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TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO I

Professor Doutor João Alberto Schützer Del Nero


Caderno de Arthur Balbani (188-XII), organizado e revisado por Luiza Rehder (188-XII)

 Os múltiplos sentidos da palavra direito (divididos em 4 grupos)

Os múltiplos sentidos da palavra direito dependem da época e do contexto, assim como em outros casos lexicais.

1) O direito é algo, de alguma forma e em alguma medida, justo, ou seja, onde se pode encontrar justiça
2) O direito é algo que alguém tem (direito de alguém a algo); é um ente inteligível, ou seja, não é
palpável; direito subjetivo
3) O direito é um conjunto de normas e regras que, estabelecidas de alguma forma por alguém,
organizam politicamente determinada sociedade em certa época, além de regulara a vida dos
indivíduos em diversos âmbitos e aspectos; direito objetivo
4) O direito é um tipo de sabedoria prática em que há algum tipo de arte

GRUPO 1

- Padre Antônio Vieira (1644, “Sermão de São Pedro”) → “O perdoar pecados consiste formalmente em
Deus ceder do jus e o direito que a sua justiça tem para os castigar [pecadores]”

- Padre Rafael Bluteau (primeiro dicionário da língua portuguesa) → jus = palavra latina, às vezes utilizada
no português (“não quero perder meu jus”); vide “direito”

- Antônio de Moraes Silva (1789) → jus = substantivo masculino do latim “jus”, “juris” (“j” e “v” aparecem
no latim apenas no séc. XVI, a partir do humanista fr. Petros Ramus), direito
jus = nominativo/juris = genitivo

- Código Civil Brasileiro → Art. 506. Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus, o
vendedor, para exercer o direito de resgate, as depositará judicialmente.

- Luís Vaz de Camões (“Os Lusíadas”, Canto VI, XXVII, 1 a 4) → “Príncipe, que de juro senhoreias,/ De Um
Pólo ao outro Pólo, o mar irado,/ Tu, que as gentes da Terra toda enfreias (...)”
de juro = substantivo masculino; jus, juris; origem genitiva; “com justiça”; “com razão”
“domínio conforme a partilha” → direito objetivo

GRUPO 2

- Constituição Brasileira (1988)

→ Art. 5º (direitos e garantias fundamentais). Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
(...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.


§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte.
1
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais.

→ Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.

→ Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social.

→ Art. 9º. É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das


necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

GRUPO 3

→ Art. 22, CF: Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

→ Art. 24, CF: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

§ 2º - A competência da União (Brasil = formado pela união indissolúvel dos estados + municípios +
DF) para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

→ Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

GRUPO 4

“A moça disse pra outra


Com esse eu não me arrisco
Porque ele estuda Direito
No Largo de São Francisco”

- ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES –

Entes sensível: que se pode apreender por meio de nossos sentidos


Ente inteligível: que se pode compreender por meio de nosso intelecto
...
Direito Objetivo: conjunto de normas e proposições; complexos de palavras dotados de um
determinado significado
Direito Subjetivo: direito de alguém a algo (como no texto do Padre Vieira)

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No GRUPO 1, jus, jure e direito aparentam ser sinônimos; há uma sobreposição semântica

- jus e direito como atributos da justiça divina; há a evocação da ideia de justiça (Padre Vieira = justiça divina)
- de juro = com justiça
- direito = jus (metonímia)
- justiça = justiciae (latim); justo: justus/justa/justum (latim)
- Em Camões, “de juro” aparece com o sentido de direito objetivo, se referindo à partilha mitológica do mundo
(Zeus/Poseidon/Hades)

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No GRUPO 2 (textos constitucionais), direito aparenta ser algo possuído pelo indivíduo (“o direito de alguém a
algo”). É um ente inteligível e classificado como direito subjetivo.

- O texto de Bluteau apresenta um exemplo de direito subjetivo, uma vez que é clara a posse do “jus” pelo
indivíduo
- O uso de “juro” como sinônimo de direito é um arcaísmo, ao contrário de “jus”, uma vez que este quase sempre
indica o direito como subjetivo (especifica/qualifica o direito)

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No GRUPO 3, o direito surge como ordenação/disciplina/regulação da vida em comum que se desenvolve em


sociedades politicamente organizadas. Aparece, aqui, como um preceito/norma de organização e conduta.

- É um direito objetivo, nesse caso. É classificado como ente sensível. Outro exemplo é o trecho de “Os Lusíadas”
do GRUPO 1, no qual o termo “de juro” aparece como o direito da partilha do mundo da mitologia grega (de juro
= “conforme os termos da partilha”)

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No GRUPO 4, “direito” não apresenta sentido similar ao dos outros grupos. O sentido, nesse caso, é o campo de
conhecimento humano que pode ser estudado e apreendido por alguém, de forma que tal alguém venha a
conhecer esse campo.

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 O saber na mitologia greco-romana:


episteme → ciência (o saber por saber) → é o saber contemplativo (theoria); opõe-se à prática (praxis), que
tem a finalidade de agir
phrónesis → prudência → é o saber decisório; busca-se o saber para poder agir “corretamente”, tomar uma
decisão; não é contemplativo pois busca uma ação; e não é prático, pois visa a tomada de decisões
* O direito é um exemplo de phrónesis. O estudo do direito, portanto, visa auxiliar na tomada de decisões. Por seus aspectos
práticos, tem influência da techne (uma vez que o jurista usa as normas do direito objetivo para dar forma a algo).
techne → arte (habilidade)

O direito se aproxima mais da arte do que da ciência. Mas, sobretudo, é mais próximo da prudência
(“jurisprudência”)

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 São Tomas de Aquino e as quatro virtudes:
Prudência: “aptidão da regra prática;
- justiça
capacidade para deliberar se, quando,
- prudência → “causa, medida e forma” (a mais importante das virtudes) onde, para que, por que e, sobretudo,
- fortaleza como agir” → exige conhecimento e
- temperança razão

passado memória

CONHECIMENTO
novas
hipóteses/conjecturas
presente inteligência obtida por

estudo

1) razão precaução
aplicação do 2) razão circunspecção
conhecimento à ação
RAZÃO (razão que pondera, avalia
(avalia a adequação dos
meios aos fins) todas as situações presentes)
3) razão providência

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NORMATIVIDADE, PROPOSIÇÃO, TIPOS DE DISCURSO E PRESCRIÇÕES

 Apenas a normatividade é condição necessária e suficiente para a vida organizada em sociedade


 Proposição = conjunto articulado de palavras que, no seu conjunto, apresenta determinado significado
Função das proposições:
1. Asserções
2. Exclamações
3. Interrogações
4. Comandos
 Funções do discurso:
1. Científico: descritivo; fazer alguém conhecer algo
2. Expressivo: discurso político/literário; fazer alguém participar de algo
3. Prescritivo/normativo: fazer alguém fazer algo

O discurso jurídico não pode ser reduzido ao discurso científico e, portanto, o direito
se afasta da ciência e se aproxima da prudentia.

 Classificação das prescrições (Classificações são úteis ou inúteis, dependendo da finalidade):


1º critério: quanto à relação entre o sujeito ativo e o passivo da prescrição*
2º critério: quanto à forma da prescrição
3º critério: quanto à função da prescrição

* Prescrições autônomas X Prescrições heterônomas

o sujeito que põe o sujeito que põe


a norma e o a norma é
sujeito que a diferente do
segue são a sujeito que segue
mesma pessoa a norma

 Para Kant, o direito é um conjunto de prescrições heterônomas do legislador externo; a moral, por sua vez,
é um conjunto de prescrições autônomas do legislador jurídico interno de todos nós (a razão prática)
 No entanto, tais determinações não são únicas. A moral é heterônoma no aspecto religioso (mandamentos
religiosos). No direito, há prescrições autônomas, como a esfera de autonomia privada e os contratos
(norma de conduta que depende da vontade das partes que se submetem a tal regra).

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OS TEMAS DO DIREITO PRIVADO

 Relação de interesse entre dois entes: um que experimenta uma necessidade e outro que, em tese, satisfaz
a necessidade
 Grandes temas do Direito Privado: pessoas, bens, negócios jurídicos
 A pessoa humana é suficientemente digna para dar normas a ela mesma (também é apta para tal)

 Código Civil Brasileiro → parte geral


1. Dos bens
2. Das pessoas
3. Dos negócios jurídicos
 Lógica aristotélica (ôntica [verbo = “ser”]): “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; logo,
Sócrates é mortal”
 Lógica deôntica (verbo = ser + auxiliar) [“deve ser”]): “Se é A, deve ser B”

Proibição (C) = Obrigação (obrigação: norma estabelecida para/com outra pessoa) (não-C)
Ordem (C) = Obrigação (C)

Dinamismo da ordem institucional: mudança nas ordens e proibições


Norma de competência: tratam de como se podem produzir novas normas (podem estabelecer relações
de pessoas: o sujeito à norma e a competente pela norma) de forma permanente

MODALIDADES NORMATIVAS DE CONDUTA

“=”: compara sinônimos


Obrigação X-Y (C) = Pretensão Y-X (C) “”: símbolo da negação; une
  - são itens contraditórios
Permissão (não-C) X-Y = Não-Pretensão (não-C) “∧”: “e”

1) Obrigação X-Y (C): obrigação de X para com Y em relação ao tema C, em que C descreve o ato/tema.
2) Pretensão Y-X (C): Y tem a liberdade/faculdade que a pessoa X pratique o ato C, se não houver a
prática de C, pode haver a imposição em juízo (há consequência jurídica pelo não cumprimento do ato
C). O titular da pretensão pode dispor sobre ela.
3) Permissão X-Y (C) = Não-Proibição X-Y (C) [não há a proibição de C] = Não-Obrigação [não há a
obrigação em omitir o ato C]; permissão = ausência de proibição e da obrigação da omissão

Liberdade (C) = Faculdade (C) = [dupla ausência de proibição e ordem] = não proibição (C) ∧ não
ordem (C)

