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HEMOTRANSFUSÃO

universal”)
Conceitos básicos
● Sangue contém fração líquida (plasma) e Sangue O Anti-A + Anti-B + Anti-H
fração celular bombay (dificuldade em receber sangue)
● Ele contém antígenos (proteínas e
carboidratos) que circulam pelo plasma, ● Grupo Rh (“rhesus”): Apesar de 20 tipos
constituindo grupos sanguíneos. Dentro diferentes, o antígeno D determina
de cada grupo, existem certos tipos imunoatividade
sanguíneos, a depender do antígeno que ○ D+ = Rh+; D- = Rh-
está presente no sangue. ○ Pode causar poderosa
○ Para transfusão segura, é aloimunização pós-exposição (Ex:
necessária compatibilidade. transfusão incompatível; gestação)
● Aloimunização: Formação de ■ Reação hemolítica
aloanticorpos contra antígenos de grupos ■ Doença hemolítica perinatal
sanguíneos diferentes. ● Existem outros grupos sanguíneos, como
○ Pós-exposição: Necessária Lewis, Kell, Duffy, Kidd, etc.
exposição prévia (transfusão não- ○ Menos imunogênicos
compatível, gestação) ○ Não geram aloimunização natural, a
■ Outros grupos não ser em politransfundidos em
○ Natural: Sem exposição prévia multíparas
necessária (desde o nascimento)
■ Grupos como ABO já tem Testagem pré-transfusão
proteção, devido a contato ● A testagem é feita em três etapas: tipagem,
com germes ubíquos que screening de autoanticorpos e prova
produzem antígenos que cruzada.
mimetizam os ABO. ● Tipagem sanguínea
■ Formação de isoaglutininas ○ Forward type: Misturar o sangue do
(aloanticorpos contra A, B e paciente com anti-soros
H). ○ Reverse type: Misturar o soro do
● Grupo A (N-acetilgalactosamina) e B paciente com sangue de tipo
(galactose) dizem respeito a antígenos conhecido (confirma o forward type)
expressos na membrana. Ligam-se a Exemplo:
antígenos H na membrana.
○ Formam tipos A, B e AB.
● No tipo O, não possui antígenos A e B,
possuindo apenas o antígeno H, ao qual se
ligariam os dois citados.
● No tipo O bombay, não possui nem
mesmo o antígeno H.

Sangue AB Receptor universal

Sangue A Anti-B
● Screening de aloanticorpos - Hemácias
Sangue B Anti-A O (-) com outros grupos sanguíneos (Duffy,
Kell, etc.) conhecidos reagem com o soro
Sangue O Anti-A e Anti-B (“doador
do paciente.

Matheus Zaian Rodrigues de Fonseca Lira


Universidade Federal do Ceará – T122
● Prova cruzada: Misturar amostra da bolsa
com sangue do paciente.
○ Se não aglutina, há compatibilidade
ABO, Rh e não há autoanticorpos
contra outros grupos.

Obs.: Numa emergência, um receptor Rh (-)


pode receber Rh (+). Lembre-se que a
aloimunização é pós-exposição nesses casos.
Isso pode ser problema em mulher em idade fértil, ● Pode ser feita plaquetaférese
levando a um risco de Doença Hemolítica (centrifugação das plaquetas, que são
Perinatal logo na 1º gestação - Usar anti-D coletadas, e o resto volta para o doador)
(Rogan) ○ CPDU (Concentrado de plaquetas
de doador único)
○ Reduz a chance de aloimunização
Hemocomponentes contra o HLA, por conferir plaquetas
● Geralmente faz-se fracionamento do de apenas um doador, caso este
sangue doado. seja HLA-compatível.
○ CPDU pode repor plaquetas com
apenas uma bolsa.
○ É útil em pacientes hemopatas, que
recebem muitas transfusões.

