação judicial.
nada a citação pessoal do acusado, a intimação do MP e Na alienação de veículos, embarcações ou aeronaves,
do assistente de acusação, além de serem requisitados a autoridade de trânsito ou o órgão congênere compe-
laudos periciais. tente para o registro, bem como as secretarias de fazen-
da, devem proceder à regularização dos bens no prazo
#FicaDica de 30 dias, ficando o arrematante isento do pagamento
de multas, encargos e tributos anteriores, sem prejuízo
A audiência será realizada dentro dos 30 dias de execução fiscal em relação ao antigo proprietário.
seguintes ao recebimento da denúncia, sal- Ademais, a autoridade de trânsito emitirá novos identifi-
vo se determinada a realização de avaliação cadores do bem.
para atestar dependência de drogas, quando
se realizará em 90 dias.
FIQUE ATENTO!
Comprovado o interesse público na utili-
O juiz, a requerimento do MP ou do assistente de zação dos bens apreendidos, os órgãos de
acusação, ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária, militar e rodoviária poderão
polícia judiciária, poderá decretar, no curso do inqué- deles fazer uso, sob sua responsabilidade e
rito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas com o objetivo de sua conservação, median-
assecuratórias nos casos em que haja suspeita de que te autorização judicial, ouvido o Ministério
os bens, direitos ou valores sejam produto do crime ou Público e garantida a prévia avaliação dos
constituam proveito de crimes. respectivos bens. A FUNAD indica o órgão
Se o acusado não comparecer, nem constituir advo- que deve receber o bem. A prioridade é dos
gado, ao ser citado por edital, o juiz poderá determinar órgãos de segurança pública que participa-
a prática de atos necessários à conservação dos bens, di- ram das ações de investigação ou repressão
reitos e valores.
ao crime que deu causa à medida.
A ordem de apreensão ou sequestro de bens, direitos
ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Mi-
nistério Público, quando a sua execução imediata puder
Quando a autorização judicial recair sobre veículos,
comprometer as investigações.
embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autorida-
Se as medidas assecuratórias recaírem sobre moeda
de ou ao órgão de registro e controle a expedição de
estrangeira, títulos, valores mobiliários ou cheques emi-
certificado provisório de registro e licenciamento em
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

tidos como ordem de pagamento, será determinada a


sua conversão em moeda nacional. A moeda estrangeira favor do órgão ao qual tenha deferido o uso ou custódia,
apreendida em espécie deve ser encaminhada para alie- ficando este livre do pagamento de multas, encargos e
nação, ou será custodiada pela instituição financeira até tributos anteriores à decisão de utilização do bem até o
decisão sobre o seu destino. Caso seja verificada a ine- trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdi-
xistência de valor de mercado, seus espécimes poderão mento em favor da União.
ser destruídos ou doados à representação diplomática Na hipótese de levantamento, se houver indicação
do país de origem. de que os bens utilizados sofreram depreciação supe-
As apreensões de objetos utilizados para a prática rior àquela esperada em razão do transcurso do tempo
dos crimes serão imediatamente comunicadas pela auto- e do uso, poderá o interessado requerer nova avaliação
ridade de polícia judiciária responsável pela investigação judicial. Inclusive, se constatada a depreciação, o ente fe-
ao juízo competente. O juiz, no prazo de 30 dias conta- derado ou a entidade que utilizou o bem indenizará o
do da comunicação, determinará a alienação dos bens detentor ou proprietário dos bens.
apreendidos, excetuadas as armas, que serão recolhidas
na forma da legislação específica.

319
Eventuais depósitos na Caixa Econômica Federal de- Compete à SENAS (do Ministério da Justiça e Segu-
vem ser transferidos para a conta única Tesouro Nacional rança Pública) proceder à destinação dos bens apreendi-
em 24 horas, onde ficarão à disposição do FUNAD. Na dos e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento
hipótese de absolvição do acusado, o valor do depósito seja decretado em favor da União, por meio das seguin-
será devolvido a ele pela Caixa em até 3 dias úteis, acres- tes modalidades:
cido de juros. Por outro lado, na hipótese de decretação
do seu perdimento em favor da União, o valor do depó-
I – Alienação, mediante:
sito será transformado em pagamento definitivo, respei-
tados os direitos de lesados e terceiros de boa-fé.
a) licitação, na modalidade leilão, assegurada a ven-
Na sentença, o juiz decide: da pelo maior lance, por preço não inferior a 50% do
valor da avaliação;
• Sobre o perdimento do produto do bem, direi- b) doação com encargo a entidades ou órgãos públi-
to ou valor apreendido ou objeto de medidas cos, bem como a comunidades terapêuticas acolhedo-
assecuratórias; ras que contribuam para o alcance das finalidades do
• O levantamento dos valores depositados em conta Funad; ou
remunerada e a liberação dos bens utilizados. c) venda direta;
II – Incorporação ao patrimônio de órgão da adminis-
tração pública, observadas as finalidades do Funad;
FIQUE ATENTO!
III – destruição; ou
Os bens, direitos ou valores apreendidos em IV – Inutilização.
decorrência dos crimes ou objeto de medi-
das assecuratórias, após decretado seu per-
dimento em favor da União, serão revertidos #FicaDica
diretamente ao Funad.
Na alienação de imóveis, o arrematante fica
livre do pagamento de encargos e tributos
Antes de encaminhar os bens ao órgão gestor do Fu- anteriores, sem prejuízo de execução fiscal
nad, o juiz deve: em relação ao antigo proprietário.

• Ordenar às secretarias de fazenda e aos órgãos de


registro e controle que efetuem as averbações ne- O produto da alienação dos bens apreendidos ou
cessárias, caso não tenham sido realizadas quando confiscados será revertido integralmente ao Funad, ve-
da apreensão; e dada a sub-rogação sobre o valor da arrematação para
• Determinar, no caso de imóveis, o registro de proprieda- saldar eventuais multas, encargos ou tributos pendentes
de em favor da União no cartório de registro de imóveis
de pagamento.
competente, afastada a responsabilidade de terceiros,
bem como determinar à Secretaria de Coordenação e Na hipótese de condenação por infrações com pena
Governança do Patrimônio da União a incorporação e máxima superior a 6 anos de reclusão e comprovada
entrega do imóvel, tornando-o livre e desembaraçado conduta criminosa habitual, poderá ser decretada a per-
de quaisquer ônus para sua destinação. da, como produto ou proveito do crime, dos bens cor-
respondentes à diferença entre o valor do patrimônio
No caso de levantamento dos valores depositados do condenado e aquele compatível com o seu rendi-
em conta remunerada e a liberação dos bens utilizados, mento lícito.
decorridos 360 dias do trânsito em julgado e do conhe-
cimento da sentença pelo interessado, os bens apreendi-
dos, os que tenham sido objeto de medidas assecurató- EXERCÍCIOS COMENTADOS
rias ou os valores depositados que não forem reclamados
serão revertidos ao Funad.
1. (CESPE/CEBRASPE – 2020) Luciano, morador de For-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

taleza – CE, réu primário e de bons antecedentes, foi fla-


FIQUE ATENTO! grado na posse de 20 quilos de cocaína durante blitz de
trânsito realizada pela polícia militar. Em razão disso, foi
Nenhum pedido de restituição será conhe-
denunciado pelo Ministério Público do Estado do Ceará
cido sem o comparecimento pessoal do
e, ao final do processo, condenado pelo crime de tráfico
acusado.
de drogas. Considerando essa situação hipotética, jul-
O juiz determinará a liberação total ou par-
gue o item a seguir, com base na Lei de Drogas (Lei n.º
cial dos bens, direitos e objeto de medidas
11.343/2006): “a natureza e a quantidade da substância
assecuratórias quando comprovada a licitu-
entorpecente não devem ser consideradas como circuns-
de de sua origem, mantendo-se a constrição
tâncias preponderantes entre os critérios para aplicação
dos bens, direitos e valores necessários e
da pena estabelecidos no Código Penal.”
suficientes à reparação dos danos e ao pa-
gamento de prestações pecuniárias, multas e
( ) CERTO ( ) ERRADO
custas decorrentes da infração penal.

320
Resposta: Errado. Resposta: Letra B.
Para determinar se a droga se destinava a consumo A lei 13.840/2019 instituiu na lei de drogas a “Sema-
pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da na Nacional de Políticas sobre Drogas”, comemorada
substância apreendida, ao local e às condições em anualmente, na quarta semana de junho.
que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do 4. (FEPESE – 2019) A respeito do procedimento penal
agente. Além disso, juiz, na fixação das penas previs- previsto na Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, re-
tas na lei de drogas, considerará, com preponderância lacionado com a repressão à produção não autorizada e
sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza ao tráfico ilícito de drogas, assinale a alternativa correta.
e a quantidade da substância ou do produto, a perso-
nalidade e a conduta social do agente. a) Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do
acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no
2. (FCC – 2020) No que concerne à lei de drogas, correto prazo de 10 dias.
afirmar: b) Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polí-
cia judiciária fará comunicação imediata ao juiz com-
a) cabível a redução da pena de um sexto a dois terços petente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do
para o agente que tem em depósito, sem autorização qual será dada vista ao representante do Ministério
ou em desacordo com determinação legal ou regu- Público, em 72 horas.
lamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico c) A destruição das drogas será executada pelo escrivão
destinado à preparação de drogas, desde que primá- de polícia no prazo de 90 dias na presença do Delega-
rio, de bons antecedentes, não se dedique às ativida- do de Polícia e da autoridade sanitária.
des criminosas nem integre organização criminosa. d) O inquérito policial será concluído no prazo de 60
b) o juiz, na fixação das penas, em igualdade de condi- dias, se o indiciado estiver preso, e de 120 dias, quan-
ções com todas as circunstâncias previstas no Código do solto.
Penal para estabelecimento das sanções básicas, con- e) Na audiência de instrução e julgamento, após o inter-
siderará a natureza e a quantidade da substância ou rogatório do acusado e a inquirição das testemunhas,
do produto. será dada a palavra, sucessivamente, ao defensor do
c) a pena de multa pode ser aumentada até o limite do acusado e ao representante do Ministério Público,
triplo se, em virtude da situação econômica do acusa- pelo prazo improrrogável de 20 minutos para cada
do, considerá-la o juiz ineficaz, ainda que aplicada no um.
máximo.
d) para a caracterização da majorante do tráfico entre Resposta: Letra A.
Estados da Federação ou entre este e o Distrito Fede- Nos termos do artigo 55 da lei 13.840/2019, oferecida
ral, necessária a efetiva transposição das respectivas a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado
fronteiras, não bastando a demonstração inequívoca para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de
da intenção de realizar o tráfico interestadual. 10 (dez) dias.
e) é de dois anos o prazo de prescrição no crime de pos-
se de droga para consumo pessoal, não se aplicando, 5. (QUADRIX – 2019) Com base nas Leis n.º 11.343/2006,
contudo, as causas de interrupção previstas no Código n.º 11.903/2009 e n.º 13.021/2014, julgue o item: “As
Penal. plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo
delegado de polícia, que recolherá quantidade suficiente
Resposta: Letra A. para exame pericial”.
Nos crimes de tráfico de drogas (sem uso pessoal),
as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois ( ) CERTO ( ) ERRADO
terços, desde que o agente seja primário, de bons an-
tecedentes, não se dedique às atividades criminosas Resposta: Certo.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

nem integre organização criminosa. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas


pelo delegado de polícia, que recolherá quantidade
3. (SELECON – 2020) Caio Tácito coordena o setor an- suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto
tidrogas do município X e busca organizar eventos edu- de levantamento das condições encontradas, com a
cativos quanto aos efeitos nocivos da utilização de dro- delimitação do local, asseguradas as medidas neces-
gas ilícitas. Nos termos da Lei nº 11.343/2006, deve ser sárias para a preservação da prova. Se as drogas forem
instituído: apreendidas com prisão em flagrante, a destruição
ocorrerá dentro de 15 (quinze) dias na presença do
a) O dia nacional de Políticas sobre drogas Ministério Público e da autoridade sanitária, mas se as
b) A semana nacional de Políticas sobre drogas drogas forem apreendidas sem prisão em flagrante,
c) O mês nacional de Políticas sobre drogas a destruição ocorrerá dentro de 30 (trinta) dias con-
d) O ano nacional de Políticas sobre drogas tados da data da apreensão, guardando-se amostra
necessária à realização do laudo definitivo.

321
6. (CESPE – 2019) Conforme as disposições da Lei n.º • Vida e Saúde;
11.343/2006 — Lei Antidrogas — e suas alterações, a in- • Liberdade, respeito e dignidade;
ternação de dependentes de drogas • Convivência familiar e comunitária;
• Educação, cultura, esporte e lazer;
a) poderá ser requerida pelo assistente social se for invo- • Direito à profissionalização e à proteção no
luntária e desde que na absoluta falta de familiar ou trabalho.
responsável legal.
b) perdurará apenas pelo tempo necessário à desintoxi- O ECA traz disposições protetivas desde a gravidez,
cação, no prazo máximo de 180 dias. por exemplo, os profissionais de saúde de referência da
c) poderá ser interrompida pelo médico a requerimento gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre
da família ou do representante legal, desde que já te- da gestação, ao estabelecimento em que será realizado
nha ocorrido a desintoxicação. o parto, garantido o direito de opção da mulher; direito
d) deverá ser realizada em comunidades terapêuticas ou a um acompanhante; parto cuidadoso, estabelecendo a
estabelecimentos interdisciplinares de saúde. cesariana apenas por motivos médicos; busca da gestan-
e) deverá ser autorizada por psicólogo devidamente re- te que não iniciar o pré-natal ou abandoná-lo; manuten-
gistrado no conselho do estado onde se localize o es- ção do registro do prontuário médico por 18 anos.
tabelecimento no qual se dará a internação.
FIQUE ATENTO!
Resposta: Letra A.
Nos termos do artigo 23-A, § 3o, II da Lei 11.343/06, A novidade legislativa é que foi instituída a
a internação involuntária é aquela que ocorre sem o Semana Nacional de Prevenção da Gravidez
consentimento do dependente, a pedido de familiar na Adolescência (1º de fevereiro).
ou do responsável legal ou, na absoluta falta deste, de
servidor público da área de saúde, da assistência social
ou dos órgãos públicos integrantes do Sisnad, com Em caso de suspeita ou confirmação de castigo físi-
exceção de servidores da área de segurança pública, co, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos
que constate a existência de motivos que justifiquem contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente
a medida. comunicados ao Conselho Tutelar.
As gestantes ou mães que manifestem interesse em
entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân-
CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI N.
cia e da Juventude.
8.069/1990)
A gestante ou mãe será ouvida pela equipe inter-
profissional, que apresentará relatório ao juiz. A busca
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES E DIREITOS por família extensa ocorre no período de 90 dias, pror-
FUNDAMENTAIS rogáveis. A vontade dos genitores deve ser manifestada
em audiência sobre a permanência ou perda do poder
O ECA visa a proteção integral da criança (até doze familiar e colocação do menor em família substituta. Se
anos de idade incompletos) e do adolescente (entre doze ninguém comparecer na audiência, o juiz suspenderá o
e dezoito anos de idade). Excepcionalmente, o ECA, tam- poder familiar, e a criança será colocada sob a guarda
bém, é aplicado a pessoas entre dezoito e vinte e um provisória de quem esteja habilitado a adotá-la.
anos de idade. Na hipótese de desistência pelos genitores – mani-
De acordo com o art. 4º do Estatuto, é dever da fa- festada em audiência ou perante a equipe interprofissio-
mília, da comunidade, da sociedade e do poder público nal – da entrega da criança após o nascimento, a criança
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos di- será mantida com os genitores, e será determinado pela
reitos existentes. Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento
familiar pelo prazo de 180 dias. Por outro lado, recém-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

A prioridade absoluta é elencada como:


-nascidos e crianças acolhidas não procuradas por suas
• Primazia de receber proteção e socorro; famílias no prazo de 30 dias são colocados para adoção.
• Precedência de atendimento nos serviços públicos; A falta ou carência de recursos materiais não é motivo
• Preferência nas políticas públicas; plausível para a perda ou suspensão do poder familiar. O
• Destinação privilegiada de recursos públicos. que deve ser feito é a inclusão da família em serviços e
programas oficiais de apoio.
O objetivo do ECA é que nenhuma criança ou adoles- Eventual condenação criminal, também, não gera a
cente seja objeto de qualquer forma de negligência, dis- destituição do poder familiar, exceto se a condenação
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. ocorreu por crime doloso sujeito à pena de reclusão con-
É punido qualquer atentado, por ação ou omissão, aos tra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar
direitos fundamentais do menor. ou contra filho, filha ou outro descendente.
Quais são os direitos fundamentais do menor?

322
A criança e o adolescente são pessoas em processo Sim.
de desenvolvimento, sujeitos de direitos, dentre eles: ir e
vir; opinião e expressão; crença; divertir-se; participar da • O que ocorre em caso de violação das regras?
vida familiar e comunitária sem discriminação; participar
da vida política; buscar refúgio, auxílio e orientação. Os responsáveis pelo programa de acolhimento de-
A “Lei da Palmada” instituiu que a criança e o ado- verão notificar o juiz.
lescente têm o direito de ser educados e cuidados sem A colocação em família substituta possui 3 espécies:
o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou de-
gradante, como formas de correção, disciplina, educação • Guarda: consiste na prestação de assistência mate-
ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes rial, moral e educacional à criança ou adolescente,
da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes conferindo a seu detentor o direito de opor-se a
públicos executores de medidas socioeducativas ou por terceiros, inclusive aos pais. A guarda possui como
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, finalidade regularizar a posse de fato, podendo ser
educá-los ou protegê-los. Caso ocorra, as medidas apli- deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedi-
cáveis, pelo Conselho Tutelar, são: mentos de tutela e adoção, exceto no de adoção
por estrangeiros. Excepcionalmente, deferir-se-á
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá- a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para
rio de proteção à família; atender a situações peculiares ou suprir a falta
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou eventual dos pais ou responsável. Exceto quando a
psiquiátrico; medida for aplicada em preparação para adoção, o
III - encaminhamento a cursos ou programas de deferimento da guarda de criança ou adolescente
orientação; a terceiros não impede o exercício do direito de
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento visitas pelos pais, assim como o dever de prestar
especializado; alimentos.
V - advertência. • Tutela: quem recebe tutela é pessoa até 18 anos de
idade, após perda ou suspensão do poder familiar,
A colocação em família substituta é excepcional, pois implicando no dever de guarda. Em caso de morte
o menor possui o direito de ser criado e educado no seio dos pais, somente sendo deferida a tutela à pessoa
de sua família. Quando o menor estiver em programa indicada na disposição de última vontade, se restar
de acolhimento familiar ou institucional, a sua situação comprovado que a medida é vantajosa ao tute-
é reavaliada a cada 3 meses. A permanência máxima tem lando e que não existe outra pessoa em melhores
o prazo de 18 meses, salvo comprovada necessidade que condições de assumi-la.
este período se estenda. • Adoção: medida excepcional e irrevogável na qual
deve prevalecer os direitos e interesses do ado-
tando. Os maiores de 18 anos podem adotar, des-
FIQUE ATENTO!
de que pelo menos 16 anos mais velho do que o
É garantida a convivência da criança e do adotando, exceto se for ascendente ou irmão do
adolescente com a mãe ou o pai privado de adotando. Adoção póstuma é aquela cuja conces-
liberdade, independentemente de autoriza- são se dá após a morte do adotante, produzindo
ção judicial. efeitos retroativos à data do óbito (ex tunc), desde
que a pessoa falecida tenha demonstrado, em vida,
desejo evidente de adotar. Adoção unilateral é a
O programa de apadrinhamento foi instituído, para modalidade de adoção pela qual o novo cônjuge
que o menor possa obter vínculos externos além da ins- ou companheiro adota filho do outro, formando-
tituição a qual habita, propiciando convivência familiar e -se, consequentemente, um novo vínculo jurídico
comunitária. familiar. Na adoção de pessoas divorciadas, podem
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

adotar conjuntamente, contanto que acordem so-


• Quem pode ser padrinho? bre a guarda e o regime de visitas e desde que
o estágio de convivência tenha sido iniciado na
Maiores de 18 anos não inscritos no cadastro de ado- constância do período de convivência e que seja
ção e Pessoas Jurídicas. comprovada a existência de vínculos de afinidade
e afetividade com aquele não detentor da guarda,
• De qual criança ou adolescente é a prioridade? que justifiquem a excepcionalidade da concessão.
Não há óbice para pessoas solteiras, bem como,
Aqueles com remota possibilidade de reinserção fa- casais homoafetivos adotem. A adoção depende
miliar ou colocação em família adotiva. do consentimento dos pais ou do representante
legal do adotando, salvo em relação à criança ou
• Pode ser executado por órgãos públicos e organi- adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou te-
zações da sociedade civil? nham sido destituídos do poder familiar.

323
Ademais, em se tratando de adotando maior de PREVENÇÃO
doze anos de idade, será também necessário o seu
consentimento. A adoção será precedida de está- O poder público tem a incumbência de regular as di-
gio de convivência com a criança ou adolescente, versões e espetáculos públicos, informando sobre a na-
pelo prazo máximo de 90 dias (prorrogável por tureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem,
igual período). Em caso excepcional, de adoção por locais e horários em que sua apresentação se mostre ina-
pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do dequada. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos
País (adoção internacional, o estágio de convivên- públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso,
cia será de, no mínimo, 30 dias e, no máximo, 45 à entrada do local de exibição, informação destacada so-
dias, prorrogável por até igual período, uma única bre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada
vez, mediante decisão fundamentada da autorida- no certificado de classificação.
de judiciária. O vínculo da adoção constitui-se por
sentença judicial, que será inscrita no registro civil
mediante mandado do qual não se fornecerá cer-
#FicaDica
tidão. O prazo máximo para conclusão da ação de As crianças menores de dez anos somente
adoção será de 120 dias, prorrogável uma única poderão ingressar e permanecer nos lo-
vez por igual período. A adoção respeita a ordem cais de apresentação ou exibição quando
cronológica de pessoas habilitadas, com exceção acompanhadas dos pais ou responsável.
de, pedido de adoção unilateral, formulada por
parente com o qual a criança ou adolescente man-
tenha vínculos de afinidade e afetividade; oriundo • As emissoras de rádio e televisão somente exibi-
o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal rão, no horário recomendado para o público infan-
de criança maior de 3 anos ou adolescente, desde to juvenil, programas com finalidades educativas,
que o lapso de tempo de convivência comprove a artísticas, culturais e informativas. Ademais, é obri-
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não gatório o aviso da classificação antes da transmis-
seja constatada a ocorrência de má-fé. são da programação.
• A venda ou aluguel de fitas não pode estar em de-
#FicaDica sacordo com a classificação. No invólucro precisa
ter informação sobre a natureza e faixa etária.
Após 3 recusas injustificadas, pelo habilita- • As revistas e publicações contendo material impró-
do, à adoção de crianças ou adolescentes prio ou inadequado a crianças e adolescentes de-
indicados dentro do perfil escolhido, have- verão ser comercializadas em embalagem lacrada,
rá reavaliação da habilitação concedida. com a advertência de seu conteúdo.
A desistência do pretendente em relação à • Não é permitida a entrada de crianças e adoles-
guarda para fins de adoção ou a devolução centes em casas de jogos.
da criança ou do adolescente depois do • É proibida a venda à criança ou ao adolescente
trânsito em julgado da sentença de adoção de: arma, bebida alcóolica e outros psicotrópicos,
importará na sua exclusão dos cadastros fogos de estampido e de artifício (exceto aqueles
de adoção e na vedação de renovação da que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes
habilitação, salvo decisão judicial funda- de provocar qualquer dano físico em caso de uti-
mentada, sem prejuízo das demais sanções lização indevida), revistas e publicações contendo
previstas na lei. material impróprio ou inadequado, bilhetes lotéri-
cos e equivalentes.
• É proibida a hospedagem de criança ou adoles-
Quanto direito de educação, é dever do Estado En- cente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
sino Fundamental, obrigatório e gratuito, bem como, a congênere, salvo se autorizado ou acompanhado
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade pelos pais ou responsável.


ao Ensino Médio. O atendimento em creche e pré-escola • Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 anos
às crianças de zero a cinco anos de idade é direito públi- poderá viajar para fora da comarca onde reside de-
co subjetivo. sacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem
Quanto ao direito à profissionalização, é proibido expressa autorização judicial (válida por 2 anos). A
qualquer trabalho ao menor de 14 anos, salvo na con- autorização não será exigida quando: tratar-se de
dição de aprendiz. O ECA veda o trabalho noturno, peri- comarca contígua na mesma unidade da Federa-
goso, insalubre ou penoso, em locais prejudiciais ou que ção, ou incluída na mesma região metropolitana; a
não seja compatível com a frequência escolar. criança ou o adolescente menor de 16 anos estiver
acompanhado de ascendente ou colateral maior,
até o terceiro grau, comprovado documentalmen-
te o parentesco; de pessoa maior, expressamente
autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

324
• Quando se tratar de viagem ao exterior, a autori- Na internação a entidade não pode restringir nenhum
zação é dispensável, se a criança ou adolescente: direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão
estiver acompanhado de ambos os pais ou respon- judicial, o atendimento deve ser personalizado, diligen-
sável; viajar na companhia de um dos pais, autori- ciar na preservação dos vínculos familiares, reavaliar a
zado expressamente pelo outro através de docu- cada 6 meses cada caso, apoio e acompanhamento dos
mento com firma reconhecida. egressos (libertos).
• Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhu- O Ministério Público, o Judiciário e os Conselhos
ma criança ou adolescente nascido em território Tutelares fiscalizam as entidades. As punições para as
nacional poderá sair do País em companhia de es- entidades governamentais são advertência, afastamen-
trangeiro residente ou domiciliado no exterior. to provisório e definitivo de dirigentes, fechamento da
unidade e interdição do programa. Nas entidades não
POLÍTICA DE ATENDIMENTO governamentais, as penas são de advertência, suspensão
de verbas públicas, interdição da unidade ou suspensão
A política de atendimento possui linhas de ação, for- de programa e cassação do registro.
mando um conjunto articulado de ações governamen-
tais e não governamentais direcionado à proteção dos MEDIDAS DE PROTEÇÃO
menores. Uma de suas diretrizes é a municipalização do
atendimento, mas também com a criação de programas As medidas de proteção à criança e ao adolescente
específicos, observada a descentralização político-admi- são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos pelo
nistrativa. É estimulada a guarda e a adoção inter-racial, ECA forem ameaçados ou violados, por ação ou omissão
de crianças maiores e adolescentes, com necessidades da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso
especiais e grupos de irmãos. dos pais ou responsável, e até mesmo em razão de sua
As entidades de atendimento atuam das seguintes conduta.
formas: Afinal, quais são as medidas de proteção?
• orientação e apoio sociofamiliar;
I - encaminhamento aos pais ou responsável, median-
• apoio socioeducativo em meio aberto;
te termo de responsabilidade;
• colocação familiar;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
• acolhimento institucional;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabeleci-
• prestação de serviços à comunidade;
mento oficial de ensino fundamental;
• liberdade assistida;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co-
• semiliberdade;
• internação.
munitários de proteção, apoio e promoção da família,
da criança e do adolescente;
Tanto as entidades governamentais, como as entida- V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
des não governamentais, deverão proceder à inscrição psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
de seus programas no Conselho Municipal dos Direitos VI - inclusão em programa oficial ou comunitário
da Criança e Adolescente, com comunicação ao Conselho de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
Tutelar e à autoridade judiciária. toxicômanos;
Os programas em execução são reavaliados pelo Con- VII - acolhimento institucional;
selho Municipal a cada 2 anos. O registro, por sua vez, VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
possui validade de 4 anos. Os dirigentes de entidades IX - colocação em família substituta.
que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou
institucional remeterão à autoridade judiciária, no máxi- ATO INFRACIONAL
mo a cada 6 meses, relatório circunstanciado acerca da
situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua O ato infracional é conduta do menor (inimputável)
família. As entidades somente poderão receber recursos considerada crime ou contravenção penal. Crianças que
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

públicos se comprovado o atendimento dos princípios, praticam ato infracional só recebem medidas protetivas,
exigências e finalidades do ECA. já os adolescentes podem receber tanto medidas pro-
tetivas, quanto medidas socioeducativas: advertência,
obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à
FIQUE ATENTO! comunidade (não excedente a 6 meses), liberdade assis-
As entidades que mantenham programa tida por orientador (no mínimo por 6 meses), regime de
de acolhimento institucional poderão, em semiliberdade (com atividades externas independente da
caráter excepcional e de urgência, acolher autorização judicial), internação (respeitada a brevidade,
crianças e adolescentes sem prévia determi- excepcionalidade e condição peculiar de pessoa em de-
nação da autoridade competente, fazendo senvolvimento, reavaliada a cada 6 meses).
comunicação do fato em até 24 horas ao
Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de
responsabilidade.

325
ACESSO À JUSTIÇA
FIQUE ATENTO!
A internação, antes da sentença, pode ser A criança e o adolescente têm acesso à Defensoria,
determinada pelo prazo máximo de 45 dias. MP e Judiciário, inclusive, direito à assistência judiciária
A decisão baseia-se em indícios suficientes gratuita. As ações são isentas de custas e emolumentos,
de autoria e materialidade, demonstrada a salvo em caso de litigância de má-fé.
necessidade imperiosa da medida.
A competência será determinada:

Para a aplicação de advertência, basta indícios de au- • Pelo domicílio dos pais ou responsável;
toria e prova da materialidade. Já para as demais medi- • Pelo lugar onde se encontre a criança ou adoles-
das, é necessário existência de provas da autoria e da cente, à falta dos pais ou responsável.
materialidade da infração.
O período máximo de internação é de 3 anos. Atingi- Obs.: Nos casos de ato infracional, será competente a
do este limite, o adolescente deverá ser liberado, coloca- autoridade do lugar da ação ou omissão.
do em regime de semiliberdade ou de liberdade assisti- Não há prazo diferenciado para a Fazenda e para o
da. Também há a liberação compulsória aos 21 anos de Ministério Público, em razão da celeridade que o tema
idade. Em todas essas hipóteses, a desinternação precisa exige. O procedimento para a perda ou a suspensão do
de autorização judicial, ouvido o MP. poder familiar terá início por provocação do Ministério
Mas, afinal, o que leva à aplicação da internação: Público ou de quem tenha legítimo interesse. Em caso de
motivo grave, a suspensão do poder familiar pode ocor-
• Tratar-se de ato infracional cometido mediante rer liminar ou incidentalmente, até o julgamento defini-
grave ameaça ou violência a pessoa; tivo da causa.
• Por reiteração no cometimento de outras infrações O consentimento dos titulares do poder familiar, no
graves; sentido de colocar o menor em família substituta, é re-
• Por descumprimento reiterado e injustificável da tratável até a data da realização da audiência, bem como,
medida anteriormente imposta (não pode ser su- exercer o arrependimento no prazo de 10 dias, contado
perior a 3 meses nesta hipótese). da data de prolação da sentença de extinção do poder
familiar.
O ECA institui a remissão, de maneira que, antes de Na apuração de ato infracional, o adolescente apreen-
iniciado o procedimento judicial, o MP poderá conceder dido por força de ordem judicial será encaminhado à au-
a remissão como forma de exclusão do processo. Depois toridade judiciária; por outro lado, se apreendido em fla-
de iniciado o procedimento, a concessão da remissão grante de ato infracional será, desde logo, encaminhado
pela autoridade judiciária importará na suspensão ou ex- à autoridade policial competente.
tinção do processo. Em caso de flagrante, o procedimento possui os se-
guintes passos:
FIQUE ATENTO!
1) Se os pais ou responsáveis comparecerem, o ado-
A remissão não implica necessariamente o lescente será prontamente liberado pela autorida-
reconhecimento ou comprovação da res- de policial, sob termo de compromisso e respon-
ponsabilidade, nem prevalece para efeito sabilidade de sua apresentação ao representante
de antecedentes, podendo incluir eventual- do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo
mente a aplicação de qualquer das medidas impossível, no primeiro dia útil imediato.
previstas em lei, exceto a colocação em regi- 2) Mas se pela gravidade do ato infracional e sua re-
me de semiliberdade e a internação. percussão social, for apontado que o adolescente
deve permanecer sob internação para garantia de
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

sua segurança pessoal ou manutenção da ordem


CONSELHO TUTELAR pública, a autoridade policial encaminhará o ado-
lescente ao representante do Ministério Público.
O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, 3) Apresentado o adolescente, o representante do
não jurisdicional. Cada Município possui 1 Conselho Tu- Ministério Público, procederá imediata e informal-
telar, no mínimo, composto por 5 membros, escolhidos mente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus
pela população local para mandato de 4 anos, permi- pais ou responsável, vítima e testemunhas. Por ou-
tida recondução por novos processos de escolha. Para tro lado, em caso de não apresentação, o repre-
ser membro, o indivíduo precisa ter idade superior a 21 sentante do Ministério Público notificará os pais
anos de idade, residir no Município e possuir idoneidade ou responsável para apresentação do adolescente,
moral. podendo requisitar o concurso das polícias civil e
militar.

326
4) O Ministério Público poderá: Promover o arquiva-
mento dos autos; conceder a remissão; representar
à autoridade judiciária para aplicação de medida
EXERCÍCIOS COMENTADOS
socioeducativa.
5) Oferecida a representação, a autoridade judiciária
1. (FCC – 2019) A Lei n° 8.069/1990 aplica-se
designará audiência de apresentação do adoles-
a) Às crianças até 12 anos de idade incompletos e ado-
cente, decidindo, desde logo, sobre a decretação
ou manutenção da internação.
lescentes entre 12 e 18 anos de idade, podendo ser
aplicada excepcionalmente às pessoas entre 18 e 21
6) Comparecendo o adolescente, seus pais ou res-
ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva
anos de idade.
b) Exclusivamente às crianças até 11 anos completos e
dos mesmos, podendo solicitar opinião de profis-
sional qualificado.
adolescentes entre 12 e 18 anos, podendo ser aplica-
da, excepcionalmente, às pessoas entre 18 e 21 anos
7) O advogado constituído ou o defensor nomea-
do, no prazo de três dias contado da audiência
de idade.
c) Exclusivamente às crianças até 12 anos completos e
de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de
adolescentes entre 12 e 18 anos de idade.
testemunhas.
d) Indistintamente aos indivíduos até 18 anos de idade.
8) Na audiência em continuação, ouvidas as testemu-
e) Indistintamente aos indivíduos entre 18 e 21 anos de
nhas arroladas na representação e na defesa pré-
via, cumpridas as diligências e juntado o relatório
idade.
da equipe interprofissional, será dada a palavra ao
representante do Ministério Público e ao defen-
Resposta: Letras A.
Conforme dispõe o Art. 2o, caput e parágrafo único
sor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos
para cada um, prorrogável por mais dez, a critério
do ECA.
da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei,
decisão.
a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adoles-
9) A autoridade judiciária não aplicará qualquer me-
cente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
dida e o adolescente será colocado em liberdade,
desde que reconheça na sentença: estar provada a
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoi-
inexistência do fato; não haver prova da existência
to e vinte e um anos de idade.
do fato; não constituir o fato ato infracional; não
2. (VUNESP – 2019) A respeito do Estatuto da Criança e
existir prova de ter o adolescente concorrido para
Adolescente, assinale a alternativa correta.
o ato infracional.
a) As disposições nele contidas aplicam-se exclusiva-
Outro tema recorrente no mundo dos concursos é a
mente a pessoas de até 18 anos incompletos.
infiltração de agentes. Consiste em uma técnica especial
b) A condenação criminal da mãe ou do pai em crime
de investigação por meio da qual um policial, esconden-
doloso, sujeito à pena de reclusão, implicará a desti-
do sua real identidade, na internet, finge ser também um
tuição do poder familiar.
criminoso a fim de investigar crimes contra a dignidade
c) O reconhecimento do estado de filiação é direito per-
sexual da criança ou adolescente. O procedimento exige
sonalíssimo e indisponível, podendo ser exercido ape-
autorização judicial, ouvido o MP. O prazo máximo é de
nas enquanto vivo o filho.
90 dias, com renovações que não excedam 720 dias. O
d) Podem adotar os maiores de 18 anos, desde que casa-
policial terá sua identidade preservada, bem como a in-
dos ou em união estável, e que conte com 16 anos a
timidade das crianças e adolescente, e responderá pelos
excessos.
mais do adotante.
e) As medidas socioeducativas aplicam-se a adolescen-
tes que praticam ato infracional. A crianças aplicam-se
CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

somente medidas protetivas.


Os crimes destacados no Estatuto da Criança e do
Adolescente (art. 228 a 244-B) são aqueles praticados
Resposta: Letra E.
Uma vez que, conforme se extrai do artigo 112 do
contra a criança e o adolescente e não por eles. A ação
ECA, apenas adolescentes podem praticar atos infra-
penal será pública incondicionada. Um dos efeitos da
cionais, logo somente eles estarão sujeitos às medidas
condenação aos crimes praticados por servidores públi-
cos com abuso de autoridade é a perda do cargo, toda-
socioeducativas.
via, apenas em caso de reincidência.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au-
Por fim, as infrações administrativas estão previs-
tas nos artigos 245 a 258-B do Estatuto da Criança e do
toridade competente poderá aplicar ao adolescente as
Adolescente, cominando pena de multa ao transgressor,
seguintes medidas:
assim como outras sanções administrativas em caso de
I - advertência;
reincidência, ex. duplicação da multa, fechamento do
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
estabelecimento.

327
IV - liberdade assistida; II – se o crime é cometido contra criança, gestante,
V - inserção em regime de semi-liberdade; portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
VI - internação em estabelecimento educacional; (sessenta) anos; ‘(Redação dada pela Lei nº 10.741, de
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. 2003)
III - se o crime é cometido mediante seqüestro.
3. (FCC – 2019) O Estatuto da Criança e do Adolescente § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, fun-
assegura o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, ção ou emprego público e a interdição para seu exer-
cício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
a) Inclusive o da preservação da imagem. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
b) Inclusive o de trabalhar em qualquer idade. graça ou anistia.
c) Exceto o de participar da vida política, na forma da lei. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
d) Exceto o de brincar, praticar esportes e divertir-se. hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em
e) Exceto o de buscar refúgio, auxílio e orientação. regime fechado.
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o
Resposta: Letra A. crime não tenha sido cometido em território nacional,
Uma vez que as alternativas “d”, “c” e “e” também di- sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente
zem respeito a direitos à liberdade, respeito e dignida- em local sob jurisdição brasileira.
de (Arts. 16 e 17, ECA). Já a alternativa “b” está errada Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua
porque o adolescente só pode começar a trabalhar a publicação.
partir dos 14 anos de idade, na condição de aprendiz Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de
(Art. 7o, XXXIII, CF/88). julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e


LEI DE TORTURA (LEI N. 9.455/1997) 109º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Define os crimes de tortura e dá outras providências. Nelson A. Jobim

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-


ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI N.
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
10.826/03)
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência SISTEMA NACIONAL DE ARMAS
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental: O Sistema Nacional de Armas (SINARM) é responsá-
a) com o fim de obter informação, declaração ou con- vel pelo cadastro de armas e respectivas autorizações, é
fissão da vítima ou de terceira pessoa; instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia
b) para provocar ação ou omissão de natureza Federal. O SINARM é responsável, também, por informar
criminosa; às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; Distrito Federal os registros e autorizações de porte de
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au- armas de fogo. Todavia, não tem competência em rela-
toridade, com emprego de violência ou grave amea- ção às armas das Forças Armadas.
ça, a intenso sofrimento físico ou mental, como for- O registro da arma de fogo é obrigatório, quando a
ma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter arma é de uso restrito quem registra é o Comando do
preventivo. Exército. Alguns dos requisitos para adquirir uma arma
Pena - reclusão, de dois a oito anos. de fogo de uso permitido são: possuir mais de 25 anos
de idade; comprovação de idoneidade por meio de cer-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa


presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento tidões negativas; comprovação de ocupação lícita e resi-
físico ou mental, por intermédio da prática de ato não dência certa; capacidade técnica e de aptidão psicológica
previsto em lei ou não resultante de medida legal. para o manuseio de arma (salvo quem já tem o porte).
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, O SINARM expedirá autorização de compra de arma de
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incor- fogo (personalíssima) após atendidos tais requisitos. A
re na pena de detenção de um a quatro anos. renovação ocorre a cada 3 anos.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou A empresa que comercializa arma de fogo em ter-
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; ritório nacional é obrigada a comunicar a venda à au-
se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. toridade competente e responde legalmente por essas
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: mercadorias. Para a comercialização entre pessoas físicas
I - se o crime é cometido por agente público; é necessário autorização do SINARM.

328
O certificado de Registro de Arma de Fogo dá direi-
to à posse da arma, isto é, autoriza o seu proprietário a #FicaDica
manter a arma de fogo no interior de sua residência ou
domicílio, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que O caçador para subsistência que der outro
seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabeleci- uso à arma responderá por porte ilegal ou
mento ou empresa. disparo de arma de fogo de uso permitido.
O certificado de registro de arma de fogo será expe-
dido pela Polícia Federal, precedido de autorização do
SINARM. A autorização para o porte de arma de fogo de uso
permitido é de competência da Polícia Federal e somente
será concedida após autorização do SINARM. Compete
FIQUE ATENTO! ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma
Aos residentes em área rural considera-se para os responsáveis pela segurança de cidadãos estran-
residência ou domicílio toda a extensão do geiros em visita ou sediados no Brasil e, ao Comando do
respectivo imóvel rural. Exército o registro e a concessão de porte de trânsito de
arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçado-
res e de representantes estrangeiros em competição in-
O PORTE ternacional oficial de tiro realizada no território nacional.
A autorização para o porte de arma de fogo de uso
Quem possui direito ao porte de arma são: permitido poderá ser concedida com eficácia temporária
e territorial limitada. Todavia, perderá automaticamente
• Integrantes das Forças Armadas; sua eficácia caso o portador dela seja detido ou aborda-
• Integrantes da Força Nacional de Segurança do em estado de embriaguez ou sob efeito de substân-
Pública; cias químicas ou alucinógenas.
• Integrantes das guardas municipais das capitais
dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 CRIMES
mil habitantes;
• Integrantes das guardas municipais dos Municí- Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido
pios com mais de 50.000 mil e menos de 500.000
mil habitantes, quando em serviço; Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo,
• Agentes operacionais da Agência Brasileira de In- acessório ou munição, de USO PERMITIDO, em desacor-
teligência e os agentes do Departamento de Segu- do com determinação legal ou regulamentar, no interior
rança do Gabinete de Segurança Institucional da de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu
Presidência da República; local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsá-
• Integrantes dos órgãos policiais; vel legal do estabelecimento ou empresa.
• Integrantes do quadro efetivo dos agentes e guar- A posse é “intra muros”, no interior da residência ou
das prisionais, os integrantes das escoltas de pre- local de trabalho.
sos e as guardas portuárias;
• Empresas de segurança privada e de transporte de Omissão de Cautela
valores;
• Integrantes das entidades de desporto, cujas ati- Crime omissivo, quando deixa de impedir que menor
vidades esportivas demandem o uso de armas de de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental se
fogo; apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou
• Integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita que seja de sua propriedade.
Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, A mesma pena é aplicada ao proprietário ou diretor
cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário; responsável de empresa de segurança e transporte de
valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

• Tribunais do Poder Judiciário e Ministérios Públi-


cos, para uso exclusivo de servidores de seus qua- comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras
dros pessoais que efetivamente estejam no exercí- formas de extravio de arma de fogo, acessório ou muni-
cio de funções de segurança. ção que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 horas
• Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 depois de ocorrido o fato.
anos que comprovem depender do emprego de
arma de fogo para prover sua subsistência alimen- Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido
tar familiar será concedido pela Polícia Federal o
porte de arma de fogo, na categoria caçador para Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em de-
subsistência. pósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
EMPRESTAR, remeter, empregar, manter sob guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de USO
PERMITIDO, sem autorização e em desacordo com de-
terminação legal ou regulamentar.

329
O porte é “extra muros”, fora da residência ou local Tráfico Internacional de Arma de Fogo
de trabalho.
Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do
Disparo de Arma de Fogo território nacional, a qualquer título, de arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização da autoridade
Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar competente.
habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em Novidade legislativa: incorre na mesma pena quem
direção a ela, desde que essa conduta não tenha como vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição,
finalidade a prática de outro crime. em operação de importação, sem autorização da autori-
O disparo em local não habitado é atípico. dade competente, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
Posse ou Porte de Arma de Fogo de Uso Restrito criminal preexistente.

Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter


FIQUE ATENTO!
em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamen-
te, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda Nos crimes de comércio ilegal e tráfico inter-
ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso nacional a pena é aumentada da metade se
restrito, sem autorização e em desacordo com determi- a arma de fogo, acessório ou munição forem
nação legal ou regulamentar. de uso proibido ou restrito.
Incorre na mesma pena quem: Nos crimes de porte ilegal, disparo, posse ou
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito,
• suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer comércio ilegal e tráfico internacional a pena
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; é aumentada da metade se é praticado por
• modificar as características de arma de fogo, de quem tem direito ao porte ou é reincidente
forma a torná-la equivalente a arma de fogo de ou é reincidente específico.
uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade
policial, perito ou juiz; As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do
laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais
• possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato ex-
interessarem à persecução penal serão encaminhadas
plosivo ou incendiário, sem autorização ou em de-
pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo
sacordo com determinação legal ou regulamentar; de até 48 horas, para destruição ou doação aos órgãos
• portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer de segurança pública ou às Forças Armadas.
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer As armas de fogo e munições apreendidas em de-
outro sinal de identificação raspado, suprimido ou corrência do tráfico de drogas de abuso são perdidas
adulterado; em favor da União e encaminhadas para o Comando do
• vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita- Exército. Essas armas devem ser, após perícia ou visto-
mente, arma de fogo, acessório, munição ou ex- ria que atestem seu bom estado, destinadas com priori-
plosivo a criança ou adolescente; e dade para os órgãos de segurança pública e do sistema
• produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização penitenciário da unidade da federação responsável pela
legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou apreensão.
explosivo. Multa é aplicada à empresa de transporte que permi-
ta o transporte de arma ou munição sem a devida auto-
rização ou com inobservância das normas de segurança;
Se as condutas envolverem arma de fogo de uso proi-
à empresa de produção ou comércio de armamentos
bido, o crime será qualificado, isto é, a pena será maior. que realize publicidade para venda, estimulando o uso
indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações
Comércio Ilegal de Arma de Fogo especializadas.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Por fim, vale dizer que foi criado o Banco Nacional de


Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocul- Perfis Balísticos, para a coleta de dados sobre registros
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, balísticos e seu armazenamento. O objetivo é cadastrar
adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma informações que subsidiarão ações criminais, respeitado
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de o sigilo das informações.
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessó-
rio ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar. EXERCÍCIOS COMENTADOS
Novidade Legislativa: incorre na mesma pena quem
vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, 1. (SELECON – 2020) Teotônio é proprietário rural,
sem autorização ou em desacordo com a determina- atuando em área de pequeno porte onde habita com sua
ção legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, família e colhe para subsistência. E com pequeno exces-
quando presentes elementos probatórios razoáveis de so de produção, atua vendendo os produtos nas feiras
conduta criminal preexistente. próximas.

