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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOҪAMBIQUE

Faculdade de Gestão de Turismo e Informática

O Aborto

Pemba, Novembro de 2021

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOҪAMBIQUE

Faculdade de Gestão de Turismo e Informática

Fundamentos de Teologia Católica

Nome:

Bijú Manuel Intaúra

Helder Filipe Zacarias

Curso: Licenciatura em Tecnologias de


Informação

Ano curricular: 2º/Laboral

Padre: Fonseca

Pemba, Novembro de 2021

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Índice

Introdução..............................................................................................................................2
Definição de Aborto...............................................................................................................3
Classificação do aborto..........................................................................................................4
Causas do aborto....................................................................................................................5
Factores de risco para o aborto...............................................................................................6
Aborto provocado...................................................................................................................6
Para provocar o aborto utiliza-se algumas técnicas:..............................................................6
Consequências........................................................................................................................6
Tipos de Aborto......................................................................................................................7
Métodos..................................................................................................................................9
Quais os sinais de alarme pós-aborto?...................................................................................9
A posição da igreja sobre o aborto.......................................................................................10
A criminalização de aborto em Moçambique......................................................................14
Vantagens e desvantagens do aborto....................................................................................15
Conclusão.............................................................................................................................17
Referencias Bibliográficas...................................................................................................18

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Introdução
Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Fundamentos da Teologia Católica.
Têm como principal objectivo desvendar o tema do aborto, visto que é um tema muito
vasto, no entanto, apesar de não ser novidade é um tema muito polémico na sociedade, e é
identificado pelos políticos como um assunto “fraturante”. Ao longo deste trabalho são
esclarecidos os subtemas fundamentais relativos ao tema “O Aborto” como, por exemplo,
no que consiste o aborto, os vários tipos de aborto que existem, os riscos que podemos
correr ao cometer este ato.

O aborto provocado vem se destacando amplamente nos dias atuais. Trazendo grandes
consequências para a saúde pública envolvendo valores sociais, religiosos, econômicos e
jurídicos. E vem sendo embasado uma crítica, para que este costume seja descriminalizado.
Mas, dando ênfase no art. 5° da constituição federal, diz que todos nós temos direito à vida
e a inviolabilidade da mesma. O aborto e um ato proposital na morte do nascituro (vida
inter ventrum). Tendo, porém vários tipos de aborto como: aborto espontâneo, aborto
introduzido e o aborto legal. O aborto espontâneo: surge quando a gravidez é interrompida
involuntariamente por vontade da mulher, que pode ser por vários fatores biológicos
(gestão precoce). Sendo que o aborto espontâneo acontece quando uma gravidez termina
antes que o feto tenha atingido uma idade gestacional viável. O aborto espontâneo e mais
comum na complicação de uma gravidez.

O aborto é definido como a interrupção da gravidez antes que o feto possa sobreviver fora
do útero. Popularmente, o termo aborto se refere ao término deliberado ou induzido de uma
gravidez, enquanto que o término espontâneo de uma gravidez é chamado
de aborto espontâneo.

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Definição de Aborto
Segundo Helivania Sardinha dos Santos. O aborto é a interrupção da gravidez antes do
período perinatal. Quando ocorre até a 12ª semana de gestação, é denominado de aborto
precoce; após a 12ª semana, aborto tardio.

O aborto é um termo utilizado para designar a interrupção da gravidez antes do período


perinatal, ou seja, quando ainda não há viabilidade do feto. Embora o termo aborto seja
bastante utilizado, o nome adequado a esse processo é abortamento. O período perinatal
corresponde ao período entre a 22ª semana de gestação, quando o feto apresenta a partir de
500 gramas, até a primeira semana de vida do bebé.

O aborto espontâneo, isto é, quando a perda do feto não é consequência de alguma acção


voluntária, é uma intercorrência obstétrica bastante comum e tem motivos
diversos, embora, na maioria das vezes, a sua causa seja indeterminada.

