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Imunologia Clínica

Prof.a Amanda de Ávila Bicca Martins

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof. Amanda de Ávila Bicca Martins
a

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

M386i

Martins, Amanda de Ávila Bicca

Imunologia clínica. / Amanda de Ávila Bicca Martins. – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

198 p.; il.

ISBN 978-65-5663-616-0
ISBN Digital 978-65-5663-615-3

1. Imunologia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 610

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático em Imunologia
Clínica, que trata da imunologia em um contexto aplicado, ou seja, a
imunologia no laboratório clínico. Assim, todos os conceitos aprendidos
em disciplinas de imunologia básica serão a base para compreender como
funcionam as principais metodologias utilizadas na rotina laboratorial, bem
como o significado clínico dos resultados obtidos.

Ao longo da Unidade 1, veremos os conceitos básicos relacionados


ao funcionamento do sistema imune, como as doenças reumáticas, o modo
como se desenvolvem e a relação que os processos fisiopatológicos dessas
doenças têm com as provas imunológicas disponíveis atualmente.

A Unidade 2 apresentará a aplicação da imunologia no diagnóstico


e no prognóstico do pré-natal e de doenças autoimunes. Nesse contexto,
trataremos tanto das dinâmicas fisiológicas, relacionadas ao período
gestacional e seus principais exames, quanto das características referentes a
doenças autoimunes e das análises clínicas atreladas a elas.

Por fim, na Unidade 3, aprofundaremos a aplicação da imunologia no


diagnóstico e prognóstico de doenças infecciosas e autoimunes. Assim, serão
abordadas as doenças infecciosas como sífilis, síndrome da imunodeficiência
adquirida (Aids), hepatites, coronavírus (Covid-19), além de doenças
autoimunes, como a doença celíaca e a tireoidite de Hashimoto.

Ao longo desse livro, será possível observar quão interessante e


relevante são os tópicos abordados, embora isso não os tornem menos
complexos. Para compreender e absorver os conhecimentos da melhor forma
possível, sugerimos que o acadêmico utilize todos os recursos educacionais
disponibilizados pela instituição, como leituras complementares, realização
das autoatividades e demais recursos disponíveis no seu ambiente virtual e
na trilha de aprendizagem.

Bons estudos!

Prof.ª Amanda de Ávila Bicca Martins


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E
PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS............................................... 1

TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA........................................ 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 CONCEITOS EM IMUNOLOGIA BÁSICA................................................................................... 3
2.1 RESPOSTA INATA.......................................................................................................................... 6
2.1.1 Barreiras físicas....................................................................................................................... 6
2.1.2 Barreiras químicas.................................................................................................................. 7
2.1.3 Fagócitos.................................................................................................................................. 7
2.1.4 Processo inflamatório............................................................................................................. 7
2.1.5 Sistema complemento............................................................................................................ 7
2.2 RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA.............................................................................................. 8
3 INTRODUÇÃO AOS ENSAIOS IMUNOLÓGICOS.................................................................... 9
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 14
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 15

TÓPICO 2 — COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS REUMÁTICAS....... 17


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 17
2 ETIOPATOGENIA DAS DOENÇAS REUMÁTICAS................................................................. 17
3 OSTEOARTRITE................................................................................................................................ 18
4 ARTRITE REUMATOIDE (AR)....................................................................................................... 19
5 FEBRE REUMÁTICA......................................................................................................................... 23
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 26
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 27

TÓPICO 3 — MARCADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS.................................................. 29


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 29
2 PROTEÍNA C-REATIVA................................................................................................................... 29
3 FATOR REUMATOIDE..................................................................................................................... 32
4 ANTIESTREPTOLISINA O.............................................................................................................. 34
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 36
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 37

TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE


DOENÇAS REUMÁTICAS........................................................................................ 39
1 AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX........................................................................................................... 39
2 NEFELOMETRIA................................................................................................................................ 41
3 TURBIDIMETRIA.............................................................................................................................. 42
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 44
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 51
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 52

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 53
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E
PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL....................................................................... 57

TÓPICO 1 — DEMANDAS IMUNOLÓGICAS E A IMPORTÂNCIA DO


ACOMPANHAMENTO IMUNOLÓGICO NO PERÍODO PRÉ-NATAL......... 59
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 59
2 GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA........................................................................... 61
2.1 DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL........................................................................ 64
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 66
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 67

TÓPICO 2 — TOXOPLASMOSE........................................................................................................ 69
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 69
2 TOXOPLASMOSE.............................................................................................................................. 69
2.1 CICLO BIOLÓGICO...................................................................................................................... 70
2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS.................................................................................................... 72
2.3 LABORATÓRIO CLÍNICO NA TOXOPLASMOSE................................................................. 74
2.3.1 Infecção recente..................................................................................................................... 75
2.3.2 Transição imunológica......................................................................................................... 76
2.3.3 Infecção latente ou crônica ................................................................................................. 76
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 80

TÓPICO 3 — CITOMEGALOVÍRUS E RUBÉOLA........................................................................ 81


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 81
2 CITOMEGALOVÍRUS...................................................................................................................... 81
2.1 LABORATÓRIO CLÍNICO APLICADO AO CITOMEGALOVÍRUS.................................... 83
3 RUBÉOLA............................................................................................................................................. 84
3.1 LABORATÓRIO CLÍNICO APLICADO À RUBÉOLA............................................................ 86
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 89

TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E


PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL........................................................................... 91
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 91
2 IMUNOCROMATOGRAFIA........................................................................................................... 91
2.1 FLUXO LATERAL......................................................................................................................... 92
2.2 DUPLA MIGRAÇÃO OU DUPLO PERCURSO (DPP)............................................................ 93
2.3 IMUNOCONCENTRAÇÃO ....................................................................................................... 93
3 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO (ELISA)..................................................................................... 96
4 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DE MICROPARTÍCULAS.................................................. 101
5 HEMAGLUTINAÇÃO..................................................................................................................... 103
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 104
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 109
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 110

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 113

UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES........................... 117

TÓPICO 1 — SÍFILIS.......................................................................................................................... 119


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 119
2 SÍFILIS................................................................................................................................................ 119
3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO DA SÍFILIS...... 123
3.1 TESTES NÃO TREPONÊMICOS............................................................................................... 123
3.1.1 Floculação: VDRL............................................................................................................... 125
3.1.2 Ensaio RPR........................................................................................................................... 129
3.2 TESTES TREPONÊMICOS......................................................................................................... 130
3.2.1 Imunofluorescência indireta – FTA-Abs......................................................................... 130
3.2.2 Teste treponêmico imunoenzimático – ELISA............................................................... 132
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 137

TÓPICO 2 — SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)...... 139


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 139
2 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV).............................................................. 140
3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO
DO HIV/AIDS................................................................................................................................... 144
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 151
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 152

TÓPICO 3 — HEPATITES VIRAIS.................................................................................................. 153


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 153
2 HEPATITES VIRAIS........................................................................................................................ 153
3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO DAS
HEPATITES VIRAIS........................................................................................................................ 157
3.1 HEPATITE A................................................................................................................................. 158
3.2 HEPATITE B.................................................................................................................................. 158
3.3 HEPATITE C................................................................................................................................. 159
3.4 HEPATITE D................................................................................................................................. 159
3.5 HEPATITE E.................................................................................................................................. 160
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 162

TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS......................................................................................................... 165


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 165
2 CORONAVÍRUS............................................................................................................................... 165
2.1 SARS-COV-1................................................................................................................................. 167
2.2 SARS-COV-2................................................................................................................................. 169
3 O LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO
DE SARS-COV-1 E SARS-COV-2.................................................................................................. 173
3.1 DETECÇÃO DE ANTÍGENO PARA SARS-COV – IMUNOCROMATOGRAFIA
DE FLUXO LATERAL................................................................................................................. 174
3.2 DETECÇÃO DE ANTICORPOS PARA SARS-COV – ELISA............................................... 179
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 183
TÓPICO 5 — LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO................................................................... 185
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 185
2 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO......................................................................................... 185
3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO DO LÚPUS............................................... 188
3.1 ANTICORPOS ANTINUCLEARES (ANA/FAN).................................................................... 188
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 191
RESUMO DO TÓPICO 5................................................................................................................... 192
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 193

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 195
UNIDADE 1 —

APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO
DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE
DOENÇAS REUMÁTICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender conceitos de imunologia básica;


• compreender as dinâmicas relacionadas a doenças reumáticas;
• reconhecer a etiopatogenia das doenças reumáticas;
• desenvolver uma visão abrangente sobre os mecanismos de desenvolvi-
mento das doenças reumáticas;
• identificar aspectos relacionados às principais técnicas imunológicas uti-
lizadas para investigação de patologias reumáticas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

TÓPICO 2 – COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS


REUMÁTICAS

TÓPICO 3 – MARCADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS

TÓPICO 4 – METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE


DOENÇAS REUMÁTICAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

1 INTRODUÇÃO
Entre os vários sistemas que possuímos, vamos destacar a importância do
sistema imunológico e seu papel em todo nosso organismo.

Qualquer pessoa que tenha tido o privilégio de ouvir o desempenho de


uma brilhante orquestra executando uma sinfonia composta por um dos
maiores maestros sabe que cada instrumento musical, cuidadosamente
afinado, contribui para o som coletivamente harmonioso produzido pelos
músicos. (COICO; SUNSHINE, 2010, p. 1).

Em uma analogia com o corpo humano, podemos dizer que, para desfrutar
de coisas simples, como assistir a um filme, existe uma “orquestra biológica” não
apenas gigante, mas também bastante diversa, que, com uma sinergia singular,
faz com que todos os sistemas funcionem de modo coordenado, 24 horas por dia,
para manter a estabilidade interna, chamada homeostase.

Nesse aspecto, para compreender as dinâmicas relacionadas à imunologia


clínica, revisaremos alguns conceitos básicos sobre a imunologia, abordando os
principais aspectos clínicos associados a esta disciplina.

2 CONCEITOS EM IMUNOLOGIA BÁSICA


O sistema imunológico tem como principal função proteger o organismo
contra agressores externos. Para isso, conta com diferentes tipos celulares e moléculas
mediadoras que atuarão de modo a manter o equilíbrio dos demais sistemas. Quando
o corpo é exposto a algum tipo de microrganismo ou de um agente agressor que
coloca em risco o equilíbrio – e, por conseguinte, a saúde – dos indivíduos, ocorre
uma mobilização do sistema imune, no sentido de gerar uma resposta para eliminar o
potencial agente de risco (LUNDY; FOX; GIZINSKI, 2015).

As respostas desencadeadas pelo sistema imune ocorrem, ordenadamente,


em quatro processos principais:

• identificação de antígenos estranhos;


• determinação do potencial prejudicial do agressor;
• ativação de células e mediadores próprios para eliminar o agressor;
• desenvolvimento da resposta efetora para eliminação do agente e restabelecimento
do equilíbrio homeostático.

3
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Para que todos esses passos sejam executados com sucesso, contamos com
diferentes tipos celulares pertencentes ao sistema imune. A medula óssea é a fonte
de origem de células-tronco hematopoiéticas pluripotentes, que, após sucessivas
diferenciações, podem originar diferentes células com diferentes funções (Figura 1).

FIGURA 1 – TIPOS DE CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE E SUAS FUNÇÕES


FONTE: Silverthorn (2017, p. 760)

4
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

Entre as funções descritas na Figura 1, podemos perceber que os linfócitos


B secretam anticorpos. Afinal, o que são esses anticorpos?

Os anticorpos são moléculas proteicas, classificadas como imunoglobulinas,


que conseguem identificar agentes estranhos, presentes tanto na superfície de
patógenos quanto em porções de toxinas produzidas por eles. Esses agentes
estranhos são moléculas grandes que recebem o nome de antígenos. Assim,
o anticorpo liga-se a uma pequena porção do antígeno chamada epítopo
antigênico, semelhantemente ao modelo de chave/fechadura estudado em
enzimas (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2008). Essa ligação é muito importante
na rotina laboratorial, uma vez que é justamente a ligação entre antígeno e
anticorpo, ou seja, a formação desse imunocomplexo, o qual é base para diversos
ensaios imunológicos, que veremos ao longo desta disciplina.

FIGURA 2 – REAÇÃO ANTÍGENO ANTICORPO

Epítopo

Antígeno

Anticorpo

FONTE: <https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/patologia/HELIOJOSEMONTASSIER/
aula-8-interacao-ag-ac-testes-sorologicos-primarios-e-secundarios.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2021.

O reconhecimento de potenciais agressores e a abordagem resolutiva,


por parte das células e moléculas relacionadas ao sistema imune, podem ocorrer
por intermédio de dois tipos diferentes de resposta: inata ou adaptativa (Figura
3), que trabalham de modo coordenado para neutralizar qualquer ameaça ao
equilíbrio dos órgãos e tecidos (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2008).

5
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

FIGURA 3 – PRINCIPAIS MECANISMOS DA IMUNIDADE INATA E ADQUIRIDA

FONTE: Abbas; Lichtman; Pober (2008, p. 3)

2.1 RESPOSTA INATA


A resposta inata corresponde à primeira resposta do sistema imune diante
de um dano tecidual. Trata-se de uma resposta rápida, composta por mecanismos
que precedem a existência da infecção (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2008). O
objetivo da imunidade inata é controlar e impedir o avanço da infecção, o que
ocorre via ativação de mecanismos inespecíficos para o patógeno em questão.
São exemplos desses mecanismos inatos: barreiras físicas, barreiras químicas,
fagócitos, processo inflamatório e sistema complemento.

2.1.1 Barreiras físicas


• Junções intercelulares ocludentes – tornam as células epiteliais “seladas”,
dificultando o acesso de invasores ao ambiente interno.
• Muco – produzido pelas células mucosas presentes no trato respiratório, no trato
gastrointestinal e no trato genital, trata-se de uma secreção glicoproteica. Sua
função é recobrir as superfícies dos locais em que está presente, impedindo a
invasão de microrganismos ao epitélio, uma vez que eles são aderidos ao muco.
• Cílios – auxiliam na expulsão de agentes patogênicos, uma vez que sua
movimentação impele o muco com potenciais agressores para fora do local em
que estão presentes, por exemplo, o trato respiratório.

6
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

• Microbiota – presentes em boa parte das superfícies epiteliais, é composta


por microrganismos não patogênicos, que auxiliam no combate a patógenos
por competir pelos nutrientes disponíveis, além de produzir moléculas
antimicrobianas.
• Lágrimas e saliva – compostas por fosfolipase A e lisozima, moléculas com
propriedades antimicrobianas.

2.1.2 Barreiras químicas


O pH e as enzimas digestivas compõem uma barreira química que impede
a proliferação de boa parte dos possíveis invasores no trato digestivo.

2.1.3 Fagócitos
Células responsáveis por reconhecer, englobar e destruir patógenos,
além de sinalizarem ao sistema imunológico que esses patógenos estão atacando
órgãos e tecidos. Os fagócitos mononucleares podem ser:

• Monócitos – células precursoras de macrófagos, presentes na circulação


sanguínea.
• Macrófagos – células presentes nos tecidos dotadas de capacidade fagocítica,
que podem expressar diferentes características, de acordo com o estímulo de
ativação recebido.
• Neutrófilos – células presentes em grande quantidade no nosso organismo,
responsáveis pelo combate a microrganismos como bactérias e fungos.

2.1.4 Processo inflamatório


Respostas geradas para defender o organismo de um potencial agressor,
com o intuito de curar ou reparar danos. Trata-se de um processo mediado
pela conjunção de ações imunoendócrinas, que apresentam, como sinais e
sintomas característicos, calor, dor, rubor, edema e limitação ou perda funcional
do local em que o processo inflamatório se estabeleceu (ABBAS; LICHTMAN;
POBER, 2008).

2.1.5 Sistema complemento


Além dos mecanismos e componentes do sistema inato descritos
anteriormente, temos também o sistema complemento, que atua tanto na resposta
inata quanto na resposta adquirida, é composto por 30 proteínas plasmáticas
inativadas presentes na nossa corrente sanguínea. Sua ativação pode acontecer
de três modos diferentes, chamados vias de ativação do sistema complemento:

7
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

• Via clássica – a ativação ocorre por intermédio da ligação de certos tipos de


anticorpos ligados aos antígenos.
• Via das lecitinas – ativada pela ligação da lecitina plasmática aos resíduos de
manose localizados na superfície de agentes agressores.
• Via alternativa – a ativação ocorre via superfície de membrana do agente
agressor, na ausência de anticorpos.

Qualquer uma das três vias de ativação resultará na clivagem (divisão)


da proteína C3. Com a ativação da C3, são ativadas proteínas uma após a outra,
levando a um efeito de ativação em cascata que resulta na geração de mecanismos
efetores contra o agente agressor. Entre os mecanismos efetores, podemos destacar
a oponização, a fagocitose, o complexo de ataque à membrana e o recrutamento
de células pró-inflamatórias (VOLTARELLI, 2009).

Agora que reconhecemos alguns mecanismos associados à imunidade


inata, abordaremos a resposta imune adquirida.

2.2 RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA


A resposta imune adquirida, também conhecida como resposta imune
específica, que, como o próprio nome revela, é uma resposta adquirida à medida
que o organismo é exposto aos agressores. Assim, quando em contato com um
novo patógeno, a imunidade adaptativa memoriza quais mecanismos específicos
são mais eficazes para defender órgãos e tecidos contra o patógeno em questão. A
especificidade dessa resposta é o que a torna tão eficaz, no que tange à proteção do
organismo. Desse modo, diante de uma nova exposição ao agressor previamente
“memorizado”, o sistema imune adaptativo já sabe os mecanismos necessários
para eliminá-lo (LUNDY; FOX; GIZINSKI, 2015).

O reconhecimento ocorre pela identificação dos antígenos específicos


presentes na constituição de cada patógeno. Dessa forma, os linfócitos identificam
esses antígenos, por meio de receptores de membrana capazes de realizar esse
reconhecimento. A partir daí, é desencadeado um processo de multiplicação de
células de defesa, que serão divididas em dois tipos: células efetoras, que farão
a defesa contra o patógeno, e células de memória, que serão ativadas apenas
quando houver uma segunda exposição ao mesmo patógeno (LUNDY; FOX;
GIZINSKI, 2015).

8
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

DICAS

Acadêmico, para aprimorar seu conhecimento relacionado às diferenças entre


os linfócitos B e T leia o artigo Sistema imunitário – parte II. Fundamentos da resposta
imunológica mediada por linfócitos T e B, acessando: https://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0482-50042010000500008. Boa leitura!

A seguir, conheceremos tópicos introdutórios relacionados aos ensaios


imunológicos e sua aplicação clínica em diferentes tipos de patologia.

3 INTRODUÇÃO AOS ENSAIOS IMUNOLÓGICOS


Após relembrar alguns conceitos importantes relacionados à imunologia,
é importante entender alguns conceitos relacionados aos ensaios imunológicos.

NTE
INTERESSA

Você já parou para pensar como são realizados os testes que indicam se você
está passando por um processo infeccioso e como o médico consegue, através de exames,
saber se a vacina estimulou a produção de anticorpos suficientes para o proteger de um
vírus ou se você está passando por um processo infeccioso recente?

A chave para essas perguntas está relacionada ao tipo de reação que ocorre nas
técnicas usadas em ensaios imunológicos: a interação entre antígeno e anticorpos.

Os ensaios imunológicos são técnicas que determinam respostas imunes


de anticorpos, antígenos ou linfócitos para detectar de forma exata a presença de
agentes agressores no organismo. A base que fundamenta esses testes é a interação
que ocorre entre antígeno e anticorpo, de modo que nós podemos utilizar como
reagentes tanto anticorpos quanto antígenos e seus componentes.

Por exemplo, quando você realiza uma técnica que busca identificar
um determinado anticorpo, à composição do reagente utilizada para o teste
será adicionado um antígeno, sendo esse tipo de teste classificado como ensaio
indireto. Por outro lado, quando o objetivo é identificar a presença de determinado
antígeno o reagente deverá conter o anticorpo para esse antígeno, e esse teste será
classificado como um ensaio direto.

9
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Para entender como essas técnicas podem, entre tantos antígenos e


anticorpos existentes, quantificar especificamente um determinado antígeno ou
anticorpo, deve-se compreender que os testes imunológicos são baseados no
princípio da especificidade que a resposta imune possui. Existem diferentes
métodos para detecção de antígenos e anticorpos, cada um com suas vantagens
e desvantagens. Por exemplo, há metodologias que podem apresentar reagentes
marcados e reagentes não marcados. Quando a metodologia é do tipo que
apresenta reagentes marcados, uma substância como um fluoróforo, por exemplo,
é adicionada ao reagente com o intuito de aumentar a sensibilidade de detecção
do ensaio (VOLTARELLI, 2009).

Nesse momento, podemos pensar nas características que são importantes


para entender qual a melhor metodologia a ser utilizada. Assim, para optar por
uma metodologia, critérios como sensibilidade e especificidade devem ser
observados. A sensibilidade de um teste corresponde à menor concentração da
ligação antígeno-anticorpo que o imunoensaio é capaz de detectar. Isso significa
que, quanto maior a sensibilidade do teste, menores são as concentrações que
ele é capaz de quantificar. Portanto, um teste com alta sensibilidade é um teste
capaz de quantificar melhor a proporção de indivíduos doentes. Dessa forma,
podemos afirmar que a sensibilidade informa quão boa é uma metodologia
para detectar pacientes que estão, de fato, com alguma doença. Isso indica que
um teste com alta sensibilidade é um teste com menor chance de apresentar
resultados falso-negativos, isto é, quando o teste apresentou resultado negativo
em indivíduos que apresentam a doença investigada (FERREIRA; PATINO, 2017).
Resultados falso-negativos podem ocorrer também por conta do efeito prozona,
um fenômeno que ocorre quando existem muitos anticorpos na amostra de soro
analisada, em resposta ao antígeno infeccioso. O excesso de anticorpos gera
uma desproporção em relação aos antígenos presentes no reagente, resultando
na formação de complexos muito pequenos que não se aglomeram de modo a
permitir aglutinação visível (SMITH; HOLMAN, 2004).

UNI

Sabemos que, muitas vezes, é difícil visualizar alguns conceitos descritos. Para
facilitar sua compreensão sobre a aglutinação resultante da reação antígeno e anticorpo,
indicamos o vídeo “Reação de Aglutinação”, disponibilizado pelo Canal Butantan. Assista ao
vídeo sugerido em: https://www.youtube.com/watch?v=PAxlKvpTT5Y.

Em metodologias para análise de proteína C-reativa por aglutinação


em látex, por exemplo, os fabricantes indicam a partir de quais concentrações
os imunoensaios podem apresentar resultados falso-negativos devido ao efeito
prozona (Figura 4). Esse resultado falso-negativo é descartado ao serem realizadas
diluições seriadas, para que a amostra apresente aglutinação visível.

10
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

FIGURA 4 – EFEITO PROZONA

FONTE: <https://imunosite.wordpress.com/category/materiais/>. Acesso em: 14 jan. 2021.

Além da sensibilidade da metodologia, ainda existem outras circunstâncias


que podem gerar resultados falso-negativos, como a janela imunológica, que
corresponde ao intervalo entre o momento em que o paciente teve contato com o
antígeno e o momento em que o organismo passa a apresentar níveis detectáveis
de anticorpos para o antígeno em questão (BRASIL, 2018).

Outra característica que merece atenção quando avaliamos a qualidade


de um imunoensaio é a especificidade. Especificidade é um termo que indica a
capacidade de um teste de identificar os indivíduos que não possuem a doença ou
condição clínica investigada. Assim, quanto maior for a especificidade de um teste,
menor será o número de pacientes com resultado falso-positivo. Resultados falso-
positivos são aqueles que apresentam resultados positivos apesar de o paciente
não apresentar a doença investigada. As circunstâncias que podem apresentar
resultados falso-positivos podem ter origem tanto das limitações da metodologia
do imunoensaio quanto das condições clínicas do paciente (FERREIRA; PATINO,
2017). Em se tratando de limitações relacionadas à metodologia, um resultado
falso-positivo pode ocorrer por conta de uma reação cruzada, ou seja, quando o
anticorpo é capaz de interagir com um antígeno diferente daquele que o originou.
Isso pode decorrer da semelhança entre o antígeno homólogo (que estimulou
a formação daquele anticorpo) e o antígeno heterólogo. Além disso, a reação
cruzada pode ser resultado de dois antígenos diferentes apresentarem o mesmo
epítopo, chamado epítopo compartilhado (Figura 5).

11
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

FIGURA 5 – REAÇÕES CRUZADAS

FONTE: <https://www.microbiologybook.org/Portuguese/5.GIF>. Acesso em: 14 jan. 2021.

E
IMPORTANT

Diluições seriadas

Uma diluição seriada é uma técnica na qual são realizadas várias diluições
progressivas; assim, inicia com a solução mais concentrada chegando a soluções menos
concentradas, amplificando o fator de diluição rapidamente. A fonte do material de diluição
(soluto) para cada etapa é proveniente do material diluído da etapa anterior. Em uma
diluição em série, o fator de diluição total é o produto dos fatores de diluição em cada
etapa. Logo, em uma diluição 1/2, o fator de diluição é 2 e todas as diluições seguintes
serão multiplicadas por 2. Para ter 1 mL de solução, como mostra a figura a seguir, tem-se
a adição de 0,1 ml do concentrado mais 0,9 mL do diluente.

Diluições em série são usadas para criar, com precisão, soluções extremamente
diluídas, bem como soluções para experimentos que exigem uma curva de concentração
com uma escala exponencial ou logarítmica. A técnica é útil quando há escassez do
volume do concentrado ou do diluente, havendo necessidade de minimizar seu uso, ou
quando há necessidade de diversas diluições, por exemplo, na determinação de um título
ou na contagem de microrganismos.

12
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES SOBRE IMUNOLOGIA CLÍNICA

ESQUEMA DE DILUIÇÃO SERIADA

FONTE: <https://kasvi.com.br/preparo-de-solucoes-laboratorio-concentracao-fator-
diluicao-seriada/>. Acesso em: 14 jan. 2021.

FONTE: Kasvi. Preparo de Soluções em Laboratório. 2018. Disponível em: https://kasvi.com.br/


preparo-de-solucoes-laboratorio-concentracao-fator-diluicao-seriada/. Acesso em: 14 jan. 2021.

13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As respostas desencadeadas pelo sistema imune podem ser divididas,


resumidamente, em quatro processos principais: identificação de antígenos
estranhos; determinação do potencial prejudicial do potencial agressor; ativação
de células e mediadores próprios para conter o agressor; e restabelecimento do
equilíbrio homeostático.

• Os linfócitos T são responsáveis pela eliminação de microrganismos


intracelulares e pela regulação de respostas imunológicas diante de antígenos).

• Os linfócitos B estimulam a geração de plasmócitos e a produção de anticorpos


próprios para ataque ao antígeno identificado.

• As respostas imunológicas podem ser do tipo inata (a primeira linha de defesa


do corpo humano, capaz de eliminar micro-organismos invasores antes da
ativação da resposta adaptativa) ou adaptativa (que corresponde à imunidade
de memória, desenvolvida após contato com agente agressor específico).

• As barreiras físicas e químicas, fagócitos e o processo inflamatório integram a


resposta inata.

• Os linfócitos efetores e de memória integram a resposta adaptativa.

• Janela imunológica é o intervalo entre o momento em que o paciente teve


contato com o antígeno e o momento em que o organismo passa a apresentar
níveis detectáveis de anticorpos para o antígeno em questão.

• Resultados falso-negativos são aqueles que o teste apresentou resultado


negativo em indivíduos que apresentam a doença investigada.

• As reações cruzadas favorecem o estabelecimento de resultados falso-negativos


por conta da desproporção entre anticorpo e antígenos, o que dificulta a
visualização da aglutinação.

• Resultados falso-positivos apresentam testes positivos sem que o paciente


tenha a doença investigada.

• A sensibilidade indica a menor concentração da ligação antígeno-anticorpo


que o imunoensaio é capaz de detectar. A especificidade indica a capacidade
de um teste identificar os indivíduos que não possuem a doença ou a condição
clínica investigada.

14
AUTOATIVIDADE

1 A imunologia é a ciência que estuda o sistema imune e, por conseguinte,


todos os seus mecanismos de defesa. Para que o sistema imune desenvolva
sua função protetora, a atividade das células de defesa se faz essencial. Com
relação às células com ação importante de defesa, assinale a alternativa
INCORRETA:

a) ( ) Célula NK.
b) ( ) Linfócito B.
c) ( ) Células da macroglia.
d) ( ) Linfócito T.

2 Alguns componentes caracterizam a resposta imunológica inata. Quais são


esses componentes e as suas funções?

3 O sistema imunológico pode apresentar dois tipos de resposta a potenciais


agressores: a resposta inata e a resposta adquirida. Nesse contexto, cada
uma contém mecanismos que interagem com o patógeno com o objetivo de
eliminá-lo. Assinale a alternativa que apresenta exemplos de mecanismos
pertencentes a imunidade inata e adquirida, respectivamente:

a) ( ) Monócitos e eliptócitos.
b) ( ) Macrófagos e linfócitos efetores.
c) ( ) Linfócitos efetores e células de memória.
d) ( ) Células de memória e macrófagos.

4 Explique a função do processo inflamatório no sistema imune.

15
16
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS


REUMÁTICAS

1 INTRODUÇÃO
É muito comum que, ao apresentar dores nas articulações, as pessoas
relacionem esse sintoma ao reumatismo. Apesar desse entendimento fazer parte
do senso comum, trata-se de uma ideia distorcida. Isso porque reumatismo não é
uma doença específica, mas, sim, um grupo de “diferentes doenças que acometem
o aparelho locomotor, ou seja, ossos, articulações, cartilagens, músculos, tendões e
ligamentos” (BRASIL, 2013) manifestando eventos dolorosos. Assim, neste tópico,
abordaremos os mecanismos etiopatológicos atrelados a essas doenças.

2 ETIOPATOGENIA DAS DOENÇAS REUMÁTICAS


De posse do conhecimento de que as doenças reumáticas apresentam
eventos dolorosos relacionados ao aparelho motor, é importante compreender
quais mecanismos conduzem ao estabelecimento dessas doenças. Mesmo não
apresentando mecanismos claros sobre como esse grupo de doenças se estabelece,
sabe-se que fatores genéticos, imunológicos e infecciosos têm importante relação
com sua causa. As doenças reumáticas podem ser de fase aguda, originadas por
fatores exógenos, ou crônica.

Nesse contexto, o período de duração da doença está associado à retirada


do estímulo exógeno, como o tratamento de uma infecção, por exemplo. Por outro
lado, quando as doenças reumáticas apresentam perfil crônico, em geral, trata-se
de uma doença caracterizada por um processo autoimune que pode acompanhar
o paciente ao longo da vida, alternando períodos de manifestação de sinais e
sintomas e períodos assintomáticos (HAMMER; MCPHEE, 2016).

As doenças reumáticas de fase aguda e crônica apresentam em comum


o estabelecimento de um processo inflamatório. A importância de destacar
o componente inflamatório dessas doenças é que, a partir dos elementos
moleculares que configuram essa inflamação, é possível realizar exames que serão,
em associação às características clínicas do paciente, balizadores a respeito da
suspeita clínica inicialmente proposta pelo médico. Nesse contexto, abordaremos
o processo inflamatório como um dos principais elementos etiopatogênicos das
doenças reumáticas e compreender como o sistema imune interage diante dessas
infecções e como percebemos essa interação nos exames laboratoriais (HAMMER;
MCPHEE, 2016).
17
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Para isso, é necessário entender a fisiopatologia das principais doenças


reumáticas em nível celular e molecular.

3 OSTEOARTRITE
Nossos ossos são revestidos em suas extremidades por uma estrutura
chamada cartilagem, cuja função é absorver o impacto gerado pelos movimentos
que fazemos. Assim, quando um ginasta executa um salto e cai em pé, por exemplo,
a cartilagem é um componente essencial para que o choque do solo com o pé do
atleta não gere um evento doloroso considerável (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA, 2019).

Na osteoartrite, também conhecida como artrose, temos um processo


degenerativo nas estruturas cartilaginosas. Com isso, os ossos perdem o
revestimento cartilaginoso, o que os expõe diretamente aos impactos gerados
pelos diversos tipos de movimentos que realizamos, e a estrutura óssea passa a ser
comprometida pelo desgaste. Esse desgaste gera alterações nos ossos e conduz a
formação de um processo inflamatório na membrana sinovial, que contribui para
manifestação de dor ao realizar movimentos (SOHN et al., 2012).

ATENCAO

Lembre-se de que os ossos, ao contrário da cartilagem, são dotados de tecido


nervoso e circulação sanguínea. Por isso, movimentos que normalmente seriam indolores
passam a manifestar dor.

O processo inflamatório que compõe a osteoartrite está associado à


degeneração da cartilagem (Figura 7), que, quando rompida, libera elementos
de sua matriz extracelular lesionada no líquido sinovial. O extravasamento de
matriz extracelular (MEC) estimula a produção de elementos pró-inflamatórios
no líquido sinovial, que podem, por sua vez, estimular a produção de enzimas
que intensificam a degradação da cartilagem (REZEND; CAMPOS, 2013).

E
IMPORTANT

O líquido chamado de sinovial está localizado no interior da cápsula articular,


que reveste e protege a articulação, auxiliando no alívio do impacto entre os ossos.

18
TÓPICO 2 — COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS REUMÁTICAS

FIGURA 7 – OSTEOARTRITE

Cartilagem
articular Esporões
ósseos

Menisco
Perda de
cartilagem

Redução
do espaço
Espaço articular
articular
normal

FONTE: <https://drmarciosilveira.com/artrose-no-joelho-descricao-doenca/#Artrose_no_
joelho_Primaria>. Acesso em: 20 dez. 2020.

Os fatores que influenciam o estabelecimento desse processo degenerativo


são multifatoriais e podem estar tanto relacionados às características do paciente
quanto à influência de fatores mecânicos. Os fatores associados às características
dos pacientes dizem respeito a componentes relacionados a:

• hereditariedade: se já existem casos de osteoartrite na família;


• obesidade: uma vez que é uma condição clínica que acarreta sobrecarga
articular, o que pode favorecer processos degenerativos;
• hipermobilidade: condição que aumenta o estresse articular e favorece a
ruptura da malha colágena.

Quanto aos fatores mecânicos atrelados ao estabelecimento da osteoartrite,


temos a sobrecarga esportiva por realização de atividades de alto impacto, a
utilização de aparelhos de musculação da maneira errada, os macrotraumas e as
alterações na biomecânica articular.

4 ARTRITE REUMATOIDE (AR)


Na artrite reumatoide (AR), células do sistema imune atacam os
componentes teciduais do próprio indivíduo, pois é uma doença autoimune.
Trata-se de uma doença inflamatória, autoimune sistêmica, que acomete
aproximadamente 1% da população mundial, apresentando maior propensão
de desenvolvimento em mulheres. Apesar de acometer indivíduos de qualquer
idade, a maior incidência ocorre na faixa entre 50 e 75 anos (RODBARD
et al., 2019).

19
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

As manifestações da AR ocorrem principalmente na membrana sinovial.


Assim, todas as articulações que apresentam membrana sinovial serão afetadas, de
modo que, conforme a doença progride, é possível observar um gradativo efeito
de erosão e deformidade articular (RODBARD et al., 2019).

Na verdade, as manifestações clínicas não se limitam apenas às articulações,


pois, além desses efeitos, é possível o estabelecimento de manifestações em
órgãos e sistemas, classificados como manifestações extra-articulares. De acordo
com Moura et al. (2012), são exemplos de manifestações extra-articulares:

Nódulos reumatoides, pericardite, derrame pericárdico, pleurite,


derrame pleural, doença pulmonar intersticial, hipertensão da artéria
pulmonar, síndrome de Caplan, síndrome de Felty, anemia de doença
crônica, trombocitose, neuropatia, esclerite, episclerite, síndrome
Sicca, escleromalácia perforans, glomerulonefrite, úlceras cutâneas,
vasculites, tenossinovite de De Quervain, amiloidose e Síndrome de
Sjögren (MOURA et al., 2012, p. 687).

A artrite reumatoide é uma doença de origem multifatorial. Contudo, sabe-se


que existem fatores passíveis de mudança, como o tabagismo, a periodontite e o
microbioma, que têm em comum o estabelecimento de um evento inflamatório.
Um ambiente inflamatório estimula a citrulinização dos peptídeos, que consiste
na conversão de uma arginina em citrulina. Sabe-se que as reações que levam
à citrulinização estimulam a produção de anticorpos contra as proteínas
citrulinadas, por isso esses fatores têm relação com o estabelecimento da artrite
reumatoide (CARVALHO et al., 2014).

ATENCAO

Os peptídeos são moléculas compostas por aminoácidos ligados entre si por


ligações peptídicas.

Além dos fatores de risco que podemos mudar, existem também fatores
relacionados à hereditariedade, ou seja, a fatores genéticos. Na artrite reumatoide,
os genes HLA estão associados ao estímulo para que os linfócitos B autorreativos
produzam anticorpos contra proteínas citrulinizadas. Os macrófagos também
são um importante elemento fisiopatológico na artrite reumatoide, uma vez
que secretam fator de necrose tumoral α (TNF-α) e interleucina 1 (IL-1), que
são citocinas estimuladoras da inflamação, processo envolvido intimamente na
patogenia da AR (CARVALHO et al., 2014).

20
TÓPICO 2 — COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS REUMÁTICAS

E
IMPORTANT

A IL-1 é uma citocina que atua como mediadora na resposta imunológica


diante da invasão bacteriana, da inflamação, de infecções e de lesões.

Assim como a IL-1, o TNF-α também é uma citocina que atua promovendo a
resposta imune e a inflamatória por meio do recrutamento de neutrófilos e monócitos
na região da infecção, além de apresentar mecanismos com a capacidade de ativar essas
células imunes.

Conhecendo os elementos gerais que compõem o quadro de artrite


reumatoide, é necessário compreender como esse processo interage com as
articulações. Na Figura 8, podemos observar as estruturas presentes na articulação
de um indivíduo sadio e a de um indivíduo com artrite reumatoide.