Liberdade (C) = não obrigação (não-C) ∧ não obrigação (C) [liberdade é a não obrigação da omissão e
da prática de C]

MODALIDADES NORMATIVAS DE COMPETÊNCIA

Competência X-Y (F) = Sujeição Y-X (F)


 
Incompetência X-Y (não-F) = Imunidade Y-X (não-F)

 O ato jurídico é o ato mediante o qual a pessoa capacitada denuncia a violação da norma jurídica.
No campo do direito privado, é nomeado declaração dispositiva ou negócio privado, o processo de
criação da norma jurídica enunciativa
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 As normas de competência devem:
a) Identificar a pessoa a qual a ação se identifica (X) [competência pessoal]
b) Quem está sujeito a ação jurídica de competência de X (Y) [competência material]
c) Identificar o campo possível de produção de efeito (F) [competência procedimental]
- quais os atos anteriores à enunciação do ato

 O correlativo da competência é a sujeição é a sujeição; a pessoa submetida (Y) é aquela que


segundo as normas da competência material de X está sujeita ao ato F.
 Autoridade Pública X Autonomia Privada (poder da pessoa criar normas jurídicas para si
mesma e dispor sobre seus próprios interesses; capacidade de legislar para si mesmo)
 Coordenação jurídica entre duas pessoas = contrato
 Função social da autonomia privada: reconhecimento que o indivíduo não é uma mera
engrenagem do sistema (sem perda da individualidade). Convivência entre interesses
individuais e coletivos.
- A ordem jurídica atribui não qualificadamente a toda pessoa normal essa competência.
- Competência autônoma, visto que estabelece normas apenas para si mesmo.
- Essa competência pode ser transferida de um indivíduo para outro (perdão da dívida)

Traços característicos da função social:


1) Não qualificada
2) De livre exercício
3) Autônoma
4) Transferível

 Imunidade = ausência de sujeição (todos são imunes àquelas que não tem competência
[incompetência = correlativo da imunidade] sobre a pessoa)

 Função das normas jurídicas de competência:


- Direitos/deveres são encarados como entidades substanciais metafísicas criadas por certos fatos
jurídicos criadores de efeitos jurídicos; devem ser encarados (a experiência jurídica) como uma
experiência linguística

 As modalidades normativas são expressões do conteúdo/significado normativo das normas


jurídicas
- O uso, no caso, dos termos jurídicos direito/dever é errada pois trata de diversas situações ativas
(liberdade, pretensão, proibição, competência, imunidade...) e passivas (obrigação, não-pretensão,
sujeição, incompetência...)
- A dicotomia direito subjetivo/dever deve, portanto, ser entendida
- Não se usa o direito objetivo no caso, pois é o campo do direito subjetivo

Direito subjetivo: totalidade articulada de modalidades lógicas normativas, com predomínio das
normas ativas
Dever: totalidade estruturada lógica e articuladamente com predomínio das normas jurídicas
passivas

“O devedor tem o direito de cumprir a dívida”


competência pretensão

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ALGUNS CONCEITOS LÓGICOS APLICADOS AO DIREITO

f = antecedente
q = consequente M. Tollens (negação)
f q fq
f  q → enunciado
Silogismo: raciocínio composto de duas verdadeiro
V V V
premissas (maior e menor) e a conclusão q → conseq. falso
f → antec. falso
V F F
Silogismo hipotético-condicional
f  q (1) → hipotética/condicional
F V V f (2) → categórica
f (3)
F F V

Normas jurídicas podem ser expressas essa lógica condicionada no


modelo “se o caso X, então a solução Y”
Consequência (Y): típica, consequência tipo (pena de 6 a 20 anos)
Caso (X): evento tipo (ex.: homicídio)

 Norma jurídica geral: o antecedente não é singular, mas um evento tipo; o contexto e as
circunstâncias são diversas

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O DIREITO COMO FENÔMENO CULTURAL E LINGUÍSTICO

1) Crocodilo é polissílabo
2) Crocodilo é réptil
3) Um crocodilo me mordeu

 O direito é um fenômeno cultural e linguístico


 Umberto Eco: “As barras indicam que se está a falar de algo entendido como significante, expressão,
veículo de um conteúdo. Toda vez que um objeto não linguístico aparecer como objeto, ele virá entre
duas barras e letras cursivas. As aspas francesas estão esclarecendo a referência ao significado de um
significante. O significante veicula o significado, como será visto na discussão do significado.”

1) crocodilo é polissílabo
2) crocodilo é réptil
3) um crocodilo me mordeu

 “É comum no uso de alguns enunciados legislativos ou normativos” → norma é um significante; algo


que veicula um dado significado/conteúdo. “ A norma enunciada no Art. 1º do Código Civil”, por sua
vez, indica um significado (a palavra norma).

→ Interpretação da norma: representada entre barras; a interpretação da norma original, localizada


entre aspas francesas

a) disposição legislativa (significante)


b) norma como expressão (significado)

- Uma só disposição pode expressar várias normas (Art. 5º trata de vários incisos)
- Muitas disposiçõessão ambíguas, logo, admitem várias normas disjuntivas/conflitantes, em
virtude das múltiplas interpretações possíveis (Art. 5º indica que “todos são iguais perante a lei,
brasileiros ou estrangeiros residentes no país, sem distinção de qualquer natureza [...]”; o
estrangeiro não-residente [“é possível violar o direito à vida de um estrangeiro não residente no
país?”], que está de passagem, entra nos termos do Art.5º?)
- Disposições sinônimas (em todo ou parte): váriasdisposições indicam a mesma norma (um
único conteúdo normativo)
1) CF: Art. 5º, inciso XXXIX – Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
2) CP: Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem comutação legal.

1) CF: Art. 1º Homens e mulheres são iguais em direitos e deveres (...) nos termos da Constituição [a igualdade
não é apenas tratar igualmente os iguais, mas também tratas desigualmente os desiguais na medida da
desigualdade].
2) CC: Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

- Há disposições que não expressam norma alguma (sem significado


normativo/prescritivo/deôntico)

Preâmbulo da Constituição: “nós, representantes do povo brasileiro [...] promulgamos, sob a proteção de Deus,
[...]”→ sem valor normativo; indubitavelmente, pela formação do país, o país e a sociedade são de tradição
judaico-cristã

- Norma fragmentada: discurso normativo não prescritivo (não pertence à lógica deôntica);
definição de algo

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- Norma fraca: tem sentido normativo que remete diretamente (em si mesma) a outras normas (Art
1º da Constituição Federal: “homens e mulheres são iguais nos seguintes termos da Constituição)
- Normas jurídicas sem disposições legislativas: os significados não podem ser extraídos do
discurso legislativo (artigos de fontes consuetudinária* e normas implícitas/não expressas**)

*Locador propõe ação contra o inquilino, pedindo:


1) Indenização pelo mal cuidado do mármore ao redor do vaso sanitário pois o inquilino urinava fora do vaso
Solicitação para que o inquilino urinasse sentado para não danificar mais o mármore
Resposta do Tribunal: “é de costume na Alemanha que os homens urinem de pé, logo, 2) é improcedente

**Normas que podem ser inferidas a partir de normas explícitas por meio de raciocínios válidos (decorre de uma
norma)
1) Podem ser inferidas a partir de normas explícitas por raciocínios válidos (não decorre de uma norma)
2) Podem ser inferidas a partir de argumentos retóricos/persuasivos (ex.: analogia); princípios gerais do direito
(razoabilidade, proteção a parte menos favorecida, proporcionalidade, etc.)

Todo discurso jurídico é um discurso normativo, mas o contrário não é verdadeiro. Qual é, portanto, o traço
característico do discurso jurídico?

1) O Direito, e somente o Direito, disciplina em última instância o uso da força (BOBBIO)


2) O direito, e somente o Direito, institui normas que disciplinam sua própria criação e aplicação (HART)
3) No Direito, e somente no Direito, há órgãos e juristas encarregados de aplicar o direito (ROSS)

As normas são instruções dirigidas aos juízes e aos processos jurídicos.


São enunciados lógicos-hipotéticos ou condicionais.
“Se você quiser aprender química, estude-a”

 Vontade da lei (complexo de significados) ≠ vontade do legislador


 Norma jurídica: hipótese → consequência
 Aspectos:
- Onomasiológico: o emissor possui o pensamento e busca a expressão verbal para fazê-lo conhecido no
mundo sensível
- Semasiológico: o receptor possui a expressão verbal e caminha em direção ao pensamento com o
propósito de compreender a mensagem
 O direito cria uma linguagem própria e abstrata (ex.: conceitos jurídicos tem operatividade e existem,
unicórnios não)
 Kelsen: positivismo científico (normas fomalizadas e rígidas; teoria do direito puro) e normatividade →
fazer do direito uma ciência exata
 Interpretação autêntica: autoridades competentes que realizam as interpretações a partir de sua
vontade
 Interpretação doutrinária: escolha de um dado significado para a norma que se dá de maneira política

 Corrente Objetiva (vontade da lei) x Subjetiva (vontade do legislador)


 Escola histórica do direito: C. F. von Savigny (adaptar o direito romano para o direito civil e oposição à
codificação das leis alemãs) [ x Thibault]
 Escola Pandectista (Windscheid): assim como a histórica, analisava o direito romano e o adaptava para
aplicação prática
 Método interpretativo das leis: a vontade do legislador (histórico; analisar a época de criação da lei
[objetivo de criar a lei]) x a vontade da lei [análise dos dias atuais]
 Teoria realista (analisar o objeto em si, o real) x subjetiva (analisar a vontade do autor)
 É impossível dissociar a lei do legislador sem interpretar, uma vez que esse ato já depreende uma
intrepretação
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INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

Desafio Kelsiano:
Lei 1061/50: qualquer pessoa que se declarar pobre tem isenção de todas as despesas judiciais. No entanto, se o
juiz que há razões fundadas para anular o pedido, ele tem autorização para isso.

