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Hipóteses Práticas

1.
a doutrina que defende a eficácia externa das obrigações – do ponto de vista da eficácia
os direitos de crédito são erga omnes respondem nos termos do art. 483º
a doutrina do direito interno –
quando o Z contrata conhecendo o contrato promessa anterior e sabendo que isso
implica o incumprimento da obrigação anterior – este é responsável ao abrigo do art.
334º - a maior parte da jurisprudência tem decidido no sentido do exercício abusivo por
parte do terceiro
ainda que do ponto de vista prático a solução seja a mesma, a fundamentação para cada
uma das teorias é bastante diferente
o que o tribunal entendeu é que havia culpa e ilicitude – tendo consciência este é
responsável
2.
Sara obrigou-se a cantar no bar de Raquel. Lia ofereceu um preço superior, e
Sara acabou por não cantar no bar de Raquel.
Raquel pretende que Lia e Sara respondam pelos danos causados sendo certo,
porém, que Sara é insolvente.
Como sabemos, um direito de crédito é um direito relativo (para ser exercido
requer colaboração do devedor, quer espontânea quer judicialmente forçada). Tratando-
se os direitos de créditos de direitos estruturalmente relativos (ou seja, não é oponível
erga omnes) sabemos que apenas Sara estava adstrita ao dever de prestar (ainda que
outrem pudesse legitimamente cumprir a obrigação de Sara) e apenas Raquel era titular
do direito de crédito.
Deste modo, sabemos então que culposamente Sara incumpriu a obrigação
(responsabilidade obrigacional ao abrigo do art. 798º ss). Sabemos, porém, que a mesma
é insolvente.
Não se tratando de direitos reais mas sim de crédito sabemos que estes não
gozam da característica da sequela e da prioridade temporal, pelo que a dívida será
satisfeita segundo um critério de igualdade e proporcionalidade pelo que todo o
património de Sara responde pelas suas dívidas (art. 601º). Sendo Sara insolvente,
Raquel não poderá satisfazer a sua dívida.
Poderá Raquel, alheia ao vínculo jurídico, responder pelos danos causados ao
credor?
Este é um assunto muito debatido pela doutrina, mas para efeitos de resolução
adotamos a posição do professor Almeida Costa (posição intermédia) – o direito de
crédito é um direito relativo e o dever apenas pode ser incumprido por quem estava
adstrito a prestar. No entanto, este autor considera que se o terceiro exercer de forma
abusiva o seu direito à liberdade de contratar (sabendo que Sara já se havia vinculado
com Raquel, Lia ofereceu mais) este também poderá responder pelos danos causados ao
credor ao abrigo da figura do abuso do direito prevista no art. 334º

 Celebração de dois contratos válidos e eficazes, mas o cumprimento de um


contrato implica o incumprimento do outro
 O que está em causa é que o cumprimento do segundo implica o incumprimento
do segundo – incumprimento do dever principal de prestação (ou dever
primário)
 Numa ordem de liberdade eu posso obrigar me a cantar para duas pessoas ao
mesmo tempo – responsabilidade obrigacional da Sara - Lucro cessante – há
nexo de causalidade etc.
 Também há responsabilidade da Lia? A Lia instigou-a a incumprir (afirmar que
pagava mais) – tinha conhecimento que o cumprimento da segunda obrigação
implicava o incumprimento da segunda
 Posição mais tradicional – a única pessoa vinculada é a Sara, se a Sara não canta
ela é que responde pelos prejuízos sofridos; o terceiro não pode violar um dever
que não está adstrito a cumprir
 Posição intermédia – abuso da liberdade de contratar – art. 334º
3.
Violação de um dever lateral imposto pelo princípio da boa fé
Relativamente ao António o que temos é a violação de um dever acessório de conduta
que era imposto pela boa fé objetiva (dever de lealdade)
Estes deveres existem mesmo depois de cumpridos os deveres principais?
O vínculo obrigacional não se extinguem com o cumprimento da obrigação. O facto dos
deveres principais terem sido cumpridos pode influenciar a natureza da responsabilidade
– responsabilidade pós-obrigacional
 Aplica-se o regime da responsabilidade obrigacional (menezes cordeiro)
 Carneiro da frade – terceira via de responsabilidade (não corresponde a uma
responsabilidade extraobrigacional nem obrigacional – não estão em causa
violação de deveres gerais nem específicos – violação de deveres de conduta são
específicos (diferentes do dever geral) mas sendo de conduta são gerais
 Misto das duas responsabilidades
 A existir trata-se de responsabilidade pós obrigacional – que tanto pode ser
regime da responsabilidade obrigacional como terceira via

Relativamente ao Carlos –
O Carlos não é parte daquela relação obrigacional pelo que não está adstrito aos deveres
de conduta impostos pela boa fé objetiva
O Carlos contribuiu para que A violasse os seus deveres? Para termos responsabilidade
ao abrigo do art. 334º é preciso que o C tenha excedido manifestamente os limites
impostos pela boa fé – não temos dados suficientes: não temos dados suficientes para
assumir que Carlos exerceu de forma abusiva o seu direito à liberdade contratual
(autores mais exigentes – Antunes varela e Almeida Costa)
Daniel Proença – há situações em que o terceiro pode não conhecer o direito que vai
violar, sendo este cognoscível, este pode ser responsável ao abrigo do art. 334º
Tendo o terceiro contribuído para a violação de um dever lateral, o terceiro pode ser
responsabilizado pelos danos sofridos pelo credor? O professor Menezes Cordeiro –
todos os direitos subjetivos são tutelados pelo art. 483º - tendo C contribuindo para essa
violação pode este ser responsável ao abrigo do art. 483º (é preciso que se preencham
todos os demais requisitos – culpa, dano, nexo de causalidade, facto e ilicitude)
A tutela do Bernardo faz-se só através da indemnização ou vai até à execução específica
tratando-se da violação de um dever lateral, na medida em que isto for do interesse do
credor
 Não há interesse em execução específica do contrato
 Se o dever de lealdade é um dever exclusivo do A, a execução específica não
pode ser imposto ao C – a execução específica não pode ser imposta ao Carlos
visto que não é um dever a que ele estivesse adstrito (trata-se de um direito
relativo)

4.
Caso 1

Em 2000, sem qualquer causa justificativa, o réu parou de permitir que os autores acedessem ao jazigo, tendo até trocado a
fechadura, impedindo-os de praticarem culto e homenagem ao familiar, o que se traduz em abuso do direito, mais concretamente,
venire contra factum proprium.

O réu alegou que apenas a título provisório tinha permitido que a família usufruísse do gavetão no seu jazigo , e esta concessão
estava a ser explorada.

O tribunal de primeira instância decidiu a favor do reu, mas os autores recorreram.

O réu permitiu que os autores utilizassem livremente parte do jazigo para o seu propósito natural – não se trata de uma situação de
tolerância – o réu autorizou que os autores utilizassem parte do seu jazigo (não se trata de uma situação passiva). Deste modo,
estamos perante um contrato de comodato (art. 1129º) ainda que sem data limite - o réu emprestou parte do seu jazigo aos autores,
para que estes usufruíssem deste, sem terem estipulado data de limite (art. 1137º) – deste modo, os autores estavam obrigados a
restituir a coisa.

Deste modo, assim que o réu exigiu a entrega da coisa (deste modo de forma tácita ao mudar as fechaduras) exigiu simultaneamente
a resolução do contrato.

Resta agora saber se o réu atuou conformemente aos ditames impostos pela boa fé objetiva, tendo então incumprindo os seus
deveres acessórios de conduta. Nada na conduta dos réus indicia em que em caso algum estes não resolveriam o contrato, ainda que
durante um lapso de tempo considerável não o tenham feito – a mera inércia não pode ser tida como uma auto-vinculação (o silêncio
não vale como declaração negocial)

Ora, o dever lateral de conduta é um dever acessório ao dever de prestação principal e que acompanha toda a relação obrigacional.
Os deveres laterais de conduta podem resultar da lei ou convenção, mas tendem a resultar do princípio da boa fé no seu sentido
objetivo. O professor Carneiro da Frada considera que caso se incumpra este dever, a tutela do credor é tipicamente obtida através
de uma indemnização, podendo o contrato ser resolvido em casos mais graves
No caso em questão as partes estabeleceram um contrato de comodato sem data de validade. Este contrato exige que as partes,
durante a vida da relação obrigacional, atuem de boa fé. Deste modo, temos de saber se ao mudar as fechaduras o réu violou o seu
dever de atuar de forma leal, honesta e correta.

 as partes celebraram um contrato de comodato que se resolve com a entrega da coisa


 ao mudar as fechaduras, sem qualquer aviso prévio, as partes não incumpriram nenhuma obrigação principal, podem é
ter violado um dever genérico de conduta a que estavam adstritos devido ao princípio da boa fé
 em sentido oposto, também poderíamos argumentar que ao mudar as fechaduras o réu exigiu a devolução da coisa

não corresponderia a uma obrigação civil visto que o réu era o verdadeiro proprietário
do jazigo
tratar-se-á de uma obrigação natural? Visto que não vem prevista, tratar-se-á de uma
obrigação que preenche os requisitos previstos no art. 402º?
 O tribunal concluiu que só pode ser qualificada como tal se reunisse os
pressupostos do art. 402º: a conclusão do tribunal é de que havia um dever moral
ou social
 O culto aos mortos – corresponde a um princípio de justiça
 Mas tratando-se de uma obrigação natural, esta não é judicialmente exigível
 Corresponde a um princípio de justiça mas não a um dever jurídico
 Concluir que as obrigações naturais não estão sujeitas a um princípio de
taxatividade – são obrigações naturais aquelas que correspondem a um dever de
ordem moral ou social que simultaneamente corresponde a um princípio de
justiça. Por se traduzir num princípio de justiça mas não num dever jurídico é
que não é judicialmente exigível
 O tribunal quis deixar claro que há um dever que há ser violado – só que é um
dever da ordem moral ou social- apela à consciência