330
Tendo em vista que não existem órgãos de segurança Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em
pública no distrito onde exerce a agricultura, requer au- lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública
torização para portar arma. Nos termos do estatuto do ou em direção a ela, desde que essa conduta NÃO te-
desarmamento, aos residentes em áreas rurais, maiores nha como finalidade a prática de outro crime.
de vinte e cinco anos, que comprovem depender do
emprego de arma de fogo para prover sua subsistência DOS CRIMES DE PRECONCEITO (LEI N.
alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o 7.716/1989)
porte de arma de fogo, comprovados os requisitos le-
gais, na categoria:
De acordo com o texto expresso da lei, são crimes
a) atirador amador resultantes de discriminação ou preconceito aqueles que
b) competidor eventual se referem à raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
c) caçador para subsistência cional. O STF, todavia, incluiu neste rol a homofobia.
d) profissional de segurança O Plenário do STF entendeu que houve omissão in-
constitucional do Congresso Nacional por não editar lei
Resposta: Letra C. que criminalize atos de homofobia e de transfobia. O Ple-
De acordo com o art. 6º, § 5o do Estatuto do Desarma- nário aprovou a tese proposta pelo relator da ADO, mi-
mento: Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 nistro Celso de Mello, formulada em três pontos. O pri-
anos que comprovem depender do emprego de arma meiro prevê que, até que o Congresso Nacional edite lei
de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar específica, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais
será concedido pela Polícia Federal o porte de arma de ou supostas, enquadram-se nos crimes previstos na Lei
fogo, na categoria caçador para subsistência. 7.716/2018 e, no caso de homicídio doloso, constitui cir-
cunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe.
2. (VUNESP – 2019) Nos moldes da Lei Federal n° No segundo ponto, a tese prevê que a repressão penal
10.826/2003, a comercialização de armas de fogo, aces- à prática da homotransfobia não alcança nem restringe
sórios e munições entre pessoas físicas somente será efe- o exercício da liberdade religiosa, desde que tais mani-
tivada mediante autorização festações não configurem discurso de ódio. Finalmente,
a tese estabelece que o conceito de racismo ultrapassa
a) do Sinarm. aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos e alcan-
b) da Polícia Militar. ça a negação da dignidade e da humanidade de grupos
c) da Polícia Federal. vulneráveis.
d) do Exército. Na lei algumas condutas preconceituosas são descri-
e) da Guarda Municipal. tas como crimes. Por exemplo, impedir o acesso a cargo
público, bem como a promoção funcional. No setor pri-
Resposta: Letra A. vado, obstar emprego, deixar de conceder equipamen-
Conforme dispõe o artigo 4o, § 5o do Estatuto do De- tos, impedir a ascensão funcional, tratar de forma dife-
sarmamento: § 5o A comercialização de armas de fogo, renciada, especialmente quanto ao salário.
acessórios e munições entre pessoas físicas somente
será efetivada mediante autorização do SINARM. #FicaDica
3. (IADES – 2019) Em certo domingo, J. M. S., com von- Ficará sujeito às penas de multa e de pres-
tade livre e consciente, sacou a própria arma, devida- tação de serviços à comunidade, incluindo
mente registrada, e efetuou disparos de arma de fogo, atividades de promoção da igualdade ra-
por diversão, nas proximidades da feira permanente de cial, quem, em anúncios ou qualquer outra
sua cidade. A ação ocorreu por volta de 10 horas, exata- forma de recrutamento de trabalhadores,
mente no momento em que J. M. S. passava de carro pela exigir aspectos de aparência próprios de
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

avenida central, em sentido à rodoviária. Nessa situação raça ou etnia para emprego cujas ativida-
hipotética, ele responderá por des não justifiquem essas exigências.

a) comércio ilegal de arma de fogo.


b) homicídio qualificado tentado. Outras condutas tipificadas são: impedir acesso a es-
c) disparo de arma de fogo em via pública. tabelecimento comercial; a ingresso de aluno (se o crime
d) lesão corporal gravíssima tentada. for praticado contra menor de 18 anos a pena é agravada
e) perigo para a vida ou para a saúde de outrem. em 1/3), recusar hospedagem, recusar atendimento em
restaurantes, impedir o acesso em estabelecimentos es-
Resposta: Letra C. portivos/casas de diversões/clubes, recusar atendimento
Nos termos do artigo 15 do Estatuto do Desarmamen- em salão de cabeleireiro, impedir o acesso às entradas
to. Importante observar que este crime será absorvido sociais de edifícios, não permitir a entrada nas Forças Ar-
caso o agente tenha praticado ou desejava praticar madas, obstar o casamento ou a convivência familiar.
outro crime.

331
Um dos efeitos da condenação é a perda do cargo, 2. (FCC – 2019) Considere:
no caso do servidor público, bem como, a suspensão
do funcionamento do estabelecimento particular (até 3 I. Jadson, empregado de determinada empresa privada,
meses). por motivo de discriminação de raça, teve impedida
É crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou sua ascensão funcional por seu chefe Flávio.
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência II. Alisson exigiu, em anúncio de recrutamento de traba-
nacional. Qualifica-se, em caso de divulgação do nazismo. lhadores, aspectos de aparência próprios de raça ou
Outra qualificadora incide se o crime é cometido por etnia para emprego cujas atividades não justifiquem
intermédio dos meios de comunicação social ou pu- essas exigências.
blicação de qualquer natureza. Neste caso, o juiz pode
determinar: De acordo com a Lei Federal nº 7.716/1989, que define
os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor,
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão Flávio
dos exemplares do material respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofôni- a) ficará sujeito às penas de multa e de prestação de ser-
cas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qual- viços à comunidade, incluindo atividades de promo-
quer meio; ção da igualdade racial, enquanto que Alisson incorre-
III - a interdição das respectivas mensagens ou pági- rá na pena de reclusão.
nas de informação na rede mundial de computadores. b) incorrerá na pena de reclusão, enquanto que Alisson
ficará sujeito às penas de multa e de prestação de ser-
Após o trânsito em julgado da decisão ocorrerá a viços à comunidade, incluindo atividades de promo-
destruição do material apreendido. ção da igualdade racial.
Vale lembrar, por fim, que o racismo é crime inafian- c) incorrerá na pena de detenção, enquanto que Alisson
çável e imprescritível, uma vez que é princípio constitu- ficará sujeito às penas de multa ou de prestação de
cional o repúdio ao terrorismo ou racismo, tema de gran- serviços à comunidade, incluindo atividades de pro-
de preocupação do Constituinte. moção da igualdade racial.
d) incorrerá na pena de reclusão, enquanto que Alisson
ficará sujeito à pena de detenção, não se sujeitando à
EXERCÍCIOS COMENTADOS prestação de serviços à comunidade.
e) e Alisson incorrerão na pena de reclusão, ficando,
1. (FUNDEP – 2019) Marque a alternativa incorreta: ainda, sujeitos às penas de multa ou de prestação de
serviços à comunidade, incluindo atividades de pro-
a) A extinção da punibilidade do crime principal não se moção da igualdade racial.
estende ao crime acessório.
b) São efeitos automáticos da condenação tornar certa a Resposta: Letra B.
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, e a Pois Flávio, ao impedir a ascensão de Jadson por conta
incapacidade para o exercício do poder familiar, da tu- de sua raça, incorreu no crime previsto no artigo 4o da
tela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena Lei 7.716/1989 (“Negar ou obstar emprego em empre-
de reclusão cometidos contra outrem igualmente ti- sa privada”), cuja pena é a reclusão. Já Alisson sofrerá
tular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou a sanção descrita no parágrafo do já citado artigo 4o:
outro descendente ou contra tutelado ou curatelado. § 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de
c) Nos termos da Lei n° 7.716/1989, que define os crimes serviços à comunidade, incluindo atividades de promo-
resultantes de preconceito de raça ou de cor, consti- ção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qual-
tui efeito da condenação a perda do cargo ou função quer outra forma de recrutamento de trabalhadores,
pública, para o servidor público, e a suspensão do fun- exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia
cionamento do estabelecimento particular por prazo para emprego cujas atividades não justifiquem essas
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

não superior a 3 (três) meses; no entanto, tais efeitos exigências.


não são automáticos, devendo ser motivadamente de-
clarados na sentença. 3. (AOCP – 2019) O sujeito que dispõe em seu estabele-
d) É admissível a adoção do regime prisional semiaber- cimento comercial regra, recusando ou impedindo aces-
to aos reincidentes condenados a pena igual ou infe- so ao estabelecimento, negando-se a servir, atender ou
rior a 4 (quatro) anos, se favoráveis as circunstâncias receber clientes ou compradores em razão de raça, cor,
judicias. etnia, religião ou procedência nacional cometerá o delito

Resposta: Letra B. a) de calúnia.


Uma vez que, conforme dispõe o artigo 92, parágrafo b) contra a relação de consumo.
único do CPC, tais efeitos NÃO são automáticos, de- c) de racismo.
vendo ser declarados de forma motivada na sentença. d) de injúria preconceituosa.
e) de homofobia.

332
Resposta: Letra C. Outro avanço se encontra no artigo 27, que garante à
Uma vez que tal conduta se enquadra nos insculpidos vítima o acesso aos serviços da Defensoria Pública e à as-
nos artigos 1o e 5o da Lei 7.716/1989: sistência judiciária tanto na fase policial como na judicial.
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes re- A Lei Maria da Penha criou ainda nova hipótese de
sultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, prisão preventiva, visando garantir a execução das medi-
etnia, religião ou procedência nacional. das de urgência (artigo 42). Com isso, a prisão preventiva
(...) deixou de ser restrita aos crimes apenados com reclusão.
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimen- Ela pode ser decretada de ofício pelo juiz, a requerimen-
to comercial, negando-se a servir, atender ou receber to do Ministério Público ou mediante representação da
cliente ou comprador. autoridade policial (artigo 20).

3. Sua constitucionalidade
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (LEI N. 11.340/2006)
Há quem sustente a inconstitucionalidade da lei, sob
dois argumentos principais:
A Lei Maria da Penha trouxe instrumentos impor-
tantes para uma postura proativa do Estado perante o a) afronta ao princípio da igualdade porque o ho-
problema da violência doméstica contra a mulher, dan- mem não pode ser sujeito passivo;
do-lhe instrumentos de atuação mais eficientes para a b) definição de competências, transbordando os limi-
realização da justiça em seu significado mais profundo, tes da lei, porque tal definição deve ser feita pelo
não apenas como a aplicação fria e cega de regras, mas Poder Judiciário.
como instrumentos de mudança social em prol da eman-
cipação do ser humano. O primeiro argumento não se justifica porque, sob
um aspecto histórico, a mulher sempre foi colocada em
1. Uma justificativa posição menos favorável que o homem, o que levou ao
contexto de inferioridade e submissão que leva à vio-
A Lei Maria da Penha foi recebida pelos juristas com lência doméstica, sendo, portanto, necessárias ações
desconfiança, constituindo objeto de várias críticas, que afirmativas para promover a efetividade do princípio da
em geral buscam desqualificá-la, suscitando dúvidas, igualdade.
apontando erros, identificando imprecisões e até mesmo Já o segundo deve ser afastado porque não é a pri-
proclamando inconstitucionalidades, tudo isto servindo meira vez que o legislador cria competências específicas
de motivo para impedir sua efetividade. (no caso, estabeleceu a criação dos JVDFM e a compe-
No entanto, todas estas críticas apenas demonstram tência cível e criminal das Varas Criminais até que esta
uma injustificável resistência às mudanças na postura ocorra) e, como houve o afastamento da aplicação da
de enfrentamento da violência doméstica, que sempre Lei n. 9.099/95, a definição de competência deixou de
pertencer exclusivamente à esfera do Judiciário.
foi alvo de absoluto descaso por parte do ordenamento
jurídico, principalmente a partir do momento no qual a
lesão corporal leve passou a ser considerada como crime
O STF julgou nas ADI 4424 e ADC 19:
de pequeno potencial ofensivo (podendo os conflitos ser
solucionados de forma consensual). Além disso, tornou-
• o artigo 1º da Lei é constitucional, logo ela não fere
-se popular a punição com o pagamento de cestas bási-
os princípios constitucionais da igualdade e pro-
cas, o que banalizou ainda mais a violência doméstica e
porcionalidade (não é desproporcional ou ilegíti-
a integridade física da vítima. A Lei Maria da Penha veio
mo o uso do sexo como critério de diferenciação,
para mudar esta perspectiva.
visto que a mulher é eminentemente vulnerável no
2. Os avanços tocante a constrangimentos físicos, morais e psico-
lógicos sofridos em âmbito privado);
A Lei Maria da Penha trouxe benefícios significativos e • o artigo 33 da Lei da mesma forma é constitucio-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

de efeito imediato. O maior avanço foi a criação dos Jui- nal, portanto, enquanto não forem organizados os
zados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher Juizados de Violência Doméstica e Familiar, com-
(JVDFM), com competência cível e criminal (artigo 14). pete às varas criminais o julgamento destas causas;
O ideal seria que os JVDFM fossem instalados em • também é constitucional o artigo 44 da Lei, as-
todas as comarcas imediatamente, com especialistas sim, aos crimes praticados com violência domés-
(juízes, promotores e defensores) no atendimento das tica e familiar contra a mulher, não se aplica a Lei
demandas, equipes de atendimento multidisciplinar in- 9.099/95 (Precedente STF, HC 106.212/MS, Plená-
tegrada por profissionais das áreas psicossocial, jurídica rio, 24/03/2011);
e de saúde (artigo 29) e serviço de assistência judiciária • os artigos 12, I; 16 e 41 da Lei Maria da Penha fo-
(artigo 34). No entanto, até que isto ocorra foi atribuída ram interpretados conforme a Constituição para
às Varas Criminais competência cível e criminal (artigos assentar a natureza incondicionada da ação pe-
11 e 33), o que se justifica diante do afastamento da apli- nal em caso de crime de lesão corporal, praticado
cação da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Cíveis e Crimi- mediante violência doméstica e familiar contra a
nais) (artigo 41). mulher.

333
4. Competência Para garantir a efetividade destas medidas, o juiz
pode, a qualquer momento, utilizar força policial (artigo
A violência doméstica está fora do âmbito dos Juiza- 22, §3°) ou decretar a prisão preventiva do agressor (ar-
dos Especiais Criminais, e estes não poderão mais apre- tigo 20).
ciar tal matéria. A instalação dos JDFM é imprescindível e O magistrado pode, ainda, determinar a inclusão
deve ser feita logo que possível. da vítima em programas assistenciais (artigo 9°, §1°). À
Destaca-se que cada denúncia de violência doméstica ofendida é assegurado o acesso prioritário à remoção,
pode gerar duas demandas, porque tanto o expediente se ela for funcionária pública, e, se trabalhar na iniciativa
para a adoção de medidas protetivas de urgência quanto privada, a manutenção do vínculo empregatício por até
o inquérito policial são enviados pela autoridade policial seis meses de for necessário o afastamento do local de
ao juiz e ao Ministério Público. trabalho (artigo 9°, §2°).
Deferida ou não a medida protetiva, é recomendá-
5. Fase policial vel a designação de audiência para se ouvir o agressor
e para tentar resolver consensualmente os temas como
Anteriormente, o único meio de afastar o agressor do guarda dos filhos, regulamentação de visitas, definição
lar era a ação cautelar de separação de corpos. dos alimentos. Realizado o acordo, prossegue o inqué-
Com a Lei Maria da Penha, passaram a ser necessárias rito policial, pois o acordo não significa a renúncia à re-
diversas providências quando comunicada a violência presentação. Na audiência estarão o Ministério Público
doméstica: registra-se a ocorrência, com oitiva da víti- (artigo 25) e as partes com seus advogados (artigo 27).
ma (artigo 12, I), oportunidade na qual esta é informada Após, esgota-se a atividade do JVDFM ou da Vara Cri-
dos direitos e serviços disponíveis existentes (artigo 11, minal no tocante às medidas de urgência. Controvérsias
V), inclusive medidas protetivas disponíveis (artigo. 12, quanto ao adimplemento do acordo no toante a matéria
§1°); a vítima é encaminhada ao hospital com transporte cível ou de Direito de Família devem ser discutidas nas
seguro e acompanhamento para retirar seus pertences varas Cíveis ou de Família.
do lar (artigo 11); instaura-se o inquérito policial (artigo O inquérito policial continua independente do defe-
12, VII); a polícia toma por termo o pedido de medidas rimento de medida protetiva ou de acordo realizado em
urgentes (artigo 12, §1°), formalizando-se a representa- juízo, devendo ser remetido à justiça quando encerrado
ção na mesma ocasião (artigo 12, I); a autoridade policial e distribuído ao mesmo juízo que apreciou a medida
pode solicitar a prisão do agressor (artigo 20). cautelar, que será a este apensada. Em seguida, os autos
Para a busca de medidas protetivas faz-se necessária serão remetidos ao Ministério Público para oferecimento
somente a ouvida da ofendida, anexadas apenas as pro- de denúncia.
vas que estiverem disponíveis e em sua posse (artigo 12,
§2°). Logo, não é preciso tomar depoimento do agressor 7. Ministério Público
ou de testemunhas e nem realizar exame de corpo de
delito, providências que devem instruir exclusivamente o A participação do Ministério Público é indispensável e
inquérito policial. ele tem legitimidade para agir como parte, intervindo nas
No inquérito policial é determinada a realização do ações cíveis e criminais (artigo 25). Pode, ainda, exercer
exame de corpo de delito e outros que se fizerem neces- a defesa dos interesses e direitos transindividuais (artigo
sários (artigo 12, IV) e são colhidos os depoimentos do 37). Devem ser comunicadas ao promotor as medidas
agressor e das testemunhas (artigo 12, VI). adotadas (artigo 22, §1°), podendo ele requerer outras
providências ou a substituição das medidas (artigo 19),
6. Procedimento judicial bem como a prisão do agressor (artigo 20).
Quando a vítima manifestar o interesse em desistir da
O pedido de medidas de urgência é encaminhado à ação, o Ministério Público deverá estar presente (artigo
justiça em até 48 horas, quando é autuado e distribuído 16).
às Varas Criminais, enquanto não existir juízo especializa-
do na comarca. 8. A polêmica sobre o delito de lesão corporal
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

O juiz pode deferir medidas cautelares em sede de


liminar (tenham ela sido requeridas pela ofendida ou A Lei n. 9.099/95 estabeleceu que a lesão corporal
pelo Ministério Público ou não, conforme os artigos 12, leve a lesão culposa são delitos de menor potencial ofen-
III; 18; 19 e 19, §3°), designar audiência de justificação sivo (artigo 88), restando condicionadas à representação.
ou indeferi-las de plano. Assim, o juiz pode determinar Entretanto, não houve modificação no Código Penal.
de ofício as medidas que entender de direito (artigos 20, Já a Lei n. 11.340 (Lei Maria da Penha), em seu arti-
22, §4°, 23 e 24), por exemplo, afastamento do agressor go 41, afastou a aplicação da Lei n. 9.099/95 aos crimes
do lar, impedimento de que este se aproxime da casa, praticados com violência doméstica e familiar contra a
vedação de comunicação com a família, suspensão de mulher, independente da pena prevista.
visitas, encaminhamento da mulher e dos filhos a lugar Desta forma, não é possível falar em ação penal pú-
seguro, fixação de alimentos provisórios ou provisionais, blica condicionada à representação nas lesões corporais
restituição de bens da ofendida, suspensão de procura- leves cometidas no âmbito das relações familiares, diante
ção por esta outorgada ao agressor, proibição temporá- do afastamento por lei posterior da lei que prevê nestes
ria da venda de bens comuns etc. termos.

334
Além disso, o aumento da pena do delito de lesão LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
corporal para 3 anos (artigo 44) afasta a possibilidade
de aplicação de medidas de despenalização e suspensão Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
condicional do processo, somente cabíveis em delitos familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226
que tenham por pena mínima cominada igual ou inferior da Constituição Federal, da Convenção sobre a Elimina-
a 1 ano. ção de Todas as Formas de Discriminação contra as Mu-
O entendimento foi consolidado na súmula 542 do lheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Pu-
Superior Tribunal da Justiça: “A ação penal relativa ao cri- nir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre
me de lesão corporal resultante de violência doméstica a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Fami-
contra a mulher é pública incondicionada”. liar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal,
o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
9. Necessidade de representação e possibilidade providências.
de renúncia O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Pela Lei Maria da Penha, nos crimes de ação penal pú-
blica condicionada, a vítima pode renunciar à represen- TÍTULO I
tação (artigo 16). Esta representação é tomada por termo DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
pela autoridade policial quando ela registra a ocorrência
(artigo 12, I). No entanto, só há esta possibilidade nos Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir
delitos que o Código Penal classifica como de ação pú- a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
blica condicionada à representação, por exemplo, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal,
crimes contra a liberdade sexual e no de ameaça. da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
A vontade de desistir deve ser comunicada pela ofen- de Violência contra a Mulher, da Convenção Intera-
dida ao cartório da Vara na qual foi distribuída a medida mericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
protetiva de urgência, comunicando-se ao juiz que rea- contra a Mulher e de outros tratados internacionais
lizará audiência, o mais rápido possível, na qual deverá ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe
estar presente o Ministério Público. Após a renúncia, de- sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica
verá haver comunicação à autoridade policial para que e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de
arquive o inquérito policial. Se o inquérito já tiver sido assistência e proteção às mulheres em situação de vio-
remetido ao juízo, a extinção somente pode ocorrer até lência doméstica e familiar.
o recebimento da denúncia. Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe,
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
10. Dos delitos e das penas educacional, idade e religião, goza dos direitos funda-
mentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asse-
A Lei Maria da Penha não fez alterações relevantes no guradas as oportunidades e facilidades para viver sem
Código Penal, limitando-se a aumentar a pena máxima e violência, preservar sua saúde física e mental e seu
diminuir a pena mínima do delito de lesão corporal: de aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
seis meses a um ano para de três meses a três anos. Além Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições
disso, estabeleceu uma majorante (artigo 129, §9°, CP) e para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segu-
uma agravante (artigo 61, II, CP). rança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura,
Não deve ser considerado como de ação penal pú- à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer,
blica condicionada à representação os crimes de lesões ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
corporais leves ou culposas, diante do afastamento da respeito e à convivência familiar e comunitária.
Lei n. 9.099/95. Assim, são crimes de ação penal pública § 1º O poder público desenvolverá políticas que visem
incondicionada, motivo pelo qual não é possível a renún- garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito
cia ou a desistência. das relações domésticas e familiares no sentido de res-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Não incidindo a Lei n. 9.099/95 também não há possi- guardá-las de toda forma de negligência, discrimina-
bilidade de suspensão condicional do processo, compo- ção, exploração, violência, crueldade e opressão.
sição de danos ou aplicação imediata de pena não-pri- § 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público
vativa de liberdade. Neste sentido, reforça o artigo 17 da criar as condições necessárias para o efetivo exercício
Lei Maria da Penha. dos direitos enunciados no caput.
Igualmente, por conta do afastamento da Lei dos Jui- Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados
zados Especiais, não pode o Ministério Público propor os fins sociais a que ela se destina e, especialmente,
transação penal ou aplicar imediatamente a pena restriti- as condições peculiares das mulheres em situação de
va de direito ou multa. violência doméstica e familiar.
Entretanto, é possível a suspensão condicional da
pena (artigo 77, CP) e a sua substituição por medida res-
tritiva de direitos (artigo 43, CP), isto porque tais bene-
fícios estão previstos no Código Penal, aplicável na Lei
Maria da Penha.

335
TÍTULO II IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA conduta que configure retenção, subtração, destruição
A MULHER parcial ou total de seus objetos, instrumentos de tra-
CAPÍTULO I balho, documentos pessoais, bens, valores e direitos
DISPOSIÇÕES GERAIS ou recursos econômicos, incluindo os destinados a sa-
tisfazer suas necessidades;
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência V - a violência moral, entendida como qualquer con-
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação duta que configure calúnia, difamação ou injúria.
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano TÍTULO III
moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
de 2015) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida CAPÍTULO I
como o espaço de convívio permanente de pessoas, DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadica-
mente agregadas; Art. 8º A política pública que visa coibir a violência
II - no âmbito da família, compreendida como a co- doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por
munidade formada por indivíduos que são ou se con- meio de um conjunto articulado de ações da União,
sideram aparentados, unidos por laços naturais, por dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de
afinidade ou por vontade expressa; ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, Ministério Público e da Defensoria Pública com as
independentemente de coabitação. áreas de segurança pública, assistência social, saúde,
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas nes- educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
te artigo independem de orientação sexual.
outras informações relevantes, com a perspectiva de
Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mu-
gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às
lher constitui uma das formas de violação dos direitos
conseqüências e à freqüência da violência doméstica e
humanos.
familiar contra a mulher, para a sistematização de da-
dos, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
CAPÍTULO II
periódica dos resultados das medidas adotadas;
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMI-
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos
LIAR CONTRA A MULHER
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de for-
ma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo
contra a mulher, entre outras: com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no inciso
I - a violência física, entendida como qualquer condu- IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição
ta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; Federal ;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer IV - a implementação de atendimento policial espe-
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição cializado para as mulheres, em particular nas Delega-
da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o ple- cias de Atendimento à Mulher;
no desenvolvimento ou que vise degradar ou contro- V - a promoção e a realização de campanhas educa-
lar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, tivas de prevenção da violência doméstica e familiar
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, contra a mulher, voltadas ao público escolar e à socie-
manipulação, isolamento, vigilância constante, perse- dade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumen-
guição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua tos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
intimidade, ridicularização, exploração e limitação do VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, ter-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cau- mos ou outros instrumentos de promoção de parceria
se prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; entre órgãos governamentais ou entre estes e entida-
(Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018) des não-governamentais, tendo por objetivo a imple-
III - a violência sexual, entendida como qualquer mentação de programas de erradicação da violência
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou doméstica e familiar contra a mulher;
a participar de relação sexual não desejada, median- VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Mi-
te intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que litar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e
a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas
modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qual- enunciados no inciso I quanto às questões de gênero
quer método contraceptivo ou que a force ao matri- e de raça ou etnia;
mônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, me- VIII - a promoção de programas educacionais que dis-
diante coação, chantagem, suborno ou manipulação; seminem valores éticos de irrestrito respeito à digni-
ou que limite ou anule o exercício de seus direitos se- dade da pessoa humana com a perspectiva de gênero
xuais e reprodutivos; e de raça ou etnia;

336
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os § 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste
níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos di- artigo não poderá importar ônus de qualquer nature-
reitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou za ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes,
etnia e ao problema da violência doméstica e familiar nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de
contra a mulher. substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº 13.871, de
2019) (Vigência)
CAPÍTULO II § 7º A mulher em situação de violência doméstica e fa-
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE miliar tem prioridade para matricular seus dependen-
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR tes em instituição de educação básica mais próxima
de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição,
Art. 9º A assistência à mulher em situação de vio- mediante a apresentação dos documentos comproba-
lência doméstica e familiar será prestada de forma tórios do registro da ocorrência policial ou do processo
articulada e conforme os princípios e as diretrizes pre- de violência doméstica e familiar em curso. (Incluído
vistos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Siste- pela Lei nº 13.882, de 2019)
ma Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança § 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus
Pública, entre outras normas e políticas públicas de dependentes matriculados ou transferidos conforme o
proteção, e emergencialmente quando for o caso. disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informa-
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da ções será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos
mulher em situação de violência doméstica e familiar órgãos competentes do poder público. (Incluído pela
no cadastro de programas assistenciais do governo fe- Lei nº 13.882, de 2019)
deral, estadual e municipal.
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de vio- CAPÍTULO III
lência doméstica e familiar, para preservar sua integri- DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
dade física e psicológica:
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pú-
violência doméstica e familiar contra a mulher, a auto-
blica, integrante da administração direta ou indireta;
ridade policial que tomar conhecimento da ocorrência
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando ne-
adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.
cessário o afastamento do local de trabalho, por até
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste
seis meses.
artigo ao descumprimento de medida protetiva de ur-
III - encaminhamento à assistência judiciária, quan-
gência deferida.
do for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da
Art. 10-A. É direito da mulher em situação de vio-
ação de separação judicial, de divórcio, de anulação
lência doméstica e familiar o atendimento policial e
de casamento ou de dissolução de união estável pe-
pericial especializado, ininterrupto e prestado por ser-
rante o juízo competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, vidores - preferencialmente do sexo feminino - pre-
de 2019) viamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de
§ 3º A assistência à mulher em situação de violên- 2017)
cia doméstica e familiar compreenderá o acesso aos § 1º A inquirição de mulher em situação de violência
benefícios decorrentes do desenvolvimento científico doméstica e familiar ou de testemunha de violência
e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher,
de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº
Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiên- 13.505, de 2017)
cia Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emo-
necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. cional da depoente, considerada a sua condição pe-
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, culiar de pessoa em situação de violência doméstica e
violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Úni- em situação de violência doméstica e familiar, familia-
co de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os res e testemunhas terão contato direto com investiga-
custos relativos aos serviços de saúde prestados para dos ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluí-
o total tratamento das vítimas em situação de violên- do pela Lei nº 13.505, de 2017)
cia doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim III - não revitimização da depoente, evitando sucessi-
arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado res- vas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos crimi-
ponsável pelas unidades de saúde que prestarem os nal, cível e administrativo, bem como questionamen-
serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) tos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505,
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso de 2017)
em caso de perigo iminente e disponibilizados para o § 2º Na inquirição de mulher em situação de violência
monitoramento das vítimas de violência doméstica ou doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de
familiar amparadas por medidas protetivas terão seus que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o
custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 13.871, seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505,
de 2019) (Vigência) de 2017)

337
I - a inquirição será feita em recinto especialmente VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito po-
projetado para esse fim, o qual conterá os equipamen- licial ao juiz e ao Ministério Público.
tos próprios e adequados à idade da mulher em situa- § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela
ção de violência doméstica e familiar ou testemunha autoridade policial e deverá conter:
e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído I - qualificação da ofendida e do agressor;
pela Lei nº 13.505, de 2017) II - nome e idade dos dependentes;
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas
por profissional especializado em violência doméstica solicitadas pela ofendida.
e familiar designado pela autoridade judiciária ou po- IV - informação sobre a condição de a ofendida ser
licial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) pessoa com deficiência e se da violência sofrida resul-
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico tou deficiência ou agravamento de deficiência preexis-
ou magnético, devendo a degravação e a mídia inte- tente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)
grar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 2º A autoridade policial deverá anexar ao docu-
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de mento referido no § 1º o boletim de ocorrência e có-
violência doméstica e familiar, a autoridade policial pia de todos os documentos disponíveis em posse da
deverá, entre outras providências: ofendida.
I - garantir proteção policial, quando necessário, co- § 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos
municando de imediato ao Ministério Público e ao ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e pos-
Poder Judiciário; tos de saúde.
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na for-
saúde e ao Instituto Médico Legal; mulação de suas políticas e planos de atendimento à
III - fornecer transporte para a ofendida e seus depen- mulher em situação de violência doméstica e familiar,
dentes para abrigo ou local seguro, quando houver darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação
risco de vida; de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mu-
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para asse-
lher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio
gurar a retirada de seus pertences do local da ocorrên-
e de equipes especializadas para o atendimento e a
cia ou do domicílio familiar;
investigação das violências graves contra a mulher.
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos
Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de
nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de as-
2017)
sistência judiciária para o eventual ajuizamento pe-
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
rante o juízo competente da ação de separação ju-
§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
dicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços
dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº
13.894, de 2019)
públicos necessários à defesa da mulher em situação
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e de violência doméstica e familiar e de seus dependen-
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, tes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou
seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles pre- iminente à vida ou à integridade física da mulher em
vistos no Código de Processo Penal: situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e dependentes, o agressor será imediatamente afastado
tomar a representação a termo, se apresentada; do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendi-
II - colher todas as provas que servirem para o esclare- da: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
cimento do fato e de suas circunstâncias; I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, 13.827, de 2019)
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, II - pelo delegado de polícia, quando o Município não
para a concessão de medidas protetivas de urgência; for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827,
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de de 2019)
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

delito da ofendida e requisitar outros exames periciais III - pelo policial, quando o Município não for sede de
necessários; comarca e não houver delegado disponível no mo-
V - ouvir o agressor e as testemunhas; mento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar 2019)
aos autos sua folha de antecedentes criminais, indi- § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste
cando a existência de mandado de prisão ou registro artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24
de outras ocorrências policiais contra ele; (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte a manutenção ou a revogação da medida aplicada,
ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, devendo dar ciência ao Ministério Público concomi-
juntar aos autos essa informação, bem como notificar tantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
a ocorrência à instituição responsável pela concessão § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida
do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído
Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) pela Lei nº 13.827, de 2019)

338
TÍTULO IV I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre
DOS PROCEDIMENTOS as medidas protetivas de urgência;
CAPÍTULO I II - determinar o encaminhamento da ofendida ao ór-
DISPOSIÇÕES GERAIS gão de assistência judiciária, quando for o caso;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao ór-
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das gão de assistência judiciária, quando for o caso, inclu-
causas cíveis e criminais decorrentes da prática de sive para o ajuizamento da ação de separação judicial,
violência doméstica e familiar contra a mulher apli- de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolu-
car-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal ção de união estável perante o juízo competente; (Re-
e Processo Civil e da legislação específica relativa à dação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
criança, ao adolescente e ao idoso que não conflita- III - comunicar ao Ministério Público para que adote
rem com o estabelecido nesta Lei. as providências cabíveis.
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Fami- IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo
liar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880,
competência cível e criminal, poderão ser criados pela de 2019)
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Es- Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão
tados, para o processo, o julgamento e a execução das ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
causas decorrentes da prática de violência doméstica Público ou a pedido da ofendida.
e familiar contra a mulher. § 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser
Parágrafo único. Os atos processuais poderão reali- concedidas de imediato, independentemente de au-
zar-se em horário noturno, conforme dispuserem as diência das partes e de manifestação do Ministério
normas de organização judiciária. Público, devendo este ser prontamente comunicado.
Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de § 2º As medidas protetivas de urgência serão aplica-
divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado das isolada ou cumulativamente, e poderão ser substi-
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. tuídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia,
(Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violên- ameaçados ou violados.
cia Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão § 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Públi-
relacionada à partilha de bens. (Incluído pela Lei nº co ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
13.894, de 2019) protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas,
§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e fa- se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
miliar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério
dissolução de união estável, a ação terá preferência Público.
no juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº 13.894, de Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou
2019) da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: do Ministério Público ou mediante representação da
I - do seu domicílio ou de sua residência; autoridade policial.
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão pre-
III - do domicílio do agressor. ventiva se, no curso do processo, verificar a falta de
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à motivo para que subsista, bem como de novo decretá-
representação da ofendida de que trata esta Lei, só -la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
será admitida a renúncia à representação perante o Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos pro-
juiz, em audiência especialmente designada com tal cessuais relativos ao agressor, especialmente dos per-
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvi- tinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo
do o Ministério Público. da intimação do advogado constituído ou do defensor
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violên- público.


cia doméstica e familiar contra a mulher, de penas de Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar inti-
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem mação ou notificação ao agressor .
como a substituição de pena que implique o paga-
mento isolado de multa. SEÇÃO II
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE
CAPÍTULO II OBRIGAM O AGRESSOR
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
SEÇÃO I Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica
DISPOSIÇÕES GERAIS e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofen- ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
dida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) urgência, entre outras:
horas:

339
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem
com comunicação ao órgão competente, nos termos prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ; e alimentos;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivên- IV - determinar a separação de corpos.
cia com a ofendida; V - determinar a matrícula dos dependentes da ofen-
III - proibição de determinadas condutas, entre as dida em instituição de educação básica mais próxima
quais: do seu domicílio, ou a transferência deles para essa
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das instituição, independentemente da existência de vaga.
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância en- (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)
tre estes e o agressor; Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da so-
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemu- ciedade conjugal ou daqueles de propriedade particu-
nhas por qualquer meio de comunicação; lar da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente,
c) freqüentação de determinados lugares a fim de pre- as seguintes medidas, entre outras:
servar a integridade física e psicológica da ofendida; I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes agressor à ofendida;
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisci- II - proibição temporária para a celebração de atos e
plinar ou serviço similar; contratos de compra, venda e locação de propriedade
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. em comum, salvo expressa autorização judicial;
VI – comparecimento do agressor a programas de III - suspensão das procurações conferidas pela ofen-
recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei nº dida ao agressor;
13.984, de 2020) IV - prestação de caução provisória, mediante depó-
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por sito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes
meio de atendimento individual e/ou em grupo de da prática de violência doméstica e familiar contra a
apoio. (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) ofendida.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório com-
aplicação de outras previstas na legislação em vigor, petente para os fins previstos nos incisos II e III deste
sempre que a segurança da ofendida ou as circunstân- artigo.
cias o exigirem, devendo a providência ser comunica-
da ao Ministério Público. SEÇÃO IV
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontran- (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
do-se o agressor nas condições mencionadas no caput DO CRIME DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS
e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezem- PROTETIVAS DE URGÊNCIA
bro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE
corporação ou instituição as medidas protetivas de ur- URGÊNCIA
gência concedidas e determinará a restrição do porte
de armas, ficando o superior imediato do agressor res- Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere me-
ponsável pelo cumprimento da determinação judicial, didas protetivas de urgência previstas nesta Lei: (In-
sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de cluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
desobediência, conforme o caso. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas proteti- (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
vas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer § 1º A configuração do crime independe da compe-
momento, auxílio da força policial. tência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. § 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a
461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código autoridade judicial poderá conceder fiança. (Incluído
de Processo Civil). pela Lei nº 13.641, de 2018)
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de


SEÇÃO III outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641,
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA de 2018)

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuí- CAPÍTULO III
zo de outras medidas: DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a
programa oficial ou comunitário de proteção ou de Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não
atendimento; for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus violência doméstica e familiar contra a mulher.
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamen- Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de
to do agressor; outras atribuições, nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, quando necessário:

340
I - requisitar força policial e serviços públicos de saú- Parágrafo único. Será garantido o direito de preferên-
de, de educação, de assistência social e de segurança, cia, nas varas criminais, para o processo e o julgamen-
entre outros; to das causas referidas no caput.
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particula-
res de atendimento à mulher em situação de violência TÍTULO VII
doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medi- DISPOSIÇÕES FINAIS
das administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a
quaisquer irregularidades constatadas; Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Do-
III - cadastrar os casos de violência doméstica e fami- méstica e Familiar contra a Mulher poderá ser acom-
liar contra a mulher. panhada pela implantação das curadorias necessárias
e do serviço de assistência judiciária.
CAPÍTULO IV Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA Municípios poderão criar e promover, no limite das
respectivas competências:
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e crimi- I - centros de atendimento integral e multidisciplinar
nais, a mulher em situação de violência doméstica e para mulheres e respectivos dependentes em situação
familiar deverá estar acompanhada de advogado, res- de violência doméstica e familiar;
salvado o previsto no art. 19 desta Lei. II - casas-abrigos para mulheres e respectivos depen-
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de dentes menores em situação de violência doméstica e
violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de familiar;
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratui- III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços
ta, nos termos da lei, em sede policial e judicial, me- de saúde e centros de perícia médico-legal especiali-
diante atendimento específico e humanizado. zados no atendimento à mulher em situação de vio-
lência doméstica e familiar;
TÍTULO V IV - programas e campanhas de enfrentamento da
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR violência doméstica e familiar;
V - centros de educação e de reabilitação para os
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Fami- agressores.
liar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
contar com uma equipe de atendimento multidiscipli- Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e
nar, a ser integrada por profissionais especializados de seus programas às diretrizes e aos princípios desta
nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Lei.
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisci- Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindivi-
plinar, entre outras atribuições que lhe forem reserva- duais previstos nesta Lei poderá ser exercida, concor-
das pela legislação local, fornecer subsídios por escrito rentemente, pelo Ministério Público e por associação
ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, de atuação na área, regularmente constituída há pelo
mediante laudos ou verbalmente em audiência, e de- menos um ano, nos termos da legislação civil.
senvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, Parágrafo único. O requisito da pré-constituição pode-
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendi- rá ser dispensado pelo juiz quando entender que não
da, o agressor e os familiares, com especial atenção às há outra entidade com representatividade adequada
crianças e aos adolescentes. para o ajuizamento da demanda coletiva.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir ava- Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica
liação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a e familiar contra a mulher serão incluídas nas bases
manifestação de profissional especializado, mediante de dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e
a indicação da equipe de atendimento multidisciplinar. Segurança a fim de subsidiar o sistema nacional de
Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua dados e informações relativo às mulheres.
proposta orçamentária, poderá prever recursos para Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

a criação e manutenção da equipe de atendimen- dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas
to multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes informações criminais para a base de dados do Minis-
Orçamentárias. tério da Justiça.
Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro
TÍTULO VI da medida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS 13.827, de 2019)
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de serão registradas em banco de dados mantido e re-
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as gulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, ga-
varas criminais acumularão as competências cível e rantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria
criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes Pública e dos órgãos de segurança pública e de assis-
da prática de violência doméstica e familiar contra a tência social, com vistas à fiscalização e à efetividade
mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, das medidas protetivas. (Incluído pela Lei nº 13.827,
subsidiada pela legislação processual pertinente. de 2019)

341
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, no limite de suas competências e nos ter-
mos das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, EXERCÍCIOS COMENTADOS
poderão estabelecer dotações orçamentárias específi-
cas, em cada exercício financeiro, para a implementa- 1. (FMP – 2017) Em relação à Lei n. 11.340/2006 (Lei
ção das medidas estabelecidas nesta Lei. Maria da Penha), assinale a alternativa CORRETA.
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
outras decorrentes dos princípios por ela adotados. a) Os crimes de ameaça e de lesões corporais leves pra-
Art. 41. Aos crimes praticados com violência domésti- ticados no contexto de violência doméstica e familiar
ca e familiar contra a mulher, independentemente da são de ação penal pública incondicionada.
pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de b) A mulher pode ser sujeito ativo de crime praticado no
setembro de 1995.
contexto de violência doméstica e familiar.
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
c) A ação penal no crime de lesões corporais leves é pú-
outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a
vigorar acrescido do seguinte inciso IV: blica condicionada, segundo a jurisprudência do Su-
“Art. 313. ................................................. premo Tribunal Federal.
................................................................ d) Admite-se a aplicação da suspensão condicional do
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar processo aos autores de crimes praticados no contex-
contra a mulher, nos termos da lei específica, para garan- to de violência doméstica e familiar.
tir a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR) e) As medidas protetivas de urgência vigem durante o
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei prazo decadencial da representação da vítima, ou seja,
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), 6 (seis) meses.
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 61. .................................................. Resposta: Letra B.
................................................................. A violência deve ser dirigida contra mulher, mas não
II - ............................................................ necessariamente deve partir de homem, pois o deter-
................................................................. minante é o contexto da prática de violência – âmbito
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de doméstico, familiar ou afetivo – e não quem a per-
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalida- petrou. A alternativa “a” está errada porque apenas o
de, ou com violência contra a mulher na forma da lei crime de lesões é de ação incondicionada (estando “c”
específica;
errada). Não cabe suspensão condicional do processo
........................................................... ” (NR)
e nem transação penal (súmula 536, STJ). Não se fixa
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar na lei prazo mínimo e máximo de duração das medi-
com as seguintes alterações: das punitivas.
“Art. 129. ..................................................
.................................................................. 2. (VUNESP – 2017) A Lei n° 11.340/2006, conhecida
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des- como Lei Maria da Penha, em casos de prática de violên-
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com cia doméstica contra a mulher,
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevale-
cendo-se o agente das relações domésticas, de coabi- a) determina que seja delegada à mulher a responsabi-
tação ou de hospitalidade: lidade pela entrega de intimações e notificações judi-
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. ciais ao agressor.
.................................................................. b) prevê a aplicação de penas ao agressor como mul-
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será au- tas e distribuição de determinado número de cestas
mentada de um terço se o crime for cometido contra básicas.
pessoa portadora de deficiência.” (NR) c) limita-se à violência na relação homem-mulher, ig-
Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de norando os novos arranjos conjugais e familiares da
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a contemporaneidade.


d) prevê a restrição de visitas do agressor aos dependen-
seguinte redação:
“Art. 152. ...................................................
tes menores, ouvida a equipe de atendimento multi-
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica
contra a mulher, o juiz poderá determinar o compare- disciplinar ou serviço similar.
cimento obrigatório do agressor a programas de recu- e) ignora a violência patrimonial, por não implicar risco
peração e reeducação.” (NR) iminente à integridade física, moral ou psicológica da
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) mulher.
dias após sua publicação.
Resposta: Letra D
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185º da Independência Trata-se de previsão do art. 22, IV da Lei Maria da
e 118º da República. Penha.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Dilma Rousseff

342
I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de
ESTATUTO DO IDOSO (LEI N. 10.741/2003) assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, ga-
rantindo sua participação na comunidade, defenden-
do sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
DIREITOS DO IDOSO. Política Nacional do Idoso. Es- II - o processo de envelhecimento diz respeito à socie-
tatuto do Idoso. Lei 10741, de 1º de outubro de 2003. dade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e
Legislação e princípios institucionais da Defensoria Pú- informação para todos;
blica aplicáveis ao direito do idoso. Legislação estadual III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer
de proteção ao idoso. natureza;
Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 230, IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário
inserido no título VII (Ordem Social), capítulo VII sobre a das transformações a serem efetivadas através desta
proteção da Família, da Criança, do Adolescente, do Jo- política;
vem e do Idoso: V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, par-
ticularmente, as contradições entre o meio rural e o
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o de- urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes
ver de amparar as pessoas idosas, assegurando sua públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta
participação na comunidade, defendendo sua digni- lei.
dade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão execu- Por seu turno, o artigo 4o determina as diretrizes da
tados preferencialmente em seus lares. Política Nacional do Idoso:
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida
a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. I - viabilização de formas alternativas de participação,
ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua
Ainda, a segunda parte do artigo 229, CF preconiza integração às demais gerações;
que “[...] os filhos maiores têm o dever de ajudar e ampa- II - participação do idoso, através de suas organiza-
rar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Conso- ções representativas, na formulação, implementação
e avaliação das políticas, planos, programas e projetos
lida o dever de solidariedade familiar, compensando os
pais que criaram seus filhos quando tinham condições e
a serem desenvolvidos;
III - priorização do atendimento ao idoso através de
que hoje se encontram na posição de necessitados. Con-
suas próprias famílias, em detrimento do atendimento
tudo, este dever de amparo não é exclusivo da família,
asilar, à exceção dos idosos que não possuam condi-
conforme se extrai do artigo 230, CF.
ções que garantam sua própria sobrevivência;
O fato de uma pessoa ter se tornado idosa não a
IV - descentralização político-administrativa;
transforma numa parte dispensável da sociedade, que
V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos
merece isolamento. Pelo contrário, suas experiências de-
nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação
vem ser valorizadas e incorporadas nas práticas sociais,
de serviços;
tornando-as mais adequadas. Assim, Estado, família e VI - implementação de sistema de informações que
sociedade possuem o dever compartilhado de conferir permita a divulgação da política, dos serviços ofereci-
assistência aos idosos. dos, dos planos, programas e projetos em cada nível
O amparo aos idosos inclui múltiplas facetas: parti- de governo;
cipação na comunidade, dignidade, bem-estar e vida. VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a
Além disso, os programas de assistência, que prestam divulgação de informações de caráter educativo sobre
este amparo, devem ser executados de preferência em os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;
seus lares. VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos
O artigo 230, CF também assegura de forma expres- públicos e privados prestadores de serviços, quando
sa a gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos desabrigados e sem família;
maiores de 65 anos. IX - apoio a estudos e pesquisas sobre as questões re-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

lativas ao envelhecimento.
Política Nacional do Idoso Parágrafo único. É vedada a permanência de portado-
res de doenças que necessitem de assistência médica
Apesar da inserção sobre as questões do envelhe- ou de enfermagem permanente em instituições asila-
cimento na Constituição Federal de 1988, somente em res de caráter social.
1994 foi instituída uma política nacional voltada especi-
ficamente para os Idosos, a Política Nacional do Idoso. Do artigo 5o a 9o determinam-se questões sobre or-
A Lei n. 8842/94 tem por objetivo assegurar os direitos ganização e gestão, ao passo que no artigo 10 se fixam
sociais do idoso, criando condições para promover sua as ações governamentais e os órgãos competentes para
autonomia, integração e participação efetiva na socieda- executá-las. Nos termos do artigo 19, “os recursos fi-
de (artigo 1o), considerando como idosa a pessoa maior nanceiros necessários à implantação das ações afetas às
de 60 (sessenta) anos de idade (artigo 2o). áreas de competência dos governos federal, estaduais,
O artigo 3o fixa os princípios da Política Nacional do do Distrito Federal e municipais serão consignados em
Idoso: seus respectivos orçamentos”.

