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Direito Processual Penal

Professora Ana Cristina Mendonça

sempre documentados para certificar a existência


ATOS E PRAZOS PROCESSUAIS
ou não de processo sobre determinado litígio.
1. Distribuição, autuação e registro
Quanto ao registro e à distribuição, vale
– Distribuição: sempre que houver diversos
lembra o disposto no artigo 284 do novo CPC: “To-
órgãos concorrentes em matéria de competência ou
dos os processos estão sujeitos a registro, devendo
atribuições, ou melhor, vários juízes ou cartórios
ser distribuídos onde houver mais de um juiz.”
com igual competência, numa mesma comarca,
haverá necessidade de distribuir os feitos entre eles
na sua entrada em juízo. Segundo o artigo 285 do 2. Protocolo
novo CPC, a distribuição, que poderá ser eletrônica,
As petições e os documentos, antes de in-
se fará de forma alternada, obedecendo a rigorosa
gressarem no processo, devem ser protocolizadas
igualdade. Assim, se várias são as varas igualmente
perante o setor competente, adquirindo um número
competentes, só após a distribuição é que o juiz
de registro e constando a data e horário em que se
estará em condições de proferir o despacho da ini-
deu o seu protocolo. Dispõe o artigo 929 do novo
cial.
CPC que:
– Autuação: o processo se inicia com a
provocação do autor por meio da petição inicial.
Art. 929. Os autos serão registrados no
Depois de despachada pelo juiz, a petição vai para
protocolo do tribunal no dia de sua en-
o escrivão que promoverá o primeiro ato de docu-
trada, cabendo à secretaria ordená-los
mentação do processo, qual seja, a autuação. Con-
com imediata distribuição.
siste este ato em colocar uma capa sobre a petição,
Parágrafo único. A critério do tribunal, os
na qual será lavrado um termo que deve conter o
serviços de protocolo poderão ser des-
juízo, a natureza do feito, o número de seu registro
centralizados, mediante delegação a ofí-
nos assentos do cartório, os nomes das partes e a
cios de justiça de primeiro grau.
data do seu início (art. 206 do novo CPC). Dessa
autuação surge um volume ao qual serão acrescen- 3. Petição inicial
tadas todas as petições e documentos relacionados
No Processo Penal, a petição inicial, no
com a causa. Sempre que o volume se tornar muito
Processo de Conhecimento ou Cognição, possui o
grande, outros serão abertos, com novas autua-
nome de DENÚNCIA ou de QUEIXA-CRIME, de-
ções.
pendendo se o crime é de ação penal de iniciativa
– Registro: o registro é feito mediante lan- pública ou privada.
çamento dos dados necessários à identificação do
Nos termos do artigo 41 do Código de Pro-
feito em livro próprio do cartório. Consiste no primei-
cesso Penal, são REQUISITOS DA DENÚNCIA OU
ro ato que o escrivão pratica, logo após a autuação
DA QUEIXA-CRIME:
da petição inicial. Também nas secretarias dos Tri-
bunais, quando o processo sobe em grau de recur- I) A exposição (descrição) do fato crimi-

so, há novo registro (art. 929 do novo CPC). Por noso, com todas as suas circunstâncias: o fun-

meio do registro, o cartório ou a secretaria estarão damento deste requisito é de que o réu irá defender-

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se dos fatos a ele imputados. A omissão de qual- Além dos requisitos do artigo 41 do CPP, há
quer circunstância não invalidará a queixa ou a de- também a formalidade apontada no artigo 44 do
núncia, podendo ser suprida até a sentença, con- CPP, que servirá, apenas, para a queixa-crime.
forme o artigo 569 do CPP. Contudo, é relevante
Art. 44. A queixa poderá ser dada por
uma descrição pormenorizada dos fatos imputados procurador com poderes especiais, de-
vendo constar do instrumento do manda-
ao réu, de forma a viabilizar o contraditório e a am-
to o nome do querelante e a menção do
pla defesa. Da mesma forma, caso sejam vários os fato criminoso, salvo quando tais escla-
recimentos dependerem de diligências
acusados, é importante a individualização das con-
que devem ser previamente requeridas
dutas. Quando a denúncia não atende esses requi- no juízo criminal.
sitos, falamos em denúncia inepta, a qual não pode
ser recebida pelo juiz (art. 395, I, do CPP). Caso ela
Em relação ao referido artigo, precisamos
seja recebida, poderá acontecer o “trancamento” da
ter atenção ao erro praticado pelo legislador ao
ação penal através de um habeas corpus.
mencionar "o nome do querelante". Deve-se ler,
II) A qualificação do acusado ou esclare- neste caso, "o nome do querelado".
cimentos pelos quais se possa identificá-lo: aqui
Também será necessário, para o recebi-
o representante do Ministério Público ou o ofendido
mento da inicial acusatória, que o juiz verifique a
irá individualizar o acusado, ou seja, identificá-lo.
presença das condições da ação (condições ou
Porém, será admitido que sejam fornecidos dados
requisitos para o regular exercício do direito de
físicos, traços característicos ou outras informações,
ação) e dos pressupostos processuais.
caso não seja possível obter a identidade do acusa-
do. A correta qualificação do acusado poderá ser No Processo Penal, são condições da ação:

feita ou retificada a qualquer tempo, sem que isso Condições genéricas da ação: possibili-
retarde o andamento da ação penal (art. 259 do dade jurídica do pedido (diz respeito à tipicidade
CPP). do fato; o pedido deve encontrar proteção no direito

III) A classificação do crime: a denúncia positivo, deve haver previsão legal de que a conduta

deve conter a correta classificação jurídica do fato configura infração penal, sendo prevista, para a

(capitulação legal). Contudo, tal requisito não é es- mesma, uma pena aplicável); legitimidade para

sencial, pois não vinculará o juiz, que poderá dar ao agir (refere-se à titularidade da ação, pois só o titu-

fato definição jurídica diversa, aplicando o instituto lar do direito alegado poderia intentá-la; no Proces-

da emendatio libelli (art. 383 do CPP); so Penal, a regra é a “ação penal pública”, na qual o
direito de ação é entregue ao Ministério Público;
IV) Rol de testemunhas (quando houver):
contudo, em caráter excepcional, há a ação penal
o representante do Ministério Público (ou o quere-
privada, na qual o direito de ação é exercido pelo
lante) deverá arrolar as testemunhas na denúncia
ofendido); e o interesse de agir (no Processo Pe-
(ou na queixa, em se tratando de crime de ação
nal, enquanto houver direito de punir, haverá inte-
penal privada), sob pena de preclusão.
resse em agir, já que não há outra forma de aplica-
ção da pena senão através do regular processo). Há
ainda necessidade da justa causa, que configura o

