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FONTES EUROPEIAS.................................................................................................................. 30
FONTES INTERNAS.................................................................................................................... 32
QUALIFICAÇÃO ............................................................................................................................. 55
REENVIO....................................................................................................................................... 72
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ferrer Correia: DIP é o ramo da ciência jurídica onde se definem os princípios, se formulam os
critérios, se estabelecem as normas a que deve obedecer a pesquisa de soluções adequadas
para os problemas emergentes das relações privadas de caráter internacional.
➢ Nuno Andrade Pissarra: DIP é o ramo do Direito que tem por objeto situações privadas
internacionais/transnacionais e por função a regulação dessas situações
o Para que o DIP seja chamado a atuar, tem se estar perante esse objeto e função.
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Lima Pinheiro: Também são situações privadas aquelas que estando implicado um Estado ou um ente
público autónomo, este não age na qualidade de sujeito público, mas como se de um particular se
tratasse.
➢ A participação de um sujeito público só obsta ao caráter transnacional da relação quando ela
fique submetida diretamente ao DIPúblico interno ou, por força do DIPúblico, seja uma relação
que se insira exclusivamente na Ordem Jurídica de um Estado estrangeiro, por se tratar de uma
atuação iure imperii, não ter sido celebrada convenção de arbitragem válida nem ter ocorrido
renúncia à imunidade de jurisdição.
➢ DIPrivado é aplicável a todas as relações que, embora implicando Estados ou entes públicos
autónomos estrangeiros, organizações internacionais ou agentes diplomáticos consulares de
Estados estrangeiros, sejam suscetíveis de regulação na esfera interna.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
FC: DIP procura formular os princípios e regras conducentes à determinação da lei/leis aplicáveis
às questões emergentes das relações privadas internacionais.
1. Situações Absolutamente Internacionais
• Ex: Português vende casa no Algarve a Britânico
2. Situações Relativamente Internacionais
• Ex: Dois ingleses compram uma casa em Londres. Um deles não paga o preço e
vem domiciliar-se em Portugal – situação parecia só relacionar-se com a Ordem
Jurídica inglesa mas vem a ser uma situação plurilocalizada
3. Ainda há situações que não sendo propriamente plurilocalizadas envolve o comércio
internacional e a troca de mercadorias entre fronteiras – estão em causa os interesses
do mercado internacional, surgindo no contexto de negócios internacionais ou sendo
financiada por capitais internacionais.
• Ex: Duas empresas Portuguesas importam mercadoria para vender
FC: A norma do DIP não propõe fixar, ela mesma, o regime das relações da vida social e compor
conflitos interindividuais de interesses – é regra de caráter meramente instrumental e limita-se
a indicar a lei que fornecerá o regime da situação (a lei onde se hão de procurar as normas que
venham a orientar a decisão do litígio).
➢ Nem todas obedecem a este esquema.
Cada Estado tem o seu DIP para uso interno – a sua interpretação do DIP.
• Os casos de DIP são resolvidos em cada Estado de acordo com normas do direito desse
Estado.
o Deveria ser a Comunidade dos Estados, agindo concertadamente, a resolver os
problemas de DIP através de uma definição que a todos vinculasse.
o Não existe consenso.
• A resolução do conflito de leis é de acordo com as leis que se tenham por mais
convenientes e mais justas, apuradas tendo em conta as Regras de Conflitos –
propõem-se a resolver um problema de concurso entre preceitos jurídico-materiais
procedentes de diversos sistemas de direito.
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jurídico que for designado por certo elemento da situação de facto (o elemento/fator
de conexão).
o Através da concretização do fator de conexão tornam-se conhecidas a lei e a
norma material chamadas a resolver a questão de direito proposta.
• Podem ser chamadas mais do que uma lei. Ex: num contrato podem aplicar-se normas
de 3 sistemas de direito – direito nacional das partes quanto à capacidade, direito
escolhido pelos contraentes quanto à substância e efeitos do negócio jurídico e lei do
lugar da celebração no tocante à forma externa.
LP: DIP regula as situações transnacionais através de um processo conflitual – através das
normas de conflitos, que são proposições que perante uma situação em contacto com uma
pluralidade de sociedades estaduais determinam o Direito aplicável.
• É um Direito de Conflitos2 – mas não conflitos de soberanias (competências legislativas
entre os Estados), não conflitos de leis (no sentido de conflito entre leis/normas da mesma
Ordem Jurídica local), não conflitos de DIP (quando os Direitos dos Conflitos das Ordens
Jurídicas em presença divergem entre si sobre qual delas deve regular o caso) .
• É um Direito com um processo de regulação indireta – regula as situações transnacionais
mediante remissão para o Direito aplicável.
Setores do DIP
O DIP contém regras que regulam:
1. CONFLITO DE LEIS NO ESPAÇO
LP: Direito de Conflitos stricto sensu
Ex: Português e Inglês querem fazer compra e venda. Acontece algo de errado e Português diz
que Inglês faltou à boa fé. Inglês diz que não tinha deveres pré-contratuais, pois não existe boa
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Ferrer Correia: DIP é um Direito de Conflitos – conjunto de normas relativas à aplicação dos diferentes
sistemas jurídico-privados estaduais e aos conflitos de jurisdições (domínio onde se inclui o
reconhecimento de sentenças estrangeiras).
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fé no Direito inglês (Tribunais ingleses chegaram mesmo a dizer, em 1992, que tal ideia é
“repugnante”).
➢ Caso julgado em Portugal: tem dever de indemnizar
➢ Caso julgado em Inglaterra: não tem dever de indemnizar
Solução do caso depende totalmente da lei aplicável ao contrato – tem de se determinar à luz
de qual das leis com que se está em contacto se vai apreciar a situação.
➢ FC: Para resolver problemas deve escolher-se a Ordem Jurídica que seja mais
próxima da situação, i.e., que tenha com elas contacto mais forte ou mais estreito.
o Não seria boa solução sujeitar todos os factos e situações da vida jurídica
internacional à autoridade do direito local.
o Sistema da territorialidade das leis (omnia statuta realia) tem muitos
inconvenientes.
NAP: não se deve confundir Direito dos Conflitos com Direito Internacional Privado
➢ O DIP é muito mais que esse setor4 – Direito de Conflitos é apenas um conjunto de
normas que regula 1 problema do DIP.
O Direito de Conflitos é o setor do DIP que tem por objeto as Situações Privadas
Internacionais e por função a regulação dessas situações através da determinação da
lei aplicável
➢ Nuno Andrade Pissarra: o critério de transnacionalidade relevante varia de setor do DIP
para setor do DIP.
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Não deve ser confundida com “lei estrangeira”. A lei competente pode ser estrangeira ou nacional
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Cada setor responde a problemas específicos.
➢ Não se pode utilizar normas de conflitos para saber qual o Tribunal competente.
o Ex: art. 46º CC não diz qual o Tribunal competente, apenas qual a lei competente.
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E mesmo que os tribunais nacionais apliquem a lei estrangeira, tal não pode colidir com a
Reserva de Ordem Pública Internacional
➢ Mecanismo que conduz à correção das decisões.
➢ Ex: seria estranha um tribunal em Portugal prejudicar uma pessoa cuja boa fé foi lesada
– uma vez que esse princípio é estruturante da Ordem Jurídica portuguesa.
2. CONFLITO DE JURISDIÇÕES
LP: Direito da Competência Internacional
O DIP vem clarificar quais os Tribunais que seriam competentes para julgar o caso.
• Não basta aferir qual a lei aplicável, mas, é necessário perceber qual o Tribunal a que a
causa pode ser submetida.
• Os órgãos de aplicação do DIP são os que aplicam o Direito no geral, portanto tem de
haver normas de competência internacional. Ex: Regulamento 1215/2012 UE
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FC: Conflitos Interlocais – analogia com os conflitos internacionais em que cada um dos sistemas
jurídicos tem o seu território próprio que não coincide com o território do Estado (mas é uma divisão
desse território, uma região ou província).
➢ Visto a nacionalidade ser só uma, o elemento de conexão decisivo será o domicílio e as normas
de conflitos serão, em regra, únicas para todo o território do Estado.
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São aplicadas imediatamente pois não há normas de conflitos a dizer quais as normas de conflitos que
se aplicam – são aplicas imediatamente para determinar qual o direito material aplicável.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: Há uma temática próxima que se agrega a esta categoria: reconhecimento de atos públicos
estrangeiros que tenham efeito em Portugal. Ex: notário, escritura pública, registo civil e etc.
5. ARBITRAGEM INTERNACIONAL?
DMV: os casos que o DIP regula (de 1. a 4.) colocam-se com certas especificidades quando
estamos perante um Tribunal cuja natureza é arbitral.
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Entendido como uma das situações reguladas pelo DIP apenas por Dário Moura Vicente.
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Valores do DIP
Antes se apurar qual o método que rege a determinação da lei aplicável a situações
internacionais privadas, temos de perceber quais os fins últimos que são visados por esta
disciplina.
➢ DMV: só na base da identificação de valores é que podemos definir uma metodologia
adequada e saber por que processo/de que forma é que disciplinamos as situações
privadas internacionais.
Axiologia do DIP não serve só para determinar o método de regulação das Situações Privadas
Internacionais e tem outras capacidades:
A. Relevância Dogmática – apuramento dos dogmas e fins últimos da disciplina jurídica
B. Relevância Hermenêutica – elementos fundamentais para interpretação de normas
C. Relevância Heurística – tudo tem de atender ao espírito do sistema, tanto no plano da
integração de lacunas como no da correção do resultado
Estes valores são as bases dos princípios8 e são essenciais para toda a tarefa de resolver um caso.
Valores do DIP:
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Expressão normativa dos valores
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A lei considerada competente tem de ser apta a reger – através dos seus preceitos materiais ajustados
à matéria ou à categoria normativa visada pela regra de conflitos – as situações multinacionais que se têm
em vista, ou determinados aspetos dessas situações.
➢ Mas esta conexão, em princípio, não tem que ver com o conteúdo da lei e sim com a sua posição
espacial – a lei aplicável será a que tiver conexão mais forte/estreita com a relação/situação
jurídica em causa, tendo em conta uma ponderada avaliação dos interesses que se apresentam
como prevalecentes no setor considerado.
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LIMA PINHEIRO: Esta justiça10 é maioritariamente formal ou conflitual, por oposição à justiça
material que diz respeito à solução material do caso.
➢ Mas mesmo nas normas de conflito, o DIP não abstrai completamente da solução
material do caso.
As normas de conflitos, ao revelarem soluções materiais, devem fazê-lo de uma forma geral e
abstrata atendendo a valores e princípios e não valorações casuísticas feitas pelo órgão de
aplicação do Direito.
➢ Não há sistema universal de valores e princípios juridicamente válidos para todas as
ordens jurídicas estaduais – por conseguinte não há sistema universal de valores e
princípios do DIP.
o Há grandes núcleos valorativos comuns a muitos sistemas nacionais de DIP,
mas, mesmo entre estes há diferenças importantes ao se atender à Ordem
Jurídica desse Estado a que o DIP não é imune (uma vez que há grandes vetores
que percorrem toda a Ordem Jurídica).
Valores Formais do DIP:
I. Certeza e previsibilidade – normas de conflitos aplicáveis devem poder ser conhecidas
pelos destinatários e devem permitir a determinação do Direito aplicável com facilidade
e certeza.
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Justiça Conflitual pode exprimir a adequação de um Direito supraestadual (DIPúblico) ou Direito
paraestadual (Direito Autónomo do Comércio Internacional) na regência de uma determinada categoria
de situações transnacionais, sem que esteja em causa qualquer laço entre a situação em causa e um
Estado.
Justiça Conflitual pode atender a considerações jurídico-materiais e à adequação material de um Direito
estadual ou não estadual para reger determinada categoria de situações transnacionais ou um seu aspeto.
Só se invoca uma ideia de “justiça conflitual” quando as partes acordem num julgamento segundo a
equidade ou quando não for possível realizar a justiça da conexão por meio de uma norma de conflitos
com conceito designativo indeterminado
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DÁRIO MOURA VICENTE: Grandes ideais do DIP são os ideais do Direito Privado e os da Ordem
Jurídica como um todo.
➢ DIP é autónomo por força do seu objeto e método mas não por força dos seus valores,
comuns a toda a Ordem Jurídica
o As projeções desses valores no DIP é que têm um cunho específico
Mas não é uma justiça diferente de outras disciplinas – a justiça no DIP é tão material como
qualquer outra disciplina do direito privado.
➢ O que aqui diverge é o modo como se dá a realização a esses valores.
o Este ramo do Direito não é um ramo puramente formal, um Direito sobre
Direito assente numa justiça formal – o DIP tem função material de prover à
resolução de conflitos de interesses nas situações privadas internacionais, e
essa resolução faz-se em conformidade com os valores fundamentais da nossa
Ordem Jurídica.
Valores do DIP:
1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
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Art. 1º CRP
➢ Toda a Ordem Jurídica tem como objetivo fundamental a realização deste valor.
A. Tem reflexo no DIP em matéria de Estatuto Pessoal: art. 25º CC (remete para art. 31º CC)
Lei pessoal – conceito de lei que acompanha a pessoa; há uma lei da pessoa onde quer que se
encontre, de onde quer que ela provenha e onde quer que aja.
➢ FC: Os indivíduos, os sujeitos das relações de direito privado tiram vantagem de
serem submetidos, em tudo o que respeita ao seu estatuto pessoal, a uma lei a
que podem chamar de sua lei – uma lei a que estejam ligados de maneira estreita
e permanente.
As pessoas não se podem ver despojadas de estados ou qualidades que têm de acordo com a
lei do país de onde são originários.
➢ Exclui que se aplique a lei do lugar onde se encontra – geraria instabilidade muito grande
na regulação do estatuto pessoal e entravaria muito o tráfego jurídico internacional. Ex:
pessoa podia ser casada num Estado e não noutro, maior num Estado e não noutro, filho
num Estado e não noutro.
o Não seria possível estar-se sujeito à mudança de situação jurídica por passar a
fronteira
➢ Seria uma solução contrária à salvaguarda DPH pois estas situações são inerentes à
pessoa – são certos estados e qualidades que a integram e em que ela está investida de
acordo com a lei do país de que é originária.
LP: tem relevância ao nível da escolha das conexões, respeitando a personalidade dos indivíduos,
ligado à noção de estatuto pessoal.
➢ Implica também a conformidade dos elementos de conexão com os direitos fundamentais.
B. Tem reflexo no DIP em matéria de Direito dos Estrangeiros: art. 14º CC (atende ao art. 15º
CRP)
➢ Ideia personalista que rege a Ordem Jurídica portuguesa – estrangeiros são equiparados
a nacionais e são tratados como pessoas.
o Seria contrário à DPH recusar a uma pessoa, pela circunstância de ser nacional
de um país estrangeiro, a suscetibilidade de ser titular de direitos perante a
Ordem Jurídica nacional.
2. AUTONOMIA PRIVADA
O DIP reconhece a autonomia da vontade.
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• Quando as partes escolhem a lei aplicável aos contratos de que são parte, está a
favorecer-se a certeza quanto ao Direito aplicável e a segurança jurídica.
o Esta faculdade é muito importante no âmbito do DIP pois permite saber, à
partida, qual a lei que vai reger aquela situação jurídica.
• Ao mesmo tempo reconhece-se aos interessados uma certa esfera de liberdade nas
regulações das situações jurídicas em que intervêm – permite-se às pessoas que
escolham o regime jurídico que têm por mais ajustado a essas situações jurídicas.
o FC: Interesse dos sujeitos reclama um sistema que facilite o
desenvolvimento da sua vida jurídica e lhes conceda o direito de escolher
a lei aplicável às relações que constituem.
3. TUTELA DA CONFIANÇA
Inferido pelo TC do art. 2º CRP – trata-se de salvaguardar as expetativas legítimas das pessoas
nas situações jurídicas.
➢ As situações privadas internacionais, por estarem conexas a mais de uma Ordem
Jurídica, reclamam uma regulação jurídica que acautele o mais possível a tutela das
expetativas legítimas.
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DMV: nos EUA isto não é assim
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D. Cláusulas de exceção à aplicação de uma lei, que não é a lei que está prevista na regra
de conflitos – art. 17º CC pode fundar-se também na tutela da confiança
E. Reconhecimento em território nacional de sentenças e outros atos públicos
estrangeiros
Deve evitar-se esse fenómeno e assegurar o mais possível que o resultado da causa seja o
mesmo onde quer que a ação seja proposta – realizar a Harmonia das Regras Internacionais,
em consonância com o princípio importante da Harmonia Jurídica Internacional.
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5. VALORES SOCIAIS
Há inúmeras regras no Direito privado que permitem acautelar a posição da parte mais fraca, o
que também se verifica no DIP.
➢ Contratos de Consumo, Contratos de Trabalho, Contrato de Agência
o Ex: art. 6º, 8º Reg Roma I
▪ Pode ter que se fazer balanço e aplicar o mais favorável à parte mais
fraca – limita-se o alcance da lei escolhida pelas partes em benefício da
lei do local que se aplicaria supletivamente e era mais benéfico.
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Método do DIP
Esta é uma disciplina que tem de ser capaz de garantir a livre circulação dos direitos
através de territórios sujeitos a leis diversas, assegurando a estabilidade e continuidade
nas relações jurídicas internacionais.
➢ Alcança-se esse objetivo com o Método do DIP.
A regulação das Situações Internacionais Privadas passa pela distinção do método e, havendo
vários métodos, é pressuposto que se encontre entre eles um critério que não pode ser outro
do que a orientação pelos valores do DIP.
➢ DMV: doutrina que entende um pluralismo de métodos de regulação internacional –
pluralidade de métodos do DIP
LP: A “pluralidade de métodos” tem mais que ver com uma pluralidade de fontes de regulação e
de técnicas de regulação conflitual do que com um verdadeiro problema metodológico.
➢ LP: entende que só há 2 processos de regulação: Direta e Indireta
o Mas dentro destes há várias técnicas.
▪ NAP: mas técnicas também são métodos, daí a pluralidade
Método Substancialista
A regulação das situações privadas internacionais deve ser levada a cabo através de normas
materiais, de direito substantivo e que deem a solução para o caso em apreço.
➢ Proposta de formulações de soluções materiais para as situações da vida
internacionais.
Pode ser um único Direito Material aplicado tanto às matérias internas como às situações
jurídicas internacionais.
• Principalmente por via de Convenções Internacionais.
o Para isto muito contribuiu a Comissão das Nações Unidas para o Direito
Comercial Internacional (CNUDCI) e o Instituto para a Unificação do Direito
Privado (UNIDROIT).
o Também os regulamentos da União Europeia
• Principais áreas de unificação: venda internacional de mercadorias, transportes
internacionais, direitos sobre embarcações e aeronaves, Direito Marítimo, Direito da
Propriedade Intelectual, testamentos.
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Há outras soluções menos ambiciosas: Convenção Viena 1980 sobre compra e venda de
mercadorias
➢ Portugal não se vinculou
Maior parte do DIP material é incompleto – não há regulação para todas as situações privadas
internacionais, embora, à partida, parecesse ser uma solução boa que tende a garantir a justiça
e a adequação às situações transnacionais, bem como atender à segurança jurídica.
• Âmbito limitado – é moroso, difícil e com custos elevados;
• Pode não vincular todos os Estados soberanos – não tem caráter geral e há domínios de
difícil unificação devido aos valores ético-jurídicos de cada comunidade estadual; não é
universal pois nem todos os Estados são partes nas Convenções de Direito material
unificado (o número e o peso dos Estados contratantes nunca é universal);
• Não se unifica sistemas jurídicos
o Há diversas famílias jurídicas a aplicar o mesmo direito. E se houver lacunas, como se integra? E
quanto à interpretação?
o Divergências de interpretação e integração do Direito unificado (se não houver
Tribunais internacionais devem ser os Tribunais estaduais que têm de ter em
atenção a autonomia e especialidade do Direito unificado, esforçando-se para
favorecer a uniformidade internacional de interpretação).
DMV: pontos que mostram que o DIP material uno não é uma solução
Há mecanismos de Harmonização:
Estabelecimento de regras ou princípios fundamentais comuns – não se visa estabelecer um
regime idêntico nos diversos sistemas nacionais, mas tão-somente aproximar estes sistemas. Ex:
Leis-Modelo, Diretiva da UE, Princípios
➢ Não altera o normal funcionamento do sistema do Direito de Conflitos, uma vez que não
elimina as diferenças entre os ordenamentos em presença, limitando-se a atenuar estas
diferenças mediante uma aproximação das normas de fonte interna que neles vigorem
Há manifestações de Unificação12:
LEX MERCATORIA – direito que regula contratos comerciais internacionais. Criado pelo costume
dos operadores económicos.
• Conceção Maximalista: hoje, a Lex Mercatoria é Ordem Jurídica autónoma,
independente às Estaduais. Art. 3º Reg Roma I seria derrogado pois ao ser operado
económico podia não ser regido por Estados.
• Conceção Minimalista: não tem densidade para ser uma Ordem Jurídica. Apenas
complementa as Ordens Jurídicas estaduais. Não se pode ter todo o contrato regido
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FC: Criação de normas de direito material especial para as relações internacionais.
• Pode surgir de forma consuetudinária, como no caso das transações comerciais internacionais.
• Pode surgir de forma convencional
o Convenções que estabelecem direito material uniforme – substitui nos Estados
contratantes o direito neles vigente, tanto no que respeita às relações internacionais
como pelo que toca às relações internas.
o Convenções que estabelecem direito material unificado – estabelecem direito
material uniforme para determinada área de relações jurídicas, quando e só estas
assumam natureza internacional.
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pela Lex Mercatoria mas, em certas partes, é possível. Ex: aplica-se Lex Mercatoria ao
lugar do cumprimento. Pode ser usada para afastar as leis supletivas dos Estados.
o DMV: orientação mais adequada, pois falta completude à Lex Mercatoria para
ser uma Ordem Jurídica – afeta a segurança jurídica, uma vez que as partes não
têm a certeza da sua aplicação.
▪ Mas, a Lex Mercatoria pode ainda valer no sentido de Referência
Material – incorporação para substituir as regras supletivas do Estado.
▪ Não é Referência Conflitual, que permite afastar a aplicação de regras
de uma Ordem Jurídica em detrimento da aplicação de regras de outra
Ordem Jurídica (art. 3º Reg Roma I)
o FC: Lex Mercatoria é conjunto extremamente rico, todavia muito incompleto,
de usos, práticas e regras de natureza corporativa que se praticam no comércio
internacional.
Lima Pinheiro:
Só em 3 casos se verifica uma regulação DIRETA de situações transnacionais no seio da ordem
jurídica estadual
1. Direito Material Comum do Foro é aplicado a quaisquer situações independentemente
de estas comportarem elementos de estraneidade. Ex: Estado X aplica a todas essas
situações jurídicas transnacionais o direito material comum aplicável às situações
internas
2. Soluções ad hoc ou Direito Material especial de fonte interna são aplicados a situações
que tenham elementos de estraneidade, independentemente dos laços com o Estado
local. Ex: Estado Y cria Direito material especial para regular todos os contratos
internacionais.
3. Direito material especial de fonte supraestadual é aplicado a situações transnacionais,
independentemente de uma conexão entre estas situações e um dos Estados em que
vigora esse Direito. Ex: convenções internacionais para certo tipo de contrato
internacional
Uma aplicação direta do Direito material comum pode comprometer a continuidade das
situações transnacionais, colocando em risco a segurança jurídica e a harmonia
internacional de soluções, e seria incompatível com o DIPúblico.
• O Direito a aplicar não seria previsível, porque variaria consoante o Estado em que a
questão se colocasse – a aplicação de um Direito diferente em cada Estado fomentaria
a desarmonia internacional de soluções, o que conduziria à incerteza sobre as situações
jurídicas existentes (o que poderia levar à frustração de expetativas objetivamente
fundadas dos interessados, o que contradiz com o princípio da confiança).
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Ferrer Correia:
A tendência para adotar soluções materiais ad hoc não é de condenar absolutamente, ela
deve é ser reservada para casos excecionais.
➢ Não se está a procurar aplicar Direito Material do foro. Procura-se regular, através de
Direito Material especialmente elaborado para o efeito.
o O que é preciso é a existência de critérios que nos permitam distinguir, com
clareza, tais hipóteses.
o Mas ao tentar definir esses critérios não devemos olvidar que o método das
soluções casuísticas é deficiente e poderá conduzir a resultados justos mas à
custa do valor da segurança jurídica.
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o Isto surge no DIP pois não há conexão de sentido entre sistemas jurídicos
diferentes pois não há um plano ou desígnio unitário em que os preceitos se
ajustam e correspondem mutuamente.
Método Jurisdicionalista
Menezes Cordeiro é favorável a que se o tribunal português for competente, então só deve
aplicar o direito português, mesmo que a situações privadas internacionais
➢ Basta, para aplicar uma lei, que a jurisdição seja competente.
➢ Se houver norma a dar competência a órgãos de aplicação do Direito, então eles vão
aplicar direito material do foro.
Vantagens:
• Boa administração da justiça – tribunais de cada país aplicam unicamente a sua própria
lei pelo que será uma justiça tecnicamente mais aperfeiçoada por nessa lei serem mais
versados.
• Tempo do processo e dispêndio de recursos económicos – não há a necessidade de
averiguar qual a lei estrangeira aplicável.
Desvantagens:
• Afeta Tutela da Confiança – o tribunal português, ao aplicar a lei portuguesa a uma
determinada situação privada internacional que com ela não tem quaisquer ligações,
além de ser a jurisdição do foro, viola a confiança legítima.
• Propicia o fórum shopping – que lesa a igualdade entre as partes
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Nuno Andrade Pissarra: A diferença deste método para o do Direito Material Comum é que
aqui há perceção de internacionalidade das questões, enquanto no método de Regulação
Direta não há essa perceção e trata tudo como interno.
➢ Solução é a mesma, mas há esta nuance teórica.
Norma de Conflitos pode ser de fonte interna ou externa. Ex: para o casamento aplica-se o art.
49º CC; para o divórcio já não se aplica o art. 55º CC, mas sim o Regulamento Roma III (dá a
mesma norma de conflitos a regular esta situação jurídica em toda a UE).
Estas regras procuram identificar, na situação em causa, o elemento chave que justamente
servirá de base à determinação da lei aplicável.
• Atendem aonde há uma ligação entre a situação jurídica e determinado ordenamento
jurídico.
o Conexão relevante consiste num elemento da factualidade concreta – ato
jurídico fonte da obrigação, objeto da relação jurídica, sujeitos.
o É por classes/grupos de questões de direito/zonas de regulamentação
normativa que se opera a escolha do elemento de conexão e não por
categorias de relações jurídicas.
o É frequente o DIP distinguir e recortar, numa mesma situação jurídica,
diferentes aspetos/perfis – constituição, efeitos, forma, substância,
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Normas de Conflitos Rígidas (hard-and-fast rules) – normas que vinculam o juiz a utilizar
um elemento de conexão predeterminado, ou determinável a partir de critérios enunciados pela
própria norma, sempre que se lhe apresente uma questão jurídica do tipo correspondente à
previsão.
• Ex: se são obrigações contratuais, relações entre cônjuges e etc.; art. 46º e 49º CC
Normas de Conflitos Flexíveis (open-ended rules) – normas que concedem ao julgado
ampla liberdade na fixação, em cada caso, da conexão mais apropriada.
