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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTANCIA

Departamento de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Português

A Nominalização Deverbal: O caso do Português

Saibo Saibo Mussa - 91210225


Pemba, Junho, 2022

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTANCIA

Departamento de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Português

A Nominalização Deverbal: O caso do Português


Trabalho de campo a ser submetido na
coordenação do curso de Licenciatura
em Ensino de Português do ISCED.

Tutor:

Saibo Saibo Mussa - 91210225


Pemba, Junho, 2022
Índic

e
Introdução.....................................................................................................................................2

Objectivos.....................................................................................................................................3

Objectivo geral..............................................................................................................................3

Objectivos específicos..................................................................................................................3

Metodologia..................................................................................................................................3

A Nominalização..........................................................................................................................4

A Concorrência entre nominalizações..........................................................................................7

As Propriedades verbais e nominais nas nominalizações deverbais.............................................7

Metáfora Gramatical.....................................................................................................................8

Conclusão....................................................................................................................................10

Referências bibliográficas...........................................................................................................11

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Introdução
Em linguística, nominalização ou nominalização é o uso de uma palavra que não seja substantivo
(por exemplo, um verbo , um adjectivo ou um advérbio ) como um substantivo ou como
o cabeçalho de um sintagma nominal . Essa mudança na categoria funcional pode ocorrer por
meio de transformação morfológica , mas nem sempre ocorre. A nominalização pode referir-se,
por exemplo, ao processo de produção de um substantivo de outra classe de palavras adicionando
um afixo derivacional  (por exemplo, a legalização do substantivo do verbolegalize )  , mas
também pode se referir ao substantivo complexo que é formado como resultado. Segundo Dik
(1997), uma nominalização é uma construção encaixada que tem propriedades em comum com
um termo nominal primário. O estudo das nominalizações na língua portuguesa é desenvolvido
por vários autores, tais como Basilio (1980, 1987, 2004), Gunzburger (1979), Oliveira (2005),
Barreto (1984), Meyer (1991) entre outros, os quais exploram diferentes aspectos do fenómeno.

Objectivos
Neste presente trabalho serão apresentados os objectivos gerais e específicos que norteiam o
desenvolvimento deste estudo.

Objectivo geral
Descrever a nominalização deverbais no caso de português.

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Objectivos específicos
Analisar a produtividade das nominalizações deverbais no caso de português;
Investigar as funções indexadoras mais relevantes das nominalizações deverbais in -
ção na indexação temática, com base em suas frequências de ocorrência ou uso;

Metodologia
O trabalho resulta basicamente de pesquisas bibliográficas e consultas de sites na Internet.
Em termos de estrutura, o trabalho conta com três partes principais, sendo a primeira, a presente
introdução, a segunda parte é do desenvolvimento do tema, na terceira parte e por fim
apresentamos as referências bibliográficas de todo o material usado para a composição do
trabalho e os respectivos sites consultados na Internet

A Nominalização
De acordo com Basílio (1980), "a nominalização consiste num processo de associação lexical
sistemática entre verbos e nomes" (p.74). Em Basílio (1987), a autora aponta que as
nominalizações apresentam tantas funções sintácticas quanto funções textuais. Além disso, atenta
para o aspecto semântico, admitindo que as nominalizações podem se referir ao processo verbal
como um ato, acção ou evento. Já em Basílio (2004), a autora expande o conceito de
nominalização, introduzindo uma perspectiva funcional.

A nominalização é tradicionalmente descrita como um processo morfológico em que uma raiz


não nominal é transformada em nome. Mais que isso, de acordo com Givón (2001), a
nominalização é um processo pelo qual uma oração finita é convertida em um nome. Nesse
processo, o termo nominalizado normalmente ocupa uma função/posição prototípica do sintagma
nominal (SN); por exemplo, o termo passa a ocupar a posição de sujeito, de objecto ou de
complemento do sujeito em uma outra oração, sendo, pois, um termo encaixado. A complexidade
do termo nominalizado costuma reflectir, de algum modo, os termos da oração de que lhe dá
origem. Diante disso, a nominalização é vista como um processo sintáctico, cujos ajustes
principais estão sumarizados nos movimentos a-e (adaptados de Hopper e Thompson, 1984, p.
741), que podem ser observados no seguinte exemplo:

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Oração finita: Os médicos podem ‘orientar’ bem seus pacientes.