FIGURA 8 – COMPARAÇÃO ENTRE JOELHO NORMAL (A) E JOELHO COM ARTRITE (B)

osteoclasto
fibroblasto
cápsula articular
macrófafo
Pannus
membrana sinovial célula dendritica
linfócito T
célula B plasma
linfócito B
espaço articular
neutrófilo angiogênese
cartilagem

mastócito
sinoviócitos

Hiperplasia sinovial

osso

FONTE: Montes (2014, p. 24)

21
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Na representação esquemática da figura, é possível observar que, na artrite


reumatoide, o ataque à membrana sinovial desencadeia um processo inflamatório.
A inflamação persistente propicia a formação de uma estrutura chamada pannus.
De acordo com Carvalho et al. (2014, p. 12): “Esse tecido, denominado pannus
reumatoide, apresenta hiperplasia e hipertrofia dos sinoviócitos, infiltrado
inflamatório predominantemente de linfócitos, plasmócitos e macrófagos e
intensa angiogênese, tornando-se densamente vascularizado”.

É importante ressaltar que, nessas circunstâncias, o líquido sinovial


contém, em sua predominância, neutrófilos. Nesse caso, utilizamos a representação
esquemática de um joelho para facilitar a compreensão. Entretanto, é importante
lembrar que esse processo pode ocorrer em qualquer articulação do tipo sinovial
(GOELDNER et al., 2011).

Por conta disso, as manifestações clínicas compreendem o estabelecimento


de poliartrite crônica, de padrão erosivo, principalmente nas mãos e nos punhos.
Além disso, indivíduos portadores de AR apresentam artralgia de padrão
inflamatório (dor nas articulações), tendo como caraterística manifestação
principalmente ao acordar, com sensação de rigidez que apresenta melhora com
a realização de esforço físico.

Ao pesquisar sobre AR, é comum surgirem imagens de mãos e dedos


deformados, uma vez que uma das consequências de um processo inflamatório
persistente é o dano tecidual com evolução para perda da função. Nessa doença,
tais alterações são consequência do não tratamento, que evolui para deformidade
e consequente prejuízo funcional das articulações acometidas. Deformidades em
formato de botoeira (deformação de boutonnière) e pescoço de ganso (Figura 9)
são exemplos do resultado da progressão da artrite reumatoide (GOELDNER
et al., 2011).

IGURA 9 – DEFORMIDADES CARACTERÍSTICAS DA ARTRITE

Deformidade em botoeira

Deformidade
pescoço de ganso

FONTE: <https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-dos-tecidos-
conjuntivo-e-musculoesquel%C3%A9tico/dist%C3%BArbios-das-m%C3%A3os/deformidade-em-
pesco%C3%A7o-de-cisne>. Acesso em: 21 dez. 2020.

22
TÓPICO 2 — COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS REUMÁTICAS

Como visto anteriormente, as manifestações clínicas extra-articulares


representam um espectro de pior prognóstico dentro da artrite reumatoide,
devido a sua potencial gravidade. Um elemento importante das manifestações
clínicas extra-articulares é a presença do fator reumatoide, um tipo de anticorpo
importante e que será mais bem abordado nas provas laboratoriais relacionadas às
doenças reumáticas.

5 FEBRE REUMÁTICA
A febre reumática é uma doença autoimune que acomete pacientes
geneticamente predispostos (em torno de 1 a 2% da população), quando
infectados pela bactéria Streptococcus pyogenes. Via de regra, trata-se de uma
doença precedida por um caso de infecção de via aérea superior (RACHID, 2003).

UNI

Caro acadêmico, nesse momento, você pode se perguntar: mas se essa é


uma doença originada por uma bactéria, por que a febre reumática integra o grupo de
doenças reumáticas?

Os eventos característicos relacionados à febre reumática estão associados


ao estabelecimento de um quadro inflamatório que acomete diferentes órgãos
e estruturas, resultando em condições clínicas de maior complexidade, como
valvulite, e coreia, além de artrite reativa pós-estreptocócica (RACHID, 2003).
Esse quadro se desenvolve quando o mecanismo fisiopatológico que justifica as
condições clínicas citadas está associado a um fenômeno chamado mimetismo
molecular. Desse modo, devido às semelhanças entre os componentes moleculares
que constituem o Streptococcus e componentes presentes no corpo humano, o
sistema imunológico se “confunde” e ataca os próprios tecidos do indivíduo, ou
seja, a ativação do sistema imune, necessária para combater a infecção, resulta na
produção de anticorpos capazes de reconhecer e atacar as estruturas bacterianas
para eliminar o agente patogênico. Entretanto, além de atacar o agente infeccioso,
os anticorpos atacam também tecidos que contêm em sua estrutura componentes
moleculares similares aos da bactéria (RACHID, 2003).

Assim, o mimetismo molecular do estreptococo gera uma reação cruzada,


uma vez que células saudáveis do indivíduo passam a ser atacadas. Veja abaixo,
o estabelecimento das condições clínicas resultantes das reações cruzadas que
ocorrem na febre reumática (Figura 10):

23
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

FIGURA 10 – ESTRUTURA DA BACTÉRIA S. PYOGENES E SUAS SIMILARIDADES COM OS TECI-


DOS DO CORPO HUMANO, QUE TAMBÉM SE TORNAM ALVOS DOS AUTOANTICORPOS

Reações cruzadas com...


STREPTOCOCCUS
β Hemolítico do grupo A ↓
CÁPSULA TROPOMIOSINA
(Miocárdio)
PROTEÍNA (M.R.T.)
GLICOPROTEÍNA
(válvula)
CARBO-HIDRATOS PAREDE
N-ACETIL GLICOSAM) CELULAR
SINÓVIA
MUCOPETÍDEO (articulação)

M. PROTOPLASMAT.
(↓ag) SARCOLEMA
(Miocárdio e vasos)

CITOPLASMA
(Neuron. N. Caucato)

FONTE: Herdy (2000 apud Cruz, 2017, p. 5)

• Valvulite: anticorpos produzidos contra os polissacarídeos da parede celular


do estreptococo atacam as glicoproteínas presentes nas valvas cardíacas. Com
isso, ocorre um processo inflamatório nas valvas cardíacas, que pode resultar
em prejuízo permanente no funcionamento dessas estruturas (Figura 11).
• Vasculite: anticorpos produzidos contra antígenos presentes na membrana
citoplasmática bacteriana atacam o sarcolema dos vasos. Com isso, é estabelecido
um processo inflamatório que altera a espessura vascular, prejudicando o fluxo
de sangue para órgãos e tecidos.
• Artrite: anticorpos produzidos contra a cápsula de ácido hialurônico presente
no Streptococcus atacam o tecido sinovial. Com isso, cria-se um processo
inflamatório na membrana sinovial que progride para limitação de movimentos.

FIGURA 11 – VALVULITE CARACTERÍSTICA DE FEBRE REUMÁTICA

FONTE: <https://medifoco.com.br/febre-reumatica-o-que-e-quais-seus-sintomas/>.
Acesso em: 5 fev. 2021.

24
TÓPICO 2 — COMPREENDENDO AS DINÂMICAS SOBRE DOENÇAS REUMÁTICAS

• Coreia: anticorpos produzidos contra antígenos presentes na membrana


plasmática estreptocócica atacam regiões do encéfalo. Com isso, o indivíduo
passa a apresentar distúrbios relacionados à realização de movimentos e
hipotonia (PEREIRA; BELO; SILVA, 2015).

NTE
INTERESSA

Em 2019, pesquisadores do Instituto do Coração, de São Paulo, desenvolveram


uma vacina que pode evitar o desenvolvimento da febre reumática. Já existe uma versão
pronta da vacina para testes em seres humanos que espera por autorização.

Para saber mais sobre essa vacina, acesse:


https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/02/18/pesquisadores-de-sp-criam-
vacina-que-pode-evitar-febre-reumatica.ghtml.

Como observado anteriormente, as doenças reumáticas, por intermédio


de diferentes vias, têm como denominador comum o processo inflamatório.

25
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As doenças reumáticas têm como componente comum o estabelecimento de


um processo inflamatório.

• A osteoartrite (artrose) é definida como um processo degenerativo nas


estruturas cartilaginosas. Com isso, os ossos perdem esse revestimento
cartilaginoso, o que os expõe diretamente aos impactos gerados pelos diversos
tipos de movimentos que realizamos.

• O desgaste presente na osteoartrite gera alterações na estrutura óssea e leva à


formação de um processo inflamatório na membrana sinovial.

• Na artrite reumatoide, a membrana sinovial é afetada e, conforme progride, é


possível observar um gradativo efeito de erosão e deformidade articular.

• O avanço da artrite reumatoide dá origem ao pannus, caracterizado por hiperplasia


e hipertrofia dos sinoviócitos, infiltrado inflamatório predominantemente de
linfócitos, plasmócitos e macrófagos e intensa angiogênese.

• A febre reumática é uma doença autoimune decorrente de uma infecção nas


vias aéreas superiores causada por Streptococcus pyogenes.

• Os eventos característicos relacionados à febre reumática estão associados ao


estabelecimento de um quadro inflamatório que acomete diferentes órgãos,
resultando em condições clínicas de maior complexidade, como valvulite,
artrite e coreia.

26
AUTOATIVIDADE

1 Na artrite reumatoide, ocorre a formação de um processo hiperplásico


e hipertrófico estabelecido nas células sinoviais que contêm infiltrado
inflamatório e intensa angiogênese, o que o torna densamente vascularizado.
Com relação ao termo que caracteriza essa descrição, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Sinoviose hiperplásica.
b) ( ) Pannus.
c) ( ) Deformação de boutonnière.
d) ( ) Valvulite.

2 As doenças reumáticas possuem uma característica que permite a realização


de exames para compor diagnóstico e traçar prognóstico dessas doenças.
Qual é essa característica? Justifique.

3 Os eventos característicos relacionados à febre reumática estão associados ao


estabelecimento de um quadro inflamatório que acomete diferentes órgãos
e estruturas, resultando em condições clínicas de maior complexidade.
Explique o papel do mimetismo molecular na febre reumática.

27
28
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

MARCADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS

1 INTRODUÇÃO
Quando se trata do diagnóstico, estamos falando em evidências que,
em conjunto, apontam o estabelecimento de alguma patologia. Nesse contexto,
estudaremos um dos mais importantes elementos que estruturam um diagnóstico:
as análises laboratoriais – também conhecidas como provas ou exames
laboratoriais. Sabe-se que, atualmente, os exames laboratoriais constituem um
importante elemento balizador de mais da metade das decisões médicas.

Assim, conheceremos as características dos principais exames aplicados


às patologias previamente discutidas.

2 PROTEÍNA C-REATIVA
A proteína C-reativa (PCR) foi descrita pela primeira vez na década de
1930. A indicação “C-reativa” foi dada, inicialmente, por ter sido identificada a
sua reação com o polissacarídeo C da cápsula da bactéria Streptococcus pneumoniae
em casos de pacientes com pneumonia pneumocócica. Após essa descoberta, novos
estudos identificaram sua presença em outras condições clínicas. Isso fez com que
a PCR se tornasse um exame amplamente utilizado, em função da variedade de
doenças em que sua mensuração aparece alterada. Por isso, a PCR é classificada
como inespecífica (CARVALHO et al., 2007). Dessa maneira, a detecção da PCR
não é considerada patognomônica, ou seja, não é própria e característica de
nenhuma doença específica.

E
IMPORTANT

Acadêmico, a sigla PCR também pode surgir em textos com o significado


de reação em cadeia da polimerase. Para diferenciá-las, é necessário compreender que a
proteína C-reativa é uma proteína de fase aguda inespecífica, visto que está presente em
diversas patologias, enquanto a reação em cadeia da polimerase é uma técnica da biologia
molecular que visa a amplificar o material genético – por isso, sugerimos que você revise
o livro da disciplina de Biologia Molecular.

29
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

A PCR é uma pentraxina (Figura 12) de origem hepática, que atua ligando-
se a potenciais agressores, células em apoptose ou com alguma lesão, causando a
sua destruição por intermédio da ativação de fagócitos e do sistema complemento.

FIGURA 12 – ESTRUTURA MOLECULAR DA PROTEÍNA C-REATIVA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/creactive-protein-crp-human-
molecule-chemical-117136327>. Acesso em: 5 fev. 2021.

De acordo com Neto e Carvalho (2009, p. 416), “A PCR e a via clássica do


complemento atuam em sintonia, promovendo a limpeza de células apoptóticas
sem ocasionar lise celular”. Dessa forma, os mediadores pró inflamatórios
dentro dessas células não são liberados, impedindo a intensificação da reação
inflamatória presente.

E
IMPORTANT

Ao longo deste livro, alguns termos serão recorrentes, por isso, vamos relembrar
as diferenças entre os seguintes conceitos:

• Análise qualitativa: indica se há ou não quantidade relevante do analito que está sendo
investigado na amostra. O critério que estabelece se existe uma quantidade significativa
do analito chama-se cut-off, que corresponde ao ponto de corte predeterminado. Nesse
tipo de metodologia, não identificamos a concentração do analito.

30
TÓPICO 3 — MARCADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS

• Análise semiquantitativa: atribui-se valores às escalas qualitativas estabelecidas de


acordo com cada técnica. Contudo, não necessariamente o número atribuído a cada
descrição representa com exatidão a concentração presente. A função desse tipo de
análise objetiva produzir resultados mais detalhados do que aqueles obtidos em análise
qualitativas e não sugerir valores absolutos, como em análises quantitativas.
• Análise quantitativa: mensura a concentração do analito na amostra utilizada.
• Down-regulation: é um termo que se refere ao processo de redução ou supressão de
uma resposta a um determinado estímulo. Por exemplo: uma célula pode reduzir sua
resposta a uma molécula devido à redução do número de receptores presentes na
superfície dessa célula.

Com relação a sua influência sobre o processo inflamatório, sabemos que a


PCR pode atuar tanto como mediador pró-inflamatório quanto anti-inflamatório.
De acordo com Neto e Carvalho (2009, p. 416), isso ocorre porque:

A interação entre PCR e porção Fc de imunoglobulinas dá-se, em


fagócitos, por meio de receptores FcγRI (CD64) e FcγRIIa (CD32),
levando à indução de fagocitose e à secreção de citocinas pró-
inflamatórias como interleucina 1 (IL-1) e fator de necrose tumoral-α
(TNF-α). Já em neutrófilos, a interação promove down-regulation
da inflamação com inibição da resposta quimiotática, clivagem de
L-selectina diminuindo a marginação de leucócitos e endocitose de
receptores IL-6.

E
IMPORTANT

Acadêmico, você sabe o que é downregulation? É um termo em inglês que


significa “desregulação” ou “dessensibilização”. Ao receber um estímulo de downregulation,
a célula ou um tecido diminui a sua função ou a liberação de moléculas, como as citocinas,
que são quimiotáticos no processo inflamatório.

Por se tratar de uma proteína de fase aguda, a PCR apresenta-se elevada


na fase ativa de doenças relacionadas a processos inflamatórios – é importante
notar que a presença desse componente no organismo é sempre associada a
um processo inflamatório, mas não é possível saber o que desencadeou essa
manifestação apenas por causa disso.

Isso significa que, em doenças reumáticas, haverá a presença da PCR,


pois, conforme discutido anteriormente, as doenças reumáticas integram o grupo
de doenças de caráter inflamatório. Assim, condições como artrite reumatoide
e vasculites em fase ativa apresentarão dosagens aumentadas de PCR. As
concentrações da PCR tendem a aumentar entre a quarta e sexta hora após o início
do processo inflamatório, podendo atingir o pico de concentração na circulação
sanguínea em até 50 horas.
31
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Quando solicitada com o objetivo de investigar doenças reumatológicas,


algumas condições podem elevar discretamente os valores da PCR, posto que
apresentam quadros inflamatórios como, por exemplo: “Obesidade, tabagismo,
diabetes, uremia, hipertensão arterial, inatividade física, uso de anticoncepcionais
orais, distúrbios do sono, álcool, fadiga crônica, depressão, envelhecimento,
doença periodontal, entre outras situações” (NETO; CARVALHO, 2009, p. 416).

NTE
INTERESSA

Até o momento, vimos que a PCR foi apresentada como um importante


marcador relacionado a doenças reumáticas. Contudo, existe uma grande variedade de
condições em que ela é utilizada como marcador de diagnóstico e prognóstico, integrando
um grupo de exames utilizados com frequência, em especial no ambiente hospitalar,
para acompanhamento da evolução do paciente. Nesse contexto, sugerimos a leitura
do artigo Aplicações Clínicas Atuais da Proteína C-reativa, escrito por Guilherme Birchal
Collares e Urquiza Helena Meira Paulino, que destaca outras condições em que a PCR é
um instrumento importante para as equipes médicas: http://rmmg.org/exportar-pdf/579/
v16n4a12.pdf.

3 FATOR REUMATOIDE
O fator reumatoide (FR) é um autoanticorpo descrito inicialmente na
década de 1940 por Waller Rose. A denominação FR se deve ao fato de que esses
autoanticorpos foram identificados pela primeira vez em pacientes com artrite
reumatoide. Após essa descoberta, novos estudos identificaram sua presença em
outras condições clínicas. Assim, embora o nome remeta à artrite reumatoide,
esse não é um marcador patognomônico para a doença. Apesar de não se tratar
de um exame confirmatório para artrite reumatoide, ele faz parte das evidências
clínicas que compõem o diagnóstico diferencial dessa doença.

Em termos moleculares (Figura 13):

O fator reumatoide (FR) é um auto-anticorpo que tem como alvo a


região Fc de IgGs, ou seja, ele se liga em outros anticorpos e mais
especificamente, na sua porção “Fc” (parte invariável dos anticorpos,
que foi nomeada por se cristalizar em análises estruturais de
anticorpos). A maioria dos FR são do isotipo IgM mas podem ser
também IgA e IgG (MACEDO et al., 2016, p. 2).

32
TÓPICO 3 — MARCADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS

IGURA 13 – ALGUNS TIPOS DE ISÓTOPOS DOS FATORES REUMATOIDES

Os fatores reumatóides são auto-anticorpos que apresentam estruturas


diferentes e pertencem às classes IgM (mais comumente), IgG e IgA

FONTE: Macedo et al. (2016, p. 3)

Apesar da impossibilidade de utilização exclusiva desse marcador


para confirmação de artrite reumatoide, a avaliação do fator reumatoide tem
uma importante função prognóstica (capacidade de uma informação indicar
a evolução mais provável de uma condição clínica). De acordo com Mota et al.
(2011), os níveis mais elevados de fator reumatoide no soro de pacientes com
artrite reumatoide estão associados a um estágio agressivo da doença agressiva,
à presença de nódulos reumatoides e às manifestações extra-articulares.

No que se refere a outras condições clínicas (Quadro 1), Carvalho et al.


(2014, p. 72) indicam que:

Imunoglobulinas com atividade de FR estão presentes em pequena


quantidade e com baixa avidez no soro da maior parte dos
indivíduos; nesses casos, a pesquisa do FR é negativa ou fracamente
reagente. Em determinadas condições patológicas, a concentração de
imunoglobulinas pode se elevar com atividade de FR de alta afinidade.
As duas condições em que o FR é detectado com maior frequência e
em maiores títulos são a artrite reumatoide e a síndrome de Sjögren.
Entretanto, uma vez que o FR é encontrado em frequência variável
em grande número de outras condições mórbidas, sua especificidade
e seu valor preditivo positivo para o diagnóstico de artrite reumatoide
não são elevados.

33
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

QUADRO 1 – ENFERMIDADES EM QUE É COMUM A PRESENÇA DE FATOR REUMATOIDE

Grupo de doenças Enfermidades específicas


Doenças virais Hepatite B ou C, mononucleose, Influenza, AIDS, pós-vacinação
Artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica,
Doenças polimiosite, dermatomiosite, síndrome de Sjögren, crioglobulinemia mista,
autoimunes cirrose biliar primária, hepatite autoimune, fibrose pulmonar idiopática
(Harman-Hirsch), doença mista do tecido conjuntivo, vasculites
Neoplasias Principalmente após irradiação ou quimioterapia
Infecções Tuberculose, sífilis, hanseníase, salmonelose, endocardite bacteriana
bacterianas subaguda, brucelose, borreliose
Doenças
Malária, calazar, esquistossomose, filariose, tripanossomíase
parasitárias

FONTE: Carvalho et al. (2014, p. 72)

Nesses termos, pode-se considerar que o FR é uma análise auxiliar para


o fechamento do diagnóstico de artrite reumatoide. Entretanto, em pacientes já
diagnosticados com essa doença, é, sobretudo, um bom indicador prognóstico,
haja vista que a presença de altas titulações desses anticorpos no soro de
pacientes apontam um agravamento da doença, que pode indicar manifestações
extra-articulares.

NTE
INTERESSA

O fator reumatoide é um exame que integra a rotina da maior parte dos


laboratórios, independentemente do porte. Contudo, existem exames mais específicos para
investigação de AR e que são menos conhecidos, uma vez que o número de laboratórios
que os realizam é bem menor. O peptídeo citrulinado cíclico é um desses marcadores.
Assim, sugerimos a leitura da publicação feita pelo laboratório Fleury Autoanticorpos
contra peptídeo citrulinado cíclico (CCP) apresentam alta especificidade e sensibilidade
para o diagnóstico de artrite reumatoide, que aborda esse marcador: https://www.fleury.
com.br/medico/artigos-cientificos/autoanticorpos-contra-peptideo-citrulinado-ciclico-ccp-
apresentam-alta-especificidade-e-sensibilidade-para-o-diagnostico-de-artrite-reumatoide.

4 ANTIESTREPTOLISINA O
A estreptolisina O é uma exotoxina (proteínas que podem ser produzidas
por bactérias, capazes de gerar prejuízo a uma célula hospedeira) produzida por
Streptococcus pyogenes. Quando ativada, tem ação hemolítica, ou seja, desencadeia
a lise (quebra) das hemácias. É importante esclarecer que o que leva à ativação
biológica dessa toxina bacteriana é a ausência de oxigênio (RACHID, 2003).

34
TÓPICO 3 — MARCADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Como vimos, quando um patógeno invade o organismo, muitos eventos


imunológicos ocorrem para culminar em sua eliminação, entre eles, temos a
ativação dos linfócitos B. Após a infecção por S. pyogenes, anticorpos são produzidos
pelos linfócitos B específicos para combater essa exotoxina, uma vez que essa
molécula é imunogênica. Esses anticorpos são chamados de antiestreptolisina O
(ASO ou ASLO) (RACHID 2003).

Assim, análises que investigam a presença de ASO apontam a existência


prévia de infecção estreptocócica. É comum que, em um primeiro momento, a
dosagem sanguínea desse anticorpo esteja fortemente vinculada à investigação
de febre reumática. Contudo, devemos lembrar que a ASO estará presente em
qualquer manifestação clínica vinculada a infecções pela espécie S. pyogenes
(GEERTS et al., 2011), como glomerulonefrite aguda, escarlatina, amigdalite,
faringite (Figura 14), erisipela e sepse puerperal.

FIGURA 14 – FARINGITE ESTREPTOCÓCICA

FONTE: <https://www.sanarmed.com/casos-clinicos-dor-de-garganta-ha-6-dias-ligas>.
Acesso em: 5 fev. 2021.

É importante ressaltar que a presença de ASO pode permanecer na


circulação sanguínea por semanas após o evento infeccioso. No Tópico 4,
compreenderemos como esse analito pode ser dosado no laboratório.

35
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• São as interações relacionadas aos componentes do sistema imune em resposta


ao processo inflamatório que permitem as análises laboratoriais e, por
conseguinte, a construção de diagnóstico e prognóstico das doenças reumáticas.

• A proteína C-reativa é uma pentraxina produzida por células do fígado, que


atua ligando-se a potenciais agressores, células em apoptose ou com alguma
lesão, ativando sua destruição por intermédio da ativação de fagócitos e do
sistema complemento.

• Por se tratar de uma proteína de fase aguda, a proteína C-reativa apresenta-se


elevada na fase ativa de doenças relacionadas a processos inflamatórios.

• O fator reumatoide é um autoanticorpo, geralmente da classe IgM, que atua


contra a fração Fc de um anticorpo IgG.

• Diferentes condições clínicas alteram os valores de fator reumatoide, o que o


torna um marcador inespecífico.

• A estreptolisina O é uma exotoxina produzida por Streptococcus pyogenes.

• A ativação da estreptolisina O tem ação hemolítica, diante de condições de


ausência de oxigênio.

• A antiestreptolisina O é o anticorpo produzido para neutralizar essa exotoxina

• A antiestreptolisina O não é um marcador patognomônico de febre reumática.

• A antiestreptolisina O estará presente em qualquer manifestação clínica


vinculada a infecções por estreptococos do grupo A, não se restringindo apenas
à febre reumática.

36
AUTOATIVIDADE

1 Considere as lacunas apresentadas no texto a seguir:

A febre reumática é um dos possíveis desfechos relacionados à infecção


bacteriana por Streptococcus pyogenes. Essa bactéria produz uma
_____________, chamada de ______________. Com o objetivo de neutralizar
os prejuízos resultantes dessa infecção, são produzidos anticorpos chamados
de ______________________.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) Endotoxina; estreptolisina O; antiestreptolisina O.
b) ( ) Exotoxina; antiestreptolisina O; estreptolisina O.
c) ( ) Exotoxina; estreptolisina O; antiestreptolisina O.
d) ( ) Estreptolisina O; endotoxina; exotoxina.

2 Atualmente, a proteína C-reativa tem recebido maior destaque, devido


às variadas aplicações atribuídas principalmente ao âmbito hospitalar.
Explique por que ocorre o aumento significativo de sua utilização com base
nas características desse marcador.

3 O fator reumatoide não é um marcador patognomônico de artrite


reumatoide. Justifique essa afirmação.

37
38
TÓPICO 4 —
UNIDADE 1

METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE


DOENÇAS REUMÁTICAS

1 AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX
A técnica de aglutinação em látex é baseada nas reações de precipitação.
Os imunoensaios, desenvolvidos pelo princípio das reações de precipitação,
estão baseados na interação entre antígeno e anticorpo solúveis que produzem
complexos insolúveis visíveis. A formação desses complexos visíveis é realizada
a partir da utilização de partículas inertes (que não reagem quimicamente), como
o látex. Em casos de técnicas que utilizam a aglutinação em látex, é possível
realizar a análise qualitativa e semiquantitativa de marcadores imunológicos,
como a PCR, o fator reumatoide e a ASO. De acordo com Voltarelli (2009, p. 78):

Partículas de látex são esferas de poliestireno utilizadas como


suportes na adsorção de proteína solúvel e antígenos polissacarídicos,
funcionando como sistema indicador da reação antígeno-anticorpo.
O teste pode ser empregado na pesquisa de antígenos ou anticorpos.
A aplicação mais comum é na detecção de fator reumatoide IgM,
dirigido contra isotipos de IgG, IgA1, IgM ou IgE.

Com relação à possibilidade de esse tipo de teste ser usado tanto para pesquisa
de antígenos quanto de anticorpos, fazemos referência a testes diretos (partículas
de látex sensibilizadas com anticorpos – Figura 15) ou indiretos (partículas de látex
sensibilizadas com antígeno). Assim, quando existe na amostra uma concentração
mínima do marcador que está sob investigação, é possível observar a formação de
pequenos grumos (imunocomplexos), resultantes da aglutinação.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, lembre-se de que a concentração mínima que um ensaio é capaz


de detectar é a sensibilidade desse teste. Portanto, quando as instruções do teste indicam um
determinado valor de concentração do marcador como o valor da sensibilidade do teste, isso
significa que aquela é a menor concentração que essa técnica é capaz de detectar.

39
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

A execução da técnica de aglutinação em látex para marcadores de doença


reumatoide segue um procedimento comum. São utilizadas amostras de soro
do paciente, que serão pipetadas conforme a qualidade indicada nas instruções
do kit reagente em uma placa própria para essa técnica (Figura 16). Em seguida,
na mesma placa, a quantidade de látex sensibilizado indicada nas instruções do
teste (dependendo do marcador em investigação) será aplicada na amostra e
homogeneizada pelo tempo indicado pelo fabricante do teste. Após essa etapa, o
analista deverá observar a presença ou a ausência de grumos na suspensão (mistura
contendo látex sensibilizado e amostra). Suspensões que apresentarem grumos
(Figura 17) indicam que existe uma concentração igual ou superior ao cut-off (ponto
de corte) estabelecido no kit do reagente (DOLES, 2018).

FIGURA 15 – PARTÍCULA DE LÁTEX SENSIBILIZADA COM O ANTICORPO ANTI-PCR

Antígeno
Anticorpo (ligado a protéico Precipitados
partícula de látex)

FONTE: Labtest (2010, p. 3)

UNI

Sabemos que a execução correta de uma técnica depende, além da leitura do


protocolo da técnica, da visualização de execução dos procedimentos. Para isso, sugerimos
um vídeo que demonstra a técnica de aglutinação em látex para PCR: https://www.youtube.
com/watch?v=pFQwrVO15wQ.

FIGURA 16 – EXECUÇÃO DA TÉCNICA DE AGLUTINAÇÃO EM PLACA

FONTE: Doles (2018, p. 2)

40
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

FIGURA 17 – AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX APRESENTANDO FORMAÇÃO DE GRUMOS


NA POSIÇÃO 2

FONTE: Veiga (2009, p. 153)

É importante ressaltar que, para que o teste apresente resultados


adequados, a correta execução do procedimento é essencial. Para isso, deve-se
atentar para as instruções de uso do teste, bom como os possíveis interferentes,
como:

• Tempo de execução: nas instruções, consta o tempo que a reação deve ocorrer
e o intervalo que o analista deve avaliar a presença ou ausência de grumos.
Passado esse tempo, podem ocorrer aglutinações inespecíficas, resultando
falso-positivos.
• Condições da amostra: alguns kits utilizados para aglutinação em látex podem
ter seu desempenho prejudicado pela presença de hemólise (rompimento
das hemácias com liberação de hemoglobina no soro) e lipemia (presença de
lipídeos na amostra de soro), apresentando resultados falso-positivos pelo
estabelecimento de aglutinações inespecíficas.
• Altas concentrações do marcador investigado: as instruções de uso dos kits
indicam sempre os limites de concentração do marcador investigado que
podem gerar efeito prozona (LABTEST, 2018).

2 NEFELOMETRIA
A nefelometria é uma técnica quantitativa utilizada para mensurar a
concentração dos marcadores de doenças reumáticas. Para sua execução, é
utilizado um nefelômetro, equipamento que mede a dispersão de luz gerada em
soluções contendo imunocomplexos. O nefelômetro mensura a luz dispersa pelos
imunocomplexos, pois possui, em sua estrutura, um detector posicionado em um
ângulo de 70° em relação à fonte de luz. Segundo Voltarelli (2009, p. 76):

Uma característica importante das soluções coloidais é a sua


pronunciada dispersão da luz. Quando um feixe de luz incidente
atravessa um meio contendo partículas, estas interferem com
a passagem da luz, fazendo com que seja dispersa em todas as
direções. Esse fenômeno, conhecido como efeito Tyndall, não altera
o comprimento de onda da luz incidente e é independente do tipo
de partícula.

41
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

A fonte luminosa utilizada em ensaios nefelométricos é de alta intensidade


e incide sob uma cubeta (pequeno tubo que pode ser feito de plástico, vidro ou
quartzo, muito utilizado em ensaios laboratoriais) que contém a solução resultante
da amostra com o reagente. A forma e o tamanho das partículas, resultantes
dos imunocomplexos formados, serão fatores determinantes para quantidade e
natureza da dispersão de luz captada e quantificada pelo nefelômetro (Figura
17). A medida de um marcador utilizando a nefelometria é rápida, apresenta boa
precisão, principalmente quando os nefelômetros dispõem de dispositivos que
subtraem interferentes, como a lipemia e a hemólise (VOLTARELLI, 2009).

FIGURA 17 – ESQUEMA DO PRINCÍPIO FÍSICO DA NEFELOMETRIA E TURBIDIMETRIA

FONTE: Bender; von Mühlen (2009, p. 77)

3 TURBIDIMETRIA
O princípio do método turbidimétrico quantitativo para análise de
marcadores de doenças reumáticas funciona, assim como na nefelometria, a partir
da emissão de feixe de luz na amostra previamente preparada com reagente. Com a
incidência desse feixe de luz, as partículas sólidas existentes no líquido refletem os
raios luminosos. De acordo com Voltarelli (2014, p. 77):

Esse teste está sujeito às mesmas condições dos sistemas


nefelométricos. O sinal de detecção é a absorbância e não a intensidade
de luz dispersa. Não necessita de aparelhagem especial. As reações
podem ser medidas em espectrofotômetros simples utilizados em
bioquímica. Pode ser utilizada para medidas quantitativas de drogas
ou biomarcadores no soro, plasma ou urina.

Dessa forma, enquanto o nefelômetro mede a luz dispersa, a


turbidimetria mede a luz absorvida (não dispersada) pela turbidez gerada
pelos imunocomplexos formados na combinação entre amostra e reagente. Para
medir a absorbância presente na reação entre amostra e reagente, o equipamento
utilizado é o espectrofotômetro. Na turbidimetria, fatores pré-analíticos como
hemólise, lipemia e concentrações elevadas de bilirrubina podem interferir na

42
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

medida de marcadores de doença reumática. É importante lembrar que existem


diferentes kits reagentes no mercado para quantificação de marcadores de
doenças reumáticas por essa metodologia. Portanto, outros possíveis interferentes
relacionados a compostos que podem estar presentes na amostra de soro devem
ser verificados nas instruções de uso do kit utilizado.

NOTA

Na leitura complementar, a seguir, veremos as provas laboratoriais que estão


relacionadas ao diagnóstico dessas doenças, as principais metodologias utilizadas na rotina
clínica e as possíveis interpretações dos resultados.

43
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

O USO DE PROVAS DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA EM REUMATOLOGIA

Nilton Salles Rosa Neto


Jozélio Freire de Carvalho

INTRODUÇÃO

A resposta de fase aguda é um mecanismo fisiopatológico de defesa


associado a estados inflamatórios que, apesar do nome já consagrado, ocorre tanto
na inflamação aguda quanto na crônica. Caracteriza-se pelo aumento ou diminuição
da concentração sérica de determinadas proteínas em decorrência de algum
estímulo que ocasione injúria tecidual. Atualmente, opta-se por utilizar o termo
biomarcador inflamatório ao se referir às proteínas envolvidas nessa resposta.

Utiliza-se a análise dos biomarcadores de inflamação em doenças


reumatológicas para a monitoração de atividade de doença – correlacionando
com outros dados clínicos e laboratoriais – e para a diferenciação entre doença
ativa e presença de infecções. Este artigo revisa o uso de provas de atividade
inflamatória atualmente disponíveis no âmbito assistencial.

HISTÓRICO

Em 1930, pesquisadores descobriram uma proteína que reagia com o


polissacarídeo C da cápsula de S. pneumoniae obtida do sangue de pacientes durante a
fase aguda de pneumonia pneumocócica. A ela, deram o nome de proteína C-reativa
(PCR). A partir de então, estudaram-se as alterações das proteínas plasmáticas
em soro de pacientes agudamente enfermos devido a infecções. As proteínas
encontradas nessas situações foram denominadas proteínas de fase aguda, e a
reação inflamatória – ou resposta do organismo diante da lesão tecidual –, resposta
de fase aguda. Posteriormente, verificou-se a presença dessas proteínas após outros
eventos, como trauma, isquemia, neoplasia e reações de hipersensibilidade. Suas
concentrações também se encontravam alteradas em estados inflamatórios crônicos.

RESPOSTA DE FASE AGUDA

A resposta de fase aguda caracteriza-se pela alteração na concentração


sérica de certas proteínas após a injúria tecidual, algumas respondendo com
elevação (biomarcadores positivos) e outras com diminuição (biomarcadores
negativos) de suas concentrações. Essas proteínas terão funções pró e anti-
inflamatórias e podem estimular ou inibir a produção umas das outras. Apesar
da importância desse trabalho em conjunto, na prática clínica somente algumas
dessas proteínas são utilizadas como marcadores, quer pela disponibilidade do
método, quer pelo custo de sua determinação. Podem ser encontradas nas Tabelas
1 e 2 algumas das proteínas de fase aguda, divididas de acordo com sua função
biológica original.
44
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

TABELA 1 – BIOMARCADORES INFLAMATÓRIOS POSITIVOS

Sistema de Coagulação/Fibrinólise
Fibrinogênio
Plasminogênio
Ativador de plasminogênio tecidual
Uroquinase
Proteína S
Vitronectina
Inibidor do ativador de plasminogênio tecidual 1
Sistema Complemento
C3; C4; C9
Fator B
Inibidor C1 (C1 INH)
Proteína ligadora C4b
Lectina ligadora de manose (MBL)
Proteínas de Transporte
Ceruloplasmina
Haptoglobina
Hemopexina
Participantes da Resposta Inflamatória
Fosfolipase A2 secretória (sPLA2-IIA)
Proteína ligadora de lipopolissacarídeo (LPS)
Antagonista do receptor de interleucina-1 (IL-1 RA)
Fator estimulador de colônias – granulócitos (G-CSF)
Antiproteases
α1-Antiprotease
α1-Antiquimiotripsina
Inibidor da tripsina pancreática
Inibidor da interalfatripsina
Outros
Proteína C-reativa (PCR)
Proteína sérica amiloide A (SAA)
α1-glicoproteína ácida (AGP)
Fibronectina
Ferritina
Angiotensinogênio
Proteína Ligadora do Retinol

Adaptado para o português de Kushner e Gabay com permissão dos autores.


Copyright © 1999 - Massachusetts Medical Society. Todos os direitos reservados.

45
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

TABELA 2 – BIOMARCADORES INFLAMATÓRIOS NEGATIVOS

Albumina
Transferrina
α2-HS glicoproteína
Alfafetoproteína (AFP)
Globulina ligadora de tiroxina
Fator de crescimento insulina-símile-1 (IGF-1)
Fator XII

Adaptado para o português de Kushner e Gabay com permissão dos autores.


Copyright © 1999 - Massachusetts Medical Society. All rights reserved.

Mudanças comportamentais e alterações fisiológicas, bioquímicas e


nutricionais somam-se para completar a resposta de fase aguda.

Alterações neuroendócrinas

Uma das maiores características dessa fase é a presença de febre, uma


resposta existente para promover um meio ótimo de funcionamento de enzimas e
a estabilização de membranas celulares. Há indisposição e sonolência – medidas
que reduzem o consumo energético do organismo. Modulando a resposta
inflamatória, há aumento da secreção de hormônio liberador de corticotrofinas
(CRH), hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e cortisol, hormônio antidiurético
(ADH) e catecolaminas; e diminuição do fator de crescimento similar à insulina
do tipo 1 (IGF-1).