CASO 2 e 3
Os contrato de jogo e aposta podem ter origem em três grupos distintos: jogo lícito e
autorizado que é regulado por lei especial: fonte de obrigações civis (art. 1247º); jogo
tolerado (fonte de obrigações naturais – art. 1246º) e jogo ilícito que não é fonte de
obrigações.
O concurso em questão não vem regulado em lei especial, pelo que não cai na exceção
prevista no art. 1247º. Deste modo, e tratando-se de jogo tolerado, o contrato de jogo e
aposta com o quem quer ser milionário apenas será fonte de obrigações naturais, ao
abrigo do art. 1245º
Para saber se o jogo estava de facto obrigado a pagar ao autor temos de saber se, para além de jogo, o quem quer ser
milionário atua também como promessa pública, o que já implicaria obrigações civis e não meramente naturais (ou
seja, para além da indemnização eventual, poder-se-ia pedir a execução específica da obrigação – art. 459º)

 Concurso público – art. X: seria fonte de obrigações civis


 A fonte das obrigações não é uma declaração unilateral mas sim um contrato

Ora, no caso em questão existe um critério de seleção dos concorrentes, pelo que
podemos admitir que estamos na presença de um verdadeiro concurso (art. 463º) pelo
que o contrato apenas será fonte de obrigações naturais. O autor assinou uma
declaração, previamente ao concurso, declaração essa em que afirmava concordar com
as regras do programa, aceitando as suas condições, sendo uma destas a possibilidade
do concurso rejeitar a candidatura a qualquer altura do programa – marca de forma
vincada a índole de concurso.
Deste modo, não podemos fugir à natureza do jogo em questão, e este apenas será fonte
de obrigações naturais. Tratando-se de obrigações naturais, o credor não pode exigir
judicialmente o seu cumprimento, mas uma vez cumprida (livre de qualquer dolo ou
coação) espontaneamente, o devedor não pode reaver o que prestou (princípio da não
repetição)
 Tem sido com base nesta disposição da lei do jogo (que aborda os temas de
conhecimentos) – pelo que se trata de uma obrigação civil, ainda que a sua fonte
seja um contrato: são genericamente autorizados pela lei do Jogo
Caso 3
Nos termos do art. 1245º do CC – trata-se de uma obrigação natural pelo que não é
judicialmente exigível, salvo se se tratar de um contrato de jogo e aposta regulado por
lei especial (art. 1247º))
Condenou a empresa a pagar o prémio, apesar de a irmã trabalhar na RTP

5.
Os espectadores que assistiram à prova de atletismo realizaram diversas apostas
em dinheiro.
Os contratos de jogo e aposta estão regulados nos artigos 1245º do CC e lei
especial.
O contrato de jogo pode ser dividido em três categorias – jogo lícito (que é fonte
de obrigações civis), jogo tolerado (fonte de obrigações naturais) e jogo ilícito (não é
fonte de qualquer obrigação).

a)
Nos termos do art. 1246º, se se tratar de uma aposta relativa a uma competição
desportiva, e for realizada pelas pessoas que nela participam, aplicar-se-á um regime
especial.

O contrato de jogo e aposta pode ser fonte de obrigações civis se for autorizado
1. Se for legislação especial (art. 1247º)
2. Art. 1246º - também torna os contratos de jogo e aposta feito nos âmbitos de
competição desportiva, em relação às próprias que nele participam, contratos
válidos
Em termos práticos
Art. 1246º - também resulta que estamos perante jogo autorizado. Relativamente aos
participantes os contratos de jogo e aposta serão fonte de obrigação civil – se os
organizadores da prova não quiserem pagar podem exigir judicialmente o cumprimento
da obrigação

b)
Joaquim e Luís apostaram 50 euros. No caso em questão sabemos que se trata de
uma aposta proveniente de um contrato de jogo e aposta tolerado (socialmente aceite).
Sabendo então que se trata de jogo tolerado, sabemos que se trata de uma obrigação
natural.
O regime das obrigações naturais encontra-se regulado nos artigos 402º ss. De
acordo com este regime, uma obrigação natural funda-se na ordem moral ou social
(neste caso social visto que se trata de uma aposta de jogo tolerado) mas a que
corresponde um dever de justiça (pacta sunt servanda) pelo que mesmo que não possa
ser judicialmente exigível, ainda merece alguma tutela por parte do ordenamento
jurídico. DE facto, esta tutela encontra-se prevista no art. 403º - princípio da não
repetição – ora, segundo este artigo, tendo o devedor prestado espontaneamente (livre
de todo o dolo e coação) este não pode reaver o que prestou
Pode ele reaver a prestação alegando erro sobre a natureza da prestação?
Jogo tolerado, ainda que não autorizado, fonte de obrigação natural
O erro não é apto a tornar o cumprimento da obrigação não espontâneo
c)
A dúvida aqui prende-se com a possibilidade de transformar uma obrigação natural
numa obrigação civil.
Este é um tema muito debatido pela doutrina – será possível afastar a tutela judicial que
protege o credor?
1. Não basta declaração do devedor
2. É preciso acordo expresso entre as partes de transformação da obrigação natural
em civil
3. Não se pode tratar de uma obrigação que é por natureza natural – a vontade do
legislador é que permaneça uma obrigação natural (caso do jogo tolerado)
Em primeiro lugar para proteger o devedor de si próprio (a obrigação natural não é
judicialmente exigível); numa sociedade como um todo não deve tornar válidos estes
negócios de jogo e aposta
A ratio do art. 1245º impede a transformação de uma obrigação natural numa civil
1. O art. 809º não vale para aqui – apenas para a transformação de uma obrigação
civil em natural
6.
Américo comprou um trator agrícola junto de uma empresa, tendo acordado que
o valor total de 6.000 euros seria pago em 6 prestações mensais. As partes acordaram
que até ao pagamento da última prestação mensal, o direito de propriedade
permaneceria com a respetiva empresa.
Ora, vemos aqui que as partes acordaram em alterar as consequências normais
de um contrato de compra (nos termos do art. 408º, n.º 1, a propriedade transfere-se
assim que as partes acordam em tudo o que consideram essencial), ao estipular a reserva
de propriedade – art. 409º: as partes acordam que a propriedade não se transfere por
mero efeito do contrato mas sim no momento em que se cumprem totalmente as
prestações. A reserva de propriedade serve de garantia para o vendedor, que permite que
o bem não seja entregue até se verificar determinada contraprestação ou evento.
Ainda que o trator tenha sido entregue a Américo, este não é titular do direito de
propriedade até ao pagamento da última prestação mensal, conforme acordado na
cláusula de reserva de propriedade. Deste modo, até ao pagamento da última prestação
mensal, a empresa poderá deter o trator.
Nos termos do art. 886º a partir do momento em que a propriedade se transfere e
há entrega da coisa o vendedor não pode resolver o contrato por falta de pagamento do
preço. Ora, no caso em questão este artigo não é aplicável visto que as partes acordaram
que a propriedade só se transferia com o pagamento da última prestação mensal.
Sabemos que as partes acordaram que o valor seria pago em 6 prestações
mensais. Deste modo, para além de um contrato de compra e venda com espera de preço
temos também um contrato de compra e venda a prestações, pelo que temos de aplicar o
art. 934º
Nos termos deste artigo, vendida a coisa a prestações com reserva de
propriedade e, feita a sua entrega, a falta de pagamento de uma prestação que não
exceda a oitava parte do preço total não dá lugar à resolução do contrato. Ora, no caso
em questão Américo incumpriu duas prestações (no valor de 2.000 euros) pelo que se a
empresa quisesse teria fundamentos para resolver o contrato ao abrigo do art. 934º

O artigo 781º é uma regra geral que é afastada pela regra especial do art. 934º visto que
se trata de uma compra e venda a prestações: o art. 934 diz-nos quando é que a perda do
benefício do prazo não pode ser invocada se não tiver sido paga uma prestação de valor
superior a 1/8 do preço

Art. 817º + art. 806º - exigir o cumprimento das duas prestações em falta + juros de
mora
Podia a sob rodas dar um novo prazo? CNCO

