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CURSO AVANÇADO EM

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

MÓDULO 1
INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES EXECUTIVAS

por Lívia Santana


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FUNÇÕES EXECUTIVAS DO CÉREBRO

As teorias neuropsicológicas são de extrema importância para entendermos


mais sobre o desenvolvimento humano. É primordial esse conhecimento para a
aplicabilidade de qualquer estimulo que devemos aplicar ao desenvolvimento humano.
A pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresenta alguns déficits cognitivos
específicos, tais como:

• problemas na percepção de ordem e significado;


• dificuldades em usar input sensorial interno (capacidade de selecionar, adquirir,
classificar e integrar as informações) para fazer discriminações na ausência de
feedback de respostas motoras;
• tendência a armazenar a informação visual, utilizando um código visual,
enquanto as crianças com desenvolvimento normal usavam códigos verbais e/ou
auditivos.

Tais déficits têm ligação com o desenvolvimento, em especial, das funções


executivas. As funções executivas são um conjunto de habilidades necessárias para o
controle de nossa saúde mental e vida funcional. Permite que o sujeito organize e
estruture seu ambiente.
Há uma hipótese de comprometimento das funções executivas em pessoas com
autismo. As funções executivas estão ligadas às seguintes áreas:

FUNÇÕES COGNITIVAS

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/692076667717921858/

Segundo Luria (1966), todos os processos mentais conscientes que governam as


ações humanas envolvem a participação do sistema de comunicação verbal e estão, de
fato, sob seu domínio. Portanto, os processos mentais (o que inclui as funções
executivas) são guiados pela linguagem.
Abaixo, segue um fluxograma que selecionamos para explicar um pouco das
funções executivas e sua relação com a linguagem. O fluxograma será para orientar e
exemplificar como o nosso desenvolvimento ocorre e as interferências dessas áreas,
caso haja alguma disfunção.

FUNÇÕES EXECUTIVAS E LINGUAGEM

Vamos iniciar a análise com uma habilidade muito importante: a memória.


A memória de trabalho realiza as tarefas cognitivas difíceis, como: a compreensão da
linguagem, a leitura, a aprendizagem ou o raciocínio. Esta é a habilidade cognitiva que
lida com vários pedaços de informação simultaneamente, como: somar números ou
escolher palavras que rimam. A memória de trabalho é o alicerce da aprendizagem, pois
determina a capacidade de processar informação, seguir instruções e acompanhar as
atividades em sala de aula.

A memória de trabalho pode ser diferenciada pela de curto e longo prazo, como
mostra o quadro a seguir.

MEMÓRIA DE TRABALHO
Nós recebemos estímulos que são gravados na mente, de curto ou longo prazo,
pelos sistemas motores, como mostra o esquema abaixo.

ESTRUTURAS

A memória de trabalho é formada por três subsistemas subordinados a uma


central executiva, responsável pelo processamento das atividades cognitivas e controle
da atenção.

Segundo Baddeley, a função executiva central relaciona-se com a linguagem por


meio da alça fonológica. Esta é ativada sempre que há demanda auditiva (como na fala,
por exemplo). Já o bloco visuoespacial é necessário para o processamento de
informações visuais (figuras, localização de objetos).
As habilidades visuoespaciais são responsáveis por:

• prever distâncias;
• orientação;
• busca visual;
• identificação de formas;
• descrição do espaço;
• formação de imagens mentais;
• entender relações espaciais.

A capacidade de utilizar as relações espaciais é um aspecto importante do


pensamento humano, pois estão presentes nas nossas ações cotidianas. E elas podem
ser classificadas de diversas formas.

• Representação espacial.
• Percepção espacial.
• Rotação mental.
• Navegação espacial.
• Formação de imagens mentais.

Vamos detalhar algumas dessas habilidades para que entendam melhor e vejam
como elas afetam em todo o nosso aprendizado.

Todos nós, com passar dos anos e desenvolver das habilidades, começamos a ter
noção de tempo e espaço. Essas noções, adquirimos no cotidiano, quando nos
relacionamos com as pessoas, objetos. Ao simples ato de analisar a distância dos objetos
entre nós.

