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Ilustrações Carla Werkhaizer

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marketing

Marketing proativo:
conquistando novos mercados
POR L E O N A R D O A R A Ú J O E R O G É R I O G AVA

Há quase uma década estudamos a questão da uma postura de marketing proativa, como essa
proatividade empresarial. Nesse período, pesqui- estratégia funciona e como as empresas lidam com
samos mais de 300 empresas dos mais diversos ela. Nossa investigação partiu de duas perguntas
setores, buscando verificar como a proatividade fundamentais: O que é Marketing Proativo? Quais
funciona e de que forma pode ser colocada em prá- os antecedentes dessa estratégia?
tica. Documentamos e discutimos nossos estudos O modelo concebido foi refinado em pesquisa
na academia e em empresas (veja recomendações qualitativa, que envolveu 32 entrevistas em pro-
de leitura ao final deste artigo). Essa trajetória fundidade, realizadas em 21 empresas do setor de
apontou alguns caminhos novos de pesquisa. Um indústria, varejo e serviços. Entrevistamos profis-
deles diz respeito à questão do Marketing Proativo. sionais de marketing, diretores, gerentes e empre-
Esse interesse não veio por acaso, já que conside- sários, para saber qual a visão das organizações a
ramos o marketing uma das fontes de reatividade respeito de uma postura de marketing mais proati-
das empresas (juntamente com a estratégia e a va e suas possibilidades no cenário dos negócios.
inovação). Em outras palavras, um dos entraves Realizamos ainda estudos de caso em algumas
que dificulta uma ação proativa das empresas é empresas notadamente proativas nas ações de
justamente uma “lógica de marketing responsiva”. marketing. Essa análise mais profunda teve como
Assim, fomos a campo com o objetivo de objetivo responder a uma terceira pergunta funda-
compreender o que vem a ser, em última análise, mental: Como funciona o Marketing Proativo?

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Esses casos nos ajudaram a delinear o mindset perceber mercados ainda em sua forma latente.
e as ações de marketing proativo e seus resultados, Somos adeptos da criação deliberada de mercados
praticadas por algumas empresas de destaque. – essência do “marketing proativo”. Empresas de
Percepções que clarificaram o que fazem e como sucesso moldam o mercado aos seus próprios obje-
fazem as empresas que buscam praticar um tivos. Em vez de buscarem o primeiro lugar num
marketing além do tradicional. Essas questões são pódio disputadíssimo, elas criam seu próprio jogo,
analisadas neste artigo. com um pódio só delas. E antecipam mercados
antes mesmo que eles possam existir.
MARKETING PROATIVO: UM NOVO PARADIGMA As diferenças entre “marketing reativo” e
O DNA do marketing é o mercado. Nele, estão “marketing proativo” são evidentes (Quadro 1). O
os clientes. Em qualquer mercado, os clientes foco do marketing reativo é a adaptação às necessi-
são limitados em número, e por isso, disputados dades explícitas dos clientes, geralmente acessadas
avidamente pelas empresas concorrentes. Essas via pesquisas tradicionais de mercado, ou mesmo
organizações, também com restrições de recursos com a cópia das ofertas concorrentes. A posição
e inseridas numa economia cada vez mais con- do marketing reativo é defensiva, ou seja, típica de
gestionada de ofertas, tentam conquistar espaço. empresas mais preocupadas em defender posições
O papel do marketing nesse circuito sempre foi o de mercado já conquistadas, do que conquistar
de descobrir as necessidades explícitas do merca- novos espaços. Nesse cenário, a guerra de preços
do e atendê-las. Esse é o “mantra do marketing é quase sempre inevitável. Nada temos contra uma
reativo” – direcionado a responder às demandas estratégia de defesa bem construída. Pelo contrá-
do mercado. O paradigma do “marketing reativo” rio, entendemos ser algo vital para uma empresa
sempre foi (e continua sendo, em grande parte das que sofre ataques dos concorrentes e corre riscos
empresas) o de adaptação às necessidades dos de evasão de clientes e perda de market share.
clientes. Apesar de válido, entendemos que ele não Mas com o marketing proativo as coisas acon-
é mais suficiente. O mercado mudou e o marketing tecem de modo bem diferente. O foco é a anteci-
também precisa mudar da adaptação para a ante- pação das necessidades ainda latentes do mercado
cipação. É essa a lógica do “marketing proativo”. – aquelas que nem os próprios consumidores têm
O marketing proativo parte, então, de um consciência de que possuem. A posição é de ataque
paradigma diferente. É verdade que os clientes aos mercados, mas não aos que já estão ocupados
devem ser satisfeitos no atendimento de suas e, sim, aos que podem vir a existir. Uma metáfora
necessidades, mas isso não afasta a criação de pode explicar melhor: um profissional de marketing
necessidades por parte das próprias empresas. reativo busca acertar o chamado “alvo móvel do
Sabemos que aqui entramos em terreno arenoso. mercado”, ou seja, mira nas necessidades explíci-
Um dos grandes debates da teoria do Marketing tas sempre mutantes dos consumidores. Algo que,
se dá justamente entre partidários e críticos da nenhum gestor pode negar, é cada vez mais difícil
criação de necessidades. Estamos no primeiro de atingir. Já o profissional de marketing proativo
grupo. Estamos convencidos de que as empresas busca fugir do alvo já crivado de dardos, criando
é que têm a capacidade de criar mercados ou um novo alvo, longe da mira dos concorrentes.