343
O inteiro teor da lei que determina a Política Nacio- Por isso, o Estatuto do Idoso surge como instrumen-
nal do Idoso pode ser acessado em :http://www.planalto. to essencial ao resgate da dignidade inerente a todos
gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm idosos, mediante inclusão social e reforço de direitos
fundamentais. O fato é que a população brasileira está
envelhecendo e necessário se faz garantir que este en-
#FicaDica velhecimento ocorra dentro dos princípios norteadores
A Lei Estadual nº 2.887/2004 disciplina a Polí- do atual texto constitucional. A intervenção legislativa
tica Estadual do Idoso no Amazonas. Esta Lei representada neste estatuto busca efetividade em res-
institui a Semana Estadual do Idoso no âmbi- posta às necessidades emergentes desse segmento da
to do Estado do Amazonas, com objetivo de população.
valorizar a Pessoa Idosa, chamando a atenção
da população para o acelerado processo de TÍTULO I
envelhecimento e a convidando-a para traba- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
lhar na integração de Políticas Públicas para
melhoraria da qualidade de vida da popula- Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a
ção Idosa. Pode ser acessada em: https://sapl. regular os direitos assegurados às pessoas com idade
al.am.leg.br/media/sapl/public/normajuridi- igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
ca/2004/7342/7342_texto_integral.pdf
A Lei nº 10.741/03 define como idoso a pessoa com
idade maior ou igual que 60 anos, valendo-se assim do
critério cronológico para estabelecer os que estão sob o
Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, de 1º de outu- efeito da presente lei.
bro de 2003 Existem outras nomenclaturas utilizadas para se atri-
buir à pessoa idosa, por exemplo, pessoa na terceira ida-
A Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, que ins- de, pessoa na melhor idade, velhos, pessoas em idade
titui o Estatuto do Idoso, dispõe sobre papel da família, avançada, entre outros termos.
da comunidade, da sociedade e do Poder Público de as-
segurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamen-
do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à tais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência fami- -se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportu-
liar e comunitária. nidades e facilidades, para preservação de sua saúde
O panorama demográfico mundial tem apresentado física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelec-
mudanças nos últimos anos devido ao declínio das taxas tual, espiritual e social, em condições de liberdade e
de fertilidade e mortalidade e como decorrência a lon- dignidade.
gevidade tem-se apresentado como um fenômeno real.
O Brasil tem sido surpreendido por uma significativa Os idosos possuem todos os direitos fundamentais
mudança demográfica. Atualmente apresenta cerca de assegurados a todas as outras pessoas, sendo-lhes ga-
15 milhões de idosos e, segundo projeção do IBGE, no rantido gozar destes direitos face aos direitos de todos.
ano de 2025, será o sexto país mais idoso do mundo, Neste sentido, o título II do Estatuto aprofunda direitos
apenas perdendo para a Suíça, França, Estados Unidos, fundamentais de forma específica em relação à condição
Uruguai, Argentina, China, com um contingente de 34 do idoso.
milhões de idosos, cerca de 15% da população.
Diante dessa realidade, diferentes segmentos como Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da so-
a saúde, transporte, habitação, previdência social e edu- ciedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com
cação precisam ser redimensionados para atender esse absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à
novo perfil populacional.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao es-


A sociedade política também assumiu sua responsa- porte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberda-
bilidade diante desse novo panorama demográfico bra- de, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar
sileiro, elaborou a Política Nacional do Idoso e o Estatuto e comunitária.
do Idoso. São leis elaboradas para preservar os direitos Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
do idoso e evitar que essa faixa etária sofra discrimina- I – atendimento preferencial imediato e individualiza-
ções e seja marginalizado na sociedade brasileira. do junto aos órgãos públicos e privados prestadores de
É flagrante na sociedade brasileira um discurso favo- serviços à população;
rável ao idoso, porém inserido em uma realidade prática II – preferência na formulação e na execução de polí-
incompatível, ora reforçado pelo paternalismo, ora pelo ticas sociais públicas específicas;
assistencialismo, ora potencializando essa faixa etária, III – destinação privilegiada de recursos públicos nas
mas sem oferecer um real espaço social. áreas relacionadas com a proteção ao idoso;

344
IV – viabilização de formas alternativas de partici- Alguns tipos específicos de negligências, violências e
pação, ocupação e convívio do idoso com as demais opressões são previstos no título VI do Estatuto como
gerações; crimes contra os idosos. Entretanto, não é suficiente re-
V – priorização do atendimento do idoso por sua pró- primir práticas criminosas contra idosos, mas também é
pria família, em detrimento do atendimento asilar, ex- importante preveni-las.
ceto dos que não a possuam ou careçam de condições
de manutenção da própria sobrevivência; Art. 5o A inobservância das normas de prevenção im-
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos portará em responsabilidade à pessoa física ou jurídi-
nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação ca nos termos da lei.
de serviços aos idosos;
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam O instituto da responsabilidade civil é parte inte-
a divulgação de informações de caráter educativo so- grante do direito obrigacional, uma vez que a principal
bre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e que gera para o seu auto de reparar o dano, mediante o
de assistência social locais. pagamento de indenização que se refere às perdas e da-
IX – prioridade no recebimento da restituição do Im- nos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre em omissão
posto de Renda. que gere dano deve suportar as consequências jurídicas
decorrentes, restaurando-se o equilíbrio social.1
A garantia de prioridade compreende atendimento A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal,
preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos podendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até
públicos e privados prestadores de serviços à população. os limites da herança, embora existam reflexos na ação
Isso significa que todos os segmentos sociais descritos que apure a responsabilidade civil conforme o resultado
na Constituição devem primeiramente proteger e de- na esfera penal (por exemplo, uma absolvição por nega-
fender as pessoas idosas na busca da concretização dos tiva de autoria impede a condenação na esfera cível, ao
seus direitos. Os idosos devem figurar como destinatá- passo que uma absolvição por falta de provas não o faz).
rios de cuidados especiais e preferenciais na elaboração Genericamente, os elementos da responsabilidade ci-
de políticas públicas pelos administradores públicos. vil se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que,
Cabe na análise da prioridade destinada aos idosos por ação ou omissão voluntária, negligência ou impru-
em relação às demais pessoas e até mesmos às crianças, dência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
além do bom senso, que é sempre esperado, o princípio exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo
da proporcionalidade na busca da justiça em cada caso central do instituto da responsabilidade civil, que tem
concreto que este conflito aparecer pela harmonia dos como elementos: ação ou omissão voluntária (agir como
interesses em conflito. não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou
A preferência na formulação e na execução de po- dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma viola-
líticas sociais públicas específicas também tem base na ção de direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal
prioridade estabelecida no art. 230 da CF que vislumbra (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano
o idoso como prioritário, devendo-se assegurar-lhe uma causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente,
velhice com dignidade. No mesmo norte está a destina- que pode ser individual ou coletivo, moral ou material,
ção privilegiada de recursos públicos nas áreas relacio- econômico e não econômico).
nadas com a proteção ao idoso, que deve ser conferido A prática de atos ilícitos contra pessoas idosas gera
com absoluta prioridade à criança e ao adolescente, bem responsabilização civil, em algumas situações, criminal,
como ao idoso. Tais prioridades devem ser conjugadas e se a prática partir de servidor público ou equiparado,
a fim de que um menor sofra detrimento ao que for es- pode gerar responsabilidade administrativa, havendo in-
tabelecido ao idoso e vice-versa. O Poder Público, ao dependência entre elas.
elaborar programas de saúde, educação e ação social
deve igualmente atender prioritariamente a criança e ao Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

adolescente como também ao idoso, pautando-se nos autoridade competente qualquer forma de violação
princípios da proporcionalidade e razoabilidade. a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha
conhecimento.
Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo
de negligência, discriminação, violência, crueldade ou No mais, qualquer violação a direitos dos idosos que
opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação venha um cidadão a ter conhecimento deve imediata-
ou omissão, será punido na forma da lei. mente comunicar a autoridade competente, sob pena de
§ 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação ser responsabilizado nos termos do que está disposto no
aos direitos do idoso. mencionado artigo 5º supra.
§ 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da
prevenção outras decorrentes dos princípios por ela
adotados.
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. ed.
São Paulo: Saraiva, 2005.

345
Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distri- § 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade
to Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei no da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a
8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumpri- preservação da imagem, da identidade, da autono-
mento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei. mia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos
objetos pessoais.
TÍTULO II § 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, co-
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS locando-o a salvo de qualquer tratamento desumano,
CAPÍTULO I violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
DO DIREITO À VIDA
O Estado e a sociedade devem assegurar à pessoa
Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo idosa a liberdade, o respeito e a dignidade. O §1º es-
e a sua proteção um direito social, nos termos desta pecifica o direito à liberdade, que compreende o direito
Lei e da legislação vigente. de ir e vir, opinião e expressão, crença e culto religioso,
esportes e diversões, vida familiar e comunitária, vida
O envelhecimento é colocado como um direito per- política, refúgio, auxílio e orientação. O §2º especifica o
sonalíssimo. A ideia é de que envelhecer é um processo direito ao respeito como inviolabilidade de qualquer tipo
natural que não deve ser combatido, evitado ou negado de integridade física, psíquica e moral. O §3º especifica o
a todo custo. É, ainda, direito social, ou seja, direito hu- direito à dignidade como o direito de não ser posto em
mano de segunda dimensão. qualquer tipo de tratamento desumano, violento, aterro-
rizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa
a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de CAPÍTULO III
políticas sociais públicas que permitam um envelheci- DOS ALIMENTOS
mento saudável e em condições de dignidade.
Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na for-
Cabe ao Estado desenvolver políticas públicas que ma da lei civil.
garantam o direito à vida e à saúde das pessoas idosas. Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o
Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e idoso optar entre os prestadores.
atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão
indiretamente, com a participação de entes públicos ou ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou De-
privados, que visam assegurar determinado direito de fensor Público, que as referendará, e passarão a ter
cidadania, de forma difusa ou para determinado segui- efeito de título executivo extrajudicial nos termos da
mento social, cultural, étnico ou econômico. As políticas lei processual civil.
públicas específicas em relação ao idoso fazem parte da Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem
Política Nacional do Idoso. condições econômicas de prover o seu sustento, im-
põe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito
CAPÍTULO II da assistência social.
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À
DIGNIDADE A obrigação alimentar decorre da intervenção do
poder estatal, dos familiares, cônjuges e até mesmo da
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, asse- sociedade (ao realizar atos de caridade), em relação a
gurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a digni- quem se encontra impossibilitado de fazê-lo por meios
dade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, próprios. Sendo importante notar que os alimentos não
políticos, individuais e sociais, garantidos na Consti- abrangem tão somente a alimentação, mas também ou-
tuição e nas leis. tras utilidades necessárias para o usufruto de uma vida
§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os digna.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

seguintes aspectos: O artigo 1695 do Código Civil Brasileiro estabelece


I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públi- que “são devidos os alimentos quando quem os preten-
cos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições de não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu
legais; trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se re-
II – opinião e expressão; clamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário
III – crença e culto religioso; ao seu sustento”.
IV – prática de esportes e de diversões; E ainda o artigo 1694, também do Código Civil, dis-
V – participação na vida familiar e comunitária; põe que “podem os parentes, os cônjuges ou compa-
VI – participação na vida política, na forma da lei; nheiros pedir uns aos outros os alimentos de que neces-
VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação. sitam para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação”.

346
Por fim, estabelece o §1° do dispositivo supramencio- • Atenção especial às doenças que afetam a popula-
nado: “os alimentos devem ser fixados na proporção das ção idosa: liga-se ao aspecto da igualdade material
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa e ao da atenção especial.
obrigada”.
Desses dispositivos legais, pode-se extrair que são § 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso
dois os pressupostos principais para se reclamar alimen- serão efetivadas por meio de:
tos, quais sejam, a necessidade de quem pleiteia em con- I – cadastramento da população idosa em base
sonância com a possibilidade de quem os fornecerá. territorial;
O reconhecimento da solidariedade implicaria ad- II – atendimento geriátrico e gerontológico em
mitir que todos os obrigados fossem responsáveis de ambulatórios;
igual modo e por igual valor. Como regra, não há soli- III – unidades geriátricas de referência, com pessoal
dariedade de alimentos no direito de família. Contudo, especializado nas áreas de geriatria e gerontologia
por força da lei especial, é incontestável que o Estatuto social;
do Idoso disciplinou de forma contrária às Leis Civis de IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação,
1916 e 2002, adotando como política pública (art. 3º), a para a população que dele necessitar e esteja impossi-
obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do bilitada de se locomover, inclusive para idosos abriga-
Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta priori- dos e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas
dade a efetivação do direito à alimentação. Para tanto, ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas
mudou a natureza da obrigação alimentícia de conjunta com o Poder Público, nos meios urbano e rural;
para solidária, com o objetivo de beneficiar sobremanei- V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontolo-
ra a celeridade do processo, evitando discussões acerca gia, para redução das sequelas decorrentes do agravo
do ingresso dos demais devedores, não escolhidos pelo da saúde.
credor-idoso para figurarem no polo passivo. Ex.: Se um
idoso tiver três filhos e um deles não pagar o valor devi- O §1º fixa as formas especiais de tratamento da po-
do, poderá exigir do outro. pulação idosa, percebendo-se que a atuação se dá na
vertente de controle da população para viabilizar um
CAPÍTULO IV melhor tratamento, o qual deve ser especializado e se
DO DIREITO À SAÚDE dar tanto em ambientes especializados quanto de forma
domiciliar.
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do Obs.: geriatria é a especialidade médica que estuda e
idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – trata das doenças ligadas ao envelhecimento; e geron-
SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, tologia é o estudo dos fenômenos fisiológicos, psicoló-
em conjunto articulado e contínuo das ações e servi- gicos e sociais relacionados ao envelhecimento do ser
ços, para a prevenção, promoção, proteção e recupe- humano.
ração da saúde, incluindo a atenção especial às doen-
ças que afetam preferencialmente os idosos. § 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos,
gratuitamente, medicamentos, especialmente os de
De forma semelhante à Constituição Federal quanto uso continuado, assim como próteses, órteses e ou-
ao direito à saúde em geral, o Estatuto do Idoso fixa: tros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou
reabilitação.
• Direito à atenção integral: é a atenção plena, em
todas dimensões, tanto paliativa quanto preventi- O idoso tem direito a tratamento gratuito da saúde,
va – os objetivos, afinal, são prevenção, promoção, inclusive recebendo medicamentos, próteses, órteses e
proteção e recuperação da saúde; outros recursos.
• Por meio do Sistema Único de Saúde – SUS: é o sis-
tema público de saúde brasileiro, um dos maiores § 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

do mundo, mas a sua presença não exclui a possi- de saúde pela cobrança de valores diferenciados em
bilidade de atuação privada no setor (até mesmo razão da idade.
devido à previsão sobre atenção integral);
• Assegurado o acesso universal e igualitário: o aces- A questão da discriminação do idoso nos planos de
so ao sistema público de saúde deve ser garantido saúde é complexa, porque não inviabiliza, segundo a ju-
a todas pessoas e em condições de igualdade ma- risprudência pátria, de forma plena o reajuste por faixa
terial, ou seja, considerando as específicas necessi- etária. O STJ disse que é possível reajustar por faixa etá-
dades das pessoas (por isso, é devido o tratamento ria se houver previsão contratual, se não forem aplicados
diferenciado ao idoso e ao idoso com deficiência percentuais desarrazoados, se preenchidos os requisitos
ou limitação); da Lei nº 9.656/1998 (dispõe sobre os planos e seguros
• Conjunto articulado e contínuo: as práticas de pre- privados de assistência à saúde), observância da boa-fé
venção, promoção, proteção e recuperação devem objetiva que impede reajustes absurdos e desproporcio-
ser adotadas de forma constante e planejada e, nais (REsp 866.840/SP, j. 07/06/2011).
para tanto, interligada;

347
§ 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limi- O idoso não perde sua autonomia para a tomada de
tação incapacitante terão atendimento especializado, decisões, de modo que caberá a ele decidir sobre sua
nos termos da lei. própria saúde sempre que estiver em suas plenas facul-
dades. Havendo incapacidade, permanente ou transitó-
As pessoas idosas com condições peculiares devem ria, a ordem de tomada de decisões é a seguinte:
receber tratamento diferenciado, especializado.
• Situações não emergenciais – se houver curador,
§ 5º É vedado exigir o comparecimento do idoso enfer- ele tem prioridade, se não houver a decisão cabe
mo perante os órgãos públicos, hipótese na qual será ao familiar, mas se não houver nenhum dos dois
admitido o seguinte procedimento: caberá ao médico, que informará ao Ministério
I - quando de interesse do poder público, o agente Público.
promoverá o contato necessário com o idoso em sua • Situações de urgência – risco de vida + ausência de
residência; ou tempo hábil – cabe ao médico decidir.
II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará
representar por procurador legalmente constituído. Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos
§ 6º É assegurado ao idoso enfermo o atendimento critérios mínimos para o atendimento às necessidades
domiciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação
do Seguro Social - INSS, pelo serviço público de saúde dos profissionais, assim como orientação a cuidadores
ou pelo serviço privado de saúde, contratado ou con- familiares e grupos de autoajuda.
veniado, que integre o Sistema Único de Saúde - SUS,
para expedição do laudo de saúde necessário ao exer- Caberá às instituições de saúde atender a critérios
cício de seus direitos sociais e de isenção tributária. mínimos que viabilizem o atendimento especializado,
devendo treinar e capacitar outras entidades que atuem
Os §§ 5º e 6º foram incluídos pela Lei nº 12.896/2013 paralelamente a elas.
e trata do comparecimento do idoso enfermo em órgãos
públicos, inclusive para realização de perícias:
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de vio-
lência praticada contra idosos serão objeto de notifi-
• Interesse do poder público – agente público deve
cação compulsória pelos serviços de saúde públicos e
ir até a residência;
privados à autoridade sanitária, bem como serão obri-
• Interesse pessoal – representação por procurador.
gatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos
• As perícias do INSS devem se realizar em domicílio.
seguintes órgãos:
I – autoridade policial;
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é as-
segurado o direito a acompanhante, devendo o órgão II – Ministério Público;
de saúde proporcionar as condições adequadas para III – Conselho Municipal do Idoso;
a sua permanência em tempo integral, segundo o cri- IV – Conselho Estadual do Idoso;
tério médico. V – Conselho Nacional do Idoso.
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde res- § 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se violência
ponsável pelo tratamento conceder autorização para contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada
o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossi- em local público ou privado que lhe cause morte, dano
bilidade, justificá-la por escrito. ou sofrimento físico ou psicológico.
§ 2o Aplica-se, no que couber, à notificação compulsó-
Embora o direito a acompanhante no tratamento de ria prevista no caput deste artigo, o disposto na Lei no
saúde seja assegurado, caberá ao profissional de saúde 6.259, de 30 de outubro de 1975 (dispõe sobre a orga-
responsável decidir quanto ele é possível, justificando nização das ações de Vigilância Epidemiológica, sobre
por escrito eventual impossibilidade. o Programa Nacional de Imunizações, estabelece nor-
mas relativas à notificação compulsória de doenças, e
dá outras providências).
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas fa-


culdades mentais é assegurado o direito de optar
pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais O artigo 19 foi alterado e teve dispositivos incluídos
favorável. pela Lei nº 12.461/2011.
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de Sua redação é um pouco confusa e inadequada. Tra-
proceder à opção, esta será feita: balha com notificações que devem ser comunicadas a
I – pelo curador, quando o idoso for interditado; órgãos competentes tanto práticas de violência (por
II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador qualquer ação ou omissão praticada em local público ou
ou este não puder ser contatado em tempo hábil; privado, sendo violência todo caso de morte, dano ou
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de sofrimento físico ou psicológico) quanto de doenças epi-
vida e não houver tempo hábil para consulta a cura- demiológicas (com risco de transmissão em larga escala).
dor ou familiar; Cabe a comunicação aos órgãos descritos nos incisos do
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador caput – autoridade policial, Ministério Público, Conselhos
ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar Municipal, Estadual e Federal; além dos órgãos de vigi-
o fato ao Ministério Público. lância sanitária e outros fixados na Lei nº 6.259/1975.

348
CAPÍTULO V CAPÍTULO VI
DA EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER DA PROFISSIONALIZAÇÃO E DO TRABALHO

Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, es- Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade
porte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços profissional, respeitadas suas condições físicas, inte-
que respeitem sua peculiar condição de idade. lectuais e psíquicas.
Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho
acesso do idoso à educação, adequando currículos, ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de
metodologias e material didático aos programas edu- limite máximo de idade, inclusive para concursos, res-
cacionais a ele destinados. salvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.
§ 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteú- Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em
do relativo às técnicas de comunicação, computação concurso público será a idade, dando-se preferência
e demais avanços tecnológicos, para sua integração à ao de idade mais elevada.
vida moderna. Art. 28. O Poder Público criará e estimulará progra-
§ 2o Os idosos participarão das comemorações de ca- mas de:
ráter cívico ou cultural, para transmissão de conhe- I – profissionalização especializada para os idosos,
cimentos e vivências às demais gerações, no sentido aproveitando seus potenciais e habilidades para ativi-
da preservação da memória e da identidade culturais. dades regulares e remuneradas;
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis II – preparação dos trabalhadores para a aposenta-
de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados doria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por
ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valori- meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme
zação do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos
produzir conhecimentos sobre a matéria. sociais e de cidadania;
Art. 23. A participação dos idosos em atividades cul- III – estímulo às empresas privadas para admissão de
turais e de lazer será proporcionada mediante des- idosos ao trabalho.
contos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos
ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos Como corolário da garantia de proteção ao idoso e
e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respec- do princípio da dignidade que lhes deve ser conferido
tivos locais. o idoso tem direito ao exercício de atividade profissio-
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços nal, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e
ou horários especiais voltados aos idosos, com finali- psíquicas.
dade informativa, educativa, artística e cultural, e ao O trabalho é um direito fundamental da pessoa hu-
público sobre o processo de envelhecimento. mana que não deve encontrar óbice em seu tempo de
Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de uni- vida. A idade somente pode ser considerada um empeci-
versidade aberta para as pessoas idosas e incentiva- lho ao exercício do trabalho somente quando em bene-
rá a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e fício do idoso.
padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a
leitura, considerada a natural redução da capacidade CAPÍTULO VII
visual. DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

O exercício ao direito à educação, cultura, esporte, Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do
lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços dos Regime Geral da Previdência Social observarão, na
idosos deve respeitar sua peculiar condição de idade, sua concessão, critérios de cálculo que preservem o
fundado efetivamente em razões de igualdade material, valor real dos salários sobre os quais incidiram contri-
a fim de proporcionar um tratamento justo ao idoso em buição, nos termos da legislação vigente.
seu meio social. Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manu-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

O respeito à peculiar condição de idade implica em tenção serão reajustados na mesma data de reajuste
afirmar que na medida de suas condições físicas e emo- do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas res-
cionais de usufruir de educação, cultura, esporte, lazer, pectivas datas de início ou do seu último reajustamen-
diversões, espetáculos, produtos e serviços aos idosos to, com base em percentual definido em regulamento,
devem ser destinados oportunidades de participar do observados os critérios estabelecidos pela Lei no 8.213,
meio social em que vive sem lhe acrescentar fardo algum de 24 de julho de 1991.
tendo em vista a sua vulnerabilidade, condição esta alça- Art. 30. A perda da condição de segurado não será
da em caráter de princípio a ser buscado por todos. considerada para a concessão da aposentadoria por
Constitui obrigação do Poder Público criar oportuni- idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o
dades de acesso do idoso à educação, adequando cur- tempo de contribuição correspondente ao exigido
rículos, metodologias e material didático aos programas para efeito de carência na data de requerimento do
educacionais a ele destinados. O idoso que necessitar benefício.
obter formação escolar regular deve ter acesso a pro-
cesso educativo como as demais pessoas na sociedade.

349
Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício pre- § 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu re-
visto no caput observará o disposto no caput e § 2o do presentante legal firmar o contrato a que se refere o
art. 3o da Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, caput deste artigo.
ou, não havendo salários-de-contribuição recolhidos Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco
a partir da competência de julho de 1994, o disposto social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a de-
no art. 35 da Lei no 8.213, de 1991. pendência econômica, para os efeitos legais.
Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a bene-
fícios, efetuado com atraso por responsabilidade da Já a assistência tem caráter não-contributivo visando
Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índi- ao amparo das pessoas necessitadas, conforme a previ-
ce utilizado para os reajustamentos dos benefícios do são do art. 230 da CRFB/88, que a assistência social será
Regime Geral de Previdência Social, verificado no pe- prestada a quem dela necessitar independente de con-
ríodo compreendido entre o mês que deveria ter sido tribuição. A assistência tem caráter não-contributivo vi-
pago e o mês do efetivo pagamento.
sando ao amparo das pessoas necessitadas, conforme a
Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a
previsão do art. 230 da CRFB/88, que a assistência social
data-base dos aposentados e pensionistas.
será prestada a quem dela necessitar independente de
contribuição.
A data base de uma categoria profissional é a data
destinada a correção salarial e a discussão e revisão das
condições de trabalho fixadas em acordo, convenção ou CAPÍTULO IX
dissídio coletivo. DA HABITAÇÃO
Este Estatuto ao dispor sobre o regime da Previdên-
cia Social reconhece que este constitui direito essencial a Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio
conferir dignidade ao trabalhador em especial aos idosos da família natural ou substituta, ou desacompanhado
que por muito tempo contribuíram a fim de fazer jus a de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda,
este benefício. em instituição pública ou privada.
A Previdência Social constitui um seguro coletivo que § 1o A assistência integral na modalidade de entidade
visa a cobertura de riscos sociais, cujo objetivo está deli- de longa permanência será prestada quando verifica-
neado no art. 1° da Lei 8.213/1991, que é assegurar aos da inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono
seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, ou carência de recursos financeiros próprios ou da
por motivo de incapacidade, desemprego voluntário, família.
idade avançada, tempo de contribuição, encargos fami- § 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao ido-
liares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam so fica obrigada a manter identificação externa visível,
economicamente. sob pena de interdição, além de atender toda a legis-
lação pertinente.
CAPÍTULO VIII § 3o As instituições que abrigarem idosos são obriga-
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL das a manter padrões de habitação compatíveis com
as necessidades deles, bem como provê-los com ali-
Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, mentação regular e higiene indispensáveis às normas
de forma articulada, conforme os princípios e diretri- sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.
zes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou
Política Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde
subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de
e demais normas pertinentes.
prioridade na aquisição de imóvel para moradia pró-
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco)
pria, observado o seguinte:
anos, que não possuam meios para prover sua subsis-
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das uni-
tência, nem de tê-la provida por sua família, é assegu-
rado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos dades habitacionais residenciais para atendimento
termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. aos idosos; (Redação dada pela Lei nº 12.418, de 2011)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer II – implantação de equipamentos urbanos comunitá-
rios voltados ao idoso;
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

membro da família nos termos do caput não será


computado para os fins do cálculo da renda familiar III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanís-
per capita a que se refere a Loas. ticas, para garantia de acessibilidade ao idoso;
Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou IV – critérios de financiamento compatíveis com os
casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação rendimentos de aposentadoria e pensão.
de serviços com a pessoa idosa abrigada. Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas
§ 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, para atendimento a idosos devem situar-se, preferen-
é facultada a cobrança de participação do idoso no cialmente, no pavimento térreo. (Incluído pela Lei nº
custeio da entidade. 12.419, de 2011)
§ 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho
Municipal da Assistência Social estabelecerá a forma As ações do Estado visando conferir a pessoa idosa
de participação prevista no § 1o, que não poderá ex- moradia digna devem alcançar os programas habita-
ceder a 70% (setenta por cento) de qualquer benefício cionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos,
previdenciário ou de assistência social percebido pelo sendo que nestes programas o idoso deve ter prioridade
idoso. na aquisição de imóvel para moradia própria.

350
Alguns requisitos devem ser observados nestes pro- Essa benesse não alcança os serviços de transportes
gramas visando minimizar a situação do idoso e a confe- seletivos destinado a determinadas categorias de pes-
rir-lhe moradia digna, como a reserva de pelo menos 3% soas, como servidores de determinado órgão ou empre-
(três por cento) das unidades habitacionais residenciais sa pública, estudantes etc., como também não alcança o
para atendimento aos idosos. serviço de transporte especial, como os ônibus executi-
vos que oferecem serviço e atendimento diferenciado ao
CAPÍTULO X usuário.
DO TRANSPORTE
TÍTULO III
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos
CAPÍTULO I
públicos urbanos e semiurbanos, exceto nos serviços
seletivos e especiais, quando prestados paralelamente DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
aos serviços regulares.
§ 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são apli-
apresente qualquer documento pessoal que faça pro- cáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
va de sua idade. forem ameaçados ou violados:
§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que tra- I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
ta este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou
dos assentos para os idosos, devidamente identifica- entidade de atendimento;
dos com a placa de reservado preferencialmente para III – em razão de sua condição pessoal.
idosos.
§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etá- Medidas de proteção são providências que serão
ria entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, tomadas para resguardar a vítima de violação, exposta
ficará a critério da legislação local dispor sobre as a situação de risco. O artigo 43 leva em consideração a
condições para exercício da gratuidade nos meios de adoção da doutrina da proteção integral pelo estatuto
transporte previstos no caput deste artigo. do idoso. As medidas de proteção se aplicam ao idoso
em situação de risco, que surgiu em razão de qualquer
Art. 40. No sistema de transporte coletivo inte-
restadual observar-se-á, nos termos da legislação
dos responsáveis por seu cuidado (Estado, família, socie-
específica:
dade). Existem inúmeras situações de risco que justificam
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veícu-
lo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) a adoção de medidas, por exemplo, agressões físicas,
salários-mínimos; psíquicas, abandono material ou afetivo (fundado no
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no míni- dever de solidariedade familiar), maus-tratos em geral.
mo, no valor das passagens, para os idosos que exce- Além das medidas de proteção em favor do agredido,
derem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior deverão ser tomadas medidas de punição com relação
a 2 (dois) salários-mínimos. ao agressor.
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes de-
finir os mecanismos e os critérios para o exercício dos CAPÍTULO II
direitos previstos nos incisos I e II. DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO
Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos
termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas
nos estacionamentos públicos e privados, as quais de- nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulati-
verão ser posicionadas de forma a garantir a melhor vamente, e levarão em conta os fins sociais a que se
comodidade ao idoso. destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e
Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança comunitários.
do idoso nos procedimentos de embarque e desem-
barque nos veículos do sistema de transporte coletivo.
Nada impede a aplicação cumulada de mais de uma
(Redação dada pela Lei nº 12.899, de 2013)
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

medida de proteção. Caberá a adoção de quantas e quais


Está presente no Estatuto o direito fundamental do forem necessárias para remover o idoso da situação de
idoso ao transporte. Estabelece-se que os idosos maiores risco.
de 65 (sessenta e cinco) anos tem assegurado a gratuida-
de dos transportes coletivos públicos urbanos e semiur- Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas
banos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a
prestados paralelamente aos serviços regulares. requerimento daquele, poderá determinar, dentre ou-
Assim, essa gratuidade compreende o transporte ur- tras, as seguintes medidas:
bano coletivo, aquele transporte público oferecido a to- I – encaminhamento à família ou curador, mediante
das as pessoas a fim de que se desloquem diariamente termo de responsabilidade;
na realização de suas atividades diversas e o transporte II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
semiurbano que tem as características do transporte co- III – requisição para tratamento de sua saúde, em regi-
letivo, mas é prestado em áreas que ultrapassa os limites me ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
de municípios, em grandes centros metropolitanos.

351
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de CAPÍTULO II
auxílio, orientação e tratamento a usuários dependen- DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO
tes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à
pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação; Art. 48. As entidades de atendimento são responsá-
V – abrigo em entidade; veis pela manutenção das próprias unidades, observa-
VI – abrigo temporário. das as normas de planejamento e execução emanadas
do órgão competente da Política Nacional do Idoso,
O Ministério Público é a instituição responsável por conforme a Lei no 8.842, de 1994.
determinar ou requerer as medidas de proteção. Não é Parágrafo único. As entidades governamentais e não-
qualquer medida que o Ministério Público pode deter- -governamentais de assistência ao idoso ficam sujeitas
minar diretamente, mas apenas aquelas que não carac- à inscrição de seus programas, junto ao órgão com-
terizem restrições involuntárias que afetem o direito de petente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal
liberdade (por exemplo, não pode de ofício determinar a da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho
internação compulsória). Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa, especificando
As medidas descritas no rol do artigo 45 são exempli- os regimes de atendimento, observados os seguintes
ficativas. Por exemplo, é possível aplicar as medidas pro- requisitos:
tetivas de urgência da Lei Maria da Penha e as medidas I – oferecer instalações físicas em condições adequadas
cautelares do CPP, quando necessário (como quando o de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
idoso for vítima de crime). II – apresentar objetivos estatutários e plano de traba-
Interessante observar que no artigo 45 se prevê a lho compatíveis com os princípios desta Lei;
possibilidade de que a medida de proteção afete pessoa III – estar regularmente constituída;
da convivência do idoso, caso se trate de dependente IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
químico que lhe causa perturbação. Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de
institucionalização de longa permanência adotarão os
TÍTULO IV seguintes princípios:
DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO I – preservação dos vínculos familiares;
CAPÍTULO I II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;
DISPOSIÇÕES GERAIS III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo
em caso de força maior;
Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á IV – participação do idoso nas atividades comunitá-
por meio do conjunto articulado de ações governa- rias, de caráter interno e externo;
mentais e não-governamentais da União, dos Estados, V – observância dos direitos e garantias dos idosos;
do Distrito Federal e dos Municípios. VI – preservação da identidade do idoso e oferecimen-
to de ambiente de respeito e dignidade.
A exigência de uma forma articulada de política de Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora
atendimento, consolidando a proteção integral, exige de atendimento ao idoso responderá civil e criminal-
posturas não apenas do Estado mas também de entes mente pelos atos que praticar em detrimento do idoso,
não-governamentais. sem prejuízo das sanções administrativas.
O artigo 49 é aplicável às instituições que tenham
Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento: programas de longa permanência. Seu parágrafo úni-
I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, co traz a regra da independência das instâncias (res-
de 4 de janeiro de 1994; (A lei dispõe sobre a política ponsabilidade civil, penal e administrativa – indepen-
nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dentes entre si).
dá outras providências) Art. 50. Constituem obrigações das entidades de
II – políticas e programas de assistência social, em ca- atendimento: (rol exemplificativo)
ráter supletivo, para aqueles que necessitarem; I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

III – serviços especiais de prevenção e atendimento às com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as
vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abu- obrigações da entidade e prestações decorrentes do
so, crueldade e opressão; (serviços sociais, jurídicos, de contrato, com os respectivos preços, se for o caso;
saúde e psicológicos) II – observar os direitos e as garantias de que são titu-
IV – serviço de identificação e localização de parentes lares os idosos;
ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e ali-
e instituições de longa permanência; mentação suficiente;
V – proteção jurídico-social por entidades de defe- IV – oferecer instalações físicas em condições adequa-
sa dos direitos dos idosos; (ex.: MP, OAB, Defensoria, das de habitabilidade;
ONG) V – oferecer atendimento personalizado;
VI – mobilização da opinião pública no sentido da VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos
participação dos diversos segmentos da sociedade no familiares;
atendimento do idoso. VII – oferecer acomodações apropriadas para recebi-
mento de visitas;

352
VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a ne- Art. 55. As entidades de atendimento que descumpri-
cessidade do idoso; rem as determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem
IX – promover atividades educacionais, esportivas, cul- prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus
turais e de lazer; dirigentes ou prepostos, às seguintes penalidades, ob-
X – propiciar assistência religiosa àqueles que deseja- servado o devido processo legal:
rem, de acordo com suas crenças; I – as entidades governamentais:
XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso; a) advertência;
XII – comunicar à autoridade competente de saú- b) afastamento provisório de seus dirigentes;
de toda ocorrência de idoso portador de doenças c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
infectocontagiosas; d) fechamento de unidade ou interdição de programa;
XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público II – as entidades não-governamentais:
requisite os documentos necessários ao exercício da a) advertência;
cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei; b) multa;
XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens mó- c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas
veis que receberem dos idosos; públicas;
XV – manter arquivo de anotações onde constem data d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
e circunstâncias do atendimento, nome do idoso, res- e) proibição de atendimento a idosos a bem do inte-
ponsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus resse público.
pertences, bem como o valor de contribuições, e suas § 1o Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer
alterações, se houver, e demais dados que possibilitem tipo de fraude em relação ao programa, caberá o afas-
sua identificação e a individualização do atendimento; tamento provisório dos dirigentes ou a interdição da
XVI – comunicar ao Ministério Público, para as pro- unidade e a suspensão do programa. (pode ser uma
vidências cabíveis, a situação de abandono moral ou medida cautelar)
material por parte dos familiares; § 2o A suspensão parcial ou total do repasse de verbas
XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com públicas ocorrerá quando verificada a má aplicação
formação específica. ou desvio de finalidade dos recursos.
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lu- § 3o Na ocorrência de infração por entidade de aten-
crativos prestadoras de serviço ao idoso terão direito à dimento, que coloque em risco os direitos assegura-
assistência judiciária gratuita. dos nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério
Público, para as providências cabíveis, inclusive para
Quando as instituições filantrópicas ou sem fins lucra- promover a suspensão das atividades ou dissolução da
tivos necessitarem ingressar ou responder judicialmente, entidade, com a proibição de atendimento a idosos a
terão direito à assistência judiciária gratuita. bem do interesse público, sem prejuízo das providên-
cias a serem tomadas pela Vigilância Sanitária.
CAPÍTULO III § 4o Na aplicação das penalidades, serão considera-
DA FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES DE ATENDI- das a natureza e a gravidade da infração cometida,
MENTO os danos que dela provierem para o idoso, as circuns-
tâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes
Art. 52. As entidades governamentais e não-gover- da entidade.
namentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas
pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilân- Para aplicar a penalidade é preciso considerar: 1) na-
cia Sanitária e outros previstos em lei. tureza e gravidade da infração; 2) danos causados; 3)
Art. 53. O art. 7o da Lei no 8.842, de 1994, passa a agravantes e atenuantes; 4) antecedentes da entidade.
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o CAPÍTULO IV
art. 6o desta Lei a supervisão, o acompanhamen- DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

to, a fiscalização e a avaliação da política nacio-


nal do idoso, no âmbito das respectivas instâncias Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir
político-administrativas.» as determinações do art. 50 desta Lei: (Fixa as obriga-
Art. 54. Será dada publicidade das prestações de con- ções das entidades de atendimento)
tas dos recursos públicos e privados recebidos pelas Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
entidades de atendimento. 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracteriza-
do como crime, podendo haver a interdição do esta-
As entidades possuem, então, o dever de prestar con- belecimento até que sejam cumpridas as exigências
tas. O dever de publicidade pode ser excluído em casos legais.
excepcionais. Parágrafo único. No caso de interdição do estabele-
cimento de longa permanência, os idosos abrigados
serão transferidos para outra instituição, a expensas
do estabelecimento interditado, enquanto durar a
interdição.