↑ clareza do texto = ↓ interpretação


Conflito de códigos
- francês (1809): claro e impreciso
- alemão (1896): complexo e preciso

1) Métodos

a. Gramatical (linguagem), lógica (se não há contradição, etc) e sistemática (texto comparado com outras
normas; hierarquia) → apenas textual
b. Histórica, sociológica (análise atual) e evolutiva (mutabilidade do contexto faz a norma se adaptar;
contextual) → fático
c. Teleológica (análise da finalidade da lei) e axiológica (análise dos valores da lei) → propósitos, valores e
finalidades

2) Tipos

a. Especificadora: segue o previsto na norma


b. Restritiva: restringe o escrito na norma, regulando-a
c. Extensiva: expande a interpretação da norma

→ Integração: o sistema jurídico não pode apresentar lacunas (falhas) nem antinomias (contradições
normativas); caso ocorram, devem ser usadas

a) Analogia
- Legis: observa-se uma lei com princípio similar
- Iuris (indução amplificadora): extrai-se um conceito legal particular, aplica-se no geral e novamente no
particular geral
b) Costumes: podem ser reiterados de um tribunal (jurisprudência) dados costumes para que estes se
tornem resolutivos
c) Princípios gerais de direito: ideias que definem o direito; ideias que permeiam todos os direitos, não
sendo extraídos apenas de UMA regra
d) Equidade: intuição do juiz para resolver o caso concreto e que deve ser baseada em aspectos reais

- Limites da integração:
1) Tipicidade fechada: limita a analogia a dados casos
2) Ius singulare: as exceções não podem ser ampliadas; exceção restritiva
3) Não generalização: algumas leis não podem ser generalizadas

 A presença exclusiva do texto normativo não serve de nada, pois é necessário entende-la e aplica-la. É
preciso transformar a ||norma|| em norma
 Hermenêutica: vem do deus grego Hermes, que interpretava as normas dos deuses e as repassava de
forma Inteligível aos mortais
 Definição ↔ Interpretação

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DEFINIÇÃO: pode ser usada para referir-se à atividade de significação (determinar significado) de um
termo ou sintagma ou ao resultado da atividade (definição produto); o produto é um enunciado
definitório, em que se define o significado de termo/sintagma
 Sintagma = unidade semântica resultante da ligação ou aglutinação de dois ou mais termos
(estrutura composta)
 Termo = unidade semântica simples
 Dentro da linguagem jurídica, há tanto termos simples (casamento, divórcio) como sintagmas
(aviso prévio, justa causa, férias proporcionais, boa fé, parente em linha reta [pai e filho], parente
em linha colateral [irmãos])
 Se a definição atividade leva a definição produto, este é apenas um enunciado linguístico. A
mesma palavra (definição) apresenta polissemia.
 Definições lexicais informativas descrevem que modo(s) o termo ou sintagma é efetivamente
usado por alguém (geralmente, uma comunidade linguística). A descrição de algo é, também, a
descrição de comportamento linguístico de alguém por algo. E, por conta disso, assume em papel
de enunciados factuais (por serem factuais, podem ser veredadeiros ou falsos; ex.: o adjetivo
“majestoso”, na língua portuguesa, aparenta ser impróprio para caracterizar o substantivo
“minhoca”, ao contrário dos substantivos “leoa” ou “tigresa”), enunciados descritivos ou
enunciados de fato.

“Na comunidade linguística X, o termo Y pode ser usado dos modos 1, 2 e 3. Se o uso for diferente
desses (ex.: 7), ele é equivocado ou falso)”

 Definições lexicais: encontradas em dicionários ou enciclopédias. Nessas definições, o


enunciado é descritivo e a verdade caracterizada pelo uso correto (1, 2 ou 3), e a falsidade,
pelo incorreto (4, 5, ...)
Ex.: majestoso ≠ ínfimo (logo, se o enunciado diz o contrário, ele é falso)

 Definições estipuladoras: propõe-se usar um termo/sintagma com um certo significado em


detrimento a outro (restingir o sentido)
 São necessárias/oportunas quanto se introduz ao discurso um novo tema. Enquanto novos
temas são raros, não os são os sintagmas. Deve ser empregado o termo pelo “auditório”
para a apreciação da veracidade do sentido
 São, portanto, as definições por excelência (ontonomásia), uma vez que há proposta de uso
de outros modos/contextos
 Estipula, ou tacitamente supõe a estimular, quem decida usar ou entender uma expressão
de um determinado modo

 Redefinições: grande parte dos termos e dos sintagmas têm significados imprecisos (ambíguas e
vagas). A ambiguidade é relativa à compreensão ou conotação do termo/sintagma (atribuição dos
aspectos que justificam a atribuição daquele termo/sintagma)
 A vaguidade de termo ou sintagma diz respeito à sua extensão/denotação (ex.: o rio
Amazonas pode ser encaixado na categoria de córrego?) (identificação dos entes que podem
ser associados a um nome).
 Vaguidade/ambiguidade = deficiências (ex.: um homem de 1,75m é alto? E um de 1,20m? E
um de 2,10m?) de todas as línguas naturais

 A atividade que torna preciso um termo ou sintagma é a redefinição, que se subdivide em


denotativa (vaguidade) e conotativa (ambiguidade). A redefinição é estipuladora, pois propõe uma
nova definição para o termo no discurso (e não podem ser verdadeiras/falsas, pois não estão no
âmbito descritivo, apenas prescritivo)
 Não é o campo da descrição de algo, mas da prescrição/norteamento da conduta a partir de
dado momento
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Desorientar x Desnortear
→ bússulas medievais: duas setas
Oriente: função cultural (o sol nasce do leste)
Norte: fundamento físico/magnético

 São adequadas ou inadequadas; úteis ou inúteis


Ex.: 1) Arquiteto reforma o banheiro → útil
2) Concurso de magistratura → inútil

INTERPRETAÇÃO: pode referir-se à significação (identificação do significado) de termos/sintagmas ou


enunciados completos/textos/discursos, além de também indicar o resultado ou produto dessa
atividade
 Interpretação da atividade e interpretação do produto (portanto a interpretação é
congênera à definição)

 Em rigor, a atividade intelectual de determinado significado é exatamente a mesma na


interpretação e na definição, apesar da aparência de maior abrangência da interpretação
 A interpretação produto é uma pluralidade de enunciados interpretativos, uma vez que
termos/sintagmas/enunciados completos apresentam múltiplos significados

 Interpretação-apuração (≈ definições lexicais) [acertamento]


- Exame minucioso, inquisição minuciosa. Encontrar o(s) significado(s) do
termo/sintagma/enunciado mediante um exame pormenorizado. Realçar e descrever (ou
conjecturar) o significado.
- Enunciados factuais, puramente descritivos (verdadeiros/falsos)
- Terá a forma de um rol/lista de significados possíveis para o texto em questão
 Interpretação-decisão (≈ definição estipuladora)
- Determina o significado que a expressão linguística terá. É estipulação. Os enunciados
interpretativos que resultam desse tipo têm papel orientador. Índole prescritiva e
normativa.
- Não são verdadeiras ou falsas, apenas oportunos/inoportunas, úteis/inúteis, etc.
 Jurista (estudioso do direito) ≠ juiz
- O jurista determina os sentidos de uma lei, pela interpretação ou apuração
- O juiz resolve os casos a partir do sentido escolhido pela interpretação-decisão; não é
necessário apenas conhecer a lei, é preciso escolher o significado pertinente

 A definição lexical dos termos/sintagmas depende do contexto de uso e histórico (ex.: sacana →
aquele que mantém relações incestuosas com a própria mãe), além da comunidade linguísticas
 Definição estipuladora → propositiva, definidora do sentido em dado contexto (“definição
decisória”); pode ser útil/inútil, pertinente/impertinente
 Interpretação-apuração: enunciados do discurso descritivos (factuais), é usada para obter os
sentidos possíveis para um dado termo
 Interpretação-decisão: definitória, usada para determinar um sentido específico para um
enunciado normativo

Todo e qualquer enunciado jurídico em língua natural apresentará ambiguidade e/ou vaguidade. Supondo
que uma norma seja vaga, ela terá os significados S1, S2, S3.
1. O intérprete atribui à norma um dos significados catalogados (interpretação ≈ redefinição) e, dali
em diante, a norma sempre terá, no caso analisado, aquele sentido.

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2. O intérprete pode atribuir à disposição legislativa um significado distinto dos apresentados (S4).
Aqui, a interpretação não consiste mais em apurar o significado, mas sim em criar um novo significado,
resguardadas as devidas restrições.

Portanto, as interpretações apresentam três sentidos diferentes no discurso jurídico:


1) Apuração ou conjectura de um significado. Operação intelectual cognitiva → interpretação científica
2) Decisão sobre um significado, estipulação do significado. Operação decisória. Ato de vontade
(faculdade volitiva). Não busca o conhecimento, mas usa a vontade para determinar algo →
interpretação política.
3) Criação de um novo significado (“É a criação de uma interpretação ou não?” Umberto Eco: os limites
da interpretação). Ato mais legislativo do que judicial (e interpretativo).

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A PERSONALIDADE JURÍDICA E A CAPACIDADE NO DIREITO CIVIL

O ser humano é a origem e o destino das ordens jurídicas. Nesse sentido, o autor e o destinatário das
modalidades normativas são:

ENTIDADES ABSTRATAS CRIADAS PELO HOMEM = PESSOA JURÍDICA (são criadas por analogia)
 Ente criado por lei para facilitar a atuação humana em certas relações. A lei empresta-lhe
personalidade, capacitando-o para ser sujeito de direitos e obrigações.

