O documento discute uma decisão judicial que afastou a responsabilidade dos estados-membros no fornecimento de um medicamento de alto custo devido aos impactos econômicos da pandemia. O autor argumenta que a decisão deve ser reformada porque usou parâmetros subjetivos para isentar os estados e limitou as opções de fornecimento, enfraquecendo o direito do beneficiário do SUS.
O documento discute uma decisão judicial que afastou a responsabilidade dos estados-membros no fornecimento de um medicamento de alto custo devido aos impactos econômicos da pandemia. O autor argumenta que a decisão deve ser reformada porque usou parâmetros subjetivos para isentar os estados e limitou as opções de fornecimento, enfraquecendo o direito do beneficiário do SUS.
O documento discute uma decisão judicial que afastou a responsabilidade dos estados-membros no fornecimento de um medicamento de alto custo devido aos impactos econômicos da pandemia. O autor argumenta que a decisão deve ser reformada porque usou parâmetros subjetivos para isentar os estados e limitou as opções de fornecimento, enfraquecendo o direito do beneficiário do SUS.
O demandante propôs Ação Ordinária c/c Pedido de Tutela Urgência em
desfavor da Agravante, requerendo o fornecimento do medicamento NINTEDANIB 150 mg em uso contínuo para tratamento de fibrose pulmonar idiopática grave (CID 10: J841.1).
Nota-se que o ante o dever geral de prestar saúde- existe a responsabilidade
solidária dos entes federativos em decorrência da competência comum, trazendo assim um litisconsórcio passivo facultativo.
No caso em óbice, foi afastada a competência do munícipio na efetivação do
fornecimento do Nintedanib, uma vez que tal medicacão é de alta complexidade, e não é de competência deste ente federativo o fornecimento de farmaco com tamanha especificidade. Sendo assim, via de regra, fica outorgada tal competência para os estados e a União. Não obstante, em razão da Pandemia da Covid-19 e seus reflexos econômicos nos orçamentos públicos, foi decidido pelo afastamento dos Estados-Membros como coparticipantes do financiamento de medicamentos de altíssimo valor, embora sejam considerados responsáveis como a União.
Vejamos o teor do despacho:
“Nesse cenário, “o município não participa do financiamento
de medicamentos da mais alta complexidade técnica, responsabilidade que se reparte, via de regra, entre estados e União ou é assumida exclusivamente pelo ente federal.
Lado outro, considerando os reflexos econômicos da pandemia COVID-
19 no cenário mundial, e no nacional, de forma particular, que imprimiu verdadeiro desequilíbrio nas contas públicas dos Estados-Membros, é importante concluir que não se mostra razoável manter os Estados-Membros como coparticipantes do financiamento de medicamentos de altíssimo custo, embora também responsáveis com a União.
Em consequência, impõe-se que tão somente a União figure com a
responsabilidade advinda dessa tutela de urgência.”
No que pese o costumeiro brilhantismo do d. Magistrado, a decisão merece
ser reformada, haja vista que os parâmetros adotados para o afastamento da responsabilidade de fornecimento dos Estados-Membros são altamente subjetivos, bem como limita o universo de possbilidade do abastecimento do farmaco para o benefeciário do direito.
Ocorre que, embora os Estados-membros tenham sido afetados com os
efeitos econômicos da pandemia, é inegável também que os demais entes federativos também foram vítimas da redução de arrecadação. Ademais, é difícil mensurar a extensão dos efeitos econômicos em cada Unidade Federativa, o que fragiliza o entendimento de que “os Estados- Membros” foram os que tiveram maior desequilíbrio nas contas públicas”, conforme decisão supramencionada.
Vale destacar também que ao considerarmos a existência de um grau maior
de impacto para os Estados-Membros em decorrência da crise sanitária/humanitária, faz-se necessário observar também as “consequências em cadeia” que advém disso, pois os entes federativos são dependentes economicante uns dos outros, como em uma relação simbiótica, e por serem assim, seus desequilíbrios atingem a todos. Logo, não é proporcional outorgar apenas a um membro federativo a responsabilidade de um dever de competência comum, com fundamentos econômicos que são inerentes aos participantes na sua totalidade.
Ainda nessa trilha, no julgamento da Medida Cautelar na Supensão de Tutela
Provisória n°127 -São Paulo, o Ministro Dias Toffoli reforçou que no fornecimento de medicamentos, no SUS, é competência dos Municípios, Estados e União. Nunca, todavia, a União, diretamente.
Ante o exposto, resta clara a necessidade de reforma da decisão, pois além
dela dividir de forma desproporcional os efeitos econômicos oriundos da Pandemia da Covid- 19, ela também limitou o “universo prestacional” do medicamento, uma vez que retirou o dever imediato dos Estados-Membros, enfraquecendo assim a concretude do direito reconhecido ao benefeciário do Sistema Único de Saúde.