QUADRO 1 | CONTRASTES ENTRE O MARKETING REATIVO E O MARKETING PROATIVO

Marketing Reativo Marketing Proativo

Foco na adaptação Foco na antecipação


Posição defensiva Posição ofensiva
Pesquisa necessidades explícitas Pesquisa necessidades latentes
Mira o target existente Mira o target latente

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Resta saber, no entanto, como o marketing pro- atraente que o dos iogurtes cremosos tipo grego.
ativo é visto pelas empresas (se é que ele é visto) Também será proativo o marketing que buscar
e como funciona. Fomos a campo para descobrir. novas maneiras de vender uma oferta, seja pela
construção de novos canais ou pela agregação de
MARKETING PROATIVO: ENTENDENDO O CONCEITO serviços sem comparação no mercado. As empresas
Para entender o que o marketing proativo repre- que praticam o marketing proativo também foram
senta e como funciona, partimos de um modelo definidas como aquelas que se questionam cons-
conceitual prévio que aglutinou as características tantemente sobre a eficácia de suas ações de mer-
fundamentais do marketing voltado para a anteci- cado e são insatisfeitas consigo mesmas. Conforme
pação. Ponderamos essas características com pes- depoimento de um diretor entrevistado: “Nossos
quisas prévias sobre a proatividade de mercado. clientes até podem estar satisfeitos, mas nós não!”.
Buscamos analisar como as empresas pesquisadas Já o marketing tradicional – ou marketing rea-
atuavam em relação a esses elementos. Ao mesmo tivo – foi descrito como “muito preso a entender
tempo, estivemos atentos à presença de outros o que o cliente está comprando”, como afirmou o
aspectos recorrentes nas organizações investiga- gerente de marketing de uma das empresas pes-
das, que pudessem apontar as variáveis relevantes quisadas. O marketing reativo é excessivamente
no contexto do marketing proativo. preocupado com aspectos como a satisfação dos
Um primeiro aspecto pesquisado foi o sentido clientes, deixando de lado necessidades menos
da expressão “marketing proativo” para os profis- explícitas, mas que podem representar vantagem
sionais de marketing. Iniciamos perguntando a competitiva. As empresas que praticam o marke-
eles qual a diferença entre o marketing proativo ting reativo, “estão condenadas a obedecer ao
e o marketing tradicional. De forma acentuada, mercado”, conforme relato de um entrevistado.
o marketing proativo foi expresso como “a capa-
cidade de antecipar preferências e necessidades ANTECEDENTES DO MARKETING PROATIVO A
dos consumidores”. Isso pode se dar pela criação segunda pergunta da pesquisa nos revelou aspec-
de produtos para atender demandas latentes dos tos relevantes, em relação aos antecedentes ou
clientes, ou até mesmo, demandas atuais não pré-requisitos fundamentais do marketing proativo
adequadamente supridas. Foi o que a Danone fez (Quadro 2). Isso ajuda a entender por que algumas
recentemente, no Brasil, com o lançamento do empresas são mais proativas do que outras, em
Danio, um iogurte muito mais consistente, criado relação às ações de marketing, e o diferencial que
para abrir um novo mercado, ainda virgem e mais essas empresas apresentam.

