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ANÁLISE E CONTROLO
DE QUALIDADE
NA INDÚSTRIA II
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 3
3. ENSAIOS DESTRUTIVOS
3.1. Tracção 68
3.2. Compressão 79
3.3. Cisalhamento 82
3.4. Dobragem/ Flexão 84
3.4.1. Dobragem 86
3.4.2. Flexão 87
3.5. Embutimento 91
3.6. Torção 94
3.7. Dureza 97
3.7.1. Brinell 98
3.7.2. Rockwell 102
3.7.3. Vickers 107
3.8. Fluência 111
3.9. Relaxação 115
3.10. Fadiga 115
3.11. Impacto 120
Bibliografia
1. Introdução
Como te sentirias se a chave que acabaste de mandar fazer partisse ao dar a primeira
volta na fechadura? Ou se a jarra de vidro refractário que a propaganda diz que pode
ir do fogo ao frigorífico partisse ao enche-la com água quente?
Hoje em dia ninguém se contenta com objectos que apresentem resultados desses.
Mas durante muito tempo essa foi a única forma de avaliar a qualidade de um produto!
Nos séculos passados, como a construção dos objectos era essencialmente artesanal,
não havia um controle de qualidade regular dos produtos fabricados. Avaliava-se a
qualidade de uma lâmina de aço, a dureza de um prego, a pintura de um objecto
simplesmente pelo próprio uso. Um desgaste prematuro que conduzisse à rápida
quebra da ferramenta era o método racional que qualquer um aceitava para
determinar a qualidade das peças, ou seja, a análise da qualidade era baseada no
comportamento do objecto depois de pronto. O acesso a novas matérias-primas e o
desenvolvimento dos processos de fabrico obrigaram à criação de métodos
normalizados de produção em todo o mundo, ao mesmo tempo que se desenvolveram
processos e métodos de controle de qualidade dos produtos. Actualmente, entende-se
que o controle de qualidade precisa começar pela matéria-prima e deve ocorrer
durante todo o processo de produção, incluindo a inspeção e os ensaios finais nos
produtos acabados.
Nesse quadro, é fácil perceber a importância dos ensaios dos materiais, já que é por
meio deles que se verifica se os materiais apresentam as propriedades que os tornarão
adequados ao seu uso.
Durante as aulas irás conhecer algumas propriedades físicas e químicas que os
materiais precisam ter para resistirem às solicitações a que serão submetidos durante
o seu tempo de vida útil e ficarás a conhecer também como se classificam os ensaios
em função dos efeitos que causam nos materiais testados.
Se parares para observar uma dona de casa a torcer um pano de limpar o chão, ou
ainda um ginasta a fazer acrobacias num trampolim, verás alguns exemplos de
esforços a que os materiais estão sujeitos durante o uso.
Os ensaios fornecem resultados gerais, que são aplicados a diversos casos, e devem
poder ser repetidos em qualquer local que apresente as condições adequadas.
Podem ser realizados em protótipos, no próprio produto final ou em corpos de prova
(provetes) e, para serem confiáveis, devem seguir as normas técnicas estabelecidas.
Imagina que uma empresa resolveu produzir um novo tipo de tesoura, com lâmina de
aço especial. Antes de lançar comercialmente o novo produto, o fabricante quer saber,
com segurança, como será o seu comportamento na prática. Para isso, ele ensaia as
matérias-primas, controla o processo de fabrico e produz uma pequena quantidade
dessas tesouras, que passam a ser os protótipos. Cada uma dessas tesouras será
submetida a uma série de testes que procurarão reproduzir todas as situações de uso
quotidiano. Por exemplo, o corte da tesoura pode ser testado em materiais diversos,
ou sobre o mesmo material em horas seguidas. Os resultados são analisados e servem
como base para o aperfeiçoamento do produto.
Já imaginaste quantas peças diferentes existem num automóvel? Cada uma delas tem
a sua importância, mas sabemos que umas são mais importantes do que outras.
Imagina se o sistema de travões falhasse ao ser accionado; causaria, sem dúvida,
danos muito mais significativos do que se a tampa do porta-luvas emperrasse, não é?
Por este motivo, é muito importante definir claramente os critérios de aceitação e
rejeição de cada componente de um determinado produto, pois isso determina a
escolha do tipo de ensaio não destrutivo aplicado a cada material, o que é fundamental
para garantir a segurança e o bem-estar dos utilizadores.