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suporte ou lastro probatório mínimo, de onde se Nesse sentido, é importante a leitura dos ar-
possa extrair a prova da existência do crime e os tigos 206 e 207 do novo CPC:
indícios suficientes de autoria.
Art. 206. Ao receber a petição inicial de
qualquer processo, o escrivão ou chefe
Condições específicas de procedibilida-
de secretaria a autuará, mencionando o
de: nas infrações de ação penal pública condiciona- juízo, a natureza do processo, o número
de seu registro, os nomes das partes e a
da, será necessária a manifestação da vítima, atra-
data do seu início; e procederá do mes-
vés da representação (nas ações condicionadas à mo modo quanto aos volumes em forma-
ção.
representação) ou da requisição do Ministro da Jus-
tiça, nos casos em que a lei a exigir. Art. 207. O escrivão ou chefe da secreta-
ria numerará e rubricará todas as folhas
Dependendo da natureza da imputação for- dos autos.
mulada, poderão ser exigidas outras espécies de
Parágrafo único. À parte, ao procurador,
condições específicas de procedibilidade, tal qual ao membro do Ministério Público, ao De-
fensor Público e aos auxiliares da Justi-
ocorre, por exemplo, nos processos por tráfico de
ça é facultado rubricar as folhas corres-
entorpecente, para os quais faz-se necessário o pondentes aos atos em que intervierem.
laudo prévio ou de constatação a que se refere o
o
art. 50,§ 1 ., da Lei 11.343/06.
5. Guarda, conservação e restauração dos autos
Pressupostos processuais: O juiz é obri-
A guarda, conservação e restauração dos
gado a apreciar, antes de examinar o mérito da
autos consistem em deveres impostos ao escrivão,
questão, as condições que legitimam e justificam o
que deve zelar pelas coisas que lhe são entregues,
processo, que são os chamados pressupostos pro-
devendo comunicar imediatamente ao juiz o desa-
cessuais. São pressupostos subjetivos estar o
parecimento dos autos que estavam sob sua res-
órgão investido de jurisdição, competência e legiti-
ponsabilidade, providenciando o que for necessário
midade ad processum. São pressupostos objetivos:
para sua eventual restauração (ver art. 152, IV, do
a ausência de litispendência ou de coisa julgada, a
CPC).
citação válida e que a petição inicial esteja apta
No processo penal, a restauração de autos
para o recebimento (não haja inépcia da inicial).
é regida pelos arts. 541 a 548 CPP.

4. Numeração e rubrica das folhas nos autos


6. Exame em cartório, manifestação e vista. Reti-
O escrivão numerará e rubricará todas as
rada dos autos pelo advogado
folhas dos autos, procedendo da mesma forma
Regra geral, o escrivão não deve permitir a
quanto aos suplementares. No entanto, é facultado
retirada dos autos de cartório, conforme dispõe o
às partes, aos advogados, aos órgãos do Ministério
artigo 798, caput, do CPP:
Público, aos peritos e às testemunhas, rubricar as
folhas correspondentes aos atos em que intervie- Art. 798. Todos os prazos correrão em
cartório e serão contínuos e peremptó-
ram.
rios, não se interrompendo por férias,
domingo ou dia feriado.

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Porém, o artigo 7º, XV e XVI, do Estatuto da XVI – retirar autos de processos findos,
o mesmo sem procuração, pelo prazo de
Advocacia e da OAB (Lei n 8.906/94), bem como o
dez dias.
artigo 107 do novo CPC, autorizam a consulta dos
autos pelo advogado inclusive fora de cartório, em
Assim, em regra, o advogado tem vista dos
determinados casos. Vejamos:
autos em cartório, conforme indicam ainda os arti-
Art. 107. O advogado tem direito de: o
gos 135, § 3 , 515, 798 e 803, todos do CPP.
I – examinar, em cartório de fórum e se-
cretaria de tribunal, mesmo sem procu-
Art. 803. Salvo nos casos expressos em
ração, autos de qualquer processo, inde-
lei, é proibida a retirada de autos do car-
pendentemente da fase de tramitação,
tório, ainda que em confiança, sob pena
assegurados a obtenção de cópias e o
de responsabilidade do escrivão.
registro de anotações, salvo na hipótese
de segredo de justiça, nas quais apenas
o advogado constituído terá acesso aos
autos; 7. Carga, baixa, conclusão, recebimento, remes-
II – requerer, como procurador, vista dos
autos de qualquer processo, pelo prazo sa, assentada, juntada e publicação
de cinco dias;
III – retirar os autos do cartório ou da se- – Carga: ocorre quando o advogado ou o
cretaria, pelo prazo legal, sempre que ne- Ministério Público retira os autos para análise fora
les lhe couber falar por determinação do
juiz, nos casos previstos em lei. de cartório. A carga deve ser registrada no livro
§ 1º Ao receber os autos, o advogado as- competente, onde o advogado declinará seu ende-
sinará carga em livro ou documento pró-
prio. reço, telefone, nome completo e número de inscri-
§ 2º Sendo o prazo comum às partes, os ção na ordem, bem como o dia da saída e da devo-
procuradores poderão retirar os autos
somente em conjunto ou mediante prévio lução dos autos (art. 107, §1º do novo CPC).
ajuste, por petição nos autos.
– Baixa: quando da devolução dos autos ao
cartório competente, será procedida a baixa no livro
Art. 152. Incumbe ao escrivão: de carga. A baixa dos autos consiste também no
(...)
IV – ter, sob sua guarda e responsabili- momento de volta dos autos ao juízo originário após
dade, os autos, não permitindo que interposição do último recurso (art. 1006 do novo
saiam de cartório, exceto:
a) quando tenham de subir à conclusão CPC). Durante a fase de inquérito, na devolução
do juiz; dos autos de inquérito à delegacia de polícia para a
b) com vista aos procuradores, ao Minis-
tério Público ou à Fazenda Pública; continuidade da investigação.
c) quando devam ser remetidos ao con-
tador ou ao partidor; – Juntada e conclusão: ocorre a juntada
d) quando, modificando-se a competên- quando o escrivão certifica o ingresso de uma peti-
cia, forem transferidos a outro juízo.
ção ou documento nos autos. Já a conclusão é o
ato que certifica o encaminhamento dos autos ao
Art. 7º São direitos do advogado: juiz, para alguma deliberação (art. 208 do novo
(...)
XV – ter vista dos processos judiciais ou CPC). Importante ressaltar que, no processo penal,
administrativos de qualquer natureza, em os prazos jamais são contados a partir da juntada,
cartório ou na repartição competente, ou
retirá-los pelos prazos legais; mas sim da efetiva citação, intimação ou notificação
o
(art. 798, § 5 , do CPP).