AS PRÓPRIAS PESSOAS (SERES HUMANOS) = PESSOA NATURAL (FÍSICA)


 Personalidade jurídica = atributo jurídico dado pelo direito
 Razão da atribuição: o homem é a coisa mais importante em toda e qualquer ordem jurídica
 As pessoas humanas, nesse sentido, são chamadas de pessoas físicas
 Personalidade apresenta dois sentidos:
1. Atributo (qualidade que permite a alguém ser sujeito de direito e deveres; física/jurídica)
2. Conjunto dos traços de um indivíduo (característicos) com privilégio central na ordem jurídica
Considerados aqueles traços:
- que qualificam sua dignidade
- de apenas pessoa física
 Para Kant, o homem é de tamanho valor de que é irrepetível e grandioso. Não é possível duplicar o
homem. O homem não deve ser um meio para alcançar algo, ele é um fim em si mesmo.
(personalismo ético kantiano)
 Imperativo categórico (sem exceção): ao agir de forma A ou B, o homem buscará um modo/uma
máxima (regra) de conduta. O lema de conduta deve ser moralmente correto e aceito pelos demais.
 A dignidade da pessoa humana se exprime nos direitos fundamentais (nome, autoria, vida). Logo, a
dignidade se traduz no conjunto dos direitos humanos fundamentais.
- No entanto, a dignidade não se esgota com os direitos fundamentais. É importante considerar,
também, a existência de deveres, que também não esgotam o tema.
“Atrás do Ganges de direitos, há o Himalaia de deveres”
“A quem muito foi dado, muito será exigido”
 O primeiro sentido da personalidade implica na dignidade como subjetividade.

 Capacidade de direito/Capacidade jurídica/Capacidade de gozo


- Impossibilidade de certas ações por parte de pessoas jurídicas (ex.: casamento) e outras por parte de
pessoas naturais (fusão, cisão)
- Quantitavamente, a capacidade jurídica aponta a extensão da personalidade jurídica das aptidões de um
dado sujeito (“se tem” ou “não se tem”)
- Capacidade jurídica (suscetibilidade arbitrária de algo) = medida das aptidões de um sujeito
- EVITAR o termo “capacidade de fato” (cair no equívoco de achar que a concepção “capacidade jurídica” é
do mundo jurídico e, portanto, “capacidade de fato” é do mundo real/dos fatos)

 Capacidade de exercício/Capacidade de fato


Ex. 1: Nenê de duas semanas de idade (come/chora/dorme) tem personalidade jurídica?
- No Brasil, a personalidade jurídica é atribuída a partir do nascimento
Além de ser dono da chupeta e da fralda, ele pode ser dono de algo? (capacidade jurídica do nenê)
- Sim. Supondo que ambos os pais morram, tudo fica com o nenê, se ele for o único herdeiro.
- O nenê, no entanto, precisa de alguém para auxiliá-lo a executar sua capacidade de exercício sobre os
bens adquiridos.
 Forma de proteção, nos casos em que a pessoa não tem condição de deliberar sobre seus
interesses (substituição [representação] e coadjuvação [assistência])

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 Incapacidade → determinada pelos artigos 3º e 4º do Código Civil
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:


I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

 Legitimidade
- Capacidade de exercício (aptidão para exercer um determinado tipo de ato) ≠ legitimidade (aptidão para
exercer um determinado ato; analisa o tipo de ato, contexto e circunstância)
- É um tipo de capacidade muito mais pormenorizada
- A pessoa pode ser capaz, mas não ter legitimidade jurídica para exercer o ato
Ex.: Art. 42, §1º, Lei 8069/90: ECA (não se pode adotar os ascendentes e os irmãos do adotando)

 A ordem jurídica pode criar impedimentos para que uma pessoa não exerça um ato jurídico determinado
 Tanto as pessoas naturais como as jurídicas podem ser atores ou autores (teatro jurídico). É possível que os
autores sejam também atores, simultaneamente.

Art. 3º, CC X Art. 4º, CC

substitui o titular auxilia o titular


incapacidade total incapacidade parcial dos direitos
dos direitos

necessidade de alguém
que seja capaz para
representante Zelador/orientador/auxiliar
executar as funções
(= representação) (≈ coadjuvação)

 Art. 3º, CC (substituição)


1. Enfermidade ou deficiência mental (ausência de discernimento)
* Reconhece a possibilidade da autoria das “peças”, uma vez que afirma que o discernimento de
existir para garantir a dignidade humana na redação das peças
2. Pessoas em estado transitório que a impede de manifestar suas decisões (exteriorizá-las)
 Art. 4º, CC (coadjuvação)
1. Pessoas com idade “n”; 16 < n < 18
2. Ébrio eventual
tem discernimento reduzido
3. Viciados em tóxicos
4. Deficientes mentais + capacidade reduzida
* Pródigos: gastador, aquele que gasta tudo o que tem (visto com desconfiança pela justiça)
 Índios = capacidade regulada por legislação especial → questão cultural

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 Início da personalidade civil (Art. 2º, CC)
- Nascimento com vida* (direitos do nascituro)
- Nascituro = ser em gestação
- Similaridade ao BVB
Art. 2o. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção,
os direitos do nascituro.

*É uma conveniência legislativa.


- tipo penal do aborto ≠ tipo penal de homicídio
- ser humano ainda não nascido é tratado diferentemente do ser humano já desenvolvido

 Incapacidades de exercício
 O tratamento definido por um “tomo” na dicotomia é inverso ao dado pelo outro “tomo”
a) Incapacidade de exercício absoluta
- Inaptidão total para alguém exercer por si só as posições jurídicas de que é titular. Não é a
falta da personalidade, mas da capacidade de exercício.
- Ausência de competência ou autonomia privada
Ex.: compra e venda (o comprador se compromete a pagar e o vendedor se compromete a
transformar o comprador em dono da coisa vendida) [Art. 481 do CC]
- No direito romano-germânico, o contrato de compra e venda da propriedade não significa a
transferência da propriedade; esta só ocorrerá depois do cumprimento da dupla obrigação do
Art. 481 (oposto aos países de tradição francesa do Direito)
- Incapacidade da pessoa física de exercer posições jurídicas, sobretudo as ativas (inaptidão
total)
 Implica a nomeação de um substituto, por meio da representação legal (ou legislativa)
→ o juiz determina o representante legal
 Pode ser legal, voluntária ou negocial
 Ex.: procuração (alguém atribui a outrem a capacidade legal) → Arts. 115 a 120 do CC
- Se o absolutamente incapaz exerce sua autonomia privada, há uma ocorrência grave; a ordem
jurídica visa proteger o interesse do substituído e logo, vê-se necessário invalidar os efeitos do
ato feito de forma independente (uma vez que o ato podia prejudicar o absolutamente incapaz)
[Art. 166, I, do CC]
- Absolutamente incapazes (Art. 3º, CC):
a. Menores de 16 anos (titulares = pais [pai + mãe]; dupla titularidade necessária do poder
familiar); no caso de ausência de concordância, o juiz é o responsável pela decisão (pai
ou mãe; se ambas forem inadequadas, o juiz escolhe uma terceira decisão)
- O juiz pode subtrair dos pais o poder familiar (temporário ou cassar definitivamente).
Nesse caso, assim como em outros que envolvem ausência dos pais, o juiz determina
um tutor; a relação de tutela é de competência (tutor) e sujeição
(menor/pupilo/tutelado)
- Em todos os demais casos, o substituto é o curador (relação de curatela)

A diferença básica entre curador e tutor é a causa: quando a incapacidade é gerada pela idade,
necessita-se da tutela; quando a capacidade é gerada por qualquer outro fator, tem-se a curatela

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b. Enfermos ou deficiência mental sem o necessário discernimento (sentença vaga e
ambígua)
- Depende da interpretação judicial
- Reconhecimento da incapacidade: processo de interdição (Art. 1768 a 1773, CC [tutela
e curatela, 1728 a 1783, CC]) + (Art. 1177 a 1188, CPC [Preocupação do CPC porque a
interdição é um processo judicial e, logo, é regido pelas regras processuais])

b) Incapacidade de exercício relativa


- Inaptidão parcial para exercer por si para exercer posições jurídicas em que a pessoa é titular;
ausência da autonomia privada
- A pessoa indicada delibera sobre as decisões do titular e veta as prejudiciais, mas anuí com as
benéficas. Tal pessoa é o assistente (relação de assistência)
- Incapazes relativos (Art. 4º, CC):
a. Maiores de 16 e menores de 18 (figura, também, do “tutor”; o assistente é
denominado, tambpem, de tutor)
- Tutela: sempre agirá em relação ao menor de idade (18), independente do grau de
incapacidade.
* Extensão de tutela/curatela será relativa ao grau de incapacidade do titular

Consequência jurídica menos grave:


Anulabilidade (Art. 171) [menos severa] ≠ Nulidade (mais severa)

b. Ébrios ou viciados em tóxicos; incapacidade relativa


c. Sem desenvolvimento mental completo (processo de interdição)
d. Pródigos (“que gasta incontroladamente”); a capacidade se reduz aos atos do Art. 1782,
do CC.
* Índios são regulados por estatuto próprio (respeitar a cultura indígena, sem imposição do
CC) → Lei 6001/73

 Art. 5º do Código Civil → fim da menoridade


 Discricionariedade (processo de decisão baseado na razoabilidade [“julgamento” do que é
adequado]) x Arbitrariedade (processo de decisão baseado no querer)
 18 anos (maioridade)
- Imputabilidade penal
- Maioridade para a legislação militar (desde antes do CC/2002)
- O indivíduo atinge a maioridade, se não for sujeito ao processo de interdição
 Múltiplos critérios para a maioridade no processo discricionário* adotado pelo legislador
* Problemas inerentes a vaguidade do critério
- casamento
- menores de 18 aprovados na faculdade
- contrato de trabalho