● Sangue doado é submetido a


centrifugação lenta, separando em:
○ Plasma rico em plaquetas ● Sangue total: Excelente repositor para
○ Concentrado de hemácias do choque hemorrágico. Porém, é difícil haver
adulto (CHA) estoque, pela falta de disponibilidade.
● O plasma rico é submetido a ○ Feito nas Forças Armadas.
centrifugação rápida, separando em:
○ Concentrado de plaquetas CHA Armazenado a 4ºC
randômicas 35-42 dias
○ Plasma fresco Aumenta 1 g/dL de Hb e 3% de
● O plasma fresco é congelado por 8h, Ht
formando o plasma fresco congelado.
● O PFC pode sofrer reaquecimento lento e Plaquetas Armazenado em temperatura
ambiente, em agitação
centrifugação, precipitando FVIII, FvW e
contínua
fibrinogênio (crioprecipitado) 5 dias
○ Crioprecipitado confere grande Aumenta em 5-10 mil
quantidade de fibrinogênio e outros plaquetas
fatores em pequeno volume (10x
menor). PFC Armazenado a -18ºC
1 ano
Aumenta em 2% a atividade
dos fatores de coagulação

Crioprecipitado Armazenado a -18ºC


1 ano

Matheus Zaian Rodrigues de Fonseca Lira


Universidade Federal do Ceará – T122
Aumenta atividade de Fib, ■ Imunossuprimidos
FVIII, e FvW ■ Parentes do 1º grau
○ Em caso de transplante alogênico de
medula, faz-se de rotina pelo alto
● Rastreio do sangue doado: Rastreio de risco de DEVH.
sífilis, Chagas, HIV, HBV, HCV e HTLV I e
II Indicações e doses dos
○ O risco de transmissão sanguínea
diminuiu muito, pela alta hemocomponentes
sensibilidade dos exames de
triagem. Concentrado de hemácias
○ Pesquisa de CMV em: ● Geralmente 1 bolsa = sobe Hb em 1g/dL e
■ Transplantados anti-CMV IgG Ht em 3%
(-) Indicações:
■ RN de mãe anti-CMV IgG(-) - Hemorragia aguda
ou desconhecido ● Casos graves, em que o cristalóide
■ Transfusão intrauterina causaria uma hemodiluição se usado
○ Pesquisa de malária em áreas sozinho.
endêmicas. ○ Perda > 30% do sangue (> 1,5L)
○ Perda > 15% em pacientes críticos
Processamento de hemocomponentes ou com anemia ou comorbidades
● Feito em situações eventuais. Como se prévias (> 750 mL)
processam os CHA? ● Estimativa da perda pode ser visual ou por
● Leucodepleção: Filtro de leucócitos na avaliação do status hemodinâmico
coleta da doação (poderiam complicar (hipotensão, taquicardia, oligúria,
produzindo citocinas inflamatórias e rebaixamento de SNC…).
pirogênios…) ● Hemoglobina e hematócrito não se
○ Atualmente faz-se de rotina. alteram nas primeiras 72h, não sendo
○ Reduz reação febril não-hemolítica relevantes para indicar transfusão em
○ Reduz efeito imunomodulador (por quadro agudo.
citocinas anti-inflamatórias do - Pré-operatório
doador) ● Se houver distúrbios da hemostasia ou
■ Poderiam causar infecções previsão de grande cirurgia (perda de >=1
bacterianas em doentes L ou >= 250 mL/h) - Transfundir se Hb < 8
graves. g/dL ou Ht < 24%
○ Reduz aloimunização HLA (dos ○ Se houver, além do anterior,
leucócitos) comorbidades associadas -
○ Reduz risco de CMV (CMV fica Transfundir se Hb < 10 g/dL ou Ht
latente nos leucócitos) < 30%
● Lavagem: Remover o plasma da bolsa ● Em todos os outros casos, transfundir se
○ Reduz reação alérgica transfusional, Hb < 7 g/dL ou Ht < 21%
reação de alto risco se há - Anemia crônica
deficiência de IgA. ● Quando houver descompensação clínica
○ Indicações: Def. de IgA conhecida (dispneia, angina, alteração do sensório)
ou história de alergia à transfusão.
● Irradiação: Inativar leucócitos Concentrado de plaquetas
remanescentes após a filtração. Radiação - Transfusão terapêutica
com dose para quebrar apenas leucócitos, ● Sangramento + um dos fatores abaixo:
sem dano às outras células. ○ Plaquetas < 50000
○ Objetivo de “matar” células ○ Disfunção plaquetária (AAS, TS
nucleadas. alargado)
○ Pacientes com risco de doença do ○ Pós-CEC com plaquetopenia <