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– Recebimento: é o ato que documenta o so, ressalvado aqueles que correm em segredo de
momento em que os autos voltaram a cartório após justiça, independente de despacho do juiz, bem
uma vista ou conclusão. como redigir os atos que pertencem ao seu ofício,
conforme artigo 152 do novo CPC.
– Remessa: saída dos autos de cartório e o
envio deles ao juiz da causa, ao advogado, ou a Art. 152. Incumbe ao escrivão ou ao che-
fe de secretaria::
outro grau de jurisdição.
I – redigir, na forma legal, os ofícios, os
mandados, as cartas precatórias e os
– Assentada: é o termo de comparecimento
demais atos que pertençam ao seu ofí-
das testemunhas em juízo (art. 459 do novo CPC). cio;
II – efetivar as ordens judiciais, realizar
– Publicação: para que o processo atinja a citações e intimações, bem como prati-
car todos os demais atos que lhe forem
sua finalidade, que é o provimento jurisdicional que
atribuídos pelas normas de organização
irá solucionar o litígio, são praticados uma série de judiciária;
III – comparecer às audiências ou, não
atos processuais, que devem ser documentados e
podendo fazê-lo, designar servidor para
comunicados às partes. Esta comunicação é feita, substituí-lo;
IV – manter sob sua guarda e responsa-
entre outras formas, por meio da publicação de tais
bilidade os autos, não permitindo que
atos no órgão oficial. Contudo, devemos ter aten- saiam do cartório, exceto:
a) quando tenham de seguir à conclusão
ção! Quando falamos em publicação da sentença no
do juiz;
processo penal, podemos estar nos referindo à pu- b) com vista a procurador, à Defensoria
Pública, ao Ministério Público ou à Fa-
blicação da sentença no órgão de imprensa oficial,
zenda Pública;
mas também ao momento em que o conhecimento c) quando devam ser remetidos ao con-
tabilista ou ao partidor;
da sentença deixa de estar restrito ao seu prolator,
d) quando forem remetidos a outro juízo
no caso, lógico, o juiz. Isto é, o instante em que a em razão da modificação da competên-
cia;
mesma ganha publicidade, que é a ocasião em que
V – fornecer certidão de qualquer ato ou
a sentença é entregue ao escrivão para juntada aos termo do processo, independentemente
de despacho, observadas as disposições
autos (art. 389 do CPP).
referentes ao segredo de justiça;
VI – praticar, de ofício, os atos meramen-
Art. 389. A sentença será publicada em te ordinatórios.
mão do escrivão, que lavrará nos autos o
§ 1º O juiz titular editará ato a fim de re-
respectivo termo, registrando-a em livro
gulamentar a atribuição prevista no inci-
especialmente destinado a esse fim.
so VI.
§ 2º No impedimento do escrivão ou che-
fe de secretaria, o juiz convocará substi-
Para fins de interrupção de prescrição no tuto e, não o havendo, nomeará pessoa
idônea para o ato.
Processo Penal, a publicação da sentença se dá no
momento em que a mesma é entregue em mãos do
escrivão, conforme art. 389 do CPP.
9. Traslado

Nome dado à cópia das petições, documen-


8. Lavratura de autos e certidões em geral tos e provas de um processo transferidos para outro
Dentre as funções do escrivão, está a de processo ou recurso interposto perante grau de
emitir certidão de qualquer ato ou termo do proces- jurisdição superior. Exemplo: “Não se conhece do

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recurso, por falta de traslado das peças obrigatórias do pelo recorrente ou por seu represen-
tante.
a regular formação do instrumento”, nos casos exi-
gidos em lei.
b) A palavra termo também pode caracteri-
zar os limites de tempo na contagem de prazos
10. Contestação
processuais. Assim, quando queremos nos referir
No Processo Penal não há “contestação”. O ao início do prazo falamos em termo a quo, e para o
nome da peça de defesa é “Defesa ou Reposta final do prazo, termo ad quem.
Preliminar” ou “Resposta à Acusação”, a qual deve-
Em alguns casos particulares, a terminolo-
rá ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias (art.
gia processual utiliza, em vez de termo, outros vo-
396 do CPP). Importante ressaltar que a não apre-
cábulos que têm o mesmo significado, como auto.
sentação da referida resposta, no Processo Penal,
Assim é que auto é o termo que documenta atos
não importa em revelia, uma vez que o juiz nomeará
praticados pelo juiz, auxiliares da Justiça e partes,
defensor público ou dativo para apresentá-la.
fora dos auditórios e cartórios.

c) Destaque-se, ainda, a situação caracte-


11. Termos processuais criminais e autos: con- rística do Processo Penal, onde pode haver uma
ceitos, conteúdo, forma e tipos fase pré-processual, de natureza administrativa, na
qual “provas” são colhidas pelo Delegado de Polícia
No Processo Penal, tanto quanto no Pro-
em um procedimento inquisitivo, que necessaria-
cesso Civil, a expressão termo pode caracterizar:
mente deve ter todos os seus atos escritos. Por tal
a) A documentação lavrada por serventuário
motivo, todas as diligências, pesquisas etc. são, no
da Justiça, ou ainda por agentes policiais, de forma inquérito policial, lavradas a termo.
a documentar atos praticados oralmente, como se
Da mesma forma, temos o termo circuns-
pode perceber, por exemplo, do conteúdo dos arti-
o
tanciado da Lei n 9.099/95, onde o Delegado faz
gos 39 e 578 do CPP, entre outros:
uma breve descrição dos fatos que caracterizam
uma infração de menor potencial ofensivo.
Art. 39. O direito de representação pode-
No mais, aplicam-se os mesmos “termos” do
rá ser exercido, pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais, me- Processo Civil, dentre os quais temos, a título de
diante declaração, escrita ou oral, feita
exemplo, os de depoimento, declarações e interro-
ao juiz, ao órgão do Ministério Público,
ou à autoridade policial. gatório.
º
§ 1 A representação feita oralmente ou
por escrito, sem assinatura devidamente
autenticada do ofendido, de seu repre-
sentante legal ou procurador, será redu- 11.1. Forma
zida a termo, perante o juiz ou autoridade
policial, presente o órgão do Ministério Aplicam-se aos termos processuais as re-
Público, quando a este houver sido diri-
gras que vigoram quanto às características dos atos
gida.
processuais.
Art. 578. O recurso será interposto por
petição ou por termo nos autos, assina-

