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Índice

Introdução..........................................................................................................................3

Objectivos do Trabalho.....................................................................................................3

Metodologias.....................................................................................................................4

Revisão da Literatura.........................................................................................................5

Definição e Perspectiva Histórica da Epidemiologia........................................................5

Da Antiguidade até o Século XIX.....................................................................................6

Do Século XIX aos Dias Actuais......................................................................................7

Aplicações da Epidemiologia............................................................................................8

Diagnóstico da Situação de Saúde.....................................................................................8

Princípios Básicos da Epidemiologia................................................................................9

Objectivos da Epidemiologia..........................................................................................10

Investigação Etiológica...................................................................................................10

Determinação de Risco....................................................................................................11

John Snow e a Cólera......................................................................................................11

Vigilância Epidemiológica..............................................................................................13

Considerações Finais.......................................................................................................14

Referências Bibliográficas...............................................................................................15
1. Introdução

A epidemiologia originou-se das observações de Hipócrates feitas há mais de 2000


anos de que factores ambientais influenciam a ocorrência de doenças. Entretanto, foi
somente no século XIX que a distribuição das doenças em grupos humanos específicos
passou a ser medida em larga escala. Isso determinou não somente o início formal da
epidemiologia como também as suas mais espectaculares descobertas. Os achados de
John Snow, de que o risco de contrair cólera em Londres estava relacionado ao
consumo de água proveniente de uma determinada companhia, proporcionaram uma das
mais espectaculares conquistas da epidemiologia. Os estudos epidemiológicos de Snow
foram apenas um dos aspectos de uma série abrangente de investigações que incluiu o
exame de processos físicos, químicos, biológicos, sociológicos e políticos. A abordagem
epidemiológica que compara os coeficientes (ou taxas) de doenças em subgrupos
populacionais tornou-se uma prática comum no final do século XIX e início do século
XX. A sua aplicação foi inicialmente feita visando o controlo de doenças transmissíveis
e, posteriormente, no estudo das relações entre condições ou agentes ambientais e
doenças específicas. Na segunda metade do século XX, esses métodos foram aplicados
para doenças crónicas não transmissíveis tais como doença cardíaca e câncer, sobretudo
nos países industrializados,
(http://portalses.saude.sc.gov.br/arquivos/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/
index.html).

1.1. Objectivos do Trabalho

Objectivo Geral

 Realizar uma pesquisa sobre a descoberta da epidemiologia de John Snow.

Objectivos Específicos

 Abordar o seu contexto histórico;


 Falar dos conceitos;
 Abordar os primeiros experimentos de John Snow;
 Decifrar a palavra epidemiologia;
 Apresentar diversas discussões do assunto acima citado por vários estudiosos.

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1.2. Metodologias

A metodologia de pesquisa, segundo BARRETO & HONORATO (1998), deve


ser entendida como o conjunto detalhado e sequencial de método e técnicas científicas a
serem executados ao longo da pesquisa, de modo a possibilitar atingir os objectivos
inicialmente propostos e, ao mesmo tempo, atender aos critérios de menor custo, maior
rapidez, maior eficácia e mais confiabilidade de informação.

Segundo LAKATOS & MARCONI (1991, p.83), a metodologia “é o conjunto


da actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite
alcançar o objectivo traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as
decisões do cientista.” Contribui para a solução do problema de maneira racional.

A escolha acertada de uma metodologia permite orientar o estudo e dar ao


trabalho um sentido significativo e prático, explorando de forma clara todos os enfoques
da temática abordada.

O presente estudo tem como proposta metodológica uma revisão da literatura.


Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória de carácter descritivo. Acredita-se que
esta abordagem vai de encontro dos objectivos e necessidades do estudo proposto.

A pesquisa bibliográfica busca na literatura existente, subsídios capazes de


atribuir ao tema o entendimento para formação de uma opinião. Disponibiliza pistas de
soluções para o problema além de aprofundar outros assuntos que se relacionam com o
tema determinando variáveis. Investiga o problema a partir do referencial teórico
existente em livros e outras publicações, sendo necessária a qualquer modalidade de
trabalho científico e é também a primeira etapa de qualquer tipo de pesquisa.