 Possibilidade legal da pessoa ter a capacidade plena de exercício apesar da menoridade física (↓ 18
anos)
1) Concessão dos pais, mediante instrumento público
2) Casamento
Art. 5º
3) Exercício de emprego público efetivo (emancipação)
4) Colação de grau em ensino superior
5) Estabelecimento de relação de emprego (economia própria)
18
o “Aquisição da capacidade civil [plena] antes da maioridade legal” (Clovis Bevilacqua)
o Salvo nos incisos I a V do Código Civil, a emancipação só é garantida mediante a atuação do
legislador
Ex.: um menor de 18 anos se casa e, depois, ainda antes de completar 18 anos, tem o
casamento desfeito. Ele perde a capacidade (a capacidade plena é obtida pelo “casar” ou
“estar casado”?) plena ou não?
* Casamento putativo: apesar de nulo, se ambos os cônjuges estiverem de boa fé, alguns
efeitos podem ser mantidos
o Inciso V: o dinheiro ganho deve ser suficiente para manter o nível socioeconômico da pessoa e
garantir sua estabilidade

 O término da personalidade civil se dá, via de regra, pela morte do indivíduo (Art. 6º e 7º, CC)
 O crime de aborto só é permitido por lei em três circunstâncias: risco iminente à saúde da mulher,
estupro e feto anencéfalo
 Existência de crimes contra o cadáver (vilipêndio)
 Transmissão aos sucessores do morto das posições jurídicas ativas e passivas do morto até o
momento de sua morte, com exceção das intimamente ligadas a ele (personalíssimas [Direito das
sucessões mortis causa], como o matrimônio)
 Art. 11, CC: com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
(se encerram com a morte do titular), como os direitos morais de autor
 Momento da morte: término dos batimentos cardíacos, ausência da contração pupilar e cessão da
respiração pulmonar
 A vida da pessoa humana é dependente da atividade cerebral e, logo, a morte cerebral simboliza a
morte do indivíduo
 Lei 9434/97 (Art. 3º): cuida da remoção de órgãos para fins de transplante e tratamento → a retirada
post mortem deverá ser precedida de diagnóstico de morte cerebral registrada por dois médicos não
participantes da equipe de remoção e nem de transplante mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos previstos no CFM.
 A morte não ocorre em um momento único e bem determinado (assim como o nascimento); ela
depende de vários acontecimentos interligados entre si, que conspiram com a respiração inicial (no
nascimento) ou a morte cerebral (na morte)
1. Prolongamento da “vida” humana (respiração por aparelhos), em casos de morte cerebral, não
implica na existência de vida para o direito
2. Desenvolvimento dos transplantes (tecidos e órgãos) que permitem prolongar a vida
[1 e 2 são as justificativas para a importância da morte cerebral como limitadora da morte]
 Necessidade civil-jurídica de registro do nascimento/morte em livro cartorial apropriado
 Possibilidade jurídica de declaração de morte por sentença judicial (ex.: desaparecimento [Nesse
caso, há processo de justificação, Arts. 861 a 866, Código de Processo Civil] de pessoas em
catástrofes)

 Morte presumida de alguém (presunção de morte)


 Necessidade de se estabelecer consequências aos casos de morte presumida (elevada
probabilidade de que a pessoa esteja morta), com o fim de se determinar uma certeza jurídica
 Se o presumidamente morto se mostrar vivo, a ordem jurídica descontrói as determinações
feitas por ocasião da presunção de morte
o Art. 6º (morte presumida): com decretação prévia de ausência
19
o Art. 7º (morte presumida): sem decretação prévia de ausência

 Ausência: palavra vaga e ambígua. No Art. 215, § 1º, CPC, tem o sentido de “não presença de alguém
em seu domicílio”. No Art. 428º, II e III, CC, ausente é aquele que não está na frente de outra pessoa.
 Para a morte presumida, o sentido de ausência se encontra no Art. 22, CC, na forma da
conjugação de requisitos (conjunto de “e”s e não de “ou”s). São 4 requisitos cumulativos:
1. Não presença
2. Falta de notícias de alguém
3. Falta de representante ou procurador designada por essa pessoa
4. Decisão judicial reconhece os três primeiros requisitos (qualificando, portanto, a pessoa
como ausente)
- Ausência é um status obtido mediante decisão judicial
- Designação de um curador para resguardar os bens do ausente, uma vez que pode findar
a ausência (ainda que, conforme passa o tempo, aumenta-se paulatinamente a
probabilidade de morte) → proteger o ausente
 Fases de ausência (Arts. 22 a 39, CC) (de acordo com a menor probabilidade de reaparecer)
1) Curadoria dos bens do ausente: os bens são administrados pelo curador
2) Sucessão provisória: os bens começam a ser repassados aos herdeiros, em caráter provisório
3) Sucessão definitiva: os bens são atribuídos definitivamente aos herdeiros
 Morte presumida com prévia ausência: casos em que há sucessão definitiva
 Morte presumida sem prévia ausência: independe da ausência, por conta da elevada
probabilidade de morte (disposto no Art. 7º, CC)

 Fim da personalidade civil


 Art. 8º, CC (A presunção é feita para evitar problemas na sucessão [por morte]): morte
simultânea nos casos em que é impossível determinar quem morreu antes (comoriência)
 Para que o sucessor suceda o sucedido, é necessário que o sucessor esteja vivo no momento da
morte do sucedido (sucessões mortis causa)

Ex. 1: A inicialmente morre, logo, B e C confirmam a sucessão.


Morrendo B depois, a herança de B é repassada a D.
A B e C são eventuais Ex. 2.: A e B estão no mesmo avião, que cai e vitima todos os
sucessores de A passageiros.
- Se A morre antes, a herança de A é repartida entre C e D.
B C - Se B morre antes, a herança A é dada exclusivamente a C (a
primeira sucessão é B → D.
- Se A e B morrem na mesma hora (Art. 8º, CC), a herança é
D é eventual sucessor de B passada aos sucessores exclusivos (A→ C; B→ D)
D

 Significado do Art. 8º condicionado à ideia de que as mortes devem ser ligadas por vínculo
sucessório (implícita no texto)
 Pode-se determinar que o antecedente do Art. 8º é “a morte de duas/mais pessoas ligadas
sucessoriamente sem que se possa determinar quem morreu antes”, enquanto o consequente é
a “simultaneidade das normas”

 Arts. 9º e 10: relativos ao registros públicos (Lei 6015/03)


 Manter a integridade e a memória de determinados atos ou instrumentos juridicamente
importantes
 Permitir o livre acesso/ciência dos atos preservados pelos registros públicos → publicidade
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 Registro civil das pessoas naturais
- Atos + fatos relativos às pessoas naturais, com função documental (atestar o estado civil;
filiação, casamento, etc; registro civil) e de publicidade (todos têm a possibilidade de obter um
atestado/certidão com os dados)
 Princípios norteadores dos registros públicos
1) Fé pública: ninguém faz prova em registro contra os assentos em cartório (no registro civil) →
em caso de irregularidade, o envolvido deve pleiteá-la para que haja a mudança por meio do
processo jurisdicional dos Art. 109 a 113 da Lei 6015/03
2) Continuidade: todos os atos/fatos relativos ao estado civil do mesmo indivíduo devem
constar no registro, a fim de ser possível encontrar o histórico jurídico de uma pessoa natural
 Os registros civis das pessoas naturais desempenham dois atos:
1) Registro: independente; é a “novidade” inserida no registro civil da pessoa
2) Averbação: dependente; alteração introduzida em registro já feito

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PESSOA JURÍDICA

 Há certos propósitos que o ser humano busca que duram mais que a vida humana
(propósitos permanentes). Outros estão acima das possibilidades do ser humano
(físicas/intelectuais).
 No âmbito das possibilidades materiais, encontramos os recursos financeiros de alguém (o
custo pode exceder a riqueza); nesse sentido, percebe-se a necessidade da congregação das
pessoas para garantir o sucesso de um objetivo.
A família nada mais é do que a congregação de pessoas que visam atingir um fim comum que nenhum
indivíduo sozinho seria capaz de alcançar; observa-se a divisão das tarefas desde esse cenário, fato que
seria repetido em organizações antropológicas mais complexas (tribos, clãs). A congregação dos
esforços seria o embrião das sociedades antigas (polis, civitas)

 Objetivo dessas congregações: proteção contra o inimigo externo através da união das
habilidades individuais; consequência fundamental: início da cultura humana, inicialmente
alimentícia (agricultura) e posteriormente da escrita e da arte.

 Observa-se que nem toda a congregação de pessoas é socialmente útil, pois são combatidas
pela justiça (ex.: organizações criminosas); outras são úteis, sendo protegidas pelo direito
(tutela jurídica do interesse social da congregação)

Na Idade Média, era notável a importância social das guildas e das corporações de ofício como formas
de sustentar a sociedade; eram, portanto, tuteladas pelo “Estado”.