7. Acórdãos
Acórdão 1
1. As partes nunca se entenderam quanto ao prazo do hipotético contrato a celebrar
2. O rompimento das negociações foi ilícito? Existia, nesta fase, uma verdadeira
obrigação de contratar não abrangida pela faculdade de não contratar decorrente
da liberdade contratual?
Resumo dos factos:
1. A ré ofereceu-se para arrendar ao autor a loja, para que este instalasse um salão
de jogo, alegando ainda que lhe interessava arrendar ao autor visto que este era
da família e de confiança.
2. Poucos dias depois, a ré avisou o autor de que a renda mensal seria de 50.000
3. As partes acordaram que a renda seria paga quando o salão de jogos começasse a
funcionar e após obtenção de licença de abertura
4. Todos os documentos de transformação do espaço em salão de jogos foram
também assinados pelo réu, para além de pelos autores
5. Todos os custos de documentação foram suportados pelos autores
6. Em maio, já depois de tudo acordado, o réu avisou o autor de que fora
contactado por uma pessoa que se mostrara interessado em arrendar a dita loja
por 60.000 euros ao mês; ao que os autores concordaram equivaler
7. O réu começou a exigir mais condições
8. O contrato nunca foi formalizado

A indemnização foi calculada segundo o interesse contratual negativo. Mas teria de ser
calculada segundo o interesse contratual positivo? Já estaríamos perante uma verdadeira
obrigação de contratar?
O professor Mota Pinto considera que se as partes já fecharam as negociações e apenas
falta formalizar o contrato, então já estamos na presença de uma verdadeira obrigação
de contratar que deve ser indemnizada segundo o interesse contratual positivo – coloca-
se o lesado na situação em que este estaria caso o negócio tivesse sido pontualmente
cumprido
No caso em questão temos uma rutura ilícita das negociações – rutura da confiança?
1. Lucro cessante negativo (oportunidades perdida)
2. Verificam-se os pressupostos da responsabilidade pré-contratual
o Ilicitude – violação dos deveres acessórios de conduta + pressupostos
da tutela da confiança que dão asos a uma rutura injustificada das
negociações
 Situação de confiança – perspetiva de que o contrato seria
celebrado gerado pelos proprietários
 Investimento – obras ; licenças incentivado pelos futuros
proprietários
 Frustração da confiança por quem a criou – proprietários de
o imóvel
o Não basta o rompimento das negociações, é preciso que a rutura
consubstancie a violação de um dever acessório de conduta,
especialmente o de lealdade
o Culpa – presumível nos termos do art. 799º, não aplicação direta
segundo a teoria da terceira via
o Dano – prejuízos monetários + lucros cessantes?
o Nexo de causalidade – a conduta dos proprietários causou o dano .
ligação entre o facto ilícito e o dano
A maior parte da doutrina entende que se se trata de responsabilidade pré-
contratual, nos devemos restringir ao interesse contratual negativo
Como é que temos nexo de causalidade entre o facto e os lucros cessantes? – eles
têm direito a uma indemnização segundo o interesse contratual positivo, como se o
negócio tivesse sido pontualmente cumprido
Os lesados não ficaram com o melhor dos dois mundos?
1. Economicamente na situação em que estariam caso o negócio não tivesse
sido celebrado
2. Na situação em que estariam caso o negócio tivesse sido pontualmente
cumprido (2 anos)
3. Indemnização que cumula o interesse contratual positivo e negativo

O vício que se encontra na fundamentação encontr-ase na circunstância do


tribunal não afirmar que exista uma verdadeira obrigação de contratar sem
contrato-promessa
Se já temos consenso, já temos contrato ainda que não formalizado –
responsabilidade obrigacional

Responsabilidade obrigacional não é o mesmo que responsabilidade contratual –


ATF: responsabilidade emergente de obrigações independentemente da origem

8.
A negociou com B o arrendamento de um armazém, de que B é proprietário,
com o objetivo de aí instalar uma estufa e um espaço destinado à cv de produtos
hortícolas e hortícolas. Este armazém está localizado num sítio estratégico para A.
As partes acordaram que A pagaria a título de renda mensal, o valor de 4.000
euros.
A e B acordaram então que A faria um pagamento inicial de 2.500 euros e que o
contrato seria celebrado dali a 3 meses. Decorridos os 3 meses, A contactou B no
sentido de agendarem a celebração do contrato, mas este comunicou-lhe ter perdido o
interesse no negócio visto ter recebido uma melhor proposta por parte de D.
Não está em questão a violação de um dever geral de respeito sobre um direito
absoluto alheio nem a violação de um dever de prestação primário: B violou o dever
acessório de lealdade que impendia sobre o mesmo devido ao princípio da boa fé
objetiva que pauta a conduta das partes durante toda a vida da relação obrigacional (art.
227º e art. 7x)
Deste modo, se se preencherem os pressupostos da responsabilidade civil pré-
contratual (que também vai depender da teoria adotada relativamente à sua natureza
jurídica) A pode ter de indemnizar B por violação destes mesmos deveres.
1. Ilicitude – basta a violação do dever ou também é preciso que se preencham
os pressupostos da tutela da confiança? – seguimos a opinião do professor
Carneiro da Frada e basta a violação do dever de conduta
2. Dano – supressão de uma vantagem juridicamente reconhecida
3. Culpa – juízo de censura ético-jurídico – seguindo a opinião que considera a
culpa in contrahendo uma terceira via da responsabilidade, podemos
presumir a culpa aplicando analogicamente (e não diretamente) o art. 799º
4. Nexo de causalidade – ligação entre o facto (violação do dever) e o dano
(supressão da vantagem)
Podemos calcular segundo o interesse contratual positivo? Ou seja, podemos colocar o
lesado na situação em que este estaria caso o negócio tivesse sido pontualmente
cumprido?
ATF – se calcularmos a indemnização segundo o interesse contratual positivo estamos a
afirmar que existia de facto uma verdadeira obrigação de contratar, que é absolutamente
contrário à faculdade de não contratar decorrente do princípio da liberdade contratual.
O professor Mota Pinto, no entanto, considera que em certas situações a rutura
injustificada das negociações já não constitui um ato lícito mas sim ilícito
1. As negociações já estavam fechadas e apenas faltava formalizar
2. Um homem médio colocado na real posição do declaratário (A) também teria
acreditado que o negócio seria celebrado
Interesse contratual negativo visto que assumi responsabilidade pré-contratual
No caso em questão, A não tinha razões para crer que io negócio não se ia celebrar,
visto que já tinha pago 2.500 euros e já tinha acordado com B de que formalizariam o
negócio dali a 3 meses, para B ter tempo de esvaziar o armazém + A não tinha como
saber que B estava em negociações com D
Deste modo, A poderia intentar uma ação contra B pedindo uma indemnização
calculada segundo o interesse contratual positivo
 Isto só se pode fazer com responsabilidade obrigacional

1. Contrato-promessa? Não consubstancia visto que se trata de um contrato


de arrendamento que tem de ser reduzido a escrito, só temos contrato de
promessa formalmente válido se a promessa tivesse sido reduzida a escrito –
se fosse este era nulo por falta de forma

2. Como já temos uma negociação fechada, tratar-se-á de rutura abrupta ou


injustificada das negociações ou incumprimento de um dever de conclusão
do contrato de arrendamento, uma vez que já tínhamos consenso? Se
tivermos uma rutura abrupta e injustificada das negociações temos de ser

3. Responsabilidade solidária?

9.
A RR mostrava na sua montra um conjunto especial de bicicletas próprias para corta-
mato, alegando que estavam a preços especiais, quando na verdade custavam o dobro
daquilo que e empresa tinha por hábito cobrar o resto do ano
Silvano queria participar na corrida, e contratou com a RR alugar-lhes uma bicicleta de
corta-mato, que Silvano iria buscar no dia anterior à corrida, e entregar-lhes-ia no dia a
seguir (aluguer de 36h, tendo as partes formalizado o seu negócio por escrito). Neste
papel em que as partes formalizaram o contrato, acordaram ainda que o preço seria na
mesma devido, ainda que Silvano não levantasse a bicicleta
O corta-mato foi cancelado na antevéspera e a RR quer que Silvano lhes pague na
mesma o aluguer.
 Pode Silvano alegar alteração das circunstâncias, art. 437º?
 Temos de ver se se preenchem os pressupostos tendo em conta que adotámos a
teoria da base do negócio do professor Carvalho Fernandes
 Alteração de uma circunstância exterior às partes – base objetiva – o corta mato
não se realizar
 É uma circunstância anormal? Não
 Qual a lesão? Ter de pagar o aluguer sem usufruir
 O cumprimento da obrigação é contrário à boa fé objetiva? - risco corre por
Silvano (risco inerente ao próprio contrato)
No entanto, de modo a equilibrar o contrato seria injusto exigir a manutenção do
contrato sem silvano usufruir do aluguer
 A base é bilateral – base subjetiva – visto que ambas as partes fundamentaram a
sua decisão de contratar na circunstancia do corta mato se realizar

Pressupostos moveis – ATF: requisitos que têm de estar cumulativamente verificados –


requisitos que têm na sua base o recurso a conceitos indeterminados
1. Alteração excecional da base?
2. A alteração das circunstancias é uma exceção ao princípio da força vinculativa,
que tem de ser cumulado com o princípio da boa fé

9. A Rodas Ronalda, L.da, aluga bicicletas. Em vista do corta-mato em bicicleta que se


realizaria em meados de Março, a RR fez na sua loja um mostruário especial de
bicicletas de corta-mato, no qual se encontravam cartazes que diziam «Vamos Todos
Ao Corta-Mato da Primavera!» e outros que diziam «Preços Especiais do Corta-Mato da
Primavera!» Na verdade, os preços dos alugueres eram cerca do dobro daquilo que a RR
cobra no resto do ano. Silvano, querendo participar na corrida, contratou com a RR
alugar-lhes uma bicicleta de corta-mato, que Silvano iria buscar ao final da tarde da
véspera e que devolveria no dia seguinte. O papel em que as partes formalizaram o seu
acordo exprimia assim o conteúdo principal do contrato: «Aluguer de uma bicicleta de
modelo JHG por 36 horas. Reserva completa: preço devido mesmo no caso de Silvano
não levantar a bicicleta no período contratado.» O corta-mato foi cancelado na
antevéspera, Silvano, em consequência, não foi buscar a bicicleta, a RR quer que ele
lhes pague o aluguer à mesma. QJ?
Estamos aqui perante um caso em que RR e Silvano celebram um contrato de aluguer
de uma bicicleta, de forma a que este último pudesse ir ao corta-mato que se realizava.
Todavia, na antevéspera, o mesmo é cancelado.
A questão que surge é a de saber se terá Silvano direito à resolução do contrato com
base na alteração das circunstâncias. Desde logo, devemos olhar ao art.437º, o qual
consagra que “se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar
tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução do
contrato, ou à modificação dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência das
obrigações por elas assumidas afete gravemente os princípios da boa-fé e não esteja
coberta pelos riscos próprios do contrato”.
Retiram-se, como tal, daqui vários pressupostos para a aplicação deste instituto.