Alterações hematopoéticas

Em decorrência de inflamação, podemos encontrar leucocitose e


trombocitose e, nos casos mais prolongados, anemia de doença crônica.

Alterações metabólicas

Incluem-se perda muscular e balanço nitrogenado negativo, levando, em


casos crônicos, à restrição de crescimento em crianças e à caquexia em adultos. Há
diminuição da gliconeogênese e aceleração de osteoporose. Verificam-se aumento
da lipogênese hepática e lipólise de tecido adiposo, assim como diminuição da
atividade das lipoproteínas lipases muscular e adiposa, com o objetivo de, em
casos de infecção, haver aumento da concentração de lipoproteínas, promovendo
maior ligação à lipopolissacarídeo (LPS) e resultando em menor efeito tóxico para
o organismo.

46
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Alterações hepáticas

O fígado participa da produção e da liberação de muitas das proteínas


relacionadas à resposta inflamatória. Fisiologicamente, há aumento de
metalotioneína, óxido nítrico sintase, heme oxigenase, superóxido dismutase,
inibidor tecidual de metaloproteinase-1 e redução da atividade fosfoenolpiruvato
carboxiquinase.

Alterações em outros constituintes do plasma

Como controle das reações em andamento, há consumo de zinco, ferro e


cobre e retinol plasmático e aumento de antioxidantes como glutationa.

CLASSIFICAÇÃO

Os biomarcadores da inflamação dividem-se em quatro grupos:

• Proteínas de defesa do hospedeiro – participam do reconhecimento e eliminação


de patógenos: proteína C-reativa, lectina ligadora de manose, proteína ligadora de
lipopolissacarídeo, proteínas do complemento, fibrinogênio;
• Inibidores de proteinases séricas – atuam na limitação do dano tecidual,
neutralizando enzimas proteolíticas e metabólitos de oxigênio: α1-
antiproteinase, α1-antiquimiotripsina, α2-antiplasmina, inibidor do C1;
• Proteínas de transporte com atividade antioxidante – responsáveis pela
contenção da reação inflamatória e restauração da estrutura original lesada:
ceruloplasmina, hemopexina, haptoglobina;
• Outras – proteína sérica amiloide A (SAA), antagonista do receptor de IL-1,
α1-glicoproteína ácida, fosfolipase A2 secretória grupo IIA (sPLA2-IIA).

Há diferenças significativas em termos de cinética, magnitude e duração


de resposta entre os biomarcadores inflamatórios. A PCR e a SAA são detectadas
a partir de quatro horas do insulto e têm pico de 24 a 72 horas, podendo chegar
a mil vezes o valor normal. O fibrinogênio tem pico em sete a dez dias e eleva-se
duas a três vezes o normal (Figura 1).

47
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

FIGURA 1. PADRÃO DE RESPOSTA DE BIOMARCADORES INFLAMATÓRIOS FRENTE


À LESÃO TECIDUAL.

Apenas alguns desses marcadores encontram-se disponíveis para


utilização na rotina do reumatologista, e o texto trata, inicialmente, das origens
e funções biológicas das proteínas envolvidas e dos métodos de determinação
de sua atividade. Em seguida, detalhamos seus usos nas diversas doenças
reumáticas.

PROTEÍNA C-REATIVA

É o biomarcador mais estudado. Promove a interação entre imunidades


humoral e celular. É produzida no fígado e classificada como pentraxina – um
pentâmero com uma fenda ligadora de fosfatidilcolina (dependente de íons cálcio)
e outras em face oposta que se ligam ao componente do sistema complemento
C1q e à porção Fc de imunoglobulinas (Fcγ).

48
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

Sua função é ligar-se a patógenos e células lesadas e/ou apoptóticas


(fosfatidilcolina) e iniciar sua eliminação por meio da ativação do sistema
complemento e de fagócitos (C1q e Fcγ). Essas ligações e atrações celulares
permitem considerá-la uma opsonina. Também atua regulando a extensão e a
intensidade da reação inflamatória.

Apesar de sua função assemelhar-se à de anticorpos e participar da


imunidade inata, não há descrição de estados deficientes de proteína C-reativa
(PCR), o que, a princípio, deve ser incompatível com a vida.

A ativação do complemento ocorre pela via clássica, por deposição dos


fragmentos de C3 e C4 na PCR e no ligante, formação da C3 convertase clivando
o C3 em C3a, uma anafilatoxina que induz a liberação de histamina de basófilos
e mastócitos, e C3b, que atua como opsonina, atraindo fagócitos – macrófagos –
ao local da inflamação. A ativação não converte C5, ou seja, não há amplificação
dos efeitos pró-inflamatórios ou formação do complexo de ataque à membrana
(CAM) diretamente pela PCR. A PCR e a via clássica do complemento atuam em
sintonia, promovendo a limpeza de células apoptóticas sem ocasionar lise celular,
minimizando a liberação de mediadores que aumentariam a reação inflamatória.5
É sabido que, na artrite reumatoide (AR), o complemento é ativado pela PCR,
especialmente naqueles com maior atividade de doença, porém não está clara a
participação da ativação do complemento na manutenção da reação inflamatória
e destruição articular.

A interação entre PCR e porção Fc de imunoglobulinas dá-se, em fagócitos,


por meio de receptores FcγRI (CD64) e FcγRIIa (CD32), levando à indução de
fagocitose e à secreção de citocinas pró-inflamatórias como interleucina (IL)-1 e
fator de necrose tumoral (TNF)-α. Já em neutrófilos, a interação promove down-
regulation da inflamação com inibição da resposta quimiotática, clivagem de
L-selectina diminuindo a marginação de leucócitos e endocitose de receptores
IL-6. Verifica-se, portanto, que a PCR tem funções pró e anti-inflamatórias. A
determinação da PCR é mais sensível, avaliando uma resposta rápida por uma
medida direta. Reflete, também, a extensão do processo inflamatório ou da
atividade clínica, principalmente em infecções bacterianas (e não virais), reações
de hipersensibilidade, isquemia e necrose tecidual. Podem-se encontrar valores
discretamente elevados de PCR em obesidade, tabagismo, diabetes, uremia,
hipertensão arterial, inatividade física, uso de anticoncepcionais orais, distúrbios
do sono, álcool, fadiga crônica, depressão, envelhecimento, doença periodontal,
entre outras situações. É também um marcador de aterosclerose, sendo um
preditor de infarto do miocárdio, morte súbita ou acidente vascular encefálico e
deve ter papel na patogênese da aterogênese.

A metodologia amplamente utilizada é a imunonefelometria, que permite


a liberação de resultados quantitativos, facilitando a interpretação clínica e
permitindo o acompanhamento laboratorial de cada caso.

49
UNIDADE 1 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DOENÇAS REUMÁTICAS

A PCR também é importante como marcador de ativação endotelial e


indutor de lesão vascular relacionada à inflamação, em especial em placas de
ateroma. Pode ser utilizada como preditor de coronariopatias (angina e infarto
do miocárdio), por acelerar o processo de aterosclerose. A denominação de PCR
hipersensível, ou ultrassensível, diz respeito a métodos que possam detectar
valores mais baixos (menor do que o percentil 97,5) do que os limites dos
métodos usuais (menor do que percentil 90), ou seja, exames mais sensíveis, que
já identifiquem alterações inflamatórias em pacientes aparentemente saudáveis
ou com fatores de risco conhecidos e permitam estimar o risco cardiovascular. Em
pacientes com AR e lúpus eritematoso sistêmico (LES), a inflamação persistente,
demonstrada por dosagens sequenciais de PCR, implica morbidade e mortalidade
cardiovascular precoce.

FONTE: Adaptado de ROSA NETO, N. S.; CARVALHO, J. F. O uso de provas de atividade


inflamatória em reumatologia. Rev. Bras. Reumatol., v. 49, n. 4, p. 413-30, 2009. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rbr/v49n4/08.pdf. Acesso em: 18 dez. 2020.

50
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• A técnica de aglutinação em látex é baseada nas reações de precipitação, os


quais refletem a interação entre antígeno e anticorpos solúveis que produzem
complexos insolúveis visíveis.

• Técnicas que utilizam a aglutinação em látex permitem realizar análise


qualitativa e semiquantitativa de marcadores imunológicos, como a proteína
C-reativa, o fator reumatoide e a antiestreptolisina O.

• O nefelômetro mede a luz dispersa pelos imunocomplexos a partir de um


detector posicionado em um ângulo de 70° em relação à fonte de luz.

• A nefelometria é uma metodologia rápida e precisa, principalmente quando os


nefelômetros dispõem de dispositivos que subtraem interferentes.

• A turbidimetria é uma metodologia que ocorre a partir da emissão de feixe de


luz na amostra previamente preparada com reagente, que incide sob as partículas
sólidas existentes no líquido e reflete os raios luminosos e o turbidímetro mede
a luz absorvida.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

51
AUTOATIVIDADE

1 Existem alguns métodos quantitativos utilizados para mensurar marcadores


de doenças reumáticas. Explique a diferença entre a nefelometria e a
turbidimetria.

2 O fator reumatoide é um marcador utilizado para diagnóstico e prognóstico


de artrite reumatoide, entre outras doenças. Para execução das metodologias
de aglutinação em látex e nefelometria, temos a formação de uma solução
com micropartículas capazes de dispersar luz e, com isso, permitir a análise
desse analito. Sobre o tipo de solução utilizada nessas técnicas, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Solução coloidal.
b) ( ) Solução ácida.
c) ( ) Solução não inerte.
d) ( ) Solução precipitadora.

3 Alguns interferentes podem interferir nos resultados obtidos pela técnica


de aglutinação em látex. Cite-os e explique por que eles podem ocorrer.

52
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www.researchgate.net/publication/332389909_Utilizacao_de_tecnica_rapida_
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sericos_de_proteina_C_reativa_em_caes/fulltext/5cb153e74585156cd794333f/
Utilizacao-de-tecnica-rapida-de-aglutinacao-em-latex-para-determinacao-
semiquantitativa-dos-niveis-sericos-de-proteina-C-reativa-em-caes.pdf. Acesso
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VOLTARELLI, J. C. Imunologia Clínica na Prática Médica. 7. ed. Rio de Janeiro:


Atheneu, 2009.

56
UNIDADE 2 —

APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO
DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO
PRÉ-NATAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender as demandas imunológicas e a importância do acompanhamento


imunológico no período pré-natal;
• identificar a toxoplasmose, doença causada por um protozoário chamado
Toxoplasma gondii;
• entender as principais características do vírus da rubéola e do
citomegalovírus;
• conhecer as metodologias utilizadas para diagnóstico e prognóstico do
pré-natal.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DEMANDAS IMUNOLÓGICAS E A IMPORTÂNCIA DO


ACOMPANHAMENTO IMUNOLÓGICO NO PERÍODO
PRÉ-NATAL

TÓPICO 2 – TOXOPLASMOSE

TÓPICO 3 – CITOMEGALOVÍRUS E RUBÉOLA

TÓPICO 4 – METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E


PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

57
58
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

DEMANDAS IMUNOLÓGICAS E A IMPORTÂNCIA DO


ACOMPANHAMENTO IMUNOLÓGICO NO PERÍODO
PRÉ-NATAL

1 INTRODUÇÃO
Sob o aspecto imunológico, a gestação é semelhante à invasão do
organismo por um patógeno, pois, ao longo de 9 meses, o feto se nutre e cresce
consideravelmente até estar apto a viver fora do ambiente que propiciou o
seu desenvolvimento – afinal, se existe essa semelhança entre a gestação e um
processo infeccioso, por que o sistema imune da gestante não ataca o feto? Neste
tópico, veremos por que isso não ocorre.

A ideia de que uma mulher tem a capacidade de gerar uma nova vida
é vista como um milagre, que é resultado de diversas mudanças no corpo da
gestante. Adaptações fisiológicas, anatômicas e endócrinas permitem que o feto
se desenvolva em sua completude. Entretanto, algo também deveria acontecer
no sistema imunológico da mãe, uma vez que as características genéticas do feto
diferem das genéticas da mãe. Assim, ele deveria ser reconhecido pelo sistema
imune como um agente agressor.

Sabemos que, de alguma forma, o feto não é percebido dessa maneira pelo
sistema imune. Isso acontece porque nós, mamíferos placentários, possuímos
estruturas que protegem o desenvolvimento embrionário, do ponto de vista
imunológico, como a decídua. Decídua é um nome que deriva do termo em
latim deciduus, traduzido como “que se desprende”. Trata-se do endométrio
do tecido gravídico, que possui funções relacionadas à composição estrutural e
nutricional embrionária. No aspecto imunológico, Nancy et al. (2012) descobriram
que a decídua é capaz de silenciar a expressão de genes responsáveis pela
produção citocinas mediadoras de inflamação. Essas citocinas, por sua vez,
atuam recrutando linfócitos T. Com o silenciamento desses genes, os linfócitos
não recebem sinalização na decídua, o que impede que eles se acumulem nesta
estrutura placentária. Essa descoberta indica que um dos mecanismos associados
à imunotolerância materno-fetal permite que o feto se desenvolva sem ser atacado
pelo sistema imune materno. Mesmo sabendo que a gestante é imunotolerante, e
o feto não é visto como um “inimigo”, é importante tratarmos de outro assunto
importante: o acompanhamento pré-natal.

59
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Pré-natal é um termo que se refere ao acompanhamento recebido pelas


gestantes desde a confirmação da gravidez ao nascimento do bebê. O objetivo
do pré-natal é acompanhar a evolução das adaptações fisiológicas gestacionais
como o ganho de peso, a alimentação, a pressão arterial, o desenvolvimento
fetal e demais ocorrências que podem gerar algum prejuízo ao longo da gestação
(BRASIL, 2016).

De acordo com o atual risco gestacional, existem dois tipos de abordagem


pré-natal: o pré-natal de risco habitual (quando a gestante não possui doenças
que possam sofrer agravo ao longo da gestação), e o pré-natal de alto risco
(quando a gestante já possui fatores de risco ou doenças que podem prejudicar
na gestação, o que exige um acompanhamento mais próximo).

Ao acompanhar o período gestacional, o objetivo é monitorar sinais vitais


e parâmetros que, quando alterados, representam forte indício de risco para mãe
e para o bebê, como hipertensão, diabetes gestacional e infecções (BRASIL, 2010).

Como é possível imaginar, a contar pelos exemplos de infecções e diabetes


gestacional, o laboratório clínico é um elemento essencial para um pré-natal de
sucesso. Nesse contexto, além da avaliação realizada pelas equipes médicas,
diferentes exames são solicitados com o intuito de investigar as condições de
saúde da gestante, podendo-se destacar os ensaios imunológicos voltados à
detecção da gestação (como a dosagem de gonadotrofina coriônica humana) e a
investigação de doenças infecciosas, como a toxoplasmose, o citomegalovírus e a
rubéola. A seguir, conheceremos mais sobre esses marcadores imunológicos, sua
importância e metodologias utilizadas para execução desses imunoensaios.

NTE
INTERESSA

Importância do pré-natal

Segundo o Ministério da Saúde, a realização do pré-natal representa papel


fundamental na prevenção e/ou detecção precoce de patologias tanto maternas como
fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante.
Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os
profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos
é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação.

Para saber mais sobre o tema, sugerimos a leitura do texto Importância do pré-natal,
do Ministério da Saúde, que aborda a relevância da realização do pré-natal para a saúde da
gestante e do bebê, acesse: http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/2198-importancia-
do-pre-natal.

60
TÓPICO 1 — DEMANDAS IMUNOLÓGICAS E A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO IMUNOLÓGICO
NO PERÍODO PRÉ-NATAL

2 GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA


A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é um hormônio popularmente
conhecido para detectar uma gestação. Trata-se de um hormônio produzido, em
condições fisiológicas, durante a gestação. Inicialmente, sua produção ocorre via
sinciciotrofoblastos, e representa uma sinalização essencial para a manutenção
da gestação. Ao longo do primeiro mês e meio de gravidez, é o hCG que sinaliza
a manutenção do corpo lúteo. O corpo lúteo, por sua vez, produz progesterona,
um hormônio responsável por manter a gestação ao longo das primeiras
semanas de gravidez. A progesterona tem esse papel devido a sua capacidade de
espessamento do endométrio e inibição das contrações uterinas, características
que favorecem a implantação e a manutenção do óvulo fertilizado no útero
(Figura 1). Além da produção de progesterona no estágio inicial da gestação, o
hCG liga-se a receptores específicos que estimulam a angiogênese (criação de
vasos sanguíneos) no endotélio uterino (NWABUOBI et al., 2017).

Contudo, o corpo lúteo não permanece viável ao longo de toda gestação, o


que significa que, após algum tempo, será necessário que outra estrutura mantenha
a secreção de hormônios da gestação. De acordo com Silverthorn (2017, p. 829): “A
menos que o embrião em desenvolvimento envie um sinal hormonal, o corpo lúteo
degenera-se, os níveis de estrogênio e progesterona caem e o embrião é eliminado do
corpo junto com as camadas superficiais do endométrio durante a menstruação”.

Assim, a partir da 8ª semana de desenvolvimento fetal, é a placenta que


passa a secretar hormônios que impedirão a menstruação ao longo da gestação,
como estrogênio, progesterona, hormônio lactogênio placentário humano e
gonadotrofina coriônica humana. Durante esse período, as concentrações desses
hormônios na corrente sanguínea sofrem grandes variações, a fim de permitir
que ocorram as adaptações físicas e metabólicas necessárias para a boa evolução
da gestação (SANARMED, 2019).

FIGURA 1 – VARIAÇÃO DOS NÍVEIS HORMONAIS DURANTE A GRAVIDEZ

FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2018/12/famema-2019-o-grafico-ilustra-variacao-dos-
niveis-de-tres-hormonios-durante-uma-gravidez.html>. Acesso em: 20 jan. 2021.

61
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Atualmente, a detecção laboratorial de hCG qualitativa ou quantitativa


é o principal instrumento no diagnóstico de gestação. O hCG é uma molécula
composta por proteínas em 70% de sua estrutura e 30% de ramificações e
unidades de carboidratos. Essa molécula contém 2 subunidades, a alfa, composta
por aminoácidos organizados de maneira semelhante à região alfa de outras
glicoproteínas, como o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo-
estimulante (FSH). Por outro lado, a outra subunidade, que recebe o nome de
beta (BhCG) não apresenta essa similaridade com outras moléculas, o que confere
a característica de especificidade biológica. Assim, quando as metodologias
apresentam o nome BhCG, sabemos que essa subunidade será utilizada no
princípio do teste para reduzir potenciais interferentes na amostra (MEDEIROS;
NORMAN, 2006).

Para a detecção do BhCG, podemos realizar ensaios qualitativos e


quantitativos. Um exemplo de ensaio qualitativo são os testes de gravidez
comercializados em farmácias, nos quais a amostra utilizada é urina. No
laboratório clínico, também podemos utilizar ensaios quantitativos, geralmente
realizados com soro da paciente.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, ao longo desta disciplina, alguns termos serão recorrentes,


como a caracterização de técnicas como qualitativas ou quantitativas. A seguir,
aproveitamos para relembrar esses conceitos:

• Análise qualitativa: indica se há ou não quantidade relevante do analito que está


sendo investigado na amostra em questão. O critério que estabelece se existe uma
quantidade significativa do analito se chama cut-off, que corresponde ao ponto de
corte predeterminado. Nesse tipo de metodologia, não identificamos a concentração
do analito.
• Análise quantitativa: mensura a concentração do analito em questão na amostra utilizada.

Nesse momento, pode surgir a seguinte dúvida: se podemos utilizar urina


para detectar esse hormônio, por que coletar sangue?

Amostras de urina podem apresentar concentrações inferiores àquelas que


são consideradas o nível mínimo de detecção do teste, como no caso de pacientes
que consomem muitos líquidos, que podem apresentar urina diluída, podendo
gerar resultados falso-negativos. Por outro lado, a utilização de amostras de soro
para testes quantitativos não apresenta esse tipo de interferência, o que reduz
consideravelmente a possibilidade de resultados falso-negativos. A detecção de
BhCG utilizando amostras de soro pode ocorrer a partir do 8° ao 11° dia pós-
concepção. Em geral, testes qualitativos são considerados testes de triagem, que
permitem que a paciente identifique ou não uma possível gestação (BRITO, 2018).

62
TÓPICO 1 — DEMANDAS IMUNOLÓGICAS E A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO IMUNOLÓGICO
NO PERÍODO PRÉ-NATAL

As metodologias quantitativas para dosagem do BhCG podem ser


utilizadas para detecção, porém, o principal motivo de solicitação médica é
como instrumento de auxílio na estimativa do tempo de gestação, pois é possível
detectar a concentração do hormônio presente no sangue. A Figura 2 apresenta
um fluxograma que indica a relação entre as concentrações desse hormônio e
período gestacional estimado.

Podemos afirmar que, se esse hormônio estiver presente em


concentrações elevadas em amostras de soro ou urina de paciente, sua detecção
não necessariamente indica gestação, pois, até o momento, vimos apenas as
circunstâncias fisiológicas em que o hCG é produzido. Contudo, existem ainda
condições patológicas em que a dosagem de BhCG pode estar aumentada, tanto
em homens quanto mulheres.

FIGURA 2 – FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO GESTACIONAL

1° trimestre: até
150.000 mUI/ml

2° trimestre:
Sangue 3.500 a 20.000
mUI/mL

3° trimestre:
BETA-hCG 5.000 a 50.000
mUI/mL

Urina Positivo

Negativo

FONTE: <https://www.sanarmed.com/diagnostico-de-gravidez>. Acesso em: 16 mar. 2021.

NTE
INTERESSA

Antigamente, os laboratórios clínicos utilizavam sapos para realizar testes de


gravidez. Leia a reportagem, publicada no site Aventuras na História, que relata a evolução dos
testes de gravidez ao longo do tempo, acessando o seguinte link: https://aventurasnahistoria.
uol.com.br/noticias/almanaque/sapo-o-primeiro-teste-de-gravidez.phtml.

63
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

2.1 DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL


De acordo com Lima et al. (2017, p. 94):

Doença trofoblástica gestacional (DTG) compreende um grupo de


tumores derivados do tecido placentário, incluindo lesões benignas,
representadas pela mola hidatiforme completa (MHC) e parcial, e um
grupo de lesões com diferentes graus de invasão de disseminação,
denominadas neoplasia trofoblástica gestacional (NTG): mola
invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e
tumor trofoblástico epitelioide.

A mola hidatiforme, ou gravidez molar, é uma complicação gestacional que


resulta no desenvolvimento de células anormais, causando um agrupamento celular
desordenado, semelhante a cachos de uva (Figura 3).

FIGURA 3 – COMPARAÇÃO ENTRE ÚTERO NORMAL E ÚTERO COM GRAVIDEZ MOLAR

FONTE: <https://eigierdiagnosticos.com.br/blog/doencas/o-que-e-cromossomopatia-fetal/>
Acesso em: 17 fev. 2021.

Apesar do nome “gravidez”, esta não é uma condição capaz de gerar


um feto normal. Ela pode ser o resultado de um espermatozoide que fertiliza
um óvulo sem núcleo de DNA (mola hidatiforme completa) ou pode resultar
da fertilização de um óvulo normal por dois espermatozoides (mola hidatiforme
incompleta), sendo este último tipo com menor probabilidade de evolução para
doença trofoblástica gestacional maligna. Apesar de tratar-se de uma condição
que não evoluirá para formação de um feto viável, a mola hidatiforme apresenta
aumento expressivo nas concentrações de BhCG.

64
TÓPICO 1 — DEMANDAS IMUNOLÓGICAS E A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO IMUNOLÓGICO
NO PERÍODO PRÉ-NATAL

Assim, a presença de concentrações elevadas de BhCG, discrepantes do


período gestacional, em associação às manifestações clínicas características como
indicado por Andrade (2009, p. 95):

Do ponto de vista clínico, o volume uterino aumentado e complicações


como hiperemese, pré-eclâmpsia e cistos tecaluteínicos são mais
frequentes entre as portadoras de MHC. As pacientes com MHP
geralmente apresentam sintomas consistentes com abortamento
incompleto ou retido e por isto quase sempre o diagnóstico de MHP é
obtido após avaliação histológica de material de curetagem.

Esse conjunto de informações permite que o médico identifique a doença


e realize o manejo adequado (ANDRADE, 2009).

Além da mola hidatiforme, o BhCG pode apresentar concentrações


elevadas na presença de coriocarcinomas. O coriocarcinoma é uma doença
trofoblástica gestacional com características cancerígenas. Trata-se de uma
condição majoritariamente originada de uma gestação prévia ou presença de
gestação molar. Entretanto, em casos raros, o coriocarcinoma pode aparecer em
outras regiões fora do útero, acometendo inclusive homens, principalmente nos
testículos (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2016).

DICAS

Como visto, uma solicitação de exame de BhCG para homens está relacionada
com a investigação da presença de coriocarcinoma. A detecção de BhCG pode ser realizada
por metodologias diferentes, cada uma com vantagens e desvantagens relacionadas a
sua especificidade e sensibilidade, assim como interferentes presentes na amostra, que
podem prejudicar os resultados dos testes, reduzindo sua capacidade de indicar a condição
dos pacientes.

65
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O hCG é um hormônio produzido durante a gestação, em condições fisiológicas,


podendo também apresentar concentrações elevadas em condições patológicas,
como as doenças trofoblásticas gestacionais.

• O hCG auxilia, inicialmente, na manutenção do corpo lúteo, para que ele


permaneça viável e produza progesterona, hormônio que auxiliará no sucesso
das etapas iniciais da gestação. Além disso, o hCG está vinculado à angiogênese
no endométrio.

• A partir da 8ª semana de gestação, a placenta passa a ser quem secreta diversos


hormônios, entre eles o hCG e a progesterona.

• Durante a gestação as concentrações de hormônios na corrente sanguínea


variam. Essas oscilações promovem as adaptações físicas e metabólicas

• Para fins diagnósticos, a subunidade beta do hCG é a mais comumente utilizada,


uma vez que apresenta maior especificidade biológica, reduzindo, assim, as
chances de resultados alterados em decorrência de interferentes presentes na
amostra.

• A detecção de BhCG utilizando amostras de soro pode ocorrer a partir do 8° ao


11° dia pós-concepção.

• Testes qualitativos de BhCG são considerados testes de triagem, que permitem


que a paciente identifique ou não a gestação

• Metodologias quantitativas para BhCG são instrumento de auxílio na estimativa


do tempo de gestação.

66
AUTOATIVIDADE

1 O hormônio gonadotrofina coriônica humana (hCG) é encontrado em


amostras de sangue ou urina de mulheres grávidas. Assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Os testes rápidos, comercializados em farmácias, são utilizados como


testes confirmatórios de gestação, uma vez que a amostra utilizada é a
urina.
b) ( ) A análise quantitativa não é capaz de estimar o tempo de gestação da
paciente.
c) ( ) Dosagem de BhCG em amostras de soro permite uma detecção mais
precoce da gestação, quando comparada a dosagens realizadas em
amostras de urina.
d) ( ) Testes realizados em amostras de urina permitem detecção de gestação
em até duas semanas após a fecundação.

2 A gonadotrofina coriônica humana é um hormônio essencial para que o


embrião permaneça viável, uma vez que é responsável pela manutenção do
corpo lúteo, que, por sua vez, produz progesterona, hormônio que auxiliará
no sucesso das etapas iniciais da gestação. Apesar de sua semelhança a
outros hormônios, como o LH e o FSH, o hCG pode ser medido em amostras
de soro sem que esses hormônios interfiram na dosagem. Explique como é
possível realizar a detecção de hCG sem a interferência desses hormônios.

3 Cite uma vantagem e uma desvantagem da execução de testes de gravidez


em amostras de urina.

4 Considere as lacunas apresentadas no texto a seguir:

O hCG é um hormônio que tem importante papel como marcador sorológico


indicativo de ____________. Contudo, existem condições clínicas que também
geram aumento da concentração de hCG na circulação sanguínea, como
________________, por exemplo. Essa condição __________________________.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) Massa tumoral – mola hidatiforme – corresponde a uma doença
trofoblástica gestacional.
b) ( ) Mola hidatiforme – gestação – corresponde a uma doença trofoblástica
gestacional.
c) ( ) Gestação – mola hidatiforme – corresponde a uma doença trofoblástica
gestacional.
d) ( ) Doença trofoblástica gestacional – gestação – mola hidatiforme.

67
5 O teste que detecta, seletivamente, a presença do hCG é usada como
diagnóstico de gravidez. Reagentes imunológicos secos são dispostos em
uma membrana e reagem à medida que as amostras migram. Considerando
o resultado válido indicativo de ausência de gestação, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Linha teste ausente e linha controle presente.


b) ( ) Linha teste ausente e linha controle ausente.
c) ( ) Linha teste presente e linha controle presente.
d) ( ) Linha teste presente e linha controle ausente.

68
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

TOXOPLASMOSE

1 INTRODUÇÃO
A toxoplasmose integra um grupo de doenças infecciosas investigadas
durante o período pré-natal. Por ser uma doença que, na maioria dos infectados,
é assintomática, pode trazer grandes prejuízos ao desenvolvimento fetal. É
essencial identificar se a gestante foi infectada, e se ela está no estágio agudo ou
crônico da infecção.

Por isso, surgem questões como quem é o agente infeccioso por trás de
uma doença que pode acarretar prejuízos ao feto, como evitar a contaminação
por esse agente infeccioso, como os imunoensaios podem auxiliar o corpo clínico
na identificação dessa condição e qual o estado imunológico da paciente. A
seguir, descobriremos mais sobre as dinâmicas relacionadas à toxoplasmose e
sua importância no contexto gestacional.

2 TOXOPLASMOSE
A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado
Toxoplasma gondii, que infecta a maioria das espécies endotérmicas, incluindo
os seres humanos. Os únicos hospedeiros definitivos para Toxoplasma gondii
são os membros da família Felidae (que compreende principalmente os
gatos domésticos).

NOTA

• Animais endotérmicos: utilizam todo o calor que produzem internamente para manter
a temperatura corporal estável. É importante lembrar que o corpo depende de uma série
de reações químicas que dependem de uma temperatura ideal. Por termos a capacidade
de manter a nossa temperatura estável, nossas reações podem ocorrer e a homeostase
é mantida.
• Protozoário: microrganismos compostos por apenas uma célula, dotado de núcleo, e
que precisam de outros seres vivos para obter nutrição.
• Hospedeiros definitivos: são seres em que o toxoplasma é capaz de se amadurecer e
passar por reprodução sexuada.
• Hospedeiros intermediários: são seres em que o toxoplasma é capaz de se reproduzir
apenas de forma assexuada.
• Ciclo heteróxeno: é um ciclo que necessita de um ou mais hospedeiros intermediários.

69
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

2.1 CICLO BIOLÓGICO


O ciclo de vida do parasita é heteroxeno, caracterizado por diversas
etapas, sendo que o T. gondii estará presente de diferentes maneiras, chamados
de estágios evolutivos (Figura 4):

• Taquizoítos: também chamados de trofozoítos, essa forma evolutiva ocorre


na infecção aguda. Como o próprio nome indica (taqui- = “rápido” em grego),
é uma forma evolutiva que se reproduz rapidamente dentro de diversos
tipos celulares e nas células epiteliais (exceto aquelas pertencentes ao trato
gastrointestinal) do hospedeiro intermediário. Sua multiplicação acontece
por endodiogenia, que é um modo especializado de multiplicação assexuada,
no qual duas células-filhas são formadas dentro da célula-mãe. Ao fim da
reprodução, a membrana plasmática da célula hospedeira é rompida, o que
permite que os novos parasitas cheguem ao meio extracelular e, a partir daí,
passem a se disseminar pela corrente sanguínea e pelo sistema linfático para
outros tecidos (SOUZA et al., 2014).
• Oocistos: são as formas infectantes do T. gondii, resultado do ciclo sexuado do
parasita que ocorre no epitélio gastrointestinal dos felinos. São liberados no
meio externo pelas fezes.
• Bradizoítos: também conhecidos como merozoítos, são formas evolutivas de
reprodução lenta (bradi- = lento, em grego), que aparecem dentro de cistos
teciduais. Os bradizoítos utilizam o cisto como um artifício de proteção contra
a resposta imune. De acordo com Souza e Belfort Jr. (2014, p. 35), “embora os
cistos teciduais se desenvolvam em diversos órgãos como pulmões, fígado e
rins, eles são prevalentes nos tecidos muscular e nervoso, incluindo o cérebro,
olhos e músculos esquelético e cardíaco”.

Os cistos teciduais podem permanecer latentes por toda a vida do


hospedeiro sem causar uma resposta inflamatória ou imunológica,
evitando, assim, sua destruição. Durante o curso da infecção, os cistos
teciduais podem romper-se, e com a diferenciação de bradizoítas em
taquizoítas (conversão), reinvadem outras células hospedeiras e se
rediferenciam em bradizoítas (interconversão), formando um novo
cisto tecidual (SOUZA; BELFORT JR., 2014, p. 35).

FIGURA 4 – FORMAS EVOLUTIVAS DO TOXOPLASMA GONDII: OOCISTO (A; AUMENTO DE


1.000 X);TAQUIZOÍTOS LIVRES (B; AUMENTO DE 1.000X); E CISTO COM BRADIZOÍTOS
(C; AUMENTO DE 1.000X)

A B C
FONTE: Hornink et al. (2013, p. 86)

70
TÓPICO 2 — TOXOPLASMOSE

Para facilitar a compreensão de cada etapa do ciclo de vida do T. gondii,


o Quadro 1 descreve o significado dos números apresentados na Figura 5
(CDC, 2020).

FIGURA 5 – CICLO DE VIDA DO TOXOPLASMA GONDII

FONTE: <https://www.nanocell.org.br/toxoplasmose-a-culpa-e-dos-gatos/>. Acesso em: 21 jan. 2021.

71
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

QUADRO 1 – ETAPAS DO CICLO DE VIDA DO TOXOPLASMA GONDII

(1) Apesar da eliminação dos oocistos produzidos ocorrer somente após 1 a 3 semanas, um grande
número deles é eliminado nas fezes de gatos. No ambiente, os oocistos levam de 1 a 5 dias para
esporular e se tornar infectantes.
(2) Estágio em que os hospedeiros intermediários presentes na natureza se tornam infectados após
ingerir solo, água ou plantas contaminadas com esses oocistos.
(3) Após a ingestão, os oocistos originam taquizoítos nos enterócitos (intestino). Essa forma
evolutiva localiza-se, predominantemente, no tecido nervoso e muscular, e forma cistos tissulares
denominados bradizoítos.
(4) Os gatos se tornam infectados após consumir hospedeiros intermediários, como roedores que
contenham bradizoítos. Além disso, também podem ser infectados diretamente pela ingestão de
oocistos esporulados.
(5) Animais criados para consumo humano também podem ser infectados após ingestão de oocistos
esporulados no ambiente.
(6) Os humanos podem ser infectados pela ingestão de carnes malcozidas contendo bradizoítos.
(7) Os humanos podem ser infectados pelo consumo de alimentos e/ou água contaminados com
fezes de gatos ou oriundos de solo contaminado.
(8) Os humanos podem ser infectados via transplante de órgãos ou transfusão sanguínea (mais raro).
(9) Os humanos podem ser infectados via transplacentária, ou seja, a infecção presente na mãe
passa para o feto.

FONTE: CDC (2020)

Com base nas etapas descritas sobre o ciclo de vida do T. gondii, é possível
compreender como podemos prevenir a infecção por este parasita. Assim, os
cuidados profiláticos estão relacionados a evitar beber água não tratada, usar
luvas ao realizar jardinagem ou qualquer tipo de contato com o solo ou areia,
ensinar as crianças a importância da lavagem de mãos na prevenção de infecções,
manter caixas de areia externas cobertas (uma vez que gatos podem defecar
nelas), alimentar gatos apenas com rações ou alimentos bem cozidos, não fornecer
alimentos crus ou com pouco cozimento aos gatos, manter a liteira (caixa de areia
do gato) higienizada diariamente.

2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


A toxoplasmose na maior parte dos infectados pode permanecer
assintomática ao longo de maior parte da vida. Contudo, pacientes infectados
que apresentam manifestações clínicas podem ter características diferentes.

Pacientes saudáveis, que não estão em período gestacional, estão


propensos a não apresentar sintomas, uma vez que o sistema imune impede que
o parasita se multiplique e gere maiores prejuízos ao organismo. Caso existam
sintomas, eles se assemelham a sintomas gripais, com a presença de linfonodos
inchados e dores musculares. Esses sintomas podem durar de semanas a meses
e desaparecer, o que ainda não é indicativo de cura, mas, sim, de que o parasita
está em estado inativo. A reativação da doença pode ocorrer quando o paciente
apresentar quadro de imunodepressão.
72
TÓPICO 2 — TOXOPLASMOSE

E
IMPORTANT

É fundamental compreendermos a diferença entre pacientes imunodeprimidos


e imunossuprimidos. Para isso, apresentaremos um trecho de um texto da Revista de
Medicina Tropical, justamente sobre a diferença entre esses conceitos.

Os dois termos têm sido empregados indistintamente para caracterizar a


deficiência do sistema imunitário. Embora tenham o mesmo fundamento semântico, como
termos médicos não devem ser considerados sinônimos. Quando devemos empregar um
ou outro?

Define-se imunodepressão como um estado de deficiência do sistema


imunitário para, normalmente, responder aos agentes agressores. A imunodepressão
pode ser primária e secundária ou adquirida. É primária quando dependente de fatores
genéticos hereditários que afetam o processo de defesa imunológica, causando maior
susceptibilidade às infecções, geralmente por germes de baixa patogenicidade, bem como
às doenças autoimunes e às neoplasias. Na maioria das vezes, manifesta-se na infância.
A forma adquirida, como o próprio nome indica, se deve a um fator externo que afeta
o sistema imunológico e é exemplificada pela síndrome da imunodeficiência adquirida
causada pelo vírus HIV-1; apresenta igualmente grande susceptibilidade às infecções por
germes oportunistas e ao aparecimento de neoplasias. Imunossupressão é o ato de reduzir
deliberadamente a atividade ou eficiência do sistema imunológico.