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Art. 188 do novo CPC. Os atos e os ter- Art. 211. Não se admitem nos atos e ter-
mos processuais independem de forma mos processuais espaços em branco,
determinada, salvo quando a lei expres- salvo os que forem inutilizados, assim
samente a exigir, considerando-se váli- como entrelinhas, emendas ou rasuras,
dos os que, realizados de outro modo, exceto quando expressamente ressalva-
lhe preencham a finalidade essencial. das.

11.2. Tipos
Atenção, ainda, ao que dispõe o artigo 192
do novo CPC e seguinte: São espécies de termos processuais:

Art. 192. Em todos os atos e termos do – Termo de autuação: ao receber uma pe-
processo é obrigatório o uso da língua
tição inicial de processo, o escrivão ou o chefe de
portuguesa.
secretaria a autuará, mencionando o juízo, a natu-
Parágrafo único. O documento redigido
reza do processo, o número de seu registro, o nome
em língua estrangeira somente poderá
ser juntado aos autos quando acompa- das partes e a data de seu início, e procederá do
nhado de versão para a língua portugue-
mesmo modo em relação aos volumes em formação
sa tramitada por via diplomática ou pela
autoridade central, ou firmada por tradu- (art. 206 do novo CPC).
tor juramentado.
– Termo de vista: é o ato de franquear o
Art. 209. Os atos e os termos do proces- escrivão os autos à parte para que o advogado se
so serão assinados pelas pessoas que
manifeste sobre algum evento processual.
neles intervierem, todavia, quando essas
não puderem ou não quiserem firmá-los,
– Termo de conclusão: é o ato que certifi-
o escrivão ou o chefe de secretaria certi-
ficará a ocorrência. ca o encaminhamento dos autos ao juiz, para algu-
§ 1º Quando se tratar de processo total ma deliberação.
ou parcialmente documentado em autos
eletrônicos, os atos processuais pratica- – Termo de juntada: ocorre quando o es-
dos na presença do juiz poderão ser
crivão certifica o ingresso de uma petição ou docu-
produzidos e armazenados de modo in-
tegralmente digital em arquivo eletrônico mento nos autos.
inviolável, na forma da lei, mediante re-
gistro em termo, que será assinado digi- – Termo de remessa: saída dos autos de
talmente pelo juiz e pelo escrivão ou che-
fe de secretaria, bem como pelos advo- cartório e o envio deles ao juiz da causa, ao advo-
gados das partes. gado, ou a outro grau de jurisdição.
§ 2º Na hipótese do § 1º, eventuais con-
– Termo de recebimento: é o ato que do-
tradições na transcrição deverão ser
suscitadas oralmente no momento de re- cumenta o momento em que os autos voltaram a
alização do ato, sob pena de preclusão,
devendo o juiz decidir de plano e ordenar cartório após uma vista ou conclusão.
o registro, no termo, da alegação e da
decisão. – Termo de apensamento: se dá quando o
escrivão atesta que foram apensados outros autos
aos autos principais (art. 57 do novo CPC).
Art. 210. É lícito o uso da taquigrafia, da
estenotipia ou de outro método idôneo
em qualquer juízo ou tribunal.
Existem ainda:

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– Termo de audiência de instrução e jul- de fatos, não apresentem diminuição na imparciali-


gamento: ver art. 367 do novo CPC. dade. Por exemplo, o pai, o irmão e o cônjuge de
quem está sendo investigado ou processado não
– Termo de compromisso de inventarian-
prestam compromisso, porque a eles o Direito não
te: o inventário tem como objetivo a apuração do
poderia impor a violência de falarem contra o filho, o
patrimônio de uma pessoa falecida, onde são co-
parente ou o marido. O mesmo acontece com a
bradas as dívidas, avaliados e partilhados os bens.
pessoa contra a qual pesam indicativos de um cri-
Até que finalize a partilha, o inventariante é o repre-
me. Seria uma falta de lógica impor que o indivíduo
sentante do espólio, sendo nomeado pelo juiz e
fizesse a sua própria incriminação. Como explica-
devendo prestar compromisso do bem e fielmente
mos no decorrer das aulas, o réu tem o direito de
cumprir o encargo (art. 617 do novo CPC).
não produzir provas contra si mesmo.
– Termo de abertura de testamento cer-
– Termo de declarações: para pessoas
rado: o testamento cerrado é escrito pelo próprio
que têm, de alguma forma, interesse na causa, co-
testador, ou por alguém a seu rogo, e só tem eficá-
mo vítimas e denunciantes, ou, estando nas hipóte-
cia após o auto de aprovação lavrado por oficial
ses acima, não prestam compromisso. Portanto,
público, na presença de duas testemunhas. O con-
aquele que tem a sua imparcialidade diminuída,
teúdo é conhecido apenas pelo testador, podendo
presta declarações e não depoimento. Entram aqui
ser anulado se for apresentado em juízo com o lacre
os suspeitos que estão sob investigação.
violado (art. 735 do novo CPC).
– Termo de interrogatório: para aquele
– Termo de nomeação de bens à penho-
sobre o qual pesa uma acusação formal. Assim, a
ra: a penhora é ato determinado pelo juiz e execu-
autoridade policial interroga, antes de proceder o
tado pelos oficiais de justiça.
indiciamento (ato através do qual uma pessoa é tida
– Termo de averbação de penhora no
oficialmente como suspeita de um crime). E as auto-
rosto dos autos: a penhora no rosto dos autos tem
ridades judiciais interrogam, para, nesse ato, co-
por objetivo averbar numa ação em que o executa-
nhecerem pessoalmente o réu, darem a ele o direito
do detenha direito ou crédito a penhora que contra
de se defender, com próprias palavras, colherem
ele é dirigida (art. 860 do novo CPC).
dele, de viva voz, as suas explicações e, também
– Termo de tutor e curador: ver arts. 759 sentirem, nesse contato direto, as suas reações.
do novo CPC.
– Termo de recurso: através do qual o pró-
– Termo de entrega de coisa certa: ver prio réu, no exercício de sua autodefesa, demonstra
art. 807 do novo CPC. sua intenção em recorrer.

