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O LIDE NO TEXTO JORNALÍSTICO:

SUGESTÃO DE COMO UTILIZÁ-LO

NO ENSINO FUNDAMENTAL

Eliana Whonrath

Professora da EE Cristiano Volkart _ Ensino Fundamental

Monitora do Projeto Correio Escola - Campinas


I. INTRODUÇÂO

1. O Lead ou lide.

I Normalmente a notícia se inicia com o lide, (do inglês, que significa “abre”, abertura
da notícia). É a técnica de relatar o que há de principal nos acontecimentos logo na
abertura da notícia, prepara uma atmosfera, um clima, para o desenvolvimento da leitura.
1Responde fundamentalmente às perguntas básicas:

O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?. Após o lide, surgem outras
informações em ordem de importância decrescente, complementares.

O lide está quase sempre presente nas notícias diárias, factuais, como por exemplo, um
acidente, uma inauguração, um pronunciamento, utilizando-se, quase sempre de palavras
concretas, de frases curtas, incisivas, afirmativas e com estilo direto, exposição clara,
fidelidade dos fatos, veracidade, sem os quais decairá o interesse de um público cada vez
mais exigente.

O lide permite que a resposta se estruture no esquema da pirâmide invertida.

Cabeça ou lide

Clímax da noticia

Desenvolvimento da história

Conclusão

1. BAHIA, Juarez. Jornal,História e técnica As técnicas do jornalismo. (4 ed.).São Paulo: Ática,1990, pp 52,53
O jornalista que redige a notícia,busca uma expressão consensual, comum e ao mesmo
tempo personalizada. Para fazer isso, usa de técnica e arte, independente da extensão do
texto. Não importa se a técnica é da pirâmide invertida ou da descrição cronológica.
Deve dar uma sequência lógica que vem do título e deve observar :

• Um resumo conciso das principais e mais recentes informações, explicadas com


detalhe no desenvolvimento do texto, desde que responda logo no LIDE: o quê?,
quem?,quando?, onde?, como?, por quê?.

Porém, o interesse do leitor não se resume às respostas burocráticas, formalmente


apresentada no LIDE. Há mais requisitos na organização da notícia: a linguagem direta, a
exposição clara, a fidelidade aos fatos, a veracidade. Mas se o repórter elabora e aplica
sempre a técnica de redação de forma direta, pode correr o risco de uma comunicação
uniforme e monótona, causando uma padronização do texto. Para evitar uma rigidez do
LIDE, há outras maneiras de iniciar a notícia, como relatar o fato em cima do detalhe
mais importante, diluindo os seis elementos básicos.

Para fortalecer o LIDE, criou-se e se desenvolveu, no Brasil, um recurso para fortalecer


visualmente o LIDE: o sublide, que é um complemento do LIDE, um segundo parágrafo-
desnecessário como texto e necessário como estilo.
II. Estudo das atividades – O LIDE e o desenvolvimento da leitura

A afirmação de Maggio, (1998), nos mostra que ao responder as perguntas do lide é


possível entender o fato, suas origens e consequências, lugar e tempo,
independentemente da sequência das respostas.
Nesse sentido, se constrói coletivamente com os alunos o entendimento
do texto lido a partir de suas interferências, questionamentos orientados pelo
lide. O professor ao saber quais os conhecimentos aprendidos por crianças de
5 anos e quais os conhecimentos não aprendidos, através de desenhos e
grafismos, do texto oral, ainda que elas não saibam ler, observa que elas
podem reproduzir o texto através das gravuras da história ou da leitura feita
pelo professor (compartilhada) e também pela imagem que sustenta a
organização do conto Ela consegue reproduzir o texto, porque adquiri a
capacidade de organizá-lo de forma seqüencial. 2

Para desenvolver a noção de lide , foi realizado o trabalho com os alunos que estão
no início da alfabetização, na 1.ª e 2.a série, da Escola Estadual Cristiano Volkart de
Campinas.
Algumas crianças dominam a leitura e a escrita e outros ainda não conseguem ler e
escrever, realizaram assim, a leitura da imagem impressa no jornal Diário do Povo do
dia 28 de fevereiro de 2010, inserida no caderno Mundo- página 7, com o título
"Chilenos em alerta".
A imagem foi fotografada durante o dia, mostrava uma ponte destruída pelo terremoto,
carros tombados no chão e , junto aos destroços, algumas pessoas observando o
ocorrido.
O trabalho ainda teve continuidade com a 3ª e 4.a série, com outra notícia, intitulada
"Terremoto na Turquia mata 51 pessoas", veiculada no Jornal Correio Popular de 9 de
março de 2010. Acompanhava uma imagem de pessoas vestidas com túnicas
apresentando semblantes tristes ao observar os destroços.
Os dois trabalhos, além de priorizar a disciplina de Língua Portuguesa, estabeleceram
relações com as demais disciplinas: Geografia, Matemática, História, Ciências e
Educação Artística, tendo como objetivo diversificar a leitura em sala de aula com a
utilização dos jornais, relatando assuntos atuais, que não estão inseridos em nenhum
outro material didático, levando-se em conta que o aluno de hoje é bem informado
quanto aos acontecimentos atuais, tanto da comunidade local como acontecimentos
mundiais. Salientando que para esse aluno desenvolver suas habilidades de leitura e
compreensão e esteja preparado para o exercício da cidadania, é preciso que o seu
professor também esteja bem informado, engajado nesse processo de atualização por
meio de diversas leituras.
O jornal é um exemplo disso, pois é um amplo recurso, com ótima aceitação, na medida
em que transforma todos os leitores em pessoas bem informadas, atuantes,
dinâmicas,participantes e responsáveis.