• Ou indicando uma pluralidade de elementos de conexão ou determinando a conexão
mais relevante ou permitindo a aplicação de outra lei, quando se mostre que a situação
concreta sub judice se encontra mais fortemente ligada com ela.
• Tem de se olhar para o caso concreto, pois a própria norma de conflitos pode utilizar
conceitos indeterminados que têm de ser preenchidos.
o Ex: art. 4º/4 Reg Roma I, art. 52º/2 CC.
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Vantagem deste método é a preservação da dignidade cultural dos Direitos dos vários Estados
soberanos.
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Há uma outra tendência que critica este método: Perspetiva do interesse do Estado – teoria de
Brainerd Currie
• Nega o sistema da regra de conflitos e rompe com o método da conexão.
• A solução do conflito de leis deve ser na perspetiva do interesse do Estado e não na do
interesse dos sujeitos das relações jurídicas e do comércio internacional.
• Solução é dada por uma governamental interest analysis. A cada lei corresponde um espaço ou
domínio de aplicação que se delimita em função do interesse (estadual) que a tenha
determinado.
o FC: Teoria é insustentável e autor parte da ideia falsa de que é sempre possível deduzir
dos fundamentos ou da “policy” do preceito jurídico os limites do seu âmbito de
aplicação espacial.
o O DIP dá primazia aos interesses dos indivíduos.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Elas demarcam o seu campo de aplicação, sendo constituídas por preceitos de direito
material, público ou privado, cujo objetivo reside na tutela de interesses de grande
relevância da comunidade local.
Essas normas são aplicadas sempre que entre a situação e o respetivo ordenamento
jurídico exista uma conexão estreita que essas próprias normas definem e derivam do
seu escopo.
➢ Norma de conflitos unilateral que alarga a competência atribuída à lei portuguesa pelas
normas de conflitos gerais.
Lima Pinheiro: Em certos sistemas, admite-se que essa autolimitação possa ser o produto de
uma valoração casuística, feita pelo intérprete face ao conjunto das circunstâncias do caso.
➢ Em Portugal, isso só pode acontecer mediante a revelação de uma lacuna que deve ser
integrada mediante a criação de uma solução conflitual ad hoc, sendo excecional.
Conclusões LP:
• A regulação do DIP é indireta ou conflitual.
o A aplicação direta de Direito material só se justifica excecionalmente
relativamente a certas regras de DIP material.
• Por conseguinte, as alternativas que se colocam ao sistema de Direito de Conflitos dizem
fundamentalmente respeito à técnica de regulação conflitual.
o Só o Direito material unificado constitui uma alternativa global ao sistema de
Direito de Conflitos – esse alcance é limitado, constituindo ainda o sistema de
Direito de Conflitos a principal técnica de regulação das situações
transnacionais.
• Atuação do sistema de Direito de Conflitos não é só uma solução de recurso, mas é a
resposta mais adequada naquelas matérias em que as divergências entre os sistemas
jurídicos resultam de diferentes valorações ético-jurídicas e, mais em geral, do respeito
da identidade cultural das diferentes sociedades estaduais.
• O reconhecimento de situações definidas perante uma ordem jurídica estrangeira
constitui uma técnica de regulação conflitual, estando a par do Direito de Conflitos ou
complementando-o.
DUE – tem vocação mais ampla que o DIPúblico para regular imediatamente as situações
transnacionais.
➢ Há casos em que o DUE as regula imediatamente e os litígios delas emergentes são
decididos pela jurisdição da UE.
24
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Conceção Schmitthoff – lex mercatoria não é uma ordem jurídica autónoma, na qual os
contratos internacionais se encontrem radicados.
➢ Conceção Minimalista: Esta desempenha uma função interpretativa e integrativa do
negócio jurídico e, eventualmente, o papel de fonte subsidiária da ordem jurídica
estadual.
Conceção Goldman – lex mercatoria é uma ordem jurídica autónoma do comércio internacional,
sendo a ordem jurídica da societas mercatorum.
➢ Conceção Maximalista
25
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
14
I.e., ter os mesmos elementos de conexão.
➢ Existem diversas normas de conflitos que, para a mesma situação, têm em conta diferentes
elementos de conexão.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Normas que regulam condutas de forma indireta, não determinando elas próprias o
Direito aplicável, mas, indicando qual a lei que vai regular a matéria.15
o FC: escola de Coimbra discorda, pois estas normas não regulam condutas e são,
sim, normas de decisão.
• Os conceitos de Normas de Conflitos Unilaterais e Bilaterais são reconduzidos a esta
categoria.
2. NORMAS FORMAIS – remetem para um direito competente sem consideração pela solução
de direito material.
• Justiça formal em que o que interessa é que se crie estabilidade nas situações
internacionais.
• Garantindo a aplicação da lei com a conexão mais estreita à situação – não é verdadeira
característica, pois as normas não são verdadeiramente formais.
o Ex: art. 22º CC – princípios fundamentais que são reserva à aplicação de Direito
estrangeiro.
o Sempre que uma norma de conflitos aponte para a aplicação de uma lei
estrangeira, ela não se vai aplicar se violar os princípios fundamentais do EDD
português – daí que não se possa defender que o Direito português é
plenamente formal.
• Além destas, há Normas de Conflitos Materialmente Orientadas. Ex: art. 36º, 65º CC –
são normas de conflitos que atender ao Resultado Material.
15
LP recusa a visão judiciária do DIP, que afirma que este ramo do Direito tem normas cujos destinatários
são os órgãos de aplicação do Direito. Os sujeitos das situações transnacionais necessitam de determinar
o Direito aplicável para poderem orientar por ele as suas condutas.
27
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Fontes do DIP
Até meados do séc. XX a fonte era, sobretudo, jurisprudencial – normas eram escassas e era a
jurisprudência e a doutrina que faziam uma construção que depois servia de base à resolução
dos problemas suscitados pela vida prática.
FONTES INTERNACIONAIS
Ferrer Correia: Não há normas de conflitos decorrentes de preceitos do DIPúblico mas existem
numerosos tratados e convenções interestaduais versando matéria de DIP
➢ É reduzida a área coberta por tais instrumentos diplomáticos e diminuto o número de
países ligados por esses diferentes convénios.
Ago (da moderna escola nacionalista italiana): Direito internacional geral não contém normas que
digam respeito à atividade legislativa dos Estados no âmbito do DIP.
➢ As convenções internacionais não conteriam, em rigor, normas de conflitos, mas apenas
a obrigação de os Estados introduzirem na ordem interna certas normas de conflito.
Lima Pinheiro: conceção superada e DIP já não tem necessariamente caráter nacional; nada
obsta à vigência de normas de conflitos de fonte internacional.
O Direito de Conflitos de fonte internacional pode atuar no plano da ordem jurídica internacional
(normas de conflitos criadas e aplicadas por jurisdições internacionais16 + normas contidas em
tratados internacionais que se destinam a ser aplicadas pelas jurisdições internacionais) e no plano
da ordem jurídica estadual (através do sistema de receção automática do art. 8º CRP).
A. Convenções Internacionais: Tendência que surge desde o início do séc. XX, mas com relevo a
partir de 1945
• Muito importante é a Conferência de Haia – procede à unificação progressiva do DIP,
aprovando inúmeras convenções.
o FC: desde 1894 (quando se reuniu uma Conferência Internacional com o
objetivo de conseguir a unificação do DIP em determinadas matérias) que tem
havido Conferências e hoje em dia são encaradas como uma verdadeira
16
Magalhães Collaço
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: tal como os Regulamentos da UE, destinam-se a unificar as normas de conflitos que vigoram
na Ordem Jurídicas dos Estados contratantes/membros.
➢ Direito de Conflitos unificado é um Direito de Conflitos de fonte supraestadual que opera
no plano da ordem jurídica estatal.
o Fonte mais importante são os tratados internacionais que instituem ou
enquadram jurisdições internacionais ou quási-internacionais.
o Na determinação do Direito aplicável devem aplicar-se as regras de conflitos
que constem do próprio tratado que os cria ou enquadra.
B. Métodos Interpretativos das Fontes Internacionais: art. 8º/2 CRP estabelece que a entrada
em vigor na Ordem Jurídica interna dos tratados internacionais depende apenas da sua
ratificação ou da sua aprovação e publicação em Diário da República.
➢ Portanto, quando se tem de interpretar ou integrar as lacunas desses textos tem que
se ter em conta os critérios de interpretação do DIPúblico (nomeadamente os fixados
na CVDT)
C. Costume Internacional: existem várias teses quanto à possibilidade de, por via
consuetudinária, se terem formado regras de conflitos internacionais.
• LP: não é indefensável que algumas regras ou princípios17 de conexão, geralmente
consagrados pelos sistemas de DIP nacionais sejam já acompanhados de uma
17
Orientam a determinação da conexão relevante.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
convicção de vinculatividade. Ex: regra da lex rei sitae em matéria de direitos reais
imobiliários
o A rara invocação pelos Estados destes princípios, quer ao nível diplomático quer
ao nível do contencioso interestadual, também não permite inferir a falta de
convicção de vinculatividade, uma vez que se tratam de princípios que muito
raramente serão violados.
o Deve admitir-se que o costume internacional é fonte, embora de alcance
limitado, do Direito de Conflitos que opera no plano da ordem jurídica estadual
• DMV: há certas regras de conflitos de leis no espaço que hoje são aceites pela maior
parte dos Estados (ex: Lex Rei Sitae), contudo, tais não são regras de Direito costumeiro
de fonte internacional, uma vez que os legisladores nacionais aceitam-nas mas não o
fazem por estarem persuadidos de que estão obrigados a fazê-lo – não há convicção de
obrigatoriedade.
FONTES EUROPEIAS
Em paralelo com o que se verifica com as fontes internacionais, também o Direito de Conflitos de
fonte europeia pode operar ao nível da ordem jurídica da UE ou das ordens jurídicas dos Estados-
membros.
A. Instrumentos de Direito Derivado UE: o significado do Direito derivado como fonte de Direito
de Conflitos vigente na ordem jurídica interna foi limitado antes do Tratado de Amesterdão.
• Com a Comunitarização do 3º pilar houve várias medidas no âmbito do DIP (art. 61º e
65º Tratado Amsterdão).
o Tratado de Lisboa reiterou esta orientação e a UE tem competência em
matéria de DIP: art. 81º TFUE
▪ LP: É controversa a atribuição de competência legislativa genérica aos
órgãos da UE em matéria de DIP, pois é duvidosa a justificação à luz das
finalidades dos Tratados instituintes, mas, os Estados-membros não se
têm oposto à ação da UE no sentido de uma ampla comunitarização do
DIP.
➢ A uniformização do DIP não é necessária para o
estabelecimento de um mercado interno – dever-se-ia adotar
uma atitude restritiva quanto à intervenção legislativa
europeia, que só se justificaria quando os objetivos visados não
pudessem ser suficientemente realizados pelos Estados-
membros (princípio da subsidiariedade, art. 5º/3 TUE) e,
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Diretivas permitem a harmonização do DUE: obrigam os Estados quanto aos objetivos a atingir.
A maior parte das disposições conflituais estão contidas em Diretivas.
➢ Há várias Diretivas que consagram Direito de Conflitos: CCG, Comércio Eletrónico
➢ Os DL nacionais, com base nessas diretivas, têm de ser interpretados conforme o DUE
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
o LP: uma opção pela europeização do DIP não será consequente se não for
acompanhada por uma unificação do regime aplicável às soluções adotadas
pelos diversos sistemas conflituais dos Estados-membros.
B. Jurisprudência TJUE
Art. 267º TFUE permite o mecanismo das Questões Prejudiciais, cujas respostas são vinculativas
apenas para o caso concreto – não há uma regra de stare decisis para o DUE, apenas há uma
interpretação de preceitos normativos de DUE.
FONTES INTERNAS
Ferrer Correia: As questões de DIP resolvem-se em cada Estado de acordo com as normas
pertencentes à Ordem Jurídica nele vigente.
➢ A fonte do DIP é estadual – temos direito internacional pelo objeto e direito
estadual pela fonte.
Lima Pinheiro: Apesar do avanço das fontes internacionais e europeias, ainda é importante o
Direito de Conflitos de fonte interna.
Em 1966 o CC estabeleceu um sistema ao tempo dos mais atuais e mais completos sobre os
conflitos de leis no espaço: art. 14º a 65º CC
➢ Normas de Conflitos: art. 25º a 65º CC
DMV: Portugal é um dos países que conta com um sistema de regras mais acabado e coerente
em DIP.
➢ Há um complemento com muita legislação extravagante: CSC, CVM, CCG
➢ Há muitas destas normas cuja aplicação está suspensa por Regulamentos da UE
Fontes internas só se aplicam se não houver fontes supraestaduais.
Jurisprudência tem pouca importância, é escassa em matéria de DIP e não é fonte normativa de
Direito.
➢ Não deixa de ter um papel relevante pois o DIP tem uma grande margem de amplitude
– há regras de conflitos que conferem um largo grau de discricionariedade ao juiz na
determinação da lei aplicável.
o Ex: não se consegue dizer em abstrato qual é a lei mais estreitamente conexa –
tem de se olhar para o caso concreto e isso pode ser feito pelo juiz.
o É algo excecional e tem de ser manifesto – não aplica a norma rígida e faz
concessão à justiça.
FONTES NÃO-NORMATIVAS
A. Leis-modelo: textos de fonte internacional que são apresentados aos Estados como
recomendações sobre a forma de legislar em certas matérias.
➢ Existe sobre arbitragem internacional comercial, comércio eletrónico, assinaturas
eletrónicas e etc.
Não são textos vinculativos para os Estados, mas muitos deles adotam-nos, através de lei
interna, por serem considerados adequados a regular a situação.
32
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
C. Doutrina – DIP tem sido particularmente dependente, pois a Doutrina motivou consagração
(pela jurisprudência primeiro e depois pela lei) de normas de conflitos nas Ordens Jurídicas.
➢ Doutrina abordou primeiro as soluções de DIP, elaborando uma teoria geral do Direito
de Conflitos que hoje está consagrada na lei.
o Dário Moura Vicente: DIP é tributário do trabalho doutrinário, por isso pode
ser um modo de revelação das normas – fonte mediata/indireta
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Problema surgiu com o art. 3º/II da Constituição de Bona, que consagra o princípio da
igualdade, quando se ponderou nas regras de conflitos em que se fixava o direito
aplicável da mulher com base na nacionalidade do marido.18
• Dölle, Beitzke – DIP move-se num espaço exterior à Constituição, num espaço
livre relativamente aos princípios e normas constitucionais. As regras de conflitos
são regras técnicas e neutrais, que não têm o sentido de servir a justiça.
• Outros autores – DIP tem os seus próprios objetivos, mas, os seus preceitos não
são meros preceitos de ordem, porque a ordem para que tendem não é arbitrária
e cega a valores.
18
LP: O controlo da constitucionalidade das normas de conflitos foi discutido a propósito do princípio da
igualdade, designadamente perante normas de conflitos que em matéria de relações entre os cônjuges e
de divórcio mandavam aplicar a lei da nacionalidade do marido.
➢ Na Alemanha a controvérsia foi resolvida pelo TC em sentido favorável ao controlo da
constitucionalidade.
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➢ LP: Caráter formal das normas de DIP não significa neutralidade valorativa – DIP tem
a sua própria justiça e os seus próprios valores, que estão relacionados com a justiça e
os valores da ordem jurídica no seu conjunto.
Em 1977 reformou-se o CC19 à luz da CRP 1976 e alteraram-se as regras de DIP – como o art.
52º que ditava a primazia da lei da nacionalidade do marido.
➢ Reconheceu um interesse digno de tutela jurídica, por parte da mulher, em ver o seu
estatuto pessoal, nomeadamente as suas relações matrimoniais, regidas pela sua
própria lei
➢ Hoje, prevalece a lei do lugar da residência comum ou do lugar onde a vida familiar se
encontre mais estreitamente conexa.
2. Pode aplicar-se lei estrangeira, mesmo sendo ela for contrária à CRP?
Se essa contrariedade for uma ofensa à Reserva de Ordem Pública Internacional, então não se
pode aplicar.
→ Mas todos os preceitos da CRP fazem parte desse conjunto restrito de princípios
inderrogáveis? Não fazendo, poderá a CRP ser um limite, na mesma, à aplicação da lei
estrangeira?
19
Ferrer Correia: Em Portugal, a redação dos art. 52º, 53º e 56º (do CC 1966) foi revista em 1977, porque eram tidos
como contrários à CRP 1976 – estes preceitos eram semelhantes ao problema suscitado na Alemanha e diziam que
na falta de nacionalidade comum dos cônjuges se aplicava a lei pessoal do marido.
35
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
C. DÁRIO MOURA VICENTE: o art. 204º não está pensado para lei estrangeira, uma vez que a
CRP não tem pretensão de aplicação universal.
• A CRP não pode obstar à aplicação de todas e quaisquer normas estrangeiras
contrárias às suas prescrições porque nem sempre isso se justificará, mas, também
temos de admitir que a nossa CRP pode funcionar para além do âmbito que caberia
através da ordem pública internacional.
• Raciocínio a ser feito é: verificar se à luz das finalidades que a norma constitucional
tutela, também faz sentido aplica-la a lei estrangeira – tem de haver uma justificação
à luz das finalidades subjacentes à situação.
3. Tribunais podem recusar a aplicação de lei estrangeira por esta contrariar as normas
da constituição do país de onde é originária?
Art. 23º CC diz que o juiz, ao aplicar lei estrangeira, deve orientar-se pelos princípios nela fixados
– assim, se em dado sistema estrangeiro determinado preceito não é aplicado pelos tribunais
ordinários por colidir com as respetivas normas constitucionais, cabe ao juiz português dar a
essa circunstância o devido valor e abster-se identicamente de o observar.
➢ Ferrer Correia: Não cabe ao julgador do foro sindicar a compatibilidade
constitucional de preceitos da lei estrangeira, ele está apenas incumbido de
aplicar a mesma lei tal como ela seria aplicada pelo juiz do respetivo sistema
jurídico.
o A relevância não é a norma ser inconstitucional, é o facto de ela não ser
aplicável no sistema a que pertence.
Nos casos em que no Estado estrangeiro não há controlo da constitucionalidade das leis por
tribunais comuns, então os tribunais comuns não se podem recusar a aplicar a norma.
DIPrivado e DIPúblico
Regras de DIPrivado pelo objeto e DIPúblico pela sua fonte
Estão fora do âmbito do DIPrivado as relações que na ordem jurídica internacional se estabeleçam
entre Estados e entre organizações internacionais, ou entre estas e aqueles.
Está fora do âmbito do DIPúblico a regulação imediata da maioria das situações transnacionais.
Regras de DIPrivado, pela sua função, não acabam por ser regras de DIPúblico?
• França, séc. XX: Sim, elas desempenham uma função própria do DIPúblico, pois o
DIPrivado delimitava a competência legislativa de cada Estado e a aplicação de lei
estrangeira seria o reconhecimento de soberania dos Estados estrangeiros.
• DMV: Não, pois não se trata de repartição de soberanias e apenas se diz qual é a lei que
o Tribunal aplicará.
o Não é aceitar soberania de Estados estrangeiros, pois é o Estado nacional que
aplica a lei – e aplica a lei porque querem (manifestando, aí, a soberania).
36
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Lima Pinheiro:
DIPúblico fundamenta e limita a competência legislativa dos Estados com base na
territorialidade e na personalidade.
➢ Conceito de “jurisdiction” na doutrina inglesa que compreende a competência
legislativa, jurisdicional e de execução.
➢ Essa “competência legislativa” fundamenta-se, em primeira linha, num laço significativo
territorial ou pessoal, podendo determinar a aplicação do Direito do foro a situações
comportando elementos de estraneidade.
A doutrina tem vindo a discutir esta conceção, que foi acolhida no Restatement of Foreign
Relations Law, dos EUA, publicado em 1987.
➢ A discussão diz respeito à própria existência de limites à competência legislativa dos
Estados relativamente a situações privadas.
o Baptista Machado, Moura Ramos: DIPúblico só estabelece limites gerais à
“competência de execução”, porquanto, na falta de tratado em sentido
diferente, a realização de atos estaduais de coerção material se encontra
circunscrita ao seu próprio território. Caso Lotus (1927), TPJI entendeu que
DIPúblico não exclui de modo geral que os Estados estendam as suas leis e a sua
jurisdição a pessoas, bens e atos fora do seu território.
▪ LP: esta decisão apenas permite concluir que a jurisdição dos Estados
não se funda necessariamente num título territorial.
20
Ferrer Correia: Se a aplicação de direito estrangeiro tivesse algo que ver com a soberania estrangeira,
jamais os órgãos de um Estado poderiam aplicar outro direito que não fosse o vigente nesse mesmo
Estado.
37
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O exercício da jurisdição com base nestes critérios deve pautar-se por uma cláusula de
razoabilidade: ponderação das circunstâncias do caso concreto, interesses dos Estados e dos
destinatários das leis e etc.
DIPúblico deixa aos Estados uma grande liberdade no exercício da sua competência legislativa
relativamente a situações transnacionais e só exclui o exercício de competências exorbitantes
ou que impliquem sacrifício de interesses de outros Estados ou particulares (de forma
desproporcionada ao interesse do Estado legiferante).
Por isto, os princípios que regulam o exercício da função legislativa do Estado não se
confundem com as normas de conflitos nem operam ao mesmo nível
A norma de conflitos do DIPrivado pode remeter diretamente para o DIPúblico (ex: art. 42º
Convenção CIRDI).
➢ Isto não implica relevância na ordem jurídica internacional, porque é por força de norma
de conflitos que vigora na ordem jurídica de um Estado.
DIP e DUE
Direito da União Europeia visa estabelecer um mercado interno e visa estabelecer um espaço de
liberdade, segurança e justiça.
➢ Isto é conseguido através de diversos mecanismos.
DUE é auto-executório e aplicável às situações transnacionais que caiam dentro da sua esfera de
aplicação no espaço.
➢ Decorre que podem ser aplicáveis normas europeias a situações transnacionais que,
segundo o Direito de Conflitos geral, são reguladas pelo Direito de um terceiro Estado.
38
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
➢ Ex: Direito do Consumo e Direito de Autor são áreas muito harmonizadas, mas, não
deixa de haver conflitos de DIP, pois as diretivas são transpostas de forma diferente
(havendo disparidade nos Estados-membros).
➢ Mesmo no caso dos Regulamentos há disparidade na sua interpretação, que são, em 1ª
linha, os tribunais dos Estados-membros.
Caso Grunkin-Paul21 (p. 22-23): não está em causa apenas a aplicação de normas materiais do
Estado da nacionalidade, mas um limite à atuação da norma de conflitos reguladora do nome,
que não se limite aos casos de plurinacionalidade.
➢ Exprime a ideia que deve reconhecer-se o nome atribuído segundo a ordem jurídica
do Estado do nascimento e da residência habitual da pessoa.
o LP: soluções encontradas não são justificadas, seja pelo princípio da não
discriminação seja diretamente pela liberdade de circulação de pessoa.
▪ A matéria do estatuto pessoal, à partida, encontra-se fora do âmbito de
aplicação dos Tratados.
➢ TJUE entendeu que podia estar em causa a liberdade de circulação e exercício de
profissão.
o Entendeu que aplicação da lei da nacionalidade alemã contrariava o art. 21º
TFUE e, portanto, recusou aplicar a regra de conflitos alemã que mandava
aplicar a lei da nacionalidade.
21
Pais alemães registam criança na Dinamarca, segundo as regras dinamarquesas. Quando a tentam
registar na Alemanha não lhes é permitido, porque compõe o nome de uma forma diferente que na
Dinamarca.
40
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➢ Esta transposição do princípio do país de origem22 para o DIP é fundar uma técnica com
base em critérios e valorações jurídico-públicas, subjacentes às liberdades de circulação
e direito de estabelecimento, em vez de atender às finalidades predominantemente
jurídico-privadas do DIP.
o As normas de DIP não seguem este princípio, que é inadequado à realização dos
valores tutelados por este ramo do Direito.
o A aplicação de normas jurídico-privadas do Estado-membro destinatário da
prestação pode ser tão ou mais justificada, à luz das finalidades do próprio
Direito de Conflitos, que a aplicação das normas correspondentes do Estado de
origem.
Várias decisões do TJUE, em torno do art. 54º TFUE, vieram estabelecer uma série de limites
à atuação das normas de DIP em conexão com o exercício do direito de estabelecimento.
➢ O Estado-membro em que a “sociedade” europeia, constituída segundo o Direito de outro
Estado-membro, exerce ou pretende exercer o direito de estabelecimento tem, para todos
os efeitos, de reconhecer essa sociedade como uma sociedade validamente constituída
no estrangeiro.
Art. 8º Regulamento Roma III (divórcios) – em princípio manda aplicar a lei do domicílio
habitual, contrariamente ao CC, que tem tradição de mandar aplicar a lei da nacionalidade.
22
Lima Pinheiro: Quanto à prestação de serviços, a jurisprudência do TJUE postula um princípio do país
de origem, segundo o qual a prestação intraeuropeia de serviços está submetida, em princípio, à lei do
Estado de origem; as normas do país de destino da prestação que limitem a prestação de serviços por
prestadores estabelecidos noutros Estados-membros são consideradas “restrições” à liberdade de
prestação de serviços e só são aplicáveis se forem justificadas por um critério de ponderação.
➢ Origem no Dassonville e Cassis de Dijon.
➢ LP: rejeita a expressão de princípio do reconhecimento mútuo, a ideia é de confiança em que os
Estados-membros confiam na regulação de outros Estados-membros.
41
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E Fora do âmbito Micheletti – quando não se está a lidar com liberdades fundamentais da UE?
• Dário Moura Vicente (+ Elsa Dias Oliveira): deve prevalecer a nacionalidade com a qual
haja uma conexão mais estreita.
o Não se transpõe para fora do domínio das liberdades europeias.
• Lima Pinheiro (+ Marques dos Santos): deve transpor-se esta jurisprudência para fora
das liberdades europeias – princípio da harmonia interna que aumenta a segurança
jurídica
o Pessoa vai ter várias leis a serem-lhe aplicadas – umas quanto às liberdades da
UE e outras quanto ao resto.
o Deve ser relevante sempre a mesma lei da nacionalidade num Estado-membro
▪ Esta solução é somente se houver um conflito entre nacionalidade entre
Estado-membro e Estado-não-membro – fora deste âmbito não se
recorre a esta jurisprudência
E. Integração Europeia
Lima Pinheiro: a integração europeia, mesmo que venha a dar corpo a um Estado federal, não
implica uma unificação do Direito.
Há áreas jurídicas bem delimitadas em que tem de haver uma unificação: Direito Aduaneiro,
Público da Economia, dos Estrangeiros, das Sociedades, Contratos com Consumidores e etc.
➢ LP: perante o princípio da subsidiariedade (art. 5º/3 TUE), justifica-se uma atitude
restritiva à intervenção legislativa da UE em matéria de Direito material privado
Integração europeia deve ter o efeito de desenvolver o Direito, pois cada Estado-membro deve
estar atento às soluções consagradas noutros Estados-membros – trabalhos comparativos são
da maior importância à escala europeia.
Sendo a integração europeia acompanhada por uma preservação da identidade cultural dos
Estados-membros é de esperar que o sistema jurídico de cada Estado-membro, interligado
como está com o sistema cultural de cada sociedade estadual, tenda a manter o seu
particularismo.