Nesses casos, devemos


considerar a distância, o
posicionamento e a dimensão de
outros objetos em relação a nós
mesmos. Mesmo quando
queremos ir a algum lugar que
não conhecemos, temos que nos
orientar e isso implica usarmos
essa habilidade cognitiva.

Salvador, Larissa. Introdução à


Neuropsicologia.
ROTAÇÃO MENTAL

A rotação mental é a habilidade de imaginar como um objeto estaria se ele


aparecesse em outra posição.

Fonte: http://www.enscer.com.br/pesquisas/tecnica/eeg/eeg.html

Atividades de rotação espacial são bastante utilizadas para o desenvolvimento


das habilidades cognitivas, um exemplo dessas atividades está representado nesse
modulo, em uma atividade retirada do trabalho da Rejane Costa da Universidade
Federal de Santa Catarina.

Suponhamos o seguinte enunciado:

“Temos três frutas: banana, maçã e laranja.


Descubra o posicionamento delas.”

• A banana está à esquerda da laranja.


• A maçã está à esquerda da laranja.

Podemos concluir que temos duas situações: na primeira, a maçã está entre a banana e
a laranja, e na segunda, a maçã está à esquerda da banana.

Fonte: http://www.inf.ufsc.br/~edla.ramos/infoedu/alunos/alunos99/trabfinal/RepresentacoesMentais.htm

Pessoas com autismo têm dificuldades em ter esse tipo de associação, pois
requer um lembrar e uma representação mental que inclui diversas habilidades que
devem ser compiladas e envolvem uma imagem ainda não representada, ou
apresentada a eles.
NAVEGAÇÃO ESPACIAL

Outra habilidade é a navegação espacial, que envolvem julgamentos de


respostas dinâmicas sobre estimação de tempo, velocidade, dentre outros. A avaliação
dessa habilidade pode ser feita através de tarefas de vida diária, como:

• atravessar a rua;
• estimar a velocidade de aproximação de um carro;
• estimar o tempo que se leva para chegar à escola.

AUTISMO E A ESPACIALIDADE

Amorim (2008) defende a ideia que, no autismo, haveria uma alteração no


processamento da informação em vários níveis (percepto, visuoespacial e semântico
verbal) que resultaria em um processamento centrado em detalhes, em detrimento ao
contexto global, o que explicaria a preocupação do autista com partes e sua resistência
a mudanças.
Alterações nessas áreas podem causar diversas dificuldades cognitivas e
comportamentais no que diz respeito ao planejamento e execução de tarefas. Surgem
comportamentos rígidos e inflexíveis, alterações de raciocínio, pensamento concreto e
dificuldades em tarefas cotidianas (BOSA, 2001).

ATENÇÃO COMPARTILHADA

Entende-se por atenção compartilhada, a habilidade em coordenar a atenção


entre uma pessoa e o objeto, engajando-se em uma mesma atividade com o outro, com
a finalidade de compartilhamento de experiências.
Esse item também é considerado fundamental para o desenvolvimento da
linguagem, pois está atrelado ao modo que a pessoa olha para o mundo, os enxerga e
tem a percepção do outro, assim como dos objetos que o rodeia.
Uma dica para detê-la: devemos falar sobre o objeto em que a criança está
focada, ao invés de constantemente tentar redirecionar a atenção da criança para aquilo
que o adulto quer que ela veja e aprenda.
Para finalizar esse processo vamos falar uma pouco sobre a aquisição da
linguagem e o sistema simbólico.
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

A aquisição da linguagem intriga pesquisadores há várias décadas e foi


estudada em diferentes perspectivas teóricas.