Segundo a Organização Mundial da Saúde. O aborto, do Latim ‘ab-ortus’ (privação do


nascimento), refere-se à interrupção da gestação com a extracção ou expulsão do embrião,
ou do feto de até 500 gramas antes do período perinatal  (que data entre 22.ª semana
completa e os 7 dias completos após o nascimento). Partindo de uma classificação médica,
o aborto pode ser precoce, quando ocorre antes da 13.ª semana de gravidez, ou tardio, entre
a 13.ª e a 22.ª semana. De acordo com o dicionário médico Luís Rey, o procedimento deve
ocorrer antes que o feto seja viável, isto é, o nascituro não consegue sobreviver ainda fora
do útero, após esse período denomina-se parto prematuro.

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Classificação do aborto
O aborto pode apresentar diferentes formas clínicas e, assim, pode ser classificado de
diferentes maneiras. A sua classificação é feita de acordo com os sinais e sintomas
apresentados e complementados com a realização de exames, como veremos a seguir:

1. Ameaça de abortamento: sangramento discreto com ausência de dor ou dor


discreta, apresenta colo do útero fechado e não apresenta alteração no exame de
ultra-sonografia. É recomendado o repouso, abstinência sexual, realização de ultra-
sonografias regulares para acompanhar a evolução da gestação e, se necessário, uso
de medicação indicada pelo médico.

2. Abortamento inevitável: o aborto é considerado como inevitável quando o produto


da concepção perde a vitalidade, o que pode ser evidenciado em exames de ultra-
sonografia. Nesse caso, diferentemente da ameaça de abortamento, há um
sangramento e dor mais intensos, e o orifício do colo uterino encontra-se
entreaberto. O médico determinará a conduta a ser tomada.

3. Abortamento completa: nesse caso, ocorre a eliminação total do produto da


concepção. Apresenta sangramento discreto ou ausente, ausência de dor, colo do
útero fechado e o exame de ultra-sonografia revela o útero vazio, podendo ser
visualizado apenas alguns coágulos. O médico determinará a conduta a ser tomada.

4. Abortamento incompleto: nesse caso, ocorre a eliminação parcial do produto da


concepção. Apresenta como sinais dores e sangramentos mais intensos, o colo do
útero encontra-se entreaberto e o exame de ultra-sonografia mostra restos ovulares.
O médico determinará a conduta a ser tomada.

5. Abortamento infectado: o aborto infectado é caracterizado pela presença de restos


do produto da concepção no útero e a ocorrência de infecção. É observado, nesses
casos, um sangramento irregular, dor, febre, a presença de secreção purulenta, útero
amolecido. Se não tratada de forma rápida, a infecção pode se espalhar e evoluir
para septicemia. Esse tipo de aborto é comum em quem faz aborto de forma ilegal,
devido, principalmente, às condições adversas das clínicas clandestinas. Esse tipo
de aborto apresenta uma alta taxa de mortalidade materna.

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6. Abortamento retido: nesse caso, há a morte do produto da concepção, entretanto, o
material fica retido por mais de trinta dias no organismo da mãe. Não apresenta
sangramento ou dor, mas os sintomas da gravidez diminuem e a ultra-sonografia
revela ausência de batimento cardíaco fetal (BCF) ou ausência do embrião no saco
gestacional, que estando íntegro (ovo inembrionado ou ovo cego), em dois exames
intercalados num intervalo de 15 dias. O médico determinará a conduta a ser
tomada.

7. Abortamento habitual: é considerado como abortamento habitual, os casos em que


a mulher apresenta três abortos espontâneos consecutivos. Nesses casos, é
necessário que o casal busque acompanhamento médico para determinar as causas
desses abortos.

Causas do aborto
Existem diversos factores responsáveis por causarem aborto, entretanto, na maioria das
vezes, a causa de um aborto é indeterminada. Para se tentar descobrir a causa de um
aborto, é necessário exame laboratorial com o material do aborto.