enxerto vs. hospedeiro 150000 (CEC pode induzir
transfusional
Matheus Zaian Rodrigues de Fonseca Lira
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degranulação de plaquetas e ○ Eleva fibrinogênio em 70 a 100
disfunção) mg/dL
- Transfusão profilática
● Ausência de sangramento + um dos Reações adversas à hemotransfusão
fatores abaixo:
○ Procedimento invasivo + plaquetas <
50000
○ Cirurgia neuro-oftálmica + plaquetas
< 100000 (limiar menor, pelo risco
cirúrgico)
○ Pós-QT + plaquetas < 10000 sem
febre
○ Pós-QT + plaquetas < 20000 com
febre (febre consome plaquetas,
logo o limiar é menor)
● Dose: 1 U “randômica” para 10 kg de
peso ou 1 U de doador único (por
aférese), que equivale a 6 U randômica Reações adversas imunes
● Sempre colher sangue após 1h a - Reação febril não-hemolítica
transfusão. ● Reação anticorpos anti-HLA do receptor x
○ Espera-se elevação de 30000/mm3 Leucócitos do doador
após 1h e 5-10 mil após 24h ○ Degranulação dos leucócitos e
○ Subindo < 10000 - aloimunização produção de citocinas pirogênicas
por HLA ○ Calafrios e febre, sem causa
● Contraindicações absolutas: PTT (ativação aparente
plaquetária e trombose; transfusão ○ Fatores de risco: politransfundidos
agravaria o quadro) e HIT (similar à PTT) e multíparas (mais exposição a HLA)
○ Prevenção: leucodepleção
Plasma fresco congelado ○ Conduta: parar transfusão +
● Contém TODOS os fatores de antitérmicos
coagulação. ○ Bom prognóstico
● Indicações:
○ Intoxicação por cumarínico - TRALI
○ Insuficiência hepática ● Anticorpos anti-HLA do doador x
○ CIVD Leucócitos do receptor
○ Coagulopatias hereditárias (exceto ○ Problema para os leucócitos dos
hemofilia A - purificado) alvéolos pulmonares -> Reação
○ PTT (primariamente com inflamatória e proteases ->
plasmaférese, mas plasma fresco Exsudação pulmonar
pode ajudar caso não haja ○ SDRA durante ou em até 6h pós-
plasmaférese) transfusão
● Usar se houver sangramento ou ○ Fatores de risco:
procedimento invasivo + INR > 1,5 ■ Doador: Sangue de
○ Exceção: paracentese multíparas ou
● Dose: 15-20 mL/kg de peso politransfundidos (Elas tem
maior exposição a HLA)
Crioprecipitado ■ Receptor: Tabagismo e
● Contém fibrinogênio, fator VIII e FvW etilismo, transplantados,
● Principal indicação: CIVD doentes críticos
○ Pode ser usado em Doença de von ○ Prevenção: usar sangue de homens
Willebrand e hemofilia A, mas ou de nulíparas
prefere-se concentrado de fator VIII.
● Dose: 1 bolsa por 5 kg de peso
Matheus Zaian Rodrigues de Fonseca Lira
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○ Conduta: suporte em UTI; se
consegue sobreviver à fase aguda, - GVHD transfusional: Leucócitos do
tende a se recuperar doador x tecidos do receptor
○ Principal causa de morte após ● Fatores de risco:
transfusão. ○ Imunossupressão profunda
○ Parentes de 1º grau
- Reação hemolítica aguda: ● Quadro clínico: Febre, rash, diarreia,
● Decorrente da presença de isoaglutininas aplasia medular 8 a 10 dias após
no soro do receptor (incompatibilidade transfusão (sintomas de GVHD pós-
ABO) transplante)
● Hoje é raro. Quando acontece hoje, é por ○ Geralmente prognóstico é ruim -
erro operacional óbito em 3-4 semanas
● Quadro clínico: Dor no acesso, febre, ● Prevenção: Pacientes só podem receber
calafrios, taquidispneia, dor torácica, CHA irradiados.
hipotensão, urina escura (hemoglobinúria)
○ Já começa minutos após o início! - Púrpura pós-transfusional: Reação de
○ CIVD autoanticorpos antiplaqueta induzidos pela
○ Alterações de tônus vascular, transfusão
geração de radicais livres… ● Quadro de “PTI” pós-transfusão
○ Hemólise + CIVD + IRA (por ● Mais comum em mulheres
hemoglobinúra) ● Plaquetopenia
● Conduta: Parar transfusão e hiperidratar ● Conduta: plasmaférese

