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INTRODUÇÃO

Tendo como ponto de partida a notícia recente publicada pelo Estado de Minas, sobre
o encerramento após 30 anos, decidido pelo Conselho de Segurança da ONU, do pagamento
do Iraque pela invasão e danos causados ao Kuwait em 1990, o objetivo deste será comentar
sobre o acontecimento histórico em questão por uma perspectiva do direito internacional, ou
seja, a ilegalidade do feitio do Iraque no território do Kuwait. Além do mais, utilizando-se da
temática tratada no filme Official Secrets (Segredos Oficiais), também será possível
compreender outro caso de ilegalidade da guerra, portanto, serão analisados dois exemplos
que envolveram os Estados Unidos e o Iraque, um conflito em 1990 e o outro em 2003, sendo
que ficará evidente como o último saiu extremamente prejudicado, em termos econômicos e
sociais.

DESENVOLVIMENTO

A fim de compreender a punição do Iraque, é necessário, antes de tudo, uma breve


explicação do acontecimento histórico aqui tratado, destacando as motivações que o levaram a
invadir o Kuwait em 1990, e a Guerra do Golfo, que veio em seguida em 1991 como
consequência, e dessa maneira, entender as sanções aplicadas pela ONU ao Iraque devido aos
danos causados, e é claro, como a ação do país está relacionada com o descumprimento do
direito internacional.
A invasão iraquiana se baseou nas insatisfações do país com algumas ações do
governo do Kuwait, relacionadas ao comércio de petróleo e à Guerra Irã-Iraque.
Primeiramente, na guerra entre Irã e Iraque, o Iraque recebeu ajuda de países como Estados
Unidos, Kuwait e Arábia Saudita, interessados em enfraquecer o Irã, que teria passado pela
Revolução Islâmica em 1979. Entretanto, após a guerra, o Iraque passou a enfrentar uma crise
e, portanto, quando Kuwait decide cobrar os empréstimos feitos durante a Guerra Irã-Iraque,
este torna-se um motivo para que o Iraque, em governo de Saddam Hussein, se posicione
contra o Kuwait, visto que a ajuda dos países citados na guerra não foi isenta de interesses.
No âmbito comercial, em especial o petróleo, o Iraque destaca-se, visto que é um dos
integrantes da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), por apresentar uma
das maiores reservas de petróleo do mundo. Apesar disso, o barril estava sendo vendido na
época por um valor considerado baixo no país, por essa razão, o Iraque também passou a
acusar o Kuwait de comercializar o barril por um valor acima do definido pela organização,
além de acusá-lo de extrair petróleo muito perto da fronteira que os dois países compartilham.
Nesse primeiro momento, os eventos históricos de relevância são: Guerra Irã-Iraque
em 1980 até 1988, que deu motivações para a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990 e,
consequentemente, a Guerra do Golfo entre Estados Unidos e Iraque em 1991.
Posteriormente, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, que ocorreu em 2003.
Após a ação do Iraque sobre o território do Kuwait, a ONU declarou, pela resolução
660 do Conselho de Segurança, que esta havia sido contra os princípios da Carta da ONU
(LUPI p. 517, 2005), e então aplicou sanções, primeiramente econômicas, uma vez que o ato
do Iraque foi contra a soberania e a integridade territorial do Kuwait.
Esses princípios estão previstos na Carta da ONU, art. 2 parágrafo 4, que diz: “Os
membros deverão abster-se nas suas relações internacionais de recorrer à ameaça ou ao uso da
força, quer seja contra a integridade territorial ou a independência política de um Estado, quer
seja de qualquer outro modo incompatível com os objetivos das Nações Unidas”. Além disso,
apesar do objetivo da ONU relacionar-se com a manutenção da paz, existem exceções do uso
da força, presentes no artigo 42, caso o artigo 41 não tenha sido efetivo, no artigo 51 e
também na responsabilidade de proteger, que não é regra escrita, porém virou costume (hard
law), ou seja, obrigatória.
A primeira exceção do uso da força que é o artigo 42, antes precisa se atentar ao artigo
41. “O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de
forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas as suas decisões e poderá instar os
membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção
completa ou parcial das relações económicas, dos meios de comunicação ferroviários,
marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radioelétricos, ou de outra qualquer espécie, e o
rompimento das relações diplomáticas” (Carta da ONU, 1945). Caso essas medidas não sejam
efetivas, o Artº. 42 prevê o uso da força pelo Conselho de Segurança: “se o Conselho de
Segurança considerar que as medidas previstas no Artº. 41 seriam ou demonstraram ser
inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que
julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação
poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas,
navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas” (Carta da ONU, 1945).
É justamente essas duas regras que a ONU aplicou, pois a mesma buscou
primeiramente resolver essa situação sem o uso da força, todavia não foi efetiva e o Iraque
permaneceu no local, apesar da resolução para sua retirada até 15 de janeiro de 1991 e
sanções econômicas, como o embargo econômico, que, aliás, causou uma queda de 75% da
renda per capita entre 1990 e 1993, aguçando a desigualdade no país. Além do mais, o
comércio do petróleo, que gerava muitos ganhos, diminui absurdamente com o corte das
sanções (TRIZOTTO, 2018). Portanto, a falha tentativa leva a ONU a tomar outra medida,
que foi a formação de uma coalizão, uma ação militar legitimada pelo Conselho de Segurança
da ONU para retirar o Iraque do Kuwait.
A segunda exceção do uso da força, sem muito aprofundar, refere-se à
responsabilidade internacional dos Estados de proteger, e como virou costume entre os
Estados, tornou-se obrigatória, uma regra praticada.
A terceira exceção refere-se à legítima defesa, quando o país sofre um ataque armado,
ou seja, ele não o iniciou, portanto tem o direito de revidar e se proteger. A Carta da ONU diz
no Art.° 51: “ Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa
individual ou coletiva, no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações
Unidas {...}”. Outras classificações de legítima defesa são: legítima defesa preemptiva, que é
quando o ataque armado está prestes a acontecer, é iminente, não sendo necessária a
autorização da ONU, apenas a apresentação de provas para o mesmo; a última é a legítima
defesa preventiva, quando o Estado acredita que será atacado, porém, sem provas válidas, é
ilegal. E esse é o caso da entrada dos Estados Unidos no Iraque, considerada invasão.
O filme Official Secrets retrata de forma clara a ilegalidade das ações dos Estados
Unidos, quando Katherine Gun, que trabalhava para a inteligência do governo, descobriu e
vazou a informação de os Estados Unidos juntamente com o Reino Unido estarem planejando,
por meio de ameaça, conseguir votos para aprovar a resolução de intervir no Iraque. Como
agiram contra a decisão do Conselho de Segurança, não seria uma ação legítima. Porém os
EUA utilizaram como justificativa a legítima preventiva, que significa que o país acreditava
que sofreriam ataque armado do Iraque, uma ameaça com as armas nucleares e o terrorismo, e
alegaram também que estariam livrando a população iraquiana da tirania de Saddam Hussein.
Sem provas, entretanto, o ato continuou na ilegalidade.
Porém nem se compara ao Iraque, em termos de punições pelo ato ilegal. Entre as
sanções aplicadas pela ONU ao Iraque em 1991, as principais foram: desarmamento, não
desenvolvimento de armas de destruição em massa e armas nucleares, e pagamento ao Kuwait
depositando 5% de suas vendas de petróleo, que durou 30 anos pela resolução 692 do
Conselho da ONU, como é dito na fonte da notícia.
CONCLUSÃO