Termo nominalizado: A boa ‘orientação’ dos médicos a seus pacientes

a) Há perda de marcação de tempo, aspecto e modalidade

b) Há perda da marcação de concordância pronominal

c) O sujeito/objecto da oração de origem adquirem marcação de caso genitivo

e) Os determinantes do SN são adicionados e. os advérbios são normalmente convertidos em


adjectivos

O nominal apresenta-se na função predicadora quando sua interpretação é verbal e na função


designadora quando sua interpretação é nominal. A diferença entre interpretação verbal e
interpretação nominal, sugerida por Basílio (1980), pode ser observada nos exemplos abaixo:

Ex: Odeio violência e destruição.

Ex: A destruição da cidade pelos inimigos ocorreu rapidamente.

Nos exemplos acima, a nominalização destruição recebe interpretações distintas. Em destruição


se refere apenas à noção verbal de uma forma genérica, sem nenhuma especificação, sendo
eliminado qualquer contexto verbal particular. Temos, então, um exemplo de função designadora,
em que a nominalização destruição foi utilizada para denotar o conceito verbal de destruir.

Como podemos observar, com os exemplos acima referenciados, as nominalizações podem actuar
em diferentes funções, isto é, o mesmo nominal pode exercer múltiplas funções simultaneamente.
Isto porque, o significado da forma nominalizada está relacionado semanticamente ao significado
do verbo correspondente - significado lexical - e ao contexto de ocorrência - significado
sintáctico - (BASILIO, 1980).

Do ponto de vista discursivo-pragmático, em uma instância de nominalização, os processos


verbais, codificados de modo congruente como verbos, são recodificados como nomes (Halliday
& Matthiessen, 2004). Dito de outro modo, na proposta de Halliday e Matthiessen (2004), os
‘processos’ (verbos) são tipicamente (ou ‘congruentemente’) codificados como sintagmas
verbais, construídos por meio da relação do verbo com seus participantes; quando um processo é
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realizado como um ‘nome’ (caso das nominalizações deverbais), ele passa a ser interpretado pelo
falante como se fosse uma ‘coisa’ (thing). A essa extensão de sentido Halliday e Matthiessen
(2004) denominam ‘metáfora gramatical ideacional’, já que o fenómeno está ligado à
transitividade, classificada pelos autores como um dos componentes da metafunção ideacional.

Formas nominalizadas produzem efeitos diferentes daquelas formas consideradas mais


‘congruentes’. Por exemplo, se o falante escolhe usar a expressão ‘comparação de preços’, em
vez de usar sua forma mais congruente (‘pessoas comparam preços’), esse uso mais
gramaticalmente metaforizado implica a construção de um mundo mais objectivo, em que os
fatos podem emergir independentemente da consciência humana.

O fenómeno da nominalização é algo bastante amplo nas línguas naturais. Chamamos


nominalização qualquer nome formado a partir de outro item lexical de outra categoria sintáctica:
verbos, adjectivos, etc. Nominalizações podem ser deverbais, como construir/construção e
abandonar/abandono ou de adjectivais, branco/brancura. Há também nominalizações
denominais, isto é, que têm como base outros nominais, como pedra/pedrada/pedreira/pedreiro.
Desta forma, chamarei aqui de nominalização qual- quer nome formado por outro item lexical,
independente da classe gramatical da base, de forma que nominalizações denominais também
façam parte deste recorte.
Muitos tipos de nominalizações foram descritos pela literatura linguística: nominalizações de
instrumento (abotoar/abotoadura), agente (lavrar/lavrador), processo (destruir/destruição),
propriedade (belo/beleza), entre outros. A natureza de nominalizações deverbais polissêmicas
chamadas pela literatura de action nominals (AN), ou nominais de acção, nomes derivados de
verbos que denotam o mesmo evento de sua base. Tratarei de nomes formados por sufixação,
como destruição e assinatura, e nomes formados a partir de derivações regressivas.