Dário Moura Vicente: a integração europeia não significa o fim do DIP – pelo contrário, pode
significar o lançamento, cada vez de forma mais intensa, de mecanismos próprios de DIP.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: Regulação através de normas materiais que regulam diretamente as situações jurídicas
que têm em vista.
➢ O método é diferente.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 23º CC pressupõe que se atenda ao sistema de fontes estrangeiras, sua organização
judiciária e sistema de controlo da constitucionalidade, métodos próprios desse direito e etc. –
tudo isto pode ser entendido através do Direito Comparado.
➢ Alguns autores entendem mesmo que a comparação de Direitos é um dever do órgão de
aplicação do DIP.
Quando uma norma portuguesa de conflitos remete para certa lei, ela não está a remeter para
todas as normas dessa lei estrangeira, só para certas regras que, pelo seu conteúdo e função
sejam reconduzíveis à previsão (= operação de Qualificação).
➢ Para verificar o conteúdo e função da norma cujo conteúdo está em causa, para
reconduzir ao conceito quadro da nossa norma de conflitos, temos de proceder a uma
comparação – comparar a norma material em causa com a previsão da nossa regra de
conflitos, à luz de um critério funcional (ver quais as funções que aquela norma material
desempenha na sua própria Ordem Jurídica).
FC: Uma das tarefas do Direito Comparado consiste em apurar quais os diferentes meios
técnicos a que os vários legisladores recorrem para levar a cabo funções sociais equivalentes
– através do Direito Comparado ver-se-á como instituições diferentes tendem nos diversos
lugares para fins análogos ou como instituições aparentemente homólogas correspondem a
objetivos distintos.
➢ Assim, as razões de analogia e das divergências inter-sistemáticas poderão ser
devidamente valoradas e entendidas.
Muitas vezes, tem de se aplicar em Portugal figuras que não estão previstas na nossa Ordem
Jurídica, tendo de traduzir esses institutos do direito estrangeiro para os nossos quadros
concetuais, sendo aí relevante o Direito Comparado.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Desempenha uma função de cultura jurídica, como ciência auxiliar da ciência do DIP.
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REGRAS DE CONFLITOS
Regra de Conflitos de Lei no Espaço – os conflitos são gerados pela existência de uma diversidade
de sistemas jurídicos e diversas regras potencialmente aplicáveis a situações privadas
internacionais.
Ferrer Correia: A cada regra de conflitos cabe delimitar um setor ou matéria jurídica, uma
questão ou núcleo de questões de direito, e indicar, de entre os elementos da factualidade
concreta, aquele por intermédio do qual se há de apurar a lei aplicável em tal domínio.
a) As questões jurídicas pertencentes à categoria x serão resolvidas de
conformidade com os preceitos da lei a que a situação concreta estiver ligada
através de uma conexão da espécie y.
Lima Pinheiro: Na aplicação ou não aplicação do Direito estrangeiro não está, em princípio, em
causa um problema de respeito da soberania estrangeira ou de ofensa da soberania estrangeira.
• Em primeira linha trata-se antes de regular uma situação privada, mediante a
determinação da Ordem Jurídica que vai fornecer a disciplina material aplicável.
• Ao chamar o Direito de um Estado a reger a situação, com base num dado elemento
de conexão, a norma de conflitos não vem determinar que, perante o DIPúblico, só esse
Estado tem competência legislativa para regular a situação.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
1. Previsão
Situação jurídica privada que se pretende regular
➢ Problema principal: determinação do âmbito / delimitação da previsão
LP: Através dos pressupostos (de cuja verificação depende a aplicação), a previsão da norma
delimita o seu objeto.
Os conceitos utilizados na previsão das normas de conflitos são de extensão variável, dependendo
do maior ou menor número de normas de conflitos que compõe o sistema.
• A extensão do objeto da norma de conflitos deve ser aquela que convenha à sua
estatuição, à remissão.
o Ao eleger os diferentes elementos de conexão, o legislador tem em vista aqueles
que, em função da especificidade das diferentes categorias de situações e dos
seus diferentes aspetos, são os mais adequados para designar o Direito que lhes
há-de ser aplicado.
o Importa, pois, que a previsão da norma de conflitos compreenda aquelas
situações, e só aquelas, para as quais, segundo o juízo de valor legislativo,
é adequada a conexão.
• Na formação desses conceitos o legislador deve atender ao Direito Comparado.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
A e B são CONCEITOS-QUADRO:
→ conceitos que têm capacidade de abranger diverso conteúdo jurídico.
o Conceito que visa abarcar uma pluralidade de realidades diferentes
disciplinadas de forma diferente por outros ordenamentos jurídicos.
o Tem de ser vasto ao ponto de abarcar todas as figuras jurídicas de leis
estrangeiras que, na Ordem Jurídica em que se inserem, exerçam as mesmas
funções que os institutos ou as figuras jurídicas homólogas do Estado do foro.
→ conceito através do qual a regra de conflitos delimita o seu objeto, i.e., a sua previsão.
3. Estatuição
Conexão, entendida como o chamamento de um ou mais Direitos para regularem a questão –
atribuição de competência às regras de certa lei para regular a situação.
➢ A norma de conflitos remete para um Direito – esta remissão é feita através de uma
conexão, mas, nem todas as normas de conflitos são normas de conexão, sendo preferível
designar “remissão”.
≠ Elemento de Conexão – elemento através do qual se vai achar essa lei aplicável
Quando a remissão é feita para uma ordem jurídica estrangeira suscitam-se vários problemas:
• Qual o alcance material da remissão? QUALIFICAÇÃO
• Qual o alcance conflitual da remsisão, i.e., a remissão abrange o DIP da ordem jurídica
desginada? DEVOLUÇÃO
Limitam-se a definir em que caso se aplica a lei do foro – delimita o campo de aplicação do
Direito português.
➢ Delimitam e circunscrevem o âmbito de aplicação espacial das normas jurídicas do
Estado do foro.
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Insuficiência do Unilateralismo:
➢ Não resolve problemas quando estão em causa lacunas – quando está em causa a
aplicação da norma a estrangeiros.
o Solução dos Tribunais Franceses: Bilateralização da norma como operação de
integração de lacunas – preenche-se a lacuna convertendo a norma de conflitos
unilateral em norma de conflitos bilateral, utilizando o elemento de conexão
▪ Tal só é possível quando a regra unilateral valha como revelação de um
“princípio geral”, i.e., como conexão adequada à situação ou questão
parcial em causa23.
▪ Em primeiro lugar tem de se verificar se efetivamente há lacuna, tendo
em conta todas as valorações e princípios do sistema
▪ Depois tem de se integrar a lacuna, recorrendo à bilateralização da
norma.
• NAP: se a solução passa por Bilateralizar uma norma de
conflitos unilateral, então mais vale ter logo normas de
conflitos bilaterais.
23
NAP: A bilateralizção é simples se for uma Norma de Conflitos Unilateral Geral – se for especial é mais
difícil identificar uma lacuna, pois se não cobre na norma especial, cobre na norma geral (que é bilateral).
24
Art. 28º CC é, de algum modo, bilateralizado pelo art. 28º/2 CC
➢ Art. 13º Reg Roma I leva à desaplicação do art. 28º CC e tem 4 pressupostos que levam à aplicação
da lex causae - regra bilateral que tanto pode levar à aplicação da lei do foro (portuguesa ou não)
como outra.
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B. BILATERAIS
DMV: Multilaterais, pois podem remeter para qualquer lei (não só a dicotomia: lei do foro vs. lei
estrangeira)
Diz qual a lei aplicável a qualquer situação que se encontra na previsão, quer nacional, quer
estrangeira.
➢ Identifica o tipo de situação, através da conexão, e manda aplicar-se-lhe a lei
competente.
➢ Ex: art. 25º CC; art. 21º Roma IV
C. BILATERAIS IMPERFEITAS
Normas de conflito que, podendo determinar a aplicação tanto do Direito do foro como de
Direito estrangeiro, limitam o seu objeto a certos casos que têm uma ligação especial com o
Estado do foro.
➢ Assim, não fornecem diretamente a solução para as situações do mesmo tipo abstrato,
mas em que falta a referida ligação.
➢ Característica de que só se reportam a uma certa categoria de situações jurídicas, que
são normalmente situações que têm alguma conexão com o Direito do Estado do foro.
Ex: art. 51º CC (antes da alteração de 2007) deixava de fora o casamento entre dois estrangeiros
em país estrangeiro, perante os respetivos agentes diplomáticos ou consulares.
➢ DMV: fazia-se uma extensão por analogia.
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ii. Plural
Casos em que Norma de Conflitos manda atender/aplicar mais do que uma lei.
➢ Cumulativamente aplica-se 1 ou mais leis.
o Não se deve confundir com a aplicação distributiva de dois Direitos. Ex:
capacidade negocial é submetida à lei pessoal – há fracionamento do contrato
por uma norma de conflitos que contém uma conexão singular simples, pois à
capacidade de cada uma das partes é aplicável só um Direito.
Submodalidades:
a) Simples – efeito tem de ser desencadeado ou reconhecido simultaneamente por dois ou
mais direitos.
• Para se reconhecer certos efeitos jurídicos eles têm de ser reconhecidos por 2
ou mais leis. Ex: art. 33º CC – tem que se atender a 2 leis.
• Subordina-se a produção de certo evento jurídico ao acordo de duas leis, ou
seja, à satisfação dos requisitos estabelecidos em cada uma delas.
• Não se pode confundir com a aplicação distributiva – também se trata de fazer
apreciar, por dois sistemas jurídicos, as condições de validade do mesmo ato,
porém, em termos de a matéria ser entre eles repartida conforme determinado
critério.
b) Condicionante/Limitativa – não há uma atribuição de competência paritária a dois ou
mais Direitos.
• A norma de conflitos chama um Direito como primariamente competente, mas
atribui a outro sistema uma função limitativa ou condicionante quanto à
produção de certo efeito.
• Manda-se aplicar uma lei mas há uma segunda que a condiciona. Ex: art. 27º CC
– lei Pt vem limitar a lei estrangeira. Pessoa dos EUA invoca em Pt uma violação
de Direito à Honra e quer ser indemnizado e obter “punitive damages”25; não se
pode aplicar a lei pessoal (EUA) pois isso não existe em Pt e nem na forma
desproporcionada dos EUA.
2. Elemento de Conexão
Com a Conexão, da estatuição, não se confunde o Elemento da Conexão26: sujeito, objeto, facto
jurídico
• laço fáctico entre um dos elementos da situação da vida e um determinado lugar no espaço;
• num vínculo ou qualidade jurídica que permita individualizar o Direito que o estabelece;
• um facto jurídico.
25
NAP: indemnização em que não se está limitado ao dano (sem a função ressarcitória da
Responsabilidade Civil). Indemnização que corresponde à culpa do agente – pune-se o agente não se
ressarce somente o dano.
26
Elemento de conexão é um elemento essencial da norma de conexão
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DMV: elemento da situação da vida em questão que a regra de conflitos indica como sendo o
elemento decisivo para se achar a lei aplicável.
LP: laço entre a uma situação da vida e dado ordenamento de um Estado soberano que se
entende ser o determinante para a escolha do ordenamento aplicável.
➢ Tem reservas quanto a esta definição pois a situação da vida, enquanto realidade social, situa-se
num plano da realidade diverso do das Ordens Jurídicas, que são realidades jurídicas.
Também pode ser classificado quanto à estrutura: descritivos/de facto (laço fáctico) ou técnico-
jurídicos/normativos (vínculo ou facto jurídico).
Podem ser móveis ou imóveis, tendo em conta se o conteúdo concreto é suscetível de variar no
tempo.
FC: A relevância do elemento de conexão escolhido pela norma de conflitos é por vezes
colocada sob determinada condição. É possível que uma lei seja declarada aplicável sob
condição de ela própria se considerar competente.
➢ É o que se passa no Reenvio.
Nem sempre o achamento da lei aplicável, por força de Norma de Conflitos, se faz devido a
um Elemento de Conexão – cada vez mais se atende a outras valorações27:
A. Vontade das partes – na escolha da lei aplicável.
B. Conexão mais estreita com o litígio – conceito carecido de preenchimento valorativa,
tratando-se, em primeira linha, de uma valoração conflitual, que atende aos laços
existentes entre a situação em causa e a esfera social dos Estados.
• Tem de ser concretizado casuisticamente (open-ended rules).
• Pode resultar de uma combinação de diferentes laços, cujo peso relativo dos
mesmos é aferido de acordo com a interpretação.
• Ex: art. 52º/2 CC; art. 33º/2 LAV
C. Cláusula de exceção – proposição que permite afastar o Direito primariamente aplicável
de um Estado, quando a situação apresenta uma ligação manifestamente mais estreita
com outro Estado.
27
DMV: Regra de Conflitos também se serve de diferentes técnicas e expedientes para nos indicar a lei
aplicável, pois nem sempre temos elementos de conexão, entendido como elemento da situação fáctica
que a regra destaca.
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QUALIFICAÇÃO
Problema jurídico que se pode relacionar com qualquer norma jurídica, não só do DIP – é saber
se o caso concreto se reconduz à previsão das normas.
➢ Subsunção de um caso singular na previsão de uma norma jurídica ao conceito que
delimita o objeto dessa norma jurídica.
No DIP há categoria específica de normas que delimitam o seu campo de aplicação através de
Conceitos-Quadro e a Estatuição é remissão para outra lei.
• É por meio de conceitos técnico-jurídicos que as regras de conflitos definem e
delimitam o respetivo campo de aplicação – espaço ou área jurídica em que o elemento
de conexão é chamado a operar.
o Esses são Conceitos-Quadro: aptos a incorporar uma multiplicidade de
conteúdos jurídicos
• Este processo verifica-se quer na aplicação das Normas de Conflito quer nas normas
materiais, mas, para o DIP esta problemática tem uma maior importância devido à
pluralidade de ordens jurídicas em presença.
Lima Pinheiro: Aplicador tem de fazer um vaivém entre a norma e o caso, o qual se vem a traduzir
numa adaptação da norma às circunstâncias do caso e num enriquecimento do conteúdo dos
conceitos a que recorre a previsão normativa.
2 níveis de problemas:
A. Qual o alcance que a Norma de Conflitos tem na lei em que remete? É
referência aberta (todas e quaisquer normas desse Ordem Jurídica) ou
fechada (só certas normas)?
Ex: Inglês morre em Portugal e tinha testamento em que deixava o único bem a um primo
distante (único sucessível). Reg Roma Sucessões diz que ao fazer testamento pode escolher a lei
aplicável à sucessão – ele escolheu a lei inglesa. Primo repudia a herança. Coroa Britânica
reclama o bem (Administration of States Act), mas, essa reclamação é um Direito Real de
apropriação de bens sem dono, não é Direito Sucessório. Reg Roma IV só manda aplicar lei
sucessória inglesa, e aqui é um direito real. A remissão abrange?
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Ex: Remissão do Reg Roma IV é para as normas de sucessão, não de Direitos Reais
Ferrer Correia: A referência feita pela regra de conflitos à lei por ela designada, nos
termos do art. 15º CC, deve entender-se como uma referência seletiva na aceção de que
não abrange todas e quaisquer normas dessa lei, mas tão somente aquelas normas que,
pelo conteúdo e pela função que desempenham na lei designada, se
reconduzam/subsumam ao Conceito-Quadro da norma de conflitos de que partimos.
Classificação das categorias de situações jurídicas não obedecem a um critério unívoco – é uma
classificação que reparte a matérias em centros de regulação numa ótica pragmática e que reflete
certos elementos culturais.
➢ Pode ser um critério estrutural (atende ao conteúdo de situações jurídicas: obrigações e
direitos reais) ou critério funcional e institucional (família e sucessões).
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DMV: isto é assim para as Normas de Conflitos de fonte puramente Interna (de onde se parte da
lex fori) e semelhante para Normas de Conflitos de Fonte Internacional/Europeia depende da
fonte da Norma de Conflitos.
Norma de fonte Supraestadual: não é possível interpretar por referência ao Direito Material do
Estado do foro.
➢ Conceitos têm de ser interpretados Autonomamente28, relativamente às ordens
jurídicas nacionais individualmente consideradas e assentar numa comparação de
Direitos.
o Interpretação autónoma é uma interpretação teleológica – à luz das
finalidades e alcances dessas normas.
o Ex: testamento de mão comum – admitido pelo Reg Roma IV se ele for válido
segundo a lei competente. Tribunal de Portugal (em que é proibido) pode ter
que aplicar.
Quando se averigua qual o conteúdo e função das normas que se quer qualificar, a que se sistema
se recorre?
1) Caracterização Lege Fori: LP discorda e, por força de uma norma de conflitos, podemos
ser levados a aplicar normas materiais estrangeiras que não correspondem à categoria
normativa utilizada na previsão da norma de conflitos – contraria a justiça da conexão e a
28
LP: Nos Regulamentos da UE tem que se ter em conta o contexto da disposição e o objetivo prosseguido
pelas normas em causa, em conformidade com os direitos fundamentais protegidos pela ordem jurídica
comunitária e outros princípios gerais de Direito.
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ideia de adequação que lhe está ínsita, não sendo respeitado o nexo de adequação entre
a previsão e a estatuição.
Só devemos aplicar por força de uma norma de conflitos as normas materiais que correspondem
à categoria normativa utilizada na previsão da norma de conflitos.
➢ Se determinarmos a relevância jurídica da situação segundo o Direito material do foro,
para nesta base designarmos a lei estrangeira competente, mas excluirmos a aplicação
das normas desta lei, quando não correspondem à categoria normativa utilizada pela
previsão da norma de conflitos, vamos gerar, desnecessariamente, problemas de falta de
normas aplicáveis.
Como ainda não sabemos qual a lei aplicável, fazemos um raciocínio hipotético, atendendo à
relevância jurídica dos factos perante cada uma das ordens jurídicas potencialmente
aplicáveis (aquelas com as quais a situação concreta tenha alguma das conexões relevantes para
o Direito de Conflitos português)
➢ Pergunta-se às várias ordens jurídicas em presença qual a relevância jurídica que dariam
aos factos se lhes fossem aplicáveis.
o Pode vir a ser aplicada lex fori se esta for lex causae.
➢ Temos de atender aos institutos em que as normas se inserem, aos nexos
intrassistemáticos existentes, às finalidades prosseguidas e à função jurídica dos
institutos – importância relativa das notas estruturais e das notas funcionais pode
depender da categoria normativa em causa.
Vamos interpretar as normas materiais potencialmente aplicáveis ao caso à luz da lex causae
– a caracterização das normas materiais substancialmente aplicáveis ao caso tem de ser à luz do
sentido e função que elas assumem na Ordem Jurídica da lex causae.
À lex fori compete decidir se, atendendo às suas características primordiais, os preceitos
considerados correspondem ao tipo visado na regra de conflitos.
➢ Na lex causae vão pesquisar-se essas características das normas potencialmente
aplicáveis ao caso.
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Embora o objeto da qualificação, as situações da vida ou aspetos parcelares, tenha de ser caracterizado à
face da lei ou leis potencialmente aplicáveis, a última palavra sobre a qualificação do objeto deve ser
proferida segundo o critério de qualificação do sistema a que pertencem as normas de conflitos em jogo.
➢ Critério de qualificação definido pela estrutura e finalidades prosseguidas pelo sistema do Direito
de Conflitos.
Para essa subsunção temos de atender ao conteúdo e função dos preceitos em causa, integrados
no Direito a que pertence.
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SUBSUNÇÃO?
DMV: parece que este processo de Qualificação é uma questão de silogismo.
➢ LP: A interpretação-aplicação não poderá ser reconduzida exclusivamente a operações
lógico-formais, é necessária uma valoração (devido à existência de conceitos de
elevada indeterminabilidade que são carecidos de preenchimento valorativo).
No atender ao art. 15º CC o intérprete tem uma larga margem de discricionariedade, havendo
um juízo de valor que tem de ser feito sobre a existência ou não de correspondência funcional
entre a norma material cuja aplicação está em causa e a regra de conflitos que potencialmente
remete para a lei designada por essa norma material.
➢ Esse juízo de valor pressupõe um grau de liberdade que não é compatível com a
caracterização deste processo como um mero silogismo judiciário (como a mera
conclusão de um processo quase mecânico).
As questões jurídicas suscitadas por diferentes aspetos de uma mesma situação da vida são as
questões parciais.
➢ Este problema não se coloca quanto às questões parciais que são objeto de normas de
conflitos especializados – capacidade negocial, forma do contrato de compra e venda e
etc.
o Art. 12º Reg Roma I é indicação do legislador que determinadas questões estão
submetidas a uma Norma de Conflitos.
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Núcleo do conceito – conjunto de questões jurídicas que são indubitavelmente abrangidas pela
previsão da norma, razão por que não suscitam dificuldades de delimitação.
Questões da zona periférica – suscitam um problema específico de interpretação dos conceitos
que delimitam o objeto da remissão das normas de conflito em jogo.
➢ Critério orientador deve exprimir os nexos funcionais e axiológicos entre as normas
de conflitos em presença, atendendo aos fundamentos das mesmas e dos fins
gerais do Direito de Conflitos.
➢ Ex: contrato de compra e venda com efeitos reais – na delimitação entre normas de
conflitos reguladoras das obrigações contratuais e normas de conflitos reguladora do
direito real é defensável uma preordenação.
ii. Problema do concurso e falta de normas aplicáveis – podem vir a surgir, como simultaneamente
aplicáveis ao mesmo aspeto de uma situação da vida, duas ou mais leis, por força de duas ou
mais normas de conflitos, ou que, ao contrário, não surjam como aplicáveis quaisquer normas das
leis em presença.
Artigo 15º CC
Só faz alusão ao primeiro momento da qualificação: interpretação dos conceitos que delimitam o
objeto da remissão, quando se refere ao “regime do instituto visado na regra de conflitos”.
➢ Instituto = qualquer uma das categorias normativas utilizadas para delimitar o objeto da
remissão.
Manda-se atender ao conteúdo das normas aplicáveis e à função que têm no sistema a que
pertencem – aponta para uma caracterização lege causae e acentua-se a necessidade de inserir
as normas da lei competente no sistema a que pertencem e de atender a notas funcionais.
➢ DMV: Referência Seletiva – abrange as normas materiais do Direito para o qual remete,
mas somente no âmbito das valorações do instituto.
Qualificação stricto sensu é visada no “a competência atribuída a uma lei abrange somente”
➢ Quando se fala em “competência” está-se ainda na fase das simples hipóteses.
FC: perante um sistema de Direito e uma norma desse sistema, norma em que uma das partes
se baseia para enunciar a sua pretensão (afirmar que determinada consequência jurídica se
verificou), vai começar por considerar-se aquele sistema como hipoteticamente aplicável ao
caso sub judice.
Em seguida averigua-se se a tal norma, considerando o seu conteúdo, escopo e conexões
sistemáticas, corresponde realmente à categoria de conexão de uma determinada regra de
conflitos da lex fori; regra de conflitos essa de onde se partiu para julgar hipoteticamente
aplicável o sistema de Direito em causa.
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Único método conforme ao princípio da igualdade – uma legislação estrangeira tem de ser
declarada aplicável a certas situações concretas, desde que possa dizer-se que, em
circunstâncias análogas de facto e de direito, a lex fori se julgaria competente.
➢ A aplicação desta lei não depende senão da existência de uma relação de
correspondência entre as normas por mediação das quais ela se propõe resolver a
questão litigiosa e o “tipo normativo” da regra de conflitos que a designe.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Em Portugal, legislador somente quer que se aplique Lex Causae no estrito âmbito da matéria
em questão – pois é sobre isso que a Norma de Conflitos dispõe.
➢ Não se faz uma qualificação primária e parte-se das normas materiais potencialmente
aplicáveis.
29
Identificado assim pelo art. 15º CC
= Escola de Coimbra
≠ Escola de Lisboa
➢ NAP: não cabe à lei tomar posições de natureza dogmática
o No fundo, o entender da Escola de Lisboa é que estas são situações transnacionais a que
se aplicam normas materiais.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Em síntese:
(1ª Operação)
Interpretação
Conceito-Quadro
(3ª Operação)
Subsunção/Qualificação
Interpretação
stricto sensu Elemento de Conexão
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
As normas de conflitos têm Elementos de Conexão – âncora que é a referência para se aplicar
um outro Ordenamento Jurídico.
• Pode haver vários: nacionalidade, residência habitual/domicilio, lugar da celebração e
etc.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Vamos proceder por tentativas, interrogando as várias leis potencialmente designadas pela
regra de conflitos para sabermos em qual ou quais dessas leis é que o elemento de conexão se
tem de concretizar.
• Só assim se consegue a harmonia dos julgados.
CONTEÚDO MÚLTIPLO
• Quando no caso concreto surgem vários laços, que se estabelecem com diferentes
Estados, reconduzíveis ao mesmo conceito designativo. Ex: dupla nacionalidade
Tem de se procurar, através de certo critério, definir a primazia de uma dessas concretizações
do elemento de conexão.
➢ LP: Problema pode ser resolvido por uma norma especial, como os art. 27º e 28º Lei
Nacionalidade
➢ DMV: procuram-se critérios de primazia.
FALTA DE CONTEÚDO
• Casos em que não há conteúdo concreto – no caso concreto não existe o laço
designado. Ex: apátridas
30
NAP: tem mesmo de ser a 2ª parte pois o art. 23º/2 CC tem 2 opções:
• “lei estrangeira aplicável” – não se consegue determinar o conteúdo. Em que se aplica
diretamente o art. 348º/3.
• “impossível determinar elementos de facto e direito” – não se consegue definir o Elemento de
Conexão (que podem ser fácticos ou jurídicos). Em que se aplica analogicamente o art. 348º/3.
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31
Para as pessoas coletivas o critério não é o da nacionalidade mas é próximo – art. 3º CSC
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Para perceber o que é nacionalidade do art. 31º CC, temos de atender à Lei da Nacionalidade
Portuguesa.
• Não é como na Qualificação em que há interpretação autónoma, aqui é mesmo o direito
material do foro.
2. Concretização:
i. Faz-se Lege Causae, devido ao princípio de DIPúblico de que são os Estados que determinam
os seus nacionais, pelo que decorre que a nacionalidade tem de se estabelecer segundo o
Direito do Estado cuja nacionalidade está em causa.
➢ Pergunta-se a cada Estado se o indivíduo é seu nacional.
iii. Restrição aos Estados dizerem quem são os seus nacionais – caso Nottebohm (TIJ)
• Alemão que viveu na Guatemala entre 1905 e 1943.
• Em 1939 ele pediu nacionalidade do Liechtenstein – não tinha qualquer ligação mas fez donativo
e a nacionalidade foi reconhecida.
• Durante a Guerra, a Guatemala tratou Nottebohm como todos os outros alemães: prendeu,
confiscou os seus bens e expulsou do território.
• Liechtenstein argumentou que Guatemala estava a infringir Direito Internacional porque estava
a tratar Nottebohm como alemão, quando ele também era cidadão do Liechtenstein. Guatemala
respondeu que a nacionalidade não era efetiva e que ele era alemão e devia ser tratado como
alemão.
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TIJ concordou com o argumento da nacionalidade efetiva – para se poder atribuir um vínculo
de nacionalidade tem de haver efetivamente um vínculo real.