– Termo circunstanciado: breve narrativa


fática, que substitui o inquérito policial no caso de
E quanto aos depoimentos prestados em ju-
o
infrações de menor potencial ofensivo (Lei n
ízo ou em sede policial, podemos falar em:
9.099/95).
– Termo de depoimento: para testemu-
– Termo de compromisso: seja nos casos
nhas que prestam compromisso. E só prestam
o
da Lei n . 9.099/95, quando da lavratura do termo
compromisso as pessoas que, tendo conhecimento

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circunstanciado, de flagrância em infrações de me- Instituto de Identificação e Estatística ou repartição


nor potencial ofensivo, ou de concessão de liberda- congênere ou pela inquirição de testemunhas, la-
de provisória, o autor do fato, indiciado ou réu, assi- vrando-se auto de reconhecimento e de identidade,
nará um termo de compromisso ao cumprimento de no qual se descreverá o cadáver, com todos os
determinada(s) obrigação(ões). sinais e indicações” (art. 166 do CPP).

11.3. Espécies de auto Quanto a “auto”, veja-se, ainda, o que dis-


põe o artigo 245 do CPP:
1) Auto de inspeção judicial: a inspeção
judicial consiste numa modalidade de prova através
da qual o juiz inspeciona pessoas ou coisas a fim de
Art. 245. As buscas domiciliares serão
se esclarecer fato que interesse ao deslinde da de- executadas de dia, salvo se o morador
consentir que se realizem à noite, e, an-
manda (arts. 481 a 484 do novo CPC).
tes de penetrarem na casa, os executo-
res mostrarão e lerão o mandado ao mo-
2) Auto de adjudicação: o exequente pode,
rador, ou a quem o represente, intiman-
oferecendo preço não inferior ao da avaliação, re- do-o, em seguida, a abrir a porta.
(...)
querer lhe sejam adjudicados os bens penhorados º
§ 7 Finda a diligência, os executores la-
(ver arts. 876 a 878 do novo CPC). vrarão auto circunstanciado, assinando-
o com duas testemunhas presenciais,
o
3) Auto de arrematação: a arrematação é a sem prejuízo do disposto no § 4 .
forma de expropriação executiva pela qual os bens
penhorados são transferidos por procedimento licita-
Quer dizer, no cumprimento de um manda-
tório realizado pelo juízo da execução (ver arts. 901
do de busca e apreensão, a autoridade, realizada a
e 903 do novo CPC).
busca, deve fazer uma lista dos objetos apreendi-
4) Auto de divisão: ver artigo 597 do novo dos, caracterizando o auto de apreensão.
CPC.
Assim também ocorre quando, por exemplo,
5) Auto de interrogatório do interditando: há uma prisão em flagrante de um traficante de
ver artigos 751 e 752 do novo CPC. drogas. Haverá o auto de apreensão da substância
etc.
6) Auto de restauração de autos: se pro-
cederá à restauração dos autos quando for verifica-
do o seu desaparecimento. Ver artigos 712 a 717 do
12. Atos do juiz
novo CPC.
Para uma abordagem completa do que seri-
7) Auto de prisão em flagrante: lavrado
am os atos do juiz, entendemos necessário explicar,
pelo delegado de polícia, quando da formalização
inicialmente, sobre os elementos da jurisdição.
da prisão em flagrante (art. 304 do CPP).
O termo jurisdição é utilizado para expres-
8) Auto de reconhecimento de cadáver:
sar, simploriamente, a forma através da qual o Po-
“havendo dúvida sobre a identidade do cadáver
der Judiciário, diante do conflito de interesses, apli-
exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo
ca a lei ao caso concreto, através do conhecimento

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da causa, seu julgamento e execução. Ocorre que a Dispõe o artigo 203 do novo CPC: “Os pro-
jurisdição é composta dos seguintes elementos: nunciamentos do juiz consistirão em sentenças,
decisões interlocutórias e despachos”.
Notio – para que o juiz possa aplicar a lei ao
caso concreto é preciso que o mesmo tome conhe- A classificação das decisões no Processo
cimento da matéria fática, conhecendo da causa, Penal (art. 800 do CPP), em processos de conheci-
através da análise dos autos, colheita das provas mento de natureza condenatória (onde o autor –
etc. Ministério Público ou ofendido – pretende a conde-
nação do réu) possui um critério diferente daquele
Vocatio – para que o processo se desenvol-
adotado no Processo Civil.
va e a prova seja colhida, é necessário que o juiz
lance mão daquilo que conhecemos como atos de Enquanto no Processo Civil as decisões po-
chamamento, ou melhor, faculdade judicial de fazer dem ser classificadas em interlocutórias e senten-
comparecer em juízo todos aqueles cuja presença ças, no Processo Penal condenatório elas são clas-
seja útil à justiça e ao conhecimento da verdade. sificadas em:
São atos de chamamento as citações, intimações e
a) Decisões Interlocutórias Simples.
notificações.
b) Decisões Interlocutórias Mistas ou com
Coercio (ou coertio) – é o direito que o juiz
força de definitivas (Terminativas e Não Terminati-
possui de fazer-se respeitar e de reprimir as ofensas
vas).
contra ele perpetradas no exercício de suas fun-
c) Decisões Definitivas, que podem ser
ções: jurisdictio sine coertitio nula est. Exemplo de
Terminativas de Mérito e Sentenças stricto sensu.
coercio ocorre quando, ausente uma testemunha
regularmente intimada, o juiz determina, lançando
mão de seu poder de polícia, sua condução coerciti-
13. Atos processuais
va.
Ato processual é toda conduta dos sujeitos
Iudicium ou judicio – direito de julgar e de
do processo que tenha por efeito a criação, modifi-
pronunciar a sentença. Aqui, efetivamente, o juiz
cação ou extinção de situações jurídicas processu-
aplica a lei ao caso concreto.
ais. Ele é efeito da vontade de uma pessoa. Exem-
Executio – direito de em nome do poder so- plos: uma petição inicial, uma sentença etc.
berano de que é investida a função jurisdicional,
Em regra, os atos processuais são expres-
tornar obrigatória a obediência às próprias decisões,
sos de forma escrita. Assim, mesmo havendo a
executando-as.
expressão oral (depoimentos), impõe-se a docu-
mentação por escrito. Além disso, só podem ser
redigidos em língua portuguesa (art. 192 do novo
Assim, verificamos como muitos os possí-
CPC), e no caso de documento redigido em língua
veis atos praticados por um juiz. Contudo, quando
estrangeira, deverá vir acompanhado de versão em
falamos em “atos do juiz”, em razão do que dispõe o
vernáculo, firmada por tradutor juramentado (art.
artigo 203 do novo CPC, nos referimos aos despa-
192, parágrafo único do novo CPC).
chos e decisões.