Entre os factores que causam aborto, têm-se principalmente as anomalias


cromossómicas decorrentes de problemas nos gametas, na fertilização ou no processo de
divisão celular embrionária. Esses problemas podem estar relacionados a factores
hereditários, mas na maioria dos casos, ocorre ao acaso.

Outros factores importantes também causadores de aborto são infecções,


como toxoplasmose e sífilis; alterações uterinas, como o útero septado (malformação onde
ocorre a presença de um septo que pode dividir toda a cavidade uterina e até mesmo o
canal cervical); factores imunológicos, como a síndrome do anticorpo anti fosfolipídico
(caracterizada por trombose arterial e venosa, além de complicações e morte fetal);
e endócrinos, como alterações na produção de hormônios da tireóide

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Factores de risco para o aborto
Alguns factores são considerados como factores de risco para o aborto. A seguir, listamos
alguns deles:

 Idade avançada da mãe  –  Com o avanço da idade materna, aumentam-se também


as chances de aborto. Aos 45 anos, por exemplo, as chances de a mulher ter um
aborto pode chegar a 80%;

 Consumo de drogas lícitas (álcool e tabaco) e ilícitas;

 Antecedentes de abortos espontâneos  – o risco de um novo aborto aumentam após


a ocorrência de dois abortos espontâneos;

 Excesso ou baixo peso;

 Uso de determinados medicamentos - é importante informar ao médico quais são os


medicamentos utilizados antes mesmo de engravidar.

Aborto provocado
Aborto provocado é a interrupção deliberada da gravidez; pela extracção do feto da
cavidade uterina de forma doméstica, química ou cirúrgica. Quando se pensa em aborto é
esta forma que é conhecida popularmente.

Para provocar o aborto utiliza-se algumas técnicas:


 A sucção ou aspiração;

 A dilatação e curetagem;

 Drogas e plantas;

 Injecção de soluções salinas;

 Mediante Prostaglandinas;

 Pílula RU-486

Consequências
As complicações do aborto, variam de acordo com o método empregado. Mas as principais
consequências são:

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 Laceração do colo uterino provocada pelo uso de dilatadores;
Perfuração do Útero;

 Perigo de lesão no intestino, na bexiga ou nas trompas;

 Hemorragias uterinas Inflamação do endométrio pós-aborto (infecção uterina


secundária, decorrente do aborto);

 Evacuação incompleta da cavidade uterina. Necessidade de prolongar a sucção e de


fazer uma curetagem imediata.

 Histerectomia (extracção total do útero)

Tipos de Aborto
 Aborto Espontâneo

 Aborto Induzido

O aborto induzido é um procedimento usado para interromper uma gravidez


 Aborto Ilegal

Aborto medicado é feito com pílulas

Surge quando a gravidez é interrompida sem que seja por vontade da mulher. Pode
acontecer por vários factores biológicos, psicológicos e sociais que contribuem para que
esta situação se verifique.

Pode acontecer quando existem malformações congénitas, quando a gravidez resulta de um


crime contra a liberdade e autodeterminação sexual, quando a gravidez coloca em perigo a
vida e a saúde física e/ou psíquica da mulher ou simplesmente por opção da mulher. É
legal quando a interrupção da gravidez é realizada de acordo com a legislação em vigor.
(legislação). Quando feito precocemente por médicos experientes e em condições
adequadas apresenta um elevadíssimo nível de segurança.

O aborto ilegal é a interrupção duma gravidez quando os motivos apresentados não se


encontram enquadrados na legislação em vigor ou quando é feito em locais que não estão
oficialmente reconhecidos para o efeito. O aborto ilegal e inseguro constitui uma
importante causa de mortalidade e de morbilidade maternas. O aborto clandestino é um
problema de saúde pública.

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Um aborto medicado é quando usa-se pílulas que você engole, ou que são colocadas na
vagina, no colo do útero. Este procedimento pode ser feito no começo da gestação, e
eventualmente até 10-12 semanas de gestação, e algumas vezes mais tarde, dependendo de
onde você vive.