A imunossupressão é feita, usualmente, para coibir a rejeição em transplantes


de órgãos ou para o tratamento de doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatoide,
esclerose sistêmica, doença inflamatória intestinal, entre outras. Para fazê-la, recorre-se,
normalmente, a medicamentos, mas também podem ser utilizados outros métodos,
como plasmaferese ou radiação. Com o sistema imunológico praticamente desativado, o
indivíduo imunossuprimido fica vulnerável a infecções oportunistas.

FONTE: REZENDE, J. M. Imunodepressão, Imunossupressão. Revista de Patologia Tropical,


v. 40, n. 2, p. 199-201, 2011.

No que se refere às gestantes, saber o período em que a infecção ocorreu


é importante para entender os possíveis prejuízos ao feto. De modo geral, em
mulheres infectadas antes do período gestacional, a toxoplasmose oferece
menores riscos ao feto, uma vez que a gestante já desenvolveu imunidade. Por
outro lado, no caso de mulheres infectadas pouco tempo antes, ou mesmo ao
longo da gestação, existe grande risco de infecção congênita, ou seja, da doença
ser transmitida da mãe para o feto.

A severidade de danos ao feto é maior quão mais próximo ao início


da gestação a infecção congênita tiver ocorrido. São consequências ao feto na
toxoplasmose congênita no período gestacional (WALCHER; COMPARSI;
PEDROSO, 2014):

• aborto;
• nascimento prematuro;
• redução ou aumento da cabeça do feto.
73
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Além desses eventos, quando o recém-nascido não apresenta sintomas


ao nascer, ainda assim ele pode desenvolver, posteriormente, condições clínicas
como perda de visão, deficiência mental e convulsões.

2.3 LABORATÓRIO CLÍNICO NA TOXOPLASMOSE


A investigação laboratorial da toxoplasmose é fundamentada na pesquisa
sorológica de anticorpos produzidos contra o T. gondii, em que cada tipo de
anticorpo pode fornecer diferentes informações à equipe médica. As principais
imunoglobulinas (anticorpos) pesquisadas são das classes IgM e IgG, específicas
para T. gondii. Sua aplicação na clínica permite identificar, de modo genérico, se
a infecção está em fase aguda ou crônica. Além dessas imunoglobulinas, também
podem ser utilizadas como instrumento diagnóstico as das classes IgA e IgE para
compreender com maior clareza o período de infecção.

No período gestacional, a investigação de anticorpos IgM e IgG


para toxoplasmose é tão importante que já faz parte dos exames de triagem
solicitados por serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, que realizam
acompanhamento pré-natal.

A determinação desses anticorpos no soro da paciente auxilia na


compreensão de qual é sobre o estágio da toxoplasmose pelo qual a gestante está
passando, porque os anticorpos auxiliam a traçar uma espécie de “linha do tempo”
da infecção (Figura 6). Isso porque o aumento e a redução das concentrações de
cada anticorpo variam de acordo com a evolução da doença (Quadro 2).

QUADRO 2 – RELAÇÃO ENTRE AS DIFERENTES CLASSES DE ANTICORPOS


ANTI-TOXOPLASMA GONDII E O PERÍODO DE INFECÇÃO

Anticorpo
Período de detecção
anti-Toxoplasma gondii
Detectável no soro da paciente em até duas semanas após a infecção,
IgM podendo atingir seu pico de concentração em até um mês após a
infecção

Detectável em mais da metade dos pacientes após 15 dias de infecção,


IgA
permanecendo presente na corrente sanguínea de 3 a 6 meses.

IgE Detectável, majoritariamente, nos 4 primeiros meses após a infecção


Detectável entre a primeira e segunda semana pós-infecção,
apresentando pico de concentração aproximadamente 2 meses após a
infecção. Nesse período inicial, os anticorpos IgG produzidos possuem
IgG baixa avidez, ou seja, baixa força da ligação entre o anticorpo IgG
anti-Toxoplasma gondii e o parasita. A partir do 4° mês de infecção,
os anticorpos IgG passam a apresentar aumento gradativo de sua
força de interação (avidez) ao T. gondii.

FONTE: O autor

74
TÓPICO 2 — TOXOPLASMOSE

E
IMPORTANT

Para compreender com maior clareza o momento imunológico de uma


paciente que apresenta anticorpos anti-Toxoplasma gondii, é importante não avaliar os
anticorpos isoladamente, pois é a variação desse conjunto de anticorpos que confere ao
médico clareza no entendimento do estágio evolutivo da toxoplasmose. A triagem básica
solicitada pelos serviços de saúde compreende a solicitação de anticorpos IgM e IgG
anti-Toxoplasma gondii. É a partir dos resultados obtidos nesses exames que o médico
começa a entender a situação da paciente e, caso ainda exista alguma dúvida, ele pode
solicitar a dosagem de outros anticorpos como IgA e IgE ou teste de avidez para IgG. A
seguir, apresentamos um trecho de uma matéria do laboratório Pró Exame sobre o teste de
avidez para IgG, uma prova imunológica muito importante para a compreensão do estágio
imunológico da paciente:

Avaliando a avidez de anticorpos IgG

A avaliação da avidez da IgG assume grande relevância em situações de dilema


diagnóstico, especialmente em gestantes, para avaliar o tempo de infecção em doenças
como toxoplasmose, rubéola e citomegalovirose.

O conceito de “avidez” refere-se à força da ligação depois da formação dos


complexos antígeno-anticorpo reversíveis. Resulta de interações múltiplas entre uma
molécula de anticorpo e os epítopos de um antígeno complexo. Quanto mais sítios de
ligação tiver um anticorpo, maior a avidez.

A propriedade de avidez do anticorpo se acentua no decorrer da resposta


imunológica, notadamente para imunoglobulinas da classe IgG, cuja produção segue à
das imunoglobulinas da classe IgM. Desse modo, a avidez é diretamente proporcional
ao tempo de infecção. Esse conhecimento tem sido amplamente utilizado em testes
imunoenzimáticos que avaliam a avidez da IgG em resposta a agentes infecciosos e a
relação com o tempo de infecção.

A utilidade do teste de avidez: a avaliação da avidez da IgG assume grande


relevância em situações de dilema diagnóstico, especialmente em gestantes com presença
de anticorpos IgM, para investigação de toxoplasmose, rubéola e citomegalovirose. Na
primo-infecção, o tratamento precoce é essencial para reduzir o risco de transmissão ao
feto ou reduzir as sequelas. Nessa fase, a resposta antigênica primária é baixa e a avidez dos
anticorpos aumenta com o amadurecimento do sistema imunológico.

FONTE: <http://www.proexame.com.br/painel/informativos/images/MzY=/lab.com%20agosto
%20%202015-%20Avidez%20de%20anticorpos%20IgG.pdf.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2021.

2.3.1 Infecção recente


Quando a paciente apresenta parasitemia (presença de parasitas na
corrente sanguínea) ao longo das primeiras semanas de infecção. Nesse período,
a gestante pode apresentar no sangue anticorpos anti-Toxoplasma gondii do tipo
IgM em maiores concentrações, IgA, IgE e IgG de baixa avidez.

75
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 6 – DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO DA TOXOPLASMOSE

Início dos
Sintomas

IgG Avidez
IgM IgG

Estímulo
'Antigênico

Infecção Infecção
Dias Semanas Meses secundária ou
Primária
reativação

FONTE: <http://www.proexame.com.br/painel/informativos/images/MzY=/lab.com%20
agosto%20%202015-%20Avidez%20de%20anticorpos%20IgG.pdf.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2021.

2.3.2 Transição imunológica


Conforme a infecção evolui, o sistema imune passa a criar defesas para
combater o T. gondii. Assim, é possível encontrar no sangue do paciente anticorpos
específicos IgM em concentrações reduzidas, em relação ao estágio anterior, e
concentrações elevadas de IgG que, nesse momento, apresentam avidez crescente.

2.3.3 Infecção latente ou crônica


Trata-se de um período de evolução relativamente lento, em que o
principal marcador sorológico é a presença de anticorpos IgG de alta avidez em
concentrações baixas, permanecendo dessa forma ao longo da vida da paciente.
Esses anticorpos de alta avidez são moléculas que apresentam uma resposta de
defesa mais efetiva. Essa eficácia se deve à capacidade que o IgG de alta avidez
possui de interagir e ligar-se à diversos epítopos antigênicos, resultando em maior
força na ligação estabelecida entre antígeno e anticorpo (MITSUKA-BREGANÓ;
LOPES-MORI; NAVARRO, 2010).

É importante lembrar que, toda vez que um imunoensaio detecta


anticorpos relacionados a um antígeno específico no sangue, estamos utilizando
uma metodologia indireta. Isso significa que precisamos que nosso sistema imune
apresente uma resposta diante do antígeno para que possamos compreender

76
TÓPICO 2 — TOXOPLASMOSE

se existiu ou não determinada infecção. Assim, dependemos do tempo que


cada indivíduo, de acordo com seu estado imunológico, consegue reagir aos
antígenos com os quais entra em contato. Esse tipo de metodologia não dá uma
resposta definitiva, mas, sim, um panorama das dinâmicas imunológicas que
estão acontecendo naquele momento em que a amostra do paciente é coletada
(SOUZA; BELFORT JR., 2014).

É importante conhecer as principais metodologias utilizadas para detectar


os anticorpos da toxoplasmose, uma vez que cada uma delas contém vantagens
e desvantagens relacionadas a sua especificidade e sensibilidade, bem como
possíveis moléculas presentes na amostra, que podem interferir nos resultados
dos testes, reduzindo sua capacidade de indicar as reais interações imunológicas
do paciente. Nesse momento, os princípios das técnicas não serão abordados – o
Tópico 4 abordará os aspectos metodológicos das técnicas aqui indicadas. Por
ora, citaremos as metodologias utilizadas e possíveis particularidades de cada
uma apresenta na detecção de anticorpos anti-Toxoplasma gondii.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, aproveite esse momento para revisar conceitos de


sensibilidade e especificidade.

• Sensibilidade: menor concentração da ligação antígeno-anticorpo que o imunoensaio


é capaz de detectar. Quanto maior a sensibilidade do teste, menores as concentrações
que ele é capaz de quantificar. Assim, um teste com alta sensibilidade é um teste que
irá quantificar melhor a proporção de indivíduos doentes. Portanto, um teste com alta
sensibilidade é aquele com menor chance de apresentar resultados falso-negativos.
• Especificidade: indica a capacidade de um teste de identificar os indivíduos que não
possuem a doença ou condição clínica investigada. Dessa forma, quanto maior for a
especificidade de um teste, menor o número de pacientes com resultado falso-positivo.

Uma das metodologias mais utilizadas na rotina laboratorial é o


ELISA (sigla do inglês enzyme linked immunosorbent assay), que é um ensaio
imunoenzimático. Essa técnica é comumente utilizada para detecção de anticorpos
IgM e IgG anti-Toxoplasma gondii, embora seja importante ressaltar que existe a
possibilidade de resultados falso-positivos para IgM, porque pacientes com fator
reumatoide no soro podem interagir com os reagentes utilizados.

77
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

UNI

Para facilitar a visualização e a compreensão da técnica de ELISA, assista a


seguinte animação, desenvolvida pelo canal Open Michigan: https://youtu.be/RRbuz3VQ100.

Além do ELISA, também é possível utilizar a técnica chamada MEIA (sigla


para Microparticle Enzyme Immunoassay), para realizar a determinação quantitativa
IgG e IgM anti-Toxoplasma. Nessa técnica, as amostras de soro ou plasma são
tratadas com tampão que neutraliza fator reumatoide (FR), removendo, assim,
a possível interferência gerada por esse complexo antígeno-anticorpo, evitando
resultados falso-positivos para IgM (COSTA, 2007).

E
IMPORTANT

Fator reumatoide (FR) é um autoanticorpo que interage com a região Fc de


IgGs, ou seja, ele se liga em na sua porção “Fc”, que é uma porção que não se altera nos
anticorpos.

78
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A toxoplasmose é causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, que


utiliza seres humano e outros animais como hospedeiro intermediário, tendo
felídeos como hospedeiros definitivos.

• O Toxoplasma gondii tem ciclo de vida heteroxeno, caracterizado por diversas


etapas, e que apresenta diferentes formas, chamadas de estágios evolutivos,
em que o parasita se apresenta como oocisto, bradizoíto e taquizoíto.

• A maior parte dos pacientes apresenta infecção assintomática. Contudo, pacientes


com a imunidade fragilizada podem apresentar manifestações clínicas.

• Quanto mais próximo do primeiro trimestre de gestação a infecção ocorrer,


maior a probabilidade de severidade de danos ao feto. Aborto, nascimento
prematuro e redução ou aumento da cabeça do feto são exemplos das
consequências da toxoplasmose congênita no período gestacional.

A investigação laboratorial da toxoplasmose é fundamentada na pesquisa de


anticorpos contra o Toxoplasma gondii, produzidos pelo sistema imunológico,
quando em contato com o parasita. Nessa pesquisa, cada tipo de anticorpo
pode fornecer diferentes informações sobre a evolução da doença.

• Os principais anticorpos pesquisados são IgM e IgG, porém, também podem


ser pesquisados IgA e IgE todos os específicos contra o T. gondii.

• A combinação da interpretação dos anticorpos pesquisados pode indicar ao


médico se a gestante está passando por uma infecção recente, uma transição
imunológica ou uma infecção latente.

• ELISA e MEIA são alguns dos principais imunoensaios utilizados no diagnóstico


e no controle da toxoplasmose.

79
AUTOATIVIDADE

1 A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado


de Toxoplasma gondii, que infecta a maioria das espécies endotérmicas,
incluindo os seres humanos. Assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) É causada pela bactéria chamada de Toxoplasma gondii.


b) ( ) Gera mais prejuízos em pacientes imunodeprimidos.
c) ( ) Em imunocompetentes, é predominantemente assintomática.
d) ( ) Quando adquirida no primeiro trimestre de gestação, pode gerar sérios
prejuízos no desenvolvimento do feto.

2 Sobre o Toxoplasma gondii e seu ciclo de vida, classifique V para as sentenças


verdadeiras e F para as falsas:

( ) O Toxoplasma gondii é um parasito capaz de infectar praticamente qualquer


animal de sangue quente.
( ) Os hospedeiros definitivos do Toxoplasma gondii são os cães e os roedores,
ocorrendo a sua reprodução sexuada no intestino desses animais.
( ) Os taquizoítos são a forma infectante na fase ativa da doença.
( ) Após cerca de 10 dias da primeira infecção, o hospedeiro intermediário
elimina nas fezes milhões de oocistos contendo esquisoporozoítos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) F – V – V – F.

3 Cite os estágios evolutivos do toxoplasma e explique suas características.

4 A toxoplasmose causada pelo Toxoplasma gondii adquire especial


relevância quando infecta gestantes, devido ao elevado risco de prejuízos
potenciais ao feto. Assim, o Ministério da Saúde indica que todas as
gestantes passem por investigação de anticorpos da classe IgG e IgM desde
o início do acompanhamento pré-natal. Sobre a detecção de anticorpos IgM
e IgG, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A detecção de imunidade vacinal contra toxoplasma é identificada pela


presença de anticorpos de IgG de alta avidez.
b) ( ) A detecção de anticorpos de IgG de baixa avidez no início da gestação é
indicativo de bom prognóstico.
c) ( ) A detecção de IgG reagente e IgM reagente é confirmatório de infecção
prévia à gestação, o que indica proteção fetal.
d) ( ) Resultados sorológicos que não especificam se a infecção é aguda têm
indicação de realização de teste de avidez de IgG.

5 Explique qual a importância dos testes de avidez IgG para toxoplasmose.


80
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

CITOMEGALOVÍRUS E RUBÉOLA

1 INTRODUÇÃO
Além da toxoplasmose, vimos que a investigação de anticorpos para
citomegalovírus e rubéola também integra o grupo de exames solicitados no
período pré-natal. Esses vírus têm especial importância pelo potencial prejuízo
que podem causar ao feto, uma vez que as mães infectadas que podem não
apresentar quaisquer sintomas, como é o caso do citomegalovírus. Nesse sentido,
todos os esforços diagnósticos são voltados principalmente para proteger o feto e
permitir que ele se desenvolva sem qualquer efeito deletério.

Neste tópico, apresentaremos as características do vírus da rubéola e do


citomegalovírus, a fim de conhecer suas características, suas possíveis interferências
no desenvolvimento fetal e como é realizado o diagnóstico laboratorial.

2 CITOMEGALOVÍRUS
O citomegalovírus (CMV) é um vírus que pertence à família herpesviridae,
sendo considerado um herpesvírus humano. De acordo com Stephens et al.
(2015, p. 54), “O nome da família vem de um verbo grego herpein, que significa
‘rastejamento’”, logo, refere-se ao fato de os membros da família causarem
infecções latentes recorrentes com progressão lenta. Por isso, também pode ser
encontrado na literatura como herpesvírus humano tipo 5 (HHV-5). Os agentes
virais pertencentes a esse grupo possuem algumas características que merecem
destaque, como:

• Latência: quando o vírus continua no organismo, sem que o hospedeiro


apresente sintomas clínicos relacionados a ele.
• Recorrência: quando o vírus pode gerar manifestações clínicas novamente.
• Cronicidade: quando a infecção viral é passível de tratamento, porém sem que
o paciente se cure.

Quando o CMV infecta pacientes imunocompetentes, ou seja, pacientes que


estão com o sistema imune funcionando normalmente, na maioria dos casos, não
ocorre o aparecimento de sintomas. Existem diferentes vias de infecção, mas nenhuma
delas envolve hospedeiro intermediário, pois o único hospedeiro é o ser humano. A
transmissão do CMV pode ocorrer de forma (FERREIRA; MORAES, 2013):

81
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

• Adquirida: infecção por transmissão horizontal, fora do período neonatal.


Os principais fluídos transmissores de CMV são a saliva e a urina. Assim, em
locais com condições precárias de higiene, a infecção por CMV é mais comum
e ocorre de modo mais precoce. Além disso, é possível que a transmissão do
CMV ocorra por via sexual.
• Perinatal: infecção durante o parto ou pela amamentação. Tanto as secreções com
as quais o recém-nascido tem contato quanto o leite podem estar contaminados
com CMV. Trata-se de um tipo de infecção que oferece menos riscos ao recém-
nascido, uma vez que a maioria dos infectados não apresenta sintomas.
• Congênita: das transmissões congênitas, o CMV é a infecção mais comum.
Além da maior ocorrência em grupos em condições socioeconômicas de
vulnerabilidade, outro fator que favorece essa capacidade de contaminação é
que, mesmo que a mãe tenha sido infectada antes de engravidar, ainda assim
o CMV consegue infectar o feto. Isso se dá pela capacidade de reativação do
CMV que está latente na mãe. Apesar disso, o maior risco de recém-nascidos
com manifestações clínicas relacionadas aos CMV congênito são casos em que
a mãe foi infectada durante o período gestacional.

No caso da infecção congênita, o recém-nascido pode apresentar como


manifestações clínicas surdez neurossensorial, microcefalia, hepatoesplenomegalia
e calcificações que resultam em retardo no desenvolvimento.

E
IMPORTANT


Acadêmico, ao longo dos conteúdos apresentados, podemos perceber que
novos conceitos surgem. É importante que você saiba diferenciá-los com clareza. Por isso,
precisamos relembrar das diferenças entre os conceitos de reinfecção e reativação:

• Reinfecção: quando um paciente contrai a doença, se cura totalmente, entra em contato


novamente com o patógeno e fica doente novamente.
• Reativação: quando o paciente trata a doença, mas o patógeno não desaparece do
organismo (permanece incubado) e, frente a um quadro de imunossupressão ou
imunodepressão, o patógeno gera novas manifestações clínicas.

Além disso, é primordial conhecermos como esse vírus se comporta no


organismo de seu hospedeiro: após a infecção primária, o CMV pode ficar em
um intervalo que varia de 1 a 3 meses sem que o indivíduo apresente sinais e
sintomas. Esse intervalo recebe o nome de período de incubação (MATTOS;
MEYER; LIMA, 2011).

Em pacientes com o sistema imune saudável, o CMV é destruído por células


T citotóxicas direcionadas para atacar esse vírus, além da produção de anticorpos
IgM antiCMV e IgG antiCMV, importantes biomarcadores sorológicos, conforme

82
TÓPICO 3 — CITOMEGALOVÍRUS E RUBÉOLA

veremos a seguir. Dessa forma, a infecção é contida e o paciente pode apresentar


sintomas leves ou até mesmo nenhum sintoma. Algumas das possíveis manifestações
clínicas são (MATTOS; MEYER; LIMA, 2011):

• febre prolongada;
• sudorese;
• hepatomegalia;
• dor muscular;
• fraqueza.

Em pacientes com sistema imunológico debilitado, a primo-infecção


ou reativação do CMV está atrelada a manifestações clínicas mais graves,
como a coriorretinite, pericardite e miocardite. A contar pela gravidade das
manifestações clínicas, tanto em recém-nascidos quanto em pacientes com
imunidade prejudicada, é possível compreender que o exame laboratorial é uma
ferramenta muito relevante, tanto para obter diagnóstico inicial de CMV quanto
para acompanhamento da evolução e tratamento de eventuais reativações do
CMV (MATTOS; MEYER; LIMA, 2011).

2.1 LABORATÓRIO CLÍNICO APLICADO AO


CITOMEGALOVÍRUS
Os imunoensaios aplicados à investigação do CMV são baseados na
pesquisa sorológica de anticorpos específicos para CMV. Assim como na
toxoplasmose, os anticorpos utilizados, quando avaliados em conjunto, fornecem
elementos a respeito da infecção. Dada à característica de reativação do CMV,
os marcadores sorológicos permitem também compreender se o paciente está
passando por um episódio de reativação viral, como resultado de uma fase de
maior vulnerabilidade imunológica. Nesse contexto, a detecção de anticorpos
IgM e IgG antiCMV corresponde a um dos principais instrumentos diagnósticos
para compreender o estágio desta infecção.

Em pacientes com idade igual ou superior a um ano (quando os anticorpos


maternos não estão mais presentes na circulação), a detecção de anticorpos IgG
antiCMV indica que houve infecção em algum momento da vida, porém não
determina quando ocorreu esta infecção.

Os anticorpos IgM antiCMV podem ser detectados no soro da gestante


a partir da segunda semana de infecção, podendo permanecer detectável no
sangue por até 18 meses. O IgM antiCMV também pode ser detectado em casos
de reativação do vírus, o que também enfraquece a ideia de que paciente positivo
para esse anticorpo está necessariamente passando pela fase aguda de uma
primeira infecção. Nesse caso, pode-se pensar na detecção de IgM antiCMV como
um alerta para que outros exames sorológicos sejam solicitados para esclarecer o
estágio da infecção.

83
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Se a detecção de IgM não é confirmatória para infecção recente nem a IgG


pode confirmar isso, para evidenciar com clareza se a presença de IgM antiCMV
corresponde a uma infecção primária, é indicado que sua interpretação seja
combinada com a avaliação da avidez de IgG antiCMV. Assim, quando uma
paciente possui anticorpos IgM contra o CMV e anticorpos IgG com baixa avidez,
temos resultados confiáveis que evidenciam infecção primária.

A sorologia para IgG e IgM é comumente realizada pelo ensaio


imunoenzimático ELISA. No caso desses ensaios, a presença de fator reumatoide
e outros herpesvírus pode gerar reações cruzadas e, com isso, resultados falso-
positivos. Além disso, o aumento da sensibilidade das metodologias, com o
avanço tecnológico, permite que IgM antiCMV sejam detectados por meses após
a fase inicial em que sua produção foi estimulada, o que pode ser um eventual
fator de confusão no momento da interpretação desses resultados.

3 RUBÉOLA
A rubéola é uma doença causada por um vírus que pertence à família
togaviridae, chamado de rubivírus. Os seres humanos são os únicos hospedeiros
desse vírus, que se dissemina por via respiratória, a partir de secreções
nasofaríngeas contaminadas.

De acordo com Costa et al. (2013, p. 48):

Seu período de incubação pode variar entre 14 e 21 dias (média de 17


dias). A maior transmissibilidade é observada no período entre sete
dias antes do surgimento do exantema característico da doença, até
o sétimo dia após o seu desaparecimento. O vírus invade o epitélio
respiratório e se dissemina por viremia primária. Após replicação no
sistema reticuloendotelial, há uma viremia secundária, podendo então
ser isolado a partir de monócitos do sangue periférico.

Em indivíduos com a imunidade preservada, trata-se de uma infecção


benigna e autolimitada, ou seja, evolui apresentando começo, meio e fim, e
pode terminar sem tratamento. Quando sintomática, a rubéola pode apresentar
(COSTA et al., 2013):

• febre baixa;
• nódulos e gânglios linfáticos inchados na nuca, pescoço e atrás das orelhas;
• mal-estar;
• cefaleia;
• coriza;
• dores músculo-articulares.

84
TÓPICO 3 — CITOMEGALOVÍRUS E RUBÉOLA

Nesse momento, pode surgir a dúvida: se é uma doença benigna e


autolimitada, qual sua relevância na gestação?

A rubéola é uma doença infectocontagiosa muito importante associada ao


período gestacional. Em gestantes, pode ocorrer a síndrome da rubéola congênita.
Trata-se de uma condição desafiadora para a equipe médica, uma vez que não
possui tratamento específico. Por não possuir tratamento, o acometimento de
gestantes pelo vírus da rubéola pode apresentar sequelas relevantes, conforme
descrito por Costa et al. (2013, p. 47):

Esse, um vírus do gênero Rubivírus, determina em geral infiltrado


inflamatório mononuclear e necrose nas porções maternas e fetais
da placenta, bem como esclerose do endotélio vascular placentário
e do concepto em formação. Há especial tropismo pelos tecidos
ricamente vascularizados além dos derivados da porção ectodérmica
do disco embrionário, como o Sistema Nervoso Central. Assim,
quando precoce, a infecção (durante o primeiro trimestre de gestação)
resulta em anomalias de diversos órgãos, sendo clássica, porém não
patognomônica, a tríade de má formação cardíaca, catarata e surdez.

E
IMPORTANT

A prevenção é um tópico sempre relevante. Para abordar esse assunto,


apresentamos a matéria do laboratório Hermes Pardini Rubéola: saiba como se prevenir.

A vacinação é a melhor forma de se prevenir

Existem duas formas de se tornar imune à doença: por infecção natural ou por
meio da vacinação, que dura por quase toda a vida. Além disso, a vacina contra a rubéola
é o meio mais seguro e eficaz de prevenir a doença, sendo eficiente em quase 100% dos
casos. Por fim, as pessoas que não tomaram a vacina ou o seu reforço na infância podem
se imunizar durante qualquer fase da vida, com exceção do período da gravidez ocorre
porque a vacina contra rubéola pode levar ao aborto ou malformações no bebê, como
sinalizamos anteriormente.

LEMBRETE: Filhos de mães imunes geralmente permanecem protegidos por


anticorpos maternos em torno de seis a nove meses após o nascimento.

Existem dois tipos de vacinas:

• Vacina tríplice viral: protege contra três doenças causadas por vírus (sarampo, caxumba
e rubéola).
• Vacina tetra viral: protege contra quatro doenças causadas por vírus (sarampo, caxumba,
rubéola e catapora).

Acima de tudo, a vacina tríplice-viral faz parte do calendário básico de vacinação


da criança e é administrada em forma de injeção, a partir de vírus atenuados contra
a rubéola.

85
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Então, quem deve se vacinar?

• Pessoas de 6 meses a 49 anos de idade.


• Pessoas de 12 meses a 29 anos precisam tomar a segunda dose após 30 dias de ter
tomado a primeira dose.

Esquema vacinal

De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), o esquema de


vacinação brasileiro envolve a administração de duas doses. Dessa forma, o recomendado
é que a primeira dose seja administrada logo após a criança completar um ano de idade,
então, o tempo máximo recomendado é de até 15 meses de vida, podendo ser aplicada a
partir dos seis meses. Nesses casos, geralmente, é aplicada a vacina tríplice viral. Assim, o
ideal é administrar a segunda dose entre 4 e 6 anos, apesar de não haver limite de idade
para a aplicação desta dose.

FONTE: <http://hermespardini.com.br/blog/?p=395>. Acesso em: 20 jan. 2021.

É importante ressaltar que, a gravidade das anomalias resultantes da


rubéola congênita é maior quando a infecção ocorre nos estágios iniciais da
gestação. Isso porque, nesse estágio, o feto fica mais vulnerável por estar em
estágios iniciais de formação de suas estruturas. Nesse contexto, é importante
que a infecção seja investigada e o status imunológico da gestante, perante
essa infecção, seja detectado e acompanhado. Assim, o laboratório clínico é um
importante aliado da equipe médica.

3.1 LABORATÓRIO CLÍNICO APLICADO À RUBÉOLA


A contar pela presença de sintomas leves e inespecíficos da rubéola, que
podem ser facilmente confundidos com outras doenças, como sarampo, dengue,
enteroviroses e rickettsioses, o laboratório é fundamental para confirmar ou
descartar casos de rubéola. Assim, o principal instrumento diagnóstico para isso
é a detecção de anticorpos IgM e IgG.

A presença de anticorpos IgM específicos para o vírus da rubéola


apresenta seu pico de concentração sanguínea poucos dias após o estabelecimento
da infecção, com redução a partir da 6ª semana pós-infecção. Apesar de
representar um indicativo de infecção em estágio agudo, é importante ressaltar
que a evolução das metodologias para detecção de IgM apresentou aumento na
sensibilidade desse teste, o que permite que este anticorpo seja detectado mesmo
após a fase aguda, porém em baixas concentrações, o que pode causar dúvidas na
interpretação dos resultados.

86
TÓPICO 3 — CITOMEGALOVÍRUS E RUBÉOLA

Além de fase aguda da primo-infecção, é possível encontrar anticorpos


IgM em casos de reinfecção. Em casos que é sabido que houve infecção antes do
período gestacional, a literatura indica que o feto não corre o risco de apresentar
síndrome da rubéola congênita, não representando assim um problema no
período gestacional. Caso não haja clareza se a presença de IgM refere a uma
primo-infecção ou reinfecção, é indicada a solicitação do teste de avidez para IgG
para rubéola. Assim, testes que indicam alta avidez para IgG representam que a
infecção pelo vírus da rubéola ocorreu há mais de 3 meses.

A detecção de anticorpos IgG para rubéola é possível entre o 10° e 20°


dia da infecção, e aumenta rapidamente, com pico de concentração em até 10
semanas. A partir desse período, tende a reduzir gradativamente, sendo detectável
ao longo de toda vida da paciente (BRITO et al., 2016).

Quanto às técnicas utilizadas para detecção de anticorpos para rubéola,


o ELISA constitui a principal metodologia para investigação desses anticorpos.
Os ensaios imunoenzimáticos são utilizados devido a boa sensibilidade que
apresentam. Dentro dos tipos de ELISA utilizados, destacamos o método de
captura para IgM, e o método indireto para IgG uma vez que, de acordo com
Ferreira e Moraes (2013, p. 151):

O ELISA para a detecção de IgM-antirrubéola é o teste mais importante


no diagnóstico da infecção primária materna e da rubéola congênita.
A técnica de captura de IgM é a mais empregada por não apresentar
reações falso-positivas ou falso-negativas, respectivamente, em amostras
que apresentam o fator reumatoide e naquelas com excesso de IgG
antirrubéola. No ELISA indireto, a presença do fator reumatoide da classe
M em amostras positivas para IgG pode provocar resultado falso-positivo
para IgM e constituir um problema importante, pois a prevalência desse
fator é particularmente mais alta na rubéola congênita do que as infecções
congênitas causadas por outros vírus.

87
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Citomegalovírus (CMV) é um vírus que pertence à família Herpesviridae, sendo


considerado um herpesvírus humano.

• A infecção por CMV desenvolve-se em três estágios: latência (vírus continua


no organismo, sem que o hospedeiro apresente sintomas), recorrência (vírus
pode gerar manifestações clínicas novamente) e cronicidade (vírus é passível
de tratamento, porém sem que haja cura).

• Em indivíduos imunocompetentes, o CMV é destruído por células T citotóxicas


direcionadas para atacar este vírus, além da produção de anticorpos, IgM
antiCMV seguido de IgG antiCMV.

• IgG antiCMV indica que houve infecção em algum momento da vida, porém,
não determina quando ocorreu esta infecção.

• Quando paciente possui anticorpos IgM antiCMV e anticorpos IgG antiCMV com
baixa avidez, temos resultados confiáveis que evidenciam infecção primária.

• Rubéola é uma doença causada por um vírus que pertence à família Togaviridae,
chamado rubivírus.

• Os seres humanos são os únicos hospedeiros do vírus da rubéola, que se


dissemina por via respiratória, a partir de secreções nasofaríngeas contaminadas.

• Em indivíduos com a imunidade preservada, a rubéola é uma doença de


infecção benigna e autolimitada.

• A presença de anticorpos IgM para rubéola apresenta seu pico de concentração


poucos dias após o estabelecimento da infecção, com redução a partir da 6ª
semana pós-infecção.

• Além de fase aguda da primo-infecção, é possível encontrar anticorpos IgM em


casos de reinfecção. Para confirmar a reinfecção, recomenda-se o teste de avidez
IgG para rubéola, que confirma esse quadro quando apresenta altas titulações.

88
AUTOATIVIDADE

1 Os seres humanos são os únicos hospedeiros do rubivírus, que se dissemina


por via respiratória, a partir de secreções nasofaríngeas contaminadas.
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Toxoplasma gondii é o agente etiológico da rubéola.


b) ( ) A rubéola é uma doença que exige tratamento medicamentoso para
que seja curada.
c) ( ) A rubéola é uma doença benigna e autolimitada.
d) ( ) A primo-infecção por rubéola em gestantes no primeiro trimestre não
causa nenhum prejuízo ao desenvolvimento fetal.

2 Explique qual é a importância do teste de avidez IgG em investigações


sorológicas.

3 Descreva os três estágios presentes na infecção por citomegalovírus.

4 Considerando investigações sorológicas para rubéola, os ensaios


imunoenzimáticos (ELISA) são uma das principais metodologias para
detectar anticorpos lgM e lgG antirrubéola e os testes de avidez para lgG.
Analise as sentenças a seguir:

I- A presença de IgG específica antivírus da rubéola, com alta avidez, em


amostra de soro da paciente demonstra imunidade para a rubéola.
II- Exposição prévia ao período gestacional de rubéola é diagnosticada pela
presença apenas de IgM específica antivírus da rubéola numa amostra de
soro da paciente.
III- Títulos de anticorpos IgG específicos antivírus da rubéola,
independentemente da avidez, progressivamente aumentados nos
lactantes indicam proteção à infecção.
IV- A infecção aguda de rubéola é diagnosticada pelo aumento dos títulos de
IgG específica antivírus da rubéola, com baixa avidez.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.

89
5 A infecção congênita por citomegalovírus tem, na maioria dos casos, recém-
nascidos assintomáticos. Considerando a sequela tardia dessa infecção,
que pode ser reduzida com o diagnóstico laboratorial precoce e terapia
medicamentosa, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A calcificação parenquimatosa difusa.


b) ( ) A microcefalia.
c) ( ) A surdez.
d) ( ) A coriorretinite multilateral.

90
TÓPICO 4 —
UNIDADE 2

METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E


PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

1 INTRODUÇÃO
Anteriormente, conhecemos as características relacionadas aos marcadores
imunológicos investigados durante o período pré-natal, tanto para diagnóstico
quanto para acompanhamento das pacientes.

Para que esse acompanhamento ocorra, diferentes metodologias são


utilizadas. Neste tópico, serão apresentadas as técnicas citadas ao longo desta
unidade para compreendermos suas principais características.

2 IMUNOCROMATOGRAFIA
Um teste de gravidez, daqueles de farmácia, é capaz de indicar se uma
mulher está grávida através da metodologia imunocromatografia, também
conhecida como teste rápido, a partir de uma amostra de urina. Entretanto,
além dos testes de farmácia, a imunocromatografia também faz parte da rotina
laboratorial. Trata-se de uma metodologia qualitativa, utilizada em laboratório
como triagem para identificar os mais diferentes tipos de substâncias, como o
próprio hormônio hCG, e para detecção de agentes patogênicos, como vírus
(HIV, SARS-CoV2 e hepatite) e bactérias (Helicobacter pylori) (BRASIL, 2018).

Essa técnica é realizada utilizando uma matriz, que é o local em que


ocorrerá a reação, geralmente feita de nitrocelulose ou nylon e coberta por uma
tira de acetato transparente, que possibilita visualizar o resultado do teste. Nesse
teste, podemos identificar o anticorpo produzido no organismo ou o antígeno
(BRASIL, 2018).

Quando o objetivo é detectar se, na amostra, há a presença do anticorpo de


interesse, a matriz apresentará o antígeno específico para o anticorpo investigado.
Além disso, a matriz possui anti-imunoglobulina associada a uma substância
chamada de marcador, que, na presença da formação do complexo antígeno-
anticorpos, apresentará uma coloração na região teste (BRASIL, 2018).

Caso o objetivo seja a detecção da presença de um determinado antígeno,


a matriz do teste conterá anticorpos específicos para o antígeno que está sendo
pesquisado. Esse anticorpo apresenta um marcador conjugado a ele, com
coloração na região-teste, quando houver a formação de complexo antígeno-
anticorpo (BRASIL, 2018).
91
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Existem diferentes apresentações de testes imunocromatográficos,


conforme veremos a seguir.

2.1 FLUXO LATERAL


O fluxo lateral apresenta quatro áreas (Figura 7), nas quais temos o local em
que a amostra será depositada, chamado de área ou cavidade da amostra, a zona
ou base de conjugado (que contém o anticorpo anti-imunoglobulina conjugado
com seu marcador), a área ou banda teste (local onde, ocorrendo a reação antígeno-
anticorpo, será possível identificar a presença de uma banda colorida indicando
positividade) e a área controle (local em que temos o controle da reação, o que
permite considerar o resultado da banda teste válido). Independentemente do
resultado da banda de teste, a aplicação da amostra deve sempre corar a banda
da área controle, porque esta já contém o marcador pesquisado. Assim, mesmo a
aplicação de uma amostra que não contenha o marcador investigado, em conjunto
com o diluente, deverá marcar essa área. A área controle marcada indica que os
líquidos aplicados na tira-teste estão fluindo corretamente.

