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TAREFA 2 (UNIDADE 8)

ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

João Nélio Câmara Coelho

Delimite a natureza jurídica das agências reguladoras e opine: o poder normativo e


a autonomia das agências reguladoras viola o princípio da separação dos poderes?

Marçal Justen Filho (2016) define a natureza jurídica das agências reguladoras e
executivas como sendo a das autarquias especiais: “agência reguladora independente é uma
autarquia especial, sujeita a regime jurídico que assegura a autonomia em face da
Administração direta e que é investida de competência para a regulação setorial” (JUSTEN
FILHO, 2016, i. 10.12.5, grifo próprio).
Em decorrência óbvia, as agências reguladoras integram os entes da Administração
Pública Indireta (JUSTEN FILHO, 2016, i. 10.12.5.1).
Resumindo essas duas informações acima, tem-se o magistério de Maria Sylvia
Zanella Di Pietro:

Elas [as agências reguladoras e executivas] estão sendo criadas como autarquias de
regime especial. Sendo autarquias, sujeitam-se às normas constitucionais que
disciplinam esse tipo de entidade; o regime especial vem definido nas respectivas leis
instituidoras, dizendo respeito, em regra, à maior autonomia em relação à
Administração Direta; à estabilidade de seus dirigentes, garantida pelo exercício de
mandato fixo, que eles somente podem perder nas hipóteses expressamente previstas,
afastada a possibilidade de exoneração ad nutum; ao caráter final das suas decisões,
que não são passíveis de apreciação por outros órgãos ou entidades da Administração
Pública. (PIETRO, 2016, l. 652, grifo próprio e da autora).

O modelo de regulação por meio de agências se trata de uma importação do modelo


consagrado em países de caráter mais liberal, principalmente os Estados Unidos da América
(EUA), com o objetivo de descentralização e desconcentração administrativa, com vistas ao
melhor desempenho e aplicação de recursos públicos. Como o Brasil se identifica como Estado
Democrático de Direito e de Bem-Estar Social, conforme fica claro no Preâmbulo da
Constituição – “[...] assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos [...]” (BRASIL, 1988) – e no objetivo
fundamental do país, elencado no inciso III do art. 3º da CR-1988 de “erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (BRASIL, 1988), as agências
reguladoras (“órgão regulador”, segundo arts. 21, XI; 177, § 2º, III, CR-1988) precisam ser
constituídas sob o pálio do Direito Nacional (“civil law”), adquirindo contornos próprios,
segundo fica bem claro na definição colocada pelo site Inteligov:

As agências reguladoras desempenham papel fundamental para o desenvolvimento do


país, sendo responsáveis por disciplinar, fiscalizar e controlar atividades que norteiam
os progressos econômico, social e político ao funcionar como uma espécie de
administrador – que deve ser, ao mesmo tempo, imparcial e sensível às demandas
tanto dos agentes regulados como dos consumidores. (AGÊNCIAS
REGULADORAS, 2020).

No tocante ao poder normativo e à autonomia das agências reguladoras, não há que se


falar em violação ao princípio constitucional da separação dos poderes.
Em primeiro lugar, as agências reguladoras são criadas mediante leis, estando
subordinadas, portanto, ao Ordenamento Jurídico Global (ARAGÃO, 2002, p. 9).
Em segundo lugar, os atos normativos expedidos por tais órgãos reguladores
(nomenclatura da Constituição) – que, em regra, estão ligados ao Poder Executivo –
representam função executiva atípica, limitadas pela substância (portarias, regulamentos,
resoluções etc.) e ao âmbito do serviço regulamentado; e, assim como qualquer outro ato
normativo, estão submetidos ao controle de constitucionalidade. Como esclarece Maria Sylvia
Zanella Di Pietro:

Tais atos normativos, desde que expedidos com observância da Constituição e das
leis, vinculam as autoridades administrativas. Os atos que os contrariem padecem do
vício de ilegalidade, sendo passíveis de correção pelos órgãos de controle, inclusive
pelo Poder Judiciário. No entanto, os próprios atos normativos baixados na esfera
administrativa são passíveis de apreciação judicial, quando eivados de ilegalidade ou
inconstitucionalidade. (PIETRO, 2018, l. 100).

Previstas constitucionalmente, as agências reguladoras integram o Poder Executivo,


realizando funções típicas deste.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIAS REGULADORAS NO BRASIL: um modelo em evolução. [documento


eletrônico]. In: Inteligov. Publicado em: <https://blog.inteligov.com.br/agencias-reguladoras-
no-brasil/>. Acesso em: 21 nov. 2020.

ARAGÃO, Alexandre Santos de. As agências reguladoras independentes e a separação de


poderes: uma contribuição da teoria dos ordenamentos setoriais. [documento eletrônico]. In:
Revista Diálogo Jurídico, nº 13, abr./mai. 2002, Salvador. Disponível em: <https://livros-e-
revistas.vlex.com.br/vid/reguladoras-independentes-setoriais-59174733>. Acesso em: 20 nov.
2020.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Diário


Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 2 mar. 2020.

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. [livro eletrônico]. 4ª ed. em e-


book baseada na 12ª ed. impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito administrativo. [edição eletrônica]. 31ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2018. Versão e-book.

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