353
Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o respon- CAPÍTULO VI
sável por estabelecimento de saúde ou instituição de DA APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES
longa permanência de comunicar à autoridade com- EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO
petente os casos de crimes contra idoso de que tiver
conhecimento: Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedi-
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ mento administrativo de que trata este Capítulo as
3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso disposições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de 1977
de reincidência. (infrações à legislação sanitária federal), e 9.784, de
Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei 29 de janeiro de 1999 (processo administrativo).
sobre a prioridade no atendimento ao idoso: Art. 65. O procedimento de apuração de irregularida-
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ de em entidade governamental e não-governamental
1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada de atendimento ao idoso terá início mediante petição
pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso. fundamentada de pessoa interessada ou iniciativa do
Ministério Público.
A aplicação de sanções administrativas decorre do Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
poder de polícia do Estado, fazendo valer a predominân- judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar limi-
cia do interesse público sobre o particular. narmente o afastamento provisório do dirigente da
entidade ou outras medidas que julgar adequadas,
CAPÍTULO V para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante deci-
DA APURAÇÃO ADMINISTRATIVA DE INFRAÇÃO são fundamentada.
ÀS NORMAS DE PROTEÇÃO AO IDOSO Art. 67. O dirigente da entidade será citado para,
no prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita,
Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo podendo juntar documentos e indicar as provas a
IV serão atualizados anualmente, na forma da lei. produzir.
Art. 60. O procedimento para a imposição de penali- Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na
dade administrativa por infração às normas de prote- conformidade do art. 69 (segue o CPC) ou, se neces-
ção ao idoso terá início com requisição do Ministério sário, designará audiência de instrução e julgamento,
Público ou auto de infração elaborado por servidor deliberando sobre a necessidade de produção de ou-
efetivo e assinado, se possível, por duas testemunhas. tras provas.
§ 1o No procedimento iniciado com o auto de infração § 1o Salvo manifestação em audiência, as partes e o
poderão ser usadas fórmulas impressas, especifican- Ministério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer
do-se a natureza e as circunstâncias da infração. alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em
§ 2o Sempre que possível, à verificação da infração igual prazo.
seguir-se-á a lavratura do auto, ou este será lavra- § 2o Em se tratando de afastamento provisório ou de-
do dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo finitivo de dirigente de entidade governamental, a au-
justificado. toridade judiciária oficiará a autoridade administra-
Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a tiva imediatamente superior ao afastado, fixando-lhe
apresentação da defesa, contado da data da intima- prazo de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à
ção, que será feita: substituição.
I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quan- § 3o Antes de aplicar qualquer das medidas, a autori-
do for lavrado na presença do infrator; dade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
II – por via postal, com aviso de recebimento. irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o
Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do ido- processo será extinto, sem julgamento do mérito.
so, a autoridade competente aplicará à entidade de § 4o A multa e a advertência serão impostas ao diri-
atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo gente da entidade ou ao responsável pelo programa
da iniciativa e das providências que vierem a ser ado- de atendimento.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

tadas pelo Ministério Público ou pelas demais institui- 1 – Início – Petição fundamentada do interessado ou
ções legitimadas para a fiscalização. do Ministério Público;
Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a 2 – Decisão liminar – juiz de forma fundamentada,
vida ou a saúde da pessoa idosa abrigada, a autorida- ouvido o MP, pode decretar o afastamento provisório
de competente aplicará à entidade de atendimento as do dirigente ou outra medida para evitar lesões (prazo
sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e de 24 horas para nomeação de substituto);
das providências que vierem a ser adotadas pelo Mi- 3 – Defesa – citado, o dirigente tem 10 dias para ofe-
nistério Público ou pelas demais instituições legitima- recer resposta e juntar provas;
das para a fiscalização. 4 – Audiência de instrução e julgamento – juiz poderá
1 – Início: a) requisição do MP; b) auto de infração seguir o rito comum do CPC ou designar AIJ para pro-
assinado por duas testemunhas, caso possível; duzir outras provas;
2 – Defesa: autuado terá 10 dias para defesa; 5 – Alegações finais – partes e MP terão 5 dias para
3 – Aplicação de penalidade – sanções regulamentares apresentar as alegações finais se elas não tiverem sido
(mais leves, as graves serão apuradas judicialmente). feitas em audiência;

354
6 – Decisão definitiva – juiz decide em 5 dias, multa e CAPÍTULO II
advertência aplicadas ao responsável pelo programa DO MINISTÉRIO PÚBLICO
ou ao dirigente da entidade.
Art. 72. (VETADO)
ATENÇÃO: removidas as irregularidades o processo é Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas
extinto sem julgamento do mérito. nesta Lei, serão exercidas nos termos da respectiva Lei
Orgânica.
TÍTULO V Art. 74. Compete ao Ministério Público:
DO ACESSO À JUSTIÇA I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para
CAPÍTULO I a proteção dos direitos e interesses difusos ou cole-
DISPOSIÇÕES GERAIS tivos, individuais indisponíveis e individuais homogê-
neos do idoso;
Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de
deste Capítulo, o procedimento sumário previsto no interdição total ou parcial, de designação de curador
Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os especial, em circunstâncias que justifiquem a medida
prazos previstos nesta Lei. e oficiar em todos os feitos em que se discutam os di-
reitos de idosos em condições de risco;
Hoje o CPC apenas tem um procedimento comum. III – atuar como substituto processual do idoso em si-
tuação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta
Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especiali- Lei;
zadas e exclusivas do idoso. IV – promover a revogação de instrumento procurató-
rio do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta
A criação de varas especializadas é facultativa. Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;
V – instaurar procedimento administrativo e, para
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos instruí-lo:
processos e procedimentos e na execução dos atos e a) expedir notificações, colher depoimentos ou escla-
diligências judiciais em que figure como parte ou in- recimentos e, em caso de não comparecimento injusti-
terveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 ficado da pessoa notificada, requisitar condução coer-
(sessenta) anos, em qualquer instância. citiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
§ 1o O interessado na obtenção da prioridade a que b) requisitar informações, exames, perícias e docu-
alude este artigo, fazendo prova de sua idade, reque- mentos de autoridades municipais, estaduais e fede-
rerá o benefício à autoridade judiciária competente rais, da administração direta e indireta, bem como
para decidir o feito, que determinará as providências a promover inspeções e diligências investigatórias;
serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em c) requisitar informações e documentos particulares
local visível nos autos do processo. de instituições privadas;
§ 2o A prioridade não cessará com a morte do bene- VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências in-
ficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérsti- vestigatórias e a instauração de inquérito policial,
te, companheiro ou companheira, com união estável, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de
maior de 60 (sessenta) anos. proteção ao idoso;
§ 3o A prioridade se estende aos processos e procedi- VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
mentos na Administração Pública, empresas presta- legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas
doras de serviços públicos e instituições financeiras, ao judiciais e extrajudiciais cabíveis;
atendimento preferencial junto à Defensoria Pública VIII – inspecionar as entidades públicas e particula-
da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação res de atendimento e os programas de que trata esta
aos Serviços de Assistência Judiciária. Lei, adotando de pronto as medidas administrativas
§ 4o Para o atendimento prioritário será garantido ao ido- ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

so o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com porventura verificadas;


a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis. IX – requisitar força policial, bem como a colabora-
ção dos serviços de saúde, educacionais e de assis-
Fixa-se no artigo 71 a prioridade na tramitação de tência social, públicos, para o desempenho de suas
processos e procedimentos em geral caso seja parte ou atribuições;
interveniente (terceiro) pessoa idosa maior de 60 anos. A X – referendar transações envolvendo interesses e di-
concessão de prioridade deve ser requerida no processo reitos dos idosos previstos nesta Lei.
juntando-se prova documental. Caso o interessado fale- § 1o A legitimação do Ministério Público para as ações
ça e seja sucedido no processo por cônjuge maior de 60 cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros,
anos permanece o benefício. nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.
§ 2o As atribuições constantes deste artigo não ex-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade
e atribuições do Ministério Público.

355
§ 3o O representante do Ministério Público, no exercí- § 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
cio de suas funções, terá livre acesso a toda entidade nistérios Públicos da União e dos Estados na defesa
de atendimento ao idoso. dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não § 2o Em caso de desistência ou abandono da ação por
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Públi- associação legitimada, o Ministério Público ou outro
co na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta legitimado deverá assumir a titularidade ativa.
Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegi-
partes, podendo juntar documentos, requerer diligên- dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de
cias e produção de outras provas, usando os recursos ação pertinentes.
cabíveis. Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de
MP = parte ou fiscal da lei. Quando não for um, será autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
outro. exercício de atribuições de Poder Público, que lesem
Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qual- direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação
quer caso, será feita pessoalmente. mandamental, que se regerá pelas normas da lei do
Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Públi- mandado de segurança.
co acarreta a nulidade do feito, que será declarada Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a
interessado. tutela específica da obrigação ou determinará provi-
Se o MP não intervir, haverá nulidade. dências que assegurem o resultado prático equivalen-
te ao adimplemento.
CAPÍTULO III § 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFU- vendo justificado receio de ineficácia do provimento
SOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente
OU HOMOGÊNEOS ou após justificação prévia, na forma do art. 273 do
Código de Processo Civil.
Art. 78. As manifestações processuais do representan- § 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1o ou na senten-
te do Ministério Público deverão ser fundamentadas. ça, impor multa diária ao réu, independentemente do
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegura- obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimen-
dos ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento to do preceito.
insatisfatório de: § 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em
I – acesso às ações e serviços de saúde; julgado da sentença favorável ao autor, mas será devi-
II – atendimento especializado ao idoso portador de da desde o dia em que se houver configurado.
deficiência ou com limitação incapacitante; Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei re-
III – atendimento especializado ao idoso portador de verterão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta
doença infectocontagiosa; deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, fican-
IV – serviço de assistência social visando ao amparo do vinculados ao atendimento ao idoso.
do idoso. Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo (trinta) dias após o trânsito em julgado da decisão
não excluem da proteção judicial outros interesses di- serão exigidas por meio de execução promovida pelo
fusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogê- Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual
neos, próprios do idoso, protegidos em lei. iniciativa aos demais legitimados em caso de inércia
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão pro- daquele.
postas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
competência absoluta para processar a causa, ressal- recursos, para evitar dano irreparável à parte.
vadas as competências da Justiça Federal e a compe- Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impu-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

tência originária dos Tribunais Superiores. ser condenação ao Poder Público, o juiz determinará
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses di- a remessa de peças à autoridade competente, para
fusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogê- apuração da responsabilidade civil e administrativa
neos, consideram-se legitimados, concorrentemente: do agente a que se atribua a ação ou omissão.
I – o Ministério Público; Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os julgado da sentença condenatória favorável ao idoso
Municípios; sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-
III – a Ordem dos Advogados do Brasil; -lo o Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos
IV – as associações legalmente constituídas há pelo demais legitimados, como assistentes ou assumindo o
menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins ins- polo ativo, em caso de inércia desse órgão.
titucionais a defesa dos interesses e direitos da pes- Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não
soa idosa, dispensada a autorização da assembleia, se haverá adiantamento de custas, emolumentos, hono-
houver prévia autorização estatutária. rários periciais e quaisquer outras despesas.

356
Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Mi- Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos,
nistério Público. coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, con-
Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deve- sideram-se legitimados, concorrentemente, o Ministério
rá, provocar a iniciativa do Ministério Público, pres- Público, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
tando-lhe informações sobre os fatos que constituam nicípios, a Ordem dos Advogados do Brasil, e as associa-
objeto de ação civil e indicando-lhe os elementos de ções de defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa.
convicção. O conteúdo processual do Estatuto do Idoso tem
Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tri- como objetivo garantir que se respeite o princípio consti-
bunais, no exercício de suas funções, quando tiverem tucional da razoável duração do processo – que deve ser
conhecimento de fatos que possam configurar crime mais curta, tendo em vista tratar-se de grupo vulnerável
de ação pública contra idoso ou ensejar a propositura em razão da idade avançada. O legislador preocupou-se
de ação para sua defesa, devem encaminhar as peças ainda com a eficácia das decisões, que devem assegurar
pertinentes ao Ministério Público, para as providências os resultados práticos esperados pelos idosos nas lides
cabíveis. judiciais.
Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado
poderá requerer às autoridades competentes as certi- TÍTULO VI
dões e informações que julgar necessárias, que serão DOS CRIMES
fornecidas no prazo de 10 (dez) dias. CAPÍTULO I
Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua DISPOSIÇÕES GERAIS
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
pessoa, organismo público ou particular, certidões, in- Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
formações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, as disposições da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985.
o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas Aplicação subsidiária da Lei de Ação Civil Pública.
as diligências, se convencer da inexistência de funda-
mento para a propositura da ação civil ou de peças Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena má-
informativas, determinará o seu arquivamento, fazen- xima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (qua-
do-o fundamentadamente. tro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no
§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de infor- 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamen-
mação arquivados serão remetidos, sob pena de se te, no que couber, as disposições do Código Penal e do
incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Código de Processo Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF)
Conselho Superior do Ministério Público ou à Câmara
de Coordenação e Revisão do Ministério Público. O STF na ADI 3.096-5 (interpretação conforme com
§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arqui- redução de texto) firmou o entendimento de que o dis-
vamento, pelo Conselho Superior do Ministério Públi- positivo deve ser interpretado em favor do idoso, não
co ou por Câmara de Coordenação e Revisão do Mi- devendo ser beneficiado quem lhe viole direitos. Por isso,
nistério Público, as associações legitimadas poderão os agentes que praticam crimes contra o idoso não po-
apresentar razões escritas ou documentos, que serão derão ter acesso a benefícios despenalizadores de direito
juntados ou anexados às peças de informação. material, como conciliação, transação penal, composição
§ 4o Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de civil de danos ou conversão de pena. Somente se aplicam
Coordenação e Revisão do Ministério Público de ho- as normas estritamente processuais da lei (por exemplo,
mologar a promoção de arquivamento, será designa- normas que favorecem a celeridade processual e, por-
do outro membro do Ministério Público para o ajuiza- tanto, são benéficas ao idoso). Embora seja adotado o
mento da ação. rito da 9.099 quando a pena máxima não for maior que 4
anos, os crimes não se sujeitam à competência dos juiza-
A proteção judicial dos interesses difusos, coletivos dos especiais e não se enquadram como menor poten-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

e individuais indisponíveis ou homogêneos relacionados cial ofensivo.


às garantias e direitos fundamentais dos idosos, nos ter- Obs.: A pena máxima é maior que 4 anos nos crimes
mos da Constituição e da legislação ordinária, é atribui- do 99, §2º e 107.
ção do Ministério Público, que deve se manifestar funda-
mentadamente em todas os processos. CAPÍTULO II
O Estatuto do Idoso rege as ações de responsabilida- DOS CRIMES EM ESPÉCIE
de por ofensa aos direitos assegurados aos idosos, re-
ferentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de Direito penal promocional – função promocional da
acesso às ações e serviços de saúde; de atendimento es- intervenção punitiva – busca-se transformar as condições
pecializado aos idosos com deficiência ou com limitação de vida e a consciência do povo para dar uma direção a
incapacitante; de atendimento especializado ao idosos determinada finalidade.
com doença infecto-contagiosa; e de serviço de assistên-
cia social visando ao amparo dos idosos.

357
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pe- Trata-se no artigo 97 o crime de omissão de socorro.
nal pública incondicionada, não se lhes aplicando os Objeto jurídico: vida e saúde do idoso.
arts. 181 e 182 do Código Penal. Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: idoso.
Não se aplicam 181 e 182 – escusa absolutória e es- Tipo objetivo: delito omissivo. Consuma-se no mo-
cusa relativa – qualquer delito contra o idoso, seja patri- mento da omissão e não aceita a tentativa.
monial ou não, com ou sem violência ou grave ameaça, a Tipo subjetivo: dolo.
ação sempre será pública incondicionada. Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa.
Cabe ação penal privada subsidiária da pública caso Causa de aumento de pena: aumento de 1/2 se resul-
o MP seja omisso. ta em lesão corporal grave; triplicada em caso de morte.
Os crimes previstos nos artigos 96 a 108 do Estatu-
to buscam proteger a pessoa idosa da discriminação, do Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de
descuido, do abandono, da falta de acolhida, do despre- saúde, entidades de longa permanência, ou congêne-
zo, da exposição ao perigo, da negativa de oportunida- res, ou não prover suas necessidades básicas, quando
des de realização pessoal e profissional, da obstrução obrigado por lei ou mandado:
do acesso à justiça, da exploração financeira, do assédio Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e
econômico e da manipulação. multa.

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou difi- Disciplina o crime de abandono de idoso.
cultando seu acesso a operações bancárias, aos meios Objeto jurídico: saúde e dignidade do idoso.
de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer Sujeito ativo: qualquer pessoa, no caso da primeira
outro meio ou instrumento necessário ao exercício da parte (crime comum); apenas o responsável por atender
cidadania, por motivo de idade: às necessidades básicas do idoso, no caso da segunda
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. parte (crime próprio).
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humi- Sujeito passivo: idoso.
lhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por Tipo objetivo: em ambas condutas, se deixa o idoso à
qualquer motivo. própria sorte; na conduta de abandono se trata de con-
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a duta comissiva, admitindo tentativa; na conduta de não
vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabili- prover necessidades se tem conduta omissiva, que não
dade do agente. admite tentativa.
Tipo subjetivo: dolo.
Trata-se do crime de discriminação contra a pessoa Pena: detenção, 6 meses a 3 anos + multa.
idosa.
Objeto jurídico: dignidade da pessoa idosa, proteção Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física
contra o tratamento desigual. ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições de-
Sujeito ativo: qualquer pessoa. sumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos
Sujeito passivo: idoso. e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo,
Tipo objetivo: no caput se traz um crime material, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
pois é preciso uma conduta que coloque em perigo real Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e
o exercício da cidadania pela pessoa idosa, de modo que multa.
não realizado o resultado naturalístico de se colocar em § 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza
perigo a cidadania do idoso o crime será tentado. Já no grave:
§1º o crime é de mera conduta, pois os motivos que le- Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
varam à prática criminosa não precisam ser investigados, § 2o Se resulta a morte:
por consequência não se aceita tentativa. Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Tipo subjetivo: Dolo.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Pena: reclusão, de 6 meses a 1 ano + multa. Trata-se do crime de exposição do idoso ao perigo.
Causa de aumento de pena: aumento de 1/3 em caso Objeto jurídico: saúde física ou psíquica e dignidade.
de vítima sob cuidado ou responsabilidade do agente. Sujeito ativo: qualquer pessoa para as condutas que
envolvem submissão a condições desumanas, privação
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quan- de cuidados ou degradantes e sujeição a trabalho ex-
do possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de cessivo ou inadequado (crime comum); apenas os res-
iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua ponsáveis por alimentos no caso de conduta de privação
assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, destes (crime próprio).
nesses casos, o socorro de autoridade pública: Sujeito passivo: idoso.
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e Tipo objetivo: condutas objetivas comissivas (submis-
multa. são a condições degradantes ou desumanas, sujeição a
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se trabalho excessivo ou inadequado), que admitem tenta-
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e tiva, e omissivas (privação de alimentos e cuidados), que
triplicada, se resulta a morte. não a admitem.

358
Tipo subjetivo: dolo. Pena: reclusão, 6 meses a 1 ano + multa.
Pena: detenção, 2 meses a 1 ano + multa. Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem
Qualificadoras: se resulta em lesão grave, pena de re- justo motivo, a execução de ordem judicial expedida
clusão de 1 a 4 anos; se resulta em morte, pena de reclu- nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
são de 4 a 12 anos. Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
multa.
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6
(seis) meses a 1 (um) ano e multa: Descreve o crime de desobediência a ordem judi-
I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo públi- cial em ações de interesse do idoso.
co por motivo de idade; Objeto jurídico: administração da justiça.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
É o crime de impedimento de acesso a cargo públi- Sujeito passivo: Estado e idoso.
co em razão da idade. O objeto jurídico é a dignidade; Tipo subjetivo: dolo.
o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo Tipo objetivo: não se refere a descumprir uma ordem
é a pessoa idosa; tipo subjetivo é o dolo; admite tentati- em ação civil pública, baseada nos artigos 78 a 92 do Es-
va porque é possível não conseguir impedir o acesso ao tatuto (artigo 100, IV, EI), mas em qualquer ação em que
cargo. o idoso seja parte ou interveniente, admitindo tentativa
nas condutas de frustrar e retardar e não na de deixar de
II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou cumprir.
trabalho; Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa.
É o crime de recusa de emprego ou trabalho em razão
de idade. O objeto jurídico é a dignidade; o sujeito ati- Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
vo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é a pes- pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dan-
soa idosa; tipo subjetivo é o dolo; não admite tentativa do-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
porque a negação é ato unissubsistente. Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou dei-
xar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a É o crime de apropriação ou desvio de bens ou
pessoa idosa; rendimentos do idoso.
Objeto jurídico: patrimônio.
É o crime de prestação deficitária de atendimen- Sujeito ativo: qualquer pessoa.
to à saúde de idoso. O objeto jurídico é a saúde; o su- Sujeito passivo: idoso.
jeito ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é Tipo subjetivo: dolo.
a pessoa idosa; tipo subjetivo é o dolo; não admite a Tipo objetivo: o crime se caracteriza com a apropria-
tentativa porque a recusa/retardo/dificuldade são atos ção ou o desvio, assim se consumando, aceitando tenta-
unissubsistentes. tiva caso se frustre a apropriação ou o desvio.
Pena: reclusão, 1 a 4 anos + multa.
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem jus-
to motivo, a execução de ordem judicial expedida na Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do
ação civil a que alude esta Lei; idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar
procuração à entidade de atendimento:
É o crime de desobediência a ordem judicial em Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
ação civil específica. O objeto jurídico é a administra- multa.
ção da justiça; o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa;
sujeito passivo é o Estado e os idosos; tipo subjetivo é o É o crime de negativa de abrigo por entidade de
dolo; admite tentativa nas condutas de frustrar e retardar atendimento ao idoso.
e não na de deixar de cumprir (é possível que não consi- Objeto jurídico: saúde e patrimônio.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

ga frustrar ou retardar e a ordem seja cumprida de toda Sujeito ativo: responsável por entidade de atendi-
forma), mas não quando a deixar de cumprir ou retardar, mento ou outra pessoa com poderes de recusar abrigo
que são condutas omissivas. (crime próprio).
Sujeito passivo: idoso.
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indis- Tipo subjetivo: dolo.
pensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, Tipo objetivo: o crime se caracteriza com a negativa
quando requisitados pelo Ministério Público. de atendimento, que no caso não admite tentativa, ou
com a negação de permanência, que admite tentativa,
É o crime de obstrução à atuação do MP para ins- pois a pessoa pode conseguir permanecer na instituição.
truir ação civil específica. O objeto jurídico é o poder Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa.
do MP de requisitar informações; o sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa; sujeito passivo é o MP e os idosos;
tipo subjetivo é o dolo; não admite tentativa porque são
condutas omissivas/negativas.

359
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária Tipo objetivo: se consuma com a coação, cabendo em
relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, tese tentativa se a coação não gerar o resultado esperado.
bem como qualquer outro documento com objetivo de Pena: reclusão, 2 a 5 anos.
assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa
multa. sem discernimento de seus atos, sem a devida repre-
sentação legal:
É o crime de retenção de cartão bancário ou docu- Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
mento do idoso.
Objeto jurídico: patrimônio. Lavratura de ato notarial sem representação legal do
Sujeito ativo: qualquer pessoa. idoso incapaz
Sujeito passivo: idoso. Objeto jurídico: patrimônio.
Tipo subjetivo: dolo. Sujeito ativo: tabelião ou escrivão público, ou escre-
Tipo objetivo: se consuma com a retenção, não ad- vente de cartório de registros públicos (crime próprio).
mitindo tentativa. Caso resulte em apropriação de rendi- Sujeito passivo: idoso sem lucidez (não importa se
mentos, enquadra-se no artigo 102. não foi interditado).
Pena: detenção, 6 meses a 2 anos + multa. Tipo subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: se consuma com o ato de lavratura, ca-
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de co- bendo tentativa.
municação, informações ou imagens depreciativas ou Pena: reclusão, 2 a 4 anos.
injuriosas à pessoa do idoso:
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. TÍTULO VII
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Trata-se do crime de publicidade depreciativa ou
injuriosa à pessoa idosa. Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante
Objeto jurídico: dignidade, honra e imagem. do Ministério Público ou de qualquer outro agente
Sujeito ativo: qualquer pessoa. fiscalizador:
Sujeito passivo: idoso. Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e
Tipo subjetivo: dolo. multa.
Tipo objetivo: se consuma com a exibição ou vei-
culação, que por serem condutas comissivas admitem Descreve o crime de impedimento ou embaraço de
tentativa. ato de representante do Ministério Público ou de qual-
Pena: detenção, 1 a 3 anos + multa. quer outro agente fiscalizador.
Objeto jurídico: fiscalização de entidades de idoso.
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de Sujeito ativo: qualquer pessoa.
seus atos a outorgar procuração para fins de adminis- Sujeito passivo: Ministério Público ou agente
tração de bens ou deles dispor livremente: fiscalizador.
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Tipo subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: impedir ou embaraçar representante
Trata-se do crime de indução de pessoa idosa sem do MP ou outro agente, não admitindo tentativa.
discernimento a dispor de seus bens. Pena: reclusão, 6 meses a 1 ano + multa.
Objeto jurídico: patrimônio. [...]
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: idoso sem lucidez (não importa se O inteiro teor do estatuto do idoso pode ser aces-
não foi interditado). sado em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/
Tipo subjetivo: dolo. l10.741.htm
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Tipo objetivo: se consuma com o ato de outorga, ca-


bendo tentativa em tese.
Pena: reclusão, 2 a 4 anos. #FicaDica
Nos termos do artigo 4o, XI, Lei Complemen-
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar,
tar nº 80/2004 é função institucional da De-
contratar, testar ou outorgar procuração:
fensoria Pública “exercer a defesa dos inte-
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
resses individuais e coletivos da criança e do
Trata-se de crime de coação de pessoa idosa à dilapi-
adolescente, do idoso, da pessoa portadora
dação de seu patrimônio.
de necessidades especiais, da mulher vítima
de violência doméstica e familiar e de ou-
Objeto jurídico: liberdade e patrimônio.
tros grupos sociais vulneráveis que mereçam
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
proteção especial do Estado”.
Sujeito passivo: idoso.
Tipo subjetivo: dolo.

360
Resposta: Letra B.
EXERCÍCIOS COMENTADOS Nos termos do art. 3o, § 2º, Estatuto do Idoso, “dentre
os idosos, é assegurada prioridade especial aos maio-
1. (FCC – 2018) Segundo o que dispõe expressamente o res de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades
Estatuto do Idoso, é VEDADA a: sempre preferencialmente em relação aos demais
idosos”.
a) exigência de comparecimento do idoso perante os ór- Em “a”, nos termos do art. 227, CF, “é dever da fa-
gãos públicos, ressalvado caso de renovação de bene- mília, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
fícios previdenciários. ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade,
b) fixação de limite máximo de idade, inclusive para con- o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
cursos, ressalvados os casos em que a natureza do ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
cargo o exigir. ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co-
c) cobrança, pelos planos de saúde, de valores diferen- munitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
ciados do idoso em razão da idade, ressalvada a hipó- de negligência, discriminação, exploração, violência,
tese de planos coletivos já assinados antes da entrada crueldade e opressão”.
em vigência do Estatuto. Em “c”, nos termos do art. 38, Estatuto do Idoso, “nos
d) exigência de comprovação de escolaridade anterior programas habitacionais, públicos ou subsidiados
para admissão de idosos em cursos e programas de com recursos públicos, o idoso goza de prioridade na
extensão, salvo se constituídos de atividades formais. aquisição de imóvel para moradia própria”.
e) contratação de empréstimos consignados que ultra- Em “d”, conforme art. 3o, IX, Estatuto do Idoso, há ape-
passem trinta por cento do benefício previdenciário nas prioridade no recebimento da restituição.
recebido pelo idoso, ressalvado o percentual decor- Em “e”, conforme art. 3o, IV, Estatuto do Idoso, com-
rente de cartão de crédito consignado. preende apenas a viabilização de formas alternativas
de participação, ocupação e convívio do idoso com as
Resposta: Letra B. demais gerações.
Disciplina o art. 27, Estatuto do Idoso: “Na admissão
do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada
a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, CRIMES HEDIONDOS (LEI N. 8.072/1990)
inclusive para concursos, ressalvados os casos em que
a natureza do cargo o exigir”.
Em “a”, nos termos do art. 15, § 5º, Estatuto do Idoso, Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art.
“é vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina
perante os órgãos públicos, hipótese na qual será ad- outras providências.
mitido o seguinte procedimento: [...]”.
Em “c”, nos termos do art. 15, § 3o, Estatuto do Ido-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con-
so, “é vedada a discriminação do idoso nos planos de
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
saúde pela cobrança de valores diferenciados em ra-
zão da idade”.
Em “d” e “e”, não estão previstas essas vedações no Art. 1º São considerados hediondos os seguintes cri-
Estatuto do Idoso. mes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou
2. (FCC – 2018) O Estatuto do Idoso prevê que a priori- tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994)
dade na efetivação de direitos dos idosos: (Vide Lei nº 7.210, de 1984)
I - homicídio (art. 121), quando praticado em ativida-
a) prevalece, por ser absoluta, sobre a preferência con- de típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
ferida ao atendimento dos direitos de crianças e por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §
adolescentes. 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

b) compreende a prioridade especial aos maiores de oi- pela Lei nº 13.964, de 2019)
tenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre
preferencialmente em relação aos demais idosos. I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima
c) nos programas habitacionais, públicos ou privados, (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art.
patrocinados com ou sem recursos públicos, com- 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou
preende a prioridade na aquisição de imóvel para mo- agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
radia própria ou de familiar com quem resida. Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
d) compreende a flexibilização do prazo de entrega da Nacional de Segurança Pública, no exercício da fun-
declaração e prioridade no recebimento da restituição ção ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
do Imposto de Renda. companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
e) compreende o estabelecimento de mecanismos que grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº
favoreçam o convívio do idoso com seus pares gera- 13.142, de 2015)
cionais e o acesso a programação cultural adequada a II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
sua idade.

361
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da ví- II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
tima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº § 1º A pena por crime previsto neste artigo será cum-
13.964, de 2019) prida inicialmente em regime fechado. (Redação dada
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. pela Lei nº 11.464, de 2007)
157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo § 2º (Revogado pela Lei nº 13.964, de 2019)
de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído § 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
pela Lei nº 13.964, de 2019) fundamentadamente se o réu poderá apelar em liber-
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou dade. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de § 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no
2019) 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes pre-
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade vistos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias,
da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. prorrogável por igual período em caso de extrema e
158, § 3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) comprovada necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464,
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualifi- de 2007)
cada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º); (Inciso incluído Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de
pela Lei nº 8.930, de 1994) segurança máxima, destinados ao cumprimento de
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2ª); (Redação penas impostas a condenados de alta periculosidade,
dada pela Lei nº 12.015, de 2009) cuja permanência em presídios estaduais ponha em
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, risco a ordem ou incolumidade pública.
3º e 4º); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 4º (Vetado).
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o se-
(Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) guinte inciso:
VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, “Art. 83. ..............................................................
de 1998) ........................................................................
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou altera- V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos
ção de produto destinado a fins terapêuticos ou me- de condenação por crime hediondo, prática da tortura,
dicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terro-
a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de rismo, se o apenado não for reincidente específico em
1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) crimes dessa natureza.”
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de e 3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267,
vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído caput e 270; caput, todos do Código Penal, passam a
pela Lei nº 12.978, de 2014) vigorar com a seguinte redação:
IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de “Art. 157. .............................................................
artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a
4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) pena é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº anos, sem prejuízo da multa.
13.964, de 2019) ........................................................................
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º Art. 159. ...............................................................
da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956; (Incluído Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º .................................................................
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de § 2º .................................................................
22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
de 2019) § 3º .................................................................
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, pre- Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
visto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de ........................................................................
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 213. ...............................................................
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, Pena - reclusão, de seis a dez anos.
acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº Art. 214. ...............................................................
10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei Pena - reclusão, de seis a dez anos.
nº 13.964, de 2019) ........................................................................
V - o crime de organização criminosa, quando dire- Art. 223. ...............................................................
cionado à prática de crime hediondo ou equiparado. Pena - reclusão, de oito a doze anos.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. ........................................................
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o ter- ........................................................................
rorismo são insuscetíveis de: (Vide Súmula Vinculante) Art. 267. ...............................................................
I - anistia, graça e indulto; Pena - reclusão, de dez a quinze anos.

362
........................................................................ A necessidade de criar uma nova lei de abuso de au-
Art. 270. ............................................................... toridade se dá ao fato de que a antiga Lei nº 4.898/1965
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. demonstrava-se bastante defasada, e não previa hipóte-
.......................................................................” ses claras de constrangimento de cidadãos por atos abu-
Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o sivos praticados por autoridades coatoras.
seguinte parágrafo: De modo geral, a nova Lei de Abuso de Autoridade
“Art. 159. .............................................................. apresenta algumas inovações importantes, se compara-
........................................................................ dos com a antiga Lei nº 4.898/1965, como:
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o
co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a a) aumento do rol de pessoas sujeitos ativos (artigo
libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de 2º), isso é, que podem cometer abuso de autorida-
um a dois terços.” de. Não há mais a limitação de que o agente deve
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena ser, obrigatoriamente, servidor público;
prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar b) novas modalidades de abuso de autoridade, como
de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito a decretação de medida de privação de liberdade
de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. fora das hipóteses legais (artigo 9º) e o constrangi-
Parágrafo único. O participante e o associado que de- mento de presos ou detentos (artigo 13);
nunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibili- c) altera o Estatuto da Ordem dos Advogados do
tando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de Brasil (OAB), acrescentando dispositivo que torna
um a dois terços. crime violar direito ou prerrogativas do advogado,
Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes ca- tais como inviolabilidade do escritório/local de tra-
pitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e balho, comunicação com os clientes; entre outras
seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com mudanças.
o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combi-
O § 1º do artigo 1º apresenta um caráter finalístico
nação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos
do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado
dos crimes de abuso de autoridade, que é essencial
para sua configuração. As condutas descritas nesta
o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a
Lei somente constituem crime de abuso de autoridade
vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224
quando praticadas pelo agente com a finalidade espe-
também do Código Penal.
cífica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo
Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro
ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfa-
de 1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único,
ção pessoal.
com a seguinte redação:
“Art. 35. ................................................................
Noções gerais dos crimes de abuso de autoridade
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste ca-
pítulo serão contados em dobro quando se tratar dos Nos termos do caput do artigo 2º, “É sujeito ativo do
crimes previstos nos arts. 12, 13 e 14.” crime de abuso de autoridade qualquer agente público,
Art. 11. (Vetado). servidor ou não, da administração direta, indireta ou fun-
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua dacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
publicação. do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, com-
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário. preendendo, mas não se limitando a:

Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles
e 102º da República. equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
FERNANDO COLLOR III - membros do Poder Executivo;
Bernardo Cabral IV - membros do Poder Judiciário;
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

V - membros do Ministério Público;


OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas”.
N. 13.869/2019)
Observe que a gama de sujeitos ativos é bastante
ampla, uma vez que deve abranger todos os agentes pú-
NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI blicos. Reputa-se agente público, para os efeitos desta
13.869/2019) Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designa-
A Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019, define ção, contratação ou qualquer outra forma de investidu-
os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agen- ra ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em
te público, servidor público ou não, que, no exercício de órgão ou entidade abrangidos pelo caput do artigo 2º.
suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder De modo geral, pode-se afirmar que todos aqueles que
que lhe tenha sido atribuído. exercem uma função de relevante interesse público
estão sujeitos as penas dessa Lei.

363
Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal públi- As penas previstas nesta Lei são de natureza penal, e
ca incondicionada (art. 3º). É a ação penal de competên- elas serão aplicadas independentemente das sanções de
cia do Ministério Público, que se inicia mediante denún- natureza civil ou administrativa cabíveis. Tais esferas não
cia, sem a obrigatoriedade de representação da vítima. se comunicam entre si, salvo no caso do artigo 7º, que
Entretanto, o § 1º do artigo 3º permite a admissão apresenta a hipótese em que temos a negação de exis-
de ação penal privada, se a ação penal pública não for tência do fato ou da autoria do ilícito em juízo criminal,
intentada no prazo legal. Incumbe ao Ministério Público, não se podendo mais questionar sobre tais circunstân-
ao receber a referida ação privada, optar por um dentre cias nas demais esferas.
os diversos caminhos, como aditar a queixa, repudiá-la e
oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os ter- Dos crimes e das penas aplicáveis
mos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso; e ainda, a qualquer tempo, no caso de negligên- Vamos analisar os crimes considerados como abusos
cia do querelante, retomar a ação como parte principal. de autoridade. É imprescindível conhecer a conduta ti-
O prazo da ação penal privada subsidiária será de 6 (seis) pificada, que apresenta sempre uma ação (verbo no in-
meses, contados da data em que se esgotar o prazo para finitivo) característico de cada delito, a correspondente
oferecimento da denúncia (art. 3º, § 2º). pena, a possibilidade de punir outras pessoas diferentes
São efeitos da condenação, na forma do artigo 4º: do agente que praticou o delito penal, e também as hi-
póteses em que a Lei desconsidera o ato como crime,
Art. 4º (...) quando cabível.
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano cau- É evidente que as bancas procuram elaborar ques-
sado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do tões referentes a apenas alguns dos crimes dispostos na
ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para repa- Lei, dado a sua grande quantidade. Todavia, procuramos
ração dos danos causados pela infração, considerando apresentar todos os delitos penais previstos na Lei de
os prejuízos por ele sofridos; Abuso de Autoridade, para enfatizar esse aumento de
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato modalidades de abuso de autoridade introduzidas pela
ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) nova lei.
anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função A) Prisão ilegal (artigo 9º)
pública.
• Conduta tipificada: Decretar medida de privação
As penas restritivas de direitos, a ser aplicadas em da liberdade em manifesta desconformidade com
substituição das penas privativas de liberdade, estão dis- as hipóteses legais:
postas no artigo 5º. São elas: • Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades • Incorre na mesma pena a autoridade judiciária
públicas; que, dentro de prazo razoável, deixar de:
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;
mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a II - substituir a prisão preventiva por medida cau-
perda dos vencimentos e das vantagens. As penas po- telar diversa ou de conceder liberdade provisória,
derão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. quando manifestamente cabível;
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus,
O artigo 6º apresenta a denominada responsabilida- quando manifestamente cabível.
de tríplice dos agentes públicos. Esse nome demonstra a • Exemplos casuísticos dessa conduta não faltam
importância das funções exercidas pelos agentes do Es- no cotidiano da ação policial. É muito comum a
tado, uma vez que os agentes públicos podem responder ocorrência de uma prisão de indivíduo, obrigan-
pelos seus atos nas esferas civil, penal, e administra. A do-o a permanecer encarcerado dentro de uma
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

esfera civil tem uma natureza indenizatória, se manifesta delegacia por conta de equívoco no sistema de
mediante ação civil, e sempre pressupõe a ocorrência de automação da área da segurança pública, po-
algum dano. A esfera penal, por outro lado, envolve a dendo ensejar, também, a pagamento de danos
aplicação de sanções penais, como a decretação da pena morais pelo Estado.
de prisão. A esfera administrativa, por sua vez, é aque-
la que procura apurar uma conduta irregular do agente B) Condução coercitiva ilegal (artigo 10)
público dentro do processo administrativo, que não se
confunde com o processo judicial, e suas sanções não • Conduta tipificada: Decretar a condução coerciti-
podem restringir a liberdade do agente público. A ideia va de testemunha ou investigado manifestamente
principal é que essas três esferas de responsabilidade são descabida ou sem prévia intimação de compareci-
independentes e não se comunicam entre si. mento ao juízo.
• Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.

364
• Outra hipótese que ocorre com bastante fre- • Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
quência na atividade policial, virando manchete e multa, sem prejuízo da pena cominada à
de notícia de diversos veículos de comunicação violência.
durante a execução das diversas fases da Ope- • Apesar de ser ilegal, na prática, é muito difícil
ração Lava Jato. É muito comum que o investi- o detento de resistir a esse tipo de coação por
gado ou testemunha se recusem a comparecer conta própria. A autoridade policial é a parte
em juízo para prestar depoimento. Só se confi- que apresenta maior poder. Por causa disso, é
gura o referido crime quando o agente prende muito fácil que tal pessoa possa coagir o deten-
o indivíduo sem prévia intimação do juiz. to a passar por situações vexatórias, como for-
ça-lo a se despir, ou a praticar atos vexatórios e
C) Não comunicação de prisão em flagrante (arti- libidinosos. Alguns programas de televisão cos-
go 12) tumavam divulgar esse tipo de coação em um
tom mais humorístico, o que acabava incenti-
• Conduta tipificada: Deixar injustificadamente de vando a propagação desse tipo de humilhação.
comunicar prisão em flagrante à autoridade judi-
ciária no prazo legal. E) Depoimento sob ameaça (artigo 15)
• Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
e multa. • Conduta tipificada: Constranger a depor, sob
• Incorre na mesma pena quem: ameaça de prisão, pessoa que, em razão de fun-
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execu- ção, ministério, ofício ou profissão, deva guardar
ção de prisão temporária ou preventiva à autori- segredo ou resguardar sigilo.
dade judiciária que a decretou; • Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão multa.
de qualquer pessoa e o local onde se encontra à • Incorre na mesma pena quem prossegue com o
sua família ou à pessoa por ela indicada; interrogatório:
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito
(vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada ao silêncio;
pela autoridade, com o motivo da prisão e os no- II - de pessoa que tenha optado por ser assistida
mes do condutor e das testemunhas; por advogado ou defensor público, sem a presen-
IV - prolonga a execução de pena privativa de li- ça de seu patrono.
berdade, de prisão temporária, de prisão preven- • É evidente que a lei não pode coagir alguém a
tiva, de medida de segurança ou de internação, prestar depoimento contra si mesmo. O direi-
deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, to de silêncio é constitucionalmente garantido,
de executar o alvará de soltura imediatamente mas nem sempre é respeitado pela autoridade
após recebido ou de promover a soltura do preso policial, que acaba forçando o interrogado a de-
quando esgotado o prazo judicial ou legal. por sob forte ameaça, dizendo que irá prender o
• O artigo dispõe sobre algumas medidas penais interrogado apenas para assustá-lo e alterar seu
cautelares que muito frequentemente vem sen- estado psicológico.
do utilizadas pela força policial sem a observân-
cia dos limites legais, como a prisão preventiva, F) Crime do artigo 16
a prisão temporária, e a prisão em flagrante.
Pela expressão “deixar de”, depreende-se que • Conduta tipificada: Deixar de identificar-se ou
o crime ocorre quando há uma conduta omis- identificar-se falsamente ao preso por ocasião de
siva, isso é, quando o agente pratica a medida sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua
cautelar e deixa de comunica-la à autoridade detenção ou prisão
competente. • Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

e multa.
D) Tratamento desumano de preso (artigo 13) • Incorre na mesma pena quem, como responsá-
vel por interrogatório em sede de procedimento
• Conduta tipificada: Constranger o preso ou o de- investigatório de infração penal, deixa de iden-
tento, mediante violência, grave ameaça ou redu- tificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa
ção de sua capacidade de resistência, a: identidade, cargo ou função.
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à • Quando o detento sofre auto de prisão, ele tem
curiosidade pública; direito de saber qual é a autoridade que está
II - submeter-se a situação vexatória ou a constran- realizando esse ato, pois tal fato deve constar na
gimento não autorizado em lei; sua defesa técnica, dentro do processo.
III - produzir prova contra si mesmo ou contra
terceiro.

365
G) Crime do artigo 18 • É evidente que a relação entre a autoridade po-
licial e o advogado do detento não é uma das
• Conduta tipificada: Submeter o preso a interro- mais amigáveis. Cada um representa um lado
gatório policial durante o período de repouso no- distinto dentro do processo penal. Ocorre que o
turno, salvo se capturado em flagrante delito ou policial não pode impedir que o advogado rea-
se ele, devidamente assistido, consentir em prestar lize a defesa técnica do preso e, por isso, não
declarações. pode impedir que ele exerça o direito ao sigilo
• Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) profissional. Isso fere, inclusive, as garantias es-
anos, e multa. tabelecidas no Estatuto da OAB.
• Assim como a autoridade policial não pode
adentrar no domicílio de particular à noite, tam- J) Crime do artigo 21
bém não poderá forçar indivíduo a ser interro-
gado em delegacia durante o horário noturno, • Conduta tipificada: Manter presos de ambos os
ainda que ele seja autuado no meio da rua. Da sexos na mesma cela ou espaço de confinamento.
mesma forma que ocorre com o crime do artigo • Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
22, considera-se de repouso noturno o período multa.
entre as 9 horas da noite e as 5 horas da manhã. • Incorre na mesma pena quem mantém, na mes-
ma cela, criança ou adolescente na companhia
H) Crime do artigo 19 de maior de idade ou em ambiente inadequa-
do, observado o disposto na Lei nº 8.069, de
• Conduta tipificada: Impedir ou retardar, injustifi- 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
cadamente, o envio de pleito de preso à autori- Adolescente).
dade judiciária competente para a apreciação da • Há diversos motivos bastante óbvios pelos
legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de quais os sistemas carcerários são divididos por
sua custódia: gênero, para que homens e mulheres não pos-
• Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e sam conviver juntos dentro de uma cela.
multa.
• Incorre na mesma pena o magistrado que, cien- K) Crime do artigo 22
te do impedimento ou da demora, deixa de to-
mar as providências tendentes a saná-lo ou, não • Conduta Tipificada: Invadir ou adentrar, clandes-
sendo competente para decidir sobre a prisão, tina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do
deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou
que o seja. nele permanecer nas mesmas condições, sem de-
• Um exemplo desse crime é o policial que, ao terminação judicial ou fora das condições estabe-
invés de comunicar ao juiz que realizou a pri- lecidas em lei.
são de indivíduo, retarda tal comunicação pro- • Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
positalmente, deixando o detido encarcerado multa.
na delegacia por um longo período de tempo, • Incorre na mesma pena quem:
como forma de pressioná-lo a revelar informa- I - coage alguém, mediante violência ou grave
ções sobre o delito. É igualmente punido o juiz ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou
que atua em conluio com o policial que pratica suas dependências;
tal ato. III - cumpre mandado de busca e apreensão do-
miciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes
I) Impedimento de entrevista com advogado (ar- das 5h (cinco horas).
tigo 20) • Não pratica referido crime o policial que aden-
tra domicílio de pessoa que esteja em flagran-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

• Conduta tipificada: Impedir, sem justa causa, a te delito, ou ainda nas hipóteses de desastre e
entrevista pessoal e reservada do preso com seu para prestar socorro. Lembre-se que a inviola-
advogado: bilidade do domicílio particular é uma garantia
• Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, constitucional (art. 5º, XI, CF/1988).
e multa.
• Incorre na mesma pena quem impede o preso, o L) Crime do artigo 23
réu solto ou o investigado de entrevistar-se pes-
soal e reservadamente com seu advogado ou • Conduta tipificada: Inovar artificiosamente, no
defensor, por prazo razoável, antes de audiên- curso de diligência, de investigação ou de proces-
cia judicial, e de sentar-se ao seu lado e com so, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com
ele comunicar-se durante a audiência, salvo no o fim de eximir-se de responsabilidade ou de res-
curso de interrogatório ou no caso de audiência ponsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe
realizada por videoconferência. a responsabilidade.

366
• Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e Q) Crime do artigo 29
multa.
• Incorre na mesma pena quem pratica a conduta • Conduta tipificada: Prestar informação falsa so-
com o intuito de: bre procedimento judicial, policial, fiscal ou ad-
I - eximir-se de responsabilidade civil ou ad- ministrativo com o fim de prejudicar interesse de
ministrativa por excesso praticado no curso de investigado
diligência; • Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
II - omitir dados ou informações ou divulgar e multa.
dados ou informações incompletos para des-
viar o curso da investigação, da diligência ou do R) Crime do artigo 30
processo.
• Conduta tipificada: Dar início ou proceder à perse-
M) Crime do artigo 24 cução penal, civil ou administrativa sem justa causa
fundamentada ou contra quem sabe inocente:
• Conduta tipificada: Constranger, sob violência ou • Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
grave ameaça, funcionário ou empregado de insti- multa.
tuição hospitalar pública ou privada a admitir para
tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, S) Crime do artigo 31
com o fim de alterar local ou momento de crime,
prejudicando sua apuração • Conduta tipificada: Estender injustificadamente a
• Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e investigação, procrastinando-a em prejuízo do in-
multa, além da pena correspondente à violência. vestigado ou fiscalizado
• Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
N) Crime do artigo 25 anos, e multa.