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As principais características dos atos pro- restrito às partes e aos seus procurado-
res.
cessuais são:
§ 2º O terceiro que demonstrar interesse
a) Não se apresentam de forma isolada: são
jurídico pode requerer ao juiz certidão do
ligados uns aos outros, formando uma unidade, dispositivo da sentença, bem como de
inventário e de partilha resultantes de di-
sendo que a validade, finalidade e efeitos somente
vórcio ou separação.
são atingidos quando realizados no processo, no
Art. 192. Em todos os atos e termos do
momento próprio e, em regra, na forma exigida ou
processo é obrigatório o uso da língua
permitida por lei. portuguesa.

b) São ligados pela unidade de escopo: os


Parágrafo único. O documento redigido
efeitos não são autônomos e existem apenas para em língua estrangeira somente poderá
ser juntado aos autos quando acompa-
que o processo chegue ao ato final, que é a senten-
nhado de versão para a língua portugue-
ça. sa tramitada por via diplomática ou pela
autoridade central, ou firmada por tradu-
c) São interdependentes: consequência das tor juramentado.
anteriores, e têm relevância na teoria das nulidades
dos atos processuais. Nesse sentido, é importante a leitura de dois
princípios atinentes aos atos processuais:

a) Princípio da liberdade das formas: sig-


13.1. Forma dos atos processuais
nifica dizer que os atos processuais podem ser rea-
Dispõe o CPC:
lizados por qualquer forma, desde que idônea para
Art. 188 do novo CPC. Os atos e os ter- atingir o seu fim (art. 188 do novo CPC). Assim, se a
mos processuais independem de forma
lei não prescrever uma forma, esta é livre, bastando
determinada, salvo quando a lei expres-
samente a exigir, considerando-se váli- os requisitos de idoneidade e finalidade (art. 211 do
dos os que, realizados de outro modo,
novo CPC).
lhe preencham a finalidade essencial.
b) Princípio da instrumentalidade das
Art. 189. Os atos processuais são públi-
cos, todavia tramitam em segredo de jus- formas: vale dizer que as formas não têm valor
tiça os processos:
intrínseco próprio, mas são estabelecidas para se
I – em que o exija o interesse público ou
social; atingir a uma finalidade (arts. 188 do novo CPC e
II – que versem sobre casamento, sepa-
566 do CPP).
ração de corpos, divórcio, separação,
união estável, filiação, alimentos e guar-
Art. 566. Não será declarada a nulidade
da de crianças e adolescentes;
de ato processual que não houver influí-
III – em que constem dados protegidos
do na apuração da verdade substancial
pelo direito constitucional à intimidade;
ou na decisão da causa.
IV – que versem sobre arbitragem, inclu-
sive sobre cumprimento de carta arbitral,
desde que a confidencialidade estipulada
na arbitragem seja comprovada perante Em regra, quando um ato não cumpre as
o juízo.
formalidades legais, ocorrerá a nulidade.
§ 1º O direito de consultar os autos de
processo que tramite em segredo de jus-
tiça e de pedir certidões de seus atos é
13.2. Classificação dos atos processuais

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Os atos processuais são praticados pelos escrivão, com o auxílio dos correios, ou pelo oficial
sujeitos do processo e possuem diferentes signifi- de justiça, em cumprimento a mandados judiciais.
cados e efeitos no desenvolvimento da relação jurí-
c) Atos das partes: estes atos classificam-
dico-processual, havendo aqueles que se exaurem
se em:
numa só atividade e outros que se apresentam co-
– Atos postulatórios: aquele mediante os
mo soma de atividades múltiplas. Sendo assim,
quais a parte pleiteia dado provimento jurisdicional
classificam-se em atos: dos órgãos judiciários
(petição inicial, contestação e recurso).
(juiz e auxiliares) e das partes; e simples e com-
plexos. – Atos dispositivos: são aqueles através dos
quais se abre mão, em prejuízo próprio, de determi-
a) Atos do juiz: quanto aos atos do juiz,
nada posição jurídica processual ativa, ou mesmo
podemos classificá-los como de provimento e reais
da própria tutela jurisdicional.
ou materiais.
– Atos instrutórios: são aqueles por meio
Atos de provimento são aqueles de pronun-
dos quais as partes buscam convencer o juiz de sua
ciamento do juiz no processo, tendo como espécies
pretensão.
os despachos, as decisões interlocutórias e a sen-
tença. Quanto aos atos materiais do juiz, temos atos – Atos reais: são atos materiais, como, por
de documentação, onde o juiz assina os despachos, exemplo, o pagamento das custas processuais, a
as sentenças, e atos instrutórios, onde ouve as par- prestação de depoimentos etc.
tes, instrui as audiências etc.
d) Atos simples: são aqueles que pratica-
b) Atos dos auxiliares da justiça. São mente se exaurem em uma conduta só. Exemplo:
eles: petição inicial, citação, contestação e sentença.

– Atos de movimentação: feito precipua- e)Atos complexos: apresentam-se como


mente pelo escrivão e seus funcionários ao realiza- um conglomerado de vários atos unidos pela con-
rem a conclusão dos autos ao juiz, concederem temporaneidade e pela finalidade comum. Exem-
vista às partes, expedirem mandado. plos: audiência e sessão.