Quando a área controle não apresentar coloração após aplicação da


amostra, o resultado deve ser rejeitado, uma vez que isso indica presença de
alguma falha no teste. Essa avaliação da banda controle se aplica a todos os
diferentes tipos de ensaios imunocromatográficos (BRASIL, 2018).

FIGURA 7 – ESTRUTURA DE TESTE RÁPIDO DE FLUXO LATERAL

FONTE: <https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/12046/
Disserta%C3%A7%C3%A3o_JCL.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 28 jan. 2021.

92
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

2.2 DUPLA MIGRAÇÃO OU DUPLO PERCURSO (DPP)


A dupla migração apresenta três áreas visíveis, conforme mostra a Figura
8, nas quais temos o local em que a amostra será depositada (área 1), a área em
que o tampão é depositado (solução capaz de evitar grandes variações no pH do
meio em que é adicionado), permitindo o deslocamento do conjugado em direção
à área de teste (área 2), e as bandas teste e controle (área 3). Assim, o tampão
desloca o conjugado na direção da amostra. Caso a amostra contenha o anticorpo
ou antígeno pesquisado, a banda teste apresentará coloração.

FIGURA 8 – IMUNOCROMATOGRAFIA DE DUPLA MIGRAÇÃO OU PERCURSO

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22168/mod_resource/content/2/
HIV%20-%20Manual%20Aula%206%20%281%29.pdf> Acesso em: 28 jan. 2021.

2.3 IMUNOCONCENTRAÇÃO
Nesse teste, a amostra é depositada sobre uma membrana de nitrocelulose,
que a absorve (Figura 9). Ao entrar em contato com o antígeno ou anticorpo
presente no dispositivo, ocorre a formação do complexo antígeno-anticorpo. Em
seguida, o conjugado com marcador de cor é depositado na mesma membrana
que, se houver formação do complexo antígeno-anticorpo, apresentará um ponto
colorido visível na área teste (T) (Figura 10).

93
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM TESTE DE IMUNOCONCENTRAÇÃO

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22168/mod_resource/content/2/
HIV%20-%20Manual%20Aula%206%20%281%29.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2021.

FIGURA 10 – DISPOSITIVOS DE IMUNOCONCENTRAÇÃO APRESENTANDO AMOSTRA


REAGENTE (ESQUERDA) E NÃO REAGENTE (DIREITA)

FONTE: <https://www.completesafetysupplies.co.uk/images/products/medium/
1444739842-07632800.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2021.

Independentemente do modo de execução do teste imunocromatográfico,


a interpretação do teste é realizada da mesma forma, e esses resultados podem
ser visualizados na forma de ponto, linha ou banda colorida, variando de acordo
com o fabricante (Figura 11).

94
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 11 – INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO TESTE DE IMUNOCROMATOGRAFIA

Reagente:
Quando houver formação de duas linhas
coloridas: uma na área de teste (T) e outra na
área de controle (C).

Não reagente:
Quando houver formação de uma linha
colorida, somente na área de controle (C).

Inválido:
Quando não houver linha colorida, na área de
controle (C).

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22168/mod_resource/content/2/
HIV%20-%20Manual%20Aula%206%20%281%29.pdf> Acesso em: 28 jan. 2021

De acordo com Brasil (2018, p. 9):

Algumas das causas prováveis para a invalidação do teste podem


ser o armazenamento inadequado dos kits, um volume insuficiente
de amostra, um volume incorreto de solução diluente e a simples
execução incorreta. Se o resultado obtido em um teste for inválido, leia
novamente as instruções do fabricante e repita o teste com a utilização
de um novo dispositivo. Se o problema persistir, não utilize mais
nenhum teste desse lote.

E
IMPORTANT

Em alguns casos, a formação de cor da banda ou ponto do teste pode


aparecer mais fraca. Contudo, a presença de formação de ponto ou banda colorida,
independentemente da intensidade de cor, deve ser considerada resultado reagente,
quando a coloração da banda do teste for acompanhada da coloração da banda ou ponto
que indica controle, conforme visto anteriormente.

95
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

3 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO (ELISA)


O ELISA (do inglês, Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay) é um imunoensaio
no qual a ligação antígeno-anticorpo é acompanhada por mensuração de
atividade enzimática presente na reação. O reagente de cor é uma enzima que gera
mudança de coloração se o teste for positivo, e a mudança na coloração é medida
por metodologia espectrofotométrica. Trata-se de uma metodologia utilizada
para diferentes finalidades, como a detecção viral, a medida de antígenos ou
anticorpos e a dosagem hormonal. De acordo com Voltarelli (2009, p. 83):

Trata-se de técnica imunoenzimática sensível, heterogênea (múltiplas


fases), para a quantificação de antígenos ou anticorpos. Um dos
reagentes é imobilizado na fase sólida, enquanto outro pode ser ligado
a uma enzima, com preservação tanto da atividade enzimática como
da imunológica do anticorpo. A fase sólida pode ser constituída por
partículas de agarose, poliacrilamida, dextrano, poliestireno etc. Placas
plásticas são as mais difundidas por permitirem múltiplos ensaios e
automação. O teste detecta quantidades extremamente pequenas de
antígenos ou anticorpos, podendo ter elevada precisão se os reagentes
e os parâmetros forem bem padronizados.

Existem diferentes métodos de ELISA, que são (Figura 12):

• ELISA direto: em kits que pesquisam antígenos, os anticorpos são fixados em


uma placa composta por material rígido, como poliestireno. Esse anticorpo fixado
reagirá com antígenos presentes na amostra. Em seguida, é adicionado anticorpo
específico, dessa vez, marcado com enzima. A placa, então, é incubada, ou seja,
tem todas suas regiões mantidas a uma mesma temperatura, para que a reação
ocorra em todas as regiões da placa (também conhecidas como poços) de modo
uniforme. Por fim, um substrato (molécula que reage com a enzima presente no
kit reagente) é adicionado. Esse substrato é um cromógeno, ou seja, quando reage
com a enzima forma um produto colorido. A coloração que se forma é medida
por espectrofotômetro, que, a partir da intensidade da cor presente, mensura a
quantidade do antígeno presente na amostra.
• ELISA indireto: mensura a concentração de anticorpos na amostra. Isso acontece
quando a amostra, contendo anticorpos, reage com seu antígeno específico, que
está presente na placa de ELISA (fase sólida). Essa ligação antígeno-anticorpo
é revelada pela ação do conjugado enzimático específico, que gera coloração
ao reagir com o substrato cromogênico (moléculas em que a enzima se liga
resultando em formação de cor). É um ensaio que inspira cuidados, uma vez
que a medida de anticorpos IgM, aplicada a doenças infecciosas, tem como
interferente a presença de grandes quantidades do fator reumatoide na amostra,
gerando resultados falso-positivos, o que prejudica sua especificidade.
• ELISA competitivo: a placa contém o antígeno ou anticorpo de interesse, e
o antígeno ou anticorpo presente na amostra compete com aqueles presentes
na placa pelo local ligação. Em consequência, a leitura da concentração desse
teste é inversamente proporcional, uma vez que, quanto menor a concentração
da substância investigada, menos elas se ligam aos sítios disponíveis, sendo
ocupados pelas substâncias presentes no reagente. Dessa forma, quanto menor
a coloração gerada pela reação, mais positivo é o teste.

96
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 12 – ESQUEMAS DOS TESTES ENZIMÁTICOS HETEROGÊNEOS DO TIPO DIRETO,


INDIRETO E COMPETIÇÃO

ELISA DIRETO OU SANDUÍCHE

ELISA INDIRETO

ELISA COMPETIÇÃO

FONTE: Adaptada de <http://docente.ifsc.edu.br/rosane.aquino/MaterialDidatico/AnalisesClinicas/


avalia%C3%A7%C3%A3o/Testes-Laboratoriais-Aplicados-Imunologia-Clinica.pdf>.
Acesso em: 28 jan. 2021.

Para compreender com maior clareza as diversas etapas necessárias para


execução da técnica de ELISA, utilizaremos o ELISA indireto (AFTER et al., 2000):

• Sensibilização da placa: na primeira etapa, o antígeno específico será diluído


em uma solução tampão. A solução tampão é importante para evitar que o
pH da solução varie, o que pode prejudicar as reações a seguir. Essa solução
contendo antígenos é aplicada à placa de poliestireno (Figura 13), onde os
antígenos deverão ficar aderidos.

97
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 13 – PLACA DE POLIESTIRENO COM 96 POÇOS UTILIZADA PARA TÉCNICAS DE ELISA

FONTE: <https://www.lojanetlab.com.br/acessorios-para-laboratorios/microplacas-de-microtitulacao/
microplaca-para-elisa-96-pocos-fundo-chato-esteril-ref-k30-5096p-olen>. Acesso em: 16 mar. 2021.

• Lavagem da placa: uma vez sensibilizada, a placa que recebeu o antígeno


passa por alguns ciclos de lavagem (Figura 14) para retirar antígenos que não
se fixaram na placa.

FIGURA 14 – EQUIPAMENTO PARA LAVAGEM AUTOMÁTICA DE MICROPLACA DE ELISA

FONTE: <https://www.medicalexpo.com/pt/prod/awareness-technology/
product-67695-431705.html>. Acesso em: 16 mar. 2021.

• Bloqueio da placa: a placa é tratada com uma solução rica em proteínas


(como leite desnatado, albumina, caseína ou gelatina). O objetivo dessa etapa
é bloquear regiões que não estão recobertas por antígeno e, com isso, impedir
que reações inespecíficas ocorram.
• Lavagem de placa: após o bloqueio, novas lavagens são executadas para
retirada das moléculas passíveis de reações inespecíficas.

98
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

• Adição de amostra: as amostras dos pacientes são pipetadas na placa e


incubadas. A incubação é a manutenção da placa sob uma temperatura
uniforme durante um mesmo período estabelecido pelo kit reagente utilizado.
Caso as amostras contenham anticorpos específicos para os antígenos fixados
na placa, ocorrerá a formação de complexo antígeno-anticorpo.
• Lavagem da placa: nova lavagem ocorre para retirada de anticorpos presentes
na amostra que não se ligaram aos antígenos presentes na placa.
• Adição do conjugado: o conjugado corresponde a um anticorpo anti-IgG
(anticorpos secundários) ligado a uma enzima peroxidase (enzima mais
comumente utilizada para técnica de ELISA). Esse anticorpo secundário tem
como função ligar-se ao anticorpo primário, quando este estiver presente
na amostra (Figura 15). A placa passa por nova incubação e novos ciclos de
lavagens (remoção de anticorpos soltos), antes da adição do substrato.

FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS LIGAÇÕES PRESENTES NO ELISA INDIRETO

FONTE: <http://biomedicinabrasil.com.br/metodologia/teste-de-elisa/>. Acesso em: 18 mar. 2021.

• Adição do substrato: o substrato consiste em uma substância (no caso da


peroxidase, o substrato é o H2O2) que forma um complexo com a enzima e,
com isso, gera novos produtos. Nessa técnica, o substrato está ligado a um
cromógeno (substância que gera reação de cor). Caso ocorra reação enzimática,
devido à presença de anticorpos na amostra, o substrato é oxidado e, com essa
reação, o cromógeno gera cor (Figura 16).
• Leitura: por fim, a formação de cor presente na placa é mensurada por
espectrofotometria com filtro ajustado para leitura do marcador de interesse
(Figura 17).

99
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS ETAPAS DE ELISA INDIRETO

1 O antígeno é adsorvido ao poço.

2 Adiciona-se o soro do paciente;


o anticorpo complementar se liga
ao antígeno.

3 Anti-HISG conjugado a enzima é


adicionado e se liga ao anticorpo
ligado ao antígeno.

4 Adiciona-se o substrato da enzima ( ), e a


reação produz/forma um produto que resulta
em uma mudança visível de cor ( ).

(b) Um teste ELISA indireto positivo para detectar anticorpos.

FONTE: <https://www.misodor.com.br/HIVAIDSPEDIATRIA.php> Acesso em: 16 mar. 2021.

100
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 17 – EQUIPAMENTO LEITOR DE PLACAS DE ELISA

FONTE: <https://static.biotek.com/images/products/800TS/800TS_right_open_door-apps.jpg>.
Acesso em: 15 mar. 2021.

E
IMPORTANT

A espectrofotometria é uma metodologia importante e muito utilizada no


laboratório clínico, sendo um conteúdo que consideramos importante ser revisitado. Leia
o texto Introdução à Espectrofotometria, escrito por Paulo Valim, no site Ciência em Ação:
https://cienciaemacao.com.br/introducao-a-espectrofotometria/.

4 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DE MICROPARTÍCULAS

Assim como o ELISA, trata-se de uma técnica imunoenzimática, porém a


diferença é que a porção sólida são micropartículas em suspensão líquida e não
uma placa (VOLTARELLI, 2009).

Nessa técnica, a fase sólida são micropartículas de látex contendo os


antígenos que se ligam aos anticorpos presentes na amostra estudada. Essas
micropartículas se ligarão a uma matriz de fibra de vidro de maneira irreversível.
O conjugado contendo antígenos e fosfatase alcalina é adicionado a seguir,
ligando-se aos anticorpos, formando um complexo antígeno-anticorpo-antígeno.
A reação é revelada pela adição de um substrato, que gera um produto fluorescente
pela sua ligação com a enzima. A intensidade da fluorescência é medida, sendo
considerada reagente quando supera o ponto de corte da técnica (Figura 18).

101
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

FIGURA 18 – ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DE MICROPARTÍCULAS

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22167/mod_resource/content/1/
HIV%20-%20Manual%20Aula%205.pdf> Acesso 28 jan. 2021

102
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

5 HEMAGLUTINAÇÃO
Nessa metodologia, são utilizados fragmentos de antígenos recobrindo
glóbulos vermelhos. Essa solução contendo hemácias e antígenos específicos para
o marcador investigado é distribuída em poços de microplaca. A presença de
anticorpos específicos interage com o antígeno presente na solução dispensada na
placa, recobrindo o poço como uma espécie de “tapete” vermelho (amostras 1 a
3 na Figura 19); caso a amostra de soro não apresente os anticorpos investigados,
as hemácias ficam depositadas no fundo do poço formando um botão vermelho
(amostras 4 a 7 da Figura 19) (FERREIRA; MORAES, 2013).

FIGURA 19 – REAÇÃO DE HEMAGLUTINAÇÃO

FONTE: <http://twixar.me/wttm>; <http://twixar.me/9ttm>. Acesso em: 16 mar. 2021.

103
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

LEITURA COMPLEMENTAR

CUIDADOS COM A DOSAGEM DA GONADOTROFINA CORIÔNICA


HUMANA NO SEGUIMENTO DE PACIENTES COM DOENÇA
TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL

Elza Uberti
José Mauro Madi
Antonio Braga
Bruno Grillo
Maurício Viggiano

A principal vigilância hormonal no seguimento pós-molar consiste na


dosagem periódica e sistemática da gonadotrofina coriônica humana (hCG). Sendo
um produto das células da placenta, em especial do sinciciotrofoblasto, o hCG
também é secretado em menores quantidades pelas células citotrofoblásticas. O
hCG pertence ao grupo dos hormônios glicoproteicos, que também compreende
o luteinizante (LH), o folículo-estimulante (FSH) e o tireoestimulante (TSH).
Todos esses possuem duas subunidades diferentes, a e b, que são unidas por
ligações não covalentes e que precisam estar combinadas para formar o hormônio
biologicamente ativo. A subunidade α é produzida tanto na hipófise como
na placenta e tem a mesma sequência peptídica das subunidades a de outros
hormônios (LH, FSH, TSH). A subunidade β é peculiar a cada hormônio e
determina sua especificidade.

O hCG é produzido pela placenta na gestação normal, pela doença


trofoblástica gestacional (DTG), em mulheres que estão ou estiveram grávidas,
nas neoplasias de origem germinativa, por tumores não trofoblásticos e também
em tecidos normais, incluindo testículo e hipófise humana. A principal função do
hCG é promover a produção de progesterona pelo corpo lúteo do ovário.

No início da gestação normal, o trofoblasto se diferencia em células


predominantemente citotrofoblásticas, enquanto as células sinciciotrofoblásticas
são dominantes ao término da gravidez. O sinciciotrofoblasto é a maior fonte
secretora de hCG intacto na circulação materna e as células menos diferenciadas do
citotrofoblasto secretam além do hormônio na sua forma intacta, as subunidades
α e β. À semelhança da placenta normal, as células anormais do trofoblasto na
doença trofoblástica gestacional (DTG) sintetizam e secretam tanto o hCG intacto
como as formas livres das subunidades α e β.

104
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Figura 1 – Estrutura química da molécula intacta do hCG com as cadeias α e β;


peso molecular: 37.500 daltons

Após 1980, foram desenvolvidos imunoensaios tipo sanduíche, rápidos e


automatizados, usando anticorpos monoclonais para reconhecer especificamente o
hCG e suas subunidades livres. Tais ensaios, que são tão ou mais sensíveis do que o
teste do BhCG por radioimunoensaio, não utilizam radioisótopos, apresentam menor
coeficiente de variação e maior durabilidade dos reagentes, o que implica um menor
custo final na execução do exame. As diferentes formas degradadas do hCG são
reconhecidas por um grande número de anticorpos, o que resulta em grande variação
nos resultados inter-ensaios, especialmente se a determinação é na urina, trazendo
confusão nos resultados dos testes para diagnóstico de gravidez. Utilizam-se amostras
séricas para fins de monitorização dos níveis de hCG durante a gravidez (tratamento
conservador e medicamentoso da gravidez ectópica e na fertilização assistida) e na
monitorização das neoplasias, em especial a neoplasia.

Trofoblástica Gestacional (NTG)

A natureza complexa dos produtos de degradação do hCG intacto, da meia-


vida dos produtos de degradação e das reações cruzadas dos vários produtos de
degradação com os vários anticorpos, explica a discrepância entre os resultados da
dosagem de gonadotrofina coriônica feita nos diferentes laboratórios e, num
mesmo laboratório, com o mesmo kit, entre as diferentes amostras do material.

Atualmente, a conduta efetiva dos casos de DTG é altamente dependente


da determinação do imunoensaio sérico para dosagem quantitativa do hCG, que
deve ser utilizado em todos os estágios do manejo da DTG, incluindo diagnóstico,
planejamento terapêutico, monitorização da resposta ao tratamento e detecção
das eventuais recidivas. Em DTG, é recomendável um ensaio que dose o hCG
total + BhCG, que tem a vantagem de reconhecer também o hCG clivado e o
BhCG-clivado, o que proporcionará resultados mais precisos e condutas clínicas
mais acertadas.

O uso do hCG apenas na propedêutica da DTG é direcionado para cinco


momentos: 1) diagnóstico de DTG; 2) Seguimento pós-esvaziamento molar; 3)
diagnóstico de neoplasia trofoblástica gestacional pós-molar 4) Monitorização do
tratamento quimioterápico; 5) diagnóstico de recidiva da NTG.

105
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Para os fins referidos, é indispensável a determinação quantitativa de BhCG


(hCG intacto + BhCG), exames que preferencialmente devem ser realizados em
um mesmo laboratório, para se ter credibilidade e se poder comparar o resultado
com outros da mesma procedência. É importante também que os profissionais
do laboratório onde o exame é realizado tenham conhecimento que lidam com
um marcador tumoral e que os resultados se destinam à monitorização de DTG,
e não apenas ao diagnóstico de gravidez, ou seja, ratificando a necessidade de o
resultado ser precisamente quantificado.

hCG no diagnóstico de DTG

Em condições normais da gestação, os níveis séricos de hCG biologicamente


ativo aumentam exponencialmente no 1° trimestre da gravidez, duplicando a cada
dois dias, atingindo o pico em torno da 10ª a 12ª semana, quando podem alcançar
valores de 100.000 mUI/mL. A partir daí, os valores decrescem até a 20ª semana,
atingindo cerca de 20% dos valores de pico máximo e assim permanecem até o
final da gestação. Após o parto, os níveis séricos de hCG seguem regredindo e os
resultados dos testes atingem valores normais (< 5 mUI/mL) em torno de 30 dias.

Após a interrupção de uma gravidez não molar na 1ª metade da gestação,


os valores de hCG atingem resultado normal em torno de 2 a 3 semanas. Essa
informação é importante por auxiliar a conduta clínica frente à paciente que
tenha apresentado um abortamento espontâneo e completo, e/ou quando um
exame anatomopatológico for inconclusivo no diagnóstico de mola hidatiforme
(MH) (quando, por exemplo, evidenciar apenas edema de vilos sem hiperplasia
de trofoblasto), situação em que uma dosagem de hCG feita em 3 semanas ajuda
a elucidar o diagnóstico: se, nesse tempo referido, a dosagem sérica do hCG
for < 5 mUI/mL fica afastada uma DTG e o edema de vilos deve refletir outras
cromossomopatias.

Na mulher em idade fértil e sem uso de contraceptivos, diante de um


resultado positivo de hCG, a maior probabilidade é se tratar de uma gravidez
normal. Diante de um atraso menstrual, se uma paciente com hCG-positivo
apresentar sangramento genital e um exame de ultrassonografia (US) mostrando
conteúdo uterino sugestivo de MH, uma dosagem de hCG sérico quantitativo
com valores elevados confirma a suspeita de DTG. Na MH parcial, situação na
qual os valores séricos quantitativos do hCG são geralmente menos elevados,
o diagnóstico clínico e US inicialmente é de gestação interrompida; para um
diagnóstico precoce de MH parcial destaca-se a importância do exame histológico
sistemático de todo material curetado, com alerta ao patologista se houver
suspeita diagnóstica de MH parcial.

A realização de uma dosagem de hCG é também importante no diagnóstico


diferencial de miomas uterinos intracavitários (submucosos) com degeneração: a
imagem ao US dessa patologia, por vezes, é sugestiva de MH. Se a dosagem de
hCG for negativa é afastada uma gravidez e fica reforçada a suspeita inicial de
mioma degenerado.

106
TÓPICO 4 — METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

A dosagem de hCG também é essencial no rastreamento de causas de


sangramento uterino disfuncional ou em mulheres que, no menacme, mesmo
sem sangramento anormal, apresentem sintomas atípicos como hemoptise, dores
abdominais, convulsões etc.; nesses casos, na ausência de gestação documentada
há mais de 30 dias, um hCG positivo levanta a hipótese de DTG e indica avaliação
diagnóstica.

Para diagnóstico de gestação molar basta um resultado positivo na dosagem


de hCG (≥ 200 mUI/mL) associado à imagem típica ao US. A quantificação do
hCG nessa etapa diagnóstica será relevante, entretanto, para identificação da MH
de alto-risco para desenvolvimento de NTG; em tais pacientes uma dosagem de
hCG ≥ 100.000 mUI/mL é sinal de alerta para rastreio das complicações médicas
associadas ao hCG elevado, tais como tamanho uterino maior do que o esperado
para a idade gestacional, presença de cistos ovarianos teca-luteínicos volumosos,
pré-eclampsia, hipertireoidismo e embolização trofoblástica.

Na quantificação do hCG, é importante também destacar a possibilidade


de um resultado falsamente mais baixo devido ao efeito “hook”, que pode estar
presente quando os níveis da gonadotrofina são extremamente elevados. O
excesso de hCG progressivamente satura a fase sólida e a detecção de anticorpos,
impedindo que haja formação do “sanduíche” que quantifica o hCG, quando
se utilizam os novos ensaios com anticorpos monoclonais. Esse efeito pode
ser prevenido pela diluição da amostra a 1/100 e 1/10.000. Diante da paciente
com gestação molar e úteros volumosos, um contato da equipe médica com o
laboratório torna-se essencial, antes de ser iniciado o processo de quantificação
do hCG, para evitar os resultados incorretos.

O valor do BhCG obtido antes ou logo após esvaziamento da MH


representa o ponto inicial de uma curva onde serão colocadas sucessivamente
a cada 7 dias os outros valores numéricos, configurando a curva individual de
regressão do BhCG, que possibilita identificar precocemente a evolução da DTG
para remissão espontânea ou para evolução neoplásica.

hCG no acompanhamento pós-molar



Feito um diagnóstico clínico de MH, o próximo passo é o esvaziamento
da cavidade uterina, preferencialmente com o método de vácuo-aspiração elétrica
ou manual, através do qual se consegue o material para ser enviado para exame
histopatológico. Segue tal procedimento cirúrgico, um acompanhamento com
consultas médicas e dosagens quantitativas de hCG, que duram em média 6 a 8
meses, conhecido como acompanhamento pós-molar. Esse acompanhamento que
deve ser realizado preferencialmente em Centros de Referência (CR), onde uma
equipe multidisciplinar treinada proporcione o atendimento adequado em todas
as fases do tratamento. Nessa etapa, o BhCG, que precisa sempre ser precisamente
quantificado, tem papel relevante como marcador tumoral.

107
UNIDADE 2 — APLICAÇÃO DA IMUNOLOGIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DO PRÉ-NATAL

Recomenda-se que as pacientes façam consultas médicas acompanhadas


da dosagem de BhCG até serem obtidos três resultados semanais consecutivos
com níveis inferiores a 5 mUI/mL quando, por definição clínica, é caracterizada a
remissão da doença. Após a remissão, o controle passa a ser mensal, durante mais
cerca de 6 meses. Durante todo o seguimento pós-molar, as pacientes devem fazer
anticoncepção rigorosa, de preferência mediante o uso de anticoncepcional oral,
uma vez que não podem engravidar durante o período de acompanhamento. A
anticoncepção eficaz é um dos pilares do controle pós-molar e, como tal, o uso
é recomendado e garantido. A maioria das pacientes portadoras de MH (80%)
permanece assintomática até a cura completa da doença.

A curva de regressão do BhCG de cada paciente realizada durante o


acompanhamento pós-molar pode ser comparada com a curva semilogarítmica e
exponencial de regressão normal do hCG, conforme proposto por Schlaerth et al.
(Figura 2) ou com outra proposta em nosso meio por Maestá. Se os valores forem
progressivamente descendentes e paralelos à curva padrão de regressão, significa
que a paciente está evoluindo para remissão espontânea da doença, dispensando
qualquer tratamento adicional.

Figura 2 – Curva semilogarítmica de regressão do hCG proposta por Schlaerth et al. (média ± 2
desvios padrões), adaptada para mostrar o valor considerado normal (inferior a 5 mUI/mL)

FONTE: Adaptado de UBERTI, E. et al. Cuidados com a dosagem da gonadotrofina coriônica


humana no seguimento de pacientes com Doença Trofoblástica Gestacional. Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. 2018. Disponível em: https://www.febrasgo.org.
br/pt/noticias/item/414-cuidados-com-a-dosagem-da-gonadotrofina-corionica-humana-no-
seguimento-de-pacientes-com-doenca-trofoblastica-gestacional. Acesso em: 2 fev. 2021.

108
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• A imunocromatografia é uma metodologia qualitativa, utilizada em laboratório


como triagem para identificar vírus, hormônios e bactérias.

• Na imunocromatografia, utiliza-se uma matriz, que pode estar coberta por


uma tira de acetato transparente, para permitir visualizar o resultado do teste,
podendo-se identificar o anticorpo ou o antígeno presente na amostra.

• Fluxo lateral, dupla migração e imunoconcentração são as possíveis


apresentações dos testes imunocromatográficos.

• Existem tipos diferentes de ELISA: direto, indireto e competitivo.

• No ELISA direto, que detecta antígenos, o anticorpo é fixado na placa, ligando-


se, posteriormente, a um anticorpo ligado a uma enzima, a qual se liga a um
substrato que irá formar a cor que o espectrofotômetro quantifica.

• No ELISA indireto, o antígeno é fixado na placa, ligando-se a um anticorpo não


marcado. Em seguida, é adicionado um segundo anticorpo conjugado a uma
enzima que, ao reagir com o substrato, forma a cor que será mensurada por
espectrofotometria.

• No ELISA competitivo, a placa apresenta antígeno ou anticorpo de interesse, e


o antígeno ou anticorpo que existe na amostra compete com aqueles presentes
na placa pelo local ligação.

• Ensaio imunoenzimático de micropartículas é uma técnica imunoenzimática


em que a porção sólida é composta por micropartículas em suspensão líquida.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

109
AUTOATIVIDADE

1 A imunocromatografia é uma metodologia qualitativa, utilizada em


laboratório como triagem para identificar os mais diferentes tipos
de substâncias, como o próprio hormônio hCG, e para detecção de
agentes patogênicos, como vírus e bactérias. A respeito do método
imunocromatográfico, observe a figura a seguir:

FONTE: <http://www.nano-macro.com/2015/09/a-magica-do-diagnostico-post-2.html>.
Acesso em: 16 mar. 2021.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Trata-se de um teste com resultado reagente.
b) ( ) Trata-se de um teste inválido, uma vez que a área de controle não
apresentou marcação.
c) ( ) Trata-se de um teste válido, uma vez que a área de controle não
apresentou marcação.
d) ( ) Trata-se de um resultado não reagente, uma vez que a área C não
apresentou marcação.

2 ELISA é uma metodologia utilizada para diferentes finalidades, como


a detecção viral, a medida de antígenos ou anticorpos e a dosagem
hormonal. Explique por que o ELISA indireto não é a melhor opção para
detecção de IgM.

3 Existem tipos diferentes de ELISA: direto, indireto e competitivo. Explique


o funcionamento da técnica de ELISA competitivo.

4 A técnica de ELISA, independentemente do tipo, apresenta diversas etapas


que precedem a geração de resultados que indicarão ou não a presença do
marcador investigado. Com relação ao teste de ELISA indireto, analise a
ordem dos compostos utilizados:

I- Antígeno de interesse.
II- Substrato.
III- Soro de paciente.
IV- Anticorpo secundário.

110
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) II – IV – I – III.
b) ( ) I – III – IV – II.
c) ( ) II – IV – I – III.
d) ( ) III – I – IV – II.

5 Sobre a hemaglutinação passiva, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Resultados reagentes são identificados pela presença de um botão


vermelho no fundo do poço.
b) ( ) São utilizados glóbulos brancos sensibilizados com fragmentos do
antígeno de interesse.
c) ( ) Resultados reagentes são identificados pela presença de um tapete
vermelho no fundo do poço.
d) ( ) São utilizados glóbulos brancos sensibilizados com fragmentos de
cromógeno associado ao antígeno de interesse.

111
112
REFERÊNCIAS
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Company; 2000.

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telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/155183/mod_resource/content/1/
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Estadual de Campinas, 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/
profile/Gabriel-Hornink/publication/259532883_Principais_parasitos_humanos_
de_transmissao_hidrica_ou_por_alimentos/links/0046352dcf26a7bd92000000/
Principais-parasitos-humanos-de-transmissao-hidrica-ou-por-alimentos.pdf.
Acesso em: 26 abr. 2021.

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Profissionais em Laboratórios de Saúde. EPSJV, 2015. (v. 4). Disponível em:
http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/cap2.pdf. Acesso em: 16 jan. 2021.

VOLTARELLI, J. C. Imunologia Clínica na Prática Médica. 7. ed. Rio de Janeiro:


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WALCHER, D. L.; COMPARSI, B.; PEDROSO, D. Toxoplasmose gestacional:


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toxoplasmose-gestacional-uma-revisao/. Acesso em: 12 jan. 2021.

115
116
UNIDADE 3 —

DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS
E AUTOIMUNES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender as principais doenças infecciosas e autoimunes;


• compreender as principais características e os testes imunológicos mais
utilizados no diagnóstico e no acompanhamento de sífilis, síndrome da
imunodeficiência adquirida (SIDA ou AIDS), hepatites virais, coronavírus
e lúpus eritematoso sistêmico.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – SÍFILIS

TÓPICO 2 – SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA


(SIDA OU AIDS)

TÓPICO 3 – HEPATITES VIRAIS

TÓPICO 4 – CORONAVÍRUS

TÓPICO 5 – LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

117
118
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

SÍFILIS

1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, apresentaremos as principais doenças infecciosas e
autoimunes, abordando suas principais características e os testes imunológicos
mais utilizados no diagnóstico e no acompanhamento dessas doenças. Neste
tópico, aprofundaremos nosso conhecimento a respeito da sífilis.

2 SÍFILIS
A sífilis é uma doença sistêmica que tem como agente etiológico o
Treponema pallidum. Esse microrganismo apresenta forma de espiroqueta e
característica microaeróbia (que cresce sob baixa tensão de oxigênio), com parede
celular semelhante às bactérias Gram-negativas. Apesar da semelhança, o T.
pallidum não se cora na coloração de Gram. São os componentes estruturais da
bactéria (Figura 1) (FERREIRA, 2013):

• Filamento axial: tem como função promover a movimentação do Treponema.


É composto por um feixe de fibrilas que formam uma espiral em torno do
Treponema, semelhante ao formato de um saca-rolhas.
• Membrana celular: estrutura composta por proteínas de ligação à penicilina,
lipoproteínas, glicolipídeos e cardiolipina. A cardiolipina é o principal antígeno
utilizado para investigações sorológicas não treponêmicas.
• Periplasma: composta por uma camada que, de acordo com Ferreira (2013, p.
5), “uma membrana interna ou citoplasmática que rodeia o corpo celular e uma
membrana externa protetora. Entre uma membrana e outra, encontra-se um
espaço periplasmático com uma pequena camada de peptidoglicano”. É nessa
região que o filamento axial fica aderido, o que confere o formato espiralado ao
Treponema. É a partir desta estrutura que o movimento em hélice é possível,
bem como sua capacidade de se deslocar em meios com maior viscosidade.
• Membrana externa: tem como função proteger o microrganismo do meio
externo, por revestir a superfície treponêmica (FERREIRA, 2013).

A identificação da bactéria por microscopia óptica não faz parte das


práticas laboratoriais de rotina, uma vez que é uma bactéria muito delgada, o
que dificulta sua visualização no setor de microbiologia. “A pequena diferença de
densidade entre o corpo e a parede do T. pallidum faz com que seja prejudicada
sua visualização à luz direta no microscópio. Cora-se fracamente; daí o nome
pálido, do latim pallidum” (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006, p. 113).
119
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

E
IMPORTANT

É sempre importante rever alguns conceitos para absorver o conteúdo com


maior clareza:

• Doença sistêmica: afetam diversos órgãos, não se restringindo ao prejuízo de um único


determinado órgão ou sistema.
• Bactéria Gram-negativa: são bactérias constituídas de uma parede de peptidoglicano
mais delgada, o que faz com que não retenham o cristal violeta ao longo da etapa de
descoloração, o que resulta na cor vermelha ao final da coloração de Gram.
• Microaeróbia: microrganismos que se desenvolvem em baixas tensões de oxigênio.

FIGURA 1 – COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL DO TREPONEMA PALLIDUM

FONTE: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2011/09/espiroquetas.html>. Acesso em: 8 fev. 2021.

O T. pallidum é um patógeno que tem como hospedeiro apenas os seres


humanos e a via de transmissão ocorre principalmente por contato sexual, porém
também pode ser causado por transmissão vertical, ou seja, da gestante para o
feto (quando não houver tratamento da gestante) (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006).

Ao ser transmitido, o T. pallidum penetra no organismo e atinge a corrente


sanguínea, sendo distribuído por diversos tecidos. Com essa dispersão, uma
resposta inflamatória e imunológica por parte do sistema imune é desencadeada
culminando nas manifestações clínicas que podem ser divididas em 3 estágio:

120
TÓPICO 1 — SÍFILIS

• Sífilis primária: nesse primeiro estágio as manifestações ocorrem de 10 a 90


dias após a infecção (período de incubação). Nessa etapa, o sinal clínico inicial
é a presença de lesão no local onde a bactéria penetrou no organismo. Essa
lesão, que contém muitas espiroquetas, recebe o nome de cancro duro (Figura
2), pois apresenta base endurecida e secreção, porém sem manifestação de dor.
Essa lesão desaparece espontaneamente em cerca de 15 dias (BRASIL, 2010).
• Sífilis secundária: quando a sífilis não é detectada e tratada já no estágio primário
as manifestações clínicas evoluem para o estágio secundário (Figura 3), em
decorrência da dispersão da bactéria por todos os órgãos. A partir desse estágio, a
presença de exantemas (roséolas sifilíticas), que consistem em erupções cutâneas
contendo treponemas, é a manifestação clínica característica (BRASIL, 2010).
• Sífilis latente: caso o paciente infectado siga sem detecção e tratamento da
sífilis, as manifestações clínicas cessam, configurando o estágio latente, o qual
é considerado recente durante o primeiro ano de infecção e, após esse período,
é considerada latente tardia (BRASIL, 2010).
• Sífilis terciária: o paciente apresenta um processo inflamatório acompanhado
da destruição de tecido ósseo, estabelecimento da sífilis cardiovascular
(manifestada pela aortite, uma inflamação na artéria aorta) e da neurossífilis
(que pode se manifestar por prejuízos auditivos, motores, visuais, depressão,
perda de memória e dor) (BRASIL, 2010). É um estágio considerado grave que
pode se manifestar de 10 a 30 anos após a infecção.

A sífilis terciária se manifesta na forma de inflamação e destruição


de tecidos e ossos. É caracterizada por formação de gomas sifilíticas,
tumorações amolecidas vistas na pele e nas membranas mucosas,
que também podem acometer qualquer parte do corpo, inclusive no
esqueleto ósseo (BRASIL, 2010, p. 22).

As manifestações clínicas estão presentes em três estágios, porém, a


patologia em si apresenta quatro estágios, sendo um deles latente e com poucos
ou nenhum sintoma ou sinal clínico.

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE CANCRO DURO CARACTERÍSTICO DE


SÍFILIS PRIMÁRIA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/syphilitic-ulcers-ulcus-durum-
close-view-465543644>. Acesso em: 8 fev. 2021.

121
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

NTE
INTERESSA

Nos últimos anos, as solicitações de provas para diagnóstico de sífilis


aumentaram consideravelmente. Isso se deveu ao aumento no número de casos
apresentados no Brasil. Por isso, sugerimos a leitura da matéria Sífilis volta a ser uma
epidemia no Brasil, apesar do tratamento rápido, de 2017, publicada na Globo News.