QUADRO 2 | ANTECEDENTES DO MARKETING PROATIVO

Balanço entre o curto e o longo prazo

Autonomia da área de marketing

Marketing
Pesquisa proativa de marketing
Proativo

Integração Marketing/P&D/Inovação

Criatividade para otimizar recursos

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AS EMPRESAS MAIS PROATIVAS da pesquisa de marketing. A maioria das empresas
ainda investe pouco, ou menos do que deveria, em
CONSEGUEM BALANCEAR MELHOR pesquisas de mercado. E aquelas que o fazem,
O CURTO E O LONGO PRAZO muitas vezes acabam aplicando pesquisas tradi-
cionais e focadas nas necessidades explícitas dos
clientes e consumidores. Nesse sentido, os profis-
sionais de marketing com os quais conversamos
focalizaram a importância do estudo de tendên-
cias. Para eles, praticar um marketing proativo
requer esquadrinhar o mercado e fazer “leituras
antecipadas da mudança”. Uma pesquisa que vá
além do mero teste de novas ofertas ou estratégias
Um antecedente validado mostrou que as de precificação, comumente aplicadas.
empresas mais proativas conseguem balancear Ainda no campo da pesquisa foi recorrente a
melhor o curto e o longo prazo. Em resumo, a visão de que, na verdade, os clientes não sabem
cultura do curto prazo, cada vez mais presente no o que realmente querem ou podem vir a querer,
cotidiano empresarial, muitas vezes aborta qual- desconhecendo as possibilidades tecnológicas em
quer tentativa da equipe de marketing em pensar relação a novos produtos e serviços. Por isso, é fun-
o futuro. Empresas que conseguem lidar melhor damental fazer uma escuta dos clientes que seja
com a “briga” entre o hoje e o amanhã acabam capaz de captar outras frequências além da fala.
sendo mais proativas, do ponto de vista mercadoló- Nesse sentido, as abordagens de pesquisa focadas
gico. O marketing proativo pressupõe uma cultura na interação com o cliente foram consideradas
de planejamento de longo prazo. Isso envolve a fundamentais (Veja o caso analisado na página 57).
construção de cenários e a análise periódica de Um exemplo disso seria a empresa que obser-
tendências, ferramentas que vão além da simples va, durante uma semana, como uma amostra de
pesquisa de satisfação ou da análise de ameaças e seus clientes vive e se comporta, coletando assim
oportunidades atuais. informações que jamais seriam extraídas por uma
A autonomia da área de marketing foi outro pesquisa tradicional. Os difundidos conselhos de
aspecto que emergiu. Gestores de marketing pro- clientes, ambientes que propiciam uma interação
ativo devem ter liberdade para apostar em novos bastante próxima entre empresas e o mercado,
produtos e serviços, realizar pesquisas menos também foram citados como aderentes a uma pos-
ortodoxas e assumir riscos controlados. Sem isso, tura de marketing proativo.
a área de marketing acabaria como mera coadju- O marketing proativo foi também muito rela-
vante das estratégias ou restrita aos trabalhos de cionado à questão da inovação. Nesse aspecto,
comunicação. a interação entre a área de marketing e Pesquisa
Um antecedente também pesquisado e ade- e Desenvolvimento (P&D) foi citada como funda-
rente a nossas expectativas diz respeito à questão mental. Em outras palavras, o que ouvimos é que