Primeiramente, algo que fica evidente ao pesquisar sobre os dois casos de invasão, é
que as sanções não foram aplicadas na mesma proporcionalidade considerando a capacidade
dos atores estatais. O Iraque, que tinha entrado em crise após a guerra com o Irã, foi muito
mais destruído após as interferências dos Estados Unidos. Além da destruição física que gerou
uma imensa diferença na imagem do país, vê-se consequências para a população, em se
tratando da educação, segurança, saúde, entre outros. Infelizmente, os interesses estatais
acabam sendo colocados, em sua maioria, acima da proteção da humanidade.

REFERÊNCIAS

ALVES, Vágner Camilo. A Guerra do Golfo. Revista Tensões Mundiais, 2010. p. 191-207.

BARCELLOS, Andréia. Iraque, Kuwait e Líbia: resoluções da ONU e legitimidade das


ações armadas. Mundão. Disponível em <Iraque, Kuwait e Líbia: resoluções da ONU e
legitimidade das ações armadas (hi7.co)>. Acesso em 13 de março de 2022.

Estado de Minas. Conselho de Segurança da ONU encerra pagamento do Iraque por


invasão do Kuwait. 22 de fevereiro de 2022. Disponível em <Conselho de Segurança da
ONU encerra pagamento do Iraque por invasão do Kuwait - Internacional - Estado de Minas>
Acesso em 24 de fevereiro de 2022.

LUPI, André Lipp P. B. A Guerra do Golfo: legalidade e legitimidade. Novos Estudos


Jurídicos - v. 10 - n. 2 - p.513- 536 jul/dez. 2005.

Nações Unidas. Carta das Nações Unidas. 1945, São Francisco, art. 2, 41, 42 e 51.

TRIZOTTO, Laís Helena Andreis. A Guerra do Iraque e a transformação militar nos


Estados Unidos da América. Porto Alegre : UFRGS, 2018. p. 36-39.

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