Durante os primeiros estágios do desenvolvimento, as ações infantis apoiam-se


no uso de sinais evocativos exteriores, denominados signos externos. Posteriormente,
no curso do desenvolvimento, a criança passa por um processo de internalização, em
que os signos externos são gradualmente substituídos por signos internos, gerando a
base para a capacidade representacional.
O signo permite, à criança, se conectar à dimensões espaçotemporais cada vez
mais distantes do momento presente, a imitar na ausência do modelo. Quanto mais
próxima de chegar a conseguir se integrar suas representações em todos reversíveis,
mais ela agiliza as suas trocas com o meio de forma lógica. Cada vez mais a criança vai
precisar especializar os gestos, sinais, para produzir no ambiente a mudança desejada,
criando assim uma linguagem gestual. A criança repete muito os gestos que aprende
para internalizar as ações, pouco a pouco aprende a organizar as organizações
imagéticas e verbais.
As grandes categorias do real, espaço, tempo, objeto e causalidade são
esboçadas através da ação prática, que ainda não compreende o mundo, mas consegue
o que quer através das suas ações. A criança, através da formação e utilização das
diversas manifestações simbólicas - linguagem, imagem, brincadeira, desenhos,
imitação, fabulação -, adquire condições de, gradativamente, ir se percebendo como
alguém que constrói a própria história de vida. Essa consciência elementar de si mesmo
se inicia através das primeiras brincadeiras simbólicas, através do corpo como a
manifestação gestual que, com o tempo, se torna evocativa. A verbalização se
transporta cada vez mais à situação imaginada. Por isso, a importância da representação
simbólica. Quando a criança percebe que o contexto em que vive se conserva, ele confia
mais. Essa é a importância de uma rotina, de apresentar as mesmas músicas na hora de
dormir ou comer. Ela internaliza o que é vivido.

LINGUAGEM E O PENSAMENTO:
FUNÇÕES SEMIÓTICAS E O APRENDIZADO

Durante esse desenvolvimento, a comunicação não verbal, anteriormente


desenvolvida por meio de expressões faciais e corporais, gestos e sons, dá lugar à
comunicação verbal ou coexiste com ela. A criança aprende que os sons, as palavras e
os símbolos possuem significados próprios e passa a operar com representações.
Futuramente, a capacidade simbólica e representacional fundará as bases para uma
ação cada vez mais reflexiva e mais consciente, chegando à capacidade
metarrepresentacional e metacognitiva.
A capacidade de apreender e simbolizar o mundo, atenção, memória,
orientação, comunicação receptiva e expressiva, considerando o processo sócio-
histórico, que preconiza Vygotsky.
CONCLUSÃO

Nosso processo de aprendizado está interligado às funções executivas, assim


como à linguagem. Quando há uma dificuldade de alguma das funções receber e
interpretar as informações, há um prejuízo no aprendizado, sendo que as informações
registradas podem sofrer interferências.
No caso do autismo, as informações ficam bem registradas quando há apoio de imagens
e comandos. Um exemplo típico é a prova, a seguir, de uma criança autista. Na prova,
notamos o quanto o apoio visual é importante para assimilação dos seus
conhecimentos.
DICAS DE LEITURA

ARTIGOS

• A linguagem e o pensamento: Função Semiótica e relações com o aprendizado.


por Noeli Reck Maggi e Renata Santos de Moraes.
• Interfaces entre função executiva, linguagem e intencionalidade.

LIVROS

• Avaliação psicopedagógica da criança, de zero a seis anos.


Orgs.: Nadia Bossa, Vera Barros.
Por: Leda Maria Codeço Barone (Autor), Walter Trinca (Autor), Maria Lúcia
Leme Weiss (Autor), Elsa L.G. Antunha (Autor), Suelly Cecília Olivan Limongi
(Autor), Roxane Helena Rodrigues Rojo (Autor).
• Avaliação psicopedagógica da criança, de sete a onze anos.
Orgs.: Nadia Bossa, Vera Barros.
Por: Leda Maria Codeço Barone (Autor), Walter Trinca (Autor), Maria Lúcia
Leme Weiss (Autor), Elsa L.G. Antunha (Autor), Suelly Cecília Olivan Limongi
(Autor), Roxane Helena Rodrigues Rojo (Autor).

DICAS DE VÍDEOS

CONHEÇA A MEMÓRIA DE TRABALHO


publicado por didatics.
https://www.youtube.com/watch?v=rjQk7njrZ3Y
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BADDELEY, A. D., & HITCH, G. J. (1974). Working memory. In: G. Bower (Ed.), The
psychology of learning and motivation (pp. 47-90). San Diego, CA: Academic Press

BOSA, C. A. (2001). As relações entre autismo, comportamento social e função


executiva. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14(2), 281-287.

COSTA, Rejane. Representações Mentais. http://www.inf.ufsc.br/~edla.ramos/


infoedu/alunos/alunos99/trabfinal/RepresentacoesMentais.htm

LURIA, A. R. (1966). Higher cortical functions in man. New York: Basic Books.

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