Uma doença que não escolhe idade, sexo nem classe social. É assim que especialistas
descrevem a sífilis, transmitida pela bactéria treponema pallidum, principalmente por
via sexual, mas também da mãe para o filho, durante a gravidez. A falta de tratamento
pode causar cegueira, demência e más formações, no caso de fetos. Mas infectologistas
destacam que o tratamento é rápido, assim como o diagnóstico, que pode ser feito com
um teste rápido, com resultado pronto em dez minutos. No caso da sífilis primária, uma
única dose de penicilina benzatina intramuscular já o suficiente para a cura. O aumento dos
casos da doença preocupa especialistas. O Dr. Alexandre Chieppe, subsecretário Estadual
de Vigilância em Saúde, afirma que, desde 2011, vem sendo observado um aumento de
casos de sífilis congênita e do número de casos na população geral. Desde o início dos
anos 2000, a comunidade médica internacional já vinha alertando para o aumento do
número de casos da doença. No Brasil, especialmente nos grandes centros urbanos, a
infecção dava sinais de avanço rápido e preocupava as autoridades. Tanto que, em meados
de 2007, a ONG do Rio de Janeiro “Centro de Educação Sexual”, junto com outros parceiros,
lançou uma campanha de prevenção, estrelada por artistas como Glória Pires e o marido
Orlando Moraes.

FONTE: <http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2017/04/sifilis-volta-ser-uma-epidemia-no-
brasil-apesar-do-tratamento-rapido.html>. Acesso em: 20 fev. 2021.

FIGURA 3 – ERUPÇÕES CUTÂNEAS CARACTERÍSTICAS DA SÍFILIS SECUNDÁRIA

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/secondary-stage-syphilis-sores-lesions-
on-1024557601>. Acesso em: 5 fev. 2021.

122
TÓPICO 1 — SÍFILIS

3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E


ACOMPANHAMENTO DA SÍFILIS
Inicialmente, apresentaremos as características do T. pallidum e as
manifestações clínicas de acordo com o estágio de evolução da doença. Contudo,
se realizarmos provas imunológicas para detectar o treponema, qual a importância
de conhecer todas estas características da doença?

Conforme a doença evolui, cada fase tem um grupo de provas imunológicas


próprias para diagnóstico da sífilis. De posse do conhecimento dessas diferenças,
o médico avalia o paciente para, então, compreender quais testes são ideais para
investigar a suspeita médica.

As provas imunológicas utilizadas para detecção de sífilis dividem-se


em dois tipos: ensaios treponêmicos e não treponêmicos. A seguir, veremos as
diferenças entre essas provas e o significado clínico de cada uma.

3.1 TESTES NÃO TREPONÊMICOS


Como o próprio nome indica, nos ensaios não treponêmicos, os anticorpos
detectados não são específicos para o T. pallidum. É possível encontrar na literatura
esses testes classificados como anticardiolipínicos, ou seja, anticorpos produzidos
contra moléculas chamadas cardiolipinas. As cardiolipinas são fosfolipídios
que apresentam carga negativa e, em mamíferos, estão presentes na membrana
mitocondrial. Em condições patológicas, essas moléculas estão presentes em células
apoptóticas, na ativação plaquetária e em complicações durante a gestação. Contudo,
também são encontrados na sífilis (RAND; WOLGAST, 2018).

Os testes não treponêmicos estão amplamente disponíveis nos


laboratórios, são de baixo custo e possibilitam o monitoramento
da resposta ao tratamento. Como desvantagens, possuem baixa
sensibilidade na sífilis primária e também na sífilis latente e tardia,
além de produzirem resultados falso-positivos, devido à ocorrência
de outras enfermidades que causam degeneração celular (BRASIL,
2016, p. 23).

E
IMPORTANT

Assista ao seguinte vídeo, desenvolvido pelo Telelab, sobre testes não


treponêmicos: https://www.youtube.com/watch?v=nAWWmxLM9vg. Trata-se de um
material importante que visa a facilitar a compreensão desses novos conhecimentos e
revisa o conceito de efeito prozona, conhecimento essencial para evitar a obtenção de
resultados falso-negativos.

123
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

Assim, quando aplicamos testes não treponêmicos para investigação de


sífilis, é importante ter em mente que resultados reagentes (positivos) indicam a
presença de anticorpos anticardiolipínicos, que também podem ser encontrados
em outras condições clínicas. Apesar de inespecíficos, são testes importantes para
acompanhamento da eficácia do tratamento para sífilis, sendo de fácil realização
e baixo custo. Isso ocorre pela observação, em casos de tratamentos efetivos, da
redução na quantidade de anticorpos anticardiolipínicos no soro de pacientes. Os
testes não treponêmicos podem ser de dois tipos:

• Qualitativos: aplicados a triagem de amostras, indicando apenas se a amostra


apresenta resultado reagente ou não.
• Quantitativos: testes que determinam a quantidade de anticorpos presentes
em amostras e auxiliam principalmente no acompanhamento da evolução do
paciente frente ao tratamento.

Pelo resultado de um teste não treponêmico quantitativo, como o paciente


está respondendo a um tratamento? Ocorre que, nestes tipos de testes, o médico
tem acesso à titulação de anticorpos anticardiolipínicos da amostra do paciente.
A titulação corresponde à maior diluição em que a amostra apresentou resultado
reagente (NADAL; FRAMIL, 2007).

E
IMPORTANT

A titulação descrita é realizada a partir de diluições seriadas, assunto abordado


nas unidades anteriores.

Assim, quanto maiores os títulos de anticorpos anticardiolipínicos que a


amostra do paciente apresenta, maior a atividade da doença em casos em que o
tratamento ainda não foi aplicado ao paciente; já em pacientes em tratamento,
indica que a resposta ao tratamento não é suficiente para combater a bactéria. Por
outro lado, baixas titulações em pacientes em tratamento indicam que o paciente
está respondendo bem ao medicamento (BRASIL, 2010).

A seguir, abordaremos as principais metodologias de testes imunológicos


não treponêmicos no que diz respeito à interpretação dos resultados. Os princípios
das metodologias apresentadas aqui serão discutidos no Tópico 5.

124
TÓPICO 1 — SÍFILIS

3.1.1 Floculação: VDRL


O VDRL (sigla do inglês Venereal Disease Research Laboratory) é um dos
principais testes não treponêmicos para diagnóstico e acompanhamento da
sífilis, uma vez que é possível verificar a presença de anticorpos anticardiolipina
presentes nas amostras de soro ou líquor antes e depois do tratamento. Trata-se de
uma técnica de floculação em que, de acordo com o Grupo Wiener Laboratórios
(2000, p. 4): “As ‘reaginas’ que se encontram presentes em indivíduos infectados
por T. pallidum, são detectadas no soro pela reação com um antígeno cardiolipínico
purificado e estabilizado. Se a amostra contiver reagina, esta se unirá ao antígeno,
produzindo uma floculação visível ao microscópio”.

Para que a reação de floculação ocorra, diferentes etapas devem ser


seguidas. A Figura 4 apresenta os passos que devem ser executados para triagem
inicial de amostras em que o soro do paciente é testado puro e na diluição ⅛,
chamada de VDRL qualitativo. Caso a avaliação qualitativa da amostra analisada
apresente resultado reagente pura e/ou diluída, a técnica de VDRL quantitativo
deverá ser executada (Figura 5) com o objetivo de identificar a maior titulação
de anticorpos anticardiolipínicos presentes na amostra analisada (BRASIL, 2016).

Após tratamentos bem-sucedidos, o VDRL pode se tornar não reagente, ou,


após redução progressiva dos títulos (durante acompanhamento do tratamento),
ainda apresentar, mesmo tempos depois do tratamento, baixas titulações.
Contudo, as permanências dessas baixas titulações não necessariamente indicam
que a infecção segue ativa ou que o tratamento não seja efetivo, mas, sim, que
existe uma cicatriz sorológica. Assim, um tratamento é considerado eficaz quando
um apresenta redução das titulações em comparação àquelas presentes antes do
tratamento. Em geral, se após a conclusão do tratamento o paciente apresentar
titulações de 1/2 e 1/4, acompanhados de testes treponêmicos não reagentes,
trata-se de uma cicatriz sorológica (BRASIL, 2010).

125
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FIGURA 4 – ETAPAS DA TÉCNICA DE VDRL QUALITATIVA

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22193/mod_resource/content/1/
S%C3%ADfilis%20-%20Manual%20Aula%202.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2021.

126
TÓPICO 1 — SÍFILIS

E
IMPORTANT

Para ilustrar todas as etapas, assista ao vídeo VDRL – O que todo biomédico
precisa saber, que mostra o passo a passo da técnica. Utilize esse material como instrumento
facilitador para visualização e compreensão dos passos previamente descritos. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=G_mcKz03LoA.

Em pacientes com a doença ativa, os resultados reagentes de VDRL


apresentam titulações altas, a partir de 1/16, entre a 2ª e a 4ª semana após o
surgimento do cancro duro, sendo necessário o início do tratamento. Além disso,
pacientes pós-tratamento que apresentam titulações de VDRL ainda maiores
que as mencionadas anteriormente têm indicação para repetição de tratamento
(BRASIL, 2010).

FIGURA 5 – ETAPAS DA TÉCNICA DE VDRL QUANTITATIVA

127
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22193/mod_resource/content/1/
S%C3%ADfilis%20-%20Manual%20Aula%202.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2021.

É importante lembrarmos que, por se tratar de um teste que não está


detectando a bactéria em si, ele não é específico para sífilis. Assim, existem causas
transitórias ou permanentes que podem gerar resultados falso-positivos, como
mostra o Quadro 1.

QUADRO 1 – SITUAÇÕES QUE PODEM GERAR RESULTADOS FALSO-POSITIVOS NOS


TESTES NÃO TREPONÊMICOS

Situações que podem gerar resultados falso Situações que podem gerar resultados
positivos transitórios falso-positivos permanentes
• Portadores de lúpus eritematoso sistêmico;
• Algumas infecções; • Síndrome antifosfolipídica e outras
• Após vacinações; colagenoses;
• Uso concomitante de medicamentos; • Hepatites virais crônica;
• Após transfusões de hemoderivados; • Usuários de drogas ilícitas injetáveis;
• Gravidez; • Hanseníase;
• Em idosos. • Malária;
• Em idosos.

FONTE: Brasil (2016, p. 23)

Assim, para saber quando o resultado reagente realmente indica a doença,


a Portaria n° 3.242, de 30 de dezembro de 2011, estabelece o fluxo de testes para
sífilis que devem ser realizados e indica quais são necessários para compreender
se o resultado reagente corresponde ou não a sífilis, entre outras recomendações.

128
TÓPICO 1 — SÍFILIS

Além dos casos de resultados falso-positivos, existe também a possibilidade


de resultados falso-negativos – anteriormente, abordamos o fenômeno prozona,
que pode gerar resultados falso-negativos diante de altas concentrações de
anticorpos em amostras não diluídas. Desse modo:

Nos testes não treponêmicos, especialmente na sífilis secundária, quando


há grande produção de anticorpos, podem ocorrer resultados falso-
negativos em decorrência do fenômeno de prozona. Esse fenômeno
consiste na ausência de reatividade aparente no teste realizado em uma
amostra não diluída que, embora contenha anticorpos anticardiolipina,
apresenta resultado não reagente quando é testada. Esse fenômeno
decorre da relação desproporcional entre as quantidades de antígenos
e anticorpos presentes na reação não treponêmica, gerando resultados
falso-negativos (BRASIL, 2016, p. 20).

Por isso, quando realizamos a técnica de VDRL na rotina laboratorial, é


indispensável que a amostra seja testada tanto pura quanto diluída 1/8, sendo a
testagem em diluição necessária para evitar resultados falso-negativos pelo efeito
prozona (BRASIL, 2016).

3.1.2 Ensaio RPR


O ensaio RPR (sigla do inglês Rapid Test Reagin) é uma variação do VDRL,
porém tem como diferencial não necessitar de microscópio para visualização do
resultado reagente. Isso é possível porque o kit reagente contém partículas de
carvão na sua composição, o que torna a floculação visível a olho nu (Figura 6).
A interpretação dos resultados deste teste é semelhante à apresentada no VDRL
(BRASIL, 2016).

FIGURA 6 – DEMONSTRAÇÃO DA VISUALIZAÇÃO DE RESULTADO NA TÉCNICA DE RPR

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/stanbio-rpr-test-kit-add-
serum-463825115> Acesso em: 26 abr. 2021.

129
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

3.2 TESTES TREPONÊMICOS


Os testes treponêmicos são provas qualitativas que detectam anticorpos
antitreponêmicos, ou seja, anticorpos produzidos especificamente contra o
T. pallidum. Essa detecção ocorre pela presença de antígenos treponêmicos nas
técnicas utilizadas. Por detectar anticorpos, resultados reagentes são indicativos
de que, em dado momento, o paciente foi exposto ao T. pallidum, o que não
necessariamente indica infecção ativa. São testes realizados em amostras que
apresentaram resultados reagentes em testes não treponêmicos, conforme
indicado no Manual Técnico para Diagnóstico da Sífilis (BRASIL, 2016).

3.2.1 Imunofluorescência indireta – FTA-Abs


O teste FTA-Abs (sigla do inglês, Fluorescent Treponemal Antibody Absorption
Test) é uma metodologia considerada padrão-ouro para sífilis, ou seja, é a melhor
opção de exame, aquela que apresenta menor probabilidade de erro. Trata-se de
uma técnica de imunofluorescência indireta (Figura 7) que “utiliza T. pallidum (da
cepa Nichols) fixado em áreas demarcadas de lâminas de vidro em que são feitas as
reações” (BRASIL, 2016), composta por várias etapas:

A amostra de soro utilizada deve ser inativada, por 30 minutos,


a 56 °C. As diluições são feitas em tubo. A amostra é diluída a 1/5,
misturando-se 1 parte de soro e 4 partes de solução absorvente ou
sorbent – extrato de cultura de treponema Reiter não patogênico.
Essa diluição é feita para remover anticorpos treponêmicos comuns à
maioria dos treponemas não patogênicos que podem estar presentes
no soro. A amostra diluída é colocada sobre a demarcação da lâmina.
Se a amostra contiver anticorpos antitreponema pallidum, estes vão se
ligar aos treponemas fixados na lâmina.Após a incubação da reação e
a lavagem da lâmina para remover anticorpos e outros componentes
da amostra que não se ligaram à reação, é adicionado o conjugado
fluorescente – soro anti-imunoglobulina humana conjugado ao
isotiocianato de fluoresceína). Se na amostra houver anticorpos
ligados aos treponemas fixados na lâmina, o conjugado vai se ligar
aos anticorpos, tornando os treponemas fluorescentes. Assim, estes
poderão ser vistos, em microscopia de fluorescência, emitindo luz
verde-maçã (BRASIL, 2016, p. 41).

E
IMPORTANT

Para ilustrar melhor a técnica de FTA-Abs, assista ao vídeo “Imunofluorescência


Indireta no FTA-Abs”, no qual os recursos visuais facilitam a compreensão dos princípios da
técnica. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=yc_GEJBOIr0.

130
TÓPICO 1 — SÍFILIS

Em pacientes com sífilis em estágio primário, é a primeira prova sorológica


que apresenta resultado reagente. Além disso, é um teste utilizado em casos em que
as manifestações clínicas são compatíveis com sífilis, porém apresenta resultado não
reagente em provas não treponêmicas, situação possível em pacientes em estágio de
sífilis primária, latente recente ou tardia (BRASIL, 2010).

FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UMA REAÇÃO DE IMUNOFLUORESCÊNCIA


INDIRETA – FTA-ABS

Anticorpo Conjugado
treponêmico fluorescente
da amostra

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22197/mod_resource/content/1/
S%C3%ADfilis%20-%20Manual%20Aula%206.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2021.

Essa técnica pode apresentar três tipos de resultados: reagente, não


reagente e inconclusivo. No caso de resultados inconclusivos, é importante
atentar para possíveis problemas relacionados à qualidade dos reagentes
utilizados, bem como se a amostra que apresentou tal resultado foi acondicionada
e manipulada corretamente. As particularidades relacionadas aos interferentes
técnicos relacionados a essa metodologia, que culminam em resultados
inconclusivos, serão discutidos no Tópico 5 (BRASIL, 2016). No caso de resultados
reagentes, é importante ter em mente que se trata da investigação de anticorpos
antitreponêmicos. Assim, se o paciente tiver sido infectado pelo Treponema, o
organismo produzirá anticorpos para combatê-lo, os quais continuam detectáveis
mesmo após a sua cura. Dessa forma, uma vez que o paciente tenha resultado
FTA-Abs reagente, novas testagens utilizando essa metodologia seguirão
apresentando resultado reagente, uma vez que se trata de uma cicatriz imunológica
(BRASIL, 2016).

131
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

3.2.2 Teste treponêmico imunoenzimático – ELISA


Nesse tipo de teste, antígenos do Treponema estão fixados a uma fase sólida
(placa de poliestireno) e ligam-se aos anticorpos antitreponêmicos presentes na
amostra do paciente. Seguindo a mesma lógica do FTA-Abs, por ser um teste
que detecta anticorpos específicos para Treponema, uma vez que o resultado
seja reagente, o paciente seguirá apresentando esse mesmo resultado ao longo
de sua vida. Dessa maneira, não é um teste aplicável para acompanhamento de
tratamento ou diagnóstico de reinfecção (BRASIL, 2016).

E
IMPORTANT

Deve-se observar que, ao tratar do teste imunoenzimático para Treponema,


utilizamos a palavra reinfecção, ou seja, mesmo após a cura, o paciente ainda corre risco de
novas infecções. Isso ocorre porque, apesar da produção de anticorpos antitreponêmicos
na primeira infecção, essa bactéria tem mecanismos de evasão (mecanismos que tornam
um patógeno menos detectável pelo sistema imune), como a baixa capacidade que as
proteínas de superfície tem de gerar resposta imune (baixa imunogenicidade) e a variação
de antígenos expressos pelas lipoproteínas (moléculas compostas por lipídios e proteínas)
(BRAGA, 2018).

De acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico e acompanhamento


aplicado à sífilis deve seguir fluxogramas de trabalho, a partir das metodologias
previamente descritas:

• Triagem não treponêmica confirmada por teste treponêmico (Figura 8) –


fluxograma no qual a amostra é, inicialmente, testada utilizando provas não
treponêmicas, como o VDRL. Casos em que o teste inicial não treponêmico
apresenta resultado não reagente, tanto amostra pura quanto diluída 1/8, o
fluxograma se encerra nessa etapa. Caso o paciente apresente manifestações
clínicas compatíveis com sífilis, nesse caso, a equipe médica deve solicitar
novamente novo exame dentro de 30 dias após a data da primeira coleta,
para excluir da hipótese diagnóstica a sífilis. Caso a amostra seja testada pura
e diluída e apresente resultado reagente para o teste não treponêmico, esse
resultado deverá ser confirmado por um teste treponêmico. Tanto o resultado
do teste não treponêmico quanto o teste treponêmico devem constar em laudo
(BRASIL, 2016).

132
TÓPICO 1 — SÍFILIS

FIGURA 8 – FLUXOGRAMA DE TESTES DE TRIAGEM NÃO TREPONÊMICO CONFIRMADO


POR TESTE TREPONÊMICO

Amostra

Realizar Teste
não
Treponêmico

Resultado Realizar Teste


sim
Reagente? Treponêmico

não
Amostra
Resultado
sim Reagente
Reagente?
para Sífilis
Amostra
Não Reagente
para Sífilis não

Amostra
Não Reagente
para Sífilis

FONTE: Brasil (2016, p. 34)

• Diagnóstico laboratorial reverso de sífilis baseado em testes imunológicos


automatizados: nesse fluxo de trabalho (Figura 9), a amostra é processada
primeiro por testes automatizados treponêmicos, em que o resultado inicial
determina as próximas etapas. Se o primeiro teste apresentar resultado não
reagente, não é necessária mais nenhuma etapa. Caso apresente resultado
reagente, ele deve ser seguido de um teste não treponêmico para confirmação
diagnóstica (CASTEJON et al., 2019).

133
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FIGURA 9 – FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL REVERSO DE SÍFILIS BASEADO


EM TESTES IMUNOLÓGICOS AUTOMATIZADOS

Amostra

Realizar Teste
Treponêmico

Realizar Teste
Resultado
sim não
Reagente?
Treponêmico

não
Amostra
Resultado sim Reagente
Amostra Reagente?
para Sífilis
Não Reagente
para Sífilis
não

Realizar Teste
Treponêmico*

Amostra
Resultado
sim Reagente
Reagente?
para Sífilis

não

Amostra
Não Reagente
para Sífilis

FONTE: Brasil (2016, p. 36)

A combinação dos resultados de testes não treponêmicos e treponêmicos


obtidos nos fluxos de trabalho previamente descritos têm diferentes interpretações
para equipes médicas. O Quadro 2 indica as combinações e os significados clínicos
possíveis com base nos resultados obtidos pelos exames imunológicos.

134
TÓPICO 1 — SÍFILIS

QUADRO 2 – INTERPRETAÇÃO DE PROVAS SOROLÓGICAS PARA SÍFILIS

VDRL FTA-Abs Interpretação


Doença ativa, exceto quando o resultado de paciente em
Titulação 1/16 Reagente tratamento apresentar redução em relação às titulações
anteriores
Titulação 1/1,
Reagente Cicatriz imunológica ou doença terciária ou latência tardia
1/2, 1/4
Reagente Não Reagente Falso-positivo
Cicatriz imunológica, independente se após tratamento ou
Não reagente Reagente
cura espontânea

FONTE: Adaptado de <https://www.drakeillafreitas.com.br/como-fazer-o-diagnostico-da-sifilis/>.


Acesso em: 12 fev. 2021.

135
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Sífilis é uma doença sistêmica que tem como agente etiológico o Treponema
pallidum, uma bactéria com parede celular semelhante às Gram-negativas que
apresenta forma de espiroqueta microaeróbia. Os seres humanos são os únicos
hospedeiros dessa bactéria.

• A estrutura do Treponema pallidum é composta por: filamento axial (promove a


movimentação do Treponema), membrana celular (composta por lipoproteínas,
glicolipídios e cardiolipina, sendo este o principal antígeno investigado em
testes não treponêmicos), periplasma (dá o formato espiralado ao Treponema) e
membrana externa (protege o microrganismo).

• Treponema é transmitido por contato sexual, mas também pode ser transmitido
por transmissão vertical e contato com secreções.

• As manifestações clínicas podem ser divididas em três estágios: sífilis primária


(manifestação clínica é a presença de lesão no local em que a bactéria invade)
sífilis secundária (dispersão do Treponema pallidum por todos os órgãos com
formação de exantemas), sífilis latente (manifestações clínicas cessam) e sífilis
terciária (processo inflamatório acompanhado de prejuízo no tecido ósseo,
cardiovascular e do sistema nervoso).

• A detecção de sífilis é feita por provas imunológicas de dois tipos: treponêmicos


(provas qualitativas que detectam anticorpos antitreponêmicos, ou seja,
anticorpos específicos para o Treponema) e não treponêmicos (não são específicos
para o Treponema, investiga a presença de anticorpos anticardiolipínicos).

• FTA-Abs é a metodologia treponêmica considerada padrão-ouro para sífilis


pois apresenta menor probabilidade de erro.

• Teste treponêmico imunoenzimático ELISA utiliza antígenos do Treponema


fixados a uma fase sólida que se ligam aos anticorpos antitreponêmicos
presentes na amostra do paciente.

• Os fluxos diagnósticos para sífilis compreendem principalmente: triagem


não treponêmica confirmada por teste treponêmico e diagnóstico laboratorial
reverso de sífilis baseado em testes imunológicos automatizados.

136
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o Treponema pallidum, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Trata-se de uma bactéria Gram-negativa em formato de espiroqueta e


microaerófila.
b) ( ) Indivíduos infectados pelo Treponema pallidum apresentam como
sintoma inicial uma ferida no local em que ocorreu a infecção.
c) ( ) A bactéria apresenta mecanismos de evasão de alta imunogenicidade,
que permitem novas infecções em indivíduos já curados.
d) ( ) Com a evolução do quadro infeccioso sem tratamento, o Treponema
pode gerar prejuízos neurológicos.

2 Na técnica de VDRL, é indispensável a realização de testes com a amostra


pura e com a amostra diluída na proporção 1/8. Justifique essa afirmação.

3 A respeito dos testes treponêmicos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) São testes comumente utilizados para acompanhamento do tratamento


para sífilis.
b) ( ) São testes confirmatórios, que pesquisam anticorpos específicos para
Treponema pallidum.
c) ( ) São testes de triagem inespecíficos para Treponema pallidum.
d) ( ) São os testes mais indicados para investigar reinfecções.

4 Por que são utilizados testes não treponêmicos para sífilis, apesar de sua
inespecificidade? Justifique sua resposta.

5 A sífilis é uma doença infecciosa que apresenta diferentes estágios,


caracterizados por diferentes manifestações clínicas. Sobre os estágios
dessa doença, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Os dois primeiros estágios da doença são considerados os de maior


chance de contágio.
b) ( ) O terceiro estágio pode ser assintomático.
c) ( ) Na sífilis secundária, a pele é acometida pelo surgimento de manchas.
d) ( ) Na sífilis terciária, é possível observar a formação do cancro duro,
correspondente a uma ferida indolor que surge no local da inoculação
da bactéria.

137
138
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)

1 INTRODUÇÃO
No início da década de 1980, um dos primeiros registros do que, ao
final do mesmo ano, seria definido pelo Center for Disease Control (CDC) como a
síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA ou, do inglês, AIDS), resultante
da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), foi:

Recentemente, tratamos vários homossexuais jovens, previamente


sadios, com múltiplos episódios de pneumonia por Pneumocystis
carinii, candidíase extensa de mucosa e infecções virais graves. As
manifestações clínicas e os estudos da imunidade celular indicaram um
grave defeito da função das células T. Esta síndrome representa uma
deficiência imunológica potencialmente transmissível (GOTTLIEB et al.,
1981, p. 444).

Como podemos perceber, inicialmente, foi relatada como uma condição


clínica restrita a indivíduos homossexuais do sexo masculino. Essa conclusão
inicial estigmatizou a AIDS como uma doença relacionada a indivíduos
homossexuais do sexo masculino e transmitida via contato sexual nos anos 1980
(CDC, 2020).

Contudo, com a evolução dos conhecimentos adquiridos sobre a AIDS,


essa informação inicial foi desmistificada. Isso porque foi observado que mulheres,
recém-nascidos filhos de gestantes com HIV e indivíduos que, independentemente
da orientação sexual, compartilhavam agulhas para uso de drogas de abuso ou
receberam doação de sangue contaminado também poderiam ser infectados pelo
vírus HIV. Assim, foi possível compreender que, diferentemente das conclusões
iniciais sobre a doença, além da via sexual a transmissão do HIV (Figura 10),
poderia ocorrer por via vertical (mãe para filho) e via sanguínea (CDC, 2020).

139
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FIGURA 10 – VIAS DE TRANSMISSÃO DO VÍRUS HIV

FONTE: <https://www.vihda.pt/saber-sobre-o-hiv/como-se-transmite/>. Acesso em: 20 fev. 2021.

O HIV é um vírus que infecta o sistema imunológico dos seres humanos.


Quando essa infecção não é devidamente tratada, ela passa a expressar um
quadro conhecido como AIDS. Até o momento, trata-se de uma condição para
a qual não existe cura, assim, uma vez infectado, o paciente permanece com
o vírus por toda sua vida. Contudo, com os avanços no desenvolvimento de
estratégias terapêuticas, pacientes infectados podem viver de modo saudável e
com maior qualidade de vida atualmente (FIOCRUZ; HOAGLAND, 2013).

A seguir, compreenderemos os mecanismos de infecção desse vírus, e


como ele desencadeia a AIDS. Ao longo deste tópico, abordaremos também as
metodologias utilizadas para detecção e acompanhamento dos pacientes que
vivem com HIV.

2 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV)


O HIV foi originado de um vírus presente em chimpanzés da África
Central, chamado de vírus da imunodeficiência símia (SIV), e é provável que
tenha sido transmitido aos humanos pelo contato com a carne de caça desses
animais, bem como com o seu sangue infectado. O HIV é um retrovírus (vírus
que armazena suas informações em formato de ácido ribonucleico-RNA e
possui a enzima transcriptase reversa) pertencente à família Lentiviridae. Esta
subfamília de vírus tem como características um longo período de incubação
antes do estabelecimento de sinais e sintomas relacionados à doença, supressão
imunológica e infecção de células sanguíneas e do sistema nervoso (FIOCRUZ;
HOAGLAND, 2013).

140
TÓPICO 2 — SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)

E
IMPORTANT

É importante ressaltarmos que existem dois tipos de HIV: o HIV tipo 1 e o HIV
tipo 2. O primeiro é um retrovírus mais disperso por todo o mundo, enquanto o segundo é
o principal causador de infecções por HIV na região central da África.

Ao infectar um indivíduo, o HIV liga-se ao receptor CD4+, que está


presente na membrana plasmática dos linfócitos T auxiliares (também conhecidos
como linfócitos T-CD4+). A partir daí, ele utiliza a célula infectada para se
reproduzir. A replicação do HIV tem início com a liberação do RNA viral dentro
da célula infectada. Esse RNA é transcrito por uma enzima chamada transcriptase
reversa, responsável por transcrever o RNA viral em DNA pró-viral. Uma vez
sintetizado, o DNA pró-viral entra no núcleo da célula infectada e se integra
ao DNA celular com o auxílio da enzima viral integrase. Posteriormente, a
célula passa a produzir o RNA e as proteínas do HIV, que são importantes para
a formação de novos virions (partícula viral completa que está estruturalmente
intacta e é infecciosa) ainda imaturos. Os virions imaturos são convertidos em
vírus HIV maduros, por ação das enzimas virais proteases, rompem a célula ao
qual se originaram e invadem outra célula do hospedeiro, e, assim, o ciclo se
reinicia (Figura 11). Ao utilizar os componentes celulares para sua replicação, o
HIV destrói progressivamente os linfócitos. Os linfócitos atuam na defesa contra
microrganismos patogênicos e células cancerígenas, por isso, com a redução dos
linfócitos, o indivíduo infectado passa a ficar vulnerável a infecções oportunistas
(infecções por microrganismos que, diante da vulnerabilidade imunológica do
paciente, conseguem causar infecções generalizadas) (BRASIL, 2013).

E
IMPORTANT

Muitas vezes, é desafiador compreender alguns processos biológicos, e um


exemplo é o processo de replicação do HIV. Assim, assista à animação a seguir, que pode
auxiliar no entendimento das etapas da replicação do HIV: https://www.youtube.com/
watch?v=ZQ9amIhyZ48.

141
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FIGURA 11 – CICLO DE REPLICAÇÃO DO HIV

FONTE: <http://twixar.me/TBtm>. Acesso em: 21 fev. 2021.

Quando a infecção progride de tal forma que a quantidade de linfócitos


fica muito baixa, diferentes manifestações clínicas passam a surgir configurando
a AIDS. Esta progressão que ocorre entre a infecção e o estabelecimento da AIDS
pode ser dividida nas seguintes fases:

• Infecção aguda: trata-se da fase de incubação, que corresponde ao período


entre o contágio e a manifestação de sinais e sintomas. Essa fase dura de 3 a
6 semanas, e por apresentar sintomas leves e similares ao de uma gripe, não
recebem a devida atenção por parte do paciente.
• Fase assintomática (ou latência clínica): o vírus se replica intensamente,
porém o sistema imune por ainda apresentar número considerável de glóbulos
brancos, consegue controlar a replicação viral, de modo que o paciente não
manifesta sintomas. Essa fase pode perdurar por até 10 anos, e o indivíduo
infectado pode transmitir o vírus para outras pessoas. Próximo do fim desse
período, a carga viral (quantidade de cópias do vírus presente em determinado
fluido corporal) passa a aumentar, enquanto os linfócitos T-CD4 apresentam
redução em sua quantidade.

142
TÓPICO 2 — SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)

• Fase sintomática inicial: por conta da redução das células CD4+, o paciente
infectado se torna imunologicamente vulnerável, o que favorece o aparecimento
de outras doenças, quando os linfócitos T-CD4+ apresentam concentrações
abaixo de 500 células/mm3 (em condições normais, os indivíduos apresentam
entre 500 e 1200 células/mm3 de linfócitos T-CD4+). Entre as manifestações
clínicas possíveis, temos: tuberculose pulmonar, herpes-zoster, candidíase
genital de repetição e dermatoses.
• AIDS: um paciente é enquadrado nessa fase quando a contagem de linfócitos
T-CD4+ é inferior a 200 células/mm3. Nessa etapa, a redução drástica das células
de defesa favorece o aparecimento de doenças oportunistas como sarcoma
de kaposi (Figura 12), caquexia, neurocriptococose, neurotoxoplasmose,
candidíase, tuberculose extrapulmonar, diarreia crônica, entre outras (FURRER;
FUX, 2002).

FIGURA 12 – PACIENTES COM CANDIDÍASE (A) E SARCOMA DE KAPOSI (B)

FONTE: <https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/dst/sarcoma-kaposi/>.
Acesso em: 20 fev. 2021.

NTE
INTERESSA

Síndrome é um termo que tem origem do grego “syndromé”, que significa


reunião. Assim, ao se deparar com o termo síndrome na área da saúde, isso significa
que o paciente apresenta um conjunto de sinais e sintomas inespecíficos, mas que, em
conjunto, configuram uma determinada síndrome.

143
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

É importante ter clareza quanto à diferença de alguns termos relacionados a


este tópico: uma pessoa que vive com HIV não é uma pessoa que necessariamente
está com AIDS. Em especial, pessoas que vivem com HIV e fazem uso de
terapia antiretroviral (medicamentos responsáveis por inibir a replicação do
HIV e, por conseguinte, reduzir o prejuízo ao sistema imunológico), e realizam
o acompanhamento médico corretamente, apresentam melhora na qualidade de
vida, uma vez que apresentam melhora na disposição, energia e apetite e menores
chances do desenvolvimento de doenças oportunistas (UNAIDS, 2017).

3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E


ACOMPANHAMENTO DO HIV/AIDS
Nesse momento, compreenderemos como é realizado o diagnóstico da
infecção por HIV e o acompanhamento de pacientes que vivem com o vírus a
partir das provas sorológicas presentes no laboratório clínico, bem como a
interpretação dos resultados de cada metodologia e sua aplicação clínica.

NOTA

Os aspectos técnicos das metodologias ainda não discutidas nesta disciplina


serão abordados no Tópico 5.

As metodologias e fluxos de trabalho aplicados ao diagnóstico do HIV


foram implantados na rotina laboratorial com base nas orientações técnicas
disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, a partir do Manual Técnico para o
Diagnóstico da Infecção pelo HIV, aprovado pela Portaria SVS/MS n° 29, de
17 de dezembro de 2013. Essa portaria deve ser seguida pelos profissionais
envolvidos no diagnóstico de HIV tanto nos setores públicos quanto privados.

A construção deste manual foi pensada considerando cenários de maior


e menor disponibilidade de recursos técnicos. Desse modo, existem seis fluxos
de trabalho possíveis preconizados pelo manual (apresentados na forma de
fluxogramas), com o objetivo de contemplar as diferentes condições de trabalho
dos laboratórios brasileiros. Assim, quando um laboratório objetiva implantar
uma rotina para diagnóstico de HIV, esse manual deve ser consultado e, dentro
dos recursos disponíveis, um dos fluxogramas disponíveis deve ser selecionado
para nortear os fluxos de trabalho.

144
TÓPICO 2 — SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)

O Ministério da Saúde consegue delinear esses fluxogramas propostos a


partir da Classificação de Fiebig et al. (2003), uma vez que, conforme descrito por
Souza (2017, p. 42):

Estudos de Fiebig et al. apontam o período de reatividade de cada


metodologia de testagem após o evento de infecção, servindo como
base para a construção dos fluxogramas. O sistema proposto estabelece
seis estágios na infecção recente pelo HIV, de acordo com o padrão
de reatividade a marcadores específicos (RNA viral, antígeno, p.24,
ELISA e Western Blot), que surgirão nos ensaios de detecção ao longo
da progressão da infecção viral. Tal sistema é a base para a tomada de
decisão sobre quais metodologias são mais adequadas em contextos
distintos da infecção pela sintomatologia e histórico do paciente.

Os testes utilizados para detecção do HIV são divididos em gerações.


Quanto maior a geração do ensaio, maior a capacidade de detecção do vírus em
infecções recentes por HIV (BRASIL, 2018):

• Primeira geração: são imunoensaios de formato indireto, que detectam a presença


de IgG para HIV, e que apresenta janela de soroconversão (surgimento do anticorpo
no soro) de 35 a 45 dias. Por detectar IgG, é considerado um teste pouco específico e
menos sensível em comparação com as gerações seguintes, o que fez com que esta
geração de testes entrasse em desuso nos laboratórios clínicos.
• Segunda geração: também um imunoensaio indireto (metodologia já
apresentada na Unidade 2), porém sua vantagem consiste no uso de fragmentos
de proteínas do HIV. A opção por este antígeno está relacionada à presença de
epítopos imunodominantes (regiões antigênicas presente em certas proteínas
do HIV pelo qual a resposta humoral tem maior afinidade). Assim, quanto
mais epítopos imunodominantes, maior a sensibilidade do ensaio.
• Terceira geração: são ensaios do tipo imunométricos, também conhecidos
como sanduíche, que permitem a detecção de anticorpos anti-HIV IgM e anti-
HIV anti-IgG simultaneamente. A capacidade de detecção de IgM deste tipo
de teste confere maior sensibilidade em relação à primeira e segunda geração.
Nestes testes, a janela de soroconversão é de 20 a 30 dias.
• Quarta geração: testes que detectam tanto o antígeno p24 presente no vírus
e ainda detectam os anticorpos específicos para HIV. Nesses testes, o tempo
médio de janela sorológica é de 15 dias.

E
IMPORTANT

Dada a importância das metodologias de quarta geração, assista ao vídeo a seguir,


que aborda esses testes, demonstrando como este tipo de ELISA é realizado, bem como
outras características importantes: https://www.youtube.com/watch?v=cE6IL4H8HJE.

145
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

Assim, os imunoensaios mais comumente utilizados nas rotinas para HIV


são os ensaios imunoenzimáticos (ELISA). De modo geral, o princípio de ensaios
sorológicos para HIV não está voltado para detectar o vírus, mas, sim, detectar a
presença de anticorpos específicos para HIV. Um lembrete importante é que a
produção de anticorpos específicos precede a presença do patógeno investigado.
Dessa forma, somente pacientes infectados pelo vírus HIV, por exemplo, poderão
apresentar anticorpos para esse vírus.