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2. Revisão da Literatura

BENTO (2012, p.1), fundamenta que a revisão da literatura é uma parte vital do
processo de investigação. Aquela envolve localizar, analisar, sintetizar e interpretar a
investigação prévia (revistas científicas, livros, atas de congressos, resumos, etc.)
relacionada com a sua área de estudo; é, então, uma análise bibliográfica
pormenorizada, referente aos trabalhos já publicados sobre o tema. Então, nesta
pesquisa a revisão da literatura refere-se a fundamentação teórica adoptada para tratar o
tema e o problema da pesquisa. A partir do levantamento da literatura já publicada sobre
o tema e temas afins, permitiu fazer o mapeamento daqueles que são os aspectos mais
relevantes para traçar o quadro teórico que possibilitou a estruturação conceitual que
deu sustentação ao desenvolvimento da pesquisa.

2.1. Definição e Perspectiva Histórica da Epidemiologia

Epidemiologia pode ser definida como a ciência que estuda o processo saúde
doença em colectividades humanas, analisando a distribuição e os factores
determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde colectiva,
propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças e
fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planeamento, administração e
avaliação das acções de saúde, (ROUQUAYROL; GOLDBAUM; SANTANA, 2013).
O significado etimológico do termo epidemiologia deriva do grego, (PEREIRA, 2013):

“Epí, que significa sobre + Demós, que significa povo + Logos, que significa
palavra, discurso, estudo. Então a epidemiologia é a ciência do que ocorre no
povo”.

Portanto, de forma simplificada, o termo “epidemiologia” significa o estudo


sobre a população, que direccionado para o campo da saúde pode ser compreendido
como o estudo sobre o que afecta a população.

A epidemiologia congrega métodos e técnicas de três áreas principais de


conhecimento: Estatística, Ciências Biológicas e Ciências Sociais. A área de actuação
da epidemiologia é bastante ampla e compreende em linhas gerais, (PEREIRA, 2013):

 Ensino e pesquisa em saúde;


 A descrição das condições de saúde da população;
 A investigação dos factores determinantes da situação de saúde;
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 A avaliação do impacto das acções para alterar a situação de saúde.

A epidemiologia tem como princípio básico o entendimento de que os eventos


relacionados à saúde (como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de saúde)
não se distribuem ao acaso entre as pessoas. Há grupos populacionais que apresentam
mais casos de certo agravo, e há outros que morrem mais por determinada doença. Tais
diferenças ocorrem porque os factores que influenciam o estado de saúde das pessoas
não se distribuem igualmente na população, portanto, acometem mais alguns grupos do
que outros, (PEREIRA, 2013). Em síntese, pode-se afirmar que a distribuição das
doenças na população é influenciada pelos aspectos biológicos dos indivíduos, pelos
aspectos socioculturais e económicos de sua comunidade e pelos aspectos ambientais do
seu entorno, fazendo com que o processo saúde-doença se manifeste de forma
diferenciada entre as populações.

Analisando-se a evolução da epidemiologia ao longo dos anos, pode-se observar que


os conceitos descritos acima, e que já estão tão bem consolidados dentro do campo
científico, precisaram ser reformulados à medida que as descobertas científicas
avançavam no campo da saúde, principalmente no que se refere ao processo saúde-
doença.

2.1.1. Da Antiguidade até o Século XIX

Os primeiros registos sobre a concepção da epidemiologia enquanto


manifestação da doença nos indivíduos e nas populações datam da Grécia Antiga,
período em que se acreditava que as enfermidades e seus desfechos (cura ou morte)
eram consequências da punição ou indulgência dos deuses e demónios.

Contrapondo-se a tal crença, o médico grego Hipócrates, ao analisar o processo


de adoecimento com base no pensamento racional, afastou-se das teorias sobrenaturais
vigentes na época e a elas se contrapôs, introduzindo o conceito de doença como
produto das relações complexas entre o indivíduo e o ambiente que o cerca, o que se
aproxima muito do modelo ecológico da produção de doenças, vigente até os dias
actuais, (PEREIRA, 2013).

A teoria de Hipócrates foi perpetuada na Roma Antiga pelo médico Galeno, mas
perdeu força e foi substituída pela Teoria Miasmática ou Teoria dos Miasmas, que

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perdurou até meados do século XIX. Tal teoria explicava a má qualidade do ar como
causa das doenças.