2
MAGGIO, Elisabeth; SGROI, Fábio. Vamos fazer um jornal? São Paulo:Moderna,1998 – (Coleção desafios)
Atualmente, querendo ou não, estamos envolvidos numa avalanche de notícias
provenientes a todo instante de todos os lados do mundo. Como educadores, aprendemos
dia-a-dia a dinamizar a nossa metodologia para plugar nossos alunos nas aulas. Dessa
forma, quando se trabalha em sala de aula saindo do livro didático e expandindo o
conhecimento através de outros meios, como diz Vorraber (2003):
“A educação ocorre em muitos lugares além da escola, mídia, ruas, clubes,
escola. As crianças aprendem a buscar as informações na TV, rádio, jornal, vídeo,
INTERNET . A escola ajuda o aluno reordenar as informações fragmentadas que ele
recebe e a ação do professor é ajudar os alunos a pensar por conta própria, investigar,
argumentar, lidar com conceitos, comunicar-se, desenvolver capacidade de raciocínio e
julgamento”.3

Quando falamos em leitura, rapidamente pensamos em decodificações de símbolos


gráficos que transmitem uma idéia e, somente quem já possui este aprendizado consegue
realizá-la. Esquecemos que leitura é algo muito mais amplo e complexo. Uma criança
pequena quando vê o logotipo da Coca – Cola, ou outro, fatalmente irá responder
corretamente o que significa. Ela realizou uma leitura.
Nas séries mais avançadas, a criança que lê as notícias do jornal, pode visualizar seus
sonhos e expectativas, relacionando os fatos com diferentes pessoas e lugares, se
tornando apto no julgamento do que é importante saber realmente.
A leitura das notícias é uma das condições facilitadoras para que a criança conquiste um
espaço, abra novos caminhos e consolide a sua formação.

Segundo Barthes (1984), a imagem é importante numa alfabetização imagética, na


educação e formação do ser humano. As imagens que formamos a partir da experiência
vivida é a base da cultura onde intercambiamos nossa visão de mundo. Ler imagem é
interpretá-las.

3.VORRABER Marisa Costa (Org.). A escola tem futuro ? Rio de Janeiro: DP&A, 2003
III. RELATO DA EXPERIÊNCIA

Após a exposição da imagem (foto) da notícia “Chilenos em alerta”, do jornal


Diário do Povo de 28 de fevereiro de 2010, em que exibe-se uma ponte destruída, partida
ao meio, foram feitas várias perguntas, de modo que os alunos percebessem a
importância dos 6 elementos para recontar o fato. A foto mostrava uma das
conseqüências do terremoto.
As perguntas feitas pela professora aos alunos foram:

• - O que vocês estão vendo na foto?


Um aluno respondeu : “Vejo destruição”.Outro respondeu: “uma rua caiu”.

• - Que outro nome pode se dar a uma “rua alta”?


A resposta foi: “ponte”

• - Onde será que isso aconteceu?


Um aluno disse:“no Chile”

• - Como você sabe que foi no Chile?


Um outro aluno respondeu “eu li chilenos”

• - Por que isso aconteceu?


A resposta foi “por causa de um terremoto”

• - Quando o terremoto aconteceu? Prestem atenção na foto, dá para descobrir?


Alguém disse: “ a foto foi tirada de dia, mas acho que foi de noite ou de madrugada”,
porque já saiu no jornal de hoje...”

Comentários e resultados
Os resultados demonstraram que as atividades atingiram os objetivos e as expectativas de
compreensão de leitura, com produção escrita, registro com leitura de imagens.
Nas atividades os alunos puderam interagir com os textos apresentados, buscar respostas,
desenvolver o senso crítico.
Pode-se, então, baseando-se nas atividades propostas, entender que leitura pode ser feita
de inúmeras formas. Se devidamente estimulada, a criança em fase de alfabetização irá
se interessar em saber o que está escrito naquele monte de letrinhas que o jornal possui
ou o que querem dizer as imagens exibidas e, as crianças maiores, se interessarão em
saber o que ocorre ao seu redor e no mundo.
Ao desenvolver a noção de LIDE, os alunos conseguem estruturar a narração,
desenvolvendo num esquema mental, a reconstrução dos fatos que ouviram ou viram .
FONTE BIBLIOGRÁFICA

o BARTHES, Roland. A Câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.


o COSTA Cristina, Educação, imagem e mídias. São Paulo: Cortez, 2004.
o LEITE da Silva Antonio Sergio (org), Contribuição para as práticas pedagógicas. Editora
Komedi/Unicamp, Faculdade de Educação, 3.ª edição, 2003
o MAGGIO, Elisabeth; SGROI, Fábio. Vamos fazer um jornal? São Paulo:Moderna,1998 – (Coleção
desafios) .
o MIRANDA, Carlos Eduardo Albuquerque, RIGOTI, F. Gabriela, (org). Imagens e Educação –
Estudos. São Paulo: Editora Fiúza, 2006.
o PAVANI Cecília (org.) Jornal (In)formação e ação. Campinas, São Paulo:Editora Papirus,
2002.
o PAVANI Cecília, JUNQUER Ângela, CORTEZ Elizena, Jornal uma abertura para a educação.
Campinas, São Paulo: Editora Papirus, 2007.
o ZIBERMAN,Regina & RÖSING, M.K. Tania. Escola e leitura Velha crise, Novas alternatives.
São Paulo:Global, 2009.
o VORRABER, Marisa Costa (org.). A escola tem futuro ? Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
o TEBEROSKY, Ana. CARDOSO, Beatriz. Reflexões Sobre o Ensino da Leitura e da Escrita.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora da Universidade de Campinas, 1995.
o BAHIA, Juarez. Jornal, História eTécnic. 2 As técnicas do Jornalismo. São Paulo: Editora
Ática, 1990.

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