NOTA

Antígeno p24 é uma proteína que compõe a cápsula protetora que guarda os
genes e enzima viral, chamada de capsídeo, na zona central do vírus.

ANTÍGENO P24

FONTE: <http://docplayer.com.br/11719439-Francisco-andre-marques-de-oliveira-cariri.html>.
Acesso em: 27 fev. 2021.

146
TÓPICO 2 — SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)

Os Fluxogramas 1, 2 e 3 são os preferenciais por combinarem os testes


que permitem agilizar o diagnóstico da infecção, sendo também os
que apresentam maior resolutividade e, por esses motivos, o DIAHV
os indica como sendo os de primeira escolha nas situações nas quais
está recomendada sua aplicação (BRASIL, 2018, p. 66).

Conforme citado anteriormente, a execução das provas sorológicas


aplicadas ao diagnóstico de HIV deve seguir os fluxos de trabalho indicados pelo
Ministério da Saúde. Os principais fluxos e seu respectivo funcionamento são:

• Dois testes rápidos realizados em sequência com amostras de sangue: fluxo


de trabalho que utiliza dois testes rápidos (Figura 13), que devem detectar
antígenos diferentes, em amostras de sangue de punção digital (gotas de sangue
extraídas da ponta dos dedos) ou punção venosa. Contudo, um resultado só
é válido em testes rápidos quando a faixa controle é marcada. Assim, quando
aparece “Válido?” ao longo do fluxograma, estamos tratando de um possível
problema no teste de teste. Testes que apresentarem resultado que não é válido
tem indicação de nova coleta por punção venosa e processamento de acordo
com fluxogramas que incluem outras metodologias. Por outro lado, casos em
que o teste apresentar resultado válido não reagente, o fluxograma de trabalho
se encerra nessa etapa. Entretanto, pacientes que apresentam resultado
válido reagente para HIV devem ser testados com um segundo teste rápido.
Se o resultado neste segundo teste rápido apresentar resultado reagente e a
amostra utilizada por originada de punção digital, devemos solicitar coleta de
segunda amostra para repetir e com isso confirmar o resultado. Já em casos em
que o segundo teste apresenta resultado não reagente, também é necessária
realização de coleta de nova amostra para comparação com o primeiro teste
rápido utilizado (BRASIL, 2018).

147
FIGURA 13 – DOIS TESTES RÁPIDOS REALIZADOS EM SEQUÊNCIA COM AMOSTRAS DE SANGUE
Amostra
Realizar Teste
Rápido 1 (TR1)
Válido? sim
não
Amostra
Resultado Realizar Teste Resultado
sim Válido? sim sim Reagente
Repetir Teste Reagente? Rápido 2 (TR2) Reagente?
Rápido 1 (TR1)1 para HIV2,3,5

148
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

não não
não
Amostra
Não Reagente Repetir Teste Primeira
Válido? sim sim
para HIV4 Rápido 2 (TR2)1 discordância?
não
Coletar uma amostra por punção venosa e
encaminhá-la para ser testada com um dos não Válido? sim
fluxogramas definidos para laboratório.
FONTE: Brasil (2018, p. 67)
TÓPICO 2 — SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA OU AIDS)

• Um teste rápido utilizando fluido oral seguido por um teste rápido utilizando
sangue: neste fluxo de trabalho, também são utilizados dois testes rápidos
diferentes, em que um deles utilizamos amostra de fluido oral enquanto o
segundo é realizado com amostra de sangue (Figura 14). Sua aplicação é
indicada principalmente em ações e campanhas de testagem que ocorrem fora
dos estabelecimentos de saúde. Este fluxograma é semelhante ao anterior, com
a diferença de que um teste é realizado com fluído oral (BRASIL, 2018).
FIGURA 14 – DOIS TESTES RÁPIDOS: UM UTILIZANDO A AMOSTRA DE FLUÍDO ORAL E OUTRO A AMOSTRA DE SANGUE

para HIV2,4
Reagente
Amostra

sim
sim

discordância?
Reagente?
Resultado

Primeira
não
sim

sim

Válido?
Rápido 2 (TR2)1
Repetir Teste
Válido?

não

FONTE: Brasil (2018, p. 74)


Rápido 2 (TR2)
Realizar Teste

não
(Sangue)
Amostra

encaminhá-la para ser testada com um dos


Coletar uma amostra por punção venosa e

fluxogramas definidos para laboratório.


sim

Não Reagente
para HIV3
Reagente?
Resultado

Amostra
não
sim

sim
Rápido 1 (TR1-FO)1
Rápido 1 (TR1-FO)
Realizar Teste

Repetir Teste
Oral - FO)
Amostra

Válido?

Válido?
(Fluido

não

não

149
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

• Aplicação de um imunoensaio de quarta geração confirmado por teste


molecular como metodologia complementar: nesse fluxo de trabalho, é
utilizada metodologia de imunoensaio (ELISA) de 4ª geração que, frente a
resultados não reagentes, o resultado já pode ser liberado (Figura 15). Contudo,
amostras que apresentam resultado reagente devem ser confirmadas utilizando
teste molecular para contagem de carga viral. Quando a carga viral presente
apresentar resultado igual ou superior a 5.000 cópias do vírus/mL de sangue
a amostra é considerada reagente para HIV. Caso a avaliação da carga viral
apresente resultado inferior a 5.000 cópias do vírus/mL, a amostra deverá ser
testada por metodologia de Western Blot, que, ao apresentar resultado reagente,
confirma que a amostra é reagente para HIV e, caso apresente resultado não
reagente, deverá ser laudada como resultado inconclusivo, com indicação para
nova coleta de amostra 1 mês da data da primeira coleta (BRASIL, 2018).

FIGURA 15 – ENSAIOS DE QUARTA GERAÇÃO UTILIZANDO TESTE MOLECULAR COMO


METODOLOGIA COMPLEMENTAR

Amostra
(soro ou
plasma)

Realizar IE 4aG
(T1)

Amostra
Resultado não Não Reagente
Reagente?
para HIV1

sim

Realizar Teste
Molecular
(T2)

Resultado Realizar Teste


≥ 5.000 não WB ou IB ou IBR
cópias/ml? (T3)

sim

Amostra Reagente Resultado Amostra


não
para HIV2 Reagente? Indeterminada1

sim

FONTE: Brasil (2018, p. 80)

150
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) ataca o sistema imunológico.


Quando essa infecção não é tratada, passa a expressar um quadro conhecido
como síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA ou AIDS).

• HIV é um retrovírus (vírus que armazena suas informações em formato de ácido


ribonucleico) pertencente à família Lentiviridae. Esta subfamília de vírus tem
como características um longo período de incubação antes do estabelecimento
de sintomas relacionados à doença, à supressão imunológica e à infecção de
células sanguíneas e nervosas.

• A progressão da infecção ocorre de tal forma que a quantidade de leucócitos


fica muito baixa. A partir daí, diferentes manifestações clínicas passam a surgir
configurando a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).

• O princípio de ensaios sorológicos para HIV é voltado para detectar a presença


de anticorpos específicos para o HIV.

• As metodologias e fluxos de trabalho aplicados ao diagnóstico do HIV


são implantados na rotina laboratorial seguindo orientações técnicas
disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, a partir do Manual Técnico para o
Diagnóstico da Infecção pelo HIV, aprovado pela Portaria SVS/MS n° 29/2013.

• Entre os principais fluxos de trabalho para diagnóstico de HIV, podemos


destacar: dois testes rápidos realizados em sequência com amostras de sangue;
um teste rápido utilizando fluido oral seguido por um teste rápido utilizando
sangue; e a aplicação de um imunoensaio de quarta geração confirmado por
teste molecular como metodologia complementar.

151
AUTOATIVIDADE

1 Explique a diferença entre HIV e AIDS.

2 Sobre o vírus HIV, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Trata-se de uma doença que culmina com o estabelecimento de prejuízo


hepático crônico.
b) ( ) É sinônimo da síndrome da imunodeficiência adquirida.
c) ( ) É responsável pelo estabelecimento da AIDS.
d) ( ) É transmitida exclusivamente por via sexual.

3 A detecção de HIV é realizada por provas sorológicas classificadas em


gerações. A respeito das gerações dessas provas sorológicas, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Ensaios de primeira geração são do tipo imunométrico e detectam


anticorpos anti-HIV IgM e anti-HIV anti-IgG simultaneamente.
b) ( ) Ensaios de segunda geração são do tipo sanduíche direto, sendo
considerados pouco específicos e menos sensíveis em comparação com
as gerações seguintes.
c) ( ) Ensaios de terceira geração apresentam 15 dias de janela de
soroconversão.
d) ( ) Ensaios de quarta geração detectam o antígeno p24 e os anticorpos
específicos para HIV.

4 Sobre a evolução clínica que caracteriza o estabelecimento da AIDS, assinale


a alternativa CORRETA:

a) ( ) O aumento progressivo de cópias dos linfócitos T-CD4+ precede o


aparecimento de sintomas.
b) ( ) O aumento progressivo da carga viral é o evento que precede o
aparecimento de sintomas.
c) ( ) A redução progressiva da carga viral é o evento que precede o
aparecimento de sintomas.
d) ( ) A manifestação de sintomas precede as alterações nos marcadores de
carga viral.

5 Explique a importância do antígeno p24 relacionado ao HIV.

152
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

HEPATITES VIRAIS

1 INTRODUÇÃO
“Em todo o mundo, 290 milhões de pessoas vivem com hepatite viral e
desconhecem que estão contaminadas”, esta afirmação é do Ministério da Saúde
e destaca a importância de diagnosticar pessoas que vivem com hepatite viral e
desconhecem esse fato. A seguir, conheceremos mais sobre as hepatites virais,
bem como as metodologias utilizadas para diagnóstico e o significado clínico dos
resultados obtidos.

2 HEPATITES VIRAIS
Hepatite é um termo que vem da palavra grega Hepar, que significa
fígado. Associada ao sufixo “ite”, que refere a inflamação, indica que se trata de
um processo inflamatório localizado no fígado. Este quadro inflamatório hepático
pode ter diferentes causas, como:

• doenças metabólicas;
• doenças autoimunes;
• uso excessivo de álcool;
• substâncias tóxicas;
• medicamentos;
• infecção viral.

Nesse primeiro momento, abordaremos hepatites originadas por infecções


virais. Trata-se de uma doença crônica causada por vírus hepatotrópicos, ou seja,
vírus que tem maior afinidade pelos hepatócitos, células que formam o tecido
hepático. Dividem-se em cinco tipos, nomeados de acordo com as cinco primeiras
letras do alfabeto:

• Vírus da hepatite A (HAV): vírus de RNA com capsídeos formados pelo


antígenos HAVAg (Figura 16). É encontrado no sangue e nas fezes de
indivíduos contaminados e tem como meio de transmissão a via oral-fecal.
Assim, dissemina-se com facilidade quando um indivíduo ingere alimentos
contaminados ou por contato próximo com pessoas contaminadas. Os sintomas
da hepatite A incluem náusea, icterícia, dor estomacal e fadiga, e podem durar
por até 2 meses. A vacinação é a melhor forma de prevenir a contaminação por
HAV (BRASIL, 2015).

153
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FIGURA 16 – VÍRUS DA HEPATITE A

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22180/mod_resource/content/3/
Hepatites-Manual-Aula-1.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

• Vírus da hepatite B (HBV): vírus de DNA que é revestido com duas camadas,
compostas por diferentes antígenos (Figura 17). A camada interna composto
por HBcAg, que representa o antígeno core (do inglês, núcleo) e o antígeno
HBeAg, conhecido como antígeno “e”, que é um produto do gene do cerne
viral. Já a camada externa (envelope) é composta por HBsAg, que corresponde
ao antígeno de superfície desse vírus. É transmitido por contato com fluídos
corporais contaminados. Indivíduos com infecção recente por HBV nem
sempre apresentam sintomas. Contudo, quando existem sintomas nessa fase, o
indivíduo pode manifestar fadiga, icterícia, dor estomacal, náusea e redução do
apetite. A evolução do processo inflamatório desencadeado por esse vírus
pode ocorrer de duas formas: como uma doença de curto prazo ou como
uma infecção crônica com complicações clínicas como câncer de fígado ou
cirrose (lesão hepática crônica que formam tecido cicatricial gerando
insuficiência hepática). A vacinação é a principal via de prevenção desta
infecção (BRASIL, 2015).

FIGURA 17 – VÍRUS DA HEPATITE B

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22180/mod_resource/content/3/
Hepatites-Manual-Aula-1.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

154
TÓPICO 3 — HEPATITES VIRAIS

• Vírus da hepatite C (HCV): vírus de RNA com capsídeo e um envoltório


externo, composto por lipoproteínas (Figura 18). É disseminado por via
sanguínea, sexual e instrumentos de manicure não esterilizados. A maior parte
dos indivíduos infectados não apresenta sintomas por longos períodos após a
infecção. Contudo, quando se dá a manifestação de sintomas, frequentemente
é indicativo de problemas hepáticos em estágio avançado, apresentando
complicações como cirrose e câncer de fígado. Não existe vacina própria para
esse vírus. Dessa forma, evitar o compartilhamento de agulhas, instrumentos
de manicure e atividade e usar preservativo são hábitos que previnem a
contaminação por este vírus (BRASIL, 2015).

FIGURA 18 – VÍRUS DA HEPATITE C

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22180/mod_resource/content/3/
Hepatites-Manual-Aula-1.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

• Vírus da hepatite D (HDV): vírus responsável pela hepatite delta, que possui
envoltório composto por HBsAg, que é o mesmo antígeno de superfície presente
no HBV (Figura 19). O HDV depende deste antígeno para completar seu ciclo
biológico e sua capacidade de invadir a célula e se replicar (FONSECA, 2002).
Assim, a infecção por HDV depende de coinfecção (infecção simultânea) ou
superinfecção, que é quando ocorre a infecção por HDV após o indivíduo ter
sido contaminado por HBV. A transmissão acontece quando sangue ou fluidos
corporais contaminados entram em contato com o indivíduo. A contar pela
relação de dependência que o HDV tem com o HBV, a vacinação para HBV é
uma via de prevenção de infecção por HDV (FONSECA, 2002).

155
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

FIGURA 19 – VÍRUS DA HEPATITE D

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22180/mod_resource/content/3/
Hepatites-Manual-Aula-1.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

• Vírus da hepatite E (HEV): vírus de RNA com capsídeo formado pelo antígeno
HEVAg, que pode ser encontrado nas fezes de indivíduos infectados (Figura
20). Assim, a infecção se dá pelo consumo de alimentos e água contaminados.
Pode ocorrer de modo assintomático, mas em casos sintomáticos, as
manifestações clínicas são semelhantes àquelas presentes em infecções por
HAV. Manifestações clínicas de perfil crônico por HEV são raras e ocorrem em
pacientes com sistema imune comprometido (CDC, 2020).

FIGURA 20 – VÍRUS DA HEPATITE E

FONTE: <https://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22180/mod_resource/content/3/
Hepatites-Manual-Aula-1.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

156
TÓPICO 3 — HEPATITES VIRAIS

3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E


ACOMPANHAMENTO DAS HEPATITES VIRAIS
Inicialmente, apresentaremos as características de cada um dos tipos de
vírus da hepatite, pois cada vírus tem seus antígenos. É a partir das particularidades
antigênicas de cada um deles que o laboratório clínico se pauta para investigar
infecções causadas por esses vírus.

A seguir, conheceremos os marcadores sorológicos aplicados ao


diagnóstico das hepatites virais, sendo importante compreender que a confirmação
das hipóteses clínicas relacionadas a esses vírus depende da combinação desses
marcadores.

O diagnóstico das hepatites virais é baseado na detecção dos marcadores


presentes no sangue, soro, plasma ou fluido oral da pessoa infectada,
por meio de imunoensaios, e/ou na detecção do ácido nucleico viral,
empregando técnicas de biologia molecular. O constante avanço
tecnológico na área de diagnóstico permitiu o desenvolvimento de
técnicas avançadas de imunoensaios, incluindo o de fluxo lateral,
que são atualmente empregadas na fabricação de testes rápidos (TR).
Os TR são de fácil execução, não exigem infraestrutura laboratorial
para a sua realização e podem gerar resultados em até 30 minutos,
permitindo ampliar o acesso ao diagnóstico (BRASIL, 2015, p. 13).

Nas hepatites virais, os fluxos de análise da amostra são diferentes frentes,


resultados de triagem não reagentes e reagentes (BRASIL, 2015):

• Testes rápidos de triagem com resultado não reagente para hepatite: resultado
liberado com base nesse único teste aplicado. A repetição dessa análise é
sugerida apenas em casos em que o paciente apresenta manifestações clínicas
que reforçam a suspeita de hepatite, após 30 dias da primeira análise realizada.
A recomendação de repetição após 1 mês da primeira análise tem como objetivo
eliminar a possibilidade de o paciente estar passando pelo período de janela
diagnóstica, que corresponde ao tempo entre a infecção e o período de detecção do
marcador infeccioso investigado.
• Testes de triagem com resultado reagente para hepatite: testes de triagem
reagente para hepatite devem ser acompanhados de outro teste confirmatório.
A aplicação deste segundo teste é realizada com o objetivo de aumentar o valor
preditivo positivo (VPP), que corresponde à probabilidade de o indivíduo
avaliado de fato estar doente (BRASIL, 2015).

157
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

3.1 HEPATITE A
Causada pelo vírus HAV, sua detecção ocorre por sorologia IgM e IgG
para HAV. De 5 a 10 dias após infecção, o IgM anti-HAV passa a ser detectável,
permanecendo, assim, por até meio ano após o momento da infecção. Após o
término da fase aguda, é possível que este marcador se torne indetectável. No caso
dos anticorpos IgG, uma vez reagente, este anticorpo permanecerá detectável ao
longo de toda vida do paciente. Sua aplicabilidade está associada principalmente
ao acompanhamento epidemiológico da doença (BRASIL, 2015).

3.2 HEPATITE B
O antígeno e os anticorpos utilizados para diagnóstico de hepatite B
permitem compreender qual o estágio da infecção. Inicialmente, a triagem é
realizada pelos seguintes marcadores (BRASIL, 2015):

• HbsAg: trata-se do antígeno de superfície presente no HBV, detectável na


corrente sanguínea após o 1° mês de infecção. É um antígeno presente tanto na
infecção aguda quanto na infecção crônica, também conhecido como antígeno
Austrália.
• Anti-Hbc: trata-se do anticorpo da classe IgG contra o antígeno presente no
capsídeo ou core do vírus da hepatite B. Este anticorpo é passível de detecção
por toda vida.

Além dos marcadores utilizados para triagem, existem ainda outros


marcadores utilizados no diagnóstico da hepatite B (BRASIL, 2015):

• Anti-HBc: trata-se de um anticorpo da classe IgM produzido contra o antígeno


do capsídeo ou core do HVB, presente na fase aguda (recente) da infecção.
• Anti-HBs: classe de anticorpos produzidos em resposta ao antígeno de
superfície do HVB, presente em pacientes que foram imunizados contra este
vírus por vacinação.
• HBeAg: presente após o primeiro mês de infecção, trata-se de um marcador
que indica que o paciente apresenta alta infectividade devido à presença de
replicação viral intensa. Quando presente em estágios crônicos da hepatite
indica que a doença está em atividade.
• Anti-HBe: trata-se de anticorpo produzido contra o antígeno “e” presente no
HVB. De modo geral, é indicador de bom desfecho para o paciente, uma vez
que sinaliza, em hepatites agudas, resolução da infecção ou menor chance
de evolução da hepatite para cirrose, pela atividade reduzida da doença, em
pacientes crônicos.

Muitas vezes, a investigação sorológica para hepatite B inclui a maior


parte dos marcadores discutidos anteriormente. Para facilitar o entendimento do
significado clínico das combinações possíveis de resultados, o Quadro 3 apresenta as
interpretações possíveis para os achados sorológicos.

158
TÓPICO 3 — HEPATITES VIRAIS

QUADRO 3 – INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS PARA HEPATITE B

Hepatite B: Interpretação dos resultados sorológicos


Anti-
Anti- Anti- Anti-
Interpretação HBsAg HBeAg HBc
HBc IgG HBe HBs
IgM
Incubação + - - - - -
Fase aguda + + + + - -
+ + - + - -
Fase aguda final ou
+ - - + + -
hepatite crônica
+ - - + - -
Início da fase convalescente - - + + - -
Imunidade,
- - - + + +
infecção passada recente
Imunidade,
- - - + - + ou -
infecção passada
Imunidade,
- - - - - +
resposta vacinal

FONTE: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2013/11/marcadores-sorologicos-da-
hepatite-b.html>. Acesso em: 15 fev. 2021.

3.3 HEPATITE C
O diagnóstico da hepatite C é realizado pela investigação de anticorpos
anti-HCV como metodologia de triagem. A presença de resultado reagente indica
que, em algum momento, o paciente teve contato com o vírus. Esse marcador,
contudo, não é capaz de especificar em qual fase (aguda ou crônica) da infecção o
paciente se encontra (BRASIL, 2015).

3.4 HEPATITE D
A investigação de infecção por HVD é realizada pela dosagem de anticorpos
totais anti-HVD (IgM e IgG juntos). É importante lembrar que, nesse caso, trata-
se de um vírus que depende da presença do HVB para se reproduzir, seja via
superinfecção ou coinfecção (BRASIL, 2015). A interpretação dos marcadores para
hepatite B, em conjunto com os resultados da dosagem de anticorpos totais para
HVD, permite diferenciar se o quadro do paciente é resultado de superinfecção ou
coinfecção, conforme mostram os Quadros 4 e 5.

159
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

QUADRO 4 – RESULTADOS COMPATÍVEIS COM SUPERINFECÇÃO

Marcador Resultado
HbsAg Reagente
anti-HBc Reagente
anti-HBc IgM Não reagente
anti-HDV Reagente
antiHBs Não reagente

FONTE: A autora

QUADRO 5 – RESULTADOS COMPATÍVEIS COM COINFECÇÃO

Marcador Resultado
HbsAg Reagente
anti-HBc Reagente
anti-HBc IgM Reagente
anti-HDV Reagente
antiHBs Não reagente

FONTE: A autora

3.5 HEPATITE E
A infecção pelo HVE é possível pela pesquisa de anticorpos anti-HVE IgM
e anticorpos anti-HVE totais no soro do paciente, cuja presença de anticorpos IgM
indica infecção recente e a presença de anticorpos totais indica exposição prévia ao
HVE (BRASIL, 2015).

160
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Hepatites virais são um processo inflamatório localizado no fígado causada


por infecções virais.

• Hepatites virais são causadas por vírus hepatotrópicos (que têm maior
afinidade com o tecido hepático) que se dividem em cinco tipos: A, B, C, D e E.

• Cada um dos tipos virais apresenta antígenos diferentes, que, no laboratório


clínico, são utilizados para detecção em amostras de sangue, soro, plasma ou
fluido oral do indivíduo infectada

• A detecção de hepatite A ocorre por sorologia IgM e IgG para HAV.

• A detecção de hepatite B ocorre por marcadores de triagem como HbsAg e


anti-Hbc e marcadores diagnósticos como anti-Hbc, anti-Hbs, HBeAg, anti-
HBe

• A detecção de hepatite C é realizado pela investigação de anticorpos anti-HCV


como metodologia de triagem, que indica contato com o vírus em dado momento

• A detecção da hepatite D deve ser avaliada juntamente com marcadores


de hepatite B, uma vez que permite discernir se existe uma coinfecção ou
superinfecção.

• A infecção pelo HVE é possível pela pesquisa de anticorpos anti-HVE IgM


(infecção recente) e anticorpos anti-HVE totais (exposição prévia ao HVE)

161
AUTOATIVIDADE

1 Com relação ao marcador indicativo de imunidade vacinal para hepatite B,


assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Anti-HBs.
b) ( ) Anti-HBc.
c) ( ) Anti-HVA.
d) ( ) Anti-HVB.

2 Explique quais componentes permitem a detecção dos diferentes tipos de


hepatites.

3 Explique a relação entre hepatite B e hepatite D.

4 Considerando os marcadores de hepatite B aguda com a interpretação de


cada marcador, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- HBsAg.
II- Anti-HBc IgM.
III- Anti-HBc total.
IV- HBeAg.
V- Anti-HBe.
VI- Anti-HBs.

( ) Marcador de infecção recente, presente no soro até 8 meses após a infecção.


( ) Anticorpo que indica imunidade ao HBV.
( ) Sua presença indica estágio de alta infecciosidade.
( ) Representa contato prévio com o vírus. Está presente nas infecções agudas
indicado pela presença de IgM e crônicas pela presença de IgG.
( ) Presente após desaparecimento do HBeAg, indica que a fase replicativa
foi encerrada.
( ) Primeiro marcador a aparecer no curso da infecção pelo HBV.

Assinale a alternativa que corresponde a sequência CORRETA:


a) ( ) I – V – VI – IV – II – III.
b) ( ) III – II – VI – V – I – IV.
c) ( ) II – VI – IV – III – V – I.
d) ( ) IV – I – III – VI – II – V.

162
5 Paciente do sexo feminino, 36 anos de idade, procura banco de sangue para
fazer doação de sangue. Os exames de triagem utilizados para avaliar se a
paciente está apta a doação de sangue indicam alterações na sorologia para
hepatite B. Com relação ao padrão de resultados em que o sangue doado
poderá ser utilizado sem oferecer riscos para o paciente que receberá a
transfusão sanguínea, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Anti-HBc total (-); HBsAg (-); Anti-HBs (+).


b) ( ) Anti-HBc total (-); HBsAg (+); Anti-HBs (-).
c) ( ) Anti-HBc total (-); HBsAg (-); Anti-HBs (-).
d) ( ) Anti-HBc total (+); HBsAg (-); Anti-HBs (+).

163
164
TÓPICO 4 —
UNIDADE 3

CORONAVÍRUS

1 INTRODUÇÃO
No final de 2019, a China foi marcada pela presença de uma pneumonia
de origem desconhecida. Assim, em 31 de dezembro, as festividades de ano novo
vieram acompanhadas da emissão de um alerta para Organização Mundial da
Saúde (OMS) sobre essa situação. A partir daí, teve início uma investigação para
descobrir o agente causador dessa pneumonia que, em poucos dias, apontou ser
um novo tipo de coronavírus. Esse relato sucinto é apenas uma fração do que, em
11 de março de 2020, seria declarado pelo Dr. Tedros Adhanom, diretor geral da
OMS, como uma pandemia causada pelo novo coronavírus.

A seguir, compreenderemos as características desses vírus e como o


laboratório clínico pode auxiliar no diagnóstico desses agentes causadores de
doenças.

2 CORONAVÍRUS
Coronavírus (COVs) é um termo que se refere à vasta família de vírus
Coronaviridae, que compreende os gêneros Alpha coronavírus, Beta coronavírus,
Gama coronavírus e Delta coronavírus (MCBRIDE; VAN ZYL; FIELDING, 2014).
Esses vírus estão presentes no mundo todo e são comuns também em diferentes
espécies animais, entre eles, os seres humanos. Nos seres humanos, esses
vírus acometem principalmente o trato respiratório superior, resultando em
manifestações de diferentes gravidades, como resfriados (em casos brandos)
até infecções pulmonares graves, conhecidas como síndrome respiratória aguda
grave. Ainda sobre as características da família Coronaviridae, Gruber (2020, p. 1)
aponta que:

As partículas virais são esféricas, com cerca de 125 nm de diâmetro


e revestidas por um envelope fosfolipídico. O genoma de RNA de
fita simples e senso positivo contém entre 26 e 32 quilobases e está
associado a proteínas, formando o nucleocapsídeo. As partículas
apresentam projeções que emanam do envelope em forma de
espículas, formadas por trímeros da proteína S (spike protein). Essas
projeções geram um aspecto de coroa, daí a denominação coronavírus.
A proteína S é responsável pela adesão do vírus nas células do
hospedeiro e participa do processo de interiorização, no qual ocorre
a fusão entre as membranas viral e da célula e a entrada do vírus
no citoplasma.

165
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

E
IMPORTANT

Em se tratando de material genômico que tem senso (sentido) positivo,


estamos falando de um vírus que apresenta muita agilidade na geração de novas cópias,
uma vez que o material genômico se presta diretamente a realização da síntese proteica.

O mecanismo de infecção (Figura 21) pelo coronavírus tem início com a


forte ligação da proteína Spike (glicoproteína em formato de espícula) ao receptor
da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), presente nas células. Com a
entrada do vírus na célula humana, as informações presentes no material genético
viral passam a ser traduzidas, resultando na formação de proteínas capazes de
replicar o material genético do vírus, como a RNA polimerase (SANAR, 2020).

Como resultado da ação da RNA polimerase, são produzidas fitas de


RNA que constituirão, após ligação com proteínas virais, as partículas virais. A
conclusão do processo de montagem viral ocorrerá no complexo de Golgi e no
retículo endoplasmático da célula infectada. Uma vez terminada a montagem,
as partículas virais deixam a célula e passam a infectar novas células e repetir as
etapas previamente descritas (SANAR, 2020).

Entre os coronavírus citados anteriormente, os Betacoronavírus serão nosso


principal objeto de estudos, dado o potencial letal de espécies como SARS-CoV-1
e SARS-CoV-2, que serão discutidos a seguir.

E
IMPORTANT

A ECA2 é uma enzima que integra o sistema renina-angiotensina e está


presente em pneumócitos (células epiteliais dos pulmões).

166
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

FIGURA 21 – MECANISMO DE REPLICAÇÃO VIRAL DO CORONAVÍRUS

FONTE: <http://cienciaviva.org.br/index.php/2021/01/01/corridavacinascov2/>.
Acesso em: 25 fev. 2021.

2.1 SARS-COV-1
Desde o início dos anos 2000, os coronavírus têm apresentado novas cepas
infectantes tanto em populações humanas quanto animais. Em 2003, uma dessas
cepas de coronavírus foi identificada como causadora da epidemia de Síndrome
Respiratória Aguda Grave, comumente identificada pela sigla SARS-CoV-1
(do inglês, acute respiratory syndrome coronavirus), responsável pela morte de 10 a
50% das pessoas infectadas, com porcentagem variando conforme a faixa etária
(GRAHAM; DONALDSON; BARIC, 2013).

Acredita-se que a origem desse vírus tenha ocorrido pela ingestão de


morcegos contaminados, uma vez que se trata de um animal que é reservatório
para diversos vírus filogeneticamente semelhantes àqueles coronavírus que já
sabemos serem patogênicos em seres humanos. Essa característica faz com que
exista alta probabilidade desses vírus infectarem seres humanos, resultando em
emergências de saúde pública de escala internacional, como a ocorrida no final de
2019 (GRAHAM; DONALDSON; BARIC, 2013).

167
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

O estabelecimento da SARS é bastante complexo, com diferentes fatores


que resultam em lesões graves nos pulmões e disseminação viral em outros órgãos.
A afinidade do SARS-CoV-1 com pneumócitos, em decorrência da presença dos
receptores ECA2, já citados anteriormente, resulta em dano alveolar difuso (GU;
KORTEWEG, 2007).

O desenvolvimento da SARS é caracterizado pela perda sequencial


da integridade da membrana capilar alveolar, acúmulo de líquido no
espaço extravascular e perda de volume de troca gasosa pulmonar, mais
proeminente nas áreas dependentes dos pulmões. As anormalidades
resultantes de áreas com baixa relação ventilação/perfusão e atelectasia ou
consolidação franca conduzem a manifestações clínicas de insuficiência
respiratória – hipoxemia arterial e insuficiência mecânica do pulmão
(BORGES, 2018, p. 17).

O SARS-CoV-1 apresenta um período de incubação de 2 a 10 dias, a partir


do qual iniciam-se as manifestações clínicas mais frequentes, como:

• mal-estar;
• tosse seca;
• febre persistente;
• calafrio;
• dor muscular;
• dor de cabeça;
• dispneia (dificuldade de respirar).

Além desses sintomas, alguns pacientes podem apresentar, com menor


frequência, coriza, dor de garganta, náuseas, taquipneia (aumento da frequência
de ciclos respiratórios), taquicardia (aumento da frequência cardíaca), diarreia e
vômito (HUI; WONG; WANG, 2003).

É importante ressaltar que, apesar do nome referir a uma síndrome


respiratória, outros sistemas do nosso corpo podem ser significativamente
prejudicados. Dessa forma, existe algo em comum entre diferentes órgãos que
faz com que eles sejam afetados.

Ocorre que células tubulares renais, células miocárdicas, neurônios, células


do sistema imune e células da mucosa intestinal, por exemplo, também possuem
o receptor ECA2, que seria a “porta de entrada” do SARS-CoV-1 nas células.
Assim, todas as células que apresentam esse receptor se tornam alvos primários
desse agente infeccioso. Um dos efeitos observados nessa ligação foi a significativa
elevação na concentração de citocinas pró-inflamatórias, que são proteínas
produzidas pelas células infectadas que promovem o estabelecimento de um
processo inflamatório. Sendo assim, é possível compreender que esse ambiente
pró-inflamatório, desencadeado inicialmente para combater a infecção por SARS-
CoV-1, também acaba por prejudicar o tecido infectado (HE et al., 2006).

168
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

Nesse contexto, a presença de citocinas, como fator de necrose tumoral


alfa (TNF-α), por exemplo, pode induzir à apoptose pneumócitos, e mediar a
formação de fibrose no tecido pulmonar. Com a presença desse vírus na corrente
sanguínea, ocorre infecção em outros órgãos que contêm receptores ECA2, o que
intensifica rapidamente o processo inflamatório, gerando disfunção em diferentes
órgãos (HE et al., 2006).

2.2 SARS-COV-2
Segundo o fragmento da matéria da BBC News Brasil, que apresenta uma
resumida linha do tempo de uma pandemia que chegou ao Brasil em fevereiro de
2020, o agente infeccioso dessa doença é o SARS-CoV-2, conhecido como o novo
coronavírus (CEVIK et al., 2020).

As primeiras notícias sobre uma “pneumonia misteriosa” que estava


afetando algumas partes da China começaram a surgir na mídia
internacional no final de dezembro de 2019. A informação de que a
doença era causada por um novo tipo de coronavírus foi transmitida
por cientistas chineses e divulgada a partir do dia 8 de janeiro de 2020.
Rapidamente, a cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, foi
identificada como epicentro da crise sanitária e teve seus aeroportos,
portos, ferrovias e rodovias bloqueadas, numa tentativa de conter
a disseminação do agente infeccioso. Mas já era tarde demais: logo
apareceram casos em outras partes da China e o agente infeccioso foi
identificado em países próximos, como Japão e Tailândia. Os episódios
de covid-19 se espalharam rapidamente para outros continentes e
foram detectados na Europa e na América do Norte. Portanto, havia
a certeza quase absoluta que o vírus chegaria em algum momento ao
Brasil ainda no primeiro trimestre de 2020(BBC NEWS BRASIL, 2021).

Apesar de pertencer à mesma família do SARS-CoV-1, apresentar


similaridades genéticas, e a preferência de ambos por interagir com o receptor
ECA2 para invadir as células, existem diferenças que permitiram que a pandemia
causada pelo SARS-CoV-2 perdurasse e resultasse em um maior número de
mortes. Inicialmente, podemos destacar o número efetivo de reprodução (R)
maior que o identificado no SARS-CoV-1, o que explica sua maior eficiência para
se disseminar (WÖLFEL et al., 2020).

169
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

E
IMPORTANT

O número efetivo de Reprodução (R) corresponde à capacidade de


propagação viral. Esse número é expresso como um índice que aponta a média de pessoas
contagiadas a cada indivíduo infectado nas condições existentes em um dado momento.
A interpretação desse índice ocorre da seguinte forma:

• R superior a 1: indica que cada pessoa infectada transmite a doença para, no mínimo,
mais um pessoa, disseminando o vírus.
• R inferior a 1: indica que a transmissão da infecção está menor e o número de contágios
está diminuindo.

Esse índice é utilizado para estimar a demanda hospitalar e, com isso, adequar
a infraestrutura para dar conta da demanda e também auxiliar os governantes no
entendimento das medidas necessárias para proteção da população.

Ainda sobre as diferenças do SARS-CoV-2, sabemos que, apesar de se


ligar ao mesmo receptor ECA2 que o SARS-CoV-1, o SARS-CoV-2 apresenta
diferenças em suas proteínas de superfície, que permite uma maior ligação com o
receptor ECA2 e, com isso, maior eficiência na invasão das células hospedeiras. Além
disso, SARS-CoV-2 tem maior afinidade com o trato respiratório superior (nariz
externo, cavidade nasal, faringe, laringe e porção superior da traqueia), o que
facilita a da infecção das células nessas regiões e proporciona maior facilidade para
se disseminar pelas vias aéreas. Outro importante diferencial entre SARS-CoV-1
e SARS-CoV-2 são as dinâmicas das cargas virais de cada um. O SARS-CoV-1
atinge o pico de carga viral em média 15 dias após o início das manifestações
clínicas. Essa característica permite que a infecção já tenha sido determinada e o
paciente isolado precocemente, o que reduz a capacidade de transmissão deste
vírus (CEVIK et al., 2020).

Em contraste, o SARS-Cov-2 tem seu pico de carga viral no trato respiratório,


observado no início da manifestação dos sintomas ou durante a primeira semana da
doença, o que denota maior potencial infectante imediatamente antes ou durante
os primeiros dias do início dos sintomas. Sabendo dessa característica, é possível
compreender a importância do distanciamento social, mesmo com indivíduos
que não apresentam sintomas, uma vez que eles podem estar infectados sem
ainda ter apresentado sintomas (WÖLFEL et al., 2020).

E
IMPORTANT

Carga viral é termo que refere à quantidade de vírus presente na corrente


sanguínea do indivíduo infectado.

170
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

No que diz respeito ao potencial patogênico do SARS-CoV-2, Vaduganathan


et al. (2020) apontam o impacto da infecção por SARS-CoV-2 no sistema renina-
angiotensina. Assim como previamente descrito no SARS-CoV-1, a entrada do
SARS-CoV-2 ocorre pela ligação da proteína S, presente na superfície do vírus,
com o receptor ECA2 presente nos pneumócitos tipo II. Com a entrada do vírus
na célula, ocorre downregulation da expressão do receptor ECA2, por duas vias:
pela destruição da célula que invadiu ou por estar ocupando o receptor ao ligar-
se a ele. Com isso, a angiotensina II passa a ficar acumulada, e isso intensifica o
agravamento da Covid-19, nome dado às manifestações clínicas que caracterizam
a infecção por SARS-CoV-2 (Figura 22). Como resultado da interação do SARS-
CoV-2 com as células-alvo, tem-se início a replicação ativa das partículas virais,
seguida das manifestações clínicas, como (CEVIK, 2020):

• febre;
• dor no corpo;
• cefaleia;
• fadiga;
• dificuldades respiratórias;
• disfunção olfatória (perda temporária do olfato e do paladar);
• diarreia;
• infarto do miocárdio.