2.1.2. Do Século XIX aos Dias Actuais

Durante a segunda metade do século XIX, a epidemiologia sofreu uma grande


revolução a partir dos estudos pioneiros do médico e sanitarista britânico John Snow
sobre a epidemia de cólera em Londres (1849-1854). Com base no mapeamento dos
casos, óbitos, do comportamento da população (consumo de água) e dos aspectos
ambientais da localidade em estudo, ele conseguiu incriminar o consumo de água
contaminada como responsável pela ocorrência da doença. Tal constatação só pode ser
confirmada 30 anos mais tarde, com o isolamento do agente etiológico da doença,
(SNOW, 1999; PEREIRA, 2013).

Tal feito rendeu a John Snow o título de “Pai da Epidemiologia”, uma vez que
conseguiu através de um extensivo e minucioso trabalho de investigação científica
considerado um estudo clássico da Epidemiologia de Campo, determinar a fonte de
infecção de uma doença, mesmo sem conhecer seu agente etiológico. Ao final, relatou
que as feições clínicas da doença revelavam que “o veneno da cólera entra no canal
alimentar pela boca, e esse veneno seria um ser vivo, específico, oriundo das excreções
de um paciente com cólera. [...] Assinalou, afinal, que o esgotamento insuficiente
permitia que os perigosos refugos dos pacientes com cólera se infiltrassem no solo e
poluíssem poços”, (ROSEN, 1994).

Outro cientista marcante do século XIX foi o francês Louis Pasteur (1822-1895),
considerado o “Pai da Bacteriologia”, pois identificou inúmeras bactérias e tratou
diversas doenças. Ele influenciou profundamente a história da epidemiologia, pois
introduziu as bases biológicas para o estudo das doenças infecciosas, (PEREIRA, 2013),
determinando o agente etiológico das doenças e possibilitando o estabelecimento futuro
de medidas de prevenção e tratamento.

Sem sombra de dúvidas os séculos XIX e XX foram marcados pela influência da


microbiologia sobre a epidemiologia, uma vez que permitiu não apenas identificar os
principais agentes etiológicos envolvidos na transmissão de doenças infecto-contagiosas
responsáveis por altas taxas de morbimortalidade (tuberculose, influenza, varíola, peste,
entre outras).

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2.1.3. Aplicações da Epidemiologia

Como observado no tópico anterior, a epidemiologia tornou-se ao longo dos


anos uma ciência ampla que abriga inúmeras áreas do conhecimento e muitas
subdivisões, tais como, (PEREIRA, 2013):

 Epidemiologia Clínica;
 Epidemiologia Investigativa;
 Epidemiologia Nutricional;
 Epidemiologia de Campo;
 Epidemiologia Descritiva.

No entanto, em linhas gerais, ela apresenta três grandes áreas de actuação,


(PEREIRA, 2013):

 Descrição das condições de saúde da população por meio da construção de


indicadores de saúde. Exemplo: taxa de mortalidade, taxa de incidência de
uma doença;
 Investigação dos factores determinantes da situação de saúde. Exemplo:
investigação de agentes etiológicos, factores de risco;
 Avaliação do impacto das acções para alterar a situação de saúde.
Exemplo: avaliação do impacto do saneamento para diminuir parasite na
comunidade.

Analisando com maior profundidade o campo de actuação da epidemiologia,


podemos elencar suas principais aplicações, (PEREIRA, 2013):

3. Diagnóstico da Situação de Saúde

O diagnóstico da situação de saúde consiste na colecta sistemática de dados


sobre a saúde da população, informações demográficas, económicas, sociais, culturais e
ambientais, que servirão para compor os indicadores de saúde. Apesar de parecer uma
tarefa simples, o diagnóstico da situação de saúde apresenta minúcias importantes para a
sua realização, (PEREIRA, 2013).