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a tríade Marketing–P&D–Inovação deve andar de mais com menos, e, importante, a relevância do
mãos dadas. Numa empresa em que a inovação marketing dentro da organização. De pouco adian-
não é a tônica, dificilmente haverá espaço para ta a empresa ter muitos recursos se a área de
ações de marketing mais ousadas. Como nos disse marketing for subjugada ao departamento finan-
um entrevistado: “para que marketing proativo se ceiro ou à administração, que não veem com bons
não quero inovar?”. olhos os “gastos” do pessoal de marketing, muitas
Finalmente, abordamos a questão dos recursos vezes taxados de supérfluos ou mal pensados. O
e sua importância para o marketing proativo. Isso porte da empresa e sua capacidade financeira não
porque, muitas vezes as ações de marketing são são pontos indispensáveis. Marketing proativo é
consideradas caras e aquelas voltadas para sondar uma oportunidade aberta também para as peque-
o futuro, ainda mais onerosas. Em consequên- nas e médias empresas.
cia, um discurso presente em muitas empresas De modo geral, os antecedentes do marketing
acaba considerando o marketing proativo como proativo considerados no modelo conceitual de
prerrogativa apenas de organizações com fartura pesquisa foram validados nas entrevistas de cam-
de recursos. Nesse sentido, foi relevante perceber po. Isso nos permitiu entender, em profundidade,
que, embora os recursos sejam importantes para os traços mais presentes nas empresas que reco-
qualquer ação de marketing – principalmente as nhecem e praticam o marketing de antecipação
ações proativas –, eles não são a única condição (Quadro 3).
para que uma empresa atue de forma mais proativa
Leonardo Araújo é professor e pesquisador associado da Fundação
em relação às estratégias de mercado. Dom Cabral.
Ouvimos relatos de que o dinheiro não é o
fator determinante do estilo mais ousado de uma Rogério Gava é professor e pesquisador associado da Fundação Dom
Cabral.
empresa em relação ao marketing (muitas com-
panhias com profusão de recursos acabam tendo
outros entraves), mas sim a criatividade de fazer

QUADRO 3 | CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS QUE PRATICAM O MARKETING PROATIVO

- Sabem lidar melhor com a “briga” entre o curto e o longo prazo


- Conferem autonomia e liberdade à equipe de marketing
- Realizam pesquisa proativa, mais focada em descobrir as necessidades latentes do mercado.
- Acreditam na inovação e a utilizam como apoio às decisões de marketing
- Detêm a habilidade de fazer mais com menos e usam a criatividade para investir

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CONCLUSÕES

O marketing proativo é uma escolha estratégica. Não basta apenas uma firme intenção para
colocá-lo em prática. É preciso que a empresa e os gestores de marketing desenvolvam capacida-
des, começando pela conquista de autonomia para agir. Intenções estratégicas sem ações nada
valem no mundo dos negócios. Além disso, fica patente que a integração funcional do marke-
ting com as áreas de inovação e Pesquisa & Desenvolvimento é fator crítico na antecipação das
mudanças e impacto no mercado. Essa perspectiva é confirmada nos casos pesquisados, como
o da empresa Angelus, analisado neste artigo. Com ele, chegamos a uma conclusão importante:
no campo da proatividade empresarial, as estratégias de marketing e inovação devem estar cada
vez mais conectadas. E de forma sinérgica. Vale ressaltar que marketing é inovação, e vice-versa.
Como observamos nas entrevistas de campo e nos casos estudados, se a empresa não busca a
inovação de maneira consistente e ousada, as estratégias de marketing acabam se restringindo
a ações de ajuste às mudanças do presente ou a táticas de defesa diante do ataque dos concor-
rentes. O elo fundamental que garante a sinergia entre o marketing e a inovação é a prática da
pesquisa proativa. Sem ela, seria impossível vislumbrar caminhos para moldar o mercado, em vez
de apenas obedecê-lo.
Finalmente, amparados por conclusões de outras pesquisas no campo da proatividade de mer-
cado – agora reforçadas –, é importante ressaltar que o marketing proativo não é o único ou sempre
o mais válido caminho a seguir. Ele não exclui a perspectiva do marketing reativo, ou seja, uma
resposta às demandas explícitas dos clientes e de outros agentes do mercado. As empresas mais
inteligentes e flexíveis são capazes de conciliar o “marketing de antecipação” com o “marketing
responsivo”, na busca de melhores resultados em ambientes competitivos complexos.

PARA SE APROFUNDAR NO TEMA

ARAÚJO, Leonardo; GAVA, Rogério. Empresas proativas: como antecipar mudanças no mercado.
Rio de Janeiro: Elsevier; FDC, 2011. 357 p.

ARAÚJO, Leonardo. Market provactiveness: construct, antecedents and consequences. Nova


Lima: Fundação Dom Cabral, 2008. 36 p. (Caderno de Ideias; CI0813).

ARAÚJO, Leonardo; GAVA, Rogério. Proatividade de mercado: muito além do foco no cliente.
DOM: a revista da Fundação Dom Cabral, Nova Lima, n. 6, p. 24-31, jul. 2008.

KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2012. 765 p.

ARAÚJO, Leonardo; GAVA, Rogério. Construindo a proatividade no Marketing. HSM Management,


São Paulo, v. 12, n. 68, p. 26-30, maio/jun. 2008.