Geralmente, um único tipo de ensaio não abrange toda a extensão da peça ou da parte
a ser examinada. Podemos fazer como comparação, por exemplo, o exame do próprio
corpo humano. Sabemos que num exame de rotina o médico usa vários tipos de END
para diagnosticar um problema ou verificar que o paciente se encontra em perfeita
saúde. Que exames são esses? Por exemplo, ouvir os batimentos do coração com o
estetoscópio, analisar os pulmões por meio de uma radiografia ou medir a pressão
arterial com um esfignomanómetro podem fazer parte de um único processo de
avaliação da saúde de um paciente. Analisando o resultado de cada um dos exames, o
médico tira conclusões e toma decisões. Na indústria os procedimentos são similares.
O ensaio visual dos metais foi o primeiro método de ensaio não destrutivo aplicado
pelo homem e certamente, o ensaio mais barato, usado em todos os ramos da
indústria.
Assim, a inspecção visual exige a definição clara e precisa de critérios de aceitação e
rejeição do produto que está a ser inspeccionado. Requer ainda inspectores treinados e
especializados, para cada tipo ou família de produtos. Um inspector visual de chapas
laminadas não deverá inspeccionar peças fundidas e vice-versa, sem prévia formação.
Lupas e microscópios
As lupas são o instrumento óptico mais usado na indústria. A lupa é uma lente
biconvexa de pequena distância focal, geralmente de 5 a 10 cm, que produz uma
imagem virtual aumentada, do objecto. Assim, quando o inspector utiliza uma lupa, ele
está a ver a imagem do objecto e não o próprio objecto. Esta imagem virtual é maior e
forma-se atrás dele.
Existem no mercado lupas com diversas ampliações, sendo que as mais comuns
variam de 1,5 a 10 vezes de aumento, permitindo observar descontinuidades de até
centésimos de milímetro. Algumas possuem uma escala graduada que permite
dimensionar as descontinuidades.
Espelhos e tuboscópios/endoscópios
Um exemplo típico de espelho na inspecção visual, que ocorre no quotidiano, é quando
o dentista observa a boca do paciente com um espelho fixado numa haste metálica. Na
indústria, os espelhos também são usados para inspecção de cantos, soldas e
superfícies onde os nossos olhos não alcançam.
Imagine quão difícil seria observar as paredes internas de tubos longos, de pequeno
diâmetro, utilizados na construção de caldeiras e permutadores de calor, ou o interior
da câmera de combustão dos motores de explosão. Sem os endoscópios (também
denominados em alguma literatura por tuboscópios), não seria possível tal observação.
Os tuboscópios são instrumentos ópticos
construídos com os mais variados
diâmetros e comprimentos, que
geralmente possuem o seu próprio
dispositivo de iluminação.
Da mesma forma que os microscópios, os
tuboscópios também possuem lentes
objetivas e oculares, porém, a imagem do
objecto é transmitida através do tubo do
tuboscópio até a extremidade do mesmo,
onde se encontra uma lente ocular que
amplia ainda mais a imagem.
Depois do ensaio visual, o ensaio por líquidos penetrantes é o ensaio não destrutivo
mais antigo. Este método, iniciou-se antes da primeira guerra mundial, principalmente
pela indústria ferroviária na inspeção de eixos, porém tomou impulso quando em 1942,
nos EUA, foi desenvolvido o método de penetrantes fluorescentes. Nesta época, o
ensaio foi adoptado pelas indústrias aeronáuticas, que trabalhando com ligas não
ferrosas, necessitavam de um método de detecção de defeitos superficiais diferentes
do ensaio por partículas magnéticas (não aplicável a materiais não magnéticos). A
partir da segunda guerra mundial, o método foi-se desenvolvendo, através da pesquisa
e o aperfeiçoamento de novos produtos utilizados no ensaio, até ao seu estado actual.
O ensaio por líquidos penetrantes é um método desenvolvido especialmente para a
detecção de descontinuidades essencialmente superficiais, isto é, permitem avaliar
apenas a superfície da peça).
O ensaio por líquidos penetrantes presta-se a detectar descontinuidades superficiais
não visíveis a olho nu e que sejam abertas na superfície, tais como fendas, poros,
dobras, etc., podendo ser aplicado em todos os materiais sólidos e que não sejam
porosos ou com superfície muito grosseira.
É muito usado em materiais não magnéticos como alumínio, magnésio, aços
inoxidáveis austeníticos, ligas de titânio, e zircónio, além dos materiais magnéticos.