• Estados têm liberdade para reconhecer os seus nacionais mas não o podem fazer de
forma defraudar as regras dos outros países – limitação à nacionalidade decorrente do
DIPúblico.
• Os Estados são livres na definição dos seus nacionais, mas, a atribuição da
nacionalidade de um determinado país, deve corresponder a um vínculo real entre o
indivíduo em questão e esse mesmo país.
Mas isto não impede que os Estados tenham critérios diferentes na atribuição de
nacionalidade:
• Critério do Ius Soli – quem nasce num território é nacional desse território. Ex: Estados
do continente americano (países que recebiam muitos imigrantes)
• Critério do Ius Sanguini – quem é filho de um cidadão de certo território é nacional
desse território. Ex: Estados europeus que tinham emigrantes
CONTEÚDO MÚLTIPLO DO ELEMENTO CONEXÃO – art. 28º LN33 tem o princípio da jurisprudência
Nottebohm
➢ Princípio da nacionalidade efetiva; presume-se que a pessoa tem conexão mais
estreita com Estado em que reside atualmente
Art. 28º Lei da Nacionalidade34 tem patente o princípio da nacionalidade efetiva, há muito acolhido
pela jurisprudência internacional e em Convenções internacionais.
• Na determinação da vinculação mais estreita haverá que atender a todos os laços, de
caráter objetivo ou subjetivo, que exprimam ligação a uma sociedade estadual.
o LP: Deve dar-se especial importância aos laços que exprimam a identidade
cultural do plurinacional, designadamente a língua por ele falada.
Lima Pinheiro: O caso Micheletti vale para outras situações que não as liberdades europeias,
pois seria indesejável que em Portugal um plurinacional fosse tratado como nacional de um
Estado para uns efeitos e como nacional de outro Estado para outros.
Dário Moura Vicente: discorda – art. 28º LN funciona normalmente se não estiver em causa as
liberdades fundamentais europeias.
32
Lei da nacionalidade foi alterada em 2018
33
Já quanto ao art. 27º, apesar de Marques dos Santos ter defendido uma interpretação restritiva (de que
não se aplicaria quando houvesse conexão manifestamente mais estreita com outra nacionalidade –
criava-se harmonia pois dava-se relevância ao princípio da nacionalidade efetiva), o resto da doutrina
defende uma interpretação literal.
34
Português que vive no estrangeiro e tem outra nacionalidade
➢ Parecer da PGR 1983 – devemos tratar como português para o proteger; jurisprudência tem
sempre concordado com o art. 28º e mantido a coerência interna.
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REENVIO
Surge com o problema de definir o sentido e alcance das Normas de Conflitos portuguesas,
quando elas referem uma lei estrangeira.
➢ A origem do problema do reenvio surge devido à existência de vários sistemas de DIP,
de diferentes Estados – há um conflito de sistemas.
➢ Por força do DUE tem havido uma unificação que mitiga os conflitos de sistemas.
Este problema do reenvio tem origem na jurisprudência dos tribunais – Caso Forgo (1882) da
Cassação Francesa
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L1 (foro) L2 (competente)
Ex: cidadão Br com domicílio em Pt, morre em Portugal. DIP Pt manda aplicar a lei Br
(nacionalidade) como reguladora da sucessão. DIP Br manda aplicar a lei Pt (domicílio) como
reguladora da sucessão.
RETORNO Indireto
Quando L2 remete para L3, com referência global, e L3 devolve para o Direito do foro.
L1 (foro) L2 L3
TRANSMISSÃO de Competência
Reenvio de segundo grau em que o Direito de Conflitos estrangeiro remete a solução para
outro ordenamento estrangeiro.
• Endossamento de competência a uma terceira Ordem Jurídica
L1 (foro) L2 L3
Ex: cidadão Dnk com domicílio em It. DIP Pt manda aplicar à sucessão a lei Dnk (nacionalidade).
DIP Dnk manda aplicar à sucessão a lei It (domicílio)
L1 (foro) L2 L3
TRANSMISSÃO em Cadeia
Quando L2 remete para L3, com referência global, e L3 reenvia para L4
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Referência de uma Norma de Conflitos para uma lei é somente para as suas normas
materiais – remissão direta e imediata para o Direito material da lei designada.
• Desconsideram-se as normas de DIP – não interessa o Direito de Conflitos da lei
designada.
FC: Referência do DIP (normas de conflitos) do foro a determinada lei não se detém numa
zona periférica e penetra até à substância do sistema, atingindo as suas instituições civis
e normas de regulamentação e ordenação da vida social.
A Ordem Jurídica entende que é outra Ordem Jurídica, para a qual remete, que tem as normas
materiais para melhor resolver o litígio.
Argumentos a favor:
• Função das Normas de Conflitos – soluciona a função que, historicamente, o DIP foi
solicitado a desempenhar, assinalando a lei aplicável às relações plurilocalizadas.
• Caráter internacional, pelo seu objeto das Normas de Conflitos nacionais – o juiz
reconhece e aplica preceitos de direito internacional formulados pelo seu Estado.
• Coerente com o pensamento modelador da Norma de Conflitos – os preceitos de DIP
têm valores subjacentes e têm ínsitos uma ideia acerca de qual é a maneira mais
acertada/justa de resolver os conflitos de leis.
o As Normas de Conflitos elegem Elementos de Conexão que entendem ser os
fatores que melhor correspondem aos interesses e valorações próprias do DIP,
levando a que se chame as leis por que, sendo competentes, regulam as
matérias em questão.
o LP: Respeito pela valoração feita pelo legislador na escolha da conexão
mais adequada – a justiça da conexão veiculada pelo Direito de Conflitos. Aceitar
a devolução implica abdicar da escolha consagrada na norma de conflitos do foro.
Argumentos contra:
• Só aplicando as Normas de Conflitos estrangeiras e permitir o reenvio é que
verdadeiramente se aplica a lei para a qual se remete;
• Princípio da Harmonia Jurídica Internacional – ao ignorar o Direito de Conflitos
estrangeiro, a tese da referência material fomenta a desarmonia internacional de
soluções.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
o Há desarmonia de julgados pois pondo-se o caso em L1, L1 vai aplicar L2, mas
se caso se colocar em L2 esta vai aplicar L1 – perante a mesma situação as
soluções vão ser diferentes devido ao foro ser diferente.
o DMV: reenvio aplica-se porque é um instrumento que melhor tutela a harmonia
dos julgados.
A referência da lex fori à lei estrangeira não vai restrita às normas de regulamentação
deste sistema jurídico, antes toma-o na unidade dos seus preceitos, tanto de direito
material como conflitual.
Se na lei estrangeira se nos depara uma norma que remete o caso para a alçada doutra
legislação – seja ela a lex fori (retorno) ou lei de outro Estado (transmissão de
competência) – há que seguir essa nova referência, desistindo da primeira.
• Remissão da Norma de Conflitos para uma ordem jurídica estrangeira abrange sempre
e necessariamente o seu Direito de Conflitos.
• A designação das normas materiais aplicáveis não é feita direta e imediatamente, é
antes feita com a mediação do Direito de Conflitos da Ordem Jurídica estrangeira.
Argumentos a Favor:
• Princípio da Harmonia Jurídica Internacional – reenvio só permite alcançar a
harmonia jurídica se a lei estrangeira designada pela lex fori não admitir, por sua
parte, esse mesmo pensamento;
o Só esporadicamente é que se consegue atingir o objetivo prático a que se
propõe: garantir harmonia jurídica internacional.
▪ Os tribunais dos países interessados, se aceitarem uns e outros
esta teoria, passam a aplicar uma lei diferente da que lhes cumpria
observar, segundo a norma de conflitos dimanada do seu
respetivo legislador.
▪ Para que o reenvio conduza à harmonia jurídica, nos casos de
Retorno, é indispensável que a referência de L2 a L1 seja uma
75
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Argumentos Contra:
• Direito de Conflitos do foro vai renunciar ao seu juízo de valor sobre a conexão mais
adequada para acompanhar o critério da conexão do Direito de Conflitos estrangeiro
• Pode haver uma transmissão ad infinitum e/ou um pingue-pongue perpétuo/círculo
vicioso35
o LP desvaloriza, pois as situações internacionais estão em contacto com número
limitado de Estados, pelo que as hipóteses de transmissão em cadeia são raras
(objeção de fundo);
o Só se quebra esse círculo vicioso se uma das Ordens Jurídicas praticar a
referência material (objeção de natureza prática).
A. DEVOLUÇÃO SIMPLES
Teoria Clássica adotada por Itália, Espanha, França
35
FC: A teoria da referência global nega-se a ela própria, pois conduz a situações de autêntico círculo
vicioso.
➢ A referência da norma de conflitos do foro à legislação do Estado nacional do indivíduo não pode
deixar de abranger a nova referência desta legislação à lex fori, onde inclui também a regra que
remete para a situação nacional.
Só se poderia livrar desta objeção aceitando que uma das “referências” da cadeia não tenha a natureza
de referência global.
➢ Pode haver legislação no Direito do foro em que o legislador prescreva a aceitação sistemática
do reenvio da lei estrangeira para o direito local, tendo em vista objetivos práticos – aí deixa de
ser um verdadeiro princípio de referência global.
76
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Não pode haver um problema de soberania por uma referência imposta por um Estado
estrangeiro?
➢ Se, em primeira linha o ordenamento estadual se reputa incompetente então
passa-se diretamente à legislação por ele declarada aplicável ou terá de se
procurar outro caminho. Não pode ser uma lei estrangeira dizer que afinal tem
de ser o Estado do foro a aplicar a sua lei.
o FC: esta não é a conceção a que se adere pois o DIP não entende os
conflitos de leis como conflitos interestaduais (de soberanias).
o DIP deve ser entendido como a forma de se apurar a lei que mais
convenha a cada uma das situações jurídicas internacionais, em função
de interesses que primária e fundamentalmente dizem respeito aos
sujeitos dessas situações e não aos Estados.
LP: Surge ligada ao favorecimento da aplicação do Direito do foro e foi adotada pelos tribunais
portugueses antes da vigência do CC 1966.
➢ Em Portugal, parece que esta tendência foi aplicada em casos de retorno.
o Boa Administração da Justiça nos casos de Retorno– os juízes aplicam o
seu próprio direito, em que são versados.
▪ Se L2 devolve para L1, deverá aplicar-se sempre o Direito material
de L1.
▪ É assim que a teoria da devolução tem sido compreendida pelos
tribunais de todos os países que a seguem.
▪ FC: mas podem não estar a aplicar às situações da vida
internacional a legislação que em melhores condições estava para
intervir – desistir da aplicação da lei estrangeira competente a
pretexto de que mais vale aplicar o Direito local redunda em negar
o próprio fundamento do DIP.
77
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Enquanto na Devolução Simples se atende à norma de conflitos estrangeira, mas não se respeita
o tipo de remissão feita pelo Direito de Conflitos estrangeiro, na Devolução Integral o tribunal
do foro deve decidir a questão transnacional tal como ela seria julgada pelo tribunal do país
da ordem jurídica designada.
• Há Referência Global de L1 a L2 – não se aplica diretamente o Direito Material de L2,
aplicando-se o seu DIP.
• Do ponto de vista de L1, vai interessar todo o DIP de L2, atendendo tanto às Normas de
Conflitos como às Normas de Reenvio.
• Reenvio da Norma de Conflitos de L2 para L3 fará a Referência que o seu DIP designe.
• Assegura-se que o tribunal de L1 aplique a mesma lei e dê a mesma solução ao caso que
o tribunal de L2 – aplica-se em L1 exatamente o mesmo Direito que for aplicável em L2.
o Garante-se a harmonia entre L1 e L2.
78
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Há reenvio duplo quando a lei estrangeira ordena a devolução, ela própria enformada
pelo princípio da referência global.
Há reenvio único quando a lei estrangeira designada pela lex fori, ao referir-se a outro
sistema jurídico entenda referir-se apenas às disposições de direito material desse
sistema.
Desvantagem: É uma tese dificilmente generalizável, pois pressupõe que, em caso de retorno,
a ordem jurídica designada não pratica também devolução integral, sob pena de círculo vicioso.
➢ FC: teoria não vale como princípio geral de DIP – não se concebe generalizada a
todos os Estados.
o O juiz do Estado de aplicação do Direito poderia estar sempre a tentar
resolver como o juiz de outro Estado.
o A dificuldade só se venceria através da criação de normas de conflitos
especiais (ou de 2º grau).
O Reenvio não é uma teoria das normas de conflitos, mas é perfeitamente utilizável como
técnica – pode ser um instrumento útil, sendo aplicado apenas quando se via alcançar uma certa
harmonia.
RETORNO
O reenvio só é apto a realizar a harmonia jurídica se L2 ao devolver para L1, remeter apenas para o direito
interno.
• Isto só pode acontecer se a lei “reenviante” for uma legislação anti-devolucionista (como a
brasileira, grega, dinamarquesa).
• Permite aos tribunais do foro julgar como julgariam os Estados nacionais do interessado (que
iriam usar a lex fori).
79
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Se a referência de L2 a L1 for uma referência material, o retorno será meio idóneo para realizar a harmonia
jurídica – sendo admitido, pois está justificado por este último princípio.
RETORNO INDIRETO
Retorno a L1 é ordenado por uma lei que não L2
Só se garante a harmonia jurídica internacional quando L2 faz referência global a L3, que, por sua vez,
faz referência material a L1
TRANSMISSÃO DE COMPETÊNCIA
Quando L2 remete a L3 e L3 aceita, considerando-se competente – garante a harmonia jurídica
internacional.
80
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
COM O CC 1966 o legislador português não assumiu nenhuma atitude radical e optou
por uma via media: por um lado, o CC rejeita toda a ideia de aplicação sistemática do
reenvio (quer simples, quer duplo) à luz do art. 16º; por outro lado, define-se com certo
rigor o âmbito em que o reenvio deve atuar.
➢ Fugiu-se das orientações de tipo e raiz concetualista e assumiu os melhores caminhos
para se chegar aos objetivos que o Direito de conflitos colima: harmonia jurídica
internacional, havendo uma uniformidade de valoração da mesma situação da vida por
parte de todos os sistemas de direito com ela conectados.
➢ O Reenvio pode eliminar a divergência entre as regras de conflitos dos sistemas ligados
a determinada situação factual, podendo, assim, ser um fator de certeza jurídica.
LP: legisladores nacionais têm frequentemente adotado uma regra geral acompanhada de
importantes desvios.
• O SISTEMA PORTUGUÊS PARTE DE UMA REGRA GERAL DE REFERÊNCIA MATERIAL,
MAS ACEITA A DEVOLUÇÃO EM CERTOS CASOS.
o Nuno Andrade Pissarra: Portugal tem referência global atípica
• Devolução é admitida como um mecanismo de correção do resultado a que conduz no
caso concreto a aplicação da norma de conflitos do foro, quando tal é exigido pela justiça
conflitual.
• Nesse quadro da justiça conflitual, é principalmente o princípio da harmonia
internacional de soluções que pode fundamentar a aceitação da Devolução – subjacente
aos art. 17º/1 e 18º/1 CC. Também se pode considerar o favor negotii – subjacente ao
art. 19º-
O DIP vigente em Portugal não só aquele que está no CC, mas aquele todo que vigora na Ordem
Jurídica interna, devido à aplicação direta e imediata dos Regulamentos Europeus e Convenções
Internacionais.
➢ Muitas regras do CC estão derrogadas por regras de fonte europeia, que também se
ocupam desta matéria.
Lima Pinheiro: Não se adota a Tese da Referência Material pois admite-se “preceito em
contrário” – aceita-se a Devolução nos casos em que a lei o determine (art. 17º, 18º, 36º/2,
65º/1 CC)
➢ Baptista Machado: regra pragmática que admite desvios nos casos em que se aceita a
devolução.
81
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
“Direito interno” = Direito Material, que tanto pode ser de fonte interna como de fonte
supraestadual ou transnacional.
Tribunal Português tem de aplicar apenas as normas materiais de outra Ordem Jurídica e não as
normas de conflitos.
➢ Aplicamos sempre uma Referência Material, salvo se for Global – portanto, temos
sempre de ver o que se passa no DIP de L2, uma vez que pode levar a que se aplique
uma exceção.
o Desvios à regra geral: art. 17º e 18º C; art. 34º/1 Reg Roma IV
Ex: Lei Pt manda aplicar Lei Br (nacionalidade); Lei Br manda aplicar Lei Argentina (residência
habitual). Se Lei Argentina também mandar aplicar a residência habitual, então julga-se
competente e Tribunal em Portugal tem de aplicar a Lei Argentina
36
Na aplicação de Regulamento temos de ver:
1. Âmbito Material – qual a matéria que trata (regulado nos primeiros artigos)
2. Âmbito Espacial – se a situação privada internacional se coloca em Estado-membro vinculado
pelo regulamento. Alguns Estados-membros não estão vinculados – ver considerandos (82 e 83
em Roma IV)
3. Âmbito Temporal – verificar se o Regulamento está em vigor e se se aplica.
37
Tanto para a Transmissão de Competência como para a Transmissão de Competência com Retorno
82
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
L1 L2 L3 =
Só podemos aplicar através da transmissão de competência uma lei que L2 aplique e que se
considere competente.
83
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 17º/2/2ª parte revela que o legislador representou L2 como sendo a lei da nacionalidade39
➢ Releva quando o interessado tem residência habitual noutro Estado que aplica a lei da
nacionalidade.
Ex: Suecos têm RH em Pt; casam nos EUA; seria inválido em Pt o casamento
➢ Não se aceita o reenvio pois estar-se-ia a aceitar uma lei que não tem nada a ver
substancialmente com o caso (é só o lugar onde estavam) – não se pode aplicar, ao
38
FC: O legislador português perspetiva um conjunto de matérias que, pela sua natureza
eminentemente pessoal, devem ser governadas por uma lei que os indivíduos possam olhar como
sendo a sua lei, à qual possam considerar-se ligados por algum vínculo verdadeiramente substancial e
permanente.
➢ Pode haver opção entre a lei da nacionalidade e a lei da residência habitual (= domicílio).
39
LP: A lei da residência habitual pode remeter para a lei da nacionalidade (L2) mas não a aplicar, por
aceitar a transmissão de competência operada pela lei da nacionalidade; ou pode remeter para o Direito
português e vir a aplicar a lei da nacionalidade, também através da devolução.
84
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
FC: As diferentes leis interessadas, que a lei dá valor em matéria de estatuto pessoal, estão de
acordo quanto à competência de uma outra lei, portanto aplica-se essa tal lei, mesmo que ela
se repute incompetente.
➢ Solução que se ajusta aos princípios do DIP português.
nº3
Repõe a Transmissão de Competências
➢ Restrição à exceção ao desvio
➢ Só se aplica quando antes se tenham verificado as previsões das normas contidas nos
nº 1 e 2
Pressupostos de aplicação:
• Que se verifique um dos casos de cessação da transmissão de competência previstos no
nº2;
• Que se trate de uma das matérias indicadas no artigo;
• Que lei da nacionalidade aplique a Lex Rei Sitae;
o L2 é lei pessoal e L3 é lex rei sitae
• Que a Lex Rei Sitae se considere competente.
Restrição ao reenvio do art. 17º/2 deixa de valer sempre que a lei indicada pela norma
de conflitos da lex patriae for a da situação de um imóvel e esta lei se reputar competente,
desde que se trate de alguma das matérias do art. 17º/3.
85
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
40
Tanto para o Retorno Direito como para o Retorno Indierto
41
Da perspetiva de L1, somente interessa olhar ao DIP de L2 e não olhar para o DIP de L3. O art. 18º/1 (e
o art. 17º/1) olham para o DIP de L2 e atendendo à referência que ele faça (Referência Material, Dupla
Devolução, Devolução Simples), apura-se o Direito Material aplicável.
86
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Direito material da lex fori só se torna aplicável se a norma de conflitos da lei estrangeira
para ele devolver precisamente.
➢ Se a norma de conflitos que reenvia para a lei do foro for de um sistema que não
admite o reenvio, então aplica-se o direito interno português e isto é compatível
com a harmonia jurídica internacional.
Suscitam-se dificuldades quando não há remissão direta e imediata para o Direito material
português, mas antes se condiciona a resposta ao sistema de devolução português, i.e., um
sistema que aplique ou não o Direito material português conforme o nosso Direito de
Conflitos aceite ou não o retorno.
➢ Isto pode suceder no caso de retorno direto operado por um sistema que faça devolução
integral ou por uma lei que tenha um sistema de devolução igual ao nosso.
➢ Sempre que a referência da norma de conflitos estrangeira à lei portuguesa for
uma referência global, o reenvio impede a uniformidade de valoração da
situação sub judice.
o Portanto, aplicam-se as disposições materiais do sistema indicado pelo DIP
do foro (portanto, aplica-se art. 16º e não o 18º)
Nos casos de retorno indireto (em que uma L3 devolve a L1) aceita-se o reenvio quando
se cumpram cumulativamente 2 condições:
• Aceitação do reenvio de segundo grau ou transmissão de competência por parte
do sistema designado pelo DIP local;
• Designação da lex fori, por parte da terceira legislação em causa, através de uma
referência material.
o É coerente com o art. 18º pois a lei pode designar direta ou indiretamente e não
há diferença.
87
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ex: Suecos têm RH em Espanha e vêm casar a Portugal. Lei Pt manda aplicar Lei Sueca; Lei Sueca
reenvia para Lei Pt por ser o lugar da celebração; Lei Espanhola manda aplicar Lei Sueca. Não se
aceita o retorno à lei portuguesa, pois em matéria de estatuto pessoal a aplicação da lei material
portuguesa iria conduzir a um resultado contrário ao nosso DIP – aplicação da lei do lugar da
celebração a uma matéria de Estatuto Pessoal.
Grande alcance do preceito: sempre que haja devolução por força dos art 17º ou 18º, esta
devolução é paralisada se L2 for mais favorável à validade ou eficácia do negócio ou à
legitimidade de um Estado (que a lei aplicada através da devolução).
• Se do reenvio resultar a invalidade ou ineficácia de um negócio jurídico, que seria
válido ou eficaz em face da lei indicada pelo DIP português, é esta a lei que se
aplica, salvaguardando a eficácia do ato.
• Se a validade do negócio for decidida de forma diferente pela lei que reenvia e
por aquela para a qual se reenvia, prevalece a lei que tiver o negócio por válido.
88
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Não haverá reenvio quando a lei estrangeira aplicável o for por força da vontade das partes
contratantes.
➢ Se, portanto, a lei por estas designadas remeter para outra, essa transmissão de
competências ou esse retorno não releva.
➢ Quando interessados escolhem certa lei, eles escolhem a lei material e não as normas
de conflitos dessa Ordem Jurídica.
o Pelo que não há reenvio, pois seria contrário à vontade hipotética dessa pessoa.
89
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: é injustificada a exclusão geral do reenvio feita nas Convenções internacionais e nos
Regulamentos Roma I, II, III.
• O objetivo visado com a unificação justifica a exclusão do reenvio quando as normas de
conflitos unificadas remetam para a lei de um Estado vinculado pelo instrumento de
unificação, mas já não quando remetam para a lei de um terceiro Estado.
• É, pois, de aplaudir a mudança de orientação ocorrida com o Regulamento sobre
sucessões.
Art. 36º/2 – o que releva é a lei aplicada pela lei do lugar da celebração
➢ LP: se a lei do lugar da celebração aplicar o Direito material português esta hipótese
pode regular.
➢ Mas, não está excluída a aplicação do art. 18º CC à remissão operada pelo art. 36º/1,
podendo configurar-se uma hipótese de retorno, nos termos desse preceito, sem ser
necessário recorrer ao art. 36º/2
A remissão operada pela lei do Estado terceiro para outro ordenamento deve ser entendida em
termos de aplicabilidade da lei deste ordenamento, tendo em conta as suas normas de conflitos
e o seu sistema de devolução.
➢ Está a dizer-se que se admite o Reenvio – quando a Lei do Foro remete para a Lei do
Estado Não Vinculado pelo Regulamento, tem de solhar para o DIP dessa L2 e só se
aceita o reenvio se L2 remeter para os casos das alíneas a) ou b)
90
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
o Opinião LP, João Gomes Almeida: tem assento na lei42 e promove a harmonia
de julgados
ii. Art. 17º e 18º contêm regras especiais – admite-se a devolução, configurando um sistema de
devolução suis generis, visto que não corresponde à devolução simples nem à devolução integral.
➢ Parece inspirar-se mais na devolução integral, visto que a devolução depende sempre do
acordo de L2.
iii. Matérias de negócio jurídico – admite-se a transmissão de competência para uma lei que
não esteja disposta a aplicar-se para obter a validade formal do negócio (art. 36º e 65º CC).
Dário Moura Vicente: Sistema complexo mas que se norteia por valorações do DIP
a) harmonia de julgados;
b) aproveitamento negócios jurídicos;
c) efetividade das decisões judiciais.
Parecem regras muito formais, mas, na sua base, têm princípios fundamentais do DIP.
Lima Pinheiro:
a. Sistema dos art. 17º/1 e 18º/1 tem a sua lógica e promove a harmonia com L2, mostrando-
se superior à devolução integral pois evita o círculo vicioso em caso de retorno direito por parte de
um Direito que faça devolução integral e faz depender a transmissão de competência da harmonia
com a lei aplicada por L2.
b. Limites no âmbito do estatuto pessoal vão ao arrepio da tendência geral que se manifesta
nos principais sistemas estrangeiros, sendo mais difícil entender porque se dificulta mais o
retorno que a transmissão.
42
Se L2 tiver um sistema de Devolução Dupla, então a letra da lei não está preenchida e não se pode
aplicar este artigo.
➢ Não se remete para a lei de um Estado-membro, remete-se para a lei que esse Estado-membro
aplica
91
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
92
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Em princípio, a norma de conflitos de DIP, quando remete para o Direito estadual, fá-lo para
o Direito de um Estado soberano.
43
Ferrer Correia discorda: quando o Elemento de Conexão aponta diretamente para determinado lugar
no espaço, será competente o sistema em vigor nesse lugar.
44
Teses discutem-se sobretudo nos Ordenamentos Jurídicos de Base Territorial.
➢ Há problemas mais complexos nos Ordenamentos Jurídicos de Base Pessoal.
93
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
2. TESE DA DESIGNAÇÃO DIRETA – maioria das Normas de Conflitos têm Elementos de Conexão,
mas esses Elementos de Conexão têm uma capacidade intrínseca de designar muito mais que
o Estado soberano (ex: Residência Habitual) e apontam para uma localização espacial.
• Se Norma de Conflitos consegue designar mais que o Estado soberano, então tal deve
ser feito.
Há vários, pois existe um para as Normas de Conflito de fonte interna (art. 20ºCC), mas, a maioria
dos regimes nas fontes supraestaduais têm normas específicas quanto a este problema.
Art. 20º não regula em geral/global o problema dos Ordenamentos Jurídicos Complexos, seja
qual for o Elemento de Conexão – apenas regula quanto à Nacionalidade
45
Ferrer Correia: É natural que seja o legislador do sistema complexo a determinar a esfera de
competências de cada um dos sistemas particulares.
94
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 20º/2 – não sendo possível resolver a questão com base no Direito Interlocal vigente na
Ordem Jurídica complexa
• Se Ordenamento Jurídico Complexo não tiver normas de Direito Interlocal, aplica-se DIP
Unificado que exista – faz-se analogia ao recorrer ao DIP unificado48.
