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O eu e a vida cotidiana- os atores sociais

Prof. Pedro Mahfuz Junior

Quando chegamos à presença dos outros:

Normalmente procurarão obter informações sobre nós

Surgem interesses em nossa situação sócio-econômica

Observam nossa capacidade e confiança que merecemos

Ocorre, que a informação a respeito do indivíduo, faz com que outros sejam capazes de
conhecer antecipadamente o que se espera dele.
A expressividade do indivíduo, e sua capacidade de dar impressão na interação,
normalmente envolverá duas espécies diferentes de atividade significativa:

1- A expressão que o indivíduo transmite

2-A expressão que o indivíduo emite

A primeira abrange símbolos verbais, ou seus substitutos, que o indivíduo usa


propositadamente para veicular a informação que ele e os outros sabem estar ligada a esses
símbolos. Ou seja, comunicação no sentido tradicional e estrito.

A segunda inclui uma ampla gama de ações que os outros podem considerar sintomáticas
do “ator”, deduzindo-se que a ação foi levada a efeito por outras razões diferentes da
informação assim transmitida.

O indivíduo transmitirá informação falsa intencionalmente por meio de ambos tipos de


comunicação:
O primeiro implica em fraude
O segundo em dissimulação

Das duas formas de comunicação- expressões dadas e expressões emitidas, esta última é o
tipo mais teatral e contextual, de natureza não-verbal e presumivelmente, não-intencional,
quer esta comunicação seja arquitetada propositadamente quer não ( Goffman,1985).

Quando o indivíduo desempenha um papel, solicita de seus observadores que levem a sério
a impressão sustentada perante eles. Pede para acreditarem que o personagem que
observam no momento possui os atributos que aparenta possuir, de um modo geral, que as
coisas são o que parecem ser.

Existe o ponto de vista popular que o indivíduo faz sua representação e dá seu espetáculo
“para benefício de outros”.
De fato, o ator pode estar inteiramente compenetrado de seu próprio número. Pode estar
sinceramente convencido de que a impressão de realidade que encerra é a verdadeira
realidade.

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Por outro lado, o ator pode não estar completamente compenetrado de sua própria prática.
Quando o indivíduo não crê em sua própria atuação e não se interessa em última análise
pelo que seu público acredita, pode-se chamá-lo cínico. O seu oposto seria sincero, para os
que acreditam na impressão criada por sua representação.

O cínico, com todo seu descompromisso profissional, pode obter satisfação pelo fato de
poder brincar à vontade com algo que o público deve levar a sério.
Por outro lado, não podemos afirmar que todos atores cínicos estejam interessados em
iludir sua platéias, tendo por finalidade o que se chama de ïnteresse pessoal”ou “lucro
privado”.

Um individuo cínico pode enganar o público pelo que julga ser o próprio bem deste, ou
pelo bem da comunidade...
Ex. : Um médico que é levado a receitar medicamento inócuo para tranqüilizar o doente.

Park apud Goffman, percebe que a máscara representa a concepção que formamos de nós
mesmos, o papel que nos esforçamos por chegar a viver, esta máscara é o nosso mais
verdadeiro eu, aquilo que gostaríamos de ser. Ao final, a concepção que temos de nosso
papel torna-se uma segunda natureza e parte integral de nossa personalidade. Entramos no
mundo como indivíduos, adquirimos um caráter e nos tornamos pessoas.

Idealização

Quando um indivíduo se apresenta diante dos outros, tenderá a incorporar e exemplificar


valores oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o
comportamento do indivíduo como um todo.
Durkheim apud Goffman, observa que na medida em que uma representação ressalta os
valores oficiais comuns da sociedade em que se processa, podemos considerá-la como uma
cerimônia, um rejuvenescimento e reafirmação expressivas dos valores morais da
comunidade.

Cooley apud Goffman, ressalta que tentamos parecer um pouco melhores do que somos e
este impulso de mostrar ao mundo um aspecto melhor ou idealizado de nós mesmos,
encontra uma expressão organizada nas várias profissões e classes.

Para Goffman(1985, p.41), uma das fontes mais ricas de dados sobre a representação de
desempenhos idealizados é a literatura sobre mobilidade social. Ocorre que, na maioria das
sociedades parece haver um sistema principal ou geral de estratificação e daí a idealização
dos estratos superiores e uma aspiração, por parte dos estratos inferiores, de ascender às
mais elevadas.

Representação falsa

Muitos atores sociais têm ampla capacidade e motivos para falsear os fatos. Somente a
vergonha, a culpa ou o medo, os impedem de fazê-lo.
Como membros de uma platéia podemos sentir se a impressão que o ator procura dar pode
ser verdadeira ou falsa, genuína ou ilegítima, válida ou mentirosa.

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Indivíduos surpreendidos em flagrante no ato de dizer mentiras descaradas, ficam
desacreditados durante a interação, podem ter sua dignidade destruída, pois não merecem
confiança.
Por outro lado, existem as “mentiras inocentes”, provocadas para resguardar sentimentos,
sendo tais formas de inverdades não são consideradas horríveis.

Mistificação

Cooley apud Goffman, entende que a platéia pode ser mantida num estado de mistificação
com relação ao ator. Restrições ao contacto, manutenção da distancia social, fornecem meio
para o temor respeitoso.
(...) a disciplina dos exércitos e das marinhas, por exemplo, reconhece com toda clareza a
necessidade dessas formalidades que separam superiores dos inferiores, ajudando, o
estabelecimento de ascendência não discutida.

Simmel apud Goffman, entende que uma esfera ideal circunda todo ser humano. Uma
esfera desse tipo é colocada em torno do homem por sua honra. A liguagem, com muita
agudeza, designa um insulto à honra de alguém, como intimidade excessiva. A distância
ultrapassada por outrem, insulta a honra do indivíduo.

Para Durkheim apud Goffman:


‘ A personalidade humana é uma coisa sagrada; ninguém pode violá-la ou infringir seus
limites, embora ao mesmo tempo o maior bem consista na comunicação com os outros”.

Bibliografia
Goffman,Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis. Ed. Vozes,1985.

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