 A congregação de pessoas naturais (ente) que apresenta finalidade útil para a comunidade e
é estruturada pode ser aproximada, por analogia, de um outro ente que tem competência
jurídica para agir (como ator e autor)
 Estrutura ↔ função; é pela estrutura de algo que se pode cumprir/desempenhar a
função para a qual o “algo” é concebido (a estrutura da chave de fenda permite que
ela atarrache o parafuso)
 Nas congregações, a ordem jurídica pode aproximar a estrutura socialmente útil das
mesmas (quando lícitas) da maneira com a qual se desempenham as funções pelas
pessoas naturais (reconhece-se a aptidão para ser ator e autor jurídico); as
congregações socialmente relevantes, portanto, detêm o atributo da personalidade
jurídica
 Não há equiparação total ou igualdade total entre as pessoas naturais e as jurídicas; há
apenas UMA semelhança, UMA aproximação analógica entre elas

 A ordem jurídica tem sua origem e destino nas pessoas humanas. Nesse sentido, a atribuição
de personalidade jurídica a pessoas jurídicas (Art 52, CC: aplica-se às pessoas jurídicas, no que
couber, a proteção dos direitos da personalidade) significa apenas a atribuição do status
jurídico, e não a atribuição de traços peculiares do ser humano; não faz sentido a atribuição
de certos “direitos da personalidade; outros, no entanto, são plausíveis pela semelhança com
as pessoas naturais (ex.: direito à honra)
 Há ordens jurídicas (passado e presente) que outorgaram a personalidade jurídica a
entes não-humanos; outros não atribuíram a personalidade a seres humanos (ex.:
escravos). Nesse sentido, é evidenciada a liberdade da ordem jurídica na atribuição da
personalidade jurídica (ideia de que a personalidade jurídica é a cor com a qual se
pinta um ente e a ordem jurídica é quem decide a cor do desenho)

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 pessoa jurídica como um ente inteligível mas não necessariamente sensível, em
contraposição às pessoas naturais
Ex.: Não se almoça com uma pessoa jurídica, mas é plenamente possível que
uma pessoa jurídica pague nosso almoço
 Os entes inteligíveis não existem no mundo sensível e físico, mas são possíveis de
existir em outros mundos (os mundos possíveis; ex.: Harry Potter e Hamlet existem no
mundo da literatura). Sendo assim, para o mundo do direito, tais entes existem, pois
são dotados da personalidade jurídica.
 O uso do termo “representante” é incorreto para a pessoa jurídica, pois ele depreende
que tal pessoa é absolutamente incapaz. Pontes de Miranda, nesse sentido, propõe o
uso do neologismo “presentante”, ou seja, alguém que torna presente a pessoa
jurídica.
 Há uma cisão quase total entre a pessoa jurídica e os membros congregados da pessoa jurídica
(sobretudo quanto ao patrimônio)
 Esfera jurídica individual: conjunto das relações lógico-deônticas ativas e passivas de
que alguém é titular. Estão inseridos aqui os bens extrapatrimoniais (inalienáveis)
 Esfera jurídica da pessoa jurídica: os patrimônios são alienáveis e constituem a base
da esfera jurídica

 Art. 50, CC: o juiz pode requerir, a pedido da parte, que os efeitos de certas relações de
obrigações se estendam aos bens individuais dos sócios da empresa (em caso de dano
patrimonial)

“disregarding the corporative value” + “lifting the corporative alue” = regras da common law para a
desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica

Pessoas jurídicas de direito público: objetivam o interesse público, com atuação na área pública
Pessoas jurídicas de direito privado (Importância: gera vários empregos e capital para o mercado):
objetiva o interesse privado, com predomínio de atuação na esfera particular

PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO

a) Interno (a um dado Estado soberano): a União; os estados membros da federação + DF + territórios


federais; os municípios
* Pessoa jurídica de segundo grau: congregação de pessoas jurídicas (ex.: União = congregação dos
estados + DF)
 Autarquias, congregações públicas,
 Todas as entidades de direito público criadas por lei ou norma supra-legal
 Algumas (raras) fundações, como a “fundação Casa”

b) Externo (fora do território soberano brasileiro): todos os demais Estados estrangeiros reconhecidos
pelo Brasil e entidades qualificadas como pessoa jurídica pelo Direito Internacional Público (ONU, OEA,
UE)
* A qualificação do Brasil enquanto pessoa jurídica de Direito Público externo depende do direito
particular de cada Estado, logo, não há chancela pelo Código Civil Brasileiro

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PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO

 Sindicatos, associações (clubes e agremiações recreativas ou esportivas), fundações (em sua maior
parte são privadas, uma minoria sui generis é pública)
 Fundação = patrimônio a serviço de uma finalidade

Atribuição da personalidade jurídica ao patrimônio


“liberdade da ordem jurídica” (atribui personalidade jurídica)
1) Pessoas naturais
2) Congregações
3) Patrimônios

 Associação = congregação de pessoas naturais com um dado propósito


 Organizações religiosas e igrejas
* A Igreja Católica tem sua estrutura e regimento determinados pelo direito canônico
 Partidos políticos
 Organizações sociais
 OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público)
 Cooperativas
 Sociedades (mais importantes, pois desenvolvem atividades empresariais e visam à circulação de
bens e riquezas)
 Empresas individuais de responsabilidade limitada
 Modificação do Artigo 44, VI, caput
 Adição do artigo 980

A mudança das relações de complexidade do direito levou a atribuição da pessoa jurídica a


quem não é nem pessoa, como no caso do patrimônio.

 ONGs: não visam o acúmulo de bens e riquezas e atuam no ramo público; são, também,
consideradas pessoas jurídicas, mas não empresariais (sem atividade econômica); são consideradas
associações
 Art. 966 (caput): regulamentação do empresário e de sua “função” (circular riquezas ou serviços);
por conseguinte, é a base do Direito Comercial/Empresarial
 Direito Privado = predominantemente formado pelo Direito Civil + Direito Comercial
 A constituição da pessoa de direito privado se dá por meio de um negócio jurídico constituído por
uma (EIRELI [Empresa Individual de Responsabilidade Limitada]) ou mais (congregação) pessoas
naturais
 A declaração jurídico-negocial (declaração de vontade) compõe, exatamente, o ato de vontade e
de autonomia privada chamado negócio jurídico (ex.: Art. 48, CC)

O vendedor se compromete a transferir o direito subjetivo de posse e o comprador se obriga a pagar o


que foi proposto; logo, a compra/venda não é imediata (o contrato simboliza sua efetividade imediata)
 Tanto o vendedor quanto o comprador criam normas judiciais de conduta (de autonomia
própria)

 Historicamente, as pessoas jurídicas são constituídas por congregações de pessoas naturais. No


entanto, com a evolução do direito, percebeu-se algumas exceções → fundações (o co-substrato é o
patrimônio), que não apresentam nenhuma pessoa natural
* EIRELIS: Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada; uma única pessoa compõe a pessoa
jurídica

24
 Dados relevantes da pessoa jurídica de direito privado (Art. 44 e 46): denominação e finalidade da
pessoa jurídica (sendo a finalidade fundamental para determinar a legalidade da pessoa jurídica;
quanto a denominação, é errônea a denominação “sociedade anônima”, uma vez que toda sociedade
precisa ter um nome e os sócios devem, por lei, ser explicitados), além disso, regula sobre o papel
dos membros quanto à responsabilidade das dívidas
 O ato jurídico constitutivo deve reger, por fim, as hipóteses de extinção da pessoa jurídica
e o que fazer com o patrimônio residual da mesma
 É competência do Estado a autorização da criação da pessoa jurídica que, por algum
motivo, desempenha atividade não-ilícita que pode trazer preocupação ao Estado (a análise disso
dá-se a partir da finalidade)

 Momentos em que a ordem jurídica atribui pessoa jurídica a um ente


 Inscrição do ato constitutivo no respectivo registro: início da personalidade jurídica (Art. 45)
 Art. 986 (da sociedade não personificada): almeja ser pessoa jurídica, mas não é até que inscrita
no registro público competente

O registro público competente é o registro civil das pessoas jurídicas; no caso das pessoas jurídicas de
direito empresarial, o registro competente é o registro público de empresas mercantis e atividades
afuns (Lei 8934/94). Tal registro deve apresentar os dados apontados no Art. 46 e, portanto, o próprio
ato constitutivo é o responsável por apontar os dados necessários (os dados devem constar no ato, no
momento do registro)

 Devem ser averbadas no registro todas as alterações por quais passar o ato constitutivo (Art.
45)

 Disciplina básica acerca da administração da pessoa jurídica


 Atuação de um ente sensível (pessoa natural) no lugar da pessoa inteligível (pessoa jurídica). A
pessoa jurídica é “encarnada” pela pessoa natural em certas situações; nesse sentido, tais
pessoas naturais são autores/atores no mundo do direito, cumprindo a obrigação do Art. 481
→ a pessoa natural é um agente das ações da pessoa jurídica (podem tanto cumprir a ação de
entregar como de receber, no Art. 481)
 Os agentes da pessoa jurídica são os órgãos de manifestação e atuação da mesma, os atos
constitutivos que estabelecem esses órgãos e dão atribuições a elas (tais agentes são os
administradores (Pessoas naturais que, em dados contextos, encarnam a pessoa jurídica) da
pessoa jurídica, vide Art. 47 a 49, CC)
 Os agentes da pessoa jurídica são “presentantes”, na terminologia de Pontes de Miranda

Sobre a distinção entre presentação e representação, escreveu Camilla Furegato: Na representação há


sempre dois sujeitos, um representante, que age em nome do representado e um representado. É uma
relação jurídica. O preposto é representante porque se revela como alguém distinto da pessoa jurídica,
agindo, desta forma, em seu nome. Em contrapartida, a relação de presentação é uma relação orgânica,
como no caso do Chefe do Executivo que presenta o Brasil, tanto assim, que se ele sofrer um ataque
num país estrangeiro, será um ataque ao Estado Brasileiro. Quando um presidente age, quem age é a
pessoa jurídica. Presentantes = “órgãos” da pessoa jurídica

 Art. 47, CC: “os atos dos administradores, nos limites de seus poderes, obrigam a pessoa
jurídica”; ou seja, todo ato de um dos agentes implica em obrigação para a pessoa jurídica

 Previsão de uma certa disposição dos órgãos da pessoa jurídica com as respectivas atribuições:
organograma
 “A Constituição do Estado delimita, no Estado, quem são os alguéns que preenchem certas funções
essências, assim como a forma de escolha” (Ato jurídico de constituição da pessoa jurídica)

25
 Os agentes legais da pessoa jurídica não são representantes de alguém e nem absolutamente
incapazes de exercício, e, nesse sentido, é incorreto nomeá-lo representante (Pontes de Miranda
prefere o termo presentante)
* Os agentes públicos apresentam dificuldade de separação de seu círculo público e privado; nesse
sentido, no âmbito dos direitos da personalidade, esse círculo de proteção é bastante reduzido
 As obrigações da pessoa jurídica são adquiridas através dos atos de seus administradores (todas as
posições jurídicas lógico-deônticas são adquiridas, na verdade)

 Fim da pessoa jurídica (extinção/cassação/término) → Art. 51, CC

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento,
ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas
jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.