• Se não houver DIP unificado atende-se à lei da Residência Habitual
Escola de Coimbra (Ferrer Correia, Baptista Machado): aplica-se a lei da residência habitual
mesmo que esta se situe fora do Estado da nacionalidade.
➢ Argumento histórico + literal
o FC: A Solução do Anteprojeto CC 195149 foi rejeitada, portanto, a
consagração no CC 196650 é a da residência habitual,
independentemente da nacionalidade.
Escolha de Lisboa (Magalhães Collaço, Lima Pinheiro): só releva a residência habitual dentro do
Estado da nacionalidade, pois só assim ainda estamos no âmbito do art. 20º
46
Resumo FC: Quando a lei chamada a intervir a título de lei pessoal for a de um Estado em que coexistam
diferentes sistemas jurídicos locais, a concretização do Elemento de Conexão (nacionalidade) far-se-á
recorrendo ao Direito Interlocal do Estado estrangeiro e, na sua falta, ao respetivo DIP.
Se nem assim puder resolver-se a questão, considera-se como lei pessoal do indivíduo a da sua Residência
Habitual.
47
“DIP à escala interna” parecida a norma de conflitos mas cujo âmbito é regular situações em que há
pontos de contacto de várias ordens jurídicas dentro de um Estado soberano.
48
As normas de Direito Interlocal são parecidas às Normas de DIP, portanto se as normas de DIP
indicassem sempre a mesma solução, poder-se-ia retirar um critério comum que podia vir resolver estes
problemas.
49
Este critério da Residência Habitual serve para escolher um dos vários sistemas legislativos em que se
decompõe a lei nacional. Na falta de domicílio atual no território (plurilegislativo competente para regular
a situação), deverá recorrer-se ao último domicílio do sujeito nesse mesmo Estado. Se ele nunca foi aí
domiciliado há quem proponha a solução (arbitrária mas prática) de considerar aplicável o direito vigente
na capital do país.
50
Critério da residência habitual. Tudo se passa – nesses casos em que a lex patriae se mostra impotente
para resolver o problema que ela própria gerou – como se o interessado não tivesse nacionalidade ou
como se a nacionalidade dele fosse de averiguação impossível. Aplica-se tanto no caso da pessoa que
reside habitualmente no Estado de que é nacional, como no caso da que reside, pelo menos agora, em
país estrangeiro.
95
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Interpretação restritiva do art. 20º/2/parte final – este artigo tem como função indicar
o sistema aplicável de entre os que integram o ordenamento complexo.
o Sabendo a nacionalidade, porque se há de aplicar o Elemento de Conexão que
só se aplicaria a quem não tivesse nacionalidade?
o A Residência Habitual só pode ser entendida se for dentro do Estado da
nacionalidade – é uma imposição do sistema
• Redução Teleológica (Dário Moura Vicente)
Se residência habitual for fora do Estado da nacionalidade, surge uma lacuna que deve ser
integrada com recurso ao Princípio da Conexão Mais Estreita.
• DMV: preenche-se a lacuna por uma analogia iuris, à luz do princípio de conexão mais
estreita (procedendo em conformidade com o art. 10º/3).
o Determinar qual o Ordenamento Jurídico local com o qual o indivíduo tinha uma
conexão mais estreita – atenta-se às situações da vida da pessoa e vemos qual
é aquele com o qual tem conexão mais estreita.
▪ Conexão mais estreita dentro do Ordenamento Jurídico Comlexo
▪ Se não houver como aferir essa conexão mais estreita51, então parte-se
para uma conexão subsidiária – em Portugal, a conexão subsidiária do
estatuto pessoal é a Residência Habitual.
➢ Aí aplica-se, mas somente como última ratio e não como o art.
20º/2 preconiza, em primeira linha.
• Também se pode preencher a lacuna por uma analogia legis do art. 28º LN – mas aí está
a tratar-se outro problema (DMV = NAP)
o Pode invocar-se até analogia ao art. 28º Lei da Nacionalidade, para perceber
qual o ordenamento a que a pessoa está mais ligada.
E se Norma de Conflitos de fonte interna remete, em razão da nacionalidade, mas não é norma
de estatuto pessoal?
Art. 45º/3 CC – ainda tem aplicação residual no caso de violação de direitos de personalidade
• DMV, Elsa Dias Oliveira: não se aplica o art. 20º, devido ao nº2
• Gomes Almeida: regras de preenchimento de lacunas portuguesas vai levar a que se
aplique o art. 20º, por analogia legis.
51
LP: Para determinar a conexão mais estreita há que atender a todos os laços objetivos e subjetivos que
exprimam uma ligação entre a pessoa em causa e um dos sistemas vigentes no ordenamento complexo.
96
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 20º/3 é praticamente regime autónomo – tem regime apenas para os Ordenamentos
Jurídicos Complexos de Base Pessoal.
➢ Solução é Tese de Designação Indireta.
Lex rei sitae – consegue dizer o local espacial específico, designando logo, diretamente, o
ordenamento jurídico local aplicável.
➢ Também quanto à celebração do Negócio Jurídico ou acontecimento do Delito.
Ferrer Correia: critério do art. 20º é somente a Nacionalidade pois esse é o elemento de conexão
que necessita de ajuda.
➢ Os outros designam diretamente o Direito local aplicável.
o DMV concorda
o Os outros Elementos de Conexão são conexões de caráter territorial, pelo
que a Norma de Conflitos do foro estabelece essa localização específica.
Será competente o sistema em vigor no lugar onde se verificou ou onde
se situa o elemento de conexão decisivo52.
Magalhães Collaço: há lacuna, que deve ser integrada por aplicação analógica do art. 20º CC
• É indiscutível que art. 46º tenha capacidade de identificar o Direito Local.
52
Esta solução tem de ter em conta se o sistema de direito interlocal do Estado plurilegislativo tem o
sistema jurídico rei sitae. Se não o tiver então tem de se atender a outro Ordenamento Jurídico
(transmissão de competência).
97
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
o Mas, o DIP tem por função coordenar os diferentes Estados soberanos, portanto
esgota-se quando identifica o Estado soberano.
o Daí que se tenha de aplicar analogicamente a solução do art. 20º.
o Mesmo no caso do art. 46º aplica-se o art. 20º por analogia, excetuando o que
dispõe sobre a Residência Habitual (parte final art. 20º/2 não é passível de
aplicação analógica).
LP: Resultados práticos são parecidos entre Ferrer Correia e Magalhães Collaço
98
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Roma III
➢ Art. 15º
Tese Mista – em tudo o que seja Ordem Jurídica base pessoal e territorial em que se usa
nacionalidade segue-se a Indireta; se usar outro Elemento de Conexão segue-se a Direta.
99
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Fraude à Lei
Violação indireta da lei – contornar uma proibição legal utilizando métodos aparentemente
válidos.
➢ Uma pessoa quer subtrair-se a uma certa norma legal e, para evitar a violação direta
dessa norma, procura submeter-se ou situar-se sob a égide de uma outra norma legal.
➢ Consiste em alguém iludir a competência da lei de aplicação normal, a fim de
afastar um preceito de direito material dessa lei, substituindo-lhe outra lei onde
tal preceito, que não convém às partes, não existe.
No Direito Material: Problema que surge principalmente no domínio dos negócios jurídicos,
quando os sujeitos procuram tornear uma proibição legal através da utilização de um tipo
negocial não proibido.
➢ Violação indireta de uma norma proibitiva.
➢ Ex: 877º CC – pai vende a amigo para amigo vender ao filho
No DIP: alcançar do resultado que a norma proibitiva visa evitar, fazendo uma manobra
defraudatória que consiste no afastamento da lei que contém essa norma proibitiva como
uma “fuga de uma ordem jurídica para outra”
Caso Bauffremont: Francesa não queria estar casada; França não reconhecia o divórcio;
Francesa separou-se de facto; na Alemanha a separação de facto pode originar novo casamento;
Francesa adquiriu nacionalidade Alemã para poder casar.
100
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ex2: Sociedade tem sede em Pt em que transporta mercadorias por mar. Tem sucursal no
Panamá em que a lei laboral é mais favorável. Começa a contratar toda a gente através do
Panamá para aplicar as regras laborais de lá e não as Pt.
O que acontece é uma mudança do elemento de conexão que fazia acionar a norma de
conflitos.
➢ DMV: situação de fraude à lei funciona através de uma concretização irregular do
elemento de conexão
➢ LP: tal como é conformado pelo Direito de Conflitos português, o instituto da fraude à
lei constitui um instrumento da justiça da conexão e um limite ético colocado à
autonomia privada na modelação do conteúdo concreto dos elementos de conexão.
Há dois tipos:
A. Manipulação do Elemento de Conexão
➢ Para afastar a lei normalmente competente, o agente da fraude vai modelar o conteúdo
concreto do elemento de conexão.
53
FC: É a ilicitude do fim visado com a manobra, e não a pura e simples alteração do Elemento de Conexão
que provoca uma situação de Fraude à Lei.
➢ Ninguém pode ser privado do direito de mudar de nacionalidade, contanto que o indivíduo
proceda com o intento sério de aceitar as consequências mais essenciais da condição desse
Estado da naturalização
101
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: A Norma de Conflitos não é objeto de fraude no sentido de ser afastada pela manobra
defraudatória, mas, é objeto da fraude no sentido em que há uma atuação sobre esta norma
que conduz à frustração das suas finalidades
➢ A instrumentalização da norma de conflitos põe em causa a justiça da conexão que ela
veicula.
Ex4: B (Pt) tem 2 filhas e gosta mais da mais nova. Quer deixar mais bens à mais nova. Em Pt a
quota disponível é de 1/3 e no Br é 1/2. Decide deixar todos os bens da quota disponível à filha
mais nova e quer potenciar esse deixar de bens. Faz testamento submetendo-se à lei Br. É fraude
à lei?
➢ NÃO. Ela tinha intenção fraudulenta, mas, a norma de conflitos aplicável utiliza a lei da
nacionalidade (art. 62º CC), pelo que não se manipulou com êxito o elemento de
conexão.
➢ Caso STJ 18/6/2013, Gregório Silva Jesus
54
NAP: temos de ver se antes da alteração de lei a solução era uma e agora é outra
102
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Sanção da fraude à lei é uma de desconsideração – a sanção desta figura deve simplesmente
consistir em se desatender àquela concretização irregular daquele elemento de conexão e
atender tão só aquela que seria a concretização normal.
➢ Portanto, deve aplicar-se a lei que as partes quiseram evitar.
103
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 21º CC
A sanção da fraude à lei no Direito de Conflitos confina-se ao que diz respeito à aplicação da
Norma de Conflitos.
➢ A sanção é a aplicação da lei normalmente competente – é irrelevante a manipulação
o Não são irrelevantes os atos praticados – eles aconteceram, mas, por terem sido
feitos para defraudar a lei, continua a aplicar-se a lei que antes desses atos se
aplicava.
➢ FC: Consiste no regresso ao Estado de coisas a que o fraudante pretendeu evadir-
se, com a concomitante ineficácia da situação que ele visou criar.
Art. 21º CC não distingue entre o defraudar de uma Norma de Conflitos portuguesa e
uma Norma de Conflitos estrangeira.
➢ A (BR) com RH em PT, quer casar com B. Tanto BR como PT não permite casar com B,
pois não tem capacidade. A muda RH para DNK, para vir a PT casar. PT remete BR, BR
remete para DNK. Portugal aplica DNK.
➢ Norma de Conflitos foro (portuguesa) não foi defraudada, somente a Norma de
Conflitos estrangeira (brasileira).
o Onde o legislador não distingue, não deve o intérprete distinguir: portanto o art.
21º também se aplica quando há fraude à lei estrangeira.
Ferrer Correia, Baptista Machado: não diferenciam entre a sanção da fraude à lei do foro e a
sanção da fraude â lei estrangeira55
55
FC: dá-se relevância à fraude de lei estrangeira, pelo menos quando a fraude tenha consistido na evicção
da lei estrangeira competente a favor doutra também estrangeira.
104
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Magalhães Collaço:
• a fraude à lei do foro é sempre sancionada
• a fraude à lei estrangeira só sancionada em dois casos
1º. se a lei estrangeira defraudada também sanciona a fraude;
2º. se, embora a lei estrangeira defraudada não sancione a fraude, está em
causa, na perspetiva do DIP do foro, um princípio do mínimo ético nas relações
internacionais, que não se conforma com o desrespeito da proibição contida na
lei normalmente competente.
DMV (concorda quanto a 1º): pelo menos, nos casos em que possa estar em causa o princípio da
harmonia internacional de julgados, só pode ser sancionada a fraude à lei se isso não levar a
uma desarmonia – ou seja, só se sanciona fraude à lei se a lei estrangeira também sanciona.
➢ Se a lei estrangeira não sanciona uma fraude a si própria não vai ser a lei do foro a dizer
que há aqui fraude.
➢ Só assim conseguimos que se aplique entre nós a mesma lei que se aplicaria no
ordenamento jurídico estrangeiro em questão.
o LP: entendimento que assegura a harmonia internacional de soluções.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• No caso concreto do processo principal, importa salientar que as disposições nacionais cuja aplicação os
interessados procuraram evitar são normas que regem a constituição de sociedades e não normas relativas
ao exercício de determinadas atividades profissionais. Ora, as disposições do Tratado relativas à liberdade
de estabelecimento visam precisamente permitir às sociedades constituídas em conformidade com a
legislação de um Estado-Membro, e que têm a sua sede social, a sua administração central ou o seu
estabelecimento principal na Comunidade, exercerem, por intermédio de uma agência, de uma sucursal ou
de uma filial, actividades noutros Estados-Membros.
• Nestas condições, o facto de um nacional de um Estado-Membro, que pretenda criar uma sociedade, optar
por constituí-la num Estado-Membro cujas regras de direito das sociedades lhe parecem menos rigorosas e
criar sucursais noutros Estados-Membros não pode constituir, em si, um uso abusivo do direito de
estabelecimento. Com efeito, o direito de constituir uma sociedade em conformidade com a legislação de
um Estado-Membro e de criar sucursais noutros Estados-Membros é inerente ao exercício, num mercado
único, da liberdade de estabelecimento garantida pelo Tratado.”
→ Começou por dar alguma razão à DNK, mas, depois, considerou que a liberdade de
estabelecimento abarca esta situação – sendo isto possível à luz do DUE, não pode ser
considerado Fraude à Lei.
56
NAP: no âmbito dos Regulamentos não há norma equivalente ao art. 21º CC – discute-se a questão de
saber se a fraude à lei é suscetível de ser sancionada ou não.
➢ Há menção no Considerando 26 Roma IV
106
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Cláusulas de Exceção
Problema de aplicação das Regras de Conflitos – surge na análise da Teoria Geral da Norma de
Conflitos
Normas que corrigem o resultado do funcionamento das Regras de Conflitos – não se aplica a
lei designada pela norma de conflitos mas aquela que, no entender do julgador, tem uma
conexão mais estreita com o caso.
• Proposição que permite afastar o Direito primariamente aplicável de um Estado, quando
a situação apresenta uma ligação manifestamente mais estreita com outro Estado.
o Equidade conflitual intervém para corrigir a designação do Direito estadual
primariamente aplicável, quando a situação apresenta uma ligação
manifestamente mais estreita com outro Estado.
• Regras preveem que, a uma determinada situação internacional, à qual é aplicável, em
princípio, uma certa lei de acordo com uma determinada regra de conflitos, pode ou
deve ser aplicada outra lei com a qual essa mesma situação privada internacional tem
uma conexão mais estreita do que a lei que é indicada pela regra de conflitos de que se
partiu
Âmbito Setorial –– delimitam a sua previsão com recurso a categorias de situações jurídicas;
cláusulas privativas de matérias específicas.
➢ Regulamentos da UE tendem a acolher cláusulas de exceção setorial
o Art. 4º/3 Roma I: poder do julgador derrogar a aplicação da lei em princípio
competente e aplicar a lei de outro país que, no seu entender, tem uma conexão
mais estreita.
▪ Art. 4º/5 Roma I é considerado pela doutrina dominante como cláusula de
exceção.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
o Art. 4º/3 Roma II: paralelismo entre esta norma e o Roma I, mas acrescenta-se
algo – se entre agente e lesado havia contrato, sujeito a certa lei, e o ato lesivo
é causado na execução desse contrato, pode ter-se em atenção essa conexão.
o Art. 5º/2, 10º/4, 11º/4, 12º/2/c Roma II: todos são casos em que manda
atender à conexão mais estreita
A Cláusula Geral da Conexão Mais Estreita surge quando não há possibilidade de fazer
funcionar a regra de conflitos competentes.
➢ É preciso uma solução subsidiária, que é aplicar a lei com a conexão mais estreita.
o Aplica-se de princípio e não afasta nenhuma lei competente.
Já as Cláusulas de Exceção são desvio à aplicação de certa Norma de Conflitos – há regra que
permite ao juiz desviar-se da conexão da regra de conflitos
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ex: A e B fazem contrato de mercadorias internacional. A vive em país X. B vive em país Y, onde
foi celebrada o contrato e onde era devida a mercadoria. B não paga o preço. A quer acionar. B
diz que no país Y o contrato era inválido e por isso não paga.
A quer invocar o art. 4º/4 Roma I
B invoca que isto é cláusula de exceção do art. 4º/3 Roma I
É difícil antecipar qual a lei que o juiz vai aplicar – ambas as leis têm título legítimo de aplicação
ao caso.
109
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
E se não houver no Direito positivo uma cláusula de conexão? O juiz pode afastar NC em
benefício de outra lei com a qual haja uma conexão mais estreita? Podem derrogar-se
as normas de conflitos sem regra e à luz da conexão mais estreita?
DMV: art. 8º CC – juiz não pode sobrepor a sua conceção de justiça aquela que está na lei.
➢ Mas não é isso que está em causa – não é o sobrepor da conceção própria, é corrigir o
resultado do funcionamento da Norma de Conflitos em virtude dos princípios do DIP.
o Não cabe no art. 8º/2 CC, isto é apenas situação em que se tem em consideração
as circunstâncias do caso concreto para determinar a lei aplicável.
o Há várias manifestações na lei de regras que mandam atender às circunstâncias
do caso concreto (art. 9º/2, 547º).
o A determinação de conceitos indeterminados também, de alguma forma,
manda atender ao caso concreto.
110
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Lei Espanhola – não dava direitos sucessórios aos filhos fora do casamento.
STJ entendeu que recusar quaisquer direitos sucessórios aos filhos nascidos fora do
casamento era discriminatório e contraditório com o princípio da igualdade. Entendeu
também que a vida patrimonial e familiar do de cujus estava em Portugal, daí uma
expetativa de regulamentação dos atos jurídicos pela lei portuguesa.
STJ decidiu não aplicar a lei espanhola e aplicar, sim, a lei portuguesa.
STJ aplicou cláusula de exceção que não estava explícita na lei – entendeu que deveria
poder derrogar a lei que a Norma de Conflitos mandava aplicar em homenagem à
proteção das expetativas (tutela de confiança).
Ofender essas expetativas seria uma “impressionante e revoltante injustiça”.
Acionou cláusula de conexão implícita por homenagem a esses valores e em
função da ideia de proximidade.
Olhou-se aos valores fundamentais do DIP, no caso concreto, efetivando uma
correção do resultado da aplicação da norma de conflitos.
DMV: concorda e não há como recusar essa correção do resultado da aplicação da norma de
conflitos.
• Dentro de certos limites, deve-se efetivamente admitir que pode haver um
afastamento da lei designada pela Regra de Conflitos, em benefício de uma outra lei
que tenha conexão mais estreita com a situação privada internacional.
111
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: não é necessário uma norma expressa a consagrar uma cláusula de exceção para que se
possa proceder desta forma.
➢ Os próprios valores fundamentais a que estão subordinadas as Regras de Conflitos
reclamam que isso se faça.
LP: De iure condendo defende a introdução no Direito de Conflitos português de uma cláusula
geral de exceção, uma vez que a justiça da conexão é posta em causa quando a norma de
conflitos remete para o Direito de um Estado e a situação apresenta uma ligação
manifestamente mais estreita com outro Estado – caso em que o resultado a que conduz a regra
de conflitos entra em contradição com as finalidades visadas com esta regra.
➢ Isto permite o desenvolvimento jurisprudencial de novas regras de conflitos para
determinados tipos de situações – opera-se um aperfeiçoamento e desenvolvimento do
Sistema de Direito dos Conflitos.
➢ A consagração de uma cláusula de exceção nestes termos não obsta a que a norma de
conflitos desempenhe a sua função orientadora de condutas nem prejudica a sua
vinculatividade.
112
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Questão que se coloca no DIP é saber se a aplicabilidade dessas normas imperativas depende de
elas pertencerem à lei aplicável.
➢ Saber se uma norma que não é designada pela Norma de Conflitos pode ser aplicada
em virtude da sua imperatividade
o A regra de conflitos que é relevante em determinada situação privada
internacional aponta para determinada lei, mas há certas normas imperativas
de uma outra lei que visam acautelar interesses que estão em jogo nessa
situação e essas normas imperativas reclamam a sua aplicação para que os seus
objetivos sejam realizados, devendo estar normas ser aplicadas ou tomadas em
consideração.
Ex: Acórdão STJ, 1996 – Trabalhadora PT num Banco PT, deveria prestar a sua atividade laboral
na Alemanha.
• Aplicava-se o art. 42º/2 CC
• Trabalhadora, ao abrigo de um contrato de trabalho celebrado na Alemanha, foi
despedida e demandou o Banco nos tribunais portugueses.
• Mas, na altura, na Alemanha as consequências do despedimento sem justa causa não
existiam. Pergunta-se se as normas sobre a proibição do despedimento sem justa causa
em Portugal se aplicam ao caso, independentemente de não pertencerem à lex causae
(Alemã).
• 1ª e 2ª instância dizem que se aplica imperativamente
• STJ revoga anteriores e absolve o réu (Banco) do pedido mas por outro motivo.
o Mas o STJ sublinhou que que se não fosse esse outro motivo, ele também
entenderia que as normas da lei portuguesa sobre despedimento sem justa
causa eram aplicáveis a este caso.
57
Nuno Andrade Pissarra: forma mais neutra de designar é por “lois de police”
113
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV e LP
Criticam esta doutrina e o que verdadeiramente define as normas é um critério formal de ter
uma aplicação diferente devido a norma/princípio que lhes confira título de aplicação.
DMV: Estas são normas que reclamam, de forma expressa ou implícita, a aplicação delas
mesmas a um caso.
➢ São normas internacionalmente imperativas pois projetam a sua imperatividade na
ordem internacional, para além da própria lei a que pertencem e não se aplicam
apenas nos casos em que seja competente a lei a que pertencem, uma vez que os fins
que elas visam realizar só podem ser conseguidos se lhes for reconhecida essa eficácia.
114
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Para que estas normas imperativas, pertencentes a uma lei que não é a lex causae, é
necessário que elas tenham um título de eficácia na Ordem Jurídica nacional.
➢ LP: As normas imperativas estrangeiras só podem ser aplicadas na ordem jurídica local
por força do título de aplicação que uma proposição vigente nesta ordem jurídica lhes
conceda.
58
NAP: cabe neste conceito o facto ilícito/ilegal à luz de uma Norma de Aplicação Imediata (o que viola
uma NAI).
59
É regra de reconhecimento especial, sendo que em Portugal não vigora nenhuma regra de
reconhecimento geral.
60
NAP: neste caso, também se poderia aplicar o art. 23º Roma I pois a LCCG é uma transposição de uma
diretiva.
115
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Seja por norma ou princípio de DIP que lhe confira algum título de aplicação na nossa Ordem
Jurídica.
• Norma de Conflitos especial – art. 23º lei CCG
• Normas auxiliares de Norma de Conflitos – regulam a aplicação de regras materiais em
situações de DIP
• Princípio Geral – harmonia de julgados, tutela da confiança e etc.
DMV: É por esta exigência de um título de eficácia que não é correto designar estas normas
como normas de aplicação imediata.
➢ Elas só são aplicáveis através da mediação de uma norma ou princípio geral.
o Utilização destas normas pressupõe uma série de valorações a serem feitas pelo
Tribunal.
o Tem de haver conexão suficientemente estreita entre o caso e a Ordem Jurídica
que se pretende aplicar.
o É necessária uma valoração sobre o objeto em si das normas e sobre a
existência de uma conexão suficientemente estreita entre a situação jurídica
a regular e a Ordem Jurídica a que essas normas pertencem; e ainda sobre a
conformidade ou não da atribuição de efeitos a essas normas e os valores e
interesses prosseguidos pelo DIP.
Portanto, a aplicação destas normas não depende exclusivamente da sua vontade de aplicação
ao caso
➢ Elas têm de se querer aplicar, em virtude do seu objeto e fins, mas tem de haver conexão
com Ordem Jurídica os princípios fundamentais do DIP justificarem a aplicação dessas
normas.
➢ Há toda uma série de considerações a serem feitas. É preciso que o juiz reconheça que
elas têm alguma legitimidade para se aplicarem ao caso, atendendo aos seus objetivos
e finalidades bem como à ligação com a Ordem Jurídica a que pertence o caso
concreto.
LP: Na falta de norma especial que dê um título de aplicação a normas imperativas de terceiros
ordenamentos, os tribunais portugueses estão, em princípio, vinculados pelo sistema de Direito de
Conflitos a aplicar exclusivamente as normas imperativas da lei competente.
➢ Mas isto não exclui, em absoluto, a possibilidade de se fundamentar a aplicação de
normas imperativas de terceiros ordenamentos na analogia ou em soluções especiais
criadas pelo intérprete.61
61
Ex: art. 1682º-A/2
• Marques dos Santos: é uma Norma de Aplicação Imediata por ser Norma de Conflitos especial
ad hoc implícita – sempre que a casa de morada de família é em Portugal. Tem atenção aos fins
da norma.
• LP: temos de descobrir se a norma se aplica tendo em conta as valorações do DIP. Mas isso só se
faz se houver lacuna – não havendo lacuna, cabe perfeitamente no art. 52º pelo que não há título
de eficácia que se aplique ao art. 1682º-A.
116
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Se normas imperativas forem contrárias ao direito vigente na Ordem Jurídica do foro pode
recusar-se a aplicação dessas normas – contrário quer a normas quer a princípios.
DMV/LP: estamos sempre no método conflitual, pelo que não há nenhuma razão para que não
se apliquem as Normas Internacionalmente Imperativas da lex causae se tal derivar da aplicação
da Norma de Conflitos.
• Estas normas não são de aplicação necessária – podem vir a aplicar-se, atuando como
necessárias, ou não.
Efeitos:
Aplicam-se as normas como tais – juiz verifica quais as consequências da aplicação da norma e
julga o caso em conformidade.
Aplicam-se as normas como pressuposto de facto para as normas da nossa lei se aplicarem ou
não
• Em vez de serem as próprias normas a serem aplicadas elas funcionam como
pressuposto de facto de outras normas pertencentes à Ordem Jurídica do foro.
o Nos casos em que a Ordem Jurídica Local não atribui um título de aplicação a
normas imperativas de terceiros Estados, estas normas podem ainda ter
relevância no quadro do Direito material da lex causae.
• Ex: partes convencionam exportar mercadoria para país A. País A proíbe essa
importação. O contrato tornou-se impossível.