• Conduta tipificada: Proceder à obtenção de pro- T) Crime do artigo 32


va, em procedimento de investigação ou fiscaliza-
ção, por meio manifestamente ilícito: • Conduta tipificada: Negar ao interessado, seu
• Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e defensor ou advogado acesso aos autos de inves-
multa. tigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao
• Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, inquérito ou a qualquer outro procedimento inves-
em desfavor do investigado ou fiscalizado, com tigatório de infração penal, civil ou administrativa,
prévio conhecimento de sua ilicitude. assim como impedir a obtenção de cópias, ressal-
vado o acesso a peças relativas a diligências em
O) Crime do artigo 27 curso, ou que indiquem a realização de diligências
futuras, cujo sigilo seja imprescindível:
• Conduta tipificada: Requisitar instauração ou • Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
instaurar procedimento investigatório de infração e multa.
penal ou administrativa, em desfavor de alguém,
à falta de qualquer indício da prática de crime, de U) Crime do artigo 33
ilícito funcional ou de infração administrativa:
• Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) • Conduta tipificada: Exigir informação ou cumpri-
anos, e multa. mento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou
• Não há crime quando se tratar de sindicância ou de não fazer, sem expresso amparo legal
investigação preliminar sumária, devidamente • Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
justificada. anos, e multa.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

• Incorre na mesma pena quem se utiliza de car-


P) Crime do artigo 28 go ou função pública ou invoca a condição de
agente público para se eximir de obrigação legal
• Conduta tipificada: Divulgar gravação ou trecho ou para obter vantagem ou privilégio indevido.
de gravação sem relação com a prova que se pre-
tenda produzir, expondo a intimidade ou a vida W) Crime do artigo 36
privada ou ferindo a honra ou a imagem do inves-
tigado ou acusado: • Conduta tipificada: Decretar, em processo judi-
• Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e cial, a indisponibilidade de ativos financeiros em
multa. quantia que extrapole exacerbadamente o valor
estimado para a satisfação da dívida da parte e,
ante a demonstração, pela parte, da excessividade
da medida, deixar de corrigi-la.

367
• Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

X) Crime do artigo 37

• Conduta tipificada: Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que tenha requerido
vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento.
• Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Y) Crime do artigo 38

• Conduta tipificada: Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede so-
cial, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação.
• Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

#FicaDica
Pelos exemplos demonstrados em algumas modalidades, podemos concluir que essa nova Lei de Abuso
de Autoridade é muito importante, uma vez que ela descreve diversas condutas que vêm ocorrendo com
bastante frequência durante os trabalhos da Polícia Civil e dos juízes penais. A promulgação dessa Lei
mostra uma mensagem bastante clara: que tais condutas não devem mais serem aceitas.

Como uma forma de facilitar os estudos, segue uma tabela para ajudar a memorização dos aspectos mais impor-
tantes das modalidades de abuso de autoridade que mais costumam cair em questões de prova:

Prisão ilegal (art. 9º) Condução coercitiva ilegal (art. 10) Não comunicação de prisão flagrante (art. 12)
Conduta Decretar medida de Decretar condução coercitiva Deixar de comunicar prisão em flagrante
tipificada prisão ilegal descabida injustificadamente
Pena 1-4 anos e multa 1-4 anos e multa 6 meses – 2 anos e multa
Autoridade judiciá- Quem deixa de comunicar prisão preventiva
ria deixa de relaxar ou temporária; a prisão de qualquer pessoa e
Possibilidade
prisão ilegal, ou de o local onde se encontra à sua família; a nota
de imputar -
conceder medida de culpa com motivo da prisão; ou deixa de
terceiros
cautelar e habeas executar o alvará de soltura, prolongando a
corpus execução da pena
Excludente
do crime ou - - -
da pena

Tratamento desumano de preso (art. 13) Depoimento sob ameaça (art. 14) Crime do artigo 19
Impedir ou retardar o
Constranger a depor, sob ameaça envio de pleito de preso à
Conduta Constranger o preso ou o detento com
de prisão, pessoa que deva guar- autoridade judiciária com-
tipificada violência ou grave ameaça
dar segredo ou resguardar sigilo: petente para a apreciação
da legalidade de sua prisão
Pena 1-4 anos e multa + pena cominada à violência 1-4 anos e multa 1-4 anos e multa
Quem prossegue com interrogató-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Quem constrange preso ou detento para


rio de pessoa que tenha decidido Magistrado que deixa de
Possibilidade exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele
exercer o direito ao silêncio; ou de tomar as providências ten-
de imputar exibido, submeter-se a situação vexatória
pessoa que tenha optado por ser dentes a sanar o retarda-
terceiros ou a constrangimento, ou produzir prova
assistida por advogado ou defen- mento do envio do pleito.
contra si mesmo ou contra terceiro
sor público sem sua presença
Excludente
do crime ou - - -
da pena

368
Impedimento de entrevista com advogado (art. 20) Crime do art. 21 Crime do artigo 22
Manter presos Invadir ou adentrar imóvel
de ambos os se- alheio ou suas dependên-
Conduta Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reserva-
xos na mesma cias; ou permanecer nas
tipificada da do preso com seu advogado:
cela ou espaço de mesmas condições, sem
confinamento: determinação judicial
Pena 6 meses – 2 anos e multa 1-4 anos e multa 1-4 anos e multa
Quem coage a franquear
Quem mantém na
Quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de o acesso a imóvel ou suas
mesma cela criança
Possibilidade entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advo- dependências; ou cum-
ou adolescente na
de imputar gado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência pre mandado de busca e
companhia de maior
terceiros judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar- apreensão domiciliar após as
de idade ou em am-
-se durante a audiência. 21h (vinte e uma horas) ou
biente inadequado,
antes das 5h (cinco horas).
Excludente Para prestar socorro, de-
do crime ou Se houver interrogatório mediante videoconferência - sastre, ou ainda flagrante
da pena delito

Há uma discussão se essa nova Lei de Abuso de Autoridade tende a revogar, total ou parcialmente, os dispositivos
da Lei nº 4.878/1965. A posição majoritária é que não houve uma revogação expressa, pois, a referida lei apresenta,
também, outros dispositivos, além das condutas que podem ser consideradas abuso de autoridade. Mas, evidentemen-
te, os dispositivos que se encontram incompatíveis com a nova Lei de Abuso de Autoridade não devem mais vigorar.

FIQUE ATENTO!
Cuidado com as questões apresentadas neste material: sempre observe o ano da elaboração da referida
prova, pois as questões datadas antes de 2019 tem por fundamento os artigos e dispositivos da lei de
1965.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (CESPE – 2009) A respeito do crime impossível, da execução da pena e dos delitos em espécie, julgue os itens
subsequentes.
O delegado de polícia que efetua a prisão de determinado cidadão e não a comunica ao juiz competente comete o
delito de abuso de autoridade. No entanto, a autoridade judicial que não ordena o relaxamento de prisão ou detenção
ilegal que lhe tenha sido comunicada pratica apenas infração administrativa.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado.
A frase está errada em sua parte final. A autoridade judicial que não relaxa a prisão manifestamente ilegal também
comete abuso de autoridade, essa conduta encontra-se tipificada no artigo 9º, parágrafo único, inciso I, da Lei nº 13.
869/2019. Por isso, não é certo afirmar que ela pratica apenas infração administrativa.

2. (INSTITUTO AOCP – 2019) O funcionário público que submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a
constrangimento não autorizado em lei responderá criminalmente por:
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

a) constrangimento ilegal.
b) exposição a perigo.
c) maus-tratos.
d) calúnia.
e) abuso de autoridade.

Resposta: Letra E.
O constrangimento de pessoa que funcionário deve manter sob sua guarda ou custódia era visto apenas como
algo insignificante, característico de um crime menor, como o crime de maus tratos. Porém, com a edição da Lei
nº 13.869/2019 (art. 13, II), tal conduta é tipificada como crime de abuso de autoridade, porque a autoridade não
somente constrange a pessoa, mas ela também age dolosamente, isso é, ela quer atingir um resultado (dolo direto)
específico, seja uma finalidade libidinosa, seja para obter alguma vantagem indevida, etc. Configura-se, assim, o
crime na modalidade dolosa, com dolo direto e específico de forçar a pessoa a passar por uma situação humilhante
e/ou vexatória.

369
3. (FUNDATEC – 2020) Acerca dos crimes contra a ad- Resposta: errado.
ministração pública, à luz do disposto no Código Penal O enunciado da questão faz uma pequena confusão:
(Decreto-Lei nº 2.848/1940 e respectivas alterações) e o abuso de poder é uma característica inerente ao
das leis de abuso de autoridade e de licitações, assinale a exercício de funções administrativas e, por isso, sua
alternativa INCORRETA. apuração e eventual punição serão feitas em instân-
cia administrativa. Não confundir isso com o abuso de
a) Teófilo, exercente de cargo em entidade paraestatal, autoridade: são hipóteses em que temos a ocorrência
ao desviar bem móvel público, em proveito alheio, está de crimes, sendo puníveis na esfera penal, com base
incurso nas sanções atinentes ao crime de peculato. em legislação própria. Assim, o abuso de poder nem
b) Caso Teobaldo, ocupante de cargo em comissão em sempre gera repercussões na esfera penal.
autarquia municipal, revele fato de que tem ciência em
razão do cargo e que deva permanecer em segredo, 5. (INAZ DO PARÁ – 2019) Pode ser considerado como
responderá pelo delito de violação de sigilo funcional, conteúdo correto a respeito de abuso de poder e abuso
sem lhe ser aplicável a causa de aumento de pena da de autoridade o que está contido na alternativa:
terça parte, prevista no Art. 327, §2º, do CP.
c) Teórcrito, servidor público municipal, foi condena- a) Abuso de poder está legislativamente posto no art. 5º
do por abuso de autoridade, nos termos da Lei nº do Decreto Lei 3.689, enquanto que abuso de autori-
13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade), tendo sido dade se encontra legislado no art. 3º do Decreto Lei
reconhecida sua reincidência em crime da mesma es- 5.200.
pécie. Assim, tem-se como efeito automático da sen- b) No abuso de autoridade temos a tipificação daquelas
tença a perda do cargo público. condutas abusivas de poder como crimes. Abuso de
d) Tito foi absolvido em processo criminal atinente à Lei autoridade é o abuso de poder analisado sob as nor-
nº 13.869/2019, em razão do reconhecimento do es- mas penais.
trito cumprimento de dever legal. A decisão prolatada c) Tratam-se de duas formas arbitrárias de agir do agen-
pelo juízo criminal, na hipótese, faz coisa julgada no te público no âmbito administrativo, em que está ads-
âmbito cível e administrativo-disciplinar. trito ao que determina a Lei e claramente observado
e) Tâmara ajustou com Taciana a contratação de sua em- no princípio da moralidade.
presa de serviços de publicidade, pelo município de d) Além do abuso de autoridade ser infração administra-
Santo Augusto, por meio de inexigibilidade de licita- tiva, também é utilizado no âmbito penal para caracte-
ção. Na hipótese narrada, ambas as agentes respon- rizar algumas condutas específicas de abuso de poder.
derão pelo mesmo delito, caracterizado pelo ato de e) O abuso de poder abrange o abuso de autoridade,
inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, conforme se pode vislumbrar pelo disposto no art. 4º
sendo-lhes aplicada a mesma pena. da Lei 4.898, a qual utiliza conceitos administrativos
para tipificar condutas contrárias à lei.
Resposta: Letra C.
Segundo o artigo 4º da Lei de Abuso de Autoridade Resposta: Letra B.
de 2019, são efeitos da condenação: I - tornar certa A letra A está errada, o abuso de autoridade está
a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, previsto em legislação própria, isso é, na Lei nº
devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na 13.869/2019. As letras C, D e E estão erradas, pois elas
sentença o valor mínimo para reparação dos danos classificam o abuso de autoridade como um instituto
causados pela infração, considerando os prejuízos por de natureza administrativa. Na verdade, o abuso de
ele sofridos; II - a inabilitação para o exercício de cargo, autoridade é algo que não se comunica com a esfera
mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a administrativa e, por isso, não está inserido dentro do
5 (cinco) anos; III - a perda do cargo, do mandato ou abuso de poder.
da função pública. Os efeitos previstos nos incisos II e
III são condicionados à ocorrência de reincidência em DOS CRIMES DE TRÂNSITO (LEI N.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

crime de abuso de autoridade e não são automáticos, 9.503/1997)


devendo ser declarados motivadamente na sentença.

4. (QUADRIX – 2019) Quanto aos poderes administrati- LEI Nº 9.503/1997 E SUAS ALTERAÇÕES (CRIMES DE
vos, julgue o item. TRÂNSITO)
O abuso de poder, na instância administrativa, gera ne-
cessárias repercussões criminais por meio da figura do Aos crimes cometidos na direção de veículos automo-
abuso de autoridade. tores, previstos neste Código, aplicam-se as normas ge-
rais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se
( ) CERTO ( ) ERRADO este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como
a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que cou-
ber. Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal
culposa o disposto na Lei do Juizado Especial, exceto se:

370
• sob a influência de álcool ou qualquer outra subs- São circunstâncias que sempre agravam as penalida-
tância psicoativa que determine dependência. des dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo co-
• participando, em via pública, de corrida, dispu- metido a infração:
ta ou competição automobilística, de exibição ou
demonstração de perícia em manobra de veículo • com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com
automotor, não autorizada pela autoridade com- grande risco de grave dano patrimonial a terceiros
petente. • utilizando o veículo sem placas, com placas falsas
• transitando em velocidade superior à máxima per- ou adulteradas.
mitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilôme- • sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de
tros por hora). Habilitação.
• com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilita-
O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes pre- ção de categoria diferente da do veículo.
vistas no Código Penal, dando especial atenção à culpa- • quando a sua profissão ou atividade exigir cuida-
bilidade do agente e às circunstâncias e consequências dos especiais com o transporte de passageiros ou
do crime. de carga.
A suspensão ou a proibição de se obter a permissão • utilizando veículo em que tenham sido adultera-
ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode dos equipamentos ou características que afetem a
ser imposta isolada ou cumulativamente com outras sua segurança ou o seu funcionamento de acordo
penalidades. com os limites de velocidade prescritos nas especi-
A penalidade de suspensão ou de proibição de se ficações do fabricante.
obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo • sobre faixa de trânsito temporária ou permanente-
automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. mente destinada a pedestres.
Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu
será intimado a entregar à autoridade judiciária, em qua- Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de
renta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em
de Habilitação. flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e inte-
A penalidade de suspensão ou de proibição de se ob- gral socorro àquela.
ter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo au-
tomotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito
de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimen- HORA DE PRATICAR
to prisional.
Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, 1. (AOCP – 2020) Referente à prática do racismo no Bra-
havendo necessidade para a garantia da ordem públi- sil, analise as assertivas e assinale a alternativa que apon-
ca, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a ta as corretas.
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante
representação da autoridade policial, decretar, em deci- I. É crime imprescritível, ou seja, não sofre prescrição.
são motivada, a suspensão da permissão ou da habilita- II. É crime inafiançável que não admite o pagamento de
ção para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua fiança para que o preso seja solto.
obtenção. III. O racismo é punível com a pena de detenção, nos
Da decisão que decretar a suspensão ou a medida termos da lei.
cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministé- IV. Constitui crime de racismo comerciar livros fazendo
rio Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias
suspensivo. contra a comunidade judaica.
A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proi-
bição de se obter a permissão ou a habilitação será sem- a) Apenas I, II e III.
pre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho b) Apenas I, II e IV.
c) Apenas II, III e IV.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito


do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou d) Apenas II e III.
residente. e) I, II, III e IV.
Se o réu for reincidente na prática de crime previsto 2. (AOCP – 2018) Constituem crimes resultantes de dis-
neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão criminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
da permissão ou habilitação para dirigir veículo automo- procedência nacional, EXCETO
tor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.
A penalidade de multa reparatória consiste no paga- a) impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente
mento, mediante depósito judicial em favor da vítima, habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta
ou seus sucessores, de quantia calculada com base no ou Indireta, bem como das concessionárias de servi-
disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que ços públicos.
houver prejuízo material resultante do crime. b) negar ou obstar emprego em empresa privada.

371
c) recusar ou impedir acesso a estabelecimento comer- b) A pena prevista para aquele que se omite em face de
cial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou condutas que caracterizam crimes de tortura, quando
comprador. tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, é de um a três
d) impedir o acesso ou recusar hospedagem em ho- anos.
tel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento c) O agente público que pratica uma das condutas que
similar. caracterizam crimes de tortura terá a pena aumentada
e) injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de- em dois terços.
coro, utilizando-se de elementos referentes à raça, cor, d) O agente público condenado por crime de tortura
etnia, religião e origem.
perderá o cargo, função ou emprego público e sofrerá
3. (AOCP – 2018) De acordo com a Lei nº 7.716/1989, interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da
que define os crimes resultantes de preconceito de raça pena aplicada.
ou de cor, aquele que incitar o preconceito de raça por e) O crime de tortura é insuscetível de fiança ou graça,
intermédio dos meios de comunicação social está sujeito mas é suscetível de anistia.
à pena de
7. (AOCP – 2018) Segundo o Estatuto do Desarmamento
a) reclusão de dois a cinco anos e multa. (Lei nº 10.826/2003), é proibido o porte de arma de fogo
b) trabalho voluntário e restrições de finais de semana. em todo o território nacional, salvo para os casos previs-
c) reclusão de um a três anos. tos em legislação própria e para
d) detenção de seis meses a 1 ano e multa.
e) somente multa. a) Analista do Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro.
4. (AOCP – 2020) O Estatuto da Criança e do Adoles-
cente prevê que, ao oferecer, trocar, disponibilizar, trans- b) Deputados federais e Senadores da República.
mitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio c) Procuradores-Gerais dos Estados Federados.
(inclusive por meio de sistema de informática ou tele- d) Médicos legistas do Instituto Médico Legal.
mático) fotografia, vídeo ou outro registro que contenha e) Integrantes da Carreira de Auditoria Fiscal do Trabalho.
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo crian-
ça ou adolescente, a pessoa pode sofrer a pena de 8. (AOCP – 2018) A autorização para o porte de arma
de fogo de uso permitido, em todo o território nacional
a) jamais e em tempo algum ter acesso à internet e à e após prévia autorização do SINARM (Sistema Nacional
criança envolvida. de Amas), é de competência de qual entidade?
b) multa de até 100 vezes o valor do salário mínimo.
c) multa e reclusão de até 20 (vinte) anos. a) Polícia Federal.
d) reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. b) Polícia Rodoviária Federal.
e) detenção, de seis meses a dois anos, e multa. c) Agência Brasileira de Inteligência.
d) Polícia Militar dos Estados-Federados.
5. (AOCP – 2018) A respeito da interceptação telefônica,
assinale a alternativa correta. e) Forças Armadas.

a) Não será admitida a interceptação de comunicações 9. (AOCP – 2019) De acordo com a Lei n° 10.826/03
(estatuto do desarmamento), o sujeito que for preso em
telefônicas, dentre outras hipóteses, quando a prova
via pública portando arma de fogo, que não contém me-
puder ser feita por outros meios disponíveis. canismo de acionamento, terá sua conduta considerada
b) Será admitida a interceptação para investigar crimes como atípica em razão do instituto
punidos com detenção ou reclusão.
c) A interceptação das comunicações telefônicas somen- a) da legítima defesa.
te poderá ser determinada pelo juiz a requerimento
b) do crime impossível.
do Ministério Público.
c) do erro sobre elementos do tipo.
d) Deferido o pedido, o juiz conduzirá os procedimen-
d) da discriminante putativa.
tos de interceptação, dando ciência ao Delegado e ao
Ministério Público, que poderão acompanhar a sua e) da relação de causalidade.
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

realização.
10. (AOCP – 2020) A Lei nº 11.340/2006, conhecida
e) Constitui contravenção penal realizar interceptação de
como Lei “Maria da Penha”, cria mecanismos para
comunicações telefônicas sem autorização judicial.

6. (AOCP – 2019) A respeito dos Crimes de Tortura, re- a) coibir e prevenir a violência em qualquer âmbito con-
gulados pela Lei nº 9.455/1997, assinale a alternativa tra a mulher.
correta. b) prevenir a violência contra o homem.
c) prevenir e coibir a violência contra criança e
a) A pena prevista para o crime de tortura consistente adolescente.
em submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au- d) coibir a violência contra a pessoa com deficiência.
toridade, com emprego de violência ou grave ameaça, e) coibir e prevenir a violência doméstica e familiar con-
a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de tra a mulher.
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventi-
vo, é de reclusão de dois a cinco anos.

372
11. (AOCP – 2020) No atendimento da assistente social a) É considerada violência doméstica contra a mulher
à Sra Maria, a atendida contou que, na semana anterior, qualquer ação ou omissão que envolver aparentados,
seu marido, Jorge, chegou em casa bêbado e tentou for- unidos por laços naturais ou civilmente.
çá-la a ter relação sexual, mas ela conseguiu fugir para a b) Quando se tratar de crime contra a mulher, são ne-
casa da mãe, sua vizinha. Em sequência, Jorge foi buscá- cessárias inquirições sobre o fatonos âmbitos criminal,
-la, arrastando-a pelos cabelos e braços e proferindo que civil e administrativo.
Maria é imprestável para cumprir seu dever de mulher,
além de outras palavras de baixo calão. Ela completou c) O juiz assegurará à mulher em situação de violência
dizendo que se sente humilhada porque há anos escuta doméstica e familiar a manutenção de vínculo traba-
essas palavras. Considerando esse caso hipotético, assi- lhista, quando necessário o afastamento do local de
nale a alternativa correta. trabalho, por até três meses.
d) A mulher, vítima de violência doméstica e familiar, será
a) Não há violência sexual porque Maria e Jorge são afastada de seu local de trabalho e integrará uma ins-
casados. tituição de proteção.
b) Há violência física, mas não sexual, porque foi apenas e) Entre as medidas de prevenção, está a implementação
uma tentativa de estupro, sem consumação do ato. de atendimento policial especializado para mulheres.
c) Houve violência física porque Jorge proferiu palavras
de baixo calão que humilharam Maria. 16. (AOCP – 2018) É/São procedimento(s) que deve(m)
ser adotado(s) pela autoridade policial nos casos de vio-
d) Houve violência baseada no gênero contra Maria. lência doméstica contra a mulher, por ocasião do registro
e) Houve violência moral porque Maria se sente humi- da ocorrência,
lhada com as palavras proferidas por Jorge.
a) determinar que se proceda o corpo de delito da ofen-
dida e requisitar outros exames periciais necessários.
12. (AOCP – 2018) A lei Maria da Penha, Lei 11.340/06,
em seu art. 7º, define, entre as formas de violência do- b) remeter, no prazo de 24 horas, expediente ao Juiz so-
méstica e familiar contra a mulher, a destruição de seus licitando a concessão de medidas protetivas de urgên-
pertences, como rasgar carteira profissional. cia, conforme pedido da ofendida. c) somente ouvir a
Essa forma de violência está classificada como ofendida.
a) violência física c) realizar somente a oitiva das testemunhas do fato.
b) violência psicológica. d) juntar aos autos a folha de antecedentes criminais das
c) violência patrimonial. testemunhas.
d) violência moral.
e) violência sexual. 17. (AOCP – 2020) Em relação à Lei nº 11.340/06 (Lei
Maria da Penha), assinale a alternativa INCORRETA.
13. (AOCP – 2018) A Lei Maria da Penha, Lei 11.340/2006,
em seu artigo 7º, define as formas de violência doméstica a) Toda mulher, independentemente de classe, raça, et-
e familiar contra a mulher. nia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacio-
O impedimento de usar contraceptivos está associado à nal, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
a) violência psicológica. oportunidades e facilidades para viver sem violência,
b) violência sexual. preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa-
c) violência patrimonial. mento moral, intelectual e social.
d) violência moral. b) A violência doméstica e familiar contra a mulher cons-
e) violência física. titui uma das formas de violação dos direitos humanos.
c) É possível a aplicação, nos casos de violência domésti-
14. (AOCP – 2020) A Lei da Maria da Penha foi alterada ca e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica.
no ano de 2019, incluindo d) É direito da mulher em situação de violência domésti-
ca e familiar o atendimento policial e pericial especiali-
a) o direito da mulher ser inquirida preferencialmente zado, ininterrupto e prestado por servidores preferen-
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

por servidores do sexo feminino. cialmente do sexo feminino previamente capacitados.


b) a definição de violência doméstica e familiar. e) A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais
c) o direito de, conforme o caso, a mulher ser inquirida relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes
por profissional especializado em violência doméstica ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da in-
e familiar. timação do advogado constituído ou do defensor
d) a obrigação do agressor ressarcir todos os danos cau- público.
sados, inclusive os custos relativos a serviços do SUS
prestados no atendimento da vítima. 18. (AOCP – 2019) Assinale a alternativa que está de
e) o direito do depoimento ficar registrado e integrar o acordo com os preceitos da Lei n° 11.340/2006.
inquérito.
a) As medidas protetivas de urgência devem ser adota-
15. (AOCP – 2019) Considerando a Lei nº 11.340/2006, das pelo juiz no prazo de 24 horas.
que coíbe a violência doméstica e familiar contra a mu- b) A violência moral é entendida como qualquer conduta
lher, assinale a alternativa correta. do agressor que constitua calúnia ou difamação, exce-
tuando-se a injúria.

373
c) Em nenhuma hipótese, a mulher em situação de vio- b) Da colaboração premiada efetuada pelo investigado
lência doméstica e familiar estará desacompanhada ou denunciado, é necessária a obtenção de algum re-
de advogado. sultado previsto em lei, podendo ser ele a prevenção
d) A Lei n° 11.340/2006 veda a aplicação dos institutos de infrações penais decorrentes das atividades da or-
da Lei n° 9.099/95, exceto o sursis processual. ganização criminosa.
e) É possível obrigar o agressor a prestar alimentos pro- c) Se a colaboração premiada for posterior à sentença
visionais ou provisórios. condenatória, a pena não poderá ser reduzida, mas
será admitida a progressão de regime, ainda que au-
19. (AOCP – 2019) Seguindo as diretrizes registradas
em nossa legislação extravagante, de acordo com a Lei sentes os requisitos objetivos.
n° 12.850/13 (organização criminosa), compreende-se d) A sentença condenatória poderá ser proferida com
como organização criminosa fundamento apenas nas declarações de agente
colaborador.
a) a associação de 3 ou mais pessoas estruturalmente e) O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigi-
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ain- loso assim que proferida a sentença condenatória ou
da que informalmente, com objetivo de obter, direta rejeitada a denúncia pelo juiz competente.
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de infrações penais cujas penas
máximas sejam superiores a 2 anos, ou que sejam de
caráter transnacional.
b) a associação de 3 ou mais pessoas estruturalmente GABARITO
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ain-
da que informalmente, com objetivo de obter, direta
1 B
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
2 E
mediante a prática de infrações penais cujas penas
máximas sejam superiores a 4 anos, ou que sejam de
3 A
caráter transnacional. 4 D
c) a associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente 5 A
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ain- 6 D
da que informalmente, com objetivo de obter, direta 7 E
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, 8 A
mediante a prática de infrações penais cujas penas 9 B
máximas sejam superiores a 2 anos, ou que sejam de 10 E
caráter transnacional. 11 D
d) a associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente 12 C
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ain- 13 B
da que informalmente, com objetivo de obter, direta 14 D
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, 15 E
mediante a prática de infrações penais cujas penas 16 A
máximas sejam superiores a 4 anos, ou que sejam de 17 C
caráter transnacional. 18 E
e) a associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente 19 D
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ain- 20 B
da que informalmente, com objetivo de obter, direta
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de infrações penais cujas penas
máximas sejam superiores a 3 anos, ou que sejam de
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

caráter transnacional.

20. (AOCP – 2018) A colaboração premiada é um acordo


realizado entre órgão acusador/ investigador e a defesa,
com o objetivo de facilitar a persecução penal em troca
de benefícios ao colaborador, reduzindo as consequên-
cias sancionatórias à sua conduta delitiva. Sobre esse
meio de obtenção de prova previsto na Lei Federal nº
12.850/2013, assinale a alternativa correta.

a) São direitos do colaborador participar das audiências


sem contato visual com os outros acusados e cumprir
pena privativa de liberdade em residência privada.

374
De início, a literatura grega trouxe na obra Antígona
uma discussão a respeito da prevalência da lei natural
NOÇÕES DE DIREITOS sobre a lei posta. Na obra, a protagonista discorda da
proibição do rei Creonte de que seu irmão fosse enterra-
HUMANOS do, uma vez que ele teria traído a pátria. Assim, enterra
seu irmão e argumenta com o rei que nada do que seu
irmão tivesse feito em vida poderia dar o direito ao rei de
DIREITO INTERNACIONAL E DIREITOS violar a regra imposta pelos deuses de que todo homem
HUMANOS deveria ser enterrado para que pudesse partir desta vida:
a lei natural prevaleceria então sobre a ordem do rei.4
O surgimento dos direitos humanos está envolvido Aristóteles5 argumenta: “lei particular é aquela que
num histórico complexo no qual pesaram vários fatores: cada comunidade determina e aplica a seus próprios
tradição humanista, recepção do direito romano, senso membros; ela é em parte escrita e em parte não escrita. A
comum da sociedade da Europa na Idade Média, tradi- lei universal é a lei da natureza. Pois, de fato, há em cada
ção cristã, entre outros1. Com efeito, são muitos os ele- um alguma medida do divino, uma justiça natural e uma
mentos relevantes para a formação do conceito de direi- injustiça que está associada a todos os homens, mesmo
tos humanos tal qual perceptível na atualidade de forma naqueles que não têm associação ou pacto com outro”.
que é difícil estabelecer um histórico linear do processo Nesta linha, destaca-se o surgimento do estoicismo,
de formação destes direitos. Entretanto, é possível apon- doutrina que se desenvolveu durante seis séculos, desde
tar alguns fatores históricos e filosóficos diretamente li- os últimos três séculos anteriores à era cristã até os pri-
gados à construção de uma concepção contemporânea meiros três séculos desta era, mas que trouxe ideias que
de direitos humanos. prevaleceram durante toda a Idade Média e mesmo além
É a partir do período axial (800 a.C. a 200 a.C.), ou seja, dela. O estoicismo organizou-se em torno de algumas
mesmo antes da existência de Cristo, que o ser humano ideias centrais, como a unidade moral do ser humano e a
passou a ser considerado, em sua igualdade essencial, dignidade do homem, considerado filho de Zeus e pos-
como um ser dotado de liberdade e razão. Surgiam assim suidor, como consequência, de direitos inatos e iguais
os fundamentos intelectuais para a compreensão da pes- em todas as partes do mundo, não obstante as inúmeras
soa humana e para a afirmação da existência de direitos diferenças individuais e grupais6.
universais, porque a ela inerentes. Durante este período Influenciado pelos estoicos, Cícero (106 a.C. - 43 a.C.),
que despontou a ideia de uma igualdade essencial en- um dos principais pensadores do período da jovem repú-
tre todos os homens. Contudo, foram necessários vinte e blica romana, também defendeu a existência de uma lei
cinco séculos para que a Organização das Nações Unidas natural. Neste sentido é a assertiva de Cícero7: “a razão
- ONU, que pode ser considerada a primeira organização reta, conforme à natureza, gravada em todos os corações,
internacional a englobar a quase-totalidade dos povos imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta
da Terra, proclamasse, na abertura de uma Declaração do mal que proíbe e, ora com seus mandados, ora com
Universal dos Direitos Humanos de 1948, que “todos os suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons,
homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”2. nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser
No berço da civilização grega continuou a discussão contestada, nem derrogada em parte, nem anulada; não
a respeito da existência de uma lei natural inerente a to- podemos ser isentos de seu cumprimento pelo povo nem
dos os homens. As premissas da concepção de lei natural pelo senado; não há que procurar para ela outro comen-
estão justamente na discussão promovida na Grécia anti- tador nem intérprete; não é uma lei em Roma e outra em
ga, no espaço da polis. Neste sentido, destaca Assis3 que, Atenas, - uma antes e outra depois, mas uma, sempiterna
originalmente, a concepção de lei natural está ligada não e imutável, entre todos os povos e em todos os tempos”.
só à de natureza, mas também a de diké: a noção de jus-
tiça simbolizada a partir da deusa diké é muito ampla e
abstrata, mas com a legislação passou a ter um conteú-
do palpável, de modo que a justiça deveria corresponder
às leis da cidade; entretanto, é preciso considerar que
os costumes primitivos trazem o justo por natureza, que
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

pode se contrapor ao justo por convenção ou legislação,


devendo prevalecer o primeiro, que se refere ao natural-
mente justo, sendo esta a origem da ideia de lei natural.
4 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean Melville. São Pau-
lo: Martin Claret, 2003.
1 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e Crítica Moderna. Re- 5 ARISTÓTELES. Retórica. Tradução Marcelo Silvano Madeira. São
vista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, n. 300, p. 27-29, jul. 2009. Paulo: Rideel, 2007.
2 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos 6 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos
Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
3 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, liberdade 7 CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Tradução Amador Cisneiros.
e poder. São Paulo: Lúmen, 2002. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

375
Com a queda do Império Romano, iniciou-se o pe- Em geral, o absolutismo europeu foi marcado profun-
ríodo medieval, predominantemente cristianista. Um dos damente pelo antropocentrismo, colocando o homem
grandes pensadores do período, Santo Tomás de Aquino no centro do universo, ocupando o espaço de Deus. Na-
(1225 d.C. -1274 d.C.)8, supondo que o mundo e toda a turalmente, as premissas da lei natural passaram a ser
comunidade do universo são regidos pela razão divina e questionadas, já que geralmente se associavam à dimen-
que a própria razão do governo das coisas em Deus fun- são do divino. A negação plena da existência de direi-
damenta-se em lei, entendeu que existe uma lei eterna tos inatos ao homem implicava em conferir um poder
ou divina, pois a razão divina nada concebe no tempo e irrestrito ao soberano, o que gerou consequências que
é sempre eterna. desagradavam a burguesia.
Com base nisso, Aquino9 chamou de lei natural “a par- O príncipe, obra de Maquiavel (1469 d.C. - 1527 d.C.)
ticipação da lei eterna na lei racional”. Sobre o conteúdo considerada um marco para o pensamento absolutista,
da lei natural, definiu Aquino (2005, p. 562) que “todas relata com precisão este contexto no qual o poder do
aquelas coisas que devem ser feitas ou evitadas perten- soberano poderia se sobrepor a qualquer direito alega-
cem aos preceitos da lei de natureza, que a razão prática damente inato ao ser humano desde que sua atitude ga-
naturalmente apreende ser bens humanos”. Logo, a lei na- rantisse a manutenção do poder. Maquiavel12 considera
tural determina o agir virtuoso, o que se espera do homem “na conduta dos homens, especialmente dos príncipes,
em sociedade, independentemente da lei humana. contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios.
Com a concepção medieval de pessoa humana é Portanto, se um príncipe pretende conquistar e man-
que se iniciou um processo de elaboração em relação ter o poder, os meios que empregue serão sempre ti-
ao princípio da igualdade de todos, independentemente dos como honrosos, e elogiados por todos, pois o vulgo
das diferenças existentes, seja de ordem biológica, seja atenta sempre para as aparências e os resultados”.
de ordem cultural. Foi assim, então, que surgiu o concei- Os monarcas dos séculos XVI, XVII e XVIII agiam de
to universal de direitos humanos, com base na igualdade forma autocrática, baseados na teoria política desenvol-
essencial da pessoa10. vida até então que negava a exigência do respeito à Ética,
No processo de ascensão do absolutismo europeu, logo, ao direito natural, no espaço público. Somente num
a monarquia da Inglaterra encontrou obstáculos para se momento histórico posterior se permitiu algum resgate
estabelecer no início do século XIII, sofrendo um revés. da aproximação entre a Moral e o Direito, qual seja o da
Ao se tratar da formação da monarquia inglesa, em 1215 Revolução Intelectual dos séculos XVII e XVIII, com o
os barões feudais ingleses, em uma reação às pesadas movimento do Iluminismo, que conferiu alicerce para as
taxas impostas pelo Rei João Sem-Terra, impuseram-lhe Revoluções Francesa e Industrial - ainda assim a visão
a Magna Carta - Magna Charta Libertatum de 1215. antropocentrista permaneceu, mas começou a se conso-
Referido documento, em sua abertura, expõe a noção de lidar a ideia de que não era possível que o soberano im-
concessão do rei aos súditos, estabelece a existência de pusesse tudo incondicionalmente aos seus súditos.
uma hierarquia social sem conceder poder absoluto ao Com efeito, quando passou a se questionar o concei-
soberano, prevê limites à imposição de tributos e ao con- to de Soberano, ao qual todos deveriam obediência, mas
fisco, constitui privilégios à burguesia e traz procedimen- que não deveria obedecer a ninguém. Indagou-se se os
tos de julgamento ao prever conceitos como o de devido indivíduos que colocaram o Soberano naquela posição
processo legal, habeas corpus e júri. Não que a carta se (pois sem povo não há soberano) teriam direitos no re-
assemelhe a uma declaração de direitos humanos, princi- gime social e, em caso afirmativo, quais seriam eles. As
palmente ao se considerar que poucos homens naquele respostas a estas questões iniciam uma visão moderna
período eram de fato livres, mas ela foi fundamental na- do direito natural, reconhecendo-o como um direito que
quele contexto histórico de falta de limites ao sobera- acompanha o cidadão e não pode ser suprimido em ne-
no11. A Magna Carta de 1215 instituiu ainda um Grande nhuma circunstância.13
Conselho que foi o embrião para o Parlamento inglês, Antes que despontassem as grandes revoluções que
embora isto não signifique que o poder do rei não tenha interromperam o contexto do absolutismo europeu, na
sido absoluto em certos momentos, como na dinastia Inglaterra houve uma árdua discussão sobre a garantia
Tudor. Havia um absolutismo de fato, mas não de Direito. das liberdades pessoais, ainda que o foco fosse a pro-
teção do clero e da nobreza. Quando a dinastia Stuart
tentou transformar o absolutismo de fato em absolutis-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

mo de direito, ignorando o Parlamento, este impôs ao rei


8 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução Aldo Van- a Petição de Direitos - Petition of Rights de 1628, que
nucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel García Rodrí- exigia o cumprimento da Magna Carta de 1215. Contudo,
guez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira. Edição o rei se recusou a fazê-lo, fechando por duas vezes o Par-
Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. VI, parte II, seção II, lamento, sendo que a segunda vez gerou uma violenta
reação que desencadeou uma guerra civil.
questões 57 a 122.
9 Ibid.
10 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direi- 12 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti. São
tos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Paulo: Martin Claret, 2007.
11 AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Magna Carta: Algumas Contribuições 13 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e Crítica Moder-
Jurídicas. Revista Intertemas: revista da Toledo. Presidente Pruden- na. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, n. 300, p. 27-29,
te, ano 09, v. 11, p. 201-227, nov. 2006. jul. 2009.

376
Neste meio tempo, enquanto o Parlamento estava 1) O primeiro grande movimento desencadeado foi
operante, foi aprovado o Habeas Corpus Act, de 1679. a Revolução Americana. Em 1776 se deu a inde-
Após diversas transições no trono inglês, despontou a pendência das treze Colônias da América Conti-
Revolução Gloriosa que durou de 1688 até 1689, con- nental Britânica, registrada na Declaração de In-
ferindo-se o trono inglês a Guilherme de Orange, que dependência. Após diversas batalhas, a Inglaterra
aceitou a Declaração de Direitos - Bill of Rights de 1689. reconheceu a independência em 1783. Destacam-
Todo este movimento resultou, assim, nas garantias -se alguns pontos do primeiro documento: o arti-
expressas do habeas corpus e do Bill of Rights. Por sua vez, go I do referido documento assegura a igualdade
a instituição-chave para a limitação do poder monárqui- de todos de maneira livre e independente, con-
co e para garantia das liberdades na sociedade civil foi siderando esta como um direito inato; o artigo II
o Parlamento e foi a partir do Bill of Rights britânico que estabelece que o poder pertence ao povo e que o
surgiu a ideia de governo representativo, ainda que não Estado é responsável perante ele; o artigo V prevê
do povo, mas pelo menos de suas camadas superiores14. a separação dos poderes e o artigo VI institui a rea-
Tais ideias liberais foram importantes como base para lização de eleições diretas, necessariamente. Após,
o Iluminismo, que se desencadeou por toda a Europa. em 1787, sobreveio a Constituição norte-ameri-
Destaca-se que quando isso ocorreu, em meados do sé- cana. A declaração americana estava mais voltada
culo XVIII, se dava o advento do capitalismo em sua fase aos americanos do que à humanidade, razão pela
industrial. O processo de formação do capitalismo e a qual a Revolução Francesa costuma receber mais
ascensão da burguesia trouxeram implicações profundas destaque num cenário histórico global.
no campo teórico, gerando o Iluminismo. 2) Já a Revolução Francesa decorreu da incapaci-
O Iluminismo lançou base para os principais eventos dade do governo de resolver sua crise financeira,
que ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais ascendendo com isso a classe burguesa (sans-cu-
sejam as Revoluções Francesa, Americana e Industrial. Ti- lottes), sendo o primeiro evento de tal ascensão a
veram origem nestes movimentos todos os principais fa- Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, segui-
tos do século XIX e do início do século XX, por exemplo, a da por outros levantes populares. Derrubados os
disseminação do liberalismo burguês, o declínio das aris- privilégios das classes dominantes, a Assembleia se
tocracias fundiárias e o desenvolvimento da consciência reuniu para o preparo de uma carta de liberdades,
de classe entre os trabalhadores15. que veio a ser a Declaração dos Direitos do Ho-
Jonh Locke (1632 d.C. - 1704 d.C.) foi um dos pen- mem e do Cidadão de 178916.
sadores da época, transportando o racionalismo para a
política, refutando o Estado Absolutista, idealizando o Entre outras noções, tal documento previu: a liberda-
direito de rebelião da sociedade civil e afirmando que o de e igualdade entre os homens quanto aos seus direitos
contrato entre os homens não retiraria o seu estado de (artigo 1º), a necessidade de conservação dos seus di-
liberdade. Ao lado dele, pode ser colocado Montesquieu reitos naturais, quais sejam a liberdade, a propriedade,
(1689 d.C. - 1755 d.C.), que avançou nos estudos de Loc- a segurança e a resistência à opressão (artigo 2º); a li-
ke e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em definiti- mitação do direito de liberdade somente por lei (artigo
vo a clássica divisão de poderes: Executivo, Legislativo e 4º); o princípio da legalidade (artigo 7º); o princípio da
Judiciário. Por fim, merece menção o pensador Rousseau inocência (artigo 9º); a manifestação livre do pensamen-
(1712 d.C. - 1778 d.C.), defendendo que o homem é na- to (artigos 10 e 11); e a necessária separação de poderes
turalmente bom e formulando na obra O Contrato Social (artigo 16).
a teoria da vontade geral, aceita pela pequena burguesia
e pelas camadas populares face ao seu caráter democrá- 3) Por sua vez, a Revolução Industrial, que começou
tico. Enfim, estes três contratualistas trouxeram em suas na Inglaterra, criou o sistema fabril, o que refor-
obras as ideias centrais das Revoluções Francesa e Ame- mulou a vida de homens e mulheres pelo mundo
ricana. Em comum, defendiam que o Estado era um mal todo, não só pelos avanços tecnológicos, mas no-
necessário, mas que o soberano não possuía poder divi- tadamente por determinar o êxodo de milhões de
no/absoluto, sendo suas ações limitadas pelos direitos pessoas do interior para as cidades. Os milhares
dos cidadãos submetidos ao regime estatal. No entanto, de trabalhadores se sujeitavam a jornadas longas
Rousseau era o pensador que mais se diferenciava dos e desgastantes, sem falar nos ambientes insalubres
dois anteriores, que eram mais individualistas e trouxe- e perigosos, aos quais se sujeitavam inclusive as
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

ram os principais fundamentos do Estado Liberal, porque crianças. Neste contexto, surgiu a consciência de
defendia a entrega do poder a quem realmente estives- classe17, lançando-se base para uma árdua luta pe-
se legitimado para exercê-lo, pensamento que mais se los direitos trabalhistas.
aproxima da atual concepção de democracia.
Fato é que quanto maior a autonomia de vontade -
buscada nas revoluções anteriores - melhor funciona o
mercado capitalista, beneficiando quem possui maior
14 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direi-
número de bens.
tos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
15 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: do
homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert 16 Ibid.
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2. 17 Ibid.