1) Deve haver uma alteração das circunstâncias sobre as quais as partes assentaram a
decisão de contratar.
PROF – Há uma alteração da base do contrato – situações que, sendo exteriores ao
contrato (não há referência ao corta-mato), não deixam de ser as circunstâncias
essenciais em que todo o contrato assentou.
EU – Ora, quer dos cartazes que se encontravam na montra, quer do preço acima do
normalmente praticado, se retira que a base do negócio seria Silvano poder ir ao corta-
mato.
A existir alteração, há alteração da base subjetiva (expectativas de ambas as partes)
2) Essa alteração deve ser anormal. A ter em consideração na averiguação da
anormalidade, dizem alguns autores ser o elemento da imprevisibilidade. Não podemos,
todavia, falar aqui de uma imprevisibilidade abstrata, ao ser, em abstrato, tudo
previsível, mas sim de uma imprevisibilidade concreta. A Professora, todavia, entende
que o importante é que seja uma alteração excecional. Tendo isto em conta, é
perfeitamente defensável que, sendo cancelado na antevéspera, fosse esta circunstância
imprevisível.
3) Deve estar em causa uma lesão. No que toca a este pressuposto, podemos igualmente
dizer que se verifica, uma vez que, não se realizando o corta-mato, o facto de ter que
pagar o aluguer da bicicleta sem usufruir da mesma, o que apenas implicaria custos para
Silvano.
4) A manutenção do contrato deve ser contrária ao princípio da boa-fé. Aqui, devemos
falar de uma afetação grave. Ora, tendo isto em conta, não podemos considerar que
obrigar Silvano ao pagamento do aluguer da bicicleta, mesmo não se realizando o corta-
mato, seja uma afetação grave. Dizer isto seria alargar demasiado a aplicação deste
instituto, bem como ignorar o princípio da força vinculativa dos contratos.
A prof discorda!
5) A alteração não pode estar incluída nos riscos próprios do contrato. Prevê-se, neste
caso, no contrato, que Silvano deveria o preço do aluguer, mesmo que não levantasse a
bicicleta. Dito isto, parece estar contemplado nos riscos do contrato esta possibilidade.
6) Inexistência de mora do devedor (art.438º). Ora, devendo Silvano o preço pelo
aluguer e não o pagando, considera-se que está em mora.

Dito isto, não podemos aceitar que, através do instituto da alteração das circunstâncias,
Silvano tenha o direito à resolução do contrato.

A Professora diz que, mesmo que esteja consagrada a cláusula que impõe o pagamento
da bicicleta, este não é o espírito desta cláusula de repartição do risco – aqui, importa
ver se exigir o cumprimento é contrário ao princípio da boa-fé.

10. Manuela é dona de um edifício em ruínas. Contratou Nuno para «demolir em


segurança» todas as partes ainda de pé e para «remover para vazadouro todos os
materiais restantes». Acordaram um preço total de 20.000 euros pelo trabalho. Pouco
antes de Nuno começar a obra, um camião despistou se e bateu violentamente na
fachada do edifício em ruínas, destruindo-a na totalidade. Este embate e a remoção do
camião -- feita por uma empresa de pronto-socorro sem relação com Manuela nem
Nuno -- tornaram a demolição muito mais fácil, de modo que os custos de Nuno em
materiais e horas de trabalho acabaram por ser cerca de metade daquilo que seriam sem
o acidente. Quid iuris?
A pergunta que se faz aqui é a de saber se podemos aplicar o instituto da alteração das
circunstâncias. Desde logo, devemos olhar ao art.437º, o qual consagra que “se as
circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar tiverem sofrido uma
alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução do contrato, ou à modificação
dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência das obrigações por elas
assumidas afete gravemente os princípios da boa-fé e não esteja coberta pelos riscos
próprios do contrato”.
Retiram-se, como tal, daqui vários pressupostos para a aplicação deste instituto.
1) Deve haver uma alteração das circunstâncias sobre as quais as partes assentaram a
decisão de contratar. Ora, há uma alteração do preço que custará a Nuno para realizar a
demolição, devido destruindo o edifício. Não se questionando a possibilidade estar aqui
em causa a base objetiva, isto é, os condicionalismos objetivo apenas implícitos, porque
essenciais ao sentido e resultado do contrato celebrado, não se questiona estar verificado
este pressuposto.
2) Essa alteração deve ser anormal. A menção a uma alteração anormal prende-se com a
imprevisibilidade. Porém, esta imprevisibilidade deve ser concreta e não abstrata. Ora,
podemos afirmar que não era, em concreto, previsível que o camião se despistasse e
atingisse o prédio, destruindo-o. Assim, podemos igualmente considerar verificado este
pressuposto.
3) Deve estar em causa uma lesão. Temos uma lesão para Manuela, uma vez que terá
que pagar por um serviço que não teve que ser prestado.
A Prof não tem certezas de que este pressuposto se verifica. Apenas podemos chegar à
possibilidade de resolução do contrato se considerarmos que estes pressupostos são
móveis.
4) A manutenção do contrato deve ser contrária ao princípio da boa-fé. Seria demasiado
oneroso obrigar Manuela a pagar o preço total da demolição, quando, na verdade, terá
apenas custado metade do que custaria a Nuno para a realizar. Assim, podemos afirmar
ser, de facto, contrário aos ditames impostos pela boa-fé que Manuela continue a pagar
o preço total da demolição.
5) A alteração não pode estar incluída nos riscos próprios do contrato. De facto, a
possibilidade de um camião se despistar, atingindo o prédio em ruínas e destruindo-o,
não parece um risco próprio de um contrato de demolição. Dito isto, verifica-se este
pressuposto.
6) Inexistência de mora do devedor (art.438º). Pese embora não se tivesse iniciado a
demolição, não se encontra Nuno em mora, pelo que se encontra igualmente verificado
este pressuposto.

Dito isto, reconhece-se de facto a aplicação do instituto da alteração das circunstâncias,


porém, sendo possível reequilibrar o contrato através da sua modificação, neste caso, da
modificação do preço que Manuela estaria adstrita a pagar, não parece justificado
atribuir a Manuela um direito de resolução do contrato. Assim, terá direito à sua
modificação.

11. Analise criticamente os Acórdãos do STJ de 29.03.1979 (BMJ n.º 285), de


10.01.2013 (processo n.º 187/10), e do Tribunal da Relação de Lisboa de 14.06.2012
(processo n.º 187/10) e de 08.04.2021 (processo n.º 19222/20.1T8LSB.L1-6).

Acórdão de 20/3/1979
Alteração das circunstâncias
- Temos aqui o contrato de transmissão de quotas de uma sociedade agrícola com sede
em Angola, que era proprietária de uma fazenda que produzia bananas.
- Um sócio vende a sua quota a pagar em duas prestações – a primeira é paga, porém,
antes da data de pagamento da segunda cota, há a independência de Angola – a fazenda
foi nacionalizada em consequência da descolonialização/25 abril, sendo o principal
ativo perdido para o estado angolano.
- Recusa-se a pagar a segunda cota
- Não tendo sido o preço integralmente pago mas transmitida a titularidade da cota,
pode haver uma alteração do contrato com base na alteração das circunstâncias?

A dúvida aqui está em saber se a alteração das circunstâncias se pode aplicar a


contratos de execução instantânea. Aqui, sendo verdade que no acórdão há alguma
hesitação, efetuado o pagamento, a propriedade da quota transfere-se.