Especificamente, nominais de acção têm como núcleo sufixos convenci oralmente


chamados de ‘transposicionais’ na literatura linguística (ver (Beard, 1995) para
esta definição), por que eles simplesmente transpõem o significado verbal para um
lexema semanticamente equivalente de cate- goria N. Na verdade, de acordo com
(Comrie, 1976, pag.178), nominais de acção são “nomes derivados a partir de
verbos (nomes verbais) com o significado geral de acção ou processo.” (Melloni,
2007, pag.08)
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A formação de substantivos de acção deverbais é um dos processos mais produtivos de formação
de palavras no português, por causa de sua motivação categorial de cunho gramatical (Basílio
1980, Kastovsky 1986), reforçada por requisitos de estrutura textual (Basílio 1987, 1993).
[Basílio, 2004, pag. 53]
Rocha, então, se enquadra em uma linha de pesquisa que está interessada antes em traçar grandes
generalizações do que em descrever o comportamento idiossincrático destas nominalizações, o
que influi directamente na escolha de seu objecto de análise: as nominalizações de processo. Para
Rocha, a nominalização stricto sensu é “um exemplo típico de padrão lexical, ou seja, do alto
grau de regularidade das formações sufixais” [1999, pag.08]. Se considerarmos uma concepção
lexical próxima a de [Hoeksema, 1985], na qual itens lexicais possíveis fazem também parte do
conhecimento linguístico do falante, pode-se assumir que a nominalização stricto sensu é um
fenómeno absolutamente regular, à medida que todos os verbos produzirão nominalizações e que
qualquer uma delas, mesmo as hipotéticas ou virtuais, terão seu significado rapidamente traçado
até o verbo base. Para [Hoeksema, 1985], Logo a nominalização seria um fenómeno ideal para
ser descrito por um linguista à procura de regularidades.
O teste proposto para identificar as nominalizações pode ser resumido através da
seguinte estrutura:

SUJ. + VERBO + COMPLEMENTO (se houver), (mas) esse Y ..............

(sendo Y a forma nominalizada do verbo ). [Rocha, 1999, pag.09]


Y é a nominalização stricto sensu do VERBO, caso a sentença seja aceitável.

A Concorrência entre nominalizações


Rocha também discute a concorrência das nominalizações na língua. Inicialmente, a existência
de uma nominalização stricto sensu formada a partir de um sufixo específico (construção/-ção)
bloquearia a existência de outras nominalizações com este mesmo sentido (*construimento,
*construagem).

Convém, porém, ressaltar que a existência de determinado nominal em princípio bloqueia o


surgimento de possíveis formas concorrentes. É por isso que a língua não apresenta
consagramento, por exemplo, por- que a consagração já está cristalizada na língua. Mas esse

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fenômeno, conhecido na literatura como bloqueio paradigmático – uma vez que se obedece a
paradigmas diferentes (Rocha, 1998) – não é “geral e irres- trito”. [Rocha, 1999, pag.12].

As Propriedades verbais e nominais nas nominalizações deverbais

Chomsky (1970), no artigo Remarks on Nominalization, investiga as nominalizações deverbais e


distingue dois tipos, nominalizações gerundivas (-ing) e nominalizações derivadas (-al, -ness, -
ism etc.), considerando, entre outros aspectos, as seguintes propriedades:

(i) As nominalizações podem seleccionar argumentos, tal como sua contraparte verbal;

(ii) As nominalizações podem ser encabeçadas por determinantes;

(iii) As nominalizações podem ser pluralizadas conforme nomes;

(iv) As nominalizações podem ser modificadas por adjectivo ou advérbio.

Do ponto de vista do significado, as nominalizações gerundivas correspondem à contraparte