377
Assim, a classe que detinha bens, qual seja a burgue- Já o evento que culminou na rendição do Japão foi o
sia, ampliou sua esfera de poder, enquanto que o pro- lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Naga-
letariado passou a ser vítima do poder econômico. No saki. O mundo somente tomou conhecimento da exten-
Estado Liberal, aquele que não detém poder econômico são da tirania alemã quando os exércitos Aliados abriram
fica desprotegido. O indivíduo da classe operária sozinho os campos de concentração na Alemanha e nos países
não tinha defesa, mas descobriu que ao se unir com ou- por ela ocupados, encontrando prisioneiros famintos,
tros em situação semelhante poderia conquistar direitos. doentes e brutalizados, além de milhões de corpos dos
Para tanto, passaram a organizar greves. judeus, poloneses, russos, ciganos, homossexuais e trai-
Nasceu, assim, o direito do trabalho, voltado à prote- dores do Reich em geral, que foram perseguidos, tortu-
ção da vítima do poder econômico, o trabalhador. Parte- rados e mortos19.
-se do princípio da hipossuficiência do trabalhador, que Vale ressaltar a constituição de um órgão que foi o
é o princípio da proteção e que gerou os princípios da responsável por redigir o primeiro documento de rele-
primazia, da irredutibilidade de vencimentos e outros. vância internacional abrangendo a questão dos direitos
Nota-se que no campo destes direitos e dos demais humanos. Em 26 de junho de 1945 foi assinada a carta de
direitos econômicos, sociais e culturais não basta uma organização das Nações Unidas, que tem por fundamen-
postura do indivíduo: é preciso que o Estado interfira e to o princípio da igualdade soberana de todos os estados
controle o poder econômico. que buscassem a paz, possuindo uma Assembleia Geral,
Entre os documentos relevantes que merecem men- um Conselho de Segurança, uma Secretaria, em Conse-
ção nesta esfera, destacam-se: Constituição do México lho Econômico e Social, um Conselho de Mandatos e um
de 1917, Constituição Alemã de Weimar de 1919 e Tribunal Internacional de Justiça20.
Tratado de Versalhes de 1919, sendo que o último ins- Entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de
tituiu a Organização Internacional do Trabalho - OIT 1946 realizou-se o Tribunal de Nuremberg, ao qual foram
(que emitia convenções e recomendações) e pôs fim à submetidos a julgamento os principais líderes nazistas,
Primeira Guerra Mundial (que havia durado de 1914 a o principal argumento levantado foi o de que todas as
1918).
ações praticadas foram baseadas em ordens superiores,
No final do século XIX e no início de século XX, o
todas dotadas de validade jurídica perante a Constituição.
mundo passou por variadas crises de instabilidade diplo-
Explica Lafer21: “No plano do Direito, uma das maneiras
mática, posto que vários países possuíam condições su-
de assegurar o primado do movimento foi o amorfismo
ficientes para se sobreporem sobre os demais, resultado
jurídico da gestão totalitária. Este amorfismo reflete-se
dos avanços tecnológicos e das melhorias no padrão de
tanto em matéria constitucional quanto em todos os
vida da sociedade. Neste contexto, surgiram condições
desdobramentos normativos. A Constituição de Weimar
para a eclosão das duas Guerras Mundiais, eventos que
nunca foi ab-rogada durante o regime nazista, mas a lei
alteraram o curso da história da civilização ocidental.
de plenos poderes de 24 de março de 1933 teve não só
Embora o processo de internacionalização dos direi-
tos humanos tenha antecedentes no pós-Primeira Guerra o efeito de legalizar a posse de Hitler no poder como o
Mundial, notadamente, a criação da Liga das Nações e de legalizar geral e globalmente as suas ações futuras.
da Organização Internacional do Trabalho com o Tra- Dessa maneira, como apontou Carl Schmitt - escrevendo
tado de Versalhes de 1919, é no pós-Segunda Guerra depois da II Guerra Mundial -, Hitler foi confirmado no
Mundial que se encontram as bases do direito interna- poder, tornando-se a fonte de toda legalidade positiva,
cional dos direitos humanos. em virtude de uma lei do Parlamento que modificou a
Os eventos da Segunda Guerra Mundial foram mar- Constituição. Também a Constituição stalinista de 1936,
cados pela desumanização: todos com o devido respaldo completamente ignorada na prática, nunca foi abolida”.
jurídico perante o ordenamento dos países que determi- No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Ge-
navam os atos. A teoria jurídica que conferiu fundamento ral das Nações Unidas elaborou a Declaração Universal
a um Direito que aceitasse tantas barbáries, sem perder a dos Direitos Humanos. Um dos principais pensadores
sua validade, foi o Positivismo que teve como precursor que contribuiu para a Declaração Universal dos Direitos
Hans Kelsen, com a obra Teoria Pura do Direito. Humanos de 1948 foi Maritain22, que entendia que os
No entender de Kelsen18, a justiça não é a caracterís- direitos humanos da pessoa como tal se fundamentam
tica que distingue o Direito das outras ordens coercitivas no fato de que a pessoa humana é superior ao Estado,
porque é relativo o juízo de valor segundo o qual uma que não pode impor a ela determinados deveres e nem
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

ordem pode ser considerada justa. Percebe-se que a Mo- retirar dela alguns direitos, por ser contrário à lei natural.
ral é afastada como conteúdo necessário do Direito, já
que a justiça é o valor moral inerente ao Direito.
A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim somente 19 BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental: do
homem das cavernas às naves espaciais. 43. ed. Atualização Robert
em 1945, após uma sucessão de falhas alemãs, que im-
E. Lerner e Standisch Meacham. São Paulo: Globo, 2005. v. 2.
pediram a conquista de Moscou, desprotegeram a Itália
20 Ibid.
e impossibilitaram o domínio da região setentrional da
Rússia (produtora de alimentos e petróleo). 21 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálo-
go com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das Letras,
2009.
18 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução João Bap- 22 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural. 3. ed.
tista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967.

378
Em suma, para o filósofo o homem ético é fiel aos
valores da verdade, da justiça e do amor, e segue a dou- #FicaDica
trina cristã para determinar seus atos: tais elementos de-
A perspectiva contemporânea de direitos
terminam o agir moral e levam à produção do bem na
humanos emerge no contexto do Pós-Se-
sociedade humanista integral.
gunda Guerra Mundial, tendo como marcos:
Moraes23 lembra que a Declaração de 1948 foi a mais
• Carta da ONU, de 1945, que institui a Or-
importante conquista no âmbito dos direitos humanos
ganização das Nações Unidas;
• Tribunal de Nuremberg, em 1946, que jul-
fundamentais em nível internacional, muito embora o
instrumento adotado tenha sido uma resolução, não
gou os líderes nazistas por crimes contra a
constituindo seus dispositivos obrigações jurídicas dos
humanidade;
Estados que a compõem. O fato é que desse documento
• Declaração Universal dos Direitos Humanos,
se originaram muitos outros, nos âmbitos nacional e in-
de 1948, que é o primeiro documento a re-
ternacional, sendo que dois deles praticamente repetem
conhecer materialmente os direitos humanos.
e pormenorizam o seu conteúdo, quais sejam: o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto In-
ternacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
ambos de 1966.
Ainda internacionalmente, após os pactos menciona- EXERCÍCIO COMENTADO
dos, vários tratados internacionais surgiram. Nesta linha,
Piovesan24 apontou os seguintes documentos: Conven- 1. (FCC – 2006) Comparando-se a Declaração dos Di-
ção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas reitos do Homem e do Cidadão (França, 1789) e a De-
de Discriminação Racial, Convenção sobre a Eliminação claração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948),
de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, pode-se afirmar que ambas reconhecem:
Convenção sobre os Direitos da Criança, Convenção so- Os Fundamentos Filosóficos e a Evolução Histórica dos
bre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Convenção Direitos Humanos 97
contra a Tortura, etc.
Ao lado do sistema global surgiram os sistemas re- a) o Estado como fonte dos direitos fundamentais.
gionais de proteção, que buscam internacionalizar os b) a liberdade e a igualdade inerentes ao ser humano.
direitos humanos no plano regional, em especial na Eu- c) a existência dos direitos individuais e sociais.
ropa, na América e na África25. Resultou deste processo d) a propriedade, individual ou coletiva.
a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de e) a necessidade de uma força pública para a garantia
São José da Costa Rica) de 1969. dos direitos.
No âmbito nacional, destacam-se as positivações nos
textos das Constituições Federais. Afinal, como explica Resposta: Letra B.
Lafer26, a afirmação do jusnaturalismo moderno de um A Declaração francesa é marco para a 1ª dimensão de
direito racional, universalmente válido, gerou implica- direitos humanos, consolidando conceitos como liber-
ções relevantes na teoria constitucional e influenciou o dade, igualdade (ainda que formal neste momento) e
processo de codificação a partir de então. Embora mui- soberania popular. Todos estes foram incorporados à
Declaração Universal de 1948, que também se preo-
tos direitos humanos também se encontrem nos textos
cupou com as dimensões que seguiram, reforçando,
constitucionais, aqueles não positivados na Carta Magna
por exemplo, a igualdade material não tratada na De-
também possuem proteção porque o fato de este direito
claração francesa.
não estar assegurado constitucionalmente é uma ofensa
Em “a”, o Estado não é a fonte de direitos fundamen-
à ordem pública internacional, ferindo o princípio da dig-
tais, mas, sim, a própria pessoa humana, cabendo a ele
nidade humana.
garanti-los e assegurá-los.
Em “c”, os direitos sociais somente foram reconheci-
dos em momento posterior à Revolução Industrial.
Em “d”, a propriedade protegida neste momento ini-
cial era apenas a propriedade individual, não a coletiva.
Em “e”, afirmava-se a necessidade de abstenção es-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

tatal (Estado não interventor), não de intervenção


estatal.
23 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria
geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da República DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997. HUMANOS
24 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucio-
nal Internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Artigo I, DUDH. Todas as pessoas nascem livres e
25 Ibid.
iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão
26 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálo-
go com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das Letras,
e consciência e devem agir em relação umas às outras
2009. com espírito de fraternidade.

379
A Carta Internacional dos Direitos Humanos lança as Artigo VII, DUDH. Todos são iguais perante a lei e
bases do sistema geral de proteção da pessoa humana têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção
no âmbito internacional, sendo composta por três docu- da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qual-
mentos: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quer discriminação que viole a presente Declaração e
de 1948; o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políti- contra qualquer incitamento a tal discriminação.
cos, de 1966; o Pacto Internacional dos Direitos Econômi- Artigo 3º, PIDCP. Os Estados partes do presente pacto
cos, Sociais e Culturais, de 1966. Ao longo deste capítulo
comprometem-se a assegurar a homens e mulheres
e do próximo serão estudados os direitos que compõem
a Carta, que se fundam na tríade liberdade, igualdade
igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos
e fraternidade instituída no artigo 1o, DUDH, remontan- enunciados no presente pacto.
do-se às dimensões de direitos humanos como direitos Artigo 26, PIDCP. Todas as pessoas são iguais perante
basilares da dignidade humana. a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual
proteção da lei. A este respeito, a lei deverá proibir
qualquer forma de discriminação e garantir a todas
#FicaDica as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer dis-
criminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, re-
A Declaração Universal dos Direitos Hu-
ligião, opinião política ou de outra natureza, origem
manos de 1948 inaugura o sistema geral
nacional ou social, situação econômica, nascimento
de proteção da pessoa humana no âmbi-
ou qualquer outra situação.
to internacional, sendo proclamada pela
Artigo 27, PIDCP. No caso em que haja minorias étni-
Assembleia Geral das Nações Unidas em
cas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes
10 de dezembro de 1948 pela Resolução
a essas minorias não poderão ser privadas do direi-
nº 217. Considerando o formato adotado,
to de ter, conjuntamente com outros membros de seu
que é o de deliberação da Assembleia Ge-
grupo, sua própria vida cultural, de professar e prati-
ral e não de tratado internacional, seus dis-
car sua própria religião e usar sua própria língua.
positivos não refletem obrigações jurídicas
dos Estados que a compõem – é o que se
A igualdade é não apenas um direito humano, mas
denomina normativa soft law.
um pressuposto de todo o sistema de proteção, pois im-
Noutras palavras, a Declaração em si não
plica no reconhecimento de que a condição humana é
possui conteúdo coativo em relação aos
única e que, em razão disso, toda pessoa merece igual
Estados-partes, mas seus princípios se re-
proteção da lei.
fletem em outros tratados internacionais
Sob um primeiro aspecto, a igualdade impede a dis-
que o possuem. O fato é que desse docu-
tinção entre pessoas pela condição do país ou território
mento se originaram muitos outros, nos
a que pertença, o que é importante sob o aspecto de
âmbitos nacional e internacional, sendo
proteção dos refugiados, prisioneiros de guerra, pessoas
que dois deles praticamente repetem e
perseguidas politicamente, nacionais de Estados que não
pormenorizam o seu conteúdo, quais se-
cumpram os preceitos das Nações Unidas. Não obstante,
jam: o Pacto Internacional dos Direitos Ci-
a discriminação não é proibida apenas quanto a indiví-
vis e Políticos e o Pacto Internacional dos
duos, mas também quanto a grupos humanos, formados
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
por classe social, etnia ou opinião em comum27.
Esta tríade da Declaração de 1948 e dos
“A Declaração reconhece a capacidade de gozo in-
Pactos de 1966 forma a Carta Internacional
distinto dos direitos e liberdades assegurados a todos os
dos Direitos Humanos.
homens, e não apenas a alguns setores ou atores sociais.
Garantir a capacidade de gozo, no entanto, não é sufi-
1. Direitos civis e políticos em espécie ciente para que este realmente se efetive. É fundamental
aos ordenamentos jurídicos próprios dos Estados viabi-
Os direitos civis e políticos em espécie perpassam por lizar os meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim de
diversas questões inerentes à vida, à liberdade, à igual-
que se perfectibilize, faticamente, esta garantia. Isto se dá
dade, à propriedade e à segurança pessoal, tal como por
não somente com a igualdade material diante da lei, mas
aspectos de proteção da pessoa humana em situações
de conflito com a lei. Na nomenclatura da CF/1988, são também, e principalmente, através do reconhecimento e
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

denominados direitos individuais (artigo 5o), nacionalida- respeito das desigualdades naturais entre os homens, as
de (artigo 12) e direitos políticos (artigos 14 e 15). quais devem ser resguardadas pela ordem jurídica, pois
é somente assim que será possível propiciar a aludida
1.1 Igualdade e não discriminação capacidade de gozo a todos”28.

Artigo II, DUDH. Toda pessoa tem capacidade para


gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou
27 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal
de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
nascimento, ou qualquer outra condição.
28 Ibid.

380
Sob um segundo aspecto, a igualdade entre as pes- A vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o pri-
soas se desdobra no direito à igualdade perante à lei. meiro valor moral de todos os seres humanos. Trata-se
Toda lei é dotada de caráter genérico e abstrato que evi- de um direito que pode ser visto em 4 aspectos, quais
dencia não se aplicar a uma pessoa determinada, mas sejam:
sim a todas as pessoas que venham a se encontrar na
situação por ela descrita. Não significa que a legislação a) direito de nascer;
não possa estabelecer, em abstrato, regras especiais para
b) direito de permanecer vivo;
um grupo de pessoas desfavorecido socialmente, dire-
c) direito de ter uma vida digna quanto à subsistência
cionando ações afirmativas, por exemplo, aos deficien-
tes, às mulheres, aos pobres – no entanto, todas estas e;
ações devem respeitar a proporcionalidade e a razoabili- d) direito de não ser privado da vida através da pena
dade (princípio da igualdade material). de morte30.

1.2 Vida Na Carta Internacional dos Direitos Humanos, é con-


ferida especificidade ao direito à vida no sentido de não
Artigo III, DUDH. Toda pessoa tem direito à vida, à ser arbitrariamente privado da própria vida, criando-se
liberdade e à segurança pessoal. restrições à pena de morte. Conforme se denota no arti-
Artigo 6º, PIDCP. 1. O direito à vida é inerente à pessoa go 6o, PIDCP, não se veda a pena de morte, mas se criam
humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Nin- impeditivos: apenas pode ser aplicada a crimes graves,
guém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. deve haver sentença transitada em julgado proferida por
2. Nos Países em que a pena de morte não tenha sido Tribunal competente, deve se assegurar o direito de pe-
abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de
dir indulto ou comutação da pena (os quais poderão ser
crimes mais graves, em conformidade com legislação
vigente na época em que o crime foi cometido e que concedidos, tal como a anistia), não pode ser imposta a
não esteja em conflito com as disposições do presen- menores de 18 anos e nem a mulheres gestantes.
te pacto, nem com a Convenção sobre a Prevenção Contudo, no próprio artigo 6o, PIDCP frisa-se que
e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á apli- suas disposições não podem ser usadas para retardar ou
car essa pena apenas em decorrência de uma sen- impedir a abolição da pena de morte. Neste sentido, a
tença transitada em julgado e proferida por tribunal abolição da pena de morte é o propósito da Carta Inter-
competente. nacional de Direitos Humanos, assinando-se o Segundo
3. Quando a privação da vida constituir um crime de Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre os Di-
genocídio, entende-se que nenhuma disposição do reitos Civis e Políticos com vista à Abolição da Pena de
presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do Morte, em 15 de dezembro de 1989, o qual foi ratificado
presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cum- pelo Brasil.
primento de quaisquer das obrigações que tenham
assumido em virtude das disposições da Convenção
1.3 Liberdade e segurança pessoal
sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir
indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto Artigo III, DUDH. Toda pessoa tem direito à vida, à
ou a comutação de pena poderão ser concedidos em liberdade e à segurança pessoal.
todos os casos. Artigo 9°, 1, PICDP. Toda pessoa tem direito à liberda-
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de e à segurança pessoais.
de crimes cometidos por pessoas menores de 18 anos,
nem aplicada a mulheres em estado de gravidez. O direito à liberdade é posto como consectário do
6. Não se poderá invocar disposição alguma do pre- direito à vida, pois ela depende da liberdade para o de-
sente artigo para retardar ou impedir a abolição da senvolvimento intelectual e moral. Assim, “[...] liberdade
pena de morte por um Estado Parte do presente pacto. é assim a faculdade de escolher o próprio caminho, sen-
do um valor inerente à dignidade do ser, uma vez que
A vida humana é o centro gravitacional no qual or- decorre da inteligência e da volição, duas características
da pessoa humana”31. O direito à segurança pessoal é o
bitam todos os direitos da pessoa humana, possuindo
reflexos jurídicos, políticos, econômicos, morais e religio-
direito de viver sem medo, protegido pela solidariedade
sos. Daí existir uma dificuldade em conceituar o vocábulo
vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa possui deixa de e liberto de agressões, logo, é uma maneira de garantir
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

ter valor ou sentido se ela perde a vida. o direito à vida32.


O direito à vida “abrange tanto o direito de não ser
morto, privado da vida, portanto, direito de continuar 1.4 Vedação à escravidão e à servidão
vivo, como também o direito de ter uma vida digna”29.
Na primeira esfera, enquadram-se questões como pena Artigo IV, DUDH. Ninguém será mantido em escra-
de morte, aborto, pesquisas com células-tronco, eutaná- vidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos
sia, entre outras polêmicas. Na segunda esfera, notam-se serão proibidos em todas as suas formas.
desdobramentos como a proibição de tratamentos in-
dignos, a exemplo da tortura, dos trabalhos forçados, etc. 30 BALERA, Wagner... Op. Cit.
31 BALERA, Wagner... Op. Cit.
29 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado.
15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 32 Ibid.

381
Artigo 8º, PICDP. 1. Ninguém poderá ser submetido 1.5 Vedação à tortura e a tratamento, castigo ou
à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em pena cruel, desumano ou degradante
todos as suas formas, ficam proibidos.
2. Ninguém poderá ser submetido à servidão. Artigo V, DUDH. Ninguém será submetido à tortu-
3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar traba- ra, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
lhos forçados ou obrigatórios; degradante.
b) A alínea “a” do presente parágrafo não poderá ser Artigo 7º, PIDCP. Ninguém poderá ser submetido à
interpretada no sentido de proibir, nos países em que tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desuma-
certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos nos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, subme-
forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos ter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a expe-
forçados, imposta por um tribunal competente; riências médicas ou científicas.
c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão
considerados “trabalhos forçados ou obrigatórios”: Tortura é a imposição de dor física ou psicológica
i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea por crueldade, intimidação, punição, para obtenção de
“b”, normalmente exigido de um indivíduo que tenha uma confissão, informação ou simplesmente por pra-
sido encerrado em cumprimento de decisão judicial ou zer da pessoa que tortura. A tortura é uma espécie de
que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liber- tratamento ou castigo cruel. A Convenção das Nações
dade condicional; Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Resolução n° 39/46
em que se admite a isenção por motivo de consciên- da Assembleia Geral das Nações Unidas) foi estabeleci-
cia, qualquer serviço nacional que a lei venha a exigir da em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo Brasil
daqueles que se oponha ao serviço militar por motivo em 28 de setembro de 1989. Equiparam-se à tortura e
de consciência; aos tratamentos cruéis outros tratamentos ou castigos
iii) qualquer serviço exigido em casos de emergên- desumanos e degradantes, isto é, que desconsideram a
condição humana ou buscam submeter a pessoa a uma
cia ou de calamidade que ameacem o bem-estar da
humilhação.
comunidade;
iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das
1.6 Personalidade jurídica
obrigações cívicas normais.
Artigo VI, DUDH. Toda pessoa tem o direito de ser, em
A abolição da escravidão foi uma luta histórica em
todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a
todo o globo. Seria totalmente incoerente quanto aos
lei.
princípios da liberdade, da igualdade e da dignidade se
Artigo 16, PIDCP. Toda pessoa terá direito, em qual-
admitir que um ser humano pudesse ser submetido ao
quer lugar, ao reconhecimento de sua personalidade
outro, ser tratado como coisa. O ser humano não possui jurídica.
valor financeiro e nem serve ao domínio de outro, razão Artigo 24, 2, PIDCP. Toda criança deverá ser regis-
pela qual a escravidão não pode ser aceita. trada imediatamente após seu nascimento e deverá
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho receber um nome.
servil. A escravidão é a propriedade plena de um homem
sobre o outro. Consiste na utilização, em proveito pró- O sistema de proteção de direitos humanos estabe-
prio, do trabalho alheio. Os escravos eram considerados lecido no âmbito da Organização das Nações Unidas é
seres humanos sem personalidade, mérito ou valor. A global, razão pela qual não cabe o seu desrespeito em
servidão, por seu turno, é uma alienação relativa da li- qualquer localidade do mundo. Por isso, um estrangeiro
berdade de trabalho através de um pacto de prestação que visite outro país não pode ter seus direitos humanos
de serviços ou de uma ligação absoluta do trabalhador violados, independentemente da Constituição daquele
à terra, já que a servidão era uma instituição típica das país nada prever a respeito dos direitos dos estrangeiros.
sociedades feudais. A servidão, representava a espinha A pessoa humana não perde tal caráter apenas por sair
dorsal do feudalismo. O servo pagava ao senhor feudal do território de seu país. Em outras palavras, a personali-
uma taxa altíssima pela utilização do solo, que superava dade jurídica denota-se uma das facetas do princípio da
a metade da colheita”33.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

universalidade.
A vedação à escravidão não é impedimento para que “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa hu-
países imponham o trabalho como consequência de sen- mana, será ela sempre sujeito de direitos e de obriga-
tença penal condenatória. Além disso, não se considera ções. Negar-lhe a personalidade, a aptidão para exercer
como forçado o trabalho no cumprimento de serviços direitos e contrair obrigações, equivale a não reconhecer
militares ou cívicos obrigatórios nem em situações de sua própria existência. [...] O reconhecimento da perso-
emergência e calamidade. nalidade jurídica é imprescindível à plena realização da
pessoa humana. Trata-se de garantir a cada um, em to-
dos os lugares, a possibilidade de desenvolvimento livre
e isonômico”34.

33 BALERA, Wagner... Op. Cit. 34 BALERA, Wagner... Op. Cit.

382
Como decorrência do direito à personalidade jurídica, b) as pessoas processadas, jovens, deverão ser sepa-
no momento do nascimento deve ser atribuído um nome radas das adultas e julgadas o mais rápido possível.
à pessoa, devidamente registrado. Afinal, é o registro que 3. O regime penitenciário num tratamento cujo objeti-
formaliza a personalidade jurídica. vo principal seja a reforma e a reabilitação moral dos
prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão ser se-
1.7 Remédio para atos que violem direitos parados dos adultos e receber tratamento condizente
com sua idade e condição jurídica.
fundamentais
Artigo 11, PIDCP. Ninguém poderá ser preso apenas
por não poder cumprir com uma obrigação contratual.
Artigo VIII, DUDH. Toda pessoa tem direito a receber
dos tributos nacionais competentes remédio efetivo Prisão e detenção são formas de impedir que a pessoa
para os atos que violem os direitos fundamentais que saia de um estabelecimento sob tutela estatal, privando-
lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. -a de sua liberdade de locomoção. Exílio é a expulsão ou
Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios mudança forçada de uma pessoa do país, sendo assim
para garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos Es- também uma forma de privar a pessoa de sua liberdade
tados-partes o dever de estabelecer em suas legislações de locomoção em um determinado território. Nenhuma
internas instrumentos para proteção dos direitos huma- destas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja,
nos. Geralmente, nos textos constitucionais são estabe- sem o respeito aos requisitos previstos em lei. Não sig-
lecidos os direitos fundamentais e os instrumentos para nifica que em alguns casos não seja aceita a privação de
protegê-los, também chamados de remédios constitu- liberdade, notadamente quando o indivíduo tiver prati-
cionais, por exemplo, o habeas corpus serve à proteção cado um ato que comprometa a segurança ou outro di-
reito fundamental de outra pessoa.
do direito à liberdade de locomoção.
Quanto à proibição da prisão e do encarceramento ar-
bitrários, descrevem-se no artigo 9o, PIDCP direitos que
1.8 Vedação à prisão e à detenção arbitrárias devem ser respeitados para que não se configure a arbi-
trariedade: informação sobre as razões da detenção e das
Artigo IX, DUDH. Ninguém será arbitrariamente pre- acusações formuladas; audiência de custódia; julgamento
so, detido ou exilado35. em prazo razoável; excepcionalidade da prisão preventiva
Artigo 9°, PIDCP. 1. [...] Ninguém poderá ser preso e da prisão civil; indenização por encarceramento ilegal.
ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser Não obstante, a prisão e o encarceramento devem
privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos se dar com respeito à dignidade humana, tratando-se
em lei e em conformidade com os procedimentos. a pessoa encarcerada com dignidade. Dentro do cárce-
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada re, devem ser separados presos juvenis dos adultos, tal
das razões da prisão e notificada, sem demora, das como presos provisórios dos definitivos. Ultimamente, a
acusações formuladas contra ela. prisão deve proporcionar a reintegração social dos reclu-
sos, gerando reabilitação moral dos prisioneiros.
3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de
infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à 1.9 Garantias judiciais
presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por
lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em Artigo X, DUDH. Toda pessoa tem direito, em plena
prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão igualdade, a uma audiência justa e pública por parte
preventiva de pessoas que aguardam julgamento não de um tribunal independente e imparcial, para decidir
deverá constituir a regra geral, mas a soltura pode- de seus direitos e deveres ou do fundamento de qual-
rá estar condicionada a garantias que assegurem o quer acusação criminal contra ele.
comparecimento da pessoa em questão à audiência, Artigo 14, PIDCP. 1. Todas as pessoas são iguais pe-
a todos os atos do processo e, se necessário for, para a rante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa
execução da sentença. terá o direito de ser ouvida publicamente e com as de-
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade vidas garantias por um tribunal competente, indepen-
por prisão ou encarceramento terá de recorrer a um dente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de
qualquer acusação de caráter penal formulada contra
tribunal para que este decida sobre a legalidade de
ela ou na determinação de seus direitos e obrigações
seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a pri-
de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser
são tenha sido ilegal.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

excluídos de parte ou da totalidade de um julgamento,


5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarcera- que por motivo de moral pública, de ordem pública ou
mento ilegais terá direito à reparação. de segurança nacional em uma sociedade democráti-
Artigo 10, PIDCP. 1. Toda pessoa privada de sua liber- ca, quer quando o interesse da vida privada das partes
dade deverá ser tratada com humanidade e respeito à o exija, quer na medida em que isso seja estritamente
dignidade inerente à pessoa humana. necessário na opinião da justiça, em circunstâncias es-
2. a) as pessoas processadas deverão ser separadas, pecíficas, nas quais a publicidade venha a prejudicar
salvo em circunstância excepcionais, das pessoas con- os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença
denadas e receber tratamento distinto, condizente proferida em matéria penal ou civil deverá tornar-se
com sua condição de pessoa não-condenada. pública, a menos que o interesse de menores exija
procedimento oposto, ou o processo diga respeito a
controvérsia matrimoniais ou á tutela de menores. [...]
35 Ibid.

383
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em Do artigo X, DUDH, também se depreende que não
plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes garantias: é possível juízo ou tribunal de exceção, ou seja, um juízo
a) de ser informado, sem demora, numa língua que especialmente delegado para o julgamento do caso da-
compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos quela pessoa. O juízo deve ser escolhido imparcialmente,
motivos da acusação contra ela formulada; de acordo com as regras de organização judiciária que
b) de dispor do tempo e dos meios necessários à pre- valem para todos.
paração de sua defesa e a comunicar-se com defensor O artigo 14, PIDCP esmiúça diversos aspectos que, tal
de sua escolha; como o direito a um tribunal independente e imparcial,
c) de ser julgado sem dilações indevidas; se relacionam com as garantias judiciais, notadamente:
d) de estar presente no julgamento e de defender-se direito a oitiva pública em tribunal competente, indepen-
pessoalmente ou por intermédio de defensor de sua dente e imparcial; exclusão da imprensa ou do público
escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do do julgamento apenas em razão de moral pública, ordem
pública ou segurança pública, ou para preservar os inte-
direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interes-
se da justiça assim exija, de ter um defensor designa-
resses da justiça e a intimidade das partes (mesmo nestes
do “ex officio” gratuitamente, se não tiver meios para
remunerá-lo; casos a sentença será tornada pública, preservando-se o
e) de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas sigilo apenas no caso de interesse de menores ou ine-
da acusação e de obter o comparecimento e o interro- rentes ao matrimônio); informação sobre a natureza e os
gatório das testemunhas de defesa nas mesmas con- motivos da acusação imputada; ampla defesa e contato
dições de que dispõe as de acusação; com defensor; celeridade no julgamento; defesa pessoal
f) de ser assistida gratuitamente por um intérprete, e por meio de defensor no julgamento; informação sobre
caso não compreenda ou não fale a língua empregada o direito de ter advogado e, se o caso, ter um nomeado
durante o julgamento; pelo Estado; interrogatório de testemunhas; assistência
g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem por intérprete; não confissão e não declaração de culpa;
a confessar-se culpada. duplo grau de jurisdição; indenização por erro judicial;
4. O processo aplicável a jovens que não sejam maio- vedação ao bis in idem, respondendo apenas uma vez
res nos termos da legislação penal levará em conta a por um ato praticado.
idade dos menores e a importância de promover sua
reintegração social. 1.10 Presunção de inocência
5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá
o direito de recorrer da sentença condenatória e da Artigo XI, 1, DUDH. Toda pessoa acusada de um ato
pena a uma instância, em conformidade com a lei. delituoso tem o direito de ser presumida inocente até
6. Se uma sentença condenatória passada em julga- que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo
do for posteriormente anulada ou se indulto for con- com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham
cedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua
que provem cabalmente a existência de erro judicial, a defesa.
pessoa que sofreu a pena decorrente dessa condena- Artigo 14, 2, PIDCP. Toda pessoa acusada de um de-
ção deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a me- lito terá direito a que se presuma sua inocência en-
nos que fique provado que se lhe pode imputar, total quanto não for legalmente comprovada sua culpa.
ou parcialmente, não-revelação dos fatos desconheci-
dos em tempo útil.
O princípio da presunção de inocência ou não cul-
7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um
pabilidade liga-se ao direito à liberdade. Antes que a lei
delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por
sentença passada em julgado, em conformidade com considere que a culpa do acusado foi devidamente pro-
a lei e os procedimentos penais de cada país. vada, ele deve ser considerado inocente. Durante o pro-
cesso penal, o acusado terá direito ao contraditório e à
O juízo ou Tribunal deve ser independente, isto é, po- ampla defesa, bem como aos meios e recursos inerentes
der julgar sem pressões externas que busquem influen- a estas garantias, e caso seja condenado poderá ser con-
ciar a decisão. O juízo também deve ser imparcial, não siderado culpado. A razão é que o estado de inocência é
possuindo amizade ou inimizade em graus relevantes inerente ao ser humano até que ele viole direito alheio,
para com o acusado. Afinal, o direito à liberdade é consa- caso em que merecerá sanção.
grado e para que alguém possa ser privado dela por uma “Através desse princípio verifica-se a necessidade de
condenação criminal é preciso que esta se dê dentro dos
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

o Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo presu-


trâmites legais, sem violar direitos humanos do acusado. mido inocente. Está diretamente relacionado à questão
“De acordo com a ordem que promana do preceito da prova no processo penal que deve ser validamente
acima reproduzido, as pessoas têm a faculdade de exigir produzida para ao final do processo conduzir a culpabi-
um pronunciamento do Poder Judiciário, acerca de seus lidade do indivíduo admitindo-se a aplicação das penas
direitos e deveres postos em litígio ou do fundamento de previamente cominadas. Entretanto, a presunção de ino-
acusação criminal, realizado sob o amparo dos princípios cência não afasta a possibilidade de medidas cautelares
da isonomia, do devido processo legal, da publicidade como as prisões provisórias, busca e apreensão, quebra
dos atos processuais, da ampla defesa e do contraditório de sigilo como medidas de caráter excepcional cujos re-
e da imparcialidade do juiz”36. quisitos autorizadores devem estar previstos em lei”37.

36 BALERA, Wagner... Op. Cit. 37 BALERA, Wagner... Op. Cit.

384
Vale destacar que cada Estado tem possibilidade de Artigo 17, PIDCP. 1. Ninguém poderá ser objeto de
fixar quando considerará comprovada a culpa do acu- ingerência arbitrárias ou ilegais em sua vida privada,
sado. No Brasil, conforme o artigo 5o, LVII, CF, “ninguém em sua família, em seu domicílio ou em sua corres-
será considerado culpado até o trânsito em julgado de pondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e
sentença penal condenatória”. Noutros países, conside- reputação.
ra-se comprovada a culpa em momento anterior, quan- 2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra
do no processo não se mostra mais possível que se revi- essas ingerências ou ofensas38.
sitem fatos.
A proteção aos direitos à privacidade e à personali-
dade se enquadra na primeira dimensão de direitos fun-
1.11 Anterioridade e irretroatividade da lei penal
damentais no que tange à proteção à liberdade. Enfim,
o exercício da liberdade lega-se também às limitações a
Artigo XI, 2, DUDH. Ninguém poderá ser culpado este exercício: de que adianta ser plenamente livre se a
por qualquer ação ou omissão que, no momento, não liberdade de um interfere na liberdade – e nos direitos
constituíam delito perante o direito nacional ou inter- inerentes a esta liberdade – do outro.
nacional. Tampouco será imposta pena mais forte do “O direito à intimidade representa relevante manifes-
que aquela que, no momento da prática, era aplicável tação dos direitos da personalidade e qualifica-se como
ao ato delituoso. expressiva prerrogativa de ordem jurídica que consiste
Artigo 15, PIDCP. 1. Ninguém poderá ser condena- em reconhecer, em favor da pessoa, a existência de um
do por atos ou omissões que não constituam delito espaço indevassável destinado a protegê-la contra in-
de acordo com direito nacional ou internacional, no devidas interferências de terceiros na esfera de sua vida
momento em que foram cometidos. Tampouco poder- privada”39.
-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no Abrange-se também a proteção ao domicílio, local
momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpe- no qual a pessoa deseja manter sua privacidade e pode
trado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais desenvolver sua personalidade; e à correspondência, en-
leve, o delinquente deverá beneficiar-se. viada ao seu lar unicamente para sua leitura e não de
2. Nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o terceiros, preservando-se sua privacidade.
julgamento ou a condenação de qualquer indivíduo
1.13 Liberdade de locomoção e residência
por atos ou omissões que, no momento em que foram
cometidos, eram considerados delituosos de acordo Artigo XIII, DUDH. 1. Toda pessoa tem direito à liber-
com os princípios gerais de direito reconhecidos pela dade de locomoção e residência dentro das fronteiras
comunidade das nações. de cada Estado.
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
Consagra-se, primeiramente, o princípio da anterio- inclusive o próprio, e a este regressar.
ridade da lei penal, no sentido de que a lei penal deve Artigo 12, PIDCP. 1. Toda pessoa que se ache legal-
prever a conduta como típica antes que ela seja pratica- mente no território de um Estado terá o direito de nele
da, isto é, no momento que um ato é praticado, para ser livremente circular e escolher sua residência.
considerado criminoso, deve estar tipificado em lei. Con- 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de
tudo, havendo revogação da norma que preveja a con- qualquer país, inclusive de seu próprio país.
duta típica, também será beneficiado quem tenha sido 3. Os direitos supracitados não poderão constituir ob-
por ela condenado, salvo no caso de lei penal temporária jeto de restrição, a menos que estejam previstas em
ou excepcional. lei e no intuito de proteger a segurança nacional e
Na segunda parte, evidencia-se o princípio da irre- a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os
troatividade da lei penal in pejus (para piorar a situação direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam
do acusado), segundo o qual uma lei penal elaborada compatíveis com os outros direitos reconhecidos no
presente pacto.
posteriormente não pode se aplicar a atos praticados
4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em
no passado gerando majoração da pena. Entretanto, é
seu próprio país.
possível que a lei penal posterior torne a pena aplicável Artigo 13, PIDCP. Um estrangeiro que se ache legal-
mais branda, caso em que o condenado nos moldes da mente no território de um estado parte do presente
lei penal anterior mais rigorosa poderá ser beneficiado – pacto só poderá dele ser expulso em decorrência de
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

retroatividade da lei penal in mellius. decisão adotada em conformidade com a lei e, a me-
A anterioridade e a irretroatividade evidenciam não nos que razões imperativas de segurança nacional
só o respeito à liberdade, mas também – e principalmen- a isso se oponham, terá a possibilidade de expor as
te – à segurança jurídica. razões que militem contra sua expulsão e de ter seu
caso reexaminado pelas autoridades competentes, ou
1.12 Privacidade e honra por uma ou várias pessoas especialmente designadas
pelas referidas autoridades, e de fazer-se representar
Artigo XII, DUDH. Ninguém será sujeito a interferên- com esse objetivo.
cias na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou
38 Id. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966...
na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e Op. Cit.
reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei
39 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito constitu-
contra tais interferências ou ataques. cional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

385
Não há limitações ao direito de locomoção dentro do É possível mudar de nacionalidade nas situações pre-
próprio Estado, nem ao direito de residir. A legislação in- vistas em lei, naturalizando-se como nacional de outro
terna pode estabelecer casos em que tal direito seja rela- Estado que não aquele do qual originalmente era nacio-
tivizado, por exemplo, obrigando um funcionário público nal. Geralmente, a permanência no território do pais por
a residir no município em que está sediado ou impedin- um longo período de tempo dá direito à naturalização,
do o ingresso numa área de interesse estatal. abrindo mão da nacionalidade anterior para incorporar
São exceções à liberdade de locomoção: decisão ju- a nova.
dicial que imponha pena privativa de liberdade ou limi-
tação da liberdade, normas administrativas de controle 1.16 Casamento e família
de vias e veículos, limitações para estrangeiros em certas
regiões ou áreas de segurança nacional e qualquer situa- Artigo XVI, DUDH. 1. Os homens e mulheres de
ção em que o direito à liberdade deva ceder aos interes- maior idade, sem qualquer restrição de raça, naciona-
ses públicos (ordem, saúde e moral públicas)40. Também lidade ou religião, têm o direito de contrair matrimô-
se excepciona a liberdade de locomoção para a preserva- nio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em
ção de interesses de terceiros. relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
A liberdade de locomoção se associa, de certo modo, 2. O casamento não será válido senão com o livre e
com a nacionalidade, uma vez que se assegura o direito pleno consentimento dos nubentes.
de ingresso apenas com relação ao seu próprio país (ou Artigo 23, PIDCP. 1. A família é o elemento natural e
seja, o país do qual se é nacional), permitindo-se quanto fundamental da sociedade e terá o direito de ser pro-
aos demais (onde seja estrangeiro) apenas o direito de tegida pela sociedade e pelo Estado.
deixá-lo. 2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher
de, em idade núbil, contrair casamento e construir
1.14 Asilo família.
3. Casamento algum será sem o consentimento livre e
Artigo XIV, DUDH. 1.Toda pessoa, vítima de perse- pleno dos futuros esposos.
guição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em 4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adota
outros países. as medidas apropriadas para assegurar a igualdade
2. Este direito não pode ser invocado em caso de per- de direitos e responsabilidades dos esposos quanto ao
seguição legitimamente motivada por crimes de di- casamento, durante o mesmo e o por ocasião de sua
reito comum ou por atos contrários aos propósitos e dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se
princípios das Nações Unidas. disposições que assegurem a proteção necessária para
os filhos.
O direito de asilo serve para proteger uma pessoa Artigo 24, 1, PIDCP. Toda criança, terá direito, sem
perseguida por suas opiniões políticas, situação racial, discriminação alguma por motivo de cor, sexo, reli-
convicções religiosas ou outro motivo político em seu gião, origem nacional ou social, situação econômica
país de origem, permitindo que ela requeira perante a ou nascimento, às medidas de proteção que a sua con-
autoridade de outro Estado proteção. Claro, não se pro- dição de menor requerer por parte de sua família, da
tege aquele que praticou um crime comum em seu país sociedade e do Estado.
e fugiu para outro, caso em que deverá ser extraditado
para responder pelo crime praticado. O Estatuto dos O casamento, como todas as instituições sociais, varia
Refugiados, de 1951, aprofunda questões inerentes à com o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas
concessão do direito de asilo. Além disso, o Direito dos culturas. Há quem o defina como um ato, outros como
Refugiados é considerado uma vertente autônoma de um contato. Basicamente, casamento é a união, devida-
proteção da pessoa humana. mente formalizada conforme a lei, com a finalidade de
construir família. A principal finalidade do casamento é
1.15 Nacionalidade estabelecer a comunhão plena de vida, impulsionada
pelo amor e afeição existente entre o casal e baseada na
Artigo XV, DUDH. 1. Toda pessoa tem direito a uma igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua
nacionalidade. assistência.41 Não é aceitável o casamento que se esta-
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacio- beleça à força para algum dos nubentes, sendo exigido
nalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. o livre e pleno consentimento de ambos. Não obstante,
é coerente que a lei traga limitações como a idade, pois
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 24, 3, PIDCP. Toda criança terá o direito de


adquirir uma nacionalidade. o casamento é uma instituição séria, base da família, e
somente a maturidade pode permitir compreender tal
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga importância.
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que A família é um elemento natural e fundamental da
ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando sociedade e deve ser protegida pelo Estado e pela socie-
assim de direitos e obrigações. Não é aceita a figura do dade. Da mesma forma, a prole que a família constituir
apátrida ou heimatlos, o indivíduo que não possui ne- deve ser por ela protegida. As crianças, assim, devem ser
nhuma nacionalidade, razão pela qual toda criança deve protegidas pelas suas famílias, tal como pela sociedade
nascer com alguma nacionalidade. e pelo Estado.
41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 6. ed. São
40 BALERA, Wagner... Op. Cit. Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.

386
1.17 Propriedade e propriedade intelectual A liberdade de crença se refere à liberdade de acre-
ditar, à liberdade de consciência, de ter suas convicções,
Artigo XVII, DUDH. 1. Toda pessoa tem direito à pro- não apenas religiosas, mas também morais. Com efeito, a
priedade, só ou em sociedade com outros. liberdade religiosa é uma espécie de liberdade de crença.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua Noutras palavras, a liberdade de religião atrela-se à liber-
propriedade. dade de consciência e à liberdade de pensamento, mas
Artigo XXVII, 2, DUDH. Toda pessoa tem direito à o inverso não ocorre, porque é possível existir liberda-
proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de de pensamento e consciência desvinculada de cunho
religioso.
de qualquer produção científica, literária ou artística
Neste sentido, a liberdade de consciência também
da qual seja autor.
concretiza a liberdade de ter ou não ter religião, ter ou
não ter opinião político-partidária ou qualquer outra ma-
Toda pessoa tem direito à propriedade material, “po- nifestação positiva ou negativa da consciência43. No que
dendo o ordenamento jurídico estabelecer suas moda- tange à exteriorização da liberdade de religião, ou seja, à
lidades de aquisição, perda, uso e limites. O direito de liberdade de expressão religiosa, não é devida nenhuma
propriedade, constitucionalmente assegurado, garante perseguição, assim como é garantido o direito de prati-
que dela ninguém poderá ser privado arbitrariamente cá-la em grupo ou individualmente.
[...]”42. O direito à propriedade se insere na primeira di-
mensão de direitos humanos, garantindo que cada qual 1.19 Liberdade de opinião, de expressão e de
tenha bens materiais justamente adquiridos, respeitada informação
a função social.
Além da propriedade material, que recai sobre bens Artigo XIX, DUDH. Toda pessoa tem direito à liberda-
móveis e imóveis, também se assegura a proteção da de de opinião e expressão; este direito inclui a liberda-
propriedade intelectual, permitindo o proveito intelec- de de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, re-
tual e financeiro de obras científicas, literárias e artísticas. ceber e transmitir informações e ideias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
1.18 Liberdade religiosa e de crença Artigo 19, PIDCP. 1. Ninguém poderá ser molestado
por suas opiniões.
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão;
Artigo XVIII, DUDH. Toda pessoa tem direito à liber-
esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber
dade de pensamento, consciência e religião; este direi- e difundir informações e ideias de qualquer natureza,
to inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e independentemente de considerações de fronteiras,
a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou ar-
ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, iso- tística, ou qualquer outro meio de sua escolha.
lada ou coletivamente, em público ou em particular. 3. O exercício do direito previsto no § 2º do presente
Artigo 18, PIDCP. 1. Toda pessoa terá direito à liber- artigo implicará deveres e responsabilidades especiais.
dade de pensamento, de consciência e de religião. Esse Consequentemente, poderá estar sujeito a certas res-
direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma trições, que devem, entretanto, ser expressamente pre-
religião ou uma crença de sua escolha e a liberda- vistas em lei e que se façam necessárias para:
de de professar sua religião ou crença, individual ou a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das
coletivamente, tanto pública como privadamente, por demais pessoas;
meio do culto, da celebração de ritos, de práticas e do b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde
ensino. ou a moral pública.
2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coerciti- Artigo 20, PIDCP. 1. Será proibido por lei qualquer
vas que possam restringir sua liberdade de ter ou de propaganda em favor de guerra.
adotar uma religião ou crença de sua escolha. 2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio na-
cional, radical, racial ou religioso que constitua incita-
3. A liberdade de manifestar a própria religião ou
mento à discriminação, à hostilidade ou à violência.
crença estará sujeita apenas a limitações previstas em
lei e que se façam necessárias para proteger a segu- Silva44 aponta que a liberdade de pensamento, que
rança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os também pode ser chamada de liberdade de opinião, é
direitos e as liberdades das demais pessoas. considerada pela doutrina como a liberdade primária,
eis que é ponto de partida de todas as outras, e deve
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

4. Os Estados partes do presente Pacto comprometem-


-se a respeitar a liberdade dos pais – e, quando for ser entendida como a liberdade da pessoa adotar deter-
o caso, dos tutores legais – de assegurar a educação minada atitude intelectual ou não, de tomar a opinião
religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com pública que crê verdadeira. Para a formação da opinião,
suas próprias convicções. utiliza-se da informação, isto é, a liberdade de informa-
ção é consectário da liberdade de opinião. No mais, da
liberdade de opinião surge a possibilidade da liberdade
de expressão.