– Atos de documentação: a lavratura dos


termos referentes à movimentação (conclusão, vis-
13.3. Publicidade dos atos processuais
ta, etc.), a feitura do termo de audiência, o lança-
mento de certidões etc. A garantia da publicidade dos atos proces-
suais está prevista na Constituição da República,
– Atos de execução: produzidos ordinaria-
em seus artigos 5º, LX, e 93, IX, que estabelecem,
mente pelos oficiais de justiça. Trata-se de atos
respectivamente: “a lei só poderá restringir a publi-
realizados fora dos auditórios e cartórios, em cum-
cidade dos atos processuais quando a defesa da
primento a mandado judicial.
intimidade ou o interesse social o exigirem” e “todos
– Atos de comunicação processual: consis- os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário se-
tente em intimações ou citações, é realizado pelo rão públicos, e fundamentadas todas as decisões,
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a pre-

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sença, em determinados atos, às próprias partes e a quência ou efeito processual. No Processo Penal,
seus advogados, ou somente a estes, em casos nos também são impróprios, em regra, os prazos con-
quais a preservação do direito à intimidade do inte- cedidos ao Ministério Público.
ressado no sigilo não prejudique o interesse público
à informação”.
No Processo Penal, deve-se estar atento à
Processos que correm em segredo de
análise sobre se o prazo é PROCESSUAL PENAL
justiça: no Processo Penal, correm em segredo de
ou PENAL, uma vez que a contagem dos mesmos
justiça os processos nos quais há ou houve quebra
se dá de forma distinta.
de sigilo (bancário, fiscal ou telefônico), intercepta-
ção telefônica, e ainda os processos de crimes con-
tra a Dignidade Sexual (arts. 213 e ss. do CP). Mas como se dá a contagem de prazos
PROCESSUAIS PENAIS?

Art. 798 do CPP: Todos os prazos corre-


14. Prazos
rão em cartório e serão contínuos e pe-
remptórios, não se interrompendo por fé-
Os prazos são os lapsos outorgados para a
rias, domingo ou dia feriado.
º
realização dos atos processuais, ou, em outras pa- § 1 Não se computará no prazo o dia do
começo, incluindo-se, porém, o do ven-
lavras, é o espaço de tempo em que o ato proces-
cimento.
º
sual da parte pode ser validamente praticado. § 2 A terminação dos prazos será certifi-
cada nos autos pelo escrivão; será, po-
Os atos processuais realizar-se-ão nos pra- rém, considerado findo o prazo, ainda
que omitida aquela formalidade, se feita
zos previstos em lei, sob pena de preclusão do direi-
a prova do dia em que começou a correr.
º
to de praticá-los (art. 218 do novo CPC). Todo prazo § 3 O prazo que terminar em domingo ou
dia feriado considerar-se-á prorrogado
é determinado por dois termos: o inicial (dies a quo)
até o dia útil imediato.
º
e o final (dies ad quem). § 4 Não correrão os prazos, se houver
impedimento do juiz, força maior, ou obs-
A maioria dos prazos está definida na lei, táculo judicial oposto pela parte contrá-
ria.
mas, em caso de omissão, caberá ao juiz fixá-lo º
§ 5 Salvo os casos expressos, os prazos
(art. 218, §1º, do novo CPC). correrão:
a) da intimação;
Os prazos podem ser legais (quando fixados b) da audiência ou sessão em que for
proferida a decisão, se a ela estiver pre-
pela própria lei), judiciais (os marcados pelo juiz) ou
sente a parte;
convencionais (são os ajustados de comum acordo c) do dia em que a parte manifestar nos
autos ciência inequívoca da sentença ou
entre as partes).
despacho.
Além disso, no sistema vigente, havendo
prazos não apenas para as partes, mas também
Ressalte-se que na contagem dos prazos
para os juízes e auxiliares, surgiu a classificação
processuais, seja no Processo Penal ou no Proces-
que divide os prazos em próprios, que são os fixa-
so Civil, dispensa-se o dia do início, incluindo-se o
dos para as partes, tendo como efeito a preclusão, e
dia do final. Da mesma forma, caso o primeiro dia
impróprios, que são os fixados para os órgãos judi-
do prazo ou o último caia em dia não útil ou feriado,
ciários, de cuja inobservância não decorre conse-

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a contagem é prorrogada para o primeiro dia útil Muitas normas possuem, simultaneamente,
subsequente. natureza penal e processual penal. Nestes casos,
devemos atentar que a lei penal não retroage em
Vamos a um exemplo: Imagine que a parte
prejuízo do réu, o que será importante na conside-
tenha sido intimada numa quarta-feira para a apre-
ração sobre a aplicação da referida norma no tem-
sentação de memórias em cinco dias. O dia da efe-
po, como já vimos no início desta obra. Mas esta
tiva intimação não deve ser computado, ou seja, o
preocupação também ocorre em relação à conta-
primeiro dia do prazo será quinta-feira, vencendo o
gem do prazo.
prazo de cinco dias na segunda-feira subsequente.
Assim, aos institutos de natureza mista apli-
Agora vamos a outro exemplo: Imagine que
ca-se a contagem dos prazos penais. São institutos
o réu tenha sido citado para apresentação de res-
de natureza mista: prescrição, decadência e prisão.
posta à acusação (prazo de 10 dias – art. 396 do
CPP) numa sexta-feira. Como o dia da efetiva cita-
ção deve ser excluído, o primeiro dia seria sábado,
14.1. Prazos das partes, do juiz e do servidor
mas sábado não é dia útil (para o expediente foren-
a) Prazo das partes
se), motivo pelo qual o primeiro dia do prazo será
segunda-feira. Prazo dilatório é aquele que, embora fixa-
do em lei, admite ampliação pelo juiz ou que, por
Contudo, o adiamento do prazo para o pri-
convenção das partes, pode ser reduzido ou ampli-
meiro dia útil subsequente somente ocorrerá nos
ado (art. 221 do novo CPC). Já o prazo peremptó-
casos em que o primeiro ou o último dia do prazo
rio é aquele que a convenção das partes e, ordina-
caia no final de semana ou feriado. Portanto, não
riamente, o próprio juiz, não podem alterar (art. 222,
deverá ser feita qualquer modificação na contagem
§1º do novo CPC). Ao juiz, porém, o CPC permite,
quando caírem no meio do prazo.
em situações excepcionais, a ampliação de todo e
Embora a contagem do prazo no Processo
qualquer prazo, mesmo os peremptórios, desde que
Penal e no Processo Civil ocorra de forma seme-
seja difícil o transporte na comarca ou tenha ocorri-
lhante, existe entre eles uma significativa e impor-
do caso de calamidade pública. Na hipótese de
tante diferença: no Processo Penal não há qualquer
dificuldade de transporte, a ampliação máxima po-
interesse no momento da juntada de um mandado
derá ser de 60 dias, ao passo que na calamidade
por parte do oficial de justiça. No Processo Penal,
pública, poderá até ultrapassar este limite.
os prazos são contados da efetiva citação ou inti-
– Preclusão temporal (art. 223 do novo
mação, e não da juntada.
CPC): “Decorrido o prazo, extingue-se o direito de
E os prazos de direito material, isto é, os
praticar ou de emendar o ato processual, indepen-
prazos PENAIS, como se dá sua contagem?
dentemente de declaração judicial, ficando assegu-
Art. 10 do CP: O dia do começo inclui-se rado, porém, à parte provar que não o realizou por
no cômputo do prazo. Contam-se os di-
justa causa. § 1º Considera-se justa causa o evento
as, os meses e os anos pelo calendário
comum. alheio à vontade da parte e que a impediu de prati-
car o ato por si ou por mandatário. § 2º Verificada a