sentencial, enquanto, nas nominalizações derivadas, isso nem sempre é observado, seu
significado pode ser idiossincrático ou não composicional.
Tendo em vista essas diferenças, Chomsky (1970) conclui que a formação desses dois tipos de
nominalizações ocorre em componentes distintos na arquitectura da gramática. Enquanto a
formação das nominalizações gerundivas ocorre no componente transformacional (sintáctico)
devido, principalmente, à transparência da estrutura de argumentos e do significado de sua
contraparte sentencial, as nominalizações derivadas ocorrem no componente base, desenhando a
hipótese lexicalista.
Grimshaw (1990), numa perspectiva lexicalista, analisando nominalizações no inglês, observa
que formações com estruturas idênticas (mesma base e mesmo sufixo) podem ser ambíguas
quanto ao tipo de leitura que expressam. Podem expressar um evento ou um resultado, conforme
os exemplos em (1) e (2). Considerando também os nomes referenciais, a autora propõe três tipos
de nomes, tendo em vista a sua estrutura e propriedades verbais e nominais:
(i) Nominalização de evento complexo (com estrutura argumental);
(ii) Nominalização de evento simples (nomes referenciais);
(iii) Nominalização de resultado.
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Metáfora Gramatical
As metáforas gramaticais representam, por isso, um recurso importante para a criação de um
novo sentido por meio de formas léxico-gramaticais modificadas (Thompson, 2013). Elas
representam também uma possibilidade de redefinição das relações entre ‘sentido’ e
‘codificação’, operadas na própria gramática da língua. Por isso, quando uma instância de
metáfora gramatical é utilizada, um nome passa a codificar um acontecimento, o que, em geral,
envolve uma relação lógica de causa e efeito, ligada ao agente e à meta do processo (verbo) em
foco (Halliday & Matthiessen, 2004). Esse efeito de objectividade pode ser ilustrado em (6) e (7)
a seguir, em que os verbos avaliar, fiscalizar e prescrever são usados em sua forma nominalizada.
Esse uso forja uma relação de causa e efeito, própria do discurso oficial, alicerçado na aceitação
de pressupostos não negociáveis e, portanto, plenamente aceitos, como nesses trechos de uma das
cartilhas da ANVISA, componentes do corpus:

Consulte seu médico para uma ‘avaliação’, principalmente, caso possua alguma doença
preexistente.

A entrada de qualquer medicamento em outros países poderá sofrer ‘fiscalização’ sanitária,


portanto não esqueça a ‘prescrição’ médica (ANVISA1, 2014, p. 6, grifo nosso).

A nominalização também tem sido estudada a partir da abordagem Sistémico-Funcional da


linguagem, conforme exposta em Halliday (1985). Esta perspectiva apresenta a linguagem como
um dos sistemas semióticos que constituem a cultura humana. Assim, pode-se dizer que, a
linguagem é vista por uma perspectiva sócio semiótica, uma vez que, a linguagem está sempre
inserida em contextos sociais, desempenhando funções em qualquer cultura. De acordo com
Halliday (1985), essas funções reflectem os parâmetros que compõem a significação do contexto
de situação – campo, relação e modo.

A Linguística Sistémico Funcional (LSF) trata do fenómeno da nominalização como uma


metáfora gramatical, que está relacionada à maneira como diferentes significados podem ser
expressos, relacionando-se a transformações lexicais e gramaticais que implicam, sobretudo, na
transformação de ideias mais concretas em mais abstractas e complexas. Isto é possível a partir
do uso de nominalizações em lugar de processos verbais.
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Conclusão

Este trabalho pretendeu evidenciar o comportamento das nominalizações e analisar o tratamento


dado a este fenómeno à luz de três diferentes teorias. Tais nominalizações são nomes formados a
partir de verbos que denotam o mesmo evento de seu verbo base, além de, possivelmente,
apresentarem vários outros significados. Estas formas, chamadas aqui de ANs (action nominals),
são um fenómeno bastante estudado pela linguística pois trazem diversos desafios para as várias
teorias que pretenderam estudá-los. Por serem nomes formados a partir de verbos, o quê
exactamente estas formas herdam de seus pares verbais tem sido largamente debatido nas últimas
décadas.

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Referências bibliográficas
HALLIDAY, M. A. K. (2002). The collected works of MAK halliday. New York, NY:
Continuum.

HALLIDAY, M., & MATTHIESSEN C. M. I. M. (2004). Introducing functional grammar. New


York, NY: Edward Arnold.

MARCUSCHI, L. A. (2005). O papel da actividade discursiva no exercício do controle social.


Cadernos de Linguagem e Sociedade, 7(1), 7-33.

BASÍLIO, M. (2006). Formação de classes de palavras no português do Brasil. São Paulo, SP:
Contexto.

ROCHA, L. C. d. A. (1999). A nominalização no português do Brasil. Revista de Estudos da


Linguagem, 8(17).
CHOMSKY, Noam. Remarks on Nominalization. In: JACOBS, Roderick A.;

ROSENBAUM, Peter S. Readings in English Transformational Grammar. Boston: Ginn., 1970.


p. 184-221.

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