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"Matou A Família e Foi Ao Cinema" e A Quebra Com A Utopia Da Felicidade Doméstica
"Matou A Família e Foi Ao Cinema" e A Quebra Com A Utopia Da Felicidade Doméstica
FELICIDADE DOMÉSTICA1
1. Ideia Geral
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Resenha Crítica apresentada à disciplina de Análise Cinematográfica: Alegorias do Subdesenvolvimento, do
Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Unespar – Universidade Estadual do Paraná, sob orientação do Prof.
Dr. Pedro de Andrade Lima Faissol. Curitiba, 2021.
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Estudante do curso de Cinema e Audiovisual da Unespar – Universidade Estadual do Paraná.
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2. Estratégia Argumentativa
Para sustentar as suas ideias, as quais expus acima, Ismail Xavier categoriza que a marca
da quebra da utopia da felicidade doméstica se manifesta no filme em duas instâncias. Na
primeira, a situação do crime introdutório é seguida do gesto banal o qual atribui ao cinema o
símbolo da transgressão e nivela o crime ao ato casual de compra o ingresso seguido pela
entrada na sala escura. Assim, Xavier nota que Bressane propõe uma desestabilização da
fronteira entre o pecado e a inocência, deixando o espectador com uma sensação de irresolução
e consternação diante da ausência de culpa que sente o assassino. Essa indagação do espectador
ecoa até o fim do filme, Matou a família propõe um desafio constante ao espectador. Esse
desconforto refere-se à violência estrutural no nível da linguagem que tem seu dado central no
choque e provoca risco de uma viagem interior indesejável muito por consequência do estilo
disjuntivo que Bressane é adepto.
Já no resto dos episódios, nota-se que a violência é seguida de uma referência
carnavalesca. Isso provoca perplexidade diante do contraste entre festa (paraíso tropical) e
tragédia (inferno doméstico). Esse contraste pode ser somente aparente, visto que a violência
pode trazer um contraponto de liberação referente a uma ruptura com a ordem opressora,
liberação que remete ao carnaval.
Ademais o autor coloca que o filme “confia na estranheza” sem esvaziar o drama pela
comédia. Ele discorre sobre algumas das estratégias de Bressane para tal efeito: fragmentação
dos episódios, descontinuidade dentro dos episódios, modos de representação antitéticos,
sonegação, elipses, atores que representam mais de uma personagem etc.
Em meios gerais, Ismail traça uma análise que constata que independentemente de uma
motivação mais clara ou mais enigmática, todos os atos de violência no filme estão ligados à
decadência do espaço doméstico, há uma desordem amorosa que vista de perto é correlata à
ordem doméstica. Isso é trabalhado por Bressane, segundo Ismail Xavier, pela experimentação,
jogos de duração da imagem e de espelhamento, estrutura de mosaico e evocação do rito do
carnaval. Assim, o autor constata que Matou a família e foi ao cinema não coloca o cinema
como fato exterior do círculo de violência e sim dentro do processo que traz o problema de
amor e morte focalizado no filme.
3. Posicionamento Crítico
Considerei uma leitura bastante reveladora, densa e fértil. Gostaria que fosse
aprofundada sob a ótica das relações de gênero, mas compreendo não ser a especialidade
do autor. Mesmo assim, achei importante ressaltar a carência nesse viés de estudo.
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