A prof diz que não se aplica a contratos integralmente cumpridos, mas pode aplicar-se a
contratos de execução imediata, desde que as obrigações dele emergentes não estejam
ainda cumpridas. Não restringe aos contratos de execução continuada.
Neste caso, temos uma alteração da base não subjetiva, mas da base objetiva em que
assentam a s partes a decisão de contratar (ate se escrever varias vezes que o processo
revolucionário que seguiu o 25 de abril e a subsequente descolonialização constituíram
uma alteração da grande base objetiva em que as partes assentaram a decisão de
contratar.
Pressupostos:
- Alteração anormal – dizia-se ser previsível a revolução. A Prof diz que a
imprevisibilidade é irrelevante. Desde logo, não se sabia quando ia acabar.
- Exigir o cumprimento pontual pode ser considerado contrário ao princípio da boa-fé.
O principal problema é que para aplicar este instituto, não podemos estar perante um
risco inerente ao contrato. Uma das mais principais regras de repartição de risco é o
art.796ºé que este corre por conta do adquirente. Assim, é considerado indiferente a
circunstância do ativo se desvalorizar ao se equiparar à mesma solução a que se
chegaria se, depois de celebrado o contrato, o objeto se tivesse destruído
10.
Manuela e Nuno acordaram um preço total de 20.000 euros por um trabalho. Pouco
antes da obra começar um camião despistou-se e destruiu na totalidade o edifício de
Manuela – os custos em materiais e produção acabaram por ser metade daquilo que
seriam sem o acidente
Risco inerente ao próprio contrato – não se pode alegar alteração de circunstâncias.
Nuno deve ser recompensado apenas pelo trabalho que fez, a alteração de circunstâncias
não é imputável a Manuela, e esta não deve responder pela mesma
Se entendermos que os pressupostos não são cumulativos, podemos prescindir a lesão.

11.
Podemos aplicar a alteração de circunstâncias relativamente a contratos de prestação
instantânea?
A alteração de circunstâncias não se aplica a contratos já integralmente cumpridos –
pode aplicar-se a contratos de prestação imediata desde que as obrigações ainda não
tenham sido cumpridos
Neste caso temos uma alteração da base objetiva –

Se estamos a falar do cumprimento de uma obrigação pecuniária – responsabilidade


agravada – risco próprio do contrato, não significa no entanto que em situações atípicas
não

12.
As partes acordam celebrar um CV e a propriedade transfere-se para o Bernardo só que
em vez de vincular a pagar já, o preço será pago à casa do gaiato
Se o que as partes quiseram foi determinar que o credor do preço era a casa do gaiato
então estamos perante um contrato a favor de terceiro verdeiro e próprio
Se não e a casa do gaiato apenas tem legitimidade para receber a prestação (Art. 770/a) )
então não estamos perante um contrato favor de terceiro verdadeiro e próprio
Art. 445º
Apesar do titular do direito de crédito ser o terceiro casa do gaiato, a verdade é que nos
termos do art. 444/2 o promissário mesmo não sendo credor tem sempre o direito a
exigir o cumprimento da promessa

b)
pessoa a nomear
1. Art. 452º
2. Requisitos de que depende a nomeação
1. Prazo de 5 dias a contar da celebração do contrato

c)
A pretende presentar o filho C com um automóvel. Para esse efeito, celebrou um
contrato de CV com B. A esclareceu com B que era ele, António, que comprava e
pagava, ainda que os detalhes fossem todos acertados com B, e a entrega era feita
diretamente a C.
B obrigou-se a entregar o carro a C no prazo de uma semana a partir da data da
celebração do contrato. Nos termos desse período C exigiu a B a entrega do automóvel.
A, no entanto, prometeu a B que pagaria o preço a D, no sentido de o libertar de uma
dívida que este havia contraído

a)
artigo 443º/1 – definição
do contrato a favor terceiro pode resultar a constituição ou transmissão de um
direito real
Entre A e B estabeleceu-se um contrato a favor de terceiro – A e B celebram um
contrato de compra e venda, a favor de C. O regime do contrato a favor de terceiro está
regulado nos artigos 443º ss.
Num contrato a favor de terceiro é necessário que concorram os seguintes
elementos: relação de cobertura (A assume perante B pagar o preço), relação de
execução (B assume entregar o carro a C), e relação de atribuição (A pretende
presentear o filho C, que não é parte contratual). Deste modo, preenchem-se todos os
pressupostos e estamos perante um verdadeiro contrato a favor de terceiro.
Corresponde a um interesse digno de proteção legal? A promessa deve servir
para tutelar um interesse de um terceiro que não corresponde a um capricho, tem de ser
um interesse suscetível de ser tutelado pela ordem jurídico
Nos termos do art. 444º/1, C adquiriu o direito à prestação, independentemente
de aceitação, uma vez que estamos na presença de uma obrigação que tem de ser
cumprida em vida do promissário
Neste caso, o promitente é B, que deve entregar o carro ao terceiro, devido à
promessa feita a A (pai de C).
ART. 449º - relação de acessoriedade entre a relação de cobertura e a de execução – só
pode usar os meios que derivam do próprio contrato
O conteúdo de qualquer proteção legal tem de corresponder a um interesse digno de
proteção legal, estamos a repetir o que já vem previsto no artigo 398º, n.º 2
Artigo 428º

b)
não. nos termos do art. 449º o promitente apenas pode usar como defensa os
mecanismos que derivem do próprio contrato (neste caso, no CFT) – ou seja, não pode
alegar vicissitudes que derivem de outros contratos (neste caso de um contrato prévio
em nada relacionado com este)
a exceção do não cumprimento não pode ser invocada se não estamos no caso do
mesmo contrato sinalagmático

c)
nos termos do art.448º, a promessa pode ser revogada pelo promissário enquanto o
terceiro não tiver manifestado a sua adesão. Deste modo, enquanto C não tivesse
manifestado a sua adesão à promessa, poderia A revogar o contrato

d)
o que temos aqui é uma assunção de dívida (art. Art. 443º/2).
Por meio de um CFT, A assumiu a dívida de B perante D. Nos termos do art. 444º/3
tratando-se de exoneração de uma dívida . Para que tal aconteça, é preciso que o credor
admita esta repartição da dívida.
Neste caso, temos o A que promete ao B exonerar a sua dívida perante C, como meio de
pagamento do carro (que é alheio à relação contratual estabelecida entre A e B).
Neste caso, entre A e B estabelece-se uma relação de cobertura, em que A atua como
promitente (visto que promete pagar a dívida de B) e em que B é o promissário. Entre A
e C estabelece-se uma relação de execução, visto que a atividade desenvolvida se passa
entre estes dois sujeitos. Por fim, entre B e C estabelece-se uma relação de atribuição
(visto que a promessa é feita a favor de saldar a dívida de B com C).
Nos termos do n.º 3 do art. 444º, tratando-se de promessa de exonerar uma dívida do
promissário (A promete pagar a dívida de B para com C) apenas ao promissário é lícito
exigir o cumprimento da promessa.
Deste modo, D não poderia exigir a A o pagamento do preço
A assunção de dívida é um falso contrato a favor de terceiro – o terceiro que é o
Duarte não tem o direito a exigir o cumprimento da promessa, e o que caracteriza
o contrato a favor de terceiro é o direito à prestação, mesmo sem aceitação
e)
Supondo então que as partes acordaram celebrar um contrato em que A poderia vir a ser
substituído por C.
Este tipo de contrato (contrato de pessoa a nomear) é um negócio típico e regulado por
lei, previsto nos artigos 452º ss.
Nos termos no n.º 1 do artigo supra referido, num contrato de pessoa a nomear um dos
contraentes pode reservar para si a possibilidade de se fazer substituir por outrem,
assumindo esse outrem os direitos e obrigações que do contrato advêm .
Para que esta nomeação seja válida e eficaz é preciso que observe a forma da
procuração exigida para aquele negócio (não se tratando de imóvel e apenas móvel
sujeito a registo a procuração não precisa de observar uma forma especial) ou
ratificação posterior pelo novo contraente. Tratando-se de um móvel sujeito a registo a
cláusula de para pessoa a nomear tem de constar do registo (n.º 1 do art. 456º)
Não sabendo então se as partes indicaram no registo do automóvel a cláusula de pessoa
a nomear, o contrato produz efeitos relativamente ao contraente originário (nos termos
do n.º 2 do art. 455º)
Nos termos do n.º 1 do artigo 455º se a declaração cumprir os requisitos do art. 453º os
efeitos produzem-se relativamente ao segundo contraente como se tivesse sido este a
celebrar ab initio.
Não temos aqui nenhuma exceção ao princípio da relatividade dos contratos, típico
de um contrato a favor de terceiro

13.
1. sim. Se não se tratasse de uma promessa mas sim de um contrato definitivo,
estaríamos na presença de uma compra e venda de um bem alheio visto que A venderia
algo que não é seu, a qual seria nula ao abrigo do art. 892º
Tratando-se de uma promessa de celebrar uma compra e venda, caímos no âmbito dos
contratos preliminares - contratos que antecedem a celebração de um contrato
definitivo – mais concretamente os contratos-promessa.
Os contratos promessa estão regulados nos artigos 410º ss.
Para saber se A pode prometer vender a B um quadro que não lhe pertence, temos de
saber qual o regime aplicável ao contrato-promessa.
Nos termos do art. 410º/1, é aplicável ao contrato promessa o regime definido para o
contrato definitivo, a não ser que razões de forma ou substância das disposições não
permitam essa extensão. Vemos então que vigora um princípio de equiparação entre os
dois tipos de contrato.
Sabemos que não se coloca uma questão de forma, pelo que podemos desde já afastar
essa hipótese de exceção ao princípio da equiparação. Resta então perceber se a ratio
das disposições aplicáveis ao contrato definitivo são extensíveis ao contrato-promessa.
O artigo 892º torna nula a CV de um bem alheio, visto que a CV é um contrato apto a
transmitir o direito real, um dos efeitos que resulta claramente do art. 879º é a
transmissão da propriedade, e é evidente que o alienante não pode transmitir a
propriedade de um bem que não tem.
No entanto, uma situação é o contrato ser nulo porque deste contrato resulta a
transmissão de um direito de propriedade que não se encontra na esfera jurídica do
alienante, outra é o alienante vincular-se a contratar no futuro (do contrato-promessa só
resultam efeitos obrigacionais, não reais)
Deste modo, o art. 892º não é aplicável ao contrato-promessa e A poderia prometer a B
vender o quadro de C.