Geralmente envolve tomar uma pílula na clínica e depois ir para casa e tomar outra pílula.
Em alguns lugares, você pode ter a opção (ou exigência) de tomar a segunda pílula também
na clínica, embora a maioria das pessoas relata sua preferência por estar em casa (19).
Depois de tomar a segunda pílula, o útero vai ceder, sangrar e esvaziar ao longo de
algumas horas - semelhante a um aborto espontâneo.

Os abortos medicados no primeiro trimestre são seguros e muito eficazes. Mais de 95 em


100 pessoas que fazem um aborto medicado não precisam de tratamento adicional (21,22).
Um número de casos em que as pílulas não funcionam completamente, outra pílula ou um
procedimento de aspiração é usado como acompanhamento. Complicações mais sérias são
muito raras, ocorrendo em menos de 0,4 por 100 casos (5,22,23).

 Vantagens: Um aborto medicado está disponível assim que você souber que está
grávida. Nenhuma anestesia está envolvida, e você provavelmente terá algum
controle sobre quando tomar o segundo comprimido. O aborto seguirá como um
aborto espontâneo. Pode haver a opção de estar em casa (ou onde for mais
confortável) e moldar o espaço de uma forma que melhor atenda às suas
necessidades. Você pode escolher ter alguém com você ou ficar sozinha. Há mais
tempo e espaço para a conscientização do processo de aborto (para outros, isso
pode ser um ponto negativo).

 Desvantagens: Leva-se um ou dois dias para completar o aborto. Sangramento e


cólicas podem ser muito fortes / dolorosas e duram mais do que com um aborto por
aspiração. As pessoas podem questionar se seus sintomas são normais quando estão
em casa, o que pode ser estressante. Os abortos medicados geralmente não estão
disponíveis para gestações mais tardias, como outros métodos.

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Métodos
Métodos comuns de indução de aborto são;
 Evacuação instrumental do útero depois de dilatação do colo do útero;

 Indução médica (fármacos para estimular as contracções uterinas);

O método usado depende em parte da duração da gestação. Pode-se usar drenagem


instrumental para a maioria das gestações Pode-se usar fármacos para gestações com < 11
semanas ou > 15 semanas.

A cirurgia uterina (histerotomia ou histerectomia) é o último recurso e geralmente é


evitada em razão das altas taxas de mortalidade. A histerotomia também causa uma cicatriz
uterina, que pode se romper em gestações subsequentes.

Quais os sinais de alarme pós-aborto? 


A mulher deve recorrer a um serviço de urgência caso se verifique:

 Hemorragia muito abundante (utilização de mais de 2 pensos ultra absorventes por


hora, durante 2 horas consecutivas);

 Sensação de desmaio;

 Súbita e abundante perda de sangue nas 2 semanas ou mais pós IVG;

 Febre alta e persistente;

 Cólicas abdominais acompanhadas de dores violentas;

 Episódios de diarreia persistentes após as primeiras 24 horas;

 Desconforto emocional muito intenso e prolongado, a ponto de interferir com o


quotidiano.

A mulher pode ficar infértil por interromper uma gravidez? 

Os riscos de ocorrerem complicações, nomeadamente infertilidade, decorrentes de uma


IVG são muito reduzidos quando esta é feita em serviços de saúde e com o
acompanhamento médico adequado.

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Pode se fazer uma Interrupção Voluntária da Gravidez e continuar a trabalhar? 

Em princípio sim. Mas essa é uma situação que varia de mulher para mulher e vai
depender também do método de IVG (cirúrgico ou medicamentoso), da situação física da
mulher e da vivência pessoal de todo o processo.

Fazer uma interrupção de gravidez com o método medicamentoso. É normal um


sangramento vaginal de 3 semanas? 

Quando ocorre o aborto, a hemorragia dura em média 10 a 14 dias sendo que, em alguns
casos, pode durar até 60 dias. A hemorragia maior deve acontecer nos primeiros 3 dias;
após isto, a perda de sangue deve tornar-se cada vez menos abundante. Em caso de dúvida,
deve recorrer ao serviço de saúde onde está a ser acompanhada.