 O fim da pessoa jurídica pode se dar por diversos fins. Destaca-se primeiro a mudança na legalidade
da finalidade da pessoa jurídica, como no caso a produção de ópio no século XIX. Outro motivo é a
falta de membros suficiente para execução das funções da falta de capital.
 A dissolução, inicialmente, dá-se pela abertura do processo de cassação, no qual cancelam-se as
atividades da pessoa jurídica e é iniciada a esfacelação das relações ativas.
 Posteriormente, ocorre a liquidação, pela eliminação das relações passivas lógico-deônticas e, com
os recursos financeiros obtidos previamente (extinção das relações ativas), saldam-se as dívidas.
Efetivamente, é aqui que se liquidam as relações ativas (fim da relação ativa → $$ → saldar
obrigações)
 Finalmente, averba-se o cancelamento do registro público no órgão competente. A partir da
retirada da inscrição do registro público, há o fim oficial da pessoa jurídica (a pessoa jurídica só
“morre” com o fim do registro)
 Para o processo de liquidação das sociedades, aplica-se o disposto nos artigos 655 a 674 (antigo
CPC)

26
SOCIEDADE x ASSOCIAÇÃO

 Empresário é aquele que empenha em desenvolver atividade econômica visando a circulação de


bens ou riquezas
 Sociedades desenvolvem atividades empresariais. Associações desenvolvem atividades não-
empresariais (não-econômicas). Tal concepção está no Art. 53, CC (caput). Ambas, no entanto, se
assemelham por conta da congregação de pessoas (soma/união organizada). Não se pode distinguir
tais conceitos a partir do grau de organização, uma vez que é tratado tanto no Art. 53 caput como
no Art. 966 caput.
* Cooperativas são agrupamentos eventuais de pessoas que podem atingir objetivos econômicos.
São, no entanto, consideradas associações.

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para
a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.

 A sociedade objetiva a maximização dos lucros (ou minimização dos prejuízos) enquanto fim último.
A constituição da atividade empresarial é apenas o meio para se chegar a esse fim. Busca-se o lucro
para partilhá-lo entre os sócios (finalidade lucrativa), ao contrário do ocorrido nas associações.
 Permite-se, nas sociedades, a implantação de PLR (Participação nos Lucros e Resultados), ou seja,
há distribuição dos lucros. As associações, por sua vez, atingem os lucros para manter as suas
atividades, sem qualquer distribuição de lucro.
 Recapitulando: distinguem-se associações/sociedades de fundações uma vez que estas têm
patrimônio dirigido a uma finalidade (positiva) específica (Art. 60, parágrafo único, CC), com a
pessoa jurídica atribuída ao conglomerado dos bens; associações/sociedades, por sua vez,
apresentam pessoa jurídica do conglomerado de pessoas que a constituem.
 Finalidade positiva: fundação e sociedade
 Finalidade negativa: associação

Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um
quinto) dos associados o direito de promovê-la.

 Nas associações, os associados não apresentam, entre si, direitos e obrigações (ausência de relações
jurídicas lógico-deônticas)
* Em alguns casos, associações são nomeadas como sociedades (ex.: Sociedade Hípica Paulista e
Sociedade Harmonia de Tênis). Logo, não se deve guiar na identificação apenas pelo nome (“O início
da sabedoria está em chamar as coisas pelo nome certo” [provérbio chinês]).
 Nas associações, há direitos e deveres recíprocos apenas entre cada associado e a pessoa jurídica da
associação. Na sociedade, essa relação ocorre entre os sócios também.
 Esquema de relação interna:
Sociedade Associação

1 2 1 2

27
 Para as associações, o CC estabelece alguns pontos diferenciados que devem constar em sua criação
(Art. 54)
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
 O estatuto deve conter os requisitos e o procedimento para admissão, exclusão (saída por
iniciativa da associação ) e demissão (saída por iniciativa do associado) de um associado
 Deve conter os direitos e deveres dos associados (o contrário não é necessário por conta da
reciprocidade das modalidades normativas lógico-deônticas)
 A organização (identificação de seus diversos órgãos com atribuição de competência a eles)
deve se pautar com órgãos deliberativos (Art. 54, V)
 Deve haver referências ao modo como se pode mudar o estatuto (“emenda constitucional”),
além das previsões para isso e as hipóteses para a dissolução/extinção da pessoa jurídica
 Não-atribuição da personalidade jurídica
- Preservação dos meios para se atribuir a personalidade jurídica, com elevado grau de
abstração, pela ordem jurídica
- Atribuição da personalidade jurídica, também, aos meios de atribuição
 Estatuto das associações (Art. 55, CC)

Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com
vantagens especiais.a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

- Os associados não precisam ter, rigorosamente, os mesmos direitos e deveres. Nesse


sentido, é livre a criação de categorias especiais para alguns associados (mais de uma classe
de associado), que tem direitos adicionais.

* “Sócio” (Não é sócio na teoria porque clubes são associações, não sociedades) remido:
aquele que não precisa pagar a contribuição de manutenção (mensalidade)

 Associados de mesma classe não precisam ter os mesmos direitos e deveres. De classes
diferentes, eles necessariamente apresentam diferenças em direitos e deveres.
Ex.: diferenciação entre associados comuns e associados fundadores (no entanto, deve-se
dizer que, nesse caso, é interessante que a busca por dada finalidade é mais ligada aos
comuns do que aos fundadores)
 Em hipótese alguma podem ser retiradas certas prerrogativas dos associados, como o direito
de votar e ser votado (excetuando-se os associados honorários)
- As diferenças entre classes deve se dar por critérios objetivos, relevantes para a finalidade
e razoáveis.
1) Razoabilidade: devem ser lógicos e plausíveis, aceitáveis.
2) Critérios objetivos: a característica de restrição deve se dar por critérios externos ao
indivíduo, e não por critérios subjetivos. Pode haver um clube restrito a usuários de
determinado sexo, mas se for criado um clube aberto, a discriminação não pode
ocorrer.
3) Justificativa para atingir os fins: não podem ser meros caprichos do estatuto.

 A qualidade do associado é personalíssima, ou seja, intransmissível (Art. 56, CC). Além disso,
o parágrafo único estabelece que, ainda que o associado seja dono de fração do patrimônio
28
da associação, e essa fração seja transferida a terceiros, a qualidade de associado não é
transferida (a não ser se disposto em contrário no estatuto)

Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.


Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a
transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente
ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
 Sociedade de pessoas (sócios personalíssimos; o interesse está na pessoa apenas) x
Sociedade de capitais (possibilidade de transferência dos títulos; o interesse está na
capacidade de contribuição do sócio)
 Art. 57, CC: exclusão dos associados, saída por iniciativa da própria associação por justa
causa (motivação justificada e suficiente); determinação do direito de defesa e possibilidade
de recurso (nos termos do estatuto)

Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto..
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

29
FUNDAÇÕES

 Art. 62 a 69, CC, e Art. 1199 a 1204, CPC


 Há um ente, no mínimo, que participa da fiscalização e da organização das fundações. Caso
contrário, seria irrelevante a citação dos artigos do CPC.
 Não são as fundações um conglomerado de pessoas, mas sim um conjunto de bens patrimoniais
a serviço de uma dada finalidade, visando a busca de um objetivo socialmente útil. A fundação
não se constitui pela conjugação de diversas declarações de vontade dos indivíduos; ela se
constitui pela declaração jurídica negocial (sentido de negócio jurídico) unilateral (emitida por
uma única pessoa). Ao contrário das associações e sociedades, o negócio jurídico é multilateral.
Ambos constituem  Negócio jurídico inter vivos: a morte não é necessária (escritura pública)
fundações  Negócio jurídico mortis causa: depende previamente da morte (testamento)

* Há negócios jurídicos exclusivos à pessoa jurídica (incorporação, cisão, fusão) e à


pessoa natural (testamento)

 No ato jurídico geneticamente unilateral de instituição de uma fundação, há de conter uma


dotação de bens livres e sua individualização, além da indicação da finalidade a cujo serviço está
a fundação
 Dotação de bens livres: bens atribuídos à fundação assim que ela adquire personalidade
jurídica, ou seja, tem posições ativas e passivas lógico-deônticas (Art. 62, caput, CC)

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de
administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de
assistência.

 A criação da fundação se dá por um processo inaugurado com o ato de fundação e culmina na


atribuição da personalidade jurídica à fundação. Os bens livres atribuídos não causam prejuízo
econômico a ninguém. O não cumprimento da promessa sobre os bens implica em uma ação da
ordem jurídica no sentido de forçar a cumprir.

 Art. 64, CC: o instituidor é obrigado a transferir a propriedade para a fundação enquanto pessoa
jurídica dos bens livres, caso contrário, são registrados em nome dela por mandato judicial
(“complementa” o caput do Art. 52).
Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe
a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em
nome dela, por mandado judicial.

 O instituidor pode, no ato constituidor, inserir a forma de administração da fundação.