2.
A e B são casados um com o outro em regime de comunhão de bens. A prometeu a C
vender o imóvel de que é proprietário sem o consentimento de B.
Sabendo que A pretende alienar o imóvel, e que o regime aplicável aos bens do seu
casamento é o da comunhão de adquiridos, caímos no âmbito de aplicação do art. 1682-
A, n.º 1 al. a) – torna anulável a transmissão ou oneração de imóveis sem consentimento
Um dos efeitos da compra e venda é a transmissão do direito de propriedade, nos termos
do art. 879º, al. a).
Ora, num contrato-promessa não se verifica a transmissão de um direito de propriedade
– o contrato-promessa goza de uma eficácia meramente obrigacional, não real quanto
aos efeitos.
A doutrina tem entendido que, não estando ainda em causa, no contrato-promessa, a
transmissão de um direito de propriedade mas simplesmente uma obrigação de contratar
no futuro, não existe nenhuma razão válida para que também o contrato-promessa
careça de consentimento.
Deste modo, estamos na presença de uma exceção ao princípio da equiparação e o
contrato celebrado entre A e B é válido.
3.
a. liberdade de forma
b. liberdade de forma
c. documento assinado por ambas as partes, nos termos do art. 410º/2 e 3
d. documento assinado apenas pelo promitente
e. documento com reconhecimento presencial das assinaturas dos
promitentes
f. contrato nulo? Venda de um bem próprio?
g. Documento assinado por ambas as partes (o objeto é o terreno, logo basta
o n.º 2 do art. 410º)
h. Documento assinado
i. Documento + reconhecimento
j. Documento assinado
k. Liberdade de forma – é um direito pessoal de gozo, não é um direito real.
Não se tratando de um regime especial e não estando o contrato
prometido
l. Artigo 413º - temos de observar a forma exigida para o contrato
prometido
m. Artigo 413º, n.º 2 – o contrato de compra e venda de um bem móvel com
eficácia real não exige forma especial, no entanto a promessa de compra
e venda exige documento assinado

4.
a)
na execução específica o B vai requerer que o tribunal se substitua ao A – que se opere a
transmissão da propriedade: é o que resulta do art. 830º, n.º 1
e o primeiro direito que se reconhece ao promitente fiel é este direito de execução
específica
quando é que não há lugar a execução específica?
1. Convenção em contrário
2. Impossibilidade da prestação ou ilegitimidade do contraente
3. A natureza da prestação é incompatível com a execução específica

b)
art. 830º/2 – presume-se existir convenção em contrário se o contrato-promessa for
sinalizado
uma vez que temos a presunção de que o contrato foi sinalizado, não há lugar a
execução específica
c)
artigo 410º, n.º 3
estando na presença de um contrato de compra e venda: contrato oneroso de transmissão
de um direito real
mesmo tendo sinal, entende-se não existir presunção em contrário
presunção imperativa que impõe que exista sempre execução específica – mesmo que as
partes queiram afastar a execução específica, não podem
Art.410º/3.
Art.830º/3 – o direito de execução especifica não pode ser afastado pelas partes.
Como estamos perante um contrato-promessa oneroso de transmissão de um direito real.
Mesmo havendo sinal, não é afastado pelas partes a execução especifica.
Temos uma disposição imperativa que impõe que haja sempre execução especifica.

d)
o contrato-promessa só goza de eficácia obrigacional. O tribunal não pode declarar a
execução específica visto que estamos na presença de uma verdadeira impossibilidade
de execução específica – o bem não é propriedade do A
tendo incumprimento, não há lugar ao regime de execução específica

e)
o registo torna o direito de B oponível erga omnes
definição de execução específica nos termos do n.1 do art. 830º

f)
cpcv de um quadro – liberdade de forma
exceção ao princípio de equiparação
ilegitimidade do transmitente – se o tribunal requeresse a execução específica, estaria a
cometer uma ilegalidade visto que estaria a permitir a compra e venda de um bem alheio

g)
não: ilegitimidade do transmitente que advém do art. 1682º-A, n.º 1, al. a)
h)
1. não – A natureza da prestação é incompatível com a execução específica
o contrato promessa de um contrato de trabalho é válido, só que em caso de
incumprimento, tratando-se de um caso de intuid persone, não pode declarar a execução
específica

i)
tendo incumprimento da obrigação há lugar à execução específica – regime-regra
exceção:
1. Ilegitimidade ou impossibilidade
2. Convenção
3. Natureza da prestação é incompatível com a execução específica

j)
direito a requerer execução específica – art. 830º/3
apesar de existir sinal como estamos numa das hipóteses previstas no art. 410-º/3 - há
sempre lugar à execução específica.
Porém por incumprimento do prazo a mora transforma-se em incumprimento
definitivo? Art. 808º - teorias
Aquele que prestou o sinal tem o direito ao sinal em dobro
Porque é que aqui não era possível pedir a indemnização por aumento de valor?
1- Não tivemos tradição da coisa
2- Não sabemos se tivemos aumento do valor
A obrigação do pagamento do sinal em dobro está garantido pelo direito de retenção
(artigo 755º) – mas exige que tenha existido tradição da coisa

k)
de que pressupostos é que depende a execução específica?
1. Incumprimento de uma obrigação de contratar que era judicialmente
exigível
2. A culpa não é requisito cumulativo
Nas situações em que já tivemos conversão da mora em incumprimento definitivo
já não podemos ter execução específica
- art. 808º (perda objetiva do interesse; fixação de um novo prazo com
apresentação de uma combinação – se a obrigação não for cumprida dentro
daquele prazo, considera- se como definitivamente cumprida).
Interpelação admonitória
Tendo a moras sido convertida, pode na mesma ser requerida a execução
específica?

tratando-se de um contrato-promessa, qualquer antecipação ou princípio da prestação


terá carácter de sinal ao abrigo da presunção prevista no art. 441º
A entregou as chaves do imóvel – tradição da coisa
B (comprador) entregou a A (vendedor) a quantia de 50.000 euros. B foi o promitente
fiel que efetuou a prestação, logo caímos no âmbito da segunda parte do n.º 2 do art.
442º
Tendo existido tradição da coisa, B poderia optar entre exigir o sinal em dobro ou
requerer uma indemnização pelo aumento de valor. Se não tivesse ocorrido tradição da
coisa, apenas poderia exigir o sinal em dobro.
l) para saber que direitos assistem a B, temos de saber se o exercício dos direitos
previstos no art. 442º se bastam com uma situação de simples mora, ou se exigem um
incumprimento definitivo da obrigação.
O professor almeida costa defende que estes direitos se bastam com uma situação de
simples mora, visto que no art. 830º/3 se estabelece que as promessas a que se refere o
art. 410º/3 (transmissão ou oneração de direito real sobre abc) o direito à execução
específica. Deste modo, o contraente poderia requerer a execução específica ao abrigo
do art. 442º/3.
No entanto, a jurisprudência não tem seguido este entendimento, considerando que
apenas nos casos de indemnização pelo aumento de valor (em que o contraente faltoso
se pode oferecer para cumprir) é que bastará uma situação de simples mora. Nos outros
casos, apenas poderá o promitente fiel recorrer À retenção do sinal prestado ou exigir o
sinal em dobro quando se trate de uma impossibilidade definitiva da prestação
Neste caso é duvidoso que tenhamos uma interpelação admonitória – apenas
estabeleceu um novo prazo, não combinou um novo acordo – apenas fixa um prazo
razoável.

m) este contrato não foi sinalizado


indemnização nos termos gerais?
Ressarcimento por todos os custos
Responsabilidade pré-contratual ou obrigacional?