O epidemiologista ou profissional de saúde que pretenda realizar tal diagnóstico


deve dominar a fundo conceitos e ferramentas da epidemiologia para que sua avaliação
não apresente erro metodológico, (ROUQUAYROL; GURGEL, 2013).
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O diagnóstico de situação de saúde tem como principais objectivos a construção
de um plano de acção em saúde que venha a minimizar os problemas identificados e a
formulação de hipóteses sobre os factores envolvidos na construção e manutenção de
um cenário epidemiológico. Tais hipóteses poderão e deverão ser testadas. Portanto, o
diagnóstico da situação de saúde é o primeiro passo para se compreender e se actuar
sobre os problemas de saúde encontrados em qualquer colectividade, (PEREIRA, 2013).
Segundo KATZ (2001), a epidemiologia pode contribuir da seguinte forma:

 Nas investigações epidemiológicas a respeito de como as novas patologias são


transmitidas e sobre os determinantes do processo saúde-doença, ao identificar
agentes e factores responsáveis pelos problemas de saúde.
 Na identificação das causas evitáveis desenvolvendo acções de saúde como
vacinação, isolamento, hábitos entre outros factores.
 Na compreensão da história natural da doença relativamente ao modo de
transmissão, factores envolvidos e espaços geográficos nos quais as doenças
acontecem.
 Compreensão das características biológicas das doenças, como o nível de
gravidade das mesmas, o que tem sido demonstrado na lógica do iceberg
definida pela Organização Mundial da Saúde ficando evidente somente a ponta
do iceberg e a maior parte do mesmo fica submersa, assim, no caso das doenças
somente uma pequena parte fica vidente em relação ao total dos casos que não
são diagnosticados por serem assintomáticos, casos não diagnosticados nos
serviços de saúde e casos diagnosticados e não informados.
3.1. Princípios Básicos da Epidemiologia

Um dos princípios básicos da Epidemiologia é o de que os agravos à saúde não


ocorrem por acaso em uma população. A partir desse princípio, pode-se afirmar que a
distribuição desigual dos agravos à saúde é produto da acção de factores que se
distribuem desigualmente na população. Portanto, a elucidação desses factores,
responsáveis pela distribuição das doenças, é uma das preocupações constantes da
Epidemiologia. O conhecimento dos factores determinantes das doenças permite a
aplicação de medidas preventivas com o propósito de resolver o problema, (PEREIRA,
1995).

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De acordo com PAYNE, o princípio mais importante da Epidemiologia moderna
é que nenhuma enfermidade possui uma causa única. Na etiologia da enfermidade
intervêm múltiplos factores. Portanto, a Epidemiologia baseia-se em:

“Reconhecimento da multiplicidade de factores na etiologia das


enfermidades; identificação desses factores e estimativa de seus
valores relativos”.

3.1.1. Objectivos da Epidemiologia

A Epidemiologia dedica-se a estabelecer relações entre dois ou mais eventos, um


dos quais é sempre um fenómeno relacionado à saúde e os demais são causas hipotéticas
existentes no ambiente. De acordo com FORATTINI, os objectivos da Epidemiologia
são:

“Descrição da história natural das doenças e dos agravos à saúde. Descoberta


das causas das enfermidades e dos meios adequados para afastá-las da
população”.

De acordo com MARTIN, o principal objectivo da Epidemiologia, do ponto de


vista prático, é fornecer dados que permitam uma decisão racional, na qual se possa
basear o controlo e/ou a prevenção de uma enfermidade em uma população. Nas
populações animais, visa também o aumento de produtividade e não apenas a
diminuição da ocorrência da enfermidade. A Epidemiologia teria então por objectivos:

“Estimar a frequência da doença - Epidemiologia descritiva;


Identificar os factores envolvidos na ocorrência da doença -
Epidemiologia analítica”.

3.1.2. Investigação Etiológica

A investigação dos agentes etiológicos das doenças sempre foi, desde os seus
primórdios, um objectivo prioritário da epidemiologia. No final do século XIX até
meados do século XX, foi dado um grande enfoque às doenças infecto-contagiosas,
tendo em vista a evolução da microbiologia e a grande prevalência de doenças
infecciosas no mundo, (PEREIRA, 2013). Inicialmente, foi adoptada uma abordagem
uni causal para o processo de adoecimento, ou seja, toda doença apresentava um agente
etiológico que, uma vez identificado, poderia ser combatido. Tal abordagem solucionou
vários problemas de saúde pública.