117
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Roma II – art. 4º/3 admite que a lei reguladora da obrigação de indemnizar por factos
ilícitos pode ser a lei que regulava o contrato/relação pré-existente entre as partes e
não no local do dano.
o Ex: transportador e passageiro – têm acidente em FR e contrato é regulado por
PT
o Art. 17º Roma II manda-se atender como pressuposto de facto as normas do
país em que ocorreu o facto danoso em questão (existência de responsabilidade
civil é apurada por lei PT, por onde se verificam os pressupostos da
responsabilidade civil. Mas face a que regras é que verificamos a ilicitude?
Intervém norma imperativa de FR pelo art. 17º)
DMV: NÃO – a questão de atribuição de efeitos não significa que se sai do método da conexão.
• Para as normas serem aplicadas têm de ter uma conexão com o caso.
• E essas normas têm de ser aplicadas por força de um título de eficácia – não se aplica
a qualquer caso só por se querem aplicar, o título de eficácia reconduz-se ao
pensamento fundamental do DIP e da ideia de conexão (tem de haver uma razão para
que se chame a aplicação dessas normas).
• E faz-se sempre funcionar a regra de conflitos e só depois verificamos se há uma lei de
3º país (ou do foro ou até da lex causae) que tenha algum título de aplicação ao caso.
• Esta é uma variante da metodologia conflitual.
o Fenómeno que reflete que o método do DIP não pode ser construído de uma
forma rígida e formal, hoje os juízes têm de atender ao resultado e aos interesses
sociais, partindo da conexão.
o Juiz exerce um certo poder discricionário ao aplicar esta variante.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Isto visa limitar a aplicação dessas normas, pois podem ser normas de protecionismo e esse não
é o propósito da UE.
Opinião LP
Teorias que não têm aplicação se houver regras de reconhecimento
Teoria do Estatuto Obrigacional: normas imperativas estrangeiras só serão aplicadas quando
integrem a lex causae. Normas de Estados terceiros só poderão relevar enquanto pressupostos
de facto de normas da lex causae.
• Recusa-se sempre a aplicação de NAI que não sejam as da lei competente
Teoria da Conexão Especial: além das normas que pertençam ao estatuto obrigacional, as
normas de qualquer ordem jurídica podem vir a aplicar-se desde que 1) estejam dispostas a
aplicar-se; 2) exista uma relação suficientemente estreita entre a ordem jurídica em causa e o
contrato, tendo como limite a conformidade à Ordem Pública Internacional.
• Marques dos Santos: parte da ideia básica de reconhecimento no Estado do foro da
vontade de aplicação das normas de aplicação imediata estrangeiras, propondo uma regra
de reconhecimento que dê um título e legitime a relevância, no Estado do foro, de tais
regras, de acordo com as condições e dentro dos limites fixados por este último Estado.
De iure constituto, não vigora na Ordem Jurídica portuguesa qualquer regra geral sobre a
relevância de normas imperativas de terceiros ordenamentos.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Excepto o caso do art. 9º/3 Roma I, que converge com a posição defendida de iure
condendo, embora esteja redigido de forma mais restritiva e apenas permita a relevância
de “normas de aplicação imediata”.
o É defensável o entendimento segundo o qual abrange não só as normas de
aplicação imediata relativas à execução do contrato, mas também as que
estabeleçam requisitos de validade do conteúdo e do fim do contrato
Art. 30º Regulamento Sucessões tem a ideia segundo a qual a aplicabilidade de normas
imperativas de terceiros ordenamentos deve depender de normas de conexão especiais.
Nenhum dos Regulamentos adota a teoria da conexão espacial e só em alguns deles se admite a
aplicabilidade de normas imperativas de terceiros ordenamentos com base em critérios mais
restritivos, que convergem com a solução defendida de iure condendo.
120
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
As leis do foro podem designar leis estrangeiras, dando-lhes um título de eficácia na nossa
Ordem Jurídica.
➢ Lima Pinheiro: Problema quanto aos casos em que a Norma de Conflitos portuguesa
remete para uma Ordem Jurídica Estrangeira e é aplicável o Direito estrangeiro que vigora
na Ordem Jurídica designada pelo Direito de Conflitos.
Sempre que é aplicável ao mérito da causa uma lei estrangeira há uma série de questões quanto
à aplicação dessa lei:
1. Tribunal tem de aplicar a lei oficiosamente ou somente mediante prévia invocação de
uma das partes?
2. Como se determina o teor do Direito estrangeiro e como se Prova o seu conteúdo?
3. Quais as regras que presidem à fixação do conteúdo da lei estrangeira – como se
interpreta e se integra?
4. Qual o regime que preside ao controlo do Direito estrangeiro competente – é admissível
Recurso de Revista para o STJ de uma decisão das instâncias que tenha aplicado lei
estrangeira?
Os interesses em causa:
Economia Processual + Celeridade Processual + Prevenção do Erro Judiciário
• Entendimento no sentido de se minimizar as situações em que se aplica o Direito
Estrangeiro.
o O Direito Estrangeiro só pode ser utilizado quando for invocado pela parte (1),
que tem de o provar (2). Recurso não pode julgar recurso de revista (4).
▪ Esta primeira ordem de considerações depõe a favor de considerar o
Direito Estrangeiro como mero facto62 – pois só se aplica se parte
invocar, tendo de o provar e não podendo haver recurso. Isto é o regime
que o CPC tem para os factos.
▪ Regime que prevalece em Inglaterra – há ónus de alegação e prova do
Direito estrangeiro pelas partes
Regras de Conflitos não são meramente formais – há valorações que atendem a interesses a
que o DIP dá relevância
• Ordem de considerações que depõe no sentido de que o juiz deve aplicar o Direito
Estrangeiro independentemente de invocação (1), juiz procura conhecer o teor desse
direito (2 e 3) e pode haver recurso (4).
o Orientação de que se deve tratar o direito estrangeiro como verdadeiro direito
– o Estatuto do Direito Estrangeiro é efetivamente como Direito.
o Suíça, Bélgica
62
Esta doutrina tinha como partidários Pires de Lima e Antunes Varela, bem como Oliveira Ascensão
121
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Art. 348º CC confirma – manda Tribunal português conhecer do Direito mesmo que
nenhuma das partes o tenha invocado (toma conhecimento para o aplicar e resolver o
litígio).
o Coloca-se a cargo do juiz o dever de tomar conhecimento do Direito Estrangeiro
que é designado pela Norma de Conflitos – este Direito é de aplicação oficiosa.
o Há um dever de colaboração da parte que invoca o Direito estrangeiro na
determinação do seu conteúdo mas não hão há ónus da prova – o
incumprimento do dever de colaboração não tem por consequência o
indeferimento da pretensão nem, necessariamente, a aplicação do Direito
material português, embora possa contribuir para uma situação de
impossibilidade de determinar o conteúdo da lei estrangeira.
DMV: faz sentido que o Direito Estrangeiro seja de conhecimento oficioso (tendo estatuto de
Direito) – tribunais portugueses, quando conhecem de uma relação controvertida transnacional,
seja em primeira instância seja em recurso, estão obrigados a aplicar ex officio o Direito de
Conflitos vigente em Portugal e, sendo o caso, o Direito Estrangeiro designado por este
Direito de Conflitos.
➢ Não há qualquer ónus de alegação da competência da lei estrangeira, quer perante o
tribunal de primeira instância quer perante tribunais de recurso.
➢ Os interesses que as Normas de Conflito visam acautelar ficariam prejudicados se
nenhuma das partes o invocasse em conflito
o Causaria insegurança no comércio internacional, pois a lei aplicável pode
depender da alegação e prova – nunca se saberia se, à partida, a lei
122
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
efetivamente designada pela regra de conflitos viria ou não a ser aplicada num
processo.
➢ Princípio fundamental do iure novit curia também vale para a lei estrangeira.
o Aplicação oficiosa do Direito Estrangeiro é postulado pela justiça do DIP, que
inclui valores e princípios, assegurando que a situação transnacional é apreciada
segundo o Direito designado pelo elemento de conexo mais adequado à matéria
Aos outros órgãos de aplicação do Direito (ex: notários e conservadores), a lei não exige expressamente
que conheçam oficiosamente o Direito estrangeiro aplicável.
Quanto aos NOTÁRIOS não há essa exigência mas quanto aos CONSERVADORES, na falta de disposição
especial, deve aplicar-se analogicamente o regime estabelecido para os Tribunais.
123
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: conhecimento do Direito Estrangeiro pode ser feito por todos os meios que mereçam
confiança ao juiz
➢ Podem ser Meios Oficiais e Não-Oficiais
MEIOS OFICIAIS
Convenções Internacionais: Convenção Europeia no Campo de Informação de Direito
Estrangeiro, Convenção de Londres de 1968 (Portugal é parte desde 1978)
• Regula a cooperação entre as autoridades nacionais no que diz respeito ao
conhecimento do Direito estrangeiro.
• Por força desta convenção os Estados têm o dever de colaborar uns com os outros na
prestação de informações quanto ao respetivo direito, a pedido de uma autoridade
estrangeira.
o Para isso prevê-se a existência de um órgão de receção em cada Estado que
recebe e fornece informação.
o Gabinete de Documentação de Direito Comparado, dependente da
Procuradoria Geral da República – recebe pedidos de informação compila a lei,
doutrina e jurisprudência relevante, transmitindo-a ao Estado que pediu a
informação; atribuição de prestar informação jurídica, designadamente sobre
Direito estrangeiro, mas os seus recursos são bastante limitados.
DMV: Portanto juiz português não tem qualquer dificuldade em obter informação atualizada,
objetiva e a título gratuito.
• Não há problema quanto à determinação do Direito Estrangeiro aplicável pois há órgãos
que solucionam
o DMV contra MC – o Direito estrangeiro não tem mais dificuldade em ser
aplicado pois há mecanismos internacionais que permitem facilmente conhecer
informação objetiva, fidedigna, atualizada e a título gratuito.
o Mecanismo eficaz que permite superar uma das principais dificuldades que se
aponta ao funcionamento do método clássico do DIP.
o Risco de má aplicação da lei estrangeira é um risco menor.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Dário Moura Vicente: essa solução leva ao tribunais ao proferimento de uma decisão porventura
injusta.
• Resposta é dada pelo art. 23º/263 CC e, subsequentemente, não sendo este possível de
se aplicar, pelo art. 348º/3 CC
Art. 23º/2 CC
→ Aplica-se a conexão subsidiária
FC: art. 23º/2 não exclui, pela sua letra, a legitimidade do recurso a Presunções
para se determinar o conteúdo da lei aplicável
• Segundo a doutrina alemã, não se conseguindo apurar o direito
realmente vigente num Estado, recorre-se ao direito provavelmente
vigente nesse Estado. Leva à aplicação do sistema que se tiver por mais
chegado ao designado pela norma de conflitos do foro.
o DMV concorda: Podemos não saber o teor exato da regra vigente do
Direito Estrangeiro, mas podemos saber que essa Ordem Jurídica
recebeu Direito Material de outro Estado. Ex: Turquia recebeu e
incorporou o CC Suíço, portanto Tribunal pode conhecer indiretamente
a lei da Turquia através da lei Suíça.
• É uma presunção legítima – se tribunal consegue informar-se com
segurança acerca dos princípios gerais desse Direito na matéria em
questão, deverá decidir o ponto litigioso de harmonia com tais princípios;
também pode recorrer-se ao sistema jurídico inspirador da lei aplicável
o Mas a mera circunstância de dois sistemas jurídicos pertencerem à
mesma família ou de um deles ter servido de modelo ao outro
nada pode dizer relativamente ao modo como um e outro
proveem acerca de determinados aspetos da regulamentação
legal de certo instituto.
63
Devemos ter precaução na aplicação deste preceito pois a impossibilidade de averiguação do conteúdo
da lei estrangeira pressupõe que estejam esgotadas todas as vias (diretas ou indiretas) de determinação
do teor dessa mesma lei.
125
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• LP: discorda
o Duvida quanto à conveniência do recurso a presunções, uma vez que
pode conduzir a soluções completamente diferentes das que decorreriam
do Direito competente.
o Em qualquer caso, não parece que o Direito positivo autorize o recurso a
presunções sobre o conteúdo do Direito estrangeiro.
Art. 348º/3 CC
→ Na falta de conexão subsidiária aplica-se o Direito material português
Tribunal deve nortear-se por um princípio de harmonia jurídica internacional – tem de ser o
Direito em vigor e procurar decidir como decidiria um tribunal desse mesmo país estrangeiro.
➢ Ex: antes de reconhecer a independência do Kosovo, como determinar estatuto pessoal
de um imigrante do Kosovo – aplica-se lei sérvia ou não? Aplica-se a lei que vigora. Se
vigorava direito sérvio era esse que se aplicava, se vigorava direito do Kosovo era esse
que era aplicado.
o Não estamos no campo do DIPúblico e de soberanias de território.
o LP: Não é sequer inconcebível a aplicação do Direito de um Estado não
reconhecido pelo Estado português. O Direito que é aplicado por um poder político
juridicamente organizado e que efetivamente vigora num território será em
princípio aplicável por força do Direito de Conflitos português mesmo que o
Estado português não reconheça o Estado em causa.
Desde que não viole a Ordem Pública Internacional aplica-se o direito que efetivamente se
aplicaria no Estado estrangeiro65.
Para saber quais as normas juridicamente vigentes, juiz atende ao SISTEMA DE FONTES de
Direito da Ordem Jurídica em causa.
• Se for a lei, aplica-se a lei.
• Se a jurisprudência for fonte então aplica-se também a jurisprudência.
64
FC: mas o recurso sistemático à lei do foro, como lei subsidiariamente aplicável poderia conduzir a
resultados que não estariam de acordo com os preceitos da lei designada pela regra de conflitos do foro
65
DMV: Também tem de se atender ao Direito Material que foi recebido.
126
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Juiz deve procurar atender ao Direito aplicável nessa Ordem Jurídica tal e qual como ele seria
aplicável nesse Estado, atendendo ao sistema de fontes vigente.
➢ O que norteia é que tem de se aplicar o Direito desses Estados tal e qual como ele
vigora e como é neles aplicado.
o O juiz nacional tem de aplicar o direito estrangeiro como o juiz
estrangeiro o faria – imputa-se ao preceito estrangeiro em causa o
conteúdo e alcance que lhe forem atribuídos no âmbito do respetivo
sistema legislativo (art. 23º/1).
Art. 674º/2: requisito é que norma tenha sido emanada de órgão de soberania e erradamente
interpretada ou aplicada
• Pode ser Parlamento, Governo ou até Tribunal66 – depende do sistema de fontes.
66
O precedente judicial, que em alguns países estrangeiros é fonte de Direito, nomeadamente nos
sistemas de Common Law, pode considerar-se incluído nesta competência do STJ na medida em que se
entenda que são disposições genéricas oriundas de um órgão de soberania – são regras fixadas pelos
próprios Tribunais, enquanto órgãos do poder judiciário.
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Conclusão DMV
Direito Estrangeiro tem entre nós estatuto de verdadeiro Direito.
Não quer isto dizer que o estatuto é absolutamente idêntico ao Direito nacional – há 3 aspetos
que diferem:
1º. Interpretação do Direito Estrangeiro – margem dos juízes é menor, da que gozam face
ao direito nacional e têm de atender ao que se interpreta no estrangeiro;
2º. Dever de cooperação das partes com o tribunal, carreando documentos que permitam
ao tribunal conhecer o Direito Estrangeiro;
3º. STJ pode conhecer de recursos, mas não há possibilidade de adotar jurisprudência
uniforme quanto à aplicação direito estrangeiro.
128
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
ROPI é nacional pois veicula princípios e normas fundamentais vigentes na Ordem Jurídica do
foro.
➢ LP: A Ordem Pública Internacional estrangeira pode ser relevante nos casos em que o
Direito de Conflitos estrangeiro seja aplicado por força do DIP do foro – é o que se verifica
em sede de devolução.
FC: ROPI limita a aplicabilidade da lei estrangeira sendo o reduto inviolável do sistema
jurídico nacional
• Cada Estado tem naturalmente os seus valores jurídicos fundamentais, dos quais
não deve abdicar pois são interesses que considera essenciais e em qualquer caso
lhe incumbe proteger.
o A preservação desses valores e a tutela desses interesses exigem que a
todo o ato de atribuição de competência a um ordenamento jurídico
estrangeiro vá anexa uma ressalva: a lei definida por competente não será
aplicada na medida em que essa aplicação venha lesar algum princípio
ou valor básico do ordenamento nacional, tido por inderrogável
67
NAP: é reserva de ordem pública “internacional” devido ao facto de ela intervir no contexto de
situações privadas internacionais – o conteúdo é sempre Direito vigente na Ordem Jurídica Interna e
adquire esta característica de ser internacional pelo âmbito de aplicação (intervenção nas situações
transnacionais)
129
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• Há no direito material de certos países normas cujo escopo é tão importante que
a sua violação aparece como algo de insuportável.
o É conceito que se define pela sua função – expediente que permite evitar
que situações jurídicas dependentes de um direito estrangeiro e
incompatíveis com postulados basilares do direito nacional venham
inserir-se na ordem sócio-jurídica do Estado do foro e fiquem a poluí-la.
▪ A ROPI é apta para veicular todos os princípios e normas fundamentais
da Ordem Jurídica do foro que tenham aplicação a situações
transnacionais, bem como aqueles que prosseguem finalidades
económico-sociais, políticas ou outras
130
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Características da ROPI
Além da casuística – juiz aplica caso a caso
1. EXCECIONALIDADE – quase nunca se aplica a ROPI.
• Vem de Savigny, que pensou a ROPI como os tribunais preocupados com o resultado
mas só se usa a ROPI muito raramente.
• É raro encontrarmos casos que violem a ROPI e tem de ser muito bem fundamentado.
• É um mal necessário e intervenção da ROPI deve reduzir-se ao mínimo e através da ROPI
não podemos comprometer a abertura da nossa Ordem Jurídica a aplicação de Direito
estrangeiro.
68
FC: Justiça de uma lei é somente uma justiça relativa – relativa a um lugar e a um tempo determinado.
131
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
CASO 2: Sucessão mortis causa de britâncio que morreu em Portugal e escolheu a lei britânica
para regular o testamento (à luz do Reg Roma IV) que afasta da sucessão os filhos menores.
➢ As regras da legítima portuguesa devem aplicar-se por pertencerem à ROPI?
CASO 3: Cidadão inglês compra imóvel em Lisboa e sujeitam-no à lei inglesa. O imóvel estava
arrendado. O vendedor faz acordo com arrendatário para fazer obras que vai prejudicar o valor.
Comprador inglês não soube disso e quer resolver o contrato. Vendedor diz que não há boa fé
porque submeteu o contrato ao Direito Inglês.
➢ As regras da boa fé na formação dos contratos pertencem à ROPI?
CASO 4: nasce criança nos EUA a partir de uma venda de gâmetas de Portuguesas para que fosse
feita maternidade de substituição. A grávida era americana e criança nasce na Califórnia e
regista-se como filha de portugueses. Ao pedir transcrição em Portugal o conservador recusa
porque isso viola a lei da maternidade de substituição.
➢ As regras da maternidade de substituição não podem ser derrogadas em função de
outras especificidades, ou tal ofende ROPI?
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Pressupostos de Atuação:
1. CONEXÃO SUFICIENTE COM O ESTADO O FORO – intensidade da ROPI é diferente consoante
os Elementos de Conexão que existam com o Estado69.
• O que tem de haver são elementos de conexão suficiente para poder fazer funcionar a
ROPI.
o O ordenamento do foro tem de interceder através de um nexo
suficientemente forte para justificar a não aplicação da norma
estrangeira.
o Gravidade da divergência entre a norma estrangeira e o direito nacional
varia na razão inversa da intensidade do nexo apurado entre a relação
em causa e o ordenamento jurídico do foro.
• Há casos que ficam ressalvados desta situação: casos de valores comuns a toda a
comunidade humana (ius cogens)
o Há casos em que se basta a competência do tribunal – ex: ROPI funciona mesmo
que toda a gente seja marroquina e se esteja a discutir em Portugal um caso de
escravatura (ROPI é pequena mas funciona – se fossem todos Portugueses a
ROPI é maior).
• Na falta de uma conexão suficiente com o Estado do foro, a atuação de uma norma ou
princípio fundamental desse Estado pode ser justificada pela intensidade da ligação
existente com outro Estado em que vigore uma norma ou princípio de Ordem Pública
Internacional convergente
• Há casos em que não há laços significativos com o Estado do foro. Ex: quando esse
Estado é competente por via de pacto de jurisdição.
• É necessário que entre a situação da vida a regular e a ordem jurídica do Estado do foro
exista uma conexão suficiente.
o Se a situação não tivesse nada a ver com a nossa Ordem Jurídica então não
haveria nenhuma razão para que obstássemos à aplicação da lei estrangeira
o LP: O que releva não é tanto a distinção entre constituição de uma situação e
reconhecimento de uma situação mas a intensidade da ligação que a situação
apresenta com o Estado do foro em cada momento.
69
LP: Característica, não Pressuposto, da Relatividade – a atuação da ROPI depende da intensidade dos
laços que a situação apresenta com o Estado do foro.
133
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Efeitos:
1. PRIMÁRIO – afastamento das normas que seriam competentes
• Quando a ROPI atua como um limite à aplicação do Direito Estrangeiro vale um princípio
do mínimo dano à lei estrangeira ou ao Direito Transnacional – afasta-se uma parte
pequena da lei estrangeira e aplica-se o resto
2. SECUNDÁRIO
• Se do afastamento da solução contrária à ROPI não resultar uma lacuna continua a
aplicar-se o Direito Estrangeiro.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Se surgir uma lacuna, deve procurar obter-se a solução nos quadros do Direito
Estrangeiro competente, mediante o recurso à analogia ou aos princípios jurídicos – caso
de adaptação do Direito Estrangeiro para corresponder às exigências da nossa Ordem
Pública Internacional.
o Art. 22º/2 CC permite adaptar o Direito Estrangeiro de forma a ser mais
adequado a resolver o problema. Ex: lei estrangeira tem regras de
imprescritibilidade. Como isso viola ROPI nós vamos torna-las prescritíveis, nos
termos da lei portuguesa, mas mantemos o resto da lei.
• Se surgir uma lacuna que não é possível ser resolvida no quadro do Direito Estrangeiro
o Art. 22º/2 CC permite, subsidiariamente, recorrer às regras de Direito material
do foro – aplica-se lei portuguesa (à partida vai-se para a lex fori)
▪ Solução diferente em Itália – aplica-se direito subsidiário atendendo à
conexão mais estreita
➢ LP concorda com Solução Italiana e critica a Portuguesa: de
iure condendo, na impossibilidade de resolver o caso nos
quadros do Direito Estrangeiro competente, dever-se-ia recorrer
ao Direito subsidiariamente competente e só na falta deste, ou se
a sua aplicação também fosse incompatível com a ROPI, se
passaria ao Direito material do foro.
o Só se recorre à lei portuguesa se na legislação estrangeira competente se
não encontrarem “normas apropriadas”, i.e., se a partir dessa legislação
não conseguir descobrir-se uma solução que seja adequada ao caso, uma
solução que não se aparte muito da que a ordem pública forçou a recusar,
ou que, de toda a maneira dela se afaste menos do que a resultante dos
princípios do direito português.
135
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Novas realidades sociológicas afetam a ROPI mas não mudam certas coisas essenciais
➢ Ex caso 1: casamento poligâmico não seria permitido em Portugal, mas tratar-mos-ia as
primeiras 4 mulheres como mulheres dele, pois tínhamos de as proteger.
Desprotegendo-as estamos a violar a ROPI.
FC: ROPI intervirá quando estiver em causa a criação, no Estado do foro, através de uma
sentença constitutiva, de uma relação jurídica, ou o reconhecimento de uma relação
criada nesse Estado – ou seja, não intervém, em regra, quando a relação tiver sido
constituída no estrangeiro70.
➢ Ex: não reconhece a poligamia, mas trata as mulheres do homem como mulheres
dele.
70
Essa não intervenção é, também, respeitar a ROPI
136
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Lima Pinheiro: Quanto às pessoas singulares, o conceito de lei pessoal utilizado pelo
legislador português tem na sua base a noção tradicional de estatuto pessoal.
• Origem estatutária – eram estatutos pessoais as leis de um ordenamento jurídico local
que regessem as pessoas domiciliadas no território correspondente a esse ordenamento
ou dele originárias.
o Eram leis de aplicação extraterritorial, seguindo a pessoa para onde quer que ela
se deslocasse.
Lei pessoal é uma lei que rege um conjunto de matérias, enunciadas no art. 25º, mas cujo
Elemento de Conexão não está patente neste artigo.
➢ É uma lei que se define em função de um conjunto de matérias.
o Saber concretamente qual é a lei a que as pessoas singulares estão submetidas
pressupõe uma outra opção.
▪ A lei pessoal é, em princípio, a lei da nacionalidade (art. 31º/1)
▪ Mas não se deve confundir lei pessoal com a lei da nacionalidade.
▪ Pode ser outra que não a nacionalidade.
➢ Lei pessoal não é definida por um elemento de conexão, mas por um conjunto de
matérias.
Porque é que estas matérias são sujeitas a uma lei que acompanha a pessoa?
Pois estamos a falar de aspetos que acompanham a identidade da pessoa – matérias muito
importantes para a vida do indivíduo.
• Matérias que contendem fortemente com a própria identidade das pessoas.
o As matérias do estatuto pessoal caracterizam-se por serem estados, qualidades
ou situações que por afetarem a pessoa na totalidade da sua esfera jurídica,
ou um setor importante dela, o legislador de conflitos entendeu submeter a
uma legislação definida em função dos sujeitos de tais estados, qualidades
ou situações (Magalhães Collaço).
o Tem 2 ideias:
▪ princípio da conexão mais estreita – lei com que a pessoa está mais
intimamente ligada, pois afetam uma parte importante da esfera jurídica
das pessoas;
▪ princípio da personalidade dos indivíduos – primazia sistemática do
Direito Civil quanto às matérias relativas às qualidades jurídicas das
pessoas singulares e dos direitos de personalidade que gozam.
137
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: Princípio da Unidade do Estatuto Pessoal – submetem-se essas matérias a uma única lei
• Onde quer que o indivíduo atue e se encontre, aquelas matérias são apreciadas segundo
a lei do indivíduo.
o Gerar-se-ia uma grande incerteza e insegurança quanto às características que
se prendem com a sua identidade – essas características devem ser
preservadas, não sendo despojadas das suas qualidades por estarem
submetidas a outra lei, devido à Dignidade da Pessoa Humana.
o Devem sujeitar estas características a uma única lei – preocupação de assegurar
a unidade e a estabilidade do estatuto pessoal da pessoa singular onde quer que
ela se encontre, de forma a serem reconhecidos os estados e as qualidades de
que a pessoa é titular segundo a lei do país de que é originária.
• Lei pessoal é aquela que a pessoa transporta consigo onde quer que se encontre71 – Lei
pessoal tem de ser individualizada por um elemento de conexão que exprima uma ligação
íntima e estável com a pessoa ou pessoas em causa.