A posição da igreja sobre o aborto


O estudo dos primeiros escritos cristãos – dos chamados padres da Igreja e dos teólogos
dos séculos iniciais do cristianismo –, mostra um panorama bastante diversificado. Hurst
(13), analisando a tradição da Igreja nesse campo do aborto, encontra que a razão da
condenação do mesmo era, de início, ligada ao problema do adultério que a interrupção de
uma gravidez ocultaria e ao pecado da fornicação, isto é, do sexo realizado sem a
finalidade procriativa. Para a maioria dos autores da Igreja primitiva, afirma Melo (12), o
aborto condenado como pecado grave é aquele de um feto cuja forma é completa e, por
isso, possuidor de alma, lugar da semelhança com Deus, conforme a teologia da época. Se
o feto não estava animado, isto é, se ainda não lhe havia sido infundida uma alma, não
havia assassinato. O Concílio de Ancira, na Ásia Menor (hoje, Ancara), por exemplo, em
314, distingue a pena aplicada ao homicídio (até o fim da vida) da que é proposta para o
aborto, reduzindo-a para dez anos. São Jerônimo, no século IV, reconhece que, até essa
data, “não há doutrina oficial da Igreja sobre o tema da animação do feto. Isto significa
que, para os teólogos da época, era perfeitamente válido assumir qualquer das duas
hipóteses propostas”, isto é, da animação imediata ou tardia (12).

Em relação a Agostinho (354-430d.C.), Wijewickrema (14) cita a conhecida passagem do


bispo de Hipona em favor da afirmação da distinção entre feto animado e não animado:
“Se o que é brought forth é informe, como uma espécie de ser vivo, uma coisa sem forma

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(informiter), então a lei do homicídio não se aplicará, pois não se pode dizer que haja uma
alma viva no corpo que carece de sentidos, já que ainda não se formou (nondum formata) e
não está dotado de sentidos”. Já Melo (12), após analisar os comentários de Grisez aos
textos agostinianos, conclui: “Honesta e objetivamente não se pode afirmar que Santo
Agostinho assegure como certo que existe pessoa humana desde o primeiro instante da
concepção. O mais correto é ater-se ao que ele mesmo assegura: que não sabe sobre o
assunto mais do que aquilo que propõe São Jerônimo. E já vimos que São Jerônimo coloca
as diversas hipóteses debatidas à época, mas não toma partido por nenhuma delas,
reconhecendo que não sabe quando sucede a animação”. Hurst e Muraro lembram que,
seguindo os textos da época, pode-se afirmar que o aborto é um pecado passível de
punição, porque revela a intenção de ocultar a fornicação e o adultério. Para Santo
Agostinho, diz Hurst (13), o problema do aborto é que, tal como o controle da natalidade,
ele destrói a conexão necessária entre o ato conjugal e a procriação. Não se trata de um
homicídio, mas de um pecado sexual.

O conteúdo argumentativo Presente nos documentos da igreja católica

A análise dos documentos da hierarquia católica sobre o aborto indica algumas constantes
em sua argumentação condenatória. Apoiando-se na tradição cristã, nas intervenções
anteriores do magistério e em dados retirados da ciência, a doutrina oficial católica sobre a
moralidade do aborto é clara, taxativa e se propõe como definitiva. Os argumentos
apresentados pelos documentos oficiais da Igreja apresentam-se como um verdadeiro bloco
discursivo, constituindo-se numa espécie de fortaleza doutrinal estabelecida em torno da
condenação do aborto (3). O elemento central dessa argumentação é a defesa da vida,
reiterada como um princípio absoluto, imutável e intangível. A existência de uma pessoa
humana, sujeito de direitos, desde o primeiro momento da concepção é o pressuposto para
se considerar a interrupção de uma gravidez como um ato homicida em qualquer momento
da gestação e sob quaisquer condições. Assim, esses dois elementos – a sacralidade da vida
humana e a condição de pessoa do embrião – fundam a condenação incondicional do
aborto, integrando argumentos de ordem religiosa, moral e biológica. A autoridade da
Igreja em questões éticas associa-se à desconfiança em relação aos valores morais da
sociedade contemporânea e à proposição da universalidade de princípios estabelecidos
como inerentes à natureza humana.