42 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teo-


ria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Re- 43 BALERA, Wagner... Op. Cit.
pública Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: 44 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positi-
Atlas, 1997. vo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

387
Adiante, Silva45 entende que a liberdade de expressão 1.21 Participação e representação política
pode ser vista sob diversos enfoques, como o da liber-
dade de comunicação, ou liberdade de informação, que Artigo XXI, DUDH. 1. Toda pessoa tem o direito de to-
consiste em um conjunto de direitos, formas, processos mar parte no governo de seu país, diretamente ou por
e veículos que viabilizam a coordenação livre da criação, intermédio de representantes livremente escolhidos.
expressão e difusão da informação e do pensamento. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço
Contudo, o a manifestação do pensamento não pode público do seu país.
ocorrer de forma ilimitada, devendo se pautar na verda- 3. A vontade do povo será a base da autoridade do
de e no respeito dos direitos à honra, à intimidade e à governo; esta vontade será expressa em eleições pe-
imagem dos demais membros da sociedade. Da mesma riódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto
forma, a liberdade de expressão não permite práticas de secreto ou processo equivalente que assegure a liber-
discurso do ódio nacional, radical, racial ou religioso, ou dade de voto.
seja, não é uma carta branca para discursar contra os
Artigo 25, PIDCP. Todo cidadão terá o direito e a pos-
próprios fundamentos que ergueram o sistema de pro-
sibilidade, sem qualquer das formas de discriminação
teção dos direitos humanos.
mencionadas no artigo 2° e sem restrições infundadas:
a) de participar da condução dos assuntos públicos,
1.20 Liberdade de reunião e de associação
diretamente ou por meio de representantes livremente
Artigo XX, DUDH. 1. Toda pessoa tem direito à liber- escolhidos;
dade de reunião e associação pacíficas. b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, au-
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma tênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário
associação. e por voto secreto, que garantam a manifestação da
Artigo 21, PIDCP. O direito de reunião pacífica será vontade dos eleitores;
reconhecido. O exercício desse direito estará sujeito c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às
apenas às restrições previstas em lei e que se façam funções públicas de seu país.
necessárias, em uma sociedade democrática, no inte-
resse da segurança nacional, da segurança ou da or- Democracia (do grego, “demo” + “kratos”) é um regi-
dem públicas, ou para proteger a saúde públicas ou os me de governo em que o poder de tomar decisões polí-
direitos e as liberdades das pessoas. ticas está com os cidadãos, de forma direta (quando um
cidadão se reúne com os demais e, juntos, eles tomam a
Artigo 22, PIDCP. 1. Toda pessoa terá o direito de decisão política) ou indireta (quando ao cidadão é dado
associar-se livremente a outras, inclusive o direito de o poder de eleger um representante). Uma democracia
construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a prote- pode existir num sistema presidencialista ou parlamen-
ção de seus interesses. tarista, republicano ou monárquico – somente importa
2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às que seja dado aos cidadãos o poder de tomar decisões
restrições previstas em lei e que se façam necessárias, políticas (por si só ou por seu representante eleito).
em uma sociedade democrática, no interesse da se- A principal classificação das democracias é a que dis-
gurança nacional, da segurança e da ordem públicas, tingue a direta da indireta: a) direta, também chamada
ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os de pura, na qual o cidadão expressa sua vontade por
direitos a liberdades das demais pessoas. O presente voto direto e individual em cada questão relevante; b)
artigo não impedirá que se submeta a restrições le- indireta, também chamada representativa, em que os ci-
dadãos exercem individualmente o direito de voto para
gais o exercício desse direito por membros das forças
armadas e da polícia.
escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais
3. Nenhuma das disposições do presente artigo per-
escolhido(s) representa(m) todos os eleitores. O comum
mitirá que Estados Partes da Convenção de 1948 da
é a adoção de modelos mistos ou de democracia semi-
Organização do Trabalho, relativa à liberdade sindical
e à proteção do direito sindical, venham a adotar me- direta, com institutos de democracia direta e de demo-
didas legislativas que restrinjam – ou aplicar a lei de cracia indireta.
maneira a restringir – as garantias previstas na refe- O modelo democrático pressupõe o direito ao voto
rida Convenção. e ao sufrágio universal (possibilidade de votar e de ser
votado), exercido em eleições periódicas, autênticas (le-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

O direito de reunião pode ser exercido independen- gítimas) e com voto igualitário e secreto, sem prejuízo
temente de autorização estatal, mas deve se dar de ma- da participação direta no tratamento de coisas públicas.
neira pacífica, por exemplo, sem utilização de armas. Por A possibilidade de participação nas funções do Es-
sua vez, “a liberdade de associação para fins lícitos, ve- tado se dá também por meio do desempenho de ati-
dada a de caráter paramilitar, é plena. Portanto, ninguém vidades no serviço público. Neste sentido, toda pessoa
poderá ser compelido a associar-se e, uma vez associado, deve ter acesso às funções públicas do país, por exemplo,
será livre, também, para decidir se permanece associado mediante concurso público.
ou não”46.

45 Ibid.
46 LENZA, Pedro... Op. Cit.

388
1.22 Legalidade estrita Aceita a competência, “[...] o indivíduo que se consi-
derar vítima de violação de qualquer dos direitos enun-
Artigo XXIX, 2, DUDH. No exercício de seus direitos ciados no Pacto e que tenha esgotado todos os recursos
e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às li- internos disponíveis, poderá apresentar uma comunica-
mitações determinadas pela lei, exclusivamente com ção escrita ao Comitê para que este a examine” (artigo
o fim de assegurar o devido reconhecimento e respei- 2º, PPIDCP). Além do esgotamento dos recursos na via
interna, salvo excesso dos prazos razoáveis (artigo 5º,
to dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer
às justas exigências da moral, da ordem pública e do
PPIDCP), são requisitos de admissibilidade, nos termos
bem-estar de uma sociedade democrática.
do artigo 3º, não serem denúncias anônimas e não cons-
É assegurado o direito de fazer tudo o que a lei não tituírem abuso de direito ou serem incompatíveis com as
proíba, a denominada legalidade estrita. Não obstante, o disposições do Pacto, e, nos termos do artigo 5º, que a
legislador não pode impor limitações que não atendam mesma questão já não esteja sendo examinada por uma
ao fim de preservar direitos e liberdade de outrem ou de outra instância internacional de investigação ou decisão.
satisfazer às exigências da moral, da ordem pública e do
bem-estar.
#FicaDica
2. Comitê de Direitos Humanos O Comitê de Direitos Humanos da ONU
é um órgão formado por especialistas in-
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de
1966 instituiu o Comitê de Direitos Humanos, discipli- dependentes que fiscaliza o cumprimento
nando-o nos artigos 28 a 45. do Pacto Internacional sobre Direitos Civis
O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas e Políticos e seus protocolos. Além do sis-
é composto por 18 (dezoito) membros eleitos pelos Es- tema de relatórios, possui um sistema de
tados-partes do Pacto, dotados de reputação moral e petições, que podem ser apresentadas por
reconhecida competência em matéria de direitos huma- Estados ou por indivíduos, desde que re-
nos (artigo 28, PIDCP). Os membros constarão de lista conhecida a competência do Comitê para
de indicados pelos Estados-partes, cada qual indicando julgamento.
dois candidatos, cabendo que uma pessoa seja indicada
mais de uma vez por Estados diferentes (artigo 29, PI-
DCP). Não é possível que figure no Comitê mais de um 3. Direitos Econômicos, Sociais e Culturais em
nacional do mesmo Estado (artigo 31, PIDCP). O manda- Espécie
to é de 4 (quatro) anos, sendo possível uma recondução
(artigo 32, PIDCP). Os membros prestarão compromisso Os direitos econômicos, sociais e culturais envolvem
de desempenhar de forma imparcial e consciente suas o trabalho, a educação, a saúde, a alimentação, a mora-
funções (artigo 38, PIDCP). dia, o lazer, a seguridade social, etc. Adiante, o estudo se
Os Estados-partes deverão apresentar relatórios so- volta a cada um destes direitos individualizados no Pacto
bre as medidas adotadas para tornar efetivos os direitos
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
civis e políticos abrangidos pelo Pacto sempre que o Co-
mitê solicitar. O Comitê estudará os relatórios, incluin- e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
do comentários e podendo encaminhá-los ao Conselho
Econômico e Social com tais reflexões. Além disso, elabo- 3.1 Trabalho
rará seu próprio relatório com comentários e o transmiti-
rá aos Estados-partes (artigo 40, PIDCP). Artigo XXIII, DUDH. 1. Toda pessoa tem direito ao
Sem prejuízo, o Comitê tem um mecanismo de rece- trabalho, à livre escolha de emprego, a condições
bimento de denúncias, mas para que ele possa apreciar justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
uma denúncia contra um Estado-parte é preciso que ele desemprego.
reconheça sua competência para tanto. 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a
O Pacto de Direitos Civis e Políticos prevê um me- igual remuneração por igual trabalho.
canismo de denúncias que podem ser apresentadas por 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remu-
um Estado-parte contra outro, conforme procedimento neração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim
do artigo 41, PIDCP, que descreve uma fase diplomática,
como à sua família, uma existência compatível com
com prestação de bons ofícios aos Estados envolvidos, e
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

do artigo 42, PIDCP, em que se dá formação de comissão a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se ne-
“ad hoc”, que tentará inicialmente uma solução amisto- cessário, outros meios de proteção social.
sa e, se infrutífera, elaborará relatório opinando sobre a Artigo XXIV, DUDH. Toda pessoa tem direito a re-
controvérsia, nos moldes do artigo 43, PIDCP. pouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas
Embora o PIDCP não tenha previsto diretamente um de trabalho e férias periódicas remuneradas.
mecanismo para a apresentação de denúncias pelos in- Artigo 6º, PIDESC. 1. Os Estados Partes do presen-
divíduos ao Comitê, o Protocolo Facultativo ao Pacto, te Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que com-
de 16 de dezembro de 1966, o fez. A denúncia somente preende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade
pode ser recebida se o Estado houver ratificado o Pro- de ganhar a vida mediante um trabalho livremente
tocolo Facultativo, aceitando a competência do Comitê escolhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas
para recebimento de denúncias (artigo 1º, PPIDCP). para salvaguardar esse direito.

389
2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto • Liberdade de escolha: é possível a fixação de re-
tomará a fim de assegurar o pleno exercício desse di- quisitos para o acesso ao trabalho, mas toda pes-
reito deverão incluir a orientação e a formação técnica soa tem direito de escolher o próprio trabalho, na
e profissional, a elaboração de programas, normas e medida que preencha tais requisitos.
técnicas apropriadas para assegurar um desenvolvi- • Igualdade de remuneração: a remuneração é
mento econômico, social e cultural constante e o pleno a retribuição financeira pelo trabalho realizado.
emprego produtivo em condições que salvaguardem Nesta esfera também é necessário o respeito ao
aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e eco- princípio da igualdade, por não ser justo que uma
nômicas fundamentais. pessoa que desempenhe as mesmas funções que
Artigo 7º, PIDESC. Os Estados Partes do presente a outra receba menos por um fator externo, carac-
Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de gozar terístico dela, como sexo ou raça. No âmbito do
de condições de trabalho justas e favoráveis, que asse- serviço público é mais fácil controlar tal aspecto,
mas são inúmeras as empresas privadas que pa-
gurem especialmente:
gam menor salário a mulheres e que não chegam
a) Uma remuneração que proporcione, no mínimo, a
a ser levadas à justiça por isso.
todos os trabalhadores:
• Igualdade de condições: todas pessoas devem
ter iguais condições de trabalho, inclusive no que
i) Um salário equitativo e uma remuneração igual por
um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção; se refere à promoção na carreira, baseada apenas
em particular, as mulheres deverão ter a garantia de em critérios de trabalho e qualidade. Trata-se de
condições de trabalho não inferiores às dos homens e igualdade material, o que significa que será possí-
perceber a mesma remuneração que eles por trabalho vel assegurar condições específicas mais favoráveis
igual; conforme a necessidade de cada indivíduo (ex.:
ii) Uma existência decente para eles e suas famílias, horário diferenciado para pessoas com deficiência,
em conformidade com as disposições do presente licença maternidade).
Pacto; • Remuneração justa e satisfatória: a remuneração
b) À segurança e a higiene no trabalho; deve ser suficiente para proporcionar uma existên-
c) Igual oportunidade para todos de serem promovi- cia digna, com o necessário para manter assegu-
dos, em seu trabalho, à categoria superior que lhes rados ao menos minimamente todos os direitos
corresponda, sem outras considerações que as de tem- humanos previstos na Declaração.
po de trabalho e capacidade; • Repouso e lazer, com limitação da jornada de
d) O descanso, o lazer, a limitação razoável das horas trabalho e férias periódicas remuneradas: por
de trabalho e férias periódicas remuneradas, assim mais que o trabalho seja um direito humano, nem
como a remuneração dos feridos. somente dele é feita a vida de uma pessoa. Desta
forma, assegura-se horários livres para que a pes-
O trabalho é um instrumento fundamental para asse- soa desfrute de momentos de lazer e descanso,
gurar a todos uma existência digna: de um lado por pro- bem como impede-se a fixação de uma jornada de
porcionar a remuneração com a qual a pessoa adquirirá trabalho muito exaustiva. São medidas que asse-
bens materiais para sua subsistência, de outro por gerar guram isto a previsão de descanso semanal remu-
por si só o sentimento de importância para a sociedade nerado, a limitação do horário de trabalho, a con-
por parte daquele que faz algo útil nela. No entanto, a cessão de férias remuneradas anuais, entre outras.
geração de empregos não se dá automaticamente, ca-
bendo aos Estados desenvolverem políticas econômicas
3.2 Liberdade sindical
para diminuir os índices de desemprego o máximo pos-
Artigo XXIII, 4, DUDH. Toda pessoa tem direito a or-
sível. Quanto aos artigos XXIII e XXIV, DUDH, tem-se que
ganizar sindicatos e neles ingressar para proteção de
é fornecido:
seus interesses.
“[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhado- Artigo 8º, PIDESC. 1. Os Estados Partes do presente
res. De forma geral, os dispositivos em comento versam Pacto comprometem-se a garantir:
sobre o direito ao trabalho, principal meio de sobrevi- a) O direito de toda pessoa de fundar com outras,
vência dos indivíduos que “vendem” força de trabalho sindicatos e de filiar-se ao sindicato de escolha, su-
em troca de uma remuneração justa. Ademais, estabe-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

jeitando-se unicamente aos estatutos da organização


lecem a liberdade do cidadão de escolher o trabalho e, interessada, com o objetivo de promover e de proteger
uma vez obtido o emprego, o direito de nele encontrar seus interesses econômicos e sociais. O exercício des-
condições justas, tanto no tocante à remuneração, como se direito só poderá ser objeto das restrições previstas
no que diz respeito ao limite de horas trabalhadas e pe- em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade
ríodos de repouso (disposição constante do artigo XXIV democrática, no interesse da segurança nacional ou
da Declaração). Garantem ainda o direito dos trabalha- da ordem pública, ou para proteger os direitos e as
dores de se unirem em associação, com o objetivo de liberdades alheias;
defesa de seus interesses”47. b) O direito dos sindicatos de formar federações ou
confederações nacionais e o direito destas de formar
organizações sindicais internacionais ou de filiar-se às
mesmas.
47 BALERA, Wagner... Op. Cit.

390
c) O direito dos sindicatos de exercer livremente suas 3.4 Padrão de vida digno: alimentação, vestuário e
atividades, sem quaisquer limitações além daquelas habitação
previstas em lei e que sejam necessárias, em uma so-
ciedade democrática, no interesse da segurança na- Artigo XXV, 1, DUDH. Toda pessoa tem direito a um
cional ou da ordem pública, ou para proteger os direi- padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua famí-
tos e as liberdades das demais pessoas: lia saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuá-
d) O direito de greve, exercido de conformidade com rio, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
as leis de cada país. indispensáveis, e direito à segurança em caso de de-
2. O presente artigo não impedirá que se submeta a semprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros
restrições legais o exercício desses direitos pelos mem- casos de perda dos meios de subsistência fora de seu
bros das forças armadas, da política ou da adminis- controle.
tração pública. Artigo 11, PIDESC. 1. Os Estados Partes do presente
Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um ní-
3. Nenhuma das disposições do presente artigo per-
vel de vida adequando para si próprio e sua família,
mitirá que os Estados Partes da Convenção de 1948
inclusive à alimentação, vestimenta e moradia ade-
da Organização Internacional do Trabalho, relativa à
quadas, assim como a uma melhoria continua de suas
liberdade sindical e à proteção do direito sindical, ve-
condições de vida. Os Estados Partes tomarão medi-
nham a adotar medidas legislativas que restrinjam – das apropriadas para assegurar a consecução desse
ou a aplicar a lei de maneira a restringir as garantias direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância
previstas na referida Convenção. essencial da cooperação internacional fundada no li-
vre consentimento.
Os sindicatos são bastante comuns na seara traba- 2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecendo
lhista e, como visto, a todos é garantida a liberdade de o direito fundamental de toda pessoa de estar prote-
associação, não podendo ninguém ser impedido ou for- gida contra a fome, adotarão, individualmente e me-
çado a ingressar ou sair de um sindicato. diante cooperação internacional, as medidas, inclusive
A liberdade sindical pode ser exercida pela amplia- programas concretos, que se façam necessárias para:
ção de sindicatos, criando federações e confederações, a) Melhorar os métodos de produção, conservação e
inclusive no âmbito internacional. Os sindicatos terão li- distribuição de gêneros alimentícios pela plena utili-
berdade para exercerem a representação de seus filiados. zação dos conhecimentos técnicos e científicos, pela
Contudo, pode sofrer restrições, por exemplo, com difusão de princípios de educação nutricional e pelo
relação ao exercício por membros das forças armadas aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de
(afinal, vedam-se as associações de caráter paramilitar). maneira que se assegurem a exploração e a utilização
Outra limitação possível se dá quanto ao direito de gre- mais eficazes dos recursos naturais;
ve, por exemplo, impedindo que se dê com total parali- b) Assegurar uma repartição equitativa dos recursos
sação quanto a serviços essenciais. alimentícios mundiais em relação às necessidades,
levando-se em conta os problemas tanto dos países
3.3 Segurança social importadores quanto dos exportadores de gêneros
alimentícios.
Artigo XXV, 1, DUDH. Toda pessoa tem direito a um
padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua famí- O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão
de vida suficiente para garantir sua dignidade em todas
lia saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuá-
as esferas: alimentação, vestuário e moradia, inclusive. É
rio, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
um objetivo constante do Estado Democrático de Direito
indispensáveis, e direito à segurança em caso de de-
proporcionar que pessoas cheguem o mais próximo pos-
sível – e cada vez mais – desta circunstância.
semprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros
casos de perda dos meios de subsistência fora de seu Ainda assim, um dos principais problemas do mundo
controle. atualmente é a distribuição de recursos dos alimentos,
Artigo 9º, PIDESC. Os Estados Partes do presente tanto que:
Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à previ- “[...] o PIDESC demonstra uma preocupação especial
dência social, inclusive ao seguro social. com a distribuição dos alimentos pelo mundo [...], exi-
gindo medidas para melhorar os métodos de produção,
Sob uma perspectiva, a segurança pode ser vista no conservação e distribuição de gêneros alimentícios, bem
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

sentido de segurança pública, de dever do Estado de como para assegurar uma repartição igualitária dos re-
preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas cursos alimentícios mundiais. No entanto, esta ainda é
e do patrimônio público e privado48. Sob outra perspec- uma realidade distante. Inúmeros são os relatos de pes-
tiva, a segurança se apresenta como segurança social, no soas passando fome pelo mundo, principalmente crian-
sentido de garantia de manutenção de meios de sub- ças, e diversas foram as recomendações e tentativas de
sistência, cabendo ao Estado custeá-la pela coletividade desenvolvimento de políticas das Nações Unidas, mas
e pelos cofres públicos. Pelo seguro social, se garante a apesar de estas terem gerado alguma melhoria isolada, o
manutenção financeira dos que por algum motivo não grande quadro ainda mostra uma situação insatisfatória
possuem condição de trabalhar. longe de ser solucionada”49.

48 LENZA, Pedro... Op. Cit. 49 OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia; LAZARI, Rafael de... Op. Cit.

391
Comer, vestir e morar são aspectos básicos da vida A realização do direito à saúde foca não apenas na
cotidiana, sem os quais a existência digna não é possível. cura de doenças, mas também na prevenção de agravos
O Estado deve adotar políticas públicas para que as pes- e na melhoria geral de condições de vida.
soas possam ter acesso à alimentação, ao vestuário e à
moradia dignas. 3.6 Proteção da maternidade e da infância

3.5 Saúde Artigo XXV, 2, DUDH. A maternidade e a infância


têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas
Artigo XXV, 1, DUDH. Toda pessoa tem direito a um as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio,
padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família gozarão da mesma proteção social.
saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habi- Artigo 10, PIDESC. Os Estados Partes do presente
tação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensá- Pacto reconhecem que:
veis, e direito à segurança em caso de desemprego, doen- 1. Deve-se conceder à família, que é o elemento natu-
ça, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos ral e fundamental da sociedade, as mais amplas pro-
meios de subsistência fora de seu controle. teção e assistência possíveis, especialmente para a sua
constituição e enquanto ele for responsável pela cria-
Artigo 12, PIDESC. 1. Os Estados Partes do presente ção e educação dos filhos. O matrimonio deve ser con-
Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de des- traído com o livre consentimento dos futuros cônjuges.
frutar o mais elevado nível possível de saúde física e 2. Deve-se conceder proteção especial às mães por um
mental. período de tempo razoável antes e depois do parto.
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto Durante esse período, deve-se conceder às mães que
deverão adotar com o fim de assegurar o pleno exer- trabalham licença remunerada ou licença acompa-
cício desse direito incluirão as medidas que se façam nhada de benefícios previdenciários adequados.
necessárias para assegurar: 3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção e
a) A diminuição da mortalidade e da mortalidade in- de assistência em prol de todas as crianças e adoles-
fantil, bem como o desenvolvimento é das crianças; centes, sem distinção alguma por motivo de filiação
b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do tra- ou qualquer outra condição. Devem-se proteger as
balho e do meio ambiente; crianças e adolescentes contra a exploração econômi-
c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmi- ca e social. O emprego de crianças e adolescentes em
cas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a trabalhos que lhes sejam nocivos à moral e à saúde
luta contra essas doenças; ou que lhes façam correr perigo de vida, ou ainda que
d) A criação de condições que assegurem a todos lhes venham a prejudicar o desenvolvimento norma,
assistência médica e serviços médicos em caso de será punido por lei. Os Estados devem também esta-
enfermidade50. belecer limites de idade sob os quais fique proibido e
punido por lei o emprego assalariado da mão-de-obra
A saúde é um dos principais direitos sociais, assegu- infantil.
rando à pessoa humana o direito de se manter no mais
elevado possível nível de saúde física e mental. Dentre as A proteção da maternidade tem sentido porque sem
providências elencadas na Carta Internacional dos Direi- as crianças não haverá permanência da humanidade. É
tos Humanos, destacam-se: diminuição da mortalidade preciso que as crianças sejam protegidas com atenção
infantil, melhoria do meio ambiente do trabalho, preven- especial para que se tornem adultos capazes de propor-
ção de doenças e plenitude de assistência médica e ser- cionar uma melhora no planeta. Com efeito, assegura-se
viços médicos. igual proteção a todas crianças, não importando se nas-
“A preocupação das Nações Unidas com o direito à ceram dentro ou fora do casamento.
saúde vai além das previsões da DUDH e do PIDESC e O Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
ganha força com a criação da OMS – Organização Mun- assegura às mães licença remunerada após o nascimen-
dial da Saúde, vinculada às Nações Unidas e criada em 7 to dos filhos, permitindo que elas prestem assistência
de abril de 1948, objetivando promover o mais elevado às crianças logo após o nascimento. Além disso, prevê
nível de saúde possível. Assim, é responsável por prover a proteção especial de crianças e adolescentes contra
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

liderança no mundo em questões de saúde, controlando qualquer espécie de exploração econômica e social, in-
a agenda de pesquisa da saúde, estabelecendo normas clusive proibindo-se o trabalho infantil.
e estandartes, articulando opções políticas, provendo
suporte técnico para países e monitorando e acessando 3.7 Educação
tendências de saúde”51.
Artigo XXVI, DUDH. 1. Toda pessoa tem direito à
instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução ele-
50 Id. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
mentar será obrigatória. A instrução técnico-profis-
Culturais de 1966... Op. Cit. sional será acessível a todos, bem como a instrução
51 OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia; LAZARI, Rafael de... Op. Cit., p. __. superior, esta baseada no mérito.

392
2. A instrução será orientada no sentido do pleno de- Artigo 14, PIDESC. Todo Estado Parte do presen-
senvolvimento da personalidade humana e do forta- te pacto que, no momento em que se tornar Parte,
lecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas ainda não tenha garantido em seu próprio território
liberdades fundamentais. A instrução promoverá a ou territórios sob sua jurisdição a obrigatoriedade e
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as a gratuidade da educação primária, se compromete a
nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as elaborar e a adotar, dentro de um prazo de dois anos,
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção um plano de ação detalhado destinado à implemen-
da paz. tação progressiva, dentro de um número razoável de
anos estabelecidos no próprio plano, do princípio da
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gê-
nero de instrução que será ministrada a seus filhos.
educação primária obrigatória e gratuita para todos.
Artigo 13, PIDESC. 1. Os Estados Partes do presen-
te Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à edu-
cação. Concordam em que a educação deverá visar O direito à educação deve ser garantido obrigatoria-
ao pleno desenvolvimento da personalidade humana mente e gratuitamente, em seu primeiro nível (denomi-
e do sentido de sua dignidade e fortalecer o respei- nado elementar na DUDH e popularmente conhecido,
to pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. no Brasil, como ensino fundamental). Por seu turno, em
Concordam ainda em que a educação deverá capaci- segundo nível (denominado fundamental na DUDH e
tar todas as pessoas a participar efetivamente de uma popularmente conhecido, no Brasil, como ensino mé-
sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância dio), deve ser garantido gratuitamente, embora não
e a amizade entre todas as nações e entre todos os seja obrigatório. A diferença é que no primeiro nível o
grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as ati- Estado deve tomar providências que assegurem a per-
vidades das Nações Unidas em prol da manutenção manência das crianças na escola, pois lá deverão estar
da paz. obrigatoriamente.
2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem O ensino técnico-profissional deve ser acessível a to-
que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício dos, ou seja, deve ser garantido a toda pessoa o direito
desse direito: à profissionalização. O ensino superior, que é uma via
a) A educação primária deverá ser obrigatória e aces- de profissionalização, deve progressivamente tornar-se
acessível a todos de forma gratuita, mas enquanto isso
sível gratuitamente a todos;
b) A educação secundária em suas diferentes formas,
não for possível deverá selecionar os estudantes com
inclusive a educação secundária técnica e profissional,
base no mérito.
deverá ser generalizada e tornar-se acessível a todos,
por todos os meios apropriados e, principalmente, Adiante, denota-se que o conceito de educação é
pela implementação progressiva do ensino gratuito; muito mais abrangente que a mera alfabetização ou o
c) A educação de nível superior deverá igualmente aprendizado de conteúdos dogmáticos, envolvendo con-
tornar-se acessível a todos, com base na capacidade teúdos voltados à formação da pessoa humana para o
de cada um, por todos os meios apropriados e, princi- adequado respeito e fruição dos direitos humanos e das
palmente, pela implementação progressiva do ensino liberdades fundamentais.
gratuito; Por fim, há que se reconhecer o direito dos pais de
d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do escolher o gênero de educação que será ministrado aos
possível, a educação de base para aquelas pessoas que filhos (ex.: colégio militar, colégio católico, ensino reli-
não receberam educação primária ou não concluíram gioso, educação moral e cívica, etc.). Não obstante, se
o ciclo completo de educação primária; assegura o direito de criar e dirigir instituições de ensino,
e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvol- desde que respeitados os requisitos gerais fixados pela
vimento de uma rede escolar em todos os níveis de autoridade administrativa.
ensino, implementar-se um sistema adequado de bol-
sas de estudo e melhorar continuamente as condições 3.8 Cultura
materiais do corpo docente.
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-
Artigo XXVII, DUDH. 1. Toda pessoa tem o direito de
-se a respeitar a liberdade dos pais e, quando for o
caso, dos tutores legais de escolher para seus filhos
participar livremente da vida cultural da comunidade,
escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades de fruir as artes e de participar do processo científico
e de seus benefícios.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos


de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses
fazer com que seus filhos venham a receber educação morais e materiais decorrentes de qualquer produção
religiosa ou moral que esteja de acordo com suas pró- científica, literária ou artística da qual seja autor.
prias convicções. Artigo 15, PIDESC. 1. Os Estados Partes do presente
4. Nenhuma das disposições do presente artigo pode- Pacto reconhecem a cada indivíduo o direito de:
rá ser interpretada no sentido de restringir a liberdade a) Participar da vida cultural;
de indivíduos e de entidades de criar e dirigir insti- b) Desfrutar o processo científico e suas aplicações;
tuições de ensino, desde que respeitados os princípios c) Beneficiar-se da proteção dos interesses morais e
enunciados no parágrafo 1 do presente artigo e que materiais decorrentes de toda a produção cientifica,
essas instituições observem os padrões mínimos pres- literária ou artística de que seja autor.
critos pelo Estado.

393
2. As Medidas que os Estados Partes do Presente Pacto 4. Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e
deverão adotar com a finalidade de assegurar o pleno Culturais
exercício desse direito incluirão aquelas necessárias à
convenção, ao desenvolvimento e à difusão da ciência O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
e da cultura. foi instituído pelo Conselho Econômico e Social (ECO-
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem- SOC) da Organização das Nações Unidas, no ano de 1985
-se a respeitar a liberdade indispensável à pesquisa (Resolução nº 1985/17), surgindo, assim, como um órgão
cientifica e à atividade criadora. extraconvencional. Posteriormente, o Comitê foi formal-
4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os mente reconhecido no Protocolo Facultativo ao Pacto
benefícios que derivam do fomento e do desenvolvi- Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
mento da cooperação e das relações internacionais no de 10 de dezembro de 2008. Ressalta-se que, diferente
domínio da ciência e da cultura52. do Comitê de Direitos Humanos em relação ao Pacto In-
ternacional dos Direitos Civis e Políticos, este Comitê de
Sob o enfoque do direito de acesso à cultura, seria li-
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais não é criado pelo
vre a divulgação de toda e qualquer informação e o aces-
Pacto de 1966 voltado a estes direitos. Sua criação se dá
so aos dados disponíveis, independentemente da fonte
por um órgão da ONU e apenas mais de 40 anos depois
ou da autoria. Neste sentido, garantido está o acesso às
obras artísticas e culturais, no viés do direito à cultura, tal que ele tem competências específicas definidas em tra-
como ao progresso científico, denotando-se verdadeiro tado internacional.
direito econômico, segundo o qual todos devem se be- Em todo este período até o Protocolo Facultativo, o
neficiar da evolução da ciência. Comitê atuou com base nas atribuições genéricas defini-
Tais direitos não se exercem de forma ilimitada, posto das no Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
que se faz presente na contrapartida o direito de pro- ao Conselho Econômico e Social da ONU. Este Conse-
priedade intelectual. Assim, o artista, o cientista ou a lho Econômico e Social, por ter competência para se or-
empresa que os capitalize terá direito a extrair proveitos ganizar, optou por instituir o Comitê com o propósito
materiais da obra ou descoberta, bem como o direito ao de monitorar o Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e
reconhecimento da autoria. Culturais.
Uma das pautas mais polêmicas na temática dos di- O Comitê é composto por 18 (dezoito) membros, pe-
reitos econômicos, sociais e culturais recai sobre a ques- ritos com reconhecida experiência no domínio dos direi-
tão da implementação progressiva e da garantia do tos humanos.
mínimo existencial. Considerando que os direitos econô- Basicamente, possui competência de monitoramento
micos, sociais e culturais são direitos de alto custo para pela via de relatórios, definida nos artigos 16 e 17 do
o Estado, evidente que não é possível garanti-los em sua PIDESC.
plenitude para todas as pessoas. Entretanto, o mínimo “Neste cenário, ao analisar os relatórios o Comitê
deverá ser assegurado. também poderá emitir observações finais, salientando
Em razão disso, a ONU reconhece na Carta Interna- aspectos positivos e negativos relatados e recomendan-
cional dos Direitos Humanos que a realização destes di- do soluções que pareçam adequadas. Além de apreciar
reitos se dará de forma progressiva, isto é, paulatinamen- os relatórios, o Comitê pode formular comentários gerais
te, conforme os recursos e a organização de cada Estado, sobre artigos e seções do Pacto Internacional de Direitos
sem prejuízo da cooperação internacional. O reconhe- Econômicos, Sociais e Culturais, bem como organizar de-
cimento da progressividade, contudo, não é uma carta
bates temáticos sobre as matérias por ele abrangidas”53.
branca para a não efetivação de tais direitos, cabendo a
Sem prejuízo, o Comitê poderá encaminhar ao Con-
cada Estado fazer o esforço de realizá-los o máximo pos-
selho de Direitos Humanos os relatórios recebidos, tanto
sível dentro de suas condições. Não se aceita uma posi-
de Estados quanto de agências especializadas, para fins
ção estática de países que, por possuírem uma condição
econômica desfavorável, não podem realizar efetivamen- de estudos e recomendações de ordem geral.
te tais direitos. Algo deve ser feito, por menos que o seja. Além do sistema originário de relatórios, o Comitê de
Por seu turno, há de se destacar que o direito à rea- Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi instrumenta-
lização destes direitos econômicos, sociais e culturais lizado com um sistema de petições e com um sistema de
não impõe aos Estados o dever de assegurar o melhor inquéritos pelo Protocolo Facultativo ao Pacto Interna-
possível de cada um destes direitos, sob pena de total cional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
inviabilidade econômica. Cabe aos Estados a efetivação O sistema de petições permite a apresentação de de-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

do mínimo existencial, isto é, do núcleo básico de cada núncias por indivíduos ou grupos de indivíduos, respei-
um dos direitos que é assegurado. Ex.: os Estados devem tado o esgotamento de recursos internos, exigindo-se o
assegurar o tratamento de doenças, inclusive das mais reconhecimento expresso do Estado da competência do
graves, como o câncer, mas não é obrigado a despender Comitê para apreciar tais denúncias. Recebida a denún-
quantidades substanciais de seus recursos para trata- cia, o Estado terá a oportunidade de se manifestar, inclu-
mentos experimentais de alto custo de um único indi- sive informando medidas que já tenha tomado no caso.
víduo que se encontre doente (caso queira se submeter Ao final, o Comitê analisará os documentos e as petições
a estes tratamentos, o indivíduo deverá arcar com eles). apresentadas para proferir um relatório, no qual proferirá
sua opinião a respeito do conflito.
52 Id. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais de 1966... Op. Cit. 53 OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia; LAZARI, Rafael de... Op. Cit.

394
Já o sistema de inquéritos permite a realização de Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-
investigações in loco, a partir do recebimento de infor- -se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos
mações fidedignas de violação de direitos humanos por e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que
determinado Estado. Este inquérito é confidencial e o Es- esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma
tado será chamado para cooperar em todas suas etapas. por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões
Ao final, o Comitê emitirá relatório e enviará ao Estado políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional
interessado, com suas recomendações. ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer
outra condição social.
Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser
#FicaDica humano.
O Brasil não é signatário do Protocolo Fa-
cultativo ao Pacto Internacional sobre os Artigo 2. Dever de adotar disposições de direito
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de interno
1966, embora seja, de fato, signatário do
tratado principal. Por isso mesmo, se sujeita Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados
ao sistema de relatórios perante o Comitê no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes com-
mas não ao sistema de inquéritos e nem ao prometem-se a adotar, de acordo com as suas normas
sistema de petições. Logo, indivíduos bra- constitucionais e com as disposições desta Convenção,
sileiros não podem apresentar denúncias as medidas legislativas ou de outra natureza que forem
contra o Estado brasileiro perante este ór- necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.
gão em razão de violações de direitos eco-
nômicos, sociais e culturais. DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 3. Direito ao reconhecimento da personalida-


Para obter a íntegra da DUDH, acesse: de jurídica

http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/in- Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua


tegra.htm personalidade jurídica.

Para obter a íntegra do PIDCP, acesse: Artigo 4. Direito à vida

h t t p : / / w w w . p l a n a l t o . g o v . b r / c c i v i l _ 0 3 / d e c r e- Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida.


to/1990-1994/d0592.htm Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde
o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da
Para obter a íntegra dos Protocolos ao PIDCP, acesse: vida arbitrariamente.
Nos países que não houverem abolido a pena de
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2009/ morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais gra-
decretolegislativo-311-16-junho-2009-588912-pu- ves, em cumprimento de sentença final de tribunal com-
blicacaooriginal-113605-pl.html petente e em conformidade com lei que estabeleça tal
pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido.
Para obter a íntegra do PIDESC, acesse: Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais
não se aplique atualmente.
h t t p : / / w w w . p l a n a l t o . g o v . b r / c c i v i l _ 0 3 / d e c r e- Não se pode restabelecer a pena de morte nos Esta-
to/1990-1994/d0591.htm dos que a hajam abolido.
Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada
Para obter a íntegra do Protocolo ao PIDESC, acesse: por delitos políticos, nem por delitos comuns conexos
com delitos políticos.
http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteu- Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

dos-de-apoio/publicacoes/direitos-humanos/ momento da perpetração do delito, for menor de dezoi-


protocolo to anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em
estado de gravidez.
Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar
PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA
anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem
ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar
DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de
decisão ante a autoridade competente.
Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos

395
Artigo 5. Direito à integridade pessoal Ninguém pode ser privado de sua liberdade física,
salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas
Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua in- pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas
tegridade física, psíquica e moral. leis de acordo com elas promulgadas.
Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas Ninguém pode ser submetido a detenção ou encar-
ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pes- ceramento arbitrários.
soa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das
devido à dignidade inerente ao ser humano. razões da sua detenção e notificada, sem demora, da
A pena não pode passar da pessoa do delinquente. acusação ou acusações formuladas contra ela.
Os processados devem ficar separados dos condena- Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem
dos, salvo em circunstâncias excepcionais, e ser subme- demora, à presença de um juiz ou outra autoridade au-
tidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas torizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito
não condenadas. a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta
Os menores, quando puderem ser processados, de- em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo.
vem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que as-
especializado, com a maior rapidez possível, para seu segurem o seu comparecimento em juízo.
tratamento. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recor-
As penas privativas da liberdade devem ter por fi- rer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este
nalidade essencial a reforma e a readaptação social dos decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou
condenados. detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a deten-
ção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis prevêem
Artigo 6. Proibição da escravidão e da servidão que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de
sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal
Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a servi- competente a fim de que este decida sobre a legalidade
dão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem
de mulheres são proibidos em todas as suas formas. abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pes-
Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho soa ou por outra pessoa.
forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio
para certos delitos, pena privativa da liberdade acompa- não limita os mandados de autoridade judiciária compe-
nhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode tente expedidos em virtude de inadimplemento de obri-
ser interpretada no sentido de que proíbe o cumprimen- gação alimentar.
to da dita pena, imposta por juiz ou tribunal competente.
O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a Artigo 8. Garantias judiciais
capacidade física e intelectual do recluso.
Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas
para os efeitos deste artigo: garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou
tribunal competente, independente e imparcial, estabe-
• os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de lecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou acusação penal formulada contra ela, ou para que se de-
resolução formal expedida pela autoridade judiciá- terminem seus direitos ou obrigações de natureza civil,
ria competente. Tais trabalhos ou serviços devem trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
ser executados sob a vigilância e controle das au- Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se
toridades públicas, e os indivíduos que os executa- presuma sua inocência enquanto não se comprove le-
rem não devem ser postos à disposição de particu- galmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa
lares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
privado; mínimas:
• o serviço militar e, nos países onde se admite a
isenção por motivos de consciência, o serviço na- • direito do acusado de ser assistido gratuitamente
cional que a lei estabelecer em lugar daquele; por tradutor ou intérprete, se não compreender ou
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

• o serviço imposto em casos de perigo ou calami- não falar o idioma do juízo ou tribunal;
dade que ameace a existência ou o bem-estar da • comunicação prévia e pormenorizada ao acusado
comunidade; e da acusação formulada;
• o trabalho ou serviço que faça parte das obriga- • concessão ao acusado do tempo e dos meios ade-
ções cívicas normais. quados para a preparação de sua defesa;
• direito do acusado de defender-se pessoalmente
Artigo 7. Direito à liberdade pessoal ou de ser assistido por um defensor de sua escolha
e de comunicar-se, livremente e em particular, com
Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança seu defensor;
pessoais.

396
• direito irrenunciável de ser assistido por um de- A liberdade de manifestar a própria religião e as pró-
fensor proporcionado pelo Estado, remunerado prias crenças está sujeita unicamente às limitações pres-
ou não, segundo a legislação interna, se o acusado critas pela lei e que sejam necessárias para proteger a
não se defender ele próprio nem nomear defensor segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os
dentro do prazo estabelecido pela lei; direitos ou liberdades das demais pessoas.
• direito da defesa de inquirir as testemunhas pre- Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a
sentes no tribunal e de obter o comparecimento, que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa
como testemunhas ou peritos, de outras pessoas e moral que esteja acorde com suas próprias convicções.
que possam lançar luz sobre os fatos;
• direito de não ser obrigado a depor contra si mes- Artigo 13. Liberdade de pensamento e de expressão
ma, nem a declarar-se culpada;
• direito de recorrer da sentença para juiz ou tribu- Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento
nal superior. e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de
buscar, receber e difundir informações e ideias de toda
A confissão do acusado só é válida se feita sem coa- natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente
ção de nenhuma natureza. ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por
O acusado absolvido por sentença passada em jul- qualquer outro processo de sua escolha.
gado não poderá ser submetido a novo processo pelos O exercício do direito previsto acima não pode estar
mesmos fatos. sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulterio-
O processo penal deve ser público, salvo no que for res, que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser
necessário para preservar os interesses da justiça. necessárias para assegurar:

Artigo 9. Princípio da legalidade e da retroatividade • o respeito aos direitos ou à reputação das demais
pessoas; ou
Ninguém pode ser condenado por ações ou omis- • a proteção da segurança nacional, da or-
sões que, no momento em que forem cometidas, não dem pública, ou da saúde ou da moral
sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tam- públicas.
pouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no
momento da perpetração do delito. Se depois da perpe- Não se pode restringir o direito de expressão por vias
tração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais ou meios indiretos, tais como o abuso de controles ofi-
leve, o delinquente será por isso beneficiado. ciais ou particulares de papel de imprensa, de frequên-
cias radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usa-
Artigo 10. Direito a indenização dos na difusão de informação, nem por quaisquer outros
meios destinados a obstar a comunicação e a circulação
Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme de ideias e opiniões.
a lei, no caso de haver sido condenada em sentença pas- A lei pode submeter os espetáculos públicos a censu-
sada em julgado, por erro judiciário. ra prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a
eles, para proteção moral da infância e da adolescência,
Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade sem prejuízo do disposto acima.
A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra,
Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou re-
reconhecimento de sua dignidade. ligioso que constitua incitação à discriminação, à hostili-
Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias dade, ao crime ou à violência.
ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em
seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofen- Artigo 14. Direito de retificação ou resposta
sas ilegais à sua honra ou reputação.
Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais Toda pessoa atingida por informações inexatas ou
ingerências ou tais ofensas. ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão
legalmente regulamentados e que se dirijam ao públi-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 12. Liberdade de consciência e de religião co em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de
difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que
Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e estabeleça a lei.
de religião. Esse direito implica a liberdade de conservar Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão
sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou das outras responsabilidades legais em que se houver
de crenças, bem como a liberdade de professar e divul- incorrido.
gar sua religião ou suas crenças, individual ou coletiva- Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda
mente, tanto em público como em privado. publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de
Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável que
possam limitar sua liberdade de conservar sua religião não seja protegida por imunidades nem goze de foro
ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. especial.