Legislador optou pela consagração da Lei Pessoal dada a sensibilidade das matérias, que
contendem com a identidade da pessoa – seria contrário à dignidade da pessoa cada situação
ter um enquadramento diferente consoante o Direito lá vigente
• Certas qualidades e situações jurídicas são atributos ou irradiações substanciais da
pessoa humana, que toda a Ordem Jurídica deve reconhecer na sua identidade
essencial, onde quer que ela se manifeste.
o Haroldo Valladão: DIP é o anjo da guarda do ser humano em suas viagens
através do espaço, tendo a missão de assegurar a continuidade espacial e
temporal da personalidade humana.
71
Não tinha de ser assim, podia haver outras alternativas: lex fori, lei do território e etc.
138
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Princípio da nacionalidade72 foi defendido por Mancini (1851), com base no DIPúblico – a
nacionalidade constitui o fundamento e o limite da aplicação do Direito de cada Estado, porque as
leis que cada Estado edita seriam concebidas para os seus nacionais.
• Itália: lei da nacionalidade –contexto de unificação da Itália sob égide da nacionalidade.
• França: lei da nacionalidade – nos poucos artigos de DIP do código civil este era um
deles.
LP: Mas tanto a nacionalidade como o domicílio são Elementos de Conexão que, em
princípio, exprimem uma ligação estreita com a pessoa em causa e asseguram uma
continuidade das qualidades e situações jurídicas do Estatuto Pessoal.
➢ De iure condendo, justificar-se-ia a articulação das duas conexões para determinar a lei
primariamente relevante, com base em duas ideias fundamentais:
o preferência de princípio pela lei da nacionalidade e possibilidade de escolha pelo
interessado da lei da residência habitual quando esta tiver durado 5 ou mais anos.
▪ Assim, a lei pessoal seria a da nacionalidade, a menos que o interessado,
residindo por um período significativo em certo Estado, tivesse designado
o Direito desse Estado.
▪ Solução aproximada ao Código DIP Belga de 2004.
72
LP: Âmbito da Lei Pessoal, através de primariamente a nacionalidade, reconhecido pelos sistemas da
família romano-germânica, é tendencialmente mais extenso que o atribuído à lei do domicilio pelos
sistemas de Common Law.
139
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
o Na UE, em virtude das finalidades a que ela se propõe, surgiu uma orientação
de preferir a Residência Habitual
▪ Muda o paradigma devido à mobilidade e integração europeia.
Dário Moura Vicente: a prazo, a opção pela lei da nacionalidade vai diluir-se até desaparecer
por completo no seio da UE – o futuro é a lei da residência habitual.
A nossa lei também dá abertura quanto à lei da Residência Habitual – art. 32º (lei pessoal do
apátrida)
➢ É muitas vezes uma conexão subsidiária
➢ Há alguns desvios à lei da nacionalidade – art. 28º, 31º/2, 47º
Em suma,
Conceito de lei pessoal do art. 25º não se define por uma só conexão.
• A lei pessoal pode corresponder a uma de várias leis, havendo várias conexões que
podem traduzir a lei pessoal.
• Portanto, o art. 25º ao remeter aquele conjunto de matérias que enuncia para a lei
pessoal, não se justifica apenas por uma opção ditada pelo respeito da DPH, explica-se
também por uma razão de economia legislativa, pois ao remeter-se para a lei pessoal
nesse e noutros preceitos, está a evitar repetir-se sistematicamente a cascata de
conexões em que se desdobra a lei pessoal.
o Só pode ser uma de várias leis, mas ao dizer-se nesses preceitos que se aplica a
certas matérias a lei pessoal, evita-se a repetição sistemática de todas essas
conexões em que se desdobra a lei pessoal.
Art. 26º tem obstáculo lógico quanto ao início da personalidade jurídica – a nacionalidade
pressupõe a personalidade jurídica, como pode falar-se de lei pessoal quando não se sabe se
existe personalidade jurídica?
➢ Recorre-se à lei pessoal hipotética ou presuntiva, i.e., lei da nacionalidade que o indivíduo
teria se tivesse personalidade.
140
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Quanto ao TERMO DA PERSONALIDADE, este também pode variar de lei para lei.
• Há certas leis que têm presunções de comoriência – que variam conforme os países. Ex:
morrer primeiro o mais novo, o mais velho, todos ao mesmo tempo, etc.
Art. 27º/2: junto dos tribunais portugueses só poderão ser atuadas as formas de tutela específica
que sejam admitidas quer pela lei pessoal estrangeira quer pela lei portuguesa, o que representa
um caso de conexão cumulativa
Se a lei pessoal do indivíduo confere algo que a nossa lei não confere, então já não admitimos a
aplicação dessa lei.
➢ Ex: punitive damages – podem ser relativos a Direitos de Personalidade, mas essa forma
de tutela não pode ser admitida em Portugal
Embora o princípio da personalidade aponte no sentido da competência da lei pessoal para determinar a
atribuição dos direitos de personalidade e o seu conteúdo, a solução adotada pela maioria dos sistemas
vai no sentido de estas questões serem submetidas à lei reguladora da responsabilidade extracontratual.
➢ Vantagem de evitar o dépeçage entre a lei reguladora do direito de personalidade e a lei reguladora
da responsabilidade pela sua violação; a eficácia erga omnes dos direitos de personalidade que
reclama a utilização de Elemento de Conexão que sejam facilmente cognoscíveis por todos os
interessados; e a possibilidade de a situação envolver um conflito de direitos entre o agente e o
lesado que exige uma conexão neutra e previsível para ambas as partes.
141
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Inserida no art. 25º e abrange quer a capacidade genérica de gozo, quer a capacidade genérica
de exercício.
➢ As questões relativas à capacidade específica, legitimidade ou disponibilidade estão
submetidas à lei reguladora das relações ou situações jurídicas a que dizem
respeito, podendo ser ou não a lei pessoal.
73
Ratio da norma: favor negotii (Magalhães Collaço); princípio dos direitos adquiridos (Ferrer Correia).
74
NAP: art. 31º/2 fala sobre Negócios Jurídicos do estatuto pessoal (já constituídos no estrangeiro =
“reconhecidos”) – estamos no âmbito de determinação do estatuto pessoal.
➢ Magalhães Collaço admitia extensão a outros
142
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• Mesmo através do seu DIP, deve admitir-se que se aplicou a Lei da Residência
Habitual e isto é admissível;
3. Lei da Residência Habitual considera-se competente
• Temos de consultar normas de conflitos desse país e ver se ela se considera
competente (mesmo que não seja a título da residência habitual);
• Vontade de aplicação da lei pode resultar das Normas de Conflitos mas também
das Normas sobre Reenvio.
LP: Pela interpretação de Ferrer Correia (à luz dos Direitos Adquiridos), ainda se permite a
aplicação do art. 31º/2 em casos que não estão contemplados na letra do preceito:
A. Situação constitui-se num 3º país mas segundo a lei da residência habitual, sendo essa
situação reconhecida pela Ordem Jurídica do Estado da residência habitual;
B. Situação constitui-se segundo a lei de 3º país, caso o DIP do Estado da residência habitual
também aplique essa lei;
C. Situação constitui-se por decisão judicial proferida em 3º país e reconhecida no Estado da
residência habitual.
LP: art. 31º/2 é uma manifestação do princípio do favor negotii, estreitamente ligada à
proteção da confiança depositada pelos interessados na lei da residência habitual quanto
aos atos aí praticados.
Portanto,
Art. 13º Roma I – regra que tem amparo na jurisprudência francesa (caso Lizardi, 1857)
143
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Em vez da lei pessoal manda aplicar-se a lex loci actus – lei do local da celebração
➢ Estabelece uma conexão especial com a lei do lugar da celebração em matéria de
capacidade.
Normas que visam tutelar a aparência no comércio jurídico internacional – fomenta a certeza e
segurança no comércio jurídico internacional.
Art. 47º
Está em causa a capacidade genérica e contém uma remissão condicionada ao Direito
Estrangeiro: a lei da situação da coisa será aplicada à capacidade desde que reclame
aplicação.
144
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: Fundamento tem alcance limitado – a aplicação da lex rei sitae à capacidade não é uma
condição necessária ao reconhecimento de uma sentença estrangeira quando no Estado da
situação do imóvel vigora um sistema de reconhecimento de sentenças estrangeiras
essencialmente formal; e também não é uma condição suficiente quando, como sucede entre nós,
os tribunais do Estado da situação do imóvel reclamam competência exclusiva para as ações
relativas a direitos imobiliários.
Lei local tem de se considerar competente e aplicar-se ao caso concreto – temos de consultar o
Direito de Conflitos dessa lei.
➢ Mais um caso em que ao fazer funcionar desvios à lei pessoal temos de considerar a
aplicação do DIP estrangeiro.
145
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Na UE, não existe um estilo americano em que as diferenças dos Estados são profundamente
diferentes, mas, por força do TJUE temos chegado a esse nível.
Interesses em causa:
• Interesses da pessoa coletiva e de todos os que a constituem – interesses na unidade
e estabilidade da lei aplicada à pessoa coletiva; para não haver leis que estabeleçam
situações contrárias e seja aquela que melhor se adeque às finalidades prosseguidas.
• Interesses do tráfico jurídico e das pessoas que contratam com a pessoa coletiva –
nomeadamente dos credores da pessoa coletiva (se a pessoa coletiva estiver sujeita a
uma lei diferente da do país onde exerce a sua atividade, que os credores não
conhecem, podem existir restrições).
o Também se podem equacionar os interesses dos trabalhadores da pessoa
coletiva.
• Interesses da soberania do Estado – lei do Estado quer aplicar-se às sociedades que
operam no seu país.
• Interesses do mercado único europeu
• Interesses dos sócios minoritários e investidores
Art. 33º/2 e 38º contêm uma enumeração não taxativa das matérias que integram o estatuto
pessoal das pessoas coletivas.
Ideia de simetria entre o estatuto pessoal dos indivíduos e o estatuto pessoal das pessoas
coletivas não é comum a todos os sistemas.
➢ Mesmo no nosso sistema a analogia é bastante limitada – além das questões da
aquisição e perda da personalidade, bem como da capacidade, que se colocam por
forma análoga, o âmbito do estatuto da pessoa coletiva abrange essencialmente
matérias específicas das pessoas coletivas, que não encontram paralelo no estatuto
pessoal dos indivíduos (matérias relativas a: constituição da pessoa coletiva, questões
estatutárias, autonomia patrimonial, relações externas, transformação e dissolução).
As pessoas coletivas internacionais (art. 34º) distinguem-se das restantes pessoas coletivas
(pessoas coletivas estaduais).
➢ Critério da distinção não é pacífico.
o LP: o ponto de partida para a distinção é o critério da fonte da personificação.
▪ Serão pessoas coletivas internacionais aquelas que adquirem a
personalidade jurídica por força da ordem jurídica internacional e
estaduais as que adquirem a personalidade jurídica por força da
ordem jurídica estadual.
146
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
2. Teoria Estatutária – lei que vem identificada no pacto social ou nos estatutos como sede
• França
• Lei mais fácil de identificar – os terceiros que contratam com a pessoa coletiva
têm acesso aos estatutos desta, conseguindo descobrir a que lei está submetida
• Crítica: se pessoa coletiva desenvolve a sua atividade noutro país, então não
tem conexão com a lei da sua sede – muitas vezes, a sede estatutária é apenas
uma caixa postal, e não corresponde ao país onde efetivamente exerce a sua
atividade.
• Há muita jurisprudência do TJUE sobre a sede estatutária – tese em vias de
extinção
3. Teoria da Sede Real/da Sede (da Adminsitração) – lei pessoal da pessoa coletiva é onde
se encontra situada a sede da administração
• Alemanha, Áustria, Portugal
• Lei do país onde a pessoa tem a sua sede principal e efetiva-se a sua
administração;
• É o lugar onde está o centro de decisão da sociedade;
• Lugar da administração/direção da pessoa.
i. Abstrai-se, aparentemente, do Direito segundo o qual a pessoa coletiva
se constituiu e da sede estatutária.
ii. Surge associada a uma ideia de coincidência entre a sede estatutária e a
sede da administração – verificando-se, esta teoria reconduz ao mesmo
resultado que a teoria da constituição, pois em regra a pessoa coletiva
tem sede estatutária no país em que se constituiu.
147
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
No momento da constituição das pessoas coletivas não faz sentido colocar em alternativa a teoria
da sede à teoria da constituição – ao constituírem-se elas têm sempre de observar o Direito do
Estado em que se constituem, pois intervêm órgãos públicos que aplicam o Direito local.
A teoria da sede não põe isto em causa. Mas como a constituição da pessoa coletiva vem a
ser apreciada, a posteriori, segundo o Direito da sede da administração, a pessoa coletiva
tem, em princípio, de estabelecer a sede da administração no Estado em que se constituiu.
A teoria da constituição não fornece qualquer critério para a determinação do Direito aplicável
aos entes que se constituem sem intervenção de órgãos públicos, quer sejam ou não suscetíveis
de personificação.
LP: de iure condendo defende a teoria da constituição, pois exprime melhor o princípio da
autonomia privada, projetando-se no plano de liberdade de escolha do Estado de
148
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Mas legislador não inclui a constituição da pessoa coletiva entre as matérias que integram
o âmbito de aplicação do Direito da sede do art. 33º/2.
• O ente coletivo constituído segundo um Direito estrangeiro pode estabelecer a primeira
sede da administração em Portugal – se sociedade pode transferir a sede da
administração para Portugal, mantendo a sede estatutária no estrangeiro, não se vê razão
para não poder estabelecer desde o início a sede da sua administração no nosso país
(mesmo que não se constitua cá nem à luz do nosso Direito).
• Pode aplicar-se analogicamente o art. 3º/3 CSC
149
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Lei pessoal da pessoa coletiva também rege a emissão e a forma de emissão de ativos mobiliários
– art. 39º e 40 CVM
Consagra a Teoria da Sede Efetiva – argumento principal é aplicar o Direito português às pessoas
que funcionam em Portugal.
• LP: Há presunção de que a sociedade tem a sede da administração no Estado da sede
estatutária.
o Por força desta presunção, na falta de demonstração de que a sede da
administração se situe noutro Estado, é aplicável o Direito da sede
estatutária que coincide, como se assinalou, com o Direto da sua
constituição – teoria da sede atenuada, que permite minorar a incerteza jurídica.
• Deve entender-se que as pessoas coletivas de Direito público não são abrangidas por
este preceito – para estas vale a teoria da constituição.
Sociedades Comerciais
→ Art. 3º CSC
Legislador português também tentou tutelar a confiança depositada por terceiros na competência
da lei portuguesa a título de sede estatutária.
➢ LP: deve interpretar-se como o Direito português da sede estatutária é o aplicável
nas relações com terceiros, a menos que estes tenham razão para contar com a
aplicação do Direito da sede da administração – protege a confiança de terceiros na
75
Marques dos Santos: esta é uma conexão optativa, tendo em conta o art. 3º/1/1ª parte – lei aplicável
depende da escolha de alguém (normalmente do interessado).
150
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
competência da lei local, a título de lei da sede estatutária e não a de criar vantagem para
terceiros, mediante faculdade de opção entre leis.
o Teleologia da Norma é a proteção da confiança, portanto só se pode aplicar se
houver uma expetativa legítima a ser tutelada
Esta norma é bilateralizável? Ou seja, aplica-se a casos com sede estatutária num país e sede
real e efetiva noutro?
• Moura Ramos, Marques dos Santos: art. 3º/1/2ª parte não é bilateralizável
o Favorecimento do Direito Português – intuito da norma é o de alargar o âmbito
de aplicação no espaço do Direito Português.
• Ferrer Correia: art. 3º/1/2ª parte é bilateralizável – sendo o fundamento a tutela da
confiança de terceiros, não há obstáculo à bilateralização.
o Proposta é bilateralizar esta norma – Sociedade Comercial que tem sede
estatutária num país estrangeiro não pode opor a terceiros uma solução
diferente da aquele país estrangeiro
▪ DMV e LP: teleologia da norma não justifica um unilateralismo que só
salve a lei portuguesa.
➢ LP: por via desta bilateralização, o Direito da sede da
administração só é aplicável às relações externas nos casos em
que, tendo sido demonstrado que a sede da administração está
situada fora do Estado da sede estatutária, os terceiros em causa
devem contar com a competência do Direito da sede da
administração76.
• Restrições DMV à bilateralização:
o Na lógica do art. 28º CC e 13º Roma I – a pessoa que contrata com a pessoa
coletiva só está protegida se desconhecia que havia uma sede principal e efetiva
noutro país.
▪ Tem de haver expetativa digna de tutela jurídica – os terceiros têm de
contar com a aplicação da lei da sede estatutária, tendo uma expetativa
legítima a ser tutelada.
➢ Tem de haver uma expetativa mesmo quanto ao afastamento
da lei portuguesa (o que altera um pouco o teor literal do artigo
que à partida não se aplica isto quando à lei portuguesa).
o Tem de haver a mesma vontade de aplicação do Direito Estrangeiro – só se
aplica esta regra se no país estrangeiro houver um equivalente a este artigo.
Ideia de reciprocidade
▪ Remissão para lei estrangeira é condicionada – esse direito estrangeiro
da sede estatutária tem de se considerar competente.
▪ Isto favorece o princípio da harmonia internacional.
▪ LP: não faz esta restrição
76
NAP: problema da bilateralização é que a aplicação analógica do art. 3º/1/2ª parte só se justificaria se
houvesse lacuna. Mas, aqui não há lacuna pois se não se aplicar a 2ª pare, aplica-se a 1ª.
➢ Autores fazem interpretação restritiva à luz da teleologia da norma.
➢ Tendo em conta a teleologia da norma, afasta-se o art. 3º/1/1ª parte – essa não é a melhor
conexão para tutelar os terceiros e daí não se aplica.
o Não se aplicando, não há norma e tem de haver um preenchimento analógico pelo art.
3º/1/2ª parte.
151
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Há regras de conflitos próprias quanto às pessoas coletivas que são instituições financeiras
• Há regras especificas porque há princípio da tipicidade quanto às instituições
financeiras.
• Neste caso, art. 14º RGICSF parece que dá relevância à sede estatutária
“Sociedades” da UE
Art. 54º TFUE: sociedades europeias, em sentido lato, são todos os entes coletivos que realizam
uma atividade económica constituídos em conformidade com a legislação de um Estado-
Membro e que tenham a sua sede social, administração ou estabelecimento principal na UE.
• Deste artigo apenas resulta a conexão entre a sociedade e a UE, pressuposta pela
atribuição do direito de estabelecimento; não resulta a consagração da teoria da
constituição em matéria de personalidade jurídica da sociedade.
TJUE tem consagrado uma série de limites à atuação das normas de DIP em conexão com o
exercício do direito de estabelecimento.
➢ Veio discutir a ideia de lei pessoal de sociedades com a sede efetiva num certo Estado-
membro e sede estatutária noutro.
Centros (1999) – um Estado-Membro não pode recusar o registo de uma dita “sucursal” de uma
sociedade constituída em conformidade com a legislação de outro Estado-Membro, no qual tem
a sede estatutária, mesmo quando segundo o DIP do primeiro Estado-Membro fossem aplicáveis
as suas normas sobre a constituição de um sociedade, uma vez que se tratava de uma sociedade
interna que, em fraude à lei, fora constituída no estrangeiro – seria uma restrição à liberdade
de estabelecimento.
• TJUE permitiu que Tribunais da Dinamarca podem sancionar a fraude à lei e essas
exigências dos países não podem significar que se limita a liberdade de estabelecimento
das pessoas coletivas.
• A ideia é que se pode fazer pessoa coletiva num Estado-membro que atue noutro.
152
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Inspire Art (2003) – as razões pelas quais a sociedade foi constituída num Estado-Membro, bem
como a circunstância de ela exercer as suas atividades exclusiva ou quase exclusivamente noutro
Estado-Membro, não a privam do direito de invocar a liberdade de estabelecimento garantida
pelo TFUE, a menos que se demonstre, caso a caso, a existência de um abuso.
A jurisprudência do TJUE não impõe, como regra geral sobre a determinação do estatuto pessoal
das “sociedades” europeias, a teoria da constituição.
➢ LP: O que decorre desta jurisprudência é uma série de limites à atuação das normas
de DIP em conexão com o exercício do direito de estabelecimento.
o Estes limites atuam com respeito às regras de conflitos que vigorem na ordem
jurídica do Estado-Membro em que essas sociedades exercem ou pretendem
exercer o direito de estabelecimento.
Em suma:
153
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: De iure condendo a solução mais conveniente à luz dos valores e princípios do DIP e mais
favorável ao comércio intraeuropeu seria a consagração, pelos Estados-Membros, de uma teoria
atenuada da constituição.
➢ Esta conceção faria com que as sociedades fossem regidas pela ordem jurídica segundo
a qual se constituíram, mas com exclusão das sociedades pseudo-estrangeiras e com
aplicação de certas normas do Direito do Estado onde a pessoa coletiva desenvolve a
sua atividade com vista a tutelar a confiança de terceiros.
154
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Mas pode admitir-se analogia ao art. 13º Reg. Roma I – as pessoas que contratam no comércio
jurídico local carecem de proteção seja perante pessoas singulares estrangeiras seja face a
pessoas coletivas de estatuto pessoal estrangeiro.
• Art. 1º/2/f Roma I obsta à aplicação direta do art. 13º mas não à aplicação analógica,
que é metodologicamente justificada, e que não entra em contradição com outras
fontes supraestaduais.
o Aplicação analógica justifica-se perante limites colocados pela lei, estatutos
sociais, deliberações sociais e etc. que tenham por objeto os fins que a pessoa
coletiva pode prosseguir e os atos que os órgãos da pessoa coletiva pode
praticar.
o É indiferente que estes limites sejam ou não qualificados como incapacidades.
Em suma, pode afirmar-se que o domínio de aplicação da lei pessoal é limitado pela competência
atribuída à lei do lugar da celebração do contrato.
Sociedades: também têm o limite que diz respeito ao exercício da atividade por sociedades de
estatuto pessoal estrangeiro.
• Sujeita-se a sociedade de estatuto pessoal estrangeiro, que desenvolva atividade em
Portugal com certo grau de permanência, a determinadas exigências e impõe-se, para o
caso de incumprimento, um determinado regime de responsabilidade pelas dívidas
sociais – art. 4º CSC.
• Protege os interesses de terceiros no comércio jurídico local.
• Estas são normas de Direito material especial, contendo um regime específico para a
atividade local das sociedades de estatuto pessoal estrangeiro – é um complemento
necessário ao Direito de Conflitos para a proteção de terceiros.
155
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• As pessoas coletivas não são cidadãos de um Estado, não gozam deste estatuto jurídico-
político.
Nacionalidade só tem papel quanto à aplicação das normas de Direito dos Estrangeiros e à
proteção diplomática.
• Para saber se se aplica proteção diplomática temos de ter em conta certos tratados de
DIPúblico.
• TIJ, Barcelona Traction, 1970 – discutia-se a nacionalidade e não a sede
• Nacionalidade é critério residual que pode desempenhar um papel no tocante à
proteção diplomática – só pode haver proteção diplomática pelo Estado de que a
pessoa coletiva é nacional.
Art. 110º CCom foi revogado pelo CSC – tinha norma de atribuição de nacionalidade portuguesa
às sociedades com sede social efetiva em Portugal e foi revogado pelo art. 3º CSC que dispõe
sobre o estatuto pessoal e não sobre a nacionalidade.
➢ Normalmente descobre-se com a teoria da incorporação e teoria da sede estatutária
Art. 33º/3 consagra conexão cumulativa simples: personalidade jurídica só persiste se ambas
as leis o admitirem77.
Art. 3º/2 CSC admite a manutenção da personalidade jurídica da sociedade comercial que
transfira a sede da sua administração do estrangeiro para Portugal ou de Portugal para o
estrangeiro.
➢ Há mais requisitos nos números seguintes (nº 2 a 6).
77
Artigos que exigem algo que jurisprudência TJUE não permite – conexão cumulativa em que ao mudar
de país para outro tem de respeitar a lei dos 2 países
➢ Isto é suscetível de criar restrições às liberdades de estabelecimento, mas, à partida é conexão
cumulativa.
156
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
O dever de conformar o contrato social com a lei portuguesa é compatível com a obrigação de
reconhecimento – é uma consequência lógica da sujeição da sociedade à lei portuguesa, que é
desencadeada pela transferência da sede.
➢ É compatível com DUE e foi confirmado pelo TJUE em Cartesio (2008) e Vale (2012).
Fusão Internacional
Art. 33º/4
LP: não resulta deste artigo que as leis pessoas de todas as pessoas coletivas participantes
tenham de ser aplicadas cumulativamente a todos os aspetos da fusão.
➢ Apenas tem de se tomar em consideração as leis pessoais de todas as sociedades
envolvidas, levando a uma aplicação distributiva ou cumulativa.
➢ Surge uma pessoa coletiva nova que fica com uma só sede nos estatutos e uma só sede
efetiva e principal.
Devido ao sistema de receção automática do DIPúblico (art. 8º/2 e 8º/3 CRP), a pessoa coletiva
internacional instituída por tratado celebrado pelo Estado português ou por deliberação dos
órgãos de organizações internacionais de que Portugal seja parte (nos termos dos tratados
constitutivos) goza na ordem jurídica interna da personalidade jurídica que resultar do ato de
Direito Internacional.
➢ Se Portugal não for parte, a pessoa coletiva não é reconhecida na ordem interna.
Se a pessoa coletiva é reconhecida na ordem jurídica interna por força de um ato de DIPúblico,
há que respeitar o disposto nesse ato sobre o regime aplicável ao estatuto pessoal.
Também pode haver entes coletivos cujo estatuto seja primariamente definido pelo Direito da
União Europeia – AEIE, SCE, AECT – faculdade de constituir entes coletivos resulta de um regime
optativo de Direito material especial de fonte europeia.
157
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Se a pessoa coletiva internacional não é reconhecida na ordem interna por força de um ato de
DIPúblico, aplica-se, à determinação do seu estatuto pessoal, o Direito de Conflitos de fonte
interna.
→ Art. 34º CC – lei pessoal é a designada no ato que as criou ou, na falta, do país onde
estiver a sede principal.
o Essa lei pode ser um Direito estadual ou o próprio DIPúblico
Para efeitos do art. 34º, pessoa coletiva internacional, ao remeter para a “convenção”, tem em
conta as pessoas coletivas criadas por Convenção Internacional: ONU, UE, Banco Mundial, FMI
e etc.
➢ As sociedades transnacionais (multinacionais), que prosseguem um escopo lucrativo,
não estão submetidas ao art. 34º, mas sim aos art. 33º CC e 3º CSC.
158
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: Caráter universal do regulamento significa que ele deve ser aplicado pelos tribunais de
qualquer Estado-Membro por ele vinculado sempre que a situação caia dentro do seu âmbito
78
NAP: neste Regulamento há duas normas que não são contratuais – art. 13º e 18º
159
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
material de aplicação e envolva um conflito de leis, sendo irrelevante que a relação tenha conexão
com um Estado-Membro ou com um Estado terceiro
➢ As normas de conflitos do art. 3º a 8º tanto pode designar direito material de um Estado-
membro vinculado ao Regulamento como o direito material de um Estado terceiro.
➢ Juiz verifica se os âmbitos estão preenchidos; estando, aplica-se o direito que designe.
Art. 3º/1 não introduz qualquer limitação à escolha das partes – não exige que haja qualquer
conexão com a lei que se escolhe.
➢ Diferente do art. 41º/2 CC que exige um interesse sério.