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justa causa o juiz permitirá à parte a prática do ato lhes em dobro todos os prazos. (Incluído
pela Lei nº 7.871, de 1989)
no prazo que lhe assinar”.

Quando nem a lei nem o juiz fixar prazo pa-


Devemos observar ainda que “quando a lei
ra o ato, será de 5 (cinco) dias para a prática de ato
não marcar outro prazo, as intimações somente
processual a cargo da parte (art. 218, §3º do novo
obrigarão a comparecimento após decorridas 48
CPC).
(quarenta e oito) horas” (art. 218, §2º do novo CPC).
Cumpre ainda observar que “A parte poderá
renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente em
b) Prazos do juiz e do servidor
seu favor, desde que o faça de maneira expressa.”
(art. 225 do novo CPC). Mas para que esta faculda- Em relação ao juiz, o Código de Processo
de seja exercida, é preciso que ele não seja comum, Penal assinala os seguintes prazos:
que o direito em questão seja disponível e que a
Art. 800. Os juízes singulares darão seus
parte seja capaz de transigir. despachos e decisões dentro dos prazos
seguintes, quando outros não estiverem
Embora o artigo 229 do novo CPC indique estabelecidos:
I – de dez dias, se a decisão for definiti-
que “os litisconsortes que tiverem diferentes procu-
va, ou interlocutória mista;
radores, de escritórios de advocacia distintos, terão II – de cinco dias, se for interlocutória
simples;
prazos contados em dobro para todas as suas mani-
III – de um dia, se se tratar de despacho
festações, em qualquer juízo ou tribunal, indepen- de expediente.
dentemente de requerimento”, tal dispositivo, salvo
específica decisão judicial em contrário, não se apli-
Ao serventuário, o CPP marca os seguintes
ca ao processo penal. Assim, se os advogados dos
prazos:
corréus são, por exemplo, intimados da sentença na
mesma data, o prazo para a interposição do recurso Art. 799. O escrivão, sob pena de multa
de cinquenta a quinhentos mil-réis e, na
de apelação será o de 5 (cinco) dias contados da reincidência, suspensão até 30 (trinta)
efetiva intimação, não havendo que se falar em dias, executará dentro do prazo de dois
dias os atos determinados em lei ou or-
prazo em dobro. denados pelo juiz.

Prazos em dobro, no processo penal, so-


mente é garantido à Defensoria Pública, conforme Aplicando-se a tal dispositivo, subsidiaria-
o
disposição da Lei n 1.060/50: mente, o artigo 228 do novo CPC:

Art. 5º O juiz, se não tiver fundadas ra- Art. 228. Incumbirá ao serventuário reme-
zões para indeferir o pedido, deverá jul- ter os autos conclusos no prazo de 1
gá-lo de plano, motivando ou não o defe- (um) dia e executar os atos processuais
rimento dentro do prazo de setenta e du- no prazo de 5 (cinco) dias, contado da
as horas. data em que:
(...) I – houver concluído o ato processual an-
§ 5° Nos Estados onde a Assistência Ju- terior, se lhe foi imposto pela lei;
diciária seja organizada e por eles manti- II – tiver ciência da ordem, quando de-
da, o Defensor Público, ou quem exerça terminada pelo juiz.
cargo equivalente, será intimado pesso- § 1º Ao receber os autos, o serventuário
almente de todos os atos do processo, certificará o dia e a hora em que teve ci-
em ambas as Instâncias, contando-se- ência da ordem referida no inciso II.

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§ 2º Nos processos em autos eletrônicos,


a juntada de petições ou de manifesta-
ções em geral ocorrerá de forma automá-
tica, independentemente de ato de ser-
ventuário da justiça.

Dispõe ainda o CPP:

Art. 801. Findos os respectivos prazos,


os juízes e os órgãos do Ministério Pú-
blico, responsáveis pelo retardamento,
perderão tantos dias de vencimentos
quantos forem os excedidos. Na conta-
gem do tempo de serviço, para o efeito
de promoção e aposentadoria, a perda
será do dobro dos dias excedidos.

Art. 802. O desconto referido no artigo


antecedente far-se-á à vista da certidão
do escrivão do processo ou do secretá-
rio do tribunal, que deverão, de ofício, ou
a requerimento de qualquer interessado,
remetê-la às repartições encarregadas do
pagamento e da contagem do tempo de
serviço, sob pena de incorrerem, de ple-
no direito, na multa de quinhentos mil-
réis, imposta por autoridade fiscal.

15. Apensamento de autos: procedimento.

O apensamento dos autos consiste em ane-


xar um processo aos autos de outra ação, que com
ele tem relação, por determinação legal ou a pedido
de uma das partes.

Devem ser apensados aos autos do proces-


so principal os autos de processos ou medidas cau-
telares (como, p. ex., os autos da interceptação
o
telefônica, Lei n 9.296/96), as exceções (art. 111 do
CPP), os incidentes de insanidade mental (art. 153
do CPP), de restituição de coisas apreendidas (art.
120 do CPP), de falsidade documental (art. 145 do
CPP), e os autos das medidas assecuratórias (arts.
129 e 138 do CPP).

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