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O argumento da defesa da vida

A condenação da interrupção voluntária da gravidez funda-se numa proposição de fé,


segundo a qual a vida humana tem caráter sagrado por ser um dom divino. Paulo VI,
citando Pio XII, não deixa dúvidas: “Cada ser humano, também a criança no ventre
materno, recebe o direito de vida imediatamente de Deus, não dos pais, nem de qualquer
sociedade ou autoridade humana” (4). Atentar contra a vida é atentar contra o próprio
Deus. Do direito à vida derivam todos os outros direitos, dos quais aquele é condição
necessária. Assim, o mandamento divino: Não matarás refere-se à sacralidade da vida, que
deve ser respeitada, por vontade divina, segundo um princípio abstrato, absoluto, universal
e aplicável a todos os seres humanos. Uma vez que, segundo o magistério da Igreja, desde
o primeiro momento da fecundação há uma pessoa humana completa, o aborto torna-se um
ato moralmente inaceitável e condenável, verdadeiro homicídio, i.e., um atentado contra a
vida e, consequentemente, contra o próprio Deus, criador da vida, um pecado gravíssimo.

A prática do aborto direto é condenada em razão de provocar a morte de um ser humano


considerado inocente, o que constitui uma situação de tríplice injustiça: contra a soberania
de Deus, único Senhor da vida; contra o próximo, que é privado do direito de existir como
pessoa; e contra a sociedade, que perde um de seus membros. A inocência presumida do
nascituro vem do fato de ser ele incapaz de ato moral. Considera-se, além disso, sua
situação de ser indefeso incapaz de proteger-se de uma agressão.

O recurso à tradição da igreja

Os argumentos acima – a defesa da vida e a concepção da existência de uma pessoa


humana a ser respeitada como uma individualidade ainda no zigoto e no embrião – são
propostos como parte imutável da doutrina eclesial. As referências nesse sentido são
inúmeras e reiteradas. Invoca-se a tradição mais antiga, dos primórdios da Igreja, assim
como os ensinamentos mais recentes de papas anteriores e do Concílio Vaticano II. A ideia
repetida é a de que o aborto foi sempre condenado. Em 1973, diz Paulo VI: “Bem sabeis
que a Igreja sempre condenou o aborto, o que os ensinamentos do nosso Predecessor de
12
venerável memória Pio XII (...) e os do II Concílio Vaticano (...) não deixaram de
confirmar, com a sua imutada e imutável doutrina moral” (4). A Declaração sobre o Aborto
Provocado, de 1974, inicia com a rememoração dessa condenação contínua: “Apoiada na
Sagrada Escritura, a Tradição da Igreja considerou sempre que a vida humana deve ser
protegida e favorecida desde o princípio, assim como nas diversas fases do seu
desenvolvimento. Nessa perspectiva, a ilegitimidade do aborto provocado é um
ensinamento constante e sem lacunas, que se pode encontrar nos padres da Igreja, nos
teólogos da Idade Média, em diversos documentos do Magistério Episcopal e Pontifício.
Todo aborto deve ser absolutamente excluído” (9). Nesta Declaração, reconhece-se a
existência de opiniões divergentes e os fiéis são alertados para a distinção entre o que são
opiniões novas e o que é a doutrina apresentada com autoridade pela Igreja: “(...) conta que
todos os fiéis, incluindo mesmo aqueles que possam ter se sentido abalados pelas
controvérsias e pelas opiniões novas, compreendam que não se trata de opor uma opinião a
outra, mas sim de transmitir-lhes uma doutrina constante do Magistério supremo, que
expõe a norma e os costumes, sob a luz da fé” (5).