397
Artigo 15. Direito de reunião Artigo 19. Direitos da criança

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem Toda criança tem direito às medidas de proteção que
armas. O exercício de tal direito só pode estar sujeito a sua condição de menor requer por parte da sua família,
às restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, da sociedade e do Estado.
numa sociedade democrática, no interesse da segurança
nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para Artigo 20. Direito à nacionalidade
proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e
liberdades das demais pessoas. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado
Artigo 16. Liberdade de associação em cujo território houver nascido, se não tiver direito a
outra.
Todas as pessoas têm o direito de associar-se livre- A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua na-
mente com fins ideológicos, religiosos, políticos, econô- cionalidade nem do direito de mudá-la.
micos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de
qualquer outra natureza. Artigo 21. Direito à propriedade privada
O exercício de tal direito só pode estar sujeito às res-
trições previstas pela lei que sejam necessárias, numa so- Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens.
ciedade democrática, no interesse da segurança nacional, A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.
da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens,
saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das salvo mediante o pagamento de indenização justa, por
demais pessoas. motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos
O disposto neste artigo não impede a imposição de casos e na forma estabelecidos pela lei.
restrições legais, e mesmo a privação do exercício do di- Tanto a usura como qualquer outra forma de explora-
ção do homem pelo homem devem ser reprimidas pela
reito de associação, aos membros das forças armadas e
lei.
da polícia.
Artigo 22. Direito de circulação e de residência
Artigo 17. Proteção da família
Toda pessoa que se ache legalmente no território de
A família é o elemento natural e fundamental da
um Estado tem direito de circular nele e de nele residir
sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo
em conformidade com as disposições legais.
Estado.
Toda pessoa tem o direito de sair livremente de qual-
quer país, inclusive do próprio.
É reconhecido o direito do homem e da mulher de
contraírem casamento e de fundarem uma família, se ti- O exercício dos direitos acima mencionados não
verem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis pode ser restringido senão em virtude de lei, na medida
internas, na medida em que não afetem estas o princípio indispensável, numa sociedade democrática, para preve-
da não-discriminação estabelecido nesta Convenção. nir infrações penais ou para proteger a segurança nacio-
O casamento não pode ser celebrado sem o livre e nal, a segurança ou a ordem pública, a moral ou a saúde
pleno consentimento dos contraentes. pública, ou os direitos e liberdades das demais pessoas.
Os Estados Partes devem tomar medidas apropriadas O exercício dos direitos reconhecidos acima pode
no sentido de assegurar a igualdade de direitos e a ade- também ser restringido pela lei, em zonas determinadas,
quada equivalência de responsabilidades dos cônjuges por motivo de interesse público.
quanto ao casamento, durante o casamento e em caso Ninguém pode ser expulso do território do Estado
de dissolução do mesmo. Em caso de dissolução, serão do qual for nacional, nem ser privado do direito de nele
adotadas disposições que assegurem a proteção neces- entrar.
sária aos filhos, com base unicamente no interesse e con- O estrangeiro que se ache legalmente no território
veniência dos mesmos. de um Estado Parte nesta Convenção só poderá dele ser
A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos expulso em cumprimento de decisão adotada de acordo
nascidos fora do casamento como aos nascidos dentro
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

com a lei.
do casamento. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo
em território estrangeiro, em caso de perseguição por
Artigo 18. Direito ao nome delitos políticos ou comuns conexos com delitos políti-
cos e de acordo com a legislação de cada Estado e com
Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes os convênios internacionais.
de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a for- Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou
ma de assegurar a todos esses direitos, mediante nomes entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu
fictícios, se for necessário. direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de
violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião,
condição social ou de suas opiniões políticas.
É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.

398
Artigo 23. Direitos políticos SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E
APLICAÇÃO
Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direi-
tos e oportunidades: Artigo 27. Suspensão de garantias

• de participar na direção dos assuntos públicos, Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra
diretamente ou por meio de representantes livre- emergência que ameace a independência ou segurança
mente eleitos; do Estado Parte, este poderá adotar disposições que, na
• de votar e ser eleitos em eleições periódicas au- medida e pelo tempo estritamente limitados às exigên-
tênticas, realizadas por sufrágio universal e igual e cias da situação, suspendam as obrigações contraídas
por voto secreto que garanta a livre expressão da em virtude desta Convenção, desde que tais disposições
vontade dos eleitores; e não sejam incompatíveis com as demais obrigações que
• de ter acesso, em condições gerais de igualdade, lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discri-
às funções públicas de seu país. minação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo,
idioma, religião ou origem social.
A lei pode regular o exercício dos direitos e oportu- A disposição precedente não autoriza a suspensão
nidades a que se refere o inciso anterior, exclusivamente dos direitos determinados seguintes artigos: 3 (Direito
por motivos de idade, nacionalidade, residência, idioma, ao reconhecimento da personalidade jurídica); 4 (Direito
instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação, à vida); 5 (Direito à integridade pessoal); 6 (Proibição da
por juiz competente, em processo penal. escravidão e servidão); 9 (Princípio da legalidade e da re-
troatividade); 12 (Liberdade de consciência e de religião);
Artigo 24. Igualdade perante a lei 17 (Proteção da família); 18 (Direito ao nome); 19 (Direi-
tos da criança); 20 (Direito à nacionalidade) e 23 (Direitos
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conse- políticos), nem das garantias indispensáveis para a pro-
guinte, têm direito, sem discriminação, a igual proteção
teção de tais direitos.
Todo Estado Parte que fizer uso do direito de suspen-
da lei.
são deverá informar imediatamente os outros Estados
Artigo 25. Proteção judicial
Partes na presente Convenção, por intermédio do Secre-
tário-Geral da Organização dos Estados Americanos, das
Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rá-
disposições cuja aplicação haja suspendido, dos motivos
pido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juí-
determinantes da suspensão e da data em que haja dado
zes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos
por terminada tal suspensão.
que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela
constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mes-
mo quando tal violação seja cometida por pessoas que Artigo 28. Cláusula federal
estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.
Os Estados Partes comprometem-se: Quando se tratar de um Estado Parte constituído
como Estado federal, o governo nacional do aludido
• a assegurar que a autoridade competente prevista Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente
pelo sistema legal do\fEstado decida sobre os di- Convenção, relacionadas com as matérias sobre as quais
reitos de toda pessoa que interpuser tal recurso; exerce competência legislativa e judicial.
• a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; No tocante às disposições relativas às matérias que
e correspondem à competência das entidades componen-
• a assegurar o cumprimento, pelas autoridades tes da federação, o governo nacional deve tomar imedia-
competentes, de toda decisão em que se tenha tamente as medidas pertinente, em conformidade com
considerado procedente o recurso. sua constituição e suas leis, a fim de que as autorida-
des competentes das referidas entidades possam ado-
DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS tar as disposições cabíveis para o cumprimento desta
Convenção.
Quando dois ou mais Estados Partes decidirem cons-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 26. Desenvolvimento progressivo


tituir entre eles uma federação ou outro tipo de associa-
Os Estados Partes comprometem-se a adotar provi- ção, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário
dências, tanto no âmbito interno como mediante coope- respectivo contenha as disposições necessárias para que
ração internacional, especialmente econômica e técnica, continuem sendo efetivas no novo Estado assim organi-
a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade zado as normas da presente Convenção.
dos direitos que decorrem das normas econômicas, so-
ciais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Artigo 29. Normas de interpretação
Carta da Organização dos Estados Americanos, reforma-
da pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recur- Nenhuma disposição desta Convenção pode ser in-
sos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios terpretada no sentido de:
apropriados.

399
• permitir a qualquer dos Estados Partes, grupo ou Artigo 34
pessoa, suprimir o gozo e exercício dos direitos e
liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá- A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
-los em maior medida do que a nela prevista; compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas
• limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou de alta autoridade moral e de reconhecido saber em ma-
liberdade que possam ser reconhecidos de acor- téria de direitos humanos.
do com as leis de qualquer dos Estados Partes ou
de acordo com outra convenção em que seja parte Artigo 35
um dos referidos Estados;
• excluir outros direitos e garantias que são ineren- A Comissão representa todos os membros da Organi-
tes ao ser humano ou que decorrem da forma de- zação dos Estados Americanos.
mocrática representativa de governo; e
• excluir ou limitar o efeito que possam produzir a
Artigo 36
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Os membros da Comissão serão eleitos a título pes-
Homem e outros atos internacionais da mesma
soal, pela Assembleia Geral da Organização, de uma lis-
natureza.
ta de candidatos propostos pelos governos dos Estados
membros.
Artigo 30. Alcance das restrições Cada um dos referidos governos pode propor até três
candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de
As restrições permitidas, de acordo com esta Conven- qualquer outro Estado membro da Organização dos Es-
ção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela tados Americanos. Quando for proposta uma lista de três
reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de
com leis que forem promulgadas por motivo de interes- Estado diferente do proponente.
se geral e com o propósito para o qual houverem sido
estabelecidas. Artigo 37

Artigo 31. Reconhecimento de outros direitos Os membros da Comissão serão eleitos por qua-
tro anos e só poderão ser reeleitos uma vez, porém o
Poderão ser incluídos no regime de proteção desta mandato de três dos membros designados na primeira
Convenção outros direitos e liberdades que forem reco- eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da
nhecidos de acordo com os processos estabelecidos nos referida eleição, serão determinados por sorteio, na As-
artigos 76 e 77. sembleia Geral, os nomes desses três membros.
Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacio-
DEVERES DAS PESSOAS nal de um mesmo Estado.

Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos Artigo 38

Toda pessoa tem deveres para com a família, a comu- As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se de-
nidade e a humanidade. vam à expiração normal do mandato, serão preenchidas
Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo
com o que dispuser o Estatuto da Comissão.
dos demais, pela segurança de todos e pelas justas exi-
gências do bem comum, numa sociedade democrática.
Artigo 39

A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à


MEIOS DA PROTEÇÃO
ÓRGÃOS COMPETENTES aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio
regulamento.
Artigo 33
Artigo 40
São competentes para conhecer dos assuntos relacio-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

nados com o cumprimento dos compromissos assumi- Os serviços de secretaria da Comissão devem ser de-
dos pelos Estados Partes nesta Convenção: sempenhados pela unidade funcional especializada que
faz parte da Secretaria-Geral da Organização e devem
• a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dispor dos recursos necessários para cumprir as tarefas
doravante denominada a Comissão; e que lhe forem confiadas pela Comissão.
• a Corte Interamericana de Direitos Humanos, dora-
vante denominada a Corte. Artigo 41

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS A Comissão tem a função principal de promover a ob-


HUMANOS servância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício
do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:

400
• estimular a consciência dos direitos humanos nos As comunicações feitas em virtude deste artigo só
povos da América; podem ser admitidas e examinadas se forem apresenta-
• formular recomendações aos governos dos Esta- das por um Estado Parte que haja feito uma declaração
dos membros, quando o considerar conveniente, pela qual reconheça a referida competência da Comis-
no sentido de que adotem medidas progressivas são. A Comissão não admitirá nenhuma comunicação
em prol dos direitos humanos no âmbito de suas contra um Estado Parte que não haja feito tal declaração.
As declarações sobre reconhecimento de compe-
leis internas e seus preceitos constitucionais, bem
como disposições apropriadas para promover o
devido respeito a esses direitos; tência podem ser feitas para que esta vigore por tem-
• preparar os estudos ou relatórios que considerar po indefinido, por período determinado ou para casos
convenientes para o desempenho de suas funções; específicos.
• solicitar aos governos dos Estados membros que As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral
lhe proporcionem informações sobre as medidas da Organização dos Estados Americanos, a qual encami-
que adotarem em matéria de direitos humanos; nhará cópia das mesmas aos Estados membros da refe-
• atender às consultas que, por meio da Secretaria- rida Organização.
-Geral da Organização dos Estados Americanos,
lhe formularem os Estados membros sobre ques- Artigo 46
tões relacionadas com os direitos humanos e, den-
tro de suas possibilidades, prestar-lhes o assesso- Para que uma petição ou comunicação apresentada
ramento que eles lhe solicitarem; de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela
• atuar com respeito às petições e outras comuni-
Comissão, será necessário:
cações, no exercício de sua autoridade, de confor-
midade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta
Convenção; e • que hajam sido interpostos e esgotados os recursos
• apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da jurisdição interna, de acordo com os princípios
da Organização dos Estados Americanos. de direito internacional geralmente reconhecidos;
• que seja apresentada dentro do prazo de seis me-
Artigo 42 ses, a partir da data em que o presumido preju-
dicado em seus direitos tenha sido notificado da
Os Estados Partes devem remeter à Comissão cópia decisão definitiva;
dos relatórios e estudos que, em seus respectivos cam- • que a matéria da petição ou comunicação não es-
pos, submetem anualmente às Comissões Executivas do teja pendente de outro processo de solução inter-
Conselho Interamericano Econômico e Social e do Con- nacional; e
selho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a • que, no caso do artigo 44, a petição contenha o
fim de que aquela vele por que se promovam os direi- nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a
tos decorrentes das normas econômicas, sociais e sobre
educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Orga-
assinatura da pessoa ou pessoas ou do represen-
nização dos Estados Americanos, reformada pelo Proto- tante legal da entidade que submeter a petição.
colo de Buenos Aires.
As disposições: “que hajam sido interpostos e esgota-
Artigo 43 dos os recursos da jurisdição interna, de acordo com os
princípios de direito internacional geralmente reconheci-
Os Estados Partes obrigam-se a proporcionar à Co- dos; e que seja apresentada dentro do prazo de seis me-
missão as informações que esta lhes solicitar sobre a ma- ses, a partir da data em que o presumido prejudicado em
neira pela qual o seu direito interno assegura a aplicação seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva”,
efetiva de quaisquer disposições desta Convenção. não se aplicarão quando:

Artigo 44 • não existir, na legislação interna do Estado de que


se tratar, o devido processo legal para a proteção
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade
do direito ou direitos que se alegue tenham sido
não-governamental legalmente reconhecida em um ou
mais Estados membros da Organização, pode apresentar violados;
à Comissão petições que contenham denúncias ou quei- • não se houver permitido ao presumido prejudica-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

xas de violação desta Convenção por um Estado Parte. do em seus direitos o acesso aos recursos da ju-
risdição interna, ou houver sido ele impedido de
Artigo 45 esgotá-los; e
• houver demora injustificada na decisão sobre os
Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do mencionados recursos.
seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar Artigo 47
que reconhece a competência da Comissão para receber
e examinar as comunicações em que um Estado Parte ale- A Comissão declarará inadmissível toda petição ou
gue haver outro Estado Parte incorrido em violações dos comunicação apresentada de acordo com os artigos 44
direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.
ou 45 quando:

401
• não preencher algum dos requisitos estabelecidos Artigo 49
no artigo 46;
• não expuser fatos que caracterizem violação dos Se se houver chegado a uma solução amistosa de
direitos garantidos por esta\f Convenção; acordo, a Comissão redigirá um relatório que será en-
• pela exposição do próprio peticionário ou do Es- caminhado ao peticionário e aos Estados Partes nesta
tado, for manifestamente infundada a petição ou Convenção e, posteriormente, transmitido, para sua pu-
comunicação ou for evidente sua total improce- blicação, ao Secretário-Geral da Organização dos Esta-
dência; ou dos Americanos. O referido relatório conterá uma breve
• for substancialmente reprodução de petição ou exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer
comunicação anterior, já examinada pela Comissão das partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a
ou por outro organismo internacional. mais ampla informação possível.

Artigo 48 Artigo 50

A Comissão, ao receber uma petição ou comunica- Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo
ção na qual se alegue violação de qualquer dos direitos que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá
consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões.
maneira: Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o
acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer
• se reconhecer a admissibilidade da petição ou co- deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em
municação, solicitará informações ao Governo do separado. Também se agregarão ao relatório as exposi-
Estado ao qual pertença a autoridade apontada ções verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos
como responsável pela violação alegada e trans- interessados em virtude do do artigo 48.
creverá as partes pertinentes da petição ou co- O relatório será encaminhado aos Estados interessa-
municação. As referidas informações devem ser dos, aos quais não será facultado publicá-lo.
enviadas dentro de um prazo razoável, fixado pela Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular
Comissão ao considerar as circunstâncias de cada as proposições e recomendações que julgar adequadas.
caso;
• recebidas as informações, ou transcorrido o prazo Artigo 51
fixado sem que sejam elas recebidas, verificará se
existem ou subsistem os motivos da petição ou co- Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos
municação. No caso de não existirem ou não sub- Estados interessados do relatório da Comissão, o assun-
sistirem, mandará arquivar o expediente; to não houver sido solucionado ou submetido à deci-
• poderá também declarar a inadmissibilidade ou a são da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado,
improcedência da petição ou comunicação, com aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir,
base em informação ou prova supervenientes; pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua
• se o expediente não houver sido arquivado, e com opinião e conclusões sobre a questão submetida à sua
o fim de comprovar os fatos, a Comissão proce- consideração.
derá, com conhecimento das partes, a um exame A Comissão fará as recomendações pertinentes e fi-
do assunto exposto na petição ou comunicação. Se xará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as
for necessário e conveniente, a Comissão procede- medidas que lhe competirem para remediar a situação
rá a uma investigação para cuja eficaz realização examinada.
solicitará, e os Estados interessados lhes propor- Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo
cionarão todas as facilidades necessárias; voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado
tomou ou não medidas adequadas e se publica ou não
• poderá pedir aos Estados interessados qualquer seu relatório.
informação pertinente e receberá, se isso lhe for
solicitado, as exposições verbais ou escritas que CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
apresentarem os interessados; e
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

• coloca-se à disposição das partes interessadas, a Artigo 52


fim de chegar a uma solução amistosa do assunto,
fundada no respeito aos direitos humanos reco- A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Es-
nhecidos nesta Convenção. tados membros da Organização, eleitos a título pessoal
dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reco-
Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser rea- nhecida competência em matéria de direitos humanos,
lizada uma investigação, mediante prévio consentimento que reúnam as condições requeridas para o exercício
do Estado em cujo território se alegue haver sido come- das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei
tida a violação, tão somente com a apresentação de uma do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os
petição ou comunicação que reúna todos os requisitos propuser como candidatos.
formais de admissibilidade. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

402
Artigo 53 Artigo 58

Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta A Corte terá sua sede no lugar que for determina-
e pelo voto da maioria absoluta dos Estados Partes na do, na Assembleia Geral da Organização, pelos Estados
Convenção, na Assembleia Geral da Organização, de uma Partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões no
lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados. território de qualquer Estado membro da Organização
Cada um dos Estados Partes pode propor até três dos Estados Americanos em que o considerar conve-
candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de niente pela maioria dos seus membros e mediante prévia
qualquer outro Estado membro da Organização dos Es- aquiescência do Estado respectivo. Os Estados Partes na
tados Americanos. Quando se propuser uma lista de três Convenção podem, na Assembleia Geral, por dois terços
candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de dos seus votos, mudar a sede da Corte.
Estado diferente do proponente. A Corte designará seu Secretário.
O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assis-
Artigo 54 tir às reuniões que ela realizar fora da mesma.

Os juízes da Corte serão eleitos por um período de Artigo 59


seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato
de três dos juízes designados na primeira eleição expira- A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e fun-
rá ao cabo de três anos. Imediatamente depois da referi- cionará sob a direção do Secretário da Corte, de acordo
da eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia com as normas administrativas da Secretaria-Geral da
Geral, os nomes desses três juízes. Organização em tudo o que não for incompatível com a
O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não independência da Corte. Seus funcionários serão nomea-
haja expirado, completará o período deste. dos pelo Secretário-Geral da Organização, em consulta
Os juízes permanecerão em funções até o término com o Secretário da Corte.
dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionan-
do nos casos de que já houverem tomado conhecimen- Artigo 60
to e que se encontrem em fase de sentença e, para tais
efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos. A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à apro-
vação da Assembleia Geral e expedirá seu regimento.
Artigo 55
Artigo 61
O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes
no caso submetido à Corte, conservará o seu direito de Somente os Estados Partes e a Comissão têm direito
conhecer do mesmo. de submeter caso à decisão da Corte.
Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é
de nacionalidade de um dos Estados Partes, outro Estado necessário que sejam esgotados os processos previstos
Parte no caso poderá designar uma pessoa de sua esco- nos artigos 48 a 50.
lha para fazer parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc.
Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, Artigo 62
nenhum for da nacionalidade dos Estados Partes, cada
um destes poderá designar um juiz ad hoc. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do
O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
artigo 52. adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, decla-
Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o rar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e
mesmo interesse no caso, serão considerados como uma sem convenção especial, a competência da Corte em to-
só Parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso dos os casos relativos à interpretação ou aplicação desta
de dúvida, a Corte decidirá. Convenção.
A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou
Artigo 56 sob condição de reciprocidade, por prazo determinado
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Se-


O quórum para as deliberações da Corte é constituí- cretário-Geral da Organização, que encaminhará cópias
do por cinco juízes. da mesma aos outros Estados membros da Organização
e ao Secretário da Corte.
Artigo 57 A Corte tem competência para conhecer de qualquer
caso relativo à interpretação e aplicação das disposições
A Comissão comparecerá em todos os casos perante desta Convenção que lhe seja submetido, desde que os
a Corte. Estados Partes no caso tenham reconhecido ou reconhe-
çam a referida competência, seja por declaração especial,
como preveem os incisos anteriores, seja por convenção
especial.

403
Artigo 63 A parte da sentença que determinar indenização
compensatória poderá ser executada no país respectivo
Quando decidir que houve violação de um direito ou pelo processo interno vigente para a execução de sen-
liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determi- tenças contra o Estado.
nará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu di-
reito ou liberdade violados. Determinará também, se isso Artigo 69
for procedente, que sejam reparadas as consequências
da medida ou situação que haja configurado a violação A sentença da Corte deve ser notificada às partes no
desses direitos, bem como o pagamento de indenização caso e transmitida aos Estados Partes na Convenção.
justa à parte lesada.
Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando DISPOSIÇÕES COMUNS
se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a
Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá
Artigo 70
tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes.
Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem sub-
Os juízes da Corte e os membros da Comissão gozam,
metidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da
desde o momento de sua eleição e enquanto durar o seu
Comissão.
mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes di-
Artigo 64 plomáticos pelo Direito Internacional. Durante o exercí-
cio dos seus cargos gozam, além disso, dos privilégios
Os Estados membros da Organização poderão con- diplomáticos necessários para o desempenho de suas
sultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou funções.
de outros tratados concernentes à proteção dos direi- Não se poderá exigir responsabilidade em tempo al-
tos humanos nos Estados americanos. Também poderão gum dos juízes da Corte, nem dos membros da Comis-
consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados são, por votos e opiniões emitidos no exercício de suas
no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Ame- funções.
ricanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.
A Corte, a pedido de um Estado membro da Organi- Artigo 71
zação, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade
entre qualquer de suas leis internas e os mencionados Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comis-
instrumentos internacionais. são são incompatíveis com outras atividades que possam
afetar sua independência ou imparcialidade conforme o
Artigo 65 que for determinado nos respectivos estatutos.

A Corte submeterá à consideração da Assembleia Ge- Artigo 72


ral da Organização, em cada período ordinário de ses-
sões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. Os juízes da Corte e os membros da Comissão perce-
De maneira especial, e com as recomendações pertinen- berão honorários e despesas de viagem na forma e nas
tes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado condições que determinarem os seus estatutos, levando
cumprimento a suas sentenças. em conta a importância e independência de suas fun-
ções. Tais honorários e despesas de viagem serão fixados
no orçamento-programa da Organização dos Estados
Artigo 66
Americanos, no qual devem ser incluídas, além disso, as
A sentença da Corte deve ser fundamentada.
despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais efeitos,
Se a sentença não expressar no todo ou em parte a
a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento
opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito
a que se agregue à sentença o seu voto dissidente ou e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral, por
individual. intermédio da Secretaria-Geral. Esta última não poderá
nele introduzir modificações.
Artigo 67
Artigo 73
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em


caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sen- Somente por solicitação da Comissão ou da Corte,
tença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das conforme o caso, cabe à Assembleia Geral da Organiza-
partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de ção resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da
noventa dias a partir da data da notificação da sentença. Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos ca-
sos previstos nos respectivos estatutos. Para expedir uma
Artigo 68 resolução, será necessária maioria de dois terços dos vo-
tos dos Estados Membros da Organização, no caso dos
Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a membros da Comissão; e, além disso, de dois terços dos
cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem votos dos Estados Partes na Convenção, se se tratar dos
partes. juízes da Corte.

404
DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado
ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, EMENDA, Parte interessado das obrigações contidas nesta Conven-
PROTOCOLO E DENÚNCIA ção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendo
constituir violação dessas obrigações, houver sido co-
Artigo 74 metido por ele anteriormente à data na qual a denúncia
produzir efeito.
Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação
ou adesão de todos os Estados membros da Organização
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
dos Estados Americanos.
A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela
efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de Artigo 79
ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organi-
zação dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Ge-
em vigor logo que onze Estados houverem depositado ral pedirá por escrito a cada Estado membro da Orga-
os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de nização que apresente, dentro de um prazo de noventa
adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a dias, seus candidatos a membro da Comissão Interameri-
ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção cana de Direitos Humanos. O Secretário-Geral preparará
entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresen-
de ratificação ou de adesão. tados e a encaminhará aos Estados membros da Organi-
O Secretário-Geral informará todos os Estados zação pelo menos trinta dias antes da Assembleia Geral
membros da Organização sobre a entrada em vigor da seguinte.
Convenção.

Artigo 75 Artigo 80

Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em A eleição dos membros da Comissão far-se-á den-
conformidade com as disposições da Convenção de Vie- tre os candidatos que figurem na lista a que se refere
na sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio o artigo 79, por votação secreta da Assembleia Geral, e
de 1969. serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem
maior número de votos e a maioria absoluta dos votos
Artigo 76 dos representantes dos Estados membros. Se, para ele-
ger todos os membros da Comissão, for necessário rea-
Qualquer Estado Parte, diretamente, e a Comissão ou lizar várias votações, serão eliminados sucessivamente,
a Corte, por intermédio do Secretário-Geral, podem sub- na forma que for determinada pela Assembleia Geral, os
meter à Assembleia Geral, para o que julgarem conve- candidatos que receberem menor número de votos.
niente, proposta de emenda a esta Convenção.
As emendas entrarão em vigor para os Estados que
ratificarem as mesmas na data em que houver sido depo- Artigo 81
sitado o respectivo instrumento de ratificação que cor-
responda ao número de dois terços dos Estados Partes Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Ge-
nesta Convenção. Quanto aos outros Estados Partes, en- ral solicitará por escrito a cada Estado Parte que apresen-
trarão em vigor na data em que depositarem eles os seus te, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos
respectivos instrumentos de ratificação. a juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O
Secretário-Geral preparará uma lista por ordem alfabéti-
Artigo 77 6 D ca dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Es-
tados Partes pelo menos trinta dias antes da Assembleia
De acordo com a faculdade estabelecida no artigo 31, Geral seguinte.
qualquer Estado Parte e a Comissão podem submeter à
consideração dos Estados Partes reunidos por ocasião Artigo 82
da Assembleia Geral, projetos de protocolos adicionais a
esta Convenção, com a finalidade de incluir progressiva-
A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candi-
mente no regime de proteção da mesma outros direitos
datos que figurem na lista a que se refere o artigo 81, por
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

e liberdades.
Cada protocolo deve estabelecer as modalidades de votação secreta dos Estados Partes, na Assembleia Geral,
sua entrada em vigor e será aplicado somente entre os e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem
Estados Partes no mesmo. maior número de votos e a maioria absoluta dos votos
dos representantes do Estados Partes. Se, para eleger to-
Artigo 78 dos os juízes da Corte, for necessário realizar várias vo-
tações, serão eliminados sucessivamente, na forma que
Os Estados Partes poderão denunciar esta Convenção for determinada pelos Estados Partes, os candidatos que
depois de expirado um prazo de cinco anos, a partir da receberem menor número de votos.
data da entrada em vigor da mesma e mediante aviso
prévio de um ano, notificando o Secretário-Geral da Or-
ganização, o qual deve informar as outras Partes.

405
DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992 Considerando que a concepção do direito à seguran-
ça pública com cidadania demanda a sedimentação de
Considerando que a Convenção Americana sobre Di- políticas públicas de segurança pautadas no respeito aos
reitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), ado- direitos humanos;
tada no âmbito da Organização dos Estados Americanos, Considerando o disposto no Código de Conduta para
em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, ado-
entrou em vigor internacional em 18 de julho de 1978, na tado pela Assembléia Geral das Nações Unidas na sua
forma do segundo parágrafo de seu art. 74, bem como Resolução nº 34/169, de 17 de dezembro de 1979, nos
que o Governo brasileiro depositou a carta de adesão a Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo
essa convenção em 25 de setembro de 1992; Conside- pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei,
rando que a Convenção Americana sobre Direitos Huma- adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas para
nos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em vigor, a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes,
para o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de confor- realizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de se-
midade com o disposto no segundo parágrafo de seu tembro de 1999, nos Princípios orientadores para a Apli-
art. 74, foi decretado que a Convenção Americana sobre cação Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), ce- Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conse-
lebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro lho Econômico e Social das Nações Unidas na sua Resolu-
de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ção nº 1.989/1961, de 24 de maio de 1989 e na Convenção
ser cumprida tão inteiramente como nela se contém. Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis,
Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacio- Desumanos ou Degradantes, adotado pela Assembléia
nal, em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileiro Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em
fez a seguinte declaração interpretativa: “O Governo do Nova York em 10 de dezembro de 1984 e promulgada
Brasil entende que os arts. 43 e 48, não incluem o direito pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991;
automático de visitas e inspeções in loco da Comissão In- Considerando a necessidade de orientação e padro-
teramericana de Direitos Humanos, as quais dependerão
nização dos procedimentos da atuação dos agentes de
da anuência expressa do Estado”.
segurança pública aos princípios internacionais sobre o
uso da força;
Considerando o objetivo de reduzir paulatinamente
EXERCÍCIOS COMENTADOS os índices de letalidade resultantes de ações envolvendo
agentes de segurança pública; e,
1. (NOVA CONCURSOS - 2020) Sobre o direito de cir- Considerando as conclusões do Grupo de Trabalho,
culação e residência em países que tenham ratificado o criado para elaborar proposta de Diretrizes sobre Uso da
Pacto de São José da Costa Rica, devem permitir que o Força, composto por representantes das Polícias Fede-
estrangeiro que se ache legalmente no território de um rais, Estaduais e Guardas Municipais, bem como com re-
Estado Parte da Convenção só poderá dele ser expulso: presentantes da sociedade civil, da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República e do Ministério da
a) a qualquer momento sem interferência de normas Justiça,
internas.
b) se condenado a pena de banimento ou de exílio. Resolvem:
c) em cumprimento de decisão adotada de acordo com
a lei. Art. 1º Ficam estabelecidas Diretrizes sobre o Uso da
d) após decisão da Corte Interamericana de Direitos Força pelos Agentes de Segurança Pública, na forma
Humanos. do Anexo I desta Portaria.
Parágrafo único. Aplicam-se às Diretrizes estabeleci-
Resposta: Letra C. das no Anexo I, as definições constantes no Anexo II
O estrangeiro que se ache legalmente no território desta Portaria.
de um Estado Parte nesta Convenção só poderá dele Art. 2º A observância das diretrizes mencionadas no
ser expulso em cumprimento de decisão adotada de artigo anterior passa a ser obrigatória pelo Depar-
acordo com a lei. tamento de Polícia Federal, pelo Departamento de
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Polícia Rodoviária Federal, pelo Departamento Peni-


tenciário Nacional e pela Força Nacional de Seguran-
PORTARIA INTERMINISTERIAL N. 4226, DE
ça Pública.
31/12/2010
§ 1º As unidades citadas no caput deste artigo terão
90 dias, contados a partir da publicação desta porta-
Estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos ria, para adequar seus procedimentos operacionais e
Agentes de Segurança Pública. seu processo de formação e treinamento às diretri-
O Ministro de Estado da Justiça e o Ministro de Es- zes supramencionadas.
tado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Pre- § 2º As unidades citadas no caput deste artigo terão
sidência da República, no uso das atribuições que lhes 60 dias, contados a partir da publicação desta portaria,
conferem os incisos I e II, do parágrafo único, do art. 87, para fixar a normatização mencionada na diretriz nº 9
da Constituição Federal e, e para criar a comissão mencionada na diretriz nº 23.

406
§ 3º As unidades citadas no caput deste artigo te- 3. Os agentes de segurança pública não deverão dis-
rão 60 dias, contados a partir da publicação desta parar armas de fogo contra pessoas, exceto em casos
portaria, para instituir Comissão responsável por de legítima defesa própria ou de terceiro contra perigo
avaliar sua situação interna em relação às diretrizes iminente de morte ou lesão grave.
não mencionadas nos parágrafos anteriores e propor 4. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra pes-
medidas para assegurar as adequações necessárias. soa em fuga que esteja desarmada ou que, mesmo
Art. 3º A Secretaria de Direitos Humanos da Presi- na posse de algum tipo de arma, não represente risco
dência da República e o Ministério da Justiça esta- imediato de morte ou de lesão grave aos agentes de
belecerão mecanismos para estimular e monitorar segurança pública ou terceiros.
iniciativas que visem à implementação de ações para 5. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra veí-
efetivação das diretrizes tratadas nesta portaria pelos culo que desrespeite bloqueio policial em via pública,
entes federados, respeitada a repartição de compe- a não ser que o ato represente um risco imediato de
tências prevista no art. 144 da Constituição Federal. morte ou lesão grave aos agentes de segurança públi-
Art. 4º A Secretaria Nacional de Segurança Pública ca ou terceiros.
do Ministério da Justiça levará em consideração a 6. Os chamados “disparos de advertência” não são
observância das diretrizes tratadas nesta Portaria no considerados prática aceitável, por não atenderem aos
repasse de recursos aos entes federados. princípios elencados na Diretriz nº 2 e em razão da
Art. 5º Esta Portaria entra em vigor na data de sua imprevisibilidade de seus efeitos.
publicação. 7. O ato de apontar arma de fogo contra pessoas du-
rante os procedimentos de abordagem não deverá ser
LUIZ PAULO BARRETO uma prática rotineira e indiscriminada.
Ministro de Estado da Justiça 8. Todo agente de segurança pública que, em razão
PAULO DE TARSO VANNUCHI da sua função, possa vir a se envolver em situações de
Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos uso da força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instru-
Humanos da Presidência da República mentos de menor potencial ofensivo e equipamentos
de proteção necessários à atuação específica, inde-
ANEXO I DIRETRIZES SOBRE O USO DA FORÇA E pendentemente de portar ou não arma de fogo.
ARMAS DE FOGO PELOS AGENTES DE SEGURANÇA 9. Os órgãos de segurança pública deverão editar
PÚBLICA atos normativos disciplinando o uso da força por seus
agentes, definindo objetivamente:
1. O uso da força pelos agentes de segurança pública a) os tipos de instrumentos e técnicas autorizadas;
deverá se pautar nos documentos internacionais de b) as circunstâncias técnicas adequadas à sua utiliza-
proteção aos direitos humanos e deverá considerar, ção, ao ambiente/entorno e ao risco potencial a ter-
primordialmente: ceiros não envolvidos no evento;
a) ao Código de Conduta para os Funcionários Res- c) o conteúdo e a carga horária mínima para habili-
ponsáveis pela Aplicação da Lei, adotado pela Assem- tação e atualização periódica ao uso de cada tipo de
bléia Geral das Nações Unidas na sua Resolução nº instrumento;
34/169, de 17 de dezembro de 1979; d) a proibição de uso de armas de fogo e munições
b) os Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva que provoquem lesões desnecessárias e risco injusti-
do Código de Conduta para os Funcionários Respon- ficado; e
sáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho e) o controle sobre a guarda e utilização de armas e
Econômico e Social das Nações Unidas na sua Resolu- munições pelo agente de segurança pública.
ção nº 1989/1961, de 24 de maio de 1989; 10. Quando o uso da força causar lesão ou morte de
c) os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas pessoa(s), o agente de segurança pública envolvido
de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplica- deverá realizar as seguintes ações:
ção da Lei, adotados pelo Oitavo Congresso das Na- a) facilitar a prestação de socorro ou assistência mé-
ções Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamen- dica aos feridos;
to dos Delinqüentes, realizado em Havana, Cuba, de b) promover a correta preservação do local da
27 de Agosto a 7 de setembro de 1999; ocorrência;
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

d) a Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos c) comunicar o fato ao seu superior imediato e à auto-
ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adota- ridade competente; e
da pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua d) preencher o relatório individual correspondente so-
XL Sessão, realizada em Nova York em 10 de dezem- bre o uso da força, disciplinado na Diretriz nº 22.
bro de 1984 e promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 11. Quando o uso da força causar lesão ou morte de
de fevereiro de 1991. pessoa(s), o órgão de segurança pública deverá reali-
2. O uso da força por agentes de segurança pública zar as seguintes ações:
deverá obedecer aos princípios da legalidade, neces- a) facilitar a assistência e/ou auxílio médico dos
sidade, proporcionalidade, moderação e conveniência. feridos;

407
b) recolher e identificar as armas e munições de todos 19. Deverá ser estimulado e priorizado, sempre que
os envolvidos, vinculando-as aos seus respectivos por- possível, o uso de técnicas e instrumentos de menor
tadores no momento da ocorrência; potencial ofensivo pelos agentes de segurança públi-
c) solicitar perícia criminalística para o exame de local ca, de acordo com a especificidade da função opera-
e objetos bem como exames médico-legais; cional e sem se restringir às unidades especializadas.
d) comunicar os fatos aos familiares ou amigos da(s) 20. Deverão ser incluídos nos currículos dos cursos de
pessoa(s) ferida(s) ou morta(s); formação e programas de educação continuada con-
e) iniciar, por meio da Corregedoria da instituição, ou teúdos sobre técnicas e instrumentos de menor poten-
órgão equivalente, investigação imediata dos fatos e cial ofensivo.
circunstâncias do emprego da força; 21. As armas de menor potencial ofensivo deverão ser
f) promover a assistência médica às pessoas feridas separadas e identificadas de forma diferenciada, con-
em decorrência da intervenção, incluindo atenção às forme a necessidade operacional.
possíveis seqüelas; 22. O uso de técnicas de menor potencial ofensivo
g) promover o devido acompanhamento psicológico deve ser constantemente avaliado.
aos agentes de segurança pública envolvidos, permi- 23. Os órgãos de segurança pública deverão criar co-
tindo-lhes superar ou minimizar os efeitos decorrentes missões internas de controle e acompanhamento da
do fato ocorrido; e letalidade, com o objetivo de monitorar o uso efetivo
h) afastar temporariamente do serviço operacional, da força pelos seus agentes.
para avaliação psicológica e redução do estresse, os 24. Os agentes de segurança pública deverão preen-
agentes de segurança pública envolvidos diretamente cher um relatório individual todas as vezes que dispa-
em ocorrências com resultado letal. rarem arma de fogo e/ou fizerem uso de instrumentos
12. Os critérios de recrutamento e seleção para os de menor potencial ofensivo, ocasionando lesões ou
agentes de segurança pública deverão levar em consi- mortes. O relatório deverá ser encaminhado à comis-
deração o perfil psicológico necessário para lidar com são interna mencionada na Diretriz nº 23 e deverá
conter no mínimo as seguintes informações:
situações de estresse e uso da força e arma de fogo.
a) circunstâncias e justificativa que levaram o uso da
13. Os processos seletivos para ingresso nas institui-
força ou de arma de fogo por parte do agente de se-
ções de segurança pública e os cursos de formação
gurança pública;
e especialização dos agentes de segurança pública
b) medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar
devem incluir conteúdos relativos a direitos humanos.
instrumentos de menor potencial ofensivo, ou as ra-
14. As atividades de treinamento fazem parte do tra-
zões pelas quais elas não puderam ser contempladas;
balho rotineiro do agente de segurança pública e não
c) tipo de arma e de munição, quantidade de disparos
deverão ser realizadas em seu horário de folga, de
efetuados, distância e pessoa contra a qual foi dispa-
maneira a serem preservados os períodos de descanso,
rada a arma;
lazer e convivência sócio-familiar. d) instrumento(s) de menor potencial ofensivo utiliza-
15. A seleção de instrutores para ministrarem aula em do(s), especificando a freqüência, a distância e a pes-
qualquer assunto que englobe o uso da força deverá soa contra a qual foi utilizado o instrumento;
levar em conta análise rigorosa de seu currículo for- e) quantidade de agentes de segurança pública feridos
mal e tempo de serviço, áreas de atuação, experiên- ou mortos na ocorrência, meio e natureza da lesão;
cias anteriores em atividades fim, registros funcionais, f) quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pe-
formação em direitos humanos e nivelamento em en- los disparos efetuados pelo(s) agente(s) de segurança
sino. Os instrutores deverão ser submetidos à aferição pública;
de conhecimentos teóricos e práticos e sua atuação g) número de feridos e/ou mortos atingidos pelos ins-
deve ser avaliada. trumentos de menor potencial ofensivo utilizados pe-
16. Deverão ser elaborados procedimentos de habi- lo(s) agente(s) de segurança pública;
litação para o uso de cada tipo de arma de fogo e h) número total de feridos e/ou mortos durante a
instrumento de menor potencial ofensivo que incluam missão;
avaliação técnica, psicológica, física e treinamento es- i) quantidade de projéteis disparados que atingiram
pecífico, com previsão de revisão periódica mínima. pessoas e as respectivas regiões corporais atingidas;
17. Nenhum agente de segurança pública deverá
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

j) quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos


portar armas de fogo ou instrumento de menor po- de menor potencial ofensivo e as respectivas regiões
tencial ofensivo para o qual não esteja devidamente corporais atingidas;
habilitado e sempre que um novo tipo de arma ou k) ações realizadas para facilitar a assistência e/ou
instrumento de menor potencial ofensivo for introdu- auxílio médico, quando for o caso; e
zido na instituição deverá ser estabelecido um módulo l) se houve preservação do local e, em caso negativo,
de treinamento específico com vistas à habilitação do apresentar justificativa.
agente. 25. Os órgãos de segurança pública deverão, observa-
18. A renovação da habilitação para uso de armas de da a legislação pertinente, oferecer possibilidades de
fogo em serviço deve ser feita com periodicidade mí- reabilitação e reintegração ao trabalho aos agentes
nima de 1 (um) ano. de segurança pública que adquirirem deficiência física
em decorrência do desempenho de suas atividades.

408
ANEXO II d) As violações consideradas ofensas aos direitos huma-
GLOSSÁRIO nos são apenas as constantes das legislações penais
internas de cada país.
Armas de menor potencial ofensivo: Armas projeta- e) O esgotamento dos recursos internos é um pré-requi-
das e/ou empregadas, especificamente, com a finalida- sito para a admissibilidade dos pleitos em matéria de
de de conter, debilitar ou incapacitar temporariamente demandas que envolvam violações de direitos huma-
pessoas, preservando vidas e minimizando danos à sua nos perante os órgãos internacionais.
integridade.
Equipamentos de menor potencial ofensivo: Todos os
2. (IADES – 2019) No que tange à relação do Brasil com
artefatos, excluindo armas e munições, desenvolvidos e
as organizações internacionais, bem como aos procedi-
empregados com a finalidade de conter, debilitar ou in-
mentos de negociação e internalização de convenções e
capacitar temporariamente pessoas, para preservar vidas
e minimizar danos à sua integridade. tratados internacionais, julgue o item a seguir.
Equipamentos de proteção: Todo dispositivo ou pro- O Pacto de San José da Costa Rica, aderido pelo Brasil e
duto, de uso individual (EPI) ou coletivo (EPC) destina- reconhecido no respectivo ordenamento como norma de
do a redução de riscos à integridade física ou à vida dos caráter supralegal por decisão do Supremo Tribunal Fe-
agentes de segurança pública. deral, prevê, no próprio texto original, direitos humanos
Força: Intervenção coercitiva imposta à pessoa ou de primeira e segunda gerações.
grupo de pessoas por parte do agente de segurança pú-
blica com a finalidade de preservar a ordem pública e a ( ) CERTO ( ) ERRADO
lei.
Instrumentos de menor potencial ofensivo: Conjunto 3. (IADES – 2017) Quanto à aplicação da lei, no Estado
de armas, munições e equipamentos desenvolvidos com Democrático de Direito, pode-se afirmar que, segundo a
a finalidade de preservar vidas e minimizar danos à inte- Convenção Americana de Direitos Humanos, são iden-
gridade das pessoas. tificáveis nove dimensões do princípio da legalidade,
Munições de menor potencial ofensivo: Munições disciplinadas no art. 9º da Convenção, quais sejam: lex
projetadas e empregadas, especificamente, para conter, scripta, lex populi, lex certa, lex clara, lex determinata, lex
rationabilis, lex stricta, lex praevia e nulla lex sine iniuria.
debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas, pre-
servando vidas e minimizando danos a integridade das
Acerca das dimensões de garantia, emanadas da legali-
pessoas envolvidas.
dade criminal, é correto afirmar que
Nível do Uso da Força: Intensidade da força escolhi-
da pelo agente de segurança pública em resposta a uma
ameaça real ou potencial. a) valem para as contravenções penais, mas não se apli-
Princípio da Conveniência: A força não poderá ser cam à execução da pena.
empregada quando, em função do contexto, possa oca- b) também se aplicam à execução da pena, mas não se
sionar danos de maior relevância do que os objetivos le- aplicam às medidas de segurança.
gais pretendidos. c) lex praevia significa que a lei primeiro precisa entrar
Princípio da Legalidade: Os agentes de segurança pú- em vigor e só vale para fatos ocorridos a partir da res-
blica só poderão utilizar a força para a consecução de um pectiva vigência, exceto se for lei de exceção.
objetivo legal e nos estritos limites da lei. d) lex rationabilis é um postulado que se relaciona à má-
xima segundo a qual “a lei, ainda que irracional, sendo
clara, tem de ser aplicada”.
HORA DE PRATICAR e) lex determinata, por força do princípio da determi-
nabilidade, refere-se às normas criminais, que devem
1. (IADES – 2017) Acerca dos procedimentos de inves- descrever fatos passíveis de comprovação em juízo.
tigação por violação dos direitos humanos, assinale a al-
ternativa correta.
GABARITO
a) Existem dois tipos de instituições exclusivamente res-
ponsáveis pelos procedimentos de investigação da 1 E
violação dos direitos humanos: as polícias civis locais,
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

2 Errado
estaduais ou a federal, bem como o Ministério da 3 E
Justiça.
b) O ombudsman é o advogado atuante na defesa de
direitos violados no caso de ofensa praticada pelo
Estado.
c) As comissões de direitos humanos têm por objetivo a
investigação das notícias de violação de direitos hu-
manos, de modo a adotar os procedimentos neces-
sários para, se for o caso, motivar a instauração de
inquéritos no âmbito de sua competência, podendo
sentenciar e fazer cumprir as sanções penais.

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