FIGURA 22 – INTERAÇÃO ENTRE O SARS-COV-2 E O SISTEMA


RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA

FONTE: <https://pt.slideshare.net/flaviasmatos/doencas-pulmonares-difusas>. Acesso em: 26 fev. 2021.

171
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

E
IMPORTANT

Considerando a importante relação do receptor ECA2 na patogênese resultante


da infecção por SARS-CoV-2, apresentamos um trecho do texto O sistema renina-
angiotensina-aldosterona (SRAA) versus a infecção pelo coronavírus 2019, que explora as
funções do sistema renina-angiotensina-aldosterona, do qual os receptores ECA2 fazem
parte. Aproveite essa leitura para relembrar a importância do SRAA e compreender sua
relação com a Covid-19.

O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) versus a infecção pelo coronavírus 2019

O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) regula funções essenciais do


organismo, como a manutenção da pressão arterial, balanço hídrico e de sódio. A lógica
fundamental que preside o funcionamento do sistema é responder a uma instabilidade
hemodinâmica e evitar a redução na perfusão tecidual sistêmica. Atua de modo a reverter
a tendência à hipotensão arterial através da indução de vasoconstricção arteriolar periférica
e aumento na volemia por meio de retenção renal de sódio (através da aldosterona) e
água (através da liberação de ADH-vasopressina). A renina é liberada pelos rins, enquanto
a enzima conversora de angiotensina (ECA) é encontrada no endotélio vascular em vários
órgãos. Uma vez ativada a cascata, surgem a angiotensina I (AI) e a angiotensina II (AII),
que circulam pelo sangue e se ligam em receptores específicos ATI e ATII, regulando
funções em órgãos-alvos. Receptores de ATII estão presentes universalmente na árvore
arterial e produzem acentuada contração em segmentos isolados de todos os leitos
arteriais. Além do efeito vasoconstritor extensivamente demonstrado in vitro e in vivo, ATII
exerce importantes efeitos tróficos sobre a parede arterial. A participação desse sistema no
fenômeno de redução luminal da hipertensão essencial instalada tem sido demonstrado
pela inibição farmacológica da enzima conversora ou do antagonismo dos receptores AT1.
Todos os componentes do SRAA estão presentes no endotélio e na parede arterial e a
formação de Ang II, no vaso, está solidamente documentada.

Está claro que a hiperatividade desse sistema, contribuiu expressivamente na


fisiopatologia da hipertensão arterial e em outras patologias cardiovasculares. Os fármacos
conhecidos como inibidores da ECA – o Dr. Sérgio Henrique Ferreira de Ribeirão Preto, SP,
foi pioneiro ao descrever o Fator Potencializador da Bradicinina, sendo assim, o precursor
deste grupo de drogas – realizam bloqueio reversível da enzima conversora de angiotensina,
reduzindo a formação de AII. Sabe-se que a AII é um potente peptídeo vasoconstritor e
estimulante da secreção adrenal de aldosterona. O bloqueio da ECA promove, diretamente,
um efeito hipotensor causado pela inibição dos efeitos vasoconstritores e estimulantes da
secreção de aldosterona e, indiretamente, previnem doença isquêmica cardíaca, doença
aterosclerótica, nefropatia diabética e hipertrofia ventricular esquerda. Por outro lado, o
receptor AT2 tem efeito antiproliferativo, vasodilatador e de apoptose. Ele também ativa a
produção de óxido nítrico. Assim como, a produção de AT1-7 pela ECA2 traduz em efeitos
benéficos como antiproliferativo e anti-hipertensivo.

FONTE:<https://pebmed.com.br/o-sistema-renina-angiotensina-aldosterona-versus-a-infeccao-
pelo-coronavirus-2019/>. Acesso em: 26 abr. 2021.

Por se tratar de um vírus recentemente descoberto, muito sobre os


mecanismos patogênicos do SARS-CoV-2 ainda não foram esclarecidos. Contudo,
a urgência em detectar esse vírus e isolar pacientes para reduzir a disseminação

172
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

do SARS-CoV-2 intensificou esforços para desenvolver metodologias para


diagnóstico do vírus. A seguir, conheceremos as metodologias utilizadas para
diagnóstico e acompanhamento de pacientes com Covid-19.

DICAS

Assista ao vídeo, produzido pelo Instituto Butantã, que fala sobre as características
que temos conhecimento do SARS-CoV-2 até o momento: https://www.youtube.com/
watch?v=wC3r4Lcm1Sw.

3 O LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO E


ACOMPANHAMENTO DE SARS-COV-1 E SARS-COV-2
O diagnóstico de Covid-19 é um importante instrumento no combate à
disseminação dos vírus, porque permite que as equipes médicas identifiquem os
pacientes infectados, isolando-os dos demais indivíduos não infectados, a fim de
impedir o contágio.

Existem diferentes metodologias utilizadas para detecção de SARS-CoV-1


e SARS-CoV-2, tanto por detecção do vírus quanto pela presença de anticorpos
produzidos contra esse vírus. A principal metodologia para detecção direta é
realizada por RT-PCR, técnica que pertence ao setor de Biologia Molecular.

E
IMPORTANT

Apesar de abordarmos apenas testes sorológicos, é importante saber que


existem também testes moleculares muito utilizados para detecção de coronavírus.
Por isso, apresentamos, a seguir, um trecho do texto RT-PCR ou sorológico? Entenda
as diferenças entre os testes, publicado pela Universidade Federal de Minas Gerais, que
resume o princípio da técnica de RT-PCR e suas características.

O que é o RT-PCR?

Considerado o “padrão-ouro” ou “padrão de referência”, o RT-PCR é o exame que


identifica o vírus e confirma a Covid-19. Para isso, o teste busca detectar o RNA do vírus
através da amplificação do ácido nucleico pela reação em cadeia da polimerase. De acordo
com a professora Glaucia, esse teste deve ser realizado no início da doença, especialmente
na primeira semana, quando o indivíduo possui grande quantidade do vírus SARS-CoV-2.

173
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

As amostras são coletadas através de swabs (cotonetes) de nasofaringe (nariz) e


orofaringe (garganta). A abordagem do exame, no momento, é do profissional de saúde
que está atendendo o paciente no hospital, ambulatório ou consultório. Isso porque é
preciso saber a fase da doença para a coleta da amostra.

FONTE: <https://www.medicina.ufmg.br/rt-pcr-ou-sorologico-entenda-as-diferencas-entre-
os-testes-para-a-covid-19/>. Acesso em: 25 fev. 2021.

Com relação às metodologias sorológicas para detecção de SARS-CoV,


as principais metodologias utilizadas são os testes imunocromatográficos, que
podem realizar a detecção de antígeno ou de anticorpos IgM e IgG, ELISA e
imunofluorescência (IFA).

Nesse momento, é importante lembrarmos que todas as metodologias


apresentam limitações que podem prejudicar os resultados das provas
sorológicas. No caso de metodologias aplicadas à detecção do SARS-CoV, não é
diferente. Um dos principais elementos que se tem conhecimento que interfere
na detecção de anticorpos e antígenos por ELISA e imunocromatografia, as
principais metodologias utilizadas, está relacionado ao tempo de evolução clínica
dos pacientes (Figura 23).

3.1 DETECÇÃO DE ANTÍGENO PARA SARS-COV –


IMUNOCROMATOGRAFIA DE FLUXO LATERAL
Por se tratar de um método de detecção direto qualitativo, ou seja, que
identifica presença do antígeno na amostra de secreção nasofaríngea, trata-se
da opção que apresenta capacidade de detecção mais precoce, sendo a melhor
metodologia sorológica indicada para a detecção entre o 2° e o 10° após o início
dos sintomas.

Nessa metodologia, a tira de membrana é pré-revestida com anticorpo


anti-SARS-CoV-2, imobilizado na linha de teste. Assim, amostras de secreção
nasofaríngea, contendo antígenos de SARS-CoV-2, passam pela membrana e
reagem com o anticorpo anti-SARS-CoV-2, formando um conjugado Ag-Ac.
Como resultado, é possível observar a formação de tira colorida na região teste.

DICAS

Caro acadêmico, lembre-se de que a metodologia de imunocromatografia de


fluxo lateral já foi abordada na Unidade 2. Sugerimos que você revisite esse tema para
reforçar seus conhecimentos.

174
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

FIGURA 23 – EVOLUÇÃO CLÍNICA E DETECÇÃO LABORATORIAL DA COVID-19

FONTE: <https://www.febrasgo.org.br/es/covid19/item/977-como-utilizar-os-testes-de-covid-19-
ag-fia-e-igg-igm>. Acesso em: 26 fev. 2021.

175
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

A amostra utilizada é raspado nasofaríngeo, coletado por swab, uma haste


flexível semelhante a um cotonete, conforme as etapas da técnica apresentadas
na Figura 24. Além da execução do teste dentro do período correto, outro
elemento que pode prejudicar os resultados dessa técnica por gerar resultados
falso-negativos são erros de coleta de swab nasofaríngeo. Por se tratar de um
procedimento bastante desconfortável para o paciente, que pode atrapalhar
a correta execução da coleta, é importante considerar que o resultado pode ter
sido comprometido pela raspagem nasofaríngea incorreta ou insuficiente. A
interpretação do resultado obedece às orientações apresentadas na metodologia
de imunocromatografia, discutidas na Unidade 2.

E
IMPORTANT

A coleta de secreção nasofaríngea é uma etapa crucial na detecção de


antígenos de SARS-CoV-2 por imunocromatografia e também para realização de RT-
PCR para detecção de SARS-CoV-2. Por isso, sugerimos um vídeo que demonstra
como o procedimento de coleta deve ser realizado, acesse: https://www.youtube.com/
watch?v=owYKzDi6F6Q

FIGURA 24 – PROCEDIMENTO DO TESTE DE ANTÍGENO PARA SARS-COV

176
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

FONTE: <https://www.centerlab.com/teste-rapido-covid-19-ag-eco.html>. Acesso em: 9 abr. 2021.

Essa metodologia qualitativa é utilizada principalmente para triagem


de pacientes, devido a sua rapidez e praticidade. Os kits comerciais disponíveis
possuem diferentes apresentações, como:

177
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

• Testes rápidos que diferenciam IgM e IgG: são aqueles que apresentam três
bandas (faixas) – controle, IgM e IgG –, permitindo discernir qual anticorpo
está ou não reagente. Ressalta-se que resultados que não apresentarem a banda
controle serão sempre considerados testes inválidos (Figura 25).

FIGURA 25 – IMUNOCROMATOGRAFIA COM BANDAS SEPARADAS PARA IGM E IGG

Negativo IgM+ IgM+ IgG+ Inválido Inválido Inválido


IgM+

FONTE: <http://twixar.me/67tm>. Acesso em: 25 fev. 2021.

• Testes rápidos que não diferenciam anticorpos são aqueles que apresentam
duas bandas (faixas): controle e teste, permitindo apenas determinar a
presença de anticorpos, sem diferenciá-los. Ressalta-se que resultados que não
apresentarem a banda controle serão sempre considerados testes inválidos
(Figura 26).

FIGURA 26 – TESTE IMUNOCROMATOGRÁFICO PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS PARA COVID-19

FONTE: <https://guiadafarmacia.com.br/wp-content/uploads/2020/04/PROTOCOLO-
ABRAFARMA-TESTES-RAPIDOS-COVID19-V-1.1-30ABR2020.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2021.

178
TÓPICO 4 — CORONAVÍRUS

Após conhecermos as provas sorológicas mais utilizadas para detecção


de Covid-19, é importante compreendermos que esses resultados apresentam
diferentes interpretações quando avaliados em conjunto. Para facilitar a
compreensão, a Figura 27 demonstra uma interpretação de resultados de sorologia
para Covid-19, os quais devem sempre ser considerados em conjunto com os sinais
e os sintomas manifestados pelo paciente.

FIGURA 27 – INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE SOROLOGIA PARA COVID-19

FONTE: <https://cerpe.com.br/saude/exame-sorologia-covid-19>. Acesso em: 25 fev. 2021.

3.2 DETECÇÃO DE ANTICORPOS PARA SARS-COV – ELISA


Conforme discutido na Unidade 2, trata-se de uma metodologia que
detecta anticorpos específicos para diferentes doenças. No caso da SARS-CoV-2
não é diferente, uma vez que o ELISA é aplicado ao diagnóstico clínico de SARS-
CoV pela detecção quantitativa de anticorpos produzidos em resposta à infecção
por esse vírus. Os principais anticorpos investigados são IgM e IgG. No entanto,
para que os resultados sejam fidedignos às condições imunológicas do paciente
no momento da coleta, é importante atentar para o tempo decorrido entre o início
dos sintomas e a coleta. O período para coleta, a partir do qual seria possível a
detecção de anticorpos para SARS-CoV-2, seria entre o 7° e o 10° dia após início
dos sintomas. Assim, não é uma técnica útil para detecção de anticorpos nos
estágios iniciais da infecção. De modo geral, o IgM é detectável mais cedo que o
IgG (BRASIL, 2020).

179
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

Contudo, a presença de IgM e IgG simultaneamente na amostra não é


confirmatório para determinar que se trata de uma infecção recente, dado que
os avanços tecnológicos permitiram a formulação de kits comerciais para essa
técnica com maior sensibilidade (TAN et al., 2003; BRASIL, 2020).

Quando a finalidade do teste for identificar a exposição anterior ao


SARS-CoV-2, podem ser usados testes sorológicos para detecção de IgG
ou IgM (para determinar se um indivíduo foi previamente infectado),
do tipo imunocromatográfico ou ELISA, que poderá ser quantitativo,
caso o título do anticorpo seja necessário. Caso os achados clínicos
permitam, o indivíduo testado não exigiria quarentena e poderia se
associar a indivíduos não infectados ou infectados com risco mínimo
de transmissão ou nova infecção (BRASIL, 2020, p. 5).

180
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Coronavírus pertencem a família de vírus Coronaviridae que compreende os


gêneros Alpha coronavírus, Beta coronavírus, Gama coronavírus e Delta coronavírus.

• Esses vírus estão presentes no mundo todo e são comuns também em diferentes
espécies animais, entre eles os seres humanos.

• Nos seres humanos, o trato respiratório superior é o principal sistema


acometido, podendo resultar em manifestações de diferentes gravidades, como
resfriados até síndrome respiratória aguda grave.

• O mecanismo de infecção dos coronavírus tem início com a forte ligação da


proteína Spike ao receptor da ECA2 presente em alguns tipos celulares.

• Betacoronavírus apresentam potencial letal por incluir espécies como


SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2, que têm afinidade com pneumócitos.

• SARS-CoV-1 foi causador epidemia global de síndrome respiratória aguda


grave em 2003.

• Um dos efeitos observados nesta ligação entre SARS-CoV e o receptor ECA2 é


o aumento na concentração de citocinas pró-inflamatórias, que são proteínas
produzidas pelas células infectadas que promovem o estabelecimento de um
processo inflamatório.

• SARS-CoV-2 foi causador da pandemia global de Covid-19 em 2020. Assim,


como SARS-CoV-1, sua entrada nas células ocorre pelo receptor ECA2.

• A escala de contágio do SARS-Cov-2 é maior em relação ao SARS-Cov-1, dado


o maior número efetivo de reprodução (R), o que justifica sua maior eficiência
para se disseminar.

• O SARS-Cov-1 tem seu pico de carga viral na segunda semana após o início
dos sintomas, o que permite que a infecção já tenha sido determinada e o
paciente isolado, reduzindo, assim, sua capacidade de contágio, enquanto o
SARS-Cov-2 tem seu pico de carga viral no trato respiratório observado no
início da manifestação dos sintomas ou durante a primeira semana da doença,
o que denota maior potencial infectante imediatamente antes ou durante os
primeiros dias do início dos sintomas.

181
• A compreensão do tempo de evolução clínica do paciente permite que as
provas sorológicas sejam realizadas dentro dos períodos passíveis detecção de
anticorpos IgM e IgG.

• A detecção de antígeno deve ser realizada nos primeiros dias após o início dos
sintomas.

182
AUTOATIVIDADE

1 Explique a função da proteína Spike na infecção por SAR-CoV-2.

2 Sobre a relação entre o receptor ECA2 e o coronavírus, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) Esse receptor pertence ao sistema-renina-angiotensina-aldosterona e


está presente em diferentes órgãos vitais, como pulmão, rins e coração.
b) ( ) Trata-se de um receptor de baixa especificidade e capacidade de ligação
para o SARS-CoV-2 em especial.
c) ( ) O ECA2 é o marcador sorológico da Covid-19.
d) ( ) O SARS-CoV-1 teve uma evolução mais branda, pois os receptores
ECA2 estavam em número reduzido nas populações acometidas por
esse vírus.

3 A detecção de infecção por SARS-CoV-2 pode ser realizada por diferentes


metodologias sorológicas. Cite quais são as principais metodologias
utilizadas e quando o uso de cada uma delas é indicado.

183
184
TÓPICO 5 —
UNIDADE 3

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, conheceremos a doença autoimune lúpus. Doenças
autoimunes ocorrem quando nosso sistema imune ataca as células do próprio
corpo, como se elas fossem patógenos (como vírus e bactérias). Dessa forma,
condições autoimunes são aquelas em que o sistema imune não é capaz de
discernir entre células saudáveis do próprio corpo e organismos estranhos.

A seguir, conheceremos mais sobre o lúpus eritematoso sistêmico e como


seu diagnóstico é realizado.

2 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO


O lúpus é uma doença autoimune que afeta diferentes tecidos no corpo
humano. Por ser uma doença que acomete principalmente o tecido conjuntivo, é
classificada como uma condição clínica pertencente ao grupo das colagenoses.
Assim, o lúpus apresenta um processo inflamatório crônico e multissistêmico em
que a presença de autoanticorpos resulta em prejuízo tecidual. As manifestações
clínicas presentes na doença são comumente confundidas com sintomas de outras
doenças. Nesse contexto, torna-se, por vezes, uma doença de difícil diagnóstico.

O tipo mais comum é o lúpus eritematoso sistêmico (LES), responsável


por afetar vários órgãos, sendo uma doença mais frequente em mulheres. Apesar
da grande variedade de sintomas presentes (Figura 28), o paciente não apresenta
necessariamente todas as manifestações clínicas. Algumas das principais
manifestações são (BRASIL, 2016):

• Anemia (redução do número de hemácias), leucopenia (redução no número de


glóbulos brancos), linfopenia (redução do número de linfócitos) e plaquetopenia
(redução do número de plaquetas).
• Inflamação renal, pleural e pericárdica.
• Inchaço e dores articulares.
• Lesões cutâneas (lesão em forma de borboleta no rosto é a mais comum).
• Vasculite (processo inflamatório nos pequenos vasos), que resulta em lesões
avermelhadas e dolorosas.
• Perda de peso e sensação de fraqueza.
• Convulsões, psicose e prejuízo de nervos periféricos.
• Aumento do volume hepático, ganglionar e do baço (na doença em exacerbação).

185
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

Pacientes com lúpus alternam períodos em que expressam sinais e


sintomas (exacerbações) a períodos assintomáticos (remissões). Os mecanismos
específicos associados ao estabelecimento da doença ainda não foram
completamente esclarecidos. Contudo, sabe-se que é uma doença multifatorial,
que depende de características genéticas, hormonais e ambientais que favoreçam
seu estabelecimento. Dada a predominância do acometimento de pacientes do
sexo feminino em idade fértil, acredita-se que o fator hormonal esteja relacionado
ao estrogênio, uma vez que este hormônio está vinculado a redução da apoptose
(morte programada) e atividade dos linfócitos B, o que resulta na produção
contínua de autoanticorpos.

Quanto aos fatores ambientais, a exposição solar tem grande influência


na exacerbação do lúpus, uma vez que está associada a geração de uma resposta
inflamatória, o que favorece a produção de interleucinas e fator de necrose tumoral.
Com isso, linfócitos B autorreativos são estimulados a produzir anticorpos. Em se
tratando de fatores genéticos, de acordo com SANARMED (2019, p. 1):

Existe prevalência aumentada em parentes de primeiro grau e em


gêmeos monozigóticos, 17 vezes e 29 vezes maior que população
geral, respectivamente. A deficiência de componentes da via clássica
do complemento como C1q (principal) e C4 conferem alta chance de
desenvolver a doença. Também existe associação com HLA DR2 e
DR3, além de outros polimorfismos genéticos (PTPN22, TREX 1, STAT
4, IFR5, TLR7, entre outros).

FIGURA 28 – SINTOMAS PRESENTES NO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

FONTE: <http://portaldonic.com.br/jornalismo/2019/11/25/lúpus -nao-tem-cura-mas-e-possivel-


conviver-com-ela/>. Acesso em: 27 fev. 2021.

186
TÓPICO 5 — LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, considerando a influência da exposição solar em pacientes


com lúpus, apresentamos um trecho de uma reportagem extraída do site do Dr.
Drauzio Varella: Pacientes de lúpus devem evitar exposição solar. Esse texto apresenta
recomendações importantes que objetivam prevenir agravamento dessa doença por conta
da exposição solar.

Pacientes de lúpus devem evitar exposição solar

Lúpus e exposição solar definitivamente não combinam. Basta notar que


quando o paciente fica exposto à luz solar por horas seguidas e sem proteção, sua pele
fica avermelhada (no rosto, são visíveis lesões com o formato de asa de borboleta). Isso
ocorre porque o sol promove uma reação imunológica no organismo que desencadeia
os sintomas. “Orientamos que os pacientes com a doença sempre utilizem bloqueadores
solares de fator no mínimo 30 quando saírem às ruas. Mesmo se o dia estiver nublado, é
preciso usar o produto. O importante é impedir que surja o processo inflamatório. Quando
a pele já está avermelhada e com certo prurido, é sinal de que a inflamação já começou”,
destaca Eduardo Borba, professor doutor de reumatologia da USP.

Mas atenção: a exposição solar desencadeia uma reação inflamatória que pode
afetar não apenas a pele, mas estruturas como articulações, cérebro e rins. Dessa maneira, a
exposição à luz do sol pode comprometer todos os órgãos envolvidos na doença. Quando
a crise se instala, geralmente é necessário entrar com medicação, que na maioria das vezes
é à base de corticoides. Como o uso dessa classe de medicamentos deve ser moderado, o
ideal é prevenir.

O paciente com lúpus pode frequentar a praia, mas é necessário cuidado


redobrado com o corpo. Veja as orientações do dr. Eduardo:

• Sempre utilize bloqueadores solares com fator mínimo de proteção número 30. Reaplique
a cada duas ou três horas, com antecedência de 15 a 30 minutos antes da exposição ao
sol. Lembre-se de que os raios UV são mais intensos entre 10 e 15 horas.
• A dica é passar o equivalente a uma colher de chá de protetor no rosto e pescoço; uma
colher de chá na parte da frente do tronco e a mesma medida na parte de trás; uma
colher de chá em cada braço; uma colher de chá na parte da frente das coxas e pernas
e a mesma medida na parte de trás.
• O uso de óculos escuros, com 99% a 100% de proteção, ajuda a prevenir problemas na
região dos olhos que podem afetar os portadores de lúpus. Não se esqueça de utilizar
chapéus e roupas leves sempre que possível.
• A prática de atividade física é muito importante para controlar e estabilizar a doença,
além de fornecer resistência aos portadores. Se você for adepto de caminhada ou
corrida, saia cedo de casa. Evite exposição solar depois das dez da manhã.

FONTE: <https://drauziovarella.uol.com.br/reumatologia/pacientes-de-lúpus -devem-evitar-


exposicao-solar/#:~:text=A%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20solar%20desencadeia%20
uma,de%20forma%20lenta%20e%20progressiva>. Acesso em: 27 fev. 2021.

Com a interação dos fatores citados anteriormente, há o estabelecimento


da perda da autotolerância (incapacidade de identificar os próprios anticorpos) e
consequente aparecimento das manifestações clínicas.

187
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

3 LABORATÓRIO CLÍNICO NO DIAGNÓSTICO DO LÚPUS


O laboratório clínico aplicado ao diagnóstico de lúpus compreende, além
das investigações sorológicas apresentadas a seguir, a investigação de parâmetros
bioquímicos e hematológicos, que não contemplam esta disciplina. Assim,
abordaremos a pesquisa de autoanticorpos como principal prova sorológica
utilizada no diagnóstico e acompanhamento do lúpus.

Em pacientes com suspeita de LES, os exames laboratoriais devem


ser realizados para detectar a presença dos autoanticorpos, que são
os principais marcadores da doença. Anticorpos antinucleares são
encontrados em mais de 90% dos pacientes de LES, embora a sua
presença não seja específica para esta doença, podendo aparecer em
outras doenças autoimunes, infecciosas ou mesmo em indivíduos
normais (ÁLVARO APOIO, 2018, p. 1).

3.1 ANTICORPOS ANTINUCLEARES (ANA/FAN)


A detecção de anticorpos antinucleares, também conhecida como fator
antinuclear (FAN) é um método que utiliza como princípio a imunofluorescência
indireta (abordada anteriormente) utilizado na investigação de lúpus por estar
presente na corrente sanguínea de pacientes com doenças autoimunes sistêmicas
associadas ao tecido conjuntivo (LARA; NEVES, 2004).

Conforme indicado acima, o método mais empregado para a detecção de


anticorpos antinucleares (ANA) ou FAN é a imunofluorescência indireta. Para
investigação de anticorpos ANA ou do FAN, esta metodologia utiliza como
substrato células da linhagem HEp-2, derivadas de tumor de células epiteliais
humanas. A utilização destas células ocorre pois elas expressam maior parte dos
antígenos de importância clínica para este tipo de investigação.

DICAS

Para ilustrar todas as etapas necessárias para execução da técnica de FAN, assista
ao vídeo Técnica de FAN – Imunofluorescência Indireta, que pode auxiliar na visualização
e compreensão de cada etapa. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=fblyi4r-N7w.

188
TÓPICO 5 — LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

Apesar de integrar parte dos 11 critérios diagnósticos paro lúpus, não


se trata de um exame patognomônico paro lúpus, uma vez que outras doenças
autoimunes, como síndrome de Sjögren, artrite reumatoide e tireoidite de
Hashimoto, também apresentam esses autoanticorpos (LARA; NEVES, 2004).

Contudo, a detecção desses anticorpos nem sempre indica a presença de


doença autoimune. De acordo com Lara e Neves (2004, p. 284):

Um problema muito expressivo no dia a dia do laboratório é a


positividade do teste sem que haja correlação clínica. Em soro puro
ou em baixas diluições, virtualmente toda a população apresenta
reatividade na pesquisa de FAN; daí a necessidade de um valor de
corte adequado. Mudanças na distribuição dos títulos dos auto-
anticorpos na população são idade e sexo dependente. Para minimizar
essa situação, vários laboratórios adotam um valor de corte de 1:80.
Ainda assim, até 13,3% da população sadia pode ter um teste positivo.
Geralmente, quanto mais alto o título, mais significativo o resultado
do exame, especialmente em pacientes jovens.

Como podemos perceber, o resultado apresentando titulação reagente


para FAN não necessariamente indica presença de doença autoimune. Além do
resultado reagente apresentando titulação, existem antígenos-alvo que formam
padrões nucleares. Esses padrões são utilizados pelas equipes médicas para
reforçar ou descartar a suspeita clínica de lúpus. O Quadro 6 apresenta um
resumo dos padrões possíveis para FAN reagente e suas possíveis interpretações
clínicas (DELLAVANCE; ANDRADE, 2007).

QUADRO 6 – RELAÇÃO ENTRE A PRESENÇA DE ANTÍGENOS ALVO E POSSÍVEIS PATOLOGIAS

Antigênico/
Patologia
Padrão FAN
Anti-DNA de cadeia Encontrados primariamente no LES numa frequência de 70 a 80% dos
dupla (ds-DNA, DNA casos concentração de antígenos (título) correlaciona se bem com a
nativo) atividade da doença: Presença de anticorpos anti-DNA correlaciona-se
Padrão: Homogêneo particularmente com a atividade da nefrite lúpica.
Estão presentes em 96% dos pacientes com lúpus induzido por
Anti-histona medicamentos e em 30% do LES.
Padrão: Homogêneo Hidralazina, procainamida e anticonvulsivantes.
Ocorre em 15 a 20% dos pacientes com AR.
Altos títulos de RNP, na ausência de anti-Sm, são fortemente sugestivos
de doença mista do tecido conjuntivo (DMTC), que se manifesta
Anti-snRNP
clinicamente por acometimento cutâneo do tipo esclerodérmico, miosite
Padrão: Pontilhado
e sinovite tipo reumatoide, que aparece em 100% dos casos; surge em
(grosso)
baixos títulos em LES, lúpus discoide, artrite reumatoide, síndrome de
Sjögren e lúpus induzido por medicamentos.
Anti-Sm (Smith, Possui alta especificidade para o LES, porém sua sensibilidade nesses
nome do primeiro pacientes é de apenas 25 a 30%, geralmente durante a fase aguda
paciente em que foi da doença; raramente aparece em outras desordens; alguns estudos
reconhecido) Padrão associam a sua presença com nefrite branda de surto benigno, outros ao
pontilhado (grosso) envolvimento do SNC, quando manifestação única do LES.

189
UNIDADE 3 — DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E AUTOIMUNES

Ro é uma proteína citoplasmática pequena ligada ao RNA, cuja função é


desconhecida; esse anticorpo está presente em cerca de 70% dos pacientes
Anti-SSa/Ro com síndrome de Sjögren primária.
Padrão pontilhado Já na síndrome Sjögren associada à artrite reumatoide está presente em
(fino) 40% dos casos, também ocorre em 30% dos pacientes com LES, marcando
as formas de lúpus neonatal e lúpus subagudo cutâneo, e na síndrome
do anticorpo antifosfolipídio.
São contrapartículas proteicas do RNA que parecem participar como
um cofator para a RNA polimerase; o anti-La geralmente acompanha
Anti-SSb/La
o anti-Ro; a presença de ambos no LES é geralmente associada a uma
Padrão pontilhado
doença mais leve do que quando o Ro está presente isoladamente.
(fino)
O SSb/La ocorre em mais da metade dos pacientes com síndrome de
Sjögren e no LES em 15%.
Anti-centromero
Esclerose sistêmica forma CREST (C – calcinose; R – Raynaud; E –
Padrão pontilhado
dismotilidade esofagiana; S – esclerodermia; T – telangectasia).
centromérico
Proteína 70 KDa que foi recentemente identificada como uma
Anti-Scl-70
topoisomerase, encontrada em 75% de pacientes com esclerose sistêmica
Padrão nucleolar
difusa.
Anti PCNA
Específico para LES (5 a 10% dos casos), não sendo encontrado em outras
Padrão pontilhado
patologias. Geralmente, pacientes com PCNA-positivo apresentam maior
pleomórfico
incidência de glomerulonefrite difusa.
PCNA

FONTE: <https://www.sanarmed.com/dicas-para-a-interpretacao-dos-resultados-de-fator-
antinuclear-fan-colunistas>. Acesso em: 20 fev. 2021.

FIGURA 30 – REATIVIDADE DOS ANTICORPOS ANTI-DSDNA POR IMUNOFLUORESCÊNCIA

FONTE: <https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/2496/exames_
laboratoriais_%E2%80%93_autoanticorpos.htm>. Acesso em: 9 abr. 2021.

190
TÓPICO 5 — LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

LEITURA COMPLEMENTAR

VACINAS ANTICOVID: UM OLHAR DA SAÚDE COLETIVA

Reinaldo Guimarães

A abordagem de temas complexos

Doenças de massa costumam ser complexas. No caso da pandemia pelo


SARS-CoV-2, a complexidade foi agravada, em seu início, pelo desconhecimento
quase completo das características do patógeno que a causava e das
consequências disso. Na dimensão de sua biologia, as pistas existentes remetiam
ao conhecimento de outros coronavírus já identificados que, ao fim e ao cabo,
pouco ajudaram no manejo do novo organismo. Em sua fisiopatologia, o que se
pensava ser uma enfermidade respiratória revelou-se uma condição sistêmica.
No plano da abordagem clínica, mais surpresas com uma evolução heterodoxa
na qual sintomas prodrômicos transformavam-se rapidamente em doença grave,
sem que o bom estado geral dos pacientes fosse condizente com a gravidade de
sua real função respiratória medida pelo oxímetro. No terreno epidemiológico,
o acompanhamento do estado imunitário da população também surpreendeu
pela pouca presença de portadores de anticorpos quando comparada com
a experiência de outras epidemias virais e isso levanta atualmente intenso
debate sobre os mecanismos imunológicos envolvidos na doença. No plano dos
serviços de saúde, porque a velocidade do adoecimento e a gravidade de parte
dos pacientes revelou-se maior e mais intensa do que a organização ordinária
deles estava preparada para suportar. Além dos serviços, a vida em sociedade,
no campo do trabalho, do afeto, do lazer etc., foi também inesperadamente
desorganizada, assim como a economia dos países, já bastante fragilizada antes
mesmo da pandemia. Apesar de intensa, como veremos a seguir, os resultados
da busca por medicamentos eficazes foram frustrantes até o momento. E agora
temos uma corrida por uma ou mais boas vacinas.

Uma lição deve ser tirada a partir da descrição feita acima. Não haverá
apenas uma medida ou mesmo o ataque a uma das dimensões descritas acima que
seja capaz de resolver, per se, o problema em seu conjunto. O seu enfrentamento
deve ser organizado a partir de ações articuladas nas múltiplas dimensões
apontadas. O corolário dessa assertiva é que uma ou mais boas vacinas serão
importantíssimas para contribuir para enfrentar a COVID 19, mas é muito pouco
provável que possam sozinhas resolver o problema em sua totalidade. Por outro
lado, para que uma ou mais boas vacinas cumpram seu importante papel, serão
necessárias várias etapas e vários aspectos intrínsecos e extrínsecos às mesmas
que deverão ser estabelecidos antes que elas possam cumprir a sua missão. Este
texto tem o objetivo de discutir a complexidade no campo das vacinas.

FONTE: Adaptado de GUIMARÃES, R. Vacinas Anticovid: um Olhar da Saúde Coletiva. Ciênc.


Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 9, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232020000903579&tlng=pt. Acesso em: 26 abr. 2021.

191
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• Doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imune ataca as células do


próprio corpo, como se elas fossem patógenos.

• O lúpus é uma doença autoimune que afeta diferentes tecidos no corpo humano.
Por ser uma doença que acomete principalmente o tecido conjuntivo, o lúpus é
classificado como uma condição clínica pertencente ao grupo das colagenoses.

• O lúpus apresenta um processo inflamatório crônico e multissistêmico em que


a presença de autoanticorpos resulta em prejuízo tecidual.

• O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é o tipo mais comum de lúpus e é uma


doença mais frequente em mulheres.

• Entre as manifestações clínicas presentes no lúpus, podemos destacar: anemia,


inflamação renal, pleural e pericárdica, inchaço e dores articulares, lesões
cutâneas, vasculite, perda de peso, sensação de fraqueza, convulsões, psicose e
prejuízo de nervos periféricos, aumento do volume hepático, ganglionar e do
baço (na doença em exacerbação).

• Pacientes com lúpus alternam períodos em que expressam sinais e sintomas


(exacerbações) com períodos assintomáticos (remissões).

• O lúpus é uma doença multifatorial, que depende de características genéticas,


hormonais e ambientais que favorecem seu estabelecimento.

• A detecção de anticorpos antinucleares é um método que utiliza como princípio


a imunofluorescência indireta na investigação de lúpus por estar presente na
corrente sanguínea de pacientes com doenças autoimunes sistêmicas associadas
ao tecido conjuntivo.

• A pesquisa de autoanticorpos não é um exame patognomônico para o lúpus, uma


vez que outras doenças autoimunes, como síndrome de Sjögren, artrite reumatoide
e tireoidite de Hashimoto também apresentam estes autoanticorpos.

CHAMADA

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192
AUTOATIVIDADE

1 Sobre doenças autoimunes, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Doenças autoimunes são aquelas em que anticorpos são produzidos


contra patógenos específicos.
b) ( ) São todas as doenças em que os autoanticorpos estão ausentes.
c) ( ) Nesse tipo de doença, o corpo perde a capacidade de diferenciar células
saudáveis de células patogênicas.
d) ( ) São doenças causadas estritamente por anticorpos lúpicos.

2 A exposição solar é um fator importante na exacerbação do lúpus. Justifique


esta afirmação.

3 Sobre o lúpus eritematoso sistêmico, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) A confirmação do diagnóstico de lúpus se dá apenas quando o paciente


apresenta todas as manifestações clínicas descritas para essas doenças.
b) ( ) Trata-se de um tipo de colagenose.
c) ( ) Não existe cura para o lúpus, porém a constância de cuidados previne
novas exacerbações.
d) ( ) O eritema malar é um dos sinais clássicos da doença.

4 Com relação ao lúpus eritematoso sistêmico, assinale a alternativa


INCORRETA:

a) ( ) Trata-se de uma doença que ocorre com maior frequência em pacientes


do sexo feminino.
b) ( ) Períodos em que a doença está ativa são caracterizados pela ausência
de sintomas, como inflamação renal, anemia, lesões cutâneas e dores
articulares.
c) ( ) É uma doença classificada como colagenose.
d) ( ) É uma doença multissistêmica, autoimune e crônica, que alterna
períodos sintomáticos com períodos assintomáticos.

5 Lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune do tipo colagenose.


Explique como ocorre o mecanismo imunológico que caracteriza o lúpus.

193
194
REFERÊNCIAS
ÁLVARO APOIO. Aspectos laboratoriais para o diagnóstico do Lúpus
Eritematoso Sistêmico. 2018 Disponível em: https://alvaroapoio.com.br/
medicina-diagnostica/aspectos-laboratoriais-para-o-diagnostico-do-lúpus
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BRAGA, A. O. Aspectos gerais da infecção pela bactéria Treponema pallidum:


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195
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