A defesa da vida e a Proibição de matar o inocente

Um dos contra-argumentos levantados em relação à defesa da vida feita pelo discurso


oficial católico foi apresentado acima e remete à discussão do conceito mesmo de vida,
considerado excessivamente preso ao seu caráter biológico. Outros argumentos dizem
respeito à incondicionalidade ou à absolutização desse princípio. Teologicamente, a defesa
incondicional da vida é colocada pelo discurso tradicional, invocando-se a fórmula “só
Deus é o Senhor da vida”. Já a abordagem de caráter filosófico invoca o direito à vida,
exprimindo-o na perspectiva da lei natural.

Callahan (18) discute, em texto de 1970, o uso do senhorio de Deus como premissa na
consideração da moralidade do aborto, em primeiro lugar porque tal modo de conceber a
interferência direta de Deus sobre a vida das pessoas e sobre sua morte é teologicamente
discutível. Retira-se assim das pessoas a responsabilidade sobre o cuidado devido à vida
humana. Além disso, embora se possa aceitar como teologicamente correto que “Deus é a
fonte última do direito à vida, isto não resolve o problema de ‘como’ os seres humanos
devem respeitar esse direito ou como enfrentar um conflito de direitos”. Na decisão pela
interrupção de uma gravidez, entram em jogo outros importantes direitos a serem

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respeitados. Não se pode, a priori, defender a primazia do direito à vida sobre todos os
outros direitos humanos.

A criminalização de aborto em Moçambique


Há um mês que o aborto deixou de ser crime em Moçambique. O aborto será permitido nas
primeiras 12 semanas de gravidez. Em caso de violação, o período alarga-se às 16
semanas. Isto vai permitir que as mulheres o façam em segurança, com a assistência de
profissionais qualificados.

Com a legalização do aborto Moçambique tornou-se há um mês num dos poucos países
africanos em que a interrupção voluntária da gravidez (IVG) passou a ser feita com
consequências judiciais, cumprindo as novas disposições legais.

O aborto ilegal é a quarta maior causa de mortes de mulheres em Moçambique . Somente


excepcionalmente o aborto é permitido legalmente quando nos casos de risco de vida para
a mãe, por estupro e nos casos de anencefalia do feto.

A legislação aplicável em Moçambique que considerava ilegal o aborto datava do final do


século XIX, à exceção dos casos em que a vida da mãe ou a sua saúde poderiam ficar em
perigo.

Organizações não-governamentais ligadas à saúde salientam que o aborto é responsável


por 11% dos óbitos registados durante a maternidade em Moçambique.

Muitas moçambicanas desconhecem ainda a legalização do aborto


Antes da despenalização, muitas mulheres corriam o risco de praticarem o aborto de forma
insegura, pois optavam pelo uso de medicamentos não recomendáveis. Ainda assim, um
mês depois, muitas mulheres desconhecem esta lei.
Cezaltina Almeida é ativista da Cruz Vermelha de Moçambique e explica o que isto
significa. “São pessoas que não sabem que existe uma proteção legal e isso significa que
poderemos ficar um pouco longe daquilo que é a materialização da lei sobretudo no mundo
rural. Aqui na cidade ainda há alguma informação que circula mas nas zonas rurais a

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situação é ainda lamentável”. Cezaltina Almeida diz que, mais do que despenalizar o
aborto, há necessidade de as mulheres continuarem a prevenir gravidezes. Mas a tarefa não
é fácil. “Precisamos de trabalhar muito ao nível individual, ao nível das comunidades e ao
nível da sociedade civil e do governo no geral”, destaca.