14.
 Maria e José celebraram por escrito particular um CP em que Maria prometia
vender e José prometia comprar um prédio rústico por 50.000 euros.
 Apenas Maria assinou o contrato
 José começou a plantar no terreno
 Maria queria vender o terreno a Marcelino, visto que o mesmo à data valia mais
vinte mil euros que o acordado com José.
a)
art. 410º, n.º 2
 Princípio da equiparação
 Documento assinado
 Art. 875º
 Documento assinado
 Afastamos o art. 410º/3 e aplicamos o n.º 2
 Vício de forma visto que falta a assinatura
pode o contrato promessa bilateral inválido, tornar-se num contrato-promessa unilateral
válido?
Ex assento 1/90: sim, desde que tal corresponda à vontade das partes
Sim, tanto que José até começou a plantar no terreno.
Tratando-se de uma nulidade, em princípio qualquer interessado pode invocar, no
entanto, o promitente alienante só pode invocar o vício não foi culposamente criada por
si, que foi.
à partida, a não ser que exista convenção em contrário, a natureza da obrigação assim
não o permita, ou exista uma impossibilidade definitiva ou ilegitimidade do transmitente
que impede que a ação seja julgada procedente, o contraente fiel pode sempre requerer
uma ação de execução específica ao abrigo do art. 830º/1
 a maior parte da doutrina tem acolhido a tese da redução
 tratando-se de redução, conseguimos mais facilmente transformar o
contrato inválido num contrato unilateral válido.

b) Nos termos do art. 441º, qualquer antecipação ou princípio de pagamento de


uma prestação resultante de um contrato-promessa terá carácter de sinal.
Nos termos do art. 830º, n.º 1, o contraente fiel terá direito a requerer uma ação de
execução específica ao tribunal, salvo se convencionar o contrário, existir uma
impossibilidade da prestação ou ilegitimidade do transmitente, ou se a própria natureza
da obrigação assim o não permitir.
Nos termos do art. 830º, n.º 2, presume-se existir convenção em contrário quando o
contrato é sinalizado.
deste modo, a ação de execução específica de José não seria julgada procedente, ao
abrigo do art. 830º/1 e 2.
A aplicação da presunção implica a existência de um sinal. – art. 830º/3
Tratando-se no entanto de andar para habitação a resposta já não seria a mesma, devido
ao disposto no n.º 3 do art. 830º, que remete para o n.º 3º do art. 410º

c)
em princípio, um contrato-promessa gerará apenas efeitos obrigacionais. No entanto, se
atribuírem eficácia real, do contrato-promessa não emergem apenas consequências
obrigacionais mas também reais quanto aos efeitos ex. o objeto da promessa passará a
gozar da característica da sequela e da preferência temporal
nos termos do art. 413º , as partes podem atribuir eficácia real ao contrato-promessa
desde que observem determinados requisitos:
1. O objeto da promessa tem de ser um imóvel ou um bem móvel sujeito a registo.
Tratando-se de um prédio rústico, caímos no âmbito dos imóveis ao abrigo do
art. 204º, n.º 1, al. a)

2. As partes têm de declarar expressamente a sua intenção em atribuir eficácia real


ao contrato,

3. A promessa deve constar de escritura pública ou documento particular


autenticado
A compra e venda celebrada entre Maria e Joaquim é válida e eficaz, visto à data da
celebração do contrato, esta ainda era proprietária do imóvel. No entanto, o direio de
José (por ter sido atribuída eficácia real ao CP) é oponível erga omnes (pode opor o seu
direito de aquisição ao Joaquim): suscetibilidade do direito de aquisição de B poder ser
oposto a terceiros
O problema que o artigo 413º não resolve prende-se com a tutela jurisdicional do direito
do promitente adquirente
Qual a ação que o B deve propor para conseguir fazer valer o seu direito de aquisição
que é oponível a terceiro?
1. Antunes Varela: propor uma ação de declaração de nulidade contra o terceiro, e
uma ação de execução específica contra o promitente faltoso
Esta posição pressupôs que o CV celebrado entre o promitente faltoso e o terceiro é
nulo, quando ele é perfeitamente válido e eficaz, e não se pode tornar superveniente
nulo porque o promitente fiel decide exercer o seu direito de aquisição que é oponível
erga omnes (além de que a nulidade é um vício que se encontra na génese do negócio
celebrado – o negócio celebrado entre A e C é perfeitamente válido) – não se trata de
uma CV de bens alheios, visto que ainda estamos no âmbito de um CP
2. Outros autores vieram defender que o direito de B se exercia através da proposta
de uma ação de execução específica contra o terceiro – se o promitente faltoso já
não o proprietário, ainda que tenha sido este a incumprir, a ação tem de ser
proposta contra o real proprietário
A ação de execução específica, tal qual como se encontra definida no art. 830º, é uma
ação que se propõe conta o promitente que incumpriu a obrigação de contratar O
terceiro (Joaquim) nunca se vinculou a contratar com o terceiro – não podemos requerer
uma ação de execução específica
CPC – a todo o direito corresponde um meio de o exercer em juízo
A ação que tem de ser proposta é uma ação declarativa de natureza constitutiva – o que
o José quer é exercer o seu direito de aquisição; para o fazer, propõe uma ação contra o
promitente (Maria) e contra o terceiro (Joaquim: o que o tribunal tem de fazer é
transferir o direito o direito que estava na esfera jurídica do Joaquim para o José, através
da sentença.
+ indemnização: tendo sinal, podia pedir o sinal em dobro + indemnização pelo
aumento do valor: não fica excluída a indemnização (sinal em dobro ou aumento
do valor) – garantido pelo direito de retenção

15.
António prometeu vender a Bento uma vivenda pelo valor de 150.000 euros, tendo
Bento entregue a António logo 20.000.
Nos termos da presunção estabelecida no art. 441º, estando no âmbito de um contrato-
promessa, qualquer princípio ou antecipação do cumprimento da prestação tem carácter
de sinal.
Ao entregar as chaves do imóvel, tivemos tradição da coisa.
António, que é o promitente vendedor, recusa-se em realizar a escritura pública,
invocando a valorização do imóvel.
Ora, nos termos do art. 442º, n.º 2, segunda parte, se o promitente fiel for quem prestou
o sinal, terá este a faculdade de exigir o sinal em dobro ou (com a entrega das chaves
ocorreu tradição da coisa) ou exigir uma indemnização pelo aumento de valor.
A indemnização pelo aumento de valor calcula-se subtraindo ao valor objetivo do
mercado o valor convencionado, adicionando depois o valor do sinal. No caso em
questão, concretiza-se na diferença entre os 180.000 e os 150.000, + 20.000 = 50.000
+ reembolso pelas obras
Nos termos do art. 442º, n.º 3, segunda parte, António poderia de facto optar por
cumprir a promessa, visto que Bento optou pela indemnização por o aumento do valor.
No entanto, temos de indagar se já não estávamos na presença de uma verdadeira
impossibilidade de prestação, e não apenas em mora.
No caso em questão não temos dados que indiquem a impossibilidade superveniente da
prestação, pelo que esta solução ainda seria possível.

16.
 Nuno estava interessado em adquirir o andar de Alberto.
 Nuno contactou Alberto, e este vinculou-se a conceder preferência a Nuno na
venda do imóvel.
 Alberto comunicou a Nuno que estava a pensar vender o imóvel por 200.000
euros, perguntando-lhe se não estaria interessado em adquirir o imóvel. Não
comunicou, porém o nome do terceiro. Nuno respondeu que ia pensar no
assunto.
 Vinte dias depois, Alberto vendeu o imóvel a Isabel por 200.000 euros.
a)
Ora, o direito de preferência corresponde ao direito que permite ao seu titular contratar
com o obrigado à preferência, nas mesmas condições em que este contrataria com um
terceiro.
O direito de preferência pode ter fonte legal ou convencional. No caso em questão o
direito de Nuno (que é quem pode preferir) não resulta da lei mas de convenção entre as
partes – pacto de preferência ao abrigo do art. X.
O direito de preferência de Nuno é um direito que resulta de convenção, pelo que para
ser oponível erga omnes (produzir efeitos contra Isabel e ficar com a propriedade e não
se ficar pela mera indemnização por parte do obrigado à preferência – Alberto) era
preciso que o pacto gozasse de eficácia real – as partes não atribuíram eficácia real ao
contrato.
Deste modo, Nuno não poderia intentar uma ação de preferência contra Isabel e Alberto.
Forma do contrato de preferência – art. 415º com remissão para o art. 410º/2: o CD é
um CV de um imóvel que tem de observar a forma de escritura pública ou documento
particular autenticado ao abrigo do art. 875º: deste modo, o pacto de preferência tinha
de ser reduzido a escrito e assinado, no mínimo, pelo obrigado à preferência (art.
410º/2)
A comunicação não está sujeita a forma
O nome do terceiro só tem de ser revelado quando o beneficiário tem um interesse
objetivo nessa mesma divulgação ex. compropriedade: não é o caso
 Em que artigo é que está previsto que apenas os direitos de preferência de fonte
legal ou fonte convencional com eficácia real é que gozam do direito de ação de
preferência
A comunicação feita pelo Alberto cumpre os pressupostos do art. 416º?
Tinha primeiro de ter negociado com um terceiro; o que resulta da comunicação é uma
mera intenção de venda
A comunicação para preferência é insuficiência
A identidade do terceiro tem de ser relevada?
Incumprimento da obrigação de dar preferência – o direito que o nuno tem é de
exigir uma indemnização nos termos gerais por incumprimento da obrigação
b)
Nuno já podia de facto intentar uma ação de preferência contra os dois, visto que o seu
direito de preferência já resultaria de fonte legal e não convencional sem eficácia real.
Este seu direito encontra-se regulado no art. 1410º
1. Nuno disporia de um prazo de 6 meses contados a partir da data em que toma
conhecimento do essencial do negócio, tendo de realizar o depósito devido nos
15 dias que sucedem a propositura da ação.
Contra a Isabel, Nuno teria sempre de intentar uma ação de preferência visto que a
propriedade já era desta.
Relativamente ao Alberto a posição não é tão unanime. Enquanto o professor Almeida
Costa, por exemplo, considera que basta que a ação seja proposta contra o terceiro, a
maior parte da doutrina (e a jurisprudência tem seguido esta orientação), considera que a
ação deve também ser proposta contra o obrigado à preferência visto que:
1. Tratando-se de uma ação de preferência, quem incumpriu o dever de dar
preferência foi o obrigado à preferência e não o terceiro
2. Mais não seja, justamente por ser o Alberto o obrigado à preferência, quem deve
suportar os custos da ação deve ser quem incumpriu.