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3.1.3. Determinação de Risco

O conceito de risco na epidemiologia está diretamente associado à ocorrência de


doenças na população, fugindo um pouco das concepções de causalidade individual
apresentadas acima.

Em epidemiologia, o risco pode ser definido como “o grau de probabilidade da


ocorrência de um determinado evento” (PEREIRA, 2013); ou como “a probabilidade de
ocorrência de um resultado desfavorável, um dano ou um fenômeno indesejado.

Deste modo, estima-se o risco ou probabilidade de que uma doença exista por
meio dos coeficientes de incidência e prevalência”, (CLAP-OPAS/OMS, 1988).
Existem várias derivações do conceito de risco na epidemiologia, mas as duas mais
importantes são as seguintes medidas de associação: Risco Relativo ou Razão de Risco
(RR) e Razão de Chances ou Odds Ratio (OR).

A epidemiologia, actualmente, se assenta em três pilares que são: 1. As ciências


biológicas que ajudam a epidemiologia na descrição, classificação e determinação da
frequência da doença em uma determinada população; 2. As ciências sociais que
contribuem para a compreensão da forma como os indivíduos se expõem ao risco do
adoecimento na sociedade e a conseqüente intervenção; e a estatística que possibilita a
elaboração de indicadores das doenças permitindo o seu controle.

Também, no século XX, agregam-se aos estudos epidemiológicos os acidentes


de trânsito, de trabalho, homicídios, envenenamento, obesidade, desnutrição, anemia,
tabagismo visando a prevenção pela minimização dos factores de risco, cujos dados
passam a fornecer informações para as acções em saúde, (PEREIRA, 2006).

4. John Snow e a Cólera

John Snow (1813-1858) conduziu numerosas investigações no intuito de


esclarecer a origem das epidemias de cólera, ocorridas em Londres, no período de 1849
a 1854. Foi assim que conseguiu incriminar o consumo de água contaminada como
responsável pelos episódios da doença, e traçar os princípios de prevenção e controle de
novos surtos, válidos ainda hoje, mas fixados em uma época muito anterior ao
isolamento do respectivo agente etiológico, o que só aconteceu em 1883. O trabalho de
Snow é considerado um clássico da “Epidemiologia de campo”.

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A expressão “Epidemiologia de campo” significa a colecta planejada de dados
em uma comunidade. Na tentativa de elucidar a etiologia das epidemias de cólera, Snow
visitou numerosas residências para um minucioso estudo dos pacientes e do ambiente
onde viviam.

A obra de Snow é apreciada como exemplo de “experimento natural”: conjunto


de circunstâncias que ocorrem naturalmente e em que os indivíduos estão sujeitos a
diferentes graus de exposição a um determinado factor, simulando, assim, uma
verdadeira experiência planejada com aquela finalidade. Naquela época, duas
companhias forneciam à população de Londres água do rio Tâmisa, retirada de locais
próximos entre si e muito poluídos.

Em determinado momento, uma das companhias mudou o ponto de captação de


água para um local mais a montante do rio, antes de sua penetração na cidade e,
portanto, antes de receber águas de esgoto. Snow imaginou que, se a ingestão de água
contaminada fosse factor determinante na distribuição da doença, a incidência de cólera
deveria ser diferente entre as pessoas que se abasteciam de uma ou de outra fornecedora
de água.

Para comprovar sua hipótese, procurou saber a fonte de suprimento de água de


cada domicílio onde era registado caso fatal de cólera. Como o dado não existisse na
forma por ele desejada, passou, juntamente com um assistente, a anotar os óbitos
causados pela doença e a visitar os domicílios, para certificar-se da proveniência da
água. Os resultados mostraram que a incidência da enfermidade entre as pessoas que
recebiam água da companhia cujo ponto de captação ficava rio acima era bem menor
que entre aquelas que recebiam a água captada rio abaixo. Isso foi tomado como forte
evidência para sustentar a teoria da transmissão hídrica, mormente quando não havia
outras diferenças, de cunho social, geográfico ou demográfico, que pudessem explicar
variações de mortalidade entre os clientes das duas companhias.