A despenalização do aborto é tida como uma ferramenta legal para combater gravidezes
indesejadas, abortos inseguros e clandestinos que muitas vezes terminam em mortes de
mulheres.
O artigo 168 do novo código penal permite o aborto no caso de gravidez resultado de uma
violação sexual, má formação do feto ou relações de incesto.
A nova lei gerou muitas críticas no seio da sociedade. Amélia Saveca, líder religiosa,
afirma que nada justifica esta violência. “Não estou convencida que a lei venha solucionar
a situação. Mas sim vai criar mais problemas. Mesmo antes da legalização do aborto já
havia problemas. Tanto mais que as moças vão saber agora que a prática é legal e não
sabemos o que vai acontecer no futuro”. Aborto é muito mais que uma questão médica, ou
uma questão ética ou uma questão legal. É, acima de tudo, uma questão humana, que
envolve o homem e a mulher como indivíduos, como casal e como membros das
sociedades. (Tietze, 1978)

O risco de morte da mulher grávida, salvando a vida da mulher ou impedindo riscos sérios
ou danos à saúde da mulher grávida.

Vantagens e desvantagens do aborto


 Vantagens

 É um método de actuação;

 É independente da actividade sexual;

 Não interfere com a ligação;

 Não exige a participação masculina do sócio;

 Tem uma eficácia alta sobre de 99 por cento;

 Fornece uma dose muito baixa do progestogen;

 Mantem a libido normal;

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 É completamente reversível;

 A fertilidade retorna rapidamente após a descontinuação;

 Desvantagens

 Os distúrbios menstruais são universais, e a maioria de mulheres desenvolvem a


amenorreia dentro de seis meses a um ano;

 Autolimitar quistos foliculares pode tornar-se nos ciclos primeiros;

 Outras mulheres queixam-se da mancha, especialmente durante os meses


primeiros

 Após um aborto, algumas mulheres podem desenvolver a síndrome pós aborto,


que é caracterizada por alterações psicológicas que podem interferir diretamente
na sua qualidade de vida, como sentimento de culpa, angústia, ansiedade,
depressão, comportamentos auto-punitivos, transtornos alimentares e
alcoolismo.

 Ponha em risco a vida da mulher;

 Coloque em risco a saúde física da mulher;

 Constitua um risco para a saúde mental da mulher;

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Conclusão
O aborto provocado vem se destacando amplamente nos dias atuais. Trazendo grandes
consequências para a saúde pública envolvendo valores sociais, religiosos, econômicos e
jurídicos. E vem sendo embasado uma crítica, para que este costume seja descriminalizado.
Mas, dando ênfase no art. 5° da constituição federal, diz que todos nós temos direito à vida
e a inviolabilidade da mesma. O aborto é um ato proposital na morte do nascituro (vida
inter ventrum).

Ao confrontar as posições oficiais católicas em relação ao aborto e os contradiscursos


produzidos sobre o mesmo tema por teólogos, padres, leigos, estudiosos e pesquisadores, é
possível evidenciar não apenas as contradições, ambiguidades e omissões do discurso
oficial católico, mas também observar que, apesar de o tema ser considerado polêmico, não
pode e não deve ser tratado como um dogma ou tabu. A discussão é essencial, já que nos
permite perceber que nem mesmo dentro da Igreja Católica existe consenso sobre essa
questão. Há interpretações distintas do monolítico pensamento oficial.

Desde sempre, a questão do aborto tornou-se particularmente pertinente, enquanto


problemática fundamental pelo reconhecimento da dignidade e respeito pela pessoa
humana (mãe/feto). Assim, exige-se o respeito pelos Seus direitos, determinados pela
Declaração Universal dos Direitos do Homem e perspectivados na sua indivisibilidade.

Após a realização deste trabalho sobre o aborto, como conclusões gerais finais podemos
inferir que:

 Quando alguém se depara com uma questão de moral pessoal ou privada, na qual
não estão em jogo os direitos de outrem. a solução ornamental deverá ser a de
remetê-la para a responsabilidade do sujeito que a enfrente. Pelo contrário. Quando
se está na presença de uma questão que embate com os direitos de alguém, como no
caso do aborto, não bastam as recomendações, mas é necessário recorrer a
prescrições e mesmo a proibições;

 Os pró-vida rejeitam o infanticídio, consequentemente, rejeitam o aborto. OS pró-


aborto, aceitando o aborto. Veem-se compelidos a aceitar o infanticídio.

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Referencias Bibliográficas

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