- Reação hemolítica tardia: Reações adversas não-imunes


● Isoaglutininas no soro do receptor em - TACO (Sobrecarga circulatória
baixos títulos (grupos não-ABO) - associada à transfusão)
Acabam passando pelo screening de ● Edema agudo de pulmão cardiogênica
autoanticorpos ○ Ocorre em pacientes cardiopatas,
● Cursa com hemólise 1-2 semanas após que recebem grandes volumes de
(memória imunológica); mais gradual forma rápida.
● Quadro clínico: ● TRALI: hipotensão x TACO: hipertensão
○ Queda de Ht aos níveis pré- ● Conduta: Suspensão temporária da
transfusão transfusão + diuréticos + VNI com pressão
○ Hemólise, Coombs+, prova positiva.
cruzada reagente ● Prevenção: Infusão lenta de
● Conduta: Nova transfusão, agora hemocomponentes em cardiopatas.
compatível
- Hipotermia
- Reação alérgica: ● Infusão rápida demais em
● Alergia às proteínas plasmáticas do hemocomponentes resfriados sem
doador aquecimento prévio
● Fator de risco: Deficiência de IgA ○ CHA - fica a 4ºC
● Possui forma de alergia branda (urticária) ○ PFC e Crio - ficam a -18ºC
e forma grave (anafilaxia) ● Aumenta risco de arritmias (distúrbio de nó
● Conduta: sinusal) e diátese hemorrágica (disfunção
○ Branda - antihistamínico, plaquetária e de fatores de coagulação)
interrupção e retomada depois da ● Conduta: reaquecer o paciente
transfusão ● Prevenção: sistema de aquecimento
○ Grave - tratar anafilaxia (adrenalina,
corticoide, anti histamínico) - Distúrbios hidroeletrolíticos
● Prevenção: ● Hipercalemia - “Bolsas velhas”, pois o K+
sai das células armazenadas

Matheus Zaian Rodrigues de Fonseca Lira


Universidade Federal do Ceará – T122
○ DRC avançada e RN (menor função - Episódios hipotensivos: Uso de “bolsa
renal) - Utilizar CHA mais novos! velha” em usuário de iECA
● Hipocalcemia - Uso de citrato como ● Células em degeneração tem maior
anticoagulante produção de bradicinina na bolsa.
○ Citrato atua como quelante de cálcio ● Como a cininase está inibida pela iECA,
■ Lembra que o cálcio é cofator não há degradação, havendo hipotensão.
de coagulação? Por isso atua ● Conduta: Posição de Trendelemburg +
como anticoagulante hidratação venosa
○ Parestesia, tetania, arritmias...
● Alcalose metabólica - Sepse: Contaminação da bolsa sanguínea
○ Citrato é convertido em HCO3-. Se por bactérias
for muito citrato, pode haver ● Maior risco em bolsas por plaquetas
alcalose. (Yersinia, S. aureus)
● Hipocalemia e alcalose metabólica são ○ Outro motivo para durarem menos
tratados apenas se forem graves. ● Risco baixo nas bolsas de hemácias.
Quando acontece é por BGNs.
- Coagulopatia dilucional: CHA tem pouco ● Quadro clínico:
plasma e não tem plaquetas ○ Choque séptico fulminante em
● Plaquetopenia e redução de concentração horas, instabilidade hemodinâmica,
de fatores de coagulação CIVD, etc.
● Não se indica transfusão profilática de ■ Na reação febril não-
plaquetas. hemolítica, há apenas febre.
○ Ausência de hemólise
■ Na reação febril hemolítica,
costuma haver hemólise
(LDH, BI, urina escura…)
● Prevenção: sistemas automatizados
● Tratamento: interromper transfusão + ATB
(cobrir Pseudomonas e cocos GRAM+)
○ Ex: cefepime + vancomicina
Obs.: Hemotransfusão maciça
Troca da volemia por CHA, > 8-10 bolsas em
24h
Associada a TACO, hipotermia, diátese
hemorrágica, hiperK, hipoCa e alcalose.

- Hemocromatose secundária
● Acúmulo de ferro em politransfundidos (>
100 CHA ao longo da vida)
○ 1 CHA = 20 g de Ferro, que costuma
ficar estocado no organismo.
● Produção de radicais livres nos tecidos -
disfunção hepática, cardíaca, endócrina,
gonadal, articular…
● Prevenção:
○ Transfundir racionalmente em
doentes hematológicos.
○ Alternativas (EPO recombinante)
● Conduta: uso de quelantes de ferro
○ Desferoxamina IV ou Deferasirox
VO

Matheus Zaian Rodrigues de Fonseca Lira


Universidade Federal do Ceará – T122

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