Além dessas observações, Snow realizou o que pode ser chamado de um estudo
experimental, de modo a obter mais uma evidência de transmissão da cólera pela água.
Ele interrompeu o fornecimento de água contaminada de determinado bairro,
fornecendo água limpa, o que acarretou diminuição na incidência, enquanto em outras
áreas a incidência da enfermidade continuava a mesma.

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5. Vigilância Epidemiológica

Portanto, faz-se necessária a implantação de sistemas de vigilância


epidemiológica, que pode ser definida como o processo sistemático e contínuo de
colecta, análise, interpretação e disseminação de informação com a finalidade de
recomendar e adoptar medidas de prevenção e controle de problemas de saúde,
(BRAGA; WERNECK, 2009).

Com base nessa definição, pode-se compreender que a colecta de dados é


actividade primária para a vigilância epidemiológica. Entre os principais dados
colectados, podem ser citados os dados demográficos, ambientais, socioeconómicos e
de morbimortalidade.

Após a etapa de colecta de dados, os mesmos precisam ser registados em banco


de dados, que, na maioria das vezes, geram a demanda de criação dos denominados
Sistemas de Informação em Saúde, que têm por atribuição máxima a consolidação de
informações em saúde, possibilitando a análise de situações de risco.

Portanto, uma vez que a vigilância epidemiológica identifica situações de


anormalidade na ocorrência de doenças, dar-se início a etapa de investigação
epidemiológica que, segundo BRAGA e WERNECK (2009), consiste geralmente em
um trabalho de campo que tem por objectivo:

“Estabelecer ou confirmar diagnósticos; Identificar a fonte de infecção e o modo de


transmissão; Identificar os grupos expostos ao maior risco e buscar casos secundários;
Esclarecer as circunstâncias que propiciaram a ocorrência e investigar factores de risco;
e Determinar as principais características epidemiológicas do evento”.

O propósito final da investigação epidemiológica é orientar a recomendação e


adopção oportuna de medidas de controlo para impedir a ocorrência de novos casos e a
manutenção da doença na população.

Visando a atender as demandas da vigilância epidemiológica e com o objectivo


de aprimorar a resposta às situações de emergência epidemiológica do país, o Ministério
da Saúde, por intermédio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), inaugurou, em
Outubro de 2005, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde
(CIEVS).

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6. Considerações Finais

Com a pesquisa em abordagem pode-se concluir que a Epidemiologia vincula-se


à área de conhecimento da saúde colectiva, pois é fundamental para a compreensão do
processo saúde-doença das populações. Ao ser desenvolvida, por meio do raciocínio
causal, contribui para a criação de estratégias que visam a promoção da saúde de grupos
e comunidades.

Além disso destaca-se que o estudo em Epidemiologia é fundamentado em


método científico. Quando fala-se em colectividade humana estamos nos referindo
àquelas ocorrências que atingem, em massa, essas colectividades, como grupos,
comunidades, por exemplo. Para tanto é preciso compreender a frequências com que os
eventos, ou os riscos acometem uma dada população, o que é possível pelas
comparações fornecidas pelas taxas, sendo que o padrão de ocorrência pode ser
conhecido pela forma como é distribuído no tempo, espaço e pessoa.

Preocupa-se com o tipo de evento, em qual área ocorre, como as ações serão
subsidiadas, como evitar com que os indivíduos adoecem e minimizar a incidência das
ocorrências a um nível mínimo e mesmo que sejam erradicadas, produzindo saúde que é
um direito social. Portanto, podemos dizer que as pesquisas na área da epidemiologia
contribuem decisivamente para melhorar a assistência à saúde.

E por fim a boa parte do desenvolvimento da epidemiologia como ciência teve


por objectivo final a melhoria das condições de saúde da população humana, o que
demonstra o vínculo indissociável da pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da
assistência integral à saúde.

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7. Referências Bibliográficas

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Selva Acadêmica: Rio de Janeiro: Objeto Direto, 1998.

BRAGA, J. U.; WERNECK, G. L.. Vigilância epidemiológica. In:


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Mundial de Saúde. Saúde Perinatal. Tradução de artigos selecionados de Salud
Perinatal; Tradução Thais de Azevedo. Montevidéu: OPAS/OMS, 1988. 179 p.

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