Não se pode falar em “membros” da fundação, pois ela é composta por bens patrimoniais
apenas.
 São as pessoas físicas que ocupam os órgãos deliberativos e executivos da pessoa jurísica,
sendo inúmeros os meios de escolha (contratação, sorteio, eleição, rotatividade,
apontamento)

 Nos termos do Art. 62 do CC, podem ser fins da fundação aqueles de cunho cultural, moral,
religiosos e de assistência (ex.: promoção do meio ambiente [não se encaixa nas categorias])
* Enumeração exemplificativa (maioria dos casos → contém, no final, “etc”), existem outros
exemplos
* Enumeração taxativa: apenas os exemplos previstos por escrito na lei (ex.: definição de bens
imóveis)
30
 O Art. 62 é uma enumeração taxativa. Isso porque há fundações de inúmeros outros
tipos, como a São Paulo (educacional), Fundação Mata Atlântica (meio-ambiente),
Fundação Teotônio Vilela (PSDB; formação de políticos)

 A fundação é uma pessoa jurídica de direito privado civil porque não desenvolve atividade
econômica com objetivo lucrativo (lucro a ser partilhado com os membros) e porque não tem
membros para fazer a partilha (primeira restrição é mais importante)

 Processo de criação da fundação


- Sucessão de eventos que resulta na criação da fundação; tais eventos estão cronologicamente
ligados
1) Negócio jurídico por escritura pública ou testamento de dotação de bens livres e individuação,
com apresentação da forma de administração (criação dos órgãos responsáveis e determinação
da forma de preenchimento) → Constituição
2) Elaboração do estatuto: pelo próprio instituidor (quem fez o acordo jurídico incial), pessoas a
quem o instituidor cometeu tarefas, pessoas encarregadas da aplicação do patrimônio (Art. 65,
CC), ou pelo Ministério Público, em último caso (Art. 65, parágrafo único)
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão
logo, de acordo com as suas bases (Art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à
aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em
cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.
3) Aprovação do ato constitutivo do estatuto, após avaliação, pelo Ministério Público do estado
onde situado (Art. 66, CC) ou pelo Ministério Público Federal, no caso do DF e territórios
(inconstitucionalidade do Código Civil, uma vez que não remete ao Ministério Público do DF e
territórios). [antes da avaliação, há a submissão dos textos ao Ministério Público para
apreciação]
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal. (Vide
ADIN nº 2.794-8)
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo
Ministério Público.

4) Registro do ato constitutivo e do estatuto no registro público (registro civil de pessoa jurídica)

 A partir desse momento, pode ser feita a transmissão dos bens à fundação

 No caso da dotação de bens com valor inferior ao necessário (recursos financeiros insuficientes), é
possível que seja inviável o início da fundação. A dotação se mostra insuficiente para a
perseguição do fim. Nesse caso, o próprio destinador pode apontar destinação secundária e, caso
não o faça, a própria lei pode destinar os bens para alguma outra fundação com fim igual ou
semelhante.
 No âmbito das fundações, compete ao Ministério Público o exame e eventual aprovação do ato
constitutivo e do estatuto da fundação. Além disso, ele realiza eventuais modificações no
estatuto, aprovando-o ou não, e fiscaliza o funcionamento da fundação para garantir que não haja
um desvio de finalidade ou ilegalidade nos moldes da lei e do próprio estatuto. Explica-se isso pela
ausência de membros congregados para fiscalizar as atividades da fundação (são, as fundações,
apenas um conglomerado de bens patrimoniais). Outra função é a de legitimar, deduzir ou pedir
em juízo a extinção da fundação por via jurídica.

31
 Modificações estatuárias respeitam os Artigos 67 e 68 do Código Civil. É mister que a reforma seja
deliberada por 2/3 dos competentes para gerir e representar a fundação. A finalidade deve ser
sempre a mesma ao longo da existência da fundação (modificar a finalidade é contrariar o negócio
jurídico de constituição da fundação). Se o fim da fundação se mostra inútil ou ilícito, será
necessário extinguir a fundação.
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento
do interessado.

Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao
submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para
impugná-la, se quiser, em dez dias.

 Extinção da fundação: processo lógico e cronológico de atos que indicam a cessação da pessoa
jurídica. No caso das fundações, a disciplina se dá, especialmente, por jurisdição voluntária, nos
Artigos 1103 a 1112, CPC. É uma força desconstitutiva (constitutiva negativa) da fundação, ou seja,
termina com sua existência.
1) Pedido de extinção (legitimados ad causam ativos/Ministério Público)
2) Liquidação: transformação dos direitos em recursos financeiros, que liquidam os deveres
3) Extinção: sentença desconstitutiva e atribuição à fundação semelhante do patrimônio
remanescente; averbação no registro público da extinção da fundação

Art. 1.103. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a jurisdição voluntária as
disposições constantes deste Capítulo.
Art. 1.104. O procedimento terá início por provocação do interessado ou do Ministério Público,
cabendo-lhes formular o pedido em requerimento dirigido ao juiz, devidamente instruído com os
documentos necessários e com a indicação da providência judicial.
Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o Ministério Público.
Art. 1.106. O prazo para responder é de 10 (dez) dias.
Art. 1.107. Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as suas alegações; mas
ao juiz é licito investigar livremente os fatos e ordenar de ofício a realização de quaisquer provas.
Art. 1.108. A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse.
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério
de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou
oportuna.
Art. 1.110. Da sentença caberá apelação.
Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem
circunstâncias supervenientes.
Art. 1.112. Processar-se-á na forma estabelecida neste Capítulo o pedido de:
I - emancipação;
II - sub-rogação;
III - alienação, arrendamento ou oneração de bens dotais, de menores, de órfãos e de interditos;
IV - alienação, locação e administração da coisa comum;
V - alienação de quinhão em coisa comum;
Vl - extinção de usufruto e de fideicomisso.

32
DOMICÍLIO

 Lugar onde a ordem jurídica situa uma pessoa, independente do período de permanência (1)
esporádico ou intermitente; (2) habitualmente (pode ser encontrada/vislumbrada)
 Há um lugar em que a pessoa natural, todavia, não é apenas encontrada habitualmente, mas,
também, pode vir a ser encontrada (3) futuramente
 A linguagem jurídica nomeia tais lugares como:
1) Moradia/estadia/pousada/habitação
2) Residência
3) Domicílio
* Em 1 e 2, observa-se apenas o passado, em 3, observa-se o passado em projeção futura
 Moradia e residência se diferenciam pelo seu caráter de permanência. É temporária a moradia,
enquanto a residência é permanente/fixa.
 Art. 70, CC: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com
ânimo definitivo. (Domicílio = residência + ânimo definitivo)
 O estabelecimento do domicílio pode se dar por norma jurídica; no entanto, esse caso foge ao Art.
60 e envolve a participação de pessoa jurídica.

Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto)
dos associados o direito de promovê-la.

 Percebe-se o domicílio da pessoa jurídica quando se vê a atuação dos seus membros diretores do
órgão ou então na busca de seus fins. É o domicílio o lugar onde se dão essas atividades ou que
permite a busca dos fins.

* Lei 12370/10: muda o título do DL 4657/42, removendo a epígrafe”Lei de introdução ao Direito


Civil” e a trocando por “Lei de introdução às normas do direito brasileiro” (disposição legislativa sem
norma)

 Art. 7º, caput, DL 4657/42 (A lei do domicílio que é válida para determinados campos): a lei do
país em que for domiciliada a pessoa é que determina as regras do começo e do fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
 Art. 327, caput, CC: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor”. As obrigações,
portanto, devem ser pagas no domicílio, a princípio (proteção do devedor).
 Art. 1785, CC: a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido (não há mais domicílio
depois da morte)
 Art. 10, caput, CC: vale a lei do país em que era domiciliado o defunto
 Art. 94, CPC: competência territorial de foro; a ação fundada em direito pessoal/real sobre
móveis serão propostas em regra no foro do domicílio do réu.

PLURALIDADE DE DOMICÍLIOS

 A ordem jurídica brasileira admite-se uma pluralidade de domicílios quando houver


pluralidade de residências (Art. 71, CC)

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á
domicílio seu qualquer delas.
 Redação incorreta, pois não contempla o ânimo definitivo

 Art. 94, CPC: tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer um
deles.

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 Domicílio profissional
 Local onde a pessoa exerce a profissão com ânimo definitivo
 Pluralidade interna x externa (Art. 72, CC)

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde
esta é exercida.

 Domicílio de eleição contratual (estabelecido contratual): local onde as partes devem execer suas
posições jurídicas lógico-deônticas
 Art. 78, caput, CC
 fixado por declaração jurídico-negocial

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e
cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

 Domicílio da pessoa natural que não tem residência


 Art. 73, CC: Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar
onde for encontrada.
 Art. 94, § 2o, CPC: Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde
for encontrado ou no foro do domicílio do autor.

 Domicílio de pessoa jurídica


 Art. 75, caput, I, II, III, IV (primeira parte), § 1o: determinaçãp do domicílio da pessoa jurídica
como sendo aquele no qual a pessoa jurídica desenvolve suas atividades próprias; a União tem
o DF como domicílio, os Estados e territórios têm as capitais enquanto domicílio e, nos
municípios, é o lugar onde funciona a administração municipal.
 A pluralidade dos domicílios da pessoa jurídica dá-se pela pluralidade de lugares em que a
pessoa jurídica pode exercer suas atividades

MUDANÇA DE DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL

 Art. 74, caput, CC: Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o
mudar.
- supressão do antigo domicilio e substituição por um novo (a pessoa, com animo definitivo,
passara a se encontrar em um novo lugar)
 Necessidade da declaração de conhecimento de mudança de domicilio tanto destinada a
municipalidade original como para a municipalidade de destino (Art. 74, parágrafo único, CC);
caso isso não seja jeito, a própria mudança serve como prova de mudança de residência
(objetivamente) → com o passar do tempo, isso vem a constituir a mudança de domicílio.

Art. 74. Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos
lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as
circunstâncias que a acompanharem.
---
Inferência lógica abdutiva do ânimo definitivo a partir das circunstâncias
Tipos de inferência:
- dedução
- indução
- abdução: “método científico” (estabelece-se hipótese); ensaio “Zadig”, de Voltaire

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DOMICÍLIOS IMPOSTOS (PELO LEGISLADOR)/NECESSÁRIOS

 São domicílios necessários ao Estado, mas que não impedem a existência de um domicílio
voluntário (pluralidade de domicílios)
 Art. 76, parágrafo único, CC: O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o
do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde
servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o
lugar em que cumprir a sentença.
 Domicílio de eleição estatuária (domicílio da pessoa jurídica): fixado pelo estatuto da pessoa
jurídica (Art. 75, IV, § 2o, CC). Caso a sede seja no estrangeiro, o domicílio é o lugar do
estabelecimento correspondente no Brasil.

Art. 75, IV, § 2o, CC: Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio
da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

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