É também aplicado em cerâmica vitrificada, vidro e plásticos.
A Tabela seguinte pode ser utilizada como referência para estabelecer os tempos de
penetração de diversos materiais, com os seus respectivos processos de fabricação.
d) Revelação
Para revelar as descontinuidades, aplica-se o revelador, que nada
mais é do que um talco branco. Esse talco pode ser aplicado a
seco ou misturado nalgum líquido.
e) Inspecção
No caso dos líquidos penetrantes visíveis, a inspecção é feita sob luz branca natural ou
artificial. O revelador, aplicado à superfície de ensaio, proporciona um fundo branco
que contrasta com a indicação da descontinuidade, que geralmente é vermelha e
brilhante.
Para os líquidos penetrantes fluorescentes, as indicações tornam-se visíveis em
ambientes escuros, sob a presença de luz negra, e apresentam-se numa cor amarelo
esverdeado, contra um fundo de contraste entre o violeta e o azul.
f) Limpeza
Após a inspecção da peça e a elaboração do relatório de ensaio, ela
deve ser devidamente limpa, removendo-se totalmente os resíduos
do ensaio; esses resíduos podem prejudicar uma etapa posterior no
processo de fabricação do produto ou até o seu próprio uso, caso
esteja acabado.
Como vimos, todos os exames dependem da avaliação visual do operador, pelo que o
grau de iluminação utilizada é extremamente importante. Iluminação errada pode
induzir a erros de interpretação. Além disso, uma iluminação adequada diminui a
fadiga do inspector. Os tipos de luz utilizados são:
• Luz branca
A luz branca utilizada é a convencional, podendo a sua fonte ser a luz do sol, lâmpada
de filamento, lâmpada fluorescente ou lâmpada a vapor. Dirigir a luz para a área de
inspecção com o eixo da lâmpada formando aproximadamente 90° em relação a ela é
a melhor alternativa. O fundo branco da camada de revelador faz com que a indicação
se torne escurecida. A intensidade da luz deve ser adequada ao tipo de indicação que
se quer ver, sendo ideal acima de 1000 Lux (conforme recomendado pelo Código
ASME). O instrumento que mede a intensidade da luz é o luxímetro .
Vantagens do método
• podemos dizer que a principal vantagem deste método é a sua simplicidade, pois a
interpretação dos seus resultados é extremamente fácil.
• O treino é simples e requer pouco tempo de formação do operador.
• não há limitações quanto ao tamanho, forma das peças a ensaiar, nem quanto ao
tipo de material.
• o ensaio pode revelar descontinuidades extremamente finas, da ordem de 0,001
mm de largura, totalmente imperceptíveis a olho nu.
Limitações do método
• Viscosidade
A intuição diz-nos que um líquido menos viscoso seria melhor penetrante que um mais
viscoso mas isto nem sempre é verdadeiro, pois a água que tem baixa viscosidade não
é um bom penetrante.
Todavia, a viscosidade tem efeito nalguns aspectos práticos do uso do penetrante. Ele
é importante na velocidade com que o penetrante entra num defeito. Penetrantes mais
viscosos demoram mais a penetrar nas descontinuidades. Penetrantes pouco viscosos
têm a tendência de não permanecerem muito tempo sobre a superfície da peça, o que
pode ocasionar tempo insuficiente para penetração.
Líquidos de alta viscosidade têm a tendência de serem retirados dos defeitos quando
se executa a limpeza do excesso.
• Tensão superficial
A tensão superficial de um líquido é o resultado das forças de coesão entre as
moléculas que formam a superfície do líquido.
Um líquido com baixa tensão superficial é melhor penetrante, pois tem a habilidade de
penetrar nas descontinuidades.
Características de alguns
líquidos à T de 20ºC
• Volatilidade
Podemos dizer, como regra geral, que um penetrante não deve ser volátil, porém
devemos considerar que para derivados de petróleo, quanto maior a volatilidade,
maior a viscosidade. Como é desejável uma viscosidade média, os penetrantes são
mediamente voláteis.
A desvantagem é que quanto mais volátil o penetrante, menos tempo de penetração
pode ser dado. Por outro lado, ele tende a volatilizar-se quando no interior do defeito.
• Inércia química
É obvio que um penetrante deve ser não inerte e não corrosivo com o material a ser
ensaiado ou com a sua embalagem, tanto quanto possível.