CALKINS, Tim. Defending Your Brand: how smart companies use defensive strategy to deal with
competitive sttacks. New York: Palgrave Macmillan, 2012. 304 p.

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Marketing proativo e inovação na prática
A Angelus é uma empresa que nasceu em 1994 com a missão de “disponibilizar soluções
odontológicas inovadoras, com base científica e tecnológica”. No campo da odontopediatria, a
trajetória de sucesso da Angelus nos rumos da inovação e do marketing proativo é marcada por
um simpático “jacarezinho”. O animal modelado é um revestimento para seringas de anestesia,
lançado em 2010, produto com enorme sucesso no mercado. Como confirma Roberto Alcântara,
fundador e CEO da Angelus: “Embora tenha todo um investimento em design e ciência de mate-
riais, o que acreditamos que tenha levado ao sucesso foi o seu caráter inovador, que preenche uma
importante necessidade de mercado, ou seja, atenuar o medo da anestesia”.
Esse depoimento resume muitas páginas acadêmicas sobre a integração entre as áreas de
marketing, Pesquisa & Desenvolvimento e inovação. Sem essa integração, como já citado, o
marketing não rompe com as amarras da “lógica responsiva” e se torna refém do mercado. Para
a Angelus, marketing é inovação, e vice-versa. Antes de ser um mero jogo de palavras, essa pers-
pectiva se materializa na empresa com a pesquisa proativa, capaz de captar e entender o que o
cliente não diz. A tarefa “atenuar o medo da anestesia” parece óbvia demais, mas a solução - o
“jacarezinho” - nem um pouco. Seria ingênuo pensar que dentistas ou crianças demandariam esse
produto, de forma explícita.
Para chegar à solução, a Angelus buscou inspiração fora das arenas tradicionais de pesquisa
(os chamados focus group com clientes). A ideia do “jacarezinho” partiu de um grupo de pes-
quisadores da Universidade de Uberaba (Minas Gerais), que mantém parceria com a empresa
e reconhece o seu DNA inovador. Daí, a abertura para a proposição de ideias de produtos não
convencionais. Essa aproximação com o mundo acadêmico acaba sendo um valioso recurso de
pesquisa alternativa em marketing, que favorece a inovação, como aconteceu com o “jacarezinho”.
O sucesso do produto fortaleceu na empresa uma escolha estratégica: a criação de um
novo conceito de marca – Angie By Angelus – que vai ancorar uma linha inovadora de produtos
destinados ao mercado de odontopediatria. Um nicho promissor que a Angelus pretende explorar
globalmente a partir de 2015. Uma equipe multidisciplinar de marketing, inovação e produção
construiu, nos últimos três anos, o conceito da marca e o portfólio de produtos da empresa. A
proposta de valor de Angie By Angelus resume-se em “quem cuida, é amigo”. Para chegar a ela,
houve uma intensa jornada de pesquisas e observações em torno do mundo infantil, envolvendo
dentistas, psicólogos, pedagogos, educadores, palhaços, animadores de festas, mães e as próprias
crianças. Como ressalta Roberto Alcântara, “criar um conceito de marca é algo bem mais com-
plexo que idealizar produtos; por isso investimos tanto tempo nesse projeto, que para nós é uma
aposta estratégica”.
Analisando alguns antecedentes do marketing proativo, observamos que a empresa soube
balancear o curto e o longo prazo no desenvolvimento do projeto Angie By Angelus: foram três anos
de pesquisas para construir o conceito (2010-2013), um ano (2014) destinado à introdução dos
primeiros produtos e mais um ano (2015) para consolidar essa nova plataforma de negócios no
Brasil e partir para sua implantação em outros países. Além disso, a integração entre as áreas de
marketing, Pesquisa & Desenvolvimento e inovação tornou-se a principal alavanca do projeto. Ao
mesmo tempo, um processo bem estruturado de inovação garantiu o envolvimento autônomo des-
sas áreas funcionais, inseridas numa estrutura matricial. Por fim, ficou evidente como a empresa
utilizou de forma consistente a pesquisa proativa de marketing (ampla e profunda investigação do
mundo infantil, baseada em diversas observações de campo) para forjar o conceito e a proposta
de valor da marca Angie By Angelus.

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