Art. 1091º /4

17.
A, B e C são comproprietários.
A compropriedade é uma das situações que confere aos sujeitos direito de preferência,
ao abrigo do art. X.
Tratando-se de um direito de preferência de fonte legal, o seu titular goza do direito de
ação de preferência previsto no art. 1410º
A escreve a B perguntando se este quer adquirir os seus equipamentos, ao que B
responde que não por dispor de liquidez suficiente para o fazer – não se trata de uma
renuncia ao direito de preferência, visto que B recusa a compra após a comunicação,
naquelas circunstancias oferecidas.
A escreve a C, avisando-o da intenção de vender a D a quota parte do terreno de que são
comproprietários pelo preço de 50.000 euros, a não ser que o próprio C queira adquirir
por aquele valor. Carlos aceita e A comunica a D que já não pode realizar o negócio
projetado.
Entretanto, Carlos não se mostra disponível para outorgar a escritura pública, e por esse
motivo A comunica-lhe que já não se considera vinculado pela sua declaração anterior.
No final de 2019, A vendeu a F o prédio.

a)
B pretende exercer o seu direito de preferência.
B é comproprietário de A, o que lhe confere um direito de preferência automático por
força do disposto no art. 1409º, n.º 1.
Ao direito de preferência corresponde a possibilidade do seu beneficiário contratar com
o obrigado à preferência, nas mesmas condições em que este contrataria com um
terceiro, tendo no entanto de contratar com o preferente.
Ora, uma questão que tem sido tema de debate na doutrina prende-se justamente com a
renúncia ao direito de preferência.
No caso em questão não se trata de uma renúncia antecipada, visto que B recusou a
compra e venda após a comunicação – no entanto, B recusou aquela proposta específica
de venda dado que, ao momento da comunicação, não dispunha de liquidez suficiente
para o realizar.
Art. 1408º/2 – precisava de consentimento.
Deste modo, Bernardo poderia intentar uma ação de preferência ao abrigo do art. 1410º,
dispondo de um prazo de 6 meses contados da data em que teve conhecimento da
alienação + 15 dias que sucedem a propositura da ação para realizar o depósito
Não se trata de uma renuncia mas de uma recusa a uma concreta proposta?

b)
Pode A exigir a C uma indemnização pelos prejuízos?
Ora, para sabermos se A pode de facto exigir uma indemnização, temos de saber se as
partes se encontravam de algum modo vinculadas, e para isso temos de atender à
natureza jurídica da comunicação e do exercício do direito.
Alguns autores defendem que na comunicação se encontra uma proposta contratual e
que no exercício do direito de preferência uma verdadeira aceitação, pelo que no
momento do encontro de vontades o negócio dar-se-ia como valido e eficazmente
celebrado ao abrigo do art. 232º e 408º/1.
No entanto, isto não será possível quando o contrato definitivo estive sujeito a forma.
Ora, um prédio rústico é um imóvel ao abrigo do art. 204º, n.º 1, al. a). Deste modo, o
contrato definitivo tem de observar a forma de escritura pública ou documento
particular autenticado ao abrigo do art. 875º.
Ora, no caso em questão a proposta e a aceitação não se deram por escritura pública ou
documento particular autenticado, pelo que o negócio seria nulo por falta de forma ao
abrigo do art. 220º
O professor Menezes Leitão considera que nos casos em que o CD está sujeito a forma e
os requisitos de validade formal não estão preenchidos, não estamos perante um negócio
definitivo valido e eficazmente celebrado, mas antes na presença de um contrato-
promessa.
Ora, para estarmos na presença de um contrato-promessa, é preciso que se preencham
os requisitos previstos no art. 410º/2: as partes assinaram
 Pode recorrer À execução específica ou pedir uma indemnização
 Obrigação de contratar que é incumprida – tem direito em caso de
incumprimento definitivo a ser colocado na situação em que estaria caso o
contrato tivesse sido cumprido
 A obrigação de contratar surge para ambas as partes – já é responsabilidade
obrigacional visto que já existe uma verdadeira obrigação de contratar, tendo
então de indemnizar segundo o interesse contratual positivo.

18.
A declaração unilateral constitui uma fonte válida de um vínculo jurídico obrigacional?
Se e quando é que um negócio jurídico unilateral pode ser fonte de uma obrigação
Apesar das muitas críticas não podemos deixar de resolver sem passar pelo princípio da
taxatividade do art. 457º
1. Promessa pública – anúncio dirigido ao público em geral, através do qual se
promete a realização de uma prestação a quem praticar um certo facto
Não releva porque não estamos perante um nj bilateral que depende do proposta e
aceitação. Aqui não precisamos de um ato de vontade por parte do credor – op devedor
está vinculado unilateral, por simples declaração de vontade da sua parte, desde que
requisitos os demais pressupostos previstos no art. 459º/1 – não depende sequer do
conhecimento por parte do credor.

b)
No que toca à cooperação de várias pessoas na produção do resultado previsto, quer
conjunta, quer separadamente, consagra o art.462º que, tendo todas direito à prestação,
esta será dividida equitativamente, atendendo à parte que cada uma teve nesse resultado.
Dito isto, C e D terão ambos direito à prestação e A terá que a distribuir os 1000€
equitativamente. Neste caso, parece que cada um terá direito a 500€, porém, deve ter-se
em conta a contribuição de cada um para o resultado.

c)
estando em causa uma promessa pública que foi estabelecida sem prazo, ela é livremente
revogável pelo autor da promessa, desde que:
1. Se use a mesma forma da emissão do anúncio
2. Desde que o facto de que depende a realizaão da prestação ainda não se teha verificado
Não há dúvida de que no momento em que o António revoga o facto ainda não foi praticado –
neste caso a questão que se coloca é a de saber se os requisitos de forma estavam verificados – o
anúncio foi feito em jornal e a revogação num café
O requisito de forma não foi observado pelo que a revogação é nula, logo a promessa pública
mantém-se vinculativa
Há exercício abusivo por parte de Eduardo?
Art. 461º/2
Apesar deste requisito de forma não ter sido observado, visto que ele tinha conhecimento, há um
exercício abusivo do direito quando ele vem exigir os 1000 euros sabendo que tinha ocorrido
uma revogação da promessa, ainda que o requisito de forma tenha sido observado.

A eficácia existe relativamente a todos os que tenham conhecimento da revogação, ainda que os
requisitos de forma não tenham sido observados – o direito existe, mas não o há relativamente
aos que têm um conhecimento efetivo da revogação à data em que praticam o facto do qual
depende o cumprimento da prestação (redução teleológica do art. 461º)
ATF – a resposta é possível, sobretudo se olharmos para o abuso do direito que de acordo com a
posição de Castanheira Neves, o que temos é o que parece ser formalmente o exercício de um
direito reconhecido pelo OJ, mas na verdade já estamos a falar de uma situação em que
formalmente aparenta existia direito, materialmente este não existe
19
1. Reconhecimento de dívida sem se indicar a causa
2. O reconhecimento é uma declaração unilateral mas que não é fonte de uma obrigação,
visto que no nosso OJ não vigora no nosso ordenamento o princípio da abstração
O reconhecimento é ele próprio fonte de uma obrigação
Não sendo o NJ, temos de abstrair a fonte que dá causa à dívida que está a ser reconhecida
Deste modo, constituindo o reconhecimento de dívida uma fonte autónoma, mesmo qu exista
uma casua que invalida ou extingue a obrigação anterior, mantém a obrigação que brota do
reconhecimento de dívida
No nosso OJ o reconhecimento de dívida não constitui uma fonte autónoma da obrigação que
constituiu a causa do reconhecimento da dívida – não vigora no nosso ordenamento um
princípio de abstração mas sim de causalidade.
O OJ pretende, no entanto retirar alguma consequência do reconhecimento – a consequência
que se extrai é o da presunção de existir uma causa para aquela dívida, sendo porém a presunção
de natureza ilidível
O A reconheceu a existência da dívida, mas pode ele tentar provar que a causa que existia para o
reconhecimento da dívida já se extinguiu porque tivemos uma anulação do nj que era a causa
para o reconhecimento da dívida
O ónus da prova cabe a quem reconhece a dívida – neste caso António conseguiria ilidir a
presunção caso conseguisse provar que o negócio do qual brota o reconhecimento de dívida foi
celebrado segundo coação moral

b)
art. 458º/2 – não pode realizar-se se não for feita por documento escrito
para que se possa aplicar a presunção, o reconhecimento de dívida ou promessa de cumprimento
tem de constar de documento escrito, mesmo que exista confissão oral, não substitui esta
exigência de forma
ele fez uma confissão, mas essa confissão devia constar de documento escrito – não se pode
substituir o documento confessional por prova testemunhal – não é possível.
O que tem de ser provado por documento escrito, não pode ser por confissão feita a terceiro que
em tribunal se teria de realizar por prova testemunhal.

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