Os produtos oleosos não apresentam perigo. A exceção é quando existem
emulsificantes alcalinos. Quando em contato com a água vai-se formar uma mistura
alcalina. Numa inspeção de alumínio ou magnésio, caso a limpeza final não seja bem
executada pode haver aparecimento, após um certo período, de corrosão na forma de
“pitting”. Quando se trabalha com ligas à base de níquel, requer-se um penetrante
com baixos teores de alguns elementos prejudiciais.
• Habilidade de dissolução
Os penetrantes incorporam o produto corante ou fluorescente que deve estar o mais
dissolvido possível. Portanto, um bom penetrante deve ter a habilidade de manter
estes agentes dissolvidos.
• Toxicidade
Evidentemente um bom penetrante não pode ser tóxico, possuir odor exagerado nem
causar irritação na pele.
• Penetrabilidade
Apesar da penetrabilidade (capacidade de penetrar em finas descontinuidades) não ser
a única qualidade do líquido, a penetrabilidade está intimamente ligada às forças de
atracção capilar - capilaridade. Estas forças são aquelas que fazem um líquido penetrar
expontaneamente num tubo de pequeno diâmetro.
Observando a figura ao lado, verifica que o líquido 1
consegue penetrar até uma altura h1 no tubo
capilar, enquanto que o líquido 2 consegue penetrar
a uma altura h2, menor que h1, no mesmo tubo
capilar. Assim, o líquido 1 possuirá melhores
características de penetrabilidade nas
descontinuidades, do que o líquido 2, uma vez que
as finas aberturas se comportam como um tubo
capilar.
• Pós-emulsificáveis
Neste caso, os líquidos penetrantes são fabricados de maneira a serem insolúveis
em água. A remoção do excesso é facilitada pela adição de um emulsificador,
aplicado em separado. Este combina-se com o excesso de penetrante, formando
uma mistura lavável com água.
O Emulsificador é um composto químico complexo que, uma vez misturado ao
líquido penetrante à base de óleo, faz com que o penetrante seja lavável pela água.
Ele é utilizado na fase de remoção do excesso, é mais brilhante que os demais, tem
grande sensibilidade para detectar defeitos muitos pequenos e/ou muito abertos e
planos. É um método muito produtivo, pois requer pouco tempo de penetração e é
facilmente lavável, mas é mais caro que os outros.
Revelação
Como ocorre com os líquidos penetrantes, existem também no mercado vários tipos de
reveladores, para diversos tipos de aplicação. O critério de escolha deve ser similar ao
do líquido penetrante. Os reveladores são classificados da seguinte maneira:
• Pós secos.
Foram os primeiros e continuam a ser usados com penetrantes fluorescentes. Os
primeiros usados compunham-se de talco ou giz mas actualmente os melhores
reveladores consistem numa combinação cuidadosamente seleccionada de pós.
Os pós devem ser leves e fofos, devem aderir em superfícies metálicas numa camada
fina, sem no entanto aderir em excesso, já que seriam de difícil remoção. Por outro
lado, não podem flutuar no ar, formando poeira. Os cuidados devem ser tomados para
proteger o operador. A falta de confiabilidade deste tipo de revelador, torna o seu uso
muito restrito.
• Solução aquosa
A solução elimina os problemas que eventualmente possam existir com a suspensão
(tais como a dispersão por ex.). Porém, materiais solúveis em água geralmente não
são bons reveladores. Deve ser adicionado à solução um inibidor de corrosão e a
concentração deve ser controlada, pois há evaporação. A sua aplicação deve ser feita
através de pulverização.
Hoje em dia já existem no mercado kits que fornecem o produto de limpeza (solvente),
o líquido penetrante e um revelador. Estes kits são de grande valia, pois facilitam
muito a vida do inspector. Mas devemos consultar as especificações de ensaio para
poder escolher o kit com os produtos mais adequados.
Registo de resultados
Ensaios de peças críticas devem ter os resultados e todos os dados do teste registados
em relatório, a fim de que haja uma rastreabilidade.
Este registo deve ser executado durante o ensaio ou imediatamente após a sua
conclusão. O relatório deve conter (em geral):
a) descrição da peça, desenho, posição, etc., e estágio de fabricação;
b) variáveis do teste; marca dos produtos, número do lote, temperatura de aplicação,
tempo de penetração e avaliação
c) resultados do ensaio;
d) assinatura do inspetor responsável e data.