➢ A escolha pode recair sobre qualquer lei, mesmo que não tenha conexão objetiva
com o contrato.
o LP: A exigência de um laço objetivo com a lei escolhida não corresponderia às
necessidades do comércio internacional e evita as dificuldades de averiguação
do interesse sério, tornando mais certa a determinação do Direito aplicável.
160
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Partes podem escolher conjunto normativo que não corresponde à lei de um Estado soberano?
➢ Lex mercatoria, Direito Europeu dos Contratos, Princípios Gerais de Direito e etc.
NÃO
➢ Partes têm de escolher lei de um Estado soberano
➢ Art. 3º/3 fala em país: legislador está a pensar na lei de um Estado soberano
o O objeto possível de escolha é a lei de um Estado.
Mas isto significa que nunca se pode dar relevância a esses outros conjuntos normativos?
NÃO
➢ Significa apenas que a lei do Estado soberano tenha de ser a que rege o contrato, mas,
as partes podem fazer uma “referência material” ao Direito desses ordenamentos
o Partes fazerem incorporação material – estabelecem cláusulas que remete
para esse Direito.
o Mas essa referência está subordinada à lei material do Estado soberano.
▪ Mesmo que as partes não escolham a lei e tenham um contrato a
remeter para esse Direito – aí utilizamos o art. 4º Roma I, que nos dá
qual a lei do contrato e temos de ver se a disposição para esse Direito
viola ou não a Ordem Jurídica desse Estado
• Se não utilizarmos o art. 4º/1 para determinar a lei competente
a escolha da lex mercatoria ou outra é ineficaz.
• Mas todas as normas da lex mercatoria podem valer para
afastar as normas supletivas desse Estado (apurado pelo art.
4º).
LP: Não se deve confundir a referência conflitual feita pelas partes no exercício da sua liberdade
de designação do Direito aplicável ao contrato com a referência material a regras jurídicas de um
Direito estrangeiro no quadro da liberdade de estipulação concedida pelo Direito material
competente.
➢ Ou seja, a lex mercatoria não tem validade como escolha de lei conflitual mas pode
valer materialmente (admitindo-se a regular, como cláusulas contratuais) nos termos
da lei estadual.
79
O Depeçage Subjetivo (em função das partes) não é possível. Também não é possível uma escolha
parcial quanto a partes incindíveis do contrato. Ex: apreciar a culpa por uma e a ilicitude por outra
161
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
➢ A escolha não pode ser válida para afastar normas imperativas portuguesas quando
estamos a lidar com questões puramente internas sem conexões relevantes a
elementos de estraneidade.
Devido à autonomia privada, não há proibição desta escolha de lei – mas há uma degradação
dessa escolha.
➢ Escolha da lei estrangeira só pode afastar as disposições supletivas da lei portuguesa
– aquelas que já eram passíveis de serem afastadas por mero acordo das partes.
o DMV concorda
o LP: discorda
▪ Se é contrato puramente interno já não está preenchido o âmbito
espacial de serem situações transnacionais.
▪ Não se aplica o Regulamento Roma I.
• É assim porque de acordo com o art. 1º/1 tem de haver um
conflito de leis (âmbito espacial) e as situações internas não
implicam um conflito de leis.
• A designação de uma lei estrangeira pelas partes de um contrato
interno só constitui uma referência material, i.e., a incorporação
das regras da lei estrangeira como cláusulas do contrato (e isto
é permitido pela liberdade contratual do art. 3º/3).
162
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Se as conexões são só na UE, a escolha de uma lei de um Estado terceiro não permite afastar as
disposições imperativas da UE.
➢ Restringe ao âmbito regional da UE
o Ex: não é possível afastar a aplicação de normas imperativas que resultam de
diretivas de um caso em que A tem RH em Pt, B tem RH em Espanha; imóvel
está em It, escolhem lei BR
Se a professio iuris for válida, a validade do contrato será apreciada segundo a lei designada e a
mesma lei regulará as consequências de uma eventual invalidade
O legislador identificou determinados tipos de contratos, procurando determinar uma lei que
é reguladora desses tipos – olhou para as diferentes características dos contratos.
Regra rígida quanto a isso tem fundamento em diminuir os custos de transação – não é preciso
jurista para interpretar.
➢ Garante a certeza e reduz custos de transação.
Mas não é possível fazer uma lista típica das obrigações contratuais
163
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Órgão aplicador do direito tem de olhar para o caso concreto e aplicar a Conexão Mais Estreita
com o contrato.
80
Pode não funcionar quando há 2 prestações pecuniárias
81
O art. 4º/2 não remete para onde é feita a prestação característica – o lugar da prestação característica
só pode relevar para aplicar a Cláusula de Exceção
164
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Outras Conexões
Art. 5º a 8º têm regras para certos tipos de contratos – primeiro verifica-se se são estes que se
aplicam, só depois indo à regra geral do art. 4º
➢ Regras especiais que têm por fundamento a Proteção da Parte mais Fraca
165
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
• TJUE, Rutten: o lugar onde o trabalhador efetua habitualmente o seu trabalho deve
entender-se como aquele em que o trabalhador fixou o centro efetivo das suas
atividades profissionais.
• TJUE, Weber: alarga para que o lugar onde o trabalhador efetua habitualmente o seu
trabalho seja aquele em que o trabalhador cumpriu a maior parte do seu tempo de
trabalho.
Nº2: exceção de que as partes podem invocar RH para obstar que determinado comportamento
tenha determinado valor jurídico. É faculdade e depende de invocação
Ex: silêncio
Art. 11º
Princípio basilar: favor negotii
➢ Princípio de extensão da validade formal dos Negócios Jurídicos
Validade formal vai ser regulado, em princípio, por 2 leis possíveis e nós escolhemos aquela
que diga que o contrato é válido.
166
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Exceção
Nº 4: sempre por RH consumidor
Nº 5: direito real sobre imóvel
➢ 2 pressupostos:
b) disposição direito material imperativo
a) disposições de forma têm valor de forma de regras internacionalmente imperativas
o art. 875º CC preenche isto?
▪ LP: NÃO, pois não resulta da letra desse artigo que ele se queira aplicar
em todo e qualquer caso.
▪ Toda e qualquer disposição de forma não é um obstáculo à aplicação
desta norma.
167
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
3 âmbitos de Aplicação:
ESPACIAL – Regulamento só se quer aplicar às situações provadas internacionais
TERRITORIAL – Regulamento só se aplica se o foro for num Estado-Membro (art. 1º/4)
MATERIAL – art. 1º
Qualificação como obrigação extracontratual deve ser com base numa interpretação
autónoma deste conceito = Considerando 11
• Art. 1º/1 – delimitação positiva
o Tem sido densificado pelo TJUE
o São obrigações não assumidas voluntariamente
• Art. 1º/2 – delimitação negativa
o Alínea g) tem levantado questões sobre o que verdadeiramente está excluído
do âmbito de aplicação do Regulamento
▪ Ex: Entendimento amplo dos direitos de personalidade levava a que se
dividisse os danos decorrentes de um acidente de viação (danos no
carro – Roma II; danos na pessoa – CC)
▪ Interpretação não tem acolhimento porque se atendeu ao percurso
histórico de criação da alínea g)
➢ Quando foi feito havia 2 entendimentos em disputa: grandes
publicações (lei da sede da publicação) vs. consumidores (lei da
RH do lesado)
➢ Solução foi a introdução desta alínea e incluíram no art. 30º
uma cláusula de revisão para resolver mais tarde este problema
da difamação
82
João Gomes Almeida: não é após a entrada em vigor do Regulamento (regra é 20 dias depois da
publicação), o que interessa é a data de aplicação do mesmo.
168
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Escolha de Lei
Art. 14º Roma II
Regra de conflitos primária é a escolha das partes, embora na prática ela só atue num número
reduzido de casos porquanto é difícil para as partes em litígio acordar sobre a lei aplicável e a
cláusula de designação da lei aplicável contida num contrato celebrado por partes que
desenvolvam atividades económicas nem sempre abrangerá as pretensões extracontratuais.
169
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ao contrário de Roma I, a Autonomia da Vontade está mais mitigada – não é a primeira norma
de conflitos que encontramos, só está no art. 14º.
➢ Não deixa de ser elemento conexão principal mas a sua inserção sistemática parece
indicar que ela deve ser consagrada em termos de princípio mas que na prática não ia
ser tão usada como noutro regulamento.
o Existem alguns ilícitos que não admitem escolha das partes – art. 6º/4, 8º/3
Escolha pode ser Expressa ou Tácita mas não pode prejudicar direitos de terceiros
Ex: acordo de escolha de lei, no âmbito de um acidente de viação, entre lesado e agente mas
que prejudica os direitos da seguradora
É elemento principal mas, na maior parte dos casos, vamos ter às regras subsidiárias.
Conexão Subsidiária
Art. 4º/1 Roma II
Art. 4º - conexão subsidiária geral – a lei do lugar do dano só é aplicável quando a partes não
tenham feito uma escolha válida da lei competente.
Regra geral: a lei do país competente para regular a situação será a lei do país onde ocorre o
dano
170
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: Quando o efeito lesivo se produz em vários países, as leis de todos os países envolvidos
devem ser distributivamente aplicáveis.
➢ Perspetiva de mosaico – o Direito de cada país envolvido aplica-se apenas ao dano
causado pela violação do bem jurídico que ocorreu no seu território.
o Converge com o entendimento do TJUE.
Ideia de aplicação de um Direito que é melhor conhecido pelas partes do que aquele de onde
ocorreu o dano
➢ Ideia antiga, vinda de um acórdão dos EUA (Babcock vs. Jackson, 1963): está-se
fortuitamente num Estado e partes conhecem melhor o direito do seu domicílio
➢ Só quando TODAS as partes partilha a residência habitual comum
Novidade deste artigo é que um dos exemplos de conexão mais estreita constitui a
consagração da Conexão Acessória.
• “Relação pré-existente entre as partes”
o Dar relevância a isto significa admitir que pode haver ilícitos que geram
responsabilidade extracontratual em casos que já havia uma relação entre as
partes.
171
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Alcance de Roma II
Art. 15º - conjunto de matérias que esta lei vai definir e resolve problemas de qualificação com
indicações expressas.
Ex: normas de prescrição são normas a serem enquadradas no âmbito das relações
extracontratuais
De um modo geral, a lei aplicável às obrigações extracontratuais compreende os pressupostos e
as consequências da responsabilidade.
Art. 22º - ónus da prova também vai ser definido pela lei reguladora das obrigações
extracontratuais
Problemas Complexos
Ex: acidente de viação entre A e B em Inglaterra, um do lado esquerdo e outro do lado direito.
A e B têm residência em Portugal. Lei reguladora da responsabilidade extracontratual é em
Portugal, que diz que tem razão quem estava do lado direito. Mas isto não faz sentido, porque
em Inglaterra circula-se pelo lado esquerdo
Art. 17º
• Legislador UE e teve de coordenar a lei do lugar da prática do facto para algum conjunto
de normas – aquelas que se querem aplicar as pessoas que estão em certo território
(como as do Código da Estrada).
o Aplicam-se independentemente das ligações da pessoas que lá circulam e
releva naquele território.
• DMV: normas imperativas que devem ser aplicadas indistintamente a todas as pessoas
– normas de aplicação territorial e que têm necessariamente de ser observadas.
• Ideia base LP: Se há norma de direito material da lei do lugar do facto de todas as
pessoas que se situam no seu território, essa lei tem de ser aplicada em desfavor
daquela que seria aplicada.
o Isto para aferir a lei que determina ilicitude e culpa.
o Já seria outra lei para o montante de indemnização e etc.
172
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 45º/3
➢ Proximidade com art. 4º/2 Roma II – mas é mais amplo
➢ Proximidade com art. 17º
Ideia de aplicação de uma lei que é mais cognoscível pelas partes envolvidas.
➢ Quando vamos para essa lei há sempre risco de termos regras que não podem deixar de
ser aplicadas como lei do lugar da prática do facto.
173
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ex2: Comerciante de arte Inglês compra em Portugal um quadro valioso por menos do que ele
vale (pessoa Portuguesa que vende não tem noção de quanto vale). Ing revende o quadro por
10 vezes mais. Pt que vendeu o quadro, ao Ing que deu a entender que era banal e nada especial,
incorreu em erro manifesto. Havia dever de esclarecer sobre o objeto do contrato? Havia dever
174
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
de informar a contraparte sobre o que se está a contratar? Se sim, pode haver responsabilidade
pré-contratual, mas para tal depende de perceber qual a lei aplicável.
Até Roma II não havia regras de conflitos sobre a lei aplicável à Responsabilidade Pré-Cobtratual
Solução deste problema passava pela resolução de uma qualificação – chamava-se o art. 15º
CC para perceber se, naquele caso, se subsumia às regras relativas às obrigações contratuais ou
extracontratuais.
• Se resultasse que as partes estavam vinculadas a deveres de conduta ligados
funcionalmente à formação do contrato que se tem em vista – subsume-se às regras
de conflitos sobre OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
• Se resultasse que as partes só tinham deveres gerais de proteção e cuidado – subsume-
se às regras de conflitos sobre OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS
ROMA II
Art. 12º - Culpa in contrahendo
Art. 12º/1
Para sabermos qual a lei aplicável às obrigações extracontratuais decorrentes das negociações
do contrato aplica-se a lei que regulará o contrato.
DMV: uma das maiores inovações de Roma II foi criar norma de conflitos no campo da
Responsabilidade Pré-Contratual
➢ Qualifica, ele próprio, a Responsabilidade Pré-Contratual, como obrigações
extracontratuais – resolve o problema de qualificação que se colocava anteriormente
o Em consonância com Roma I, que afasta do seu campo
➢ Isto segue orientação do TJUE, Taconi, 2002
83
Expressão que está no BGB quanto à RPC
175
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Apesar de ser matéria extracontratual, a lei que se aplica é a lex contractus ou a lei que
hipoteticamente viesse a ser aplicada ao contrato (caso fosse terminado)
Conexão Acessória
Lei reguladora da Responsabilidade Pré-Contratual é a lei reguladora do contrato, dada a
conexão funcional que existe entre ambas.
Por força desta remissão, o art. 12º remete para Roma I – pois é aí que vamos saber qual a lei
aplicável ao contrato, que, por sua vez, se vai aplicar à Responsabilidade Pré-Contratual
➢ Legislador começa por qualificar como obrigação extracontratual para depois sujeitar
às regras de conflitos sobre responsabilidade obrigacional.
Ex1: a RPC decorrente dessa conduta determina-se de acordo com a lei que seria aplicável ao
potencial contrato. Chegávamos sempre à lei portuguesa, exceto se as partes tivessem escolhido
uma outra lei aplicável.
Art. 12º/2
Casos em que não pode ser determinada na base de art. 12º/1 a lei aplicável ao caso
➢ Tem paralelismo manifesto entre estas alíneas com o art. 4º/2 Roma II
O art. 12º/2 intervém nos casos em que as negociações se frustraram numa fase de tal forma
inicial, no inicio do iter negocial, que não há indícios que permitem determinar qual a lei que
iria ser aplicada ao contrato.
➢ DMV: hipóteses raras
Art. 12º/3
Regra correspondente ao art. 4º/3 Roma II
DMV: isto é importante e as partes podem logo acautelar-se à partida quanto a um eventual
rompimento de negociações, definindo qual a lei que seria aplicável nesses casos.
Pode acontecer que esteja em causa a violação de deveres pré-contratuais de conduta que não
têm ligação funcional ao contrato visado pelas partes
➢ Caso de violação de deveres de proteção e etc. Ex: escorrega na casca de banana quando
entra numa loja e etc.
176
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: conceito de culpa in contrahendo no art. 12º é um conceito mais restrito daquele que
vigora na Alemanha ou Portugal.
• Nesse artigo só se inclui aqueles que funcionalmente estão ligados à formação dos
contratos – aqueles puramente delituais não cabem.
• Também está fora deste âmbito o incumprimento de deveres contratuais vinculativas
para ambas as partes que decorram de negócios preliminares entre as partes
(instrumentos que as vão vinculando progressivamente). Ex: cartas de intenções,
contratação mitigada e etc.
o Partes podem assumir deveres de conduta e são feitos por vontade das partes.
Na violação desses deveres devemos atender a Roma I pois foram as partes que
acordaram neles.
Isto retoma os problemas de qualificação nesta matéria – temos de atender ao art. 15º e às
finalidades que elas prosseguem
➢ DMV: conclui-se que não é possível uma qualificação legal desta figura que valha para
todos e quaisquer casos.
o Apesar do art. 12º procurar fazer essa delimitação, está excluído desse campo
outras obrigações extracontratuais que não têm a ver com nexo funcional.
o Portanto a qualificação não está definitivamente estabelecida.
Pode haver dificuldades nos casos de danos patrimoniais puros, como se determina o lugar onde se verifiaram.
DMV, em conclusão:
1. Regra de conflitos quanto a RPC é um fator que aumenta a segurança jurídica no
comércio internacional
2. Conexão Acessória do art. 12º Roma II é a solução que melhor reflete a ligação estreita
e forte que existe entre os deveres pré-contratuais de conduta e o contrato que se visa
celebrar
3. Esta opção da conexão acessória só vale para situações de culpa in contrahendo que
tenha ligação com o contrato que se visa concluir (Considerando 30)
4. Legislador UE reconhece os limites da qualificação legal – reconhece que a conexão
acessória do art. 12º/1 só vale para certos tipos de casos, em que há vínculo de ligação
entre deveres pré-contratuais e o contrato
Art. 12º parte de uma perspetiva metodológica criticável mas a solução para a qual aponta é
correta.
➢ Era a solução que se chegava antes de Roma II por aplicação do art. 15º CC
177
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Figura que visa evitar que se consolidem situações em que uma pessoa se enriqueceu à custa
de outrem.
➢ Mais ou menos todos os sistemas jurídicos são sensíveis que uma pessoa não deve
enriquecer à custa alheia.
o Mas no fundo isso é a economia de mercado/capitalista a funcionar.
▪ Dificuldade é estabelecer a fronteira o que é lícito ou ilícito.
Ex1: A (Espanhol) envia garrafas de vinho para B (Português). B bebe o vinho. A vem dizer que
enviou por engano e quer ser restituído. B diz que já consumiu porque pensava que era oferta
e não tem de restituir nada.
178
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ex2: C (Inglês) faculta a D (Inglês) a sua casa de férias em Portugal. D pinta a casa e faz outras
benfeitorias. Quando restitui a casa a C reclama um pagamento pelas benfeitorias úteis. C diz
que foi opção de D e o direito inglês diz que não há necessidade de restituição.
Ex3: E (Português) vende colheita de laranjas de F (Inglês), no Alentejo, pensando que estava a
administrar a sua propriedade. E reclama o direito a ser compensado pelas despesas que teve
na comercialização de laranjas de F, que beneficiou dos lucros. F não aprova essa gestão de
negócios de E. E tem direito a essa restituição de enriquecimento sem causa? Direito Português
diz que sim, Direito Inglês diz que não.
Questão mais relevante é saber qual a lei aplicável ao Enriquecimento Sem Causa.
As soluções são muito diversificadas – Roma II veio regular esta matéria84 (art. 10º)
➢ Não se aplica a violações de direitos de propriedade intelectual (art. 13º Roma II), pois
uma obrigação baseada em enriquecimento sem causa resultante da violação de um
direito de propriedade intelectual é regulada pela mesma lei que a própria violação.
➢ Art. 14º Roma II – também se permite a escolha da lei aplicável pelas partes
Na falta de escolha,
Art. 10º Roma II segue a teoria que distingue entre:
• Enriquecimento associado a uma relação jurídica entre as partes – regulado pela lei que
rege essa relação (art. 10º/1)
84
Roma II não define e apenas ilustra o conceito com o pagamento de montantes indevidamente
recebidos
➢ LP: conceito é geralmente entendido, a partir de uma interpretação autónoma, no sentido de
abranger situações em que uma pessoa obtém um benefício à custa de outra, sem uma causa
juridicamente justificativa.
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Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 10º/2: E se não havia nenhuma relação prévia entre as partes, ou dano?
➢ Nesses casos, art. 10º/2 manda aplicar a lei do país da residência habitual comum
Se a ligação com o lugar do enriquecimento for muito ténue não justifica a aplicação dessa lei.
➢ Art. 10º/4: entra em funcionamento a cláusula de exceção
Vai aplicar-se Roma I e não Roma II – restituição de Enriquecimento sem Causa que é derrogação
de Roma II por ser norma especial
➢ Nos casos de invalidade dos contratos vamos aplicar Roma I e isso está em
consonância com o princípio da subsidiariedade da obrigação de restituir – expressão
deste princípio no DIP
180
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
LP: Enriquecimento sem Causa abrange situações muito variadas, o que não permite a
formulação de uma solução unitária, impondo-se uma diferenciação em função de diferentes
tipos de enriquecimento
• Por prestação – resulta de uma prestação feita com a intenção de cumprir uma obrigação
e deve ser regulado pelo Direito que rege a relação jurídica a que diz respeito a prestação
• Por intervenção – resulta de uma ingerência em património alheio e deve ser regulado
pelo Direito do Estado em que se realiza a intervenção
• Outras modalidades – deve ser regulado pelo Direito do Estado em que se produz o
enriquecimento (em regra o lugar da residência ou sede do enriquecido).
Batista Machado: também deve haver um desvio a favor da lei pessoal comum quando
empobrecido e enriquecido se encontram ocasionalmente no estrangeiro.
➢ LP: só se estiver em causa enriquecimento por intervenção.
181
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Quando alguém assume um negócio alheio, no interesse do respetivo dono e sem para isso
estar devidamente autorizado.
➢ Negócio não em sentido técnico-jurídico
2 grandes orientações:
1. FAMÍLIA ROMANO-GERMÂNICA – tradição/regulação que vem do Direito Romano
Em Portugal: Art. 464º e ss. CC
• Gestor tem que ser reembolsado e indemnizado e até pode ter de ser pago por ter
levado a cabo essa gestão.
• Cria-se uma fonte de obrigações a cabo do dono do negócio totalmente sem a sua
vontade.
Valores subjacentes:
• Solidariedade – gestos altruístas merecem tutela da parte do Direito
• Justiça comutativa – se gestor fez gastos no interesse e por conta do dono do negócio,
a sua situação patrimonial tem de ser reposta
Caso Indiana Lumbermans (2000), USA – aquele que confere benefício a outrem não confere
nenhuma obrigação e não há direito a ser indemnizado.
➢ Não há qualquer obrigação de restituir – restatement norte-americano abre a porta em
certos casos mas o princípio é que quem gere negócios alheios não tem qualquer
benefício.
182
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
B. Interesses individuais
• Do dono do negócio – se interferência nos seus negócios foi abusivo ele quer ser
ressarcido dos danos que o gestor lhe possa ter causado;
• Do gestor – se interferiu de forma a ajudar outrem quer ser ressarcido pelas despesas
que teve para isso.
o Podem justificar outras Leis – pode ser a lei escolhida pelas partes; a da
nacionalidade/residência habitual comum.
Como se resolve?
Art. 43º CC
Estabelece a Lex Locci Gestionis – preocupação fundamental do legislador foi salvaguardar os
interesses sociais.
➢ Isto também é conforme aos interesses da harmonia jurídica.
➢ Ex1: aplicava-se a lei portuguesa
Mesmo antes de Roma II esta não era a única possibilidade entre nós.
DMV: é aplicável analogicamente o art. 45º/3 CC à Gestão de Negócios – desvio a favor da lei
comum das partes podia ser feito mesmo no âmbito da gestão de negócios.
➢ Ex1: aplicava-se a lei inglesa – DMV diz que não é chocante pois tudo se passou entre
ingleses
Regulamento Roma II
Art. 14º Roma II – também se permite a escolha da lei aplicável pelas partes
Na falta de escolha,
Art. 11º Roma II rege a negotiorum gestio
183
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
➢ Recorre-se ao termo latino pois este é um instituto jurídico que não é conhecido por
todos os sistemas jurídicos dos Estados-Membros.
o Nos países de Common Law estes casos são abrangidos, parcialmente, pelo
instituto da agency e podem cair na agency without authority.
Art. 11º Roma II dá uma flexibilidade quanto à lei aplicável à gestão de negócios que não eram
concebíveis no CC.
➢ Art. 43º CC não admitia a escolha da lei aplicável
Baptista Machado: também deve haver um desvio a favor da lei pessoal comum quando o dono e
gestor do negócio se encontram ocasionalmente no estrangeiro no momento da prática dos atos
de gestão.
184
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 28º ressalva as Convenções Internacionais (que mantêm o seu campo de aplicação como
lege especialis).
➢ Neste âmbito existem algumas: Convenção de Haia (quanto à representação e
mediação)
o Conexões da Convenção de Haia têm clara preferência a favor da lei do
representante – se partes não escolheram lei aplicável partes aplicam lei do
representante.
o Às vezes aplicar a lei do país do representante é favorece-lo excessivamente
face ao gestor de negócios.
o Aplicar à gestão representativa leva a depeçage (fracionamento) – no caso de
atos materiais em que não é em nome alheio não se aplica.
o Mesmo à gestão representativa deve aplicar-se Roma II (LP discorda)
➢ Salvação Marítima – campo por excelência da gestão de negócios – Convenção de
Londres sobre a Salvação Marítima (1980)
o Roma II não se aplica nos casos em que intervenha essa convenção – Portugal
não se vinculou mas afetou lei interna sobre a salvação marítima que decorre
da adoção de regras dessa convenção.
185
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Art. 46º CC
Art. 46º/1 CC: regra que submete os Direitos Reais à Lex Rei Sitae
➢ Lei do país onde a coisa se encontra situada
➢ Tanto para imóveis como para móveis (tradição a partir de Savigny)
Regra que nem sempre existiu e durante muito tempo prevaleceu a situação de que os bens
seguiam o seu dono – lei reguladora das coisas era a do domicílio do seu proprietário.
➢ Idade Média: Mobilia secundum personae
➢ Com Savigny, séc. XIX, passou a aplicar-se a Lex Rei Sitae
Quais os títulos de legitimidade da Lex Rei Sitae para regular esta matéria?
• Interesses públicos – na matéria de Direitos Reais estão implicados interesses dos
Estados, pois incidem muitas vezes sobre bens que são fonte de riqueza.
o Têm interesse em regular os bens que estão no seu território, bem como a
aquisição desses bens por estrangeiros (o estatuto dos bens no território).
o Direitos Reais estão sujeitos a um princípio de tipicidade pelo que este é um
domínio em que não há autonomia das partes – só a aplicação da Lex Rei Sitae
é que concretiza esse princípio da tipicidade
▪ Ficaria comprometido se as partes pudessem escolher outra.
• Interesses do tráfego jurídico em geral – interessa saber a quem intervém no tráfego
jurídico qual o estatuto dos bens.
o A aplicação da Lex Rei Sitae conduz a maior segurança nesta matéria pois para
se informar sobre o estatuto jurídico de certo bem, apenas tem que ter em
conta a lei do país onde ele se encontra.
• Interesse na harmonia de julgados – isto permite que a causa seja julgada de acordo
com a mesma lei onde quer que seja o foro.
o Solução mais difundida universalmente e que tem maior acolhimento nos
sistemas de DIP.
• Interesse na efetividade das decisões judiciais – quando Tribunal profere decisão sobre
certo bem, se ela não for voluntariamente acatada, terá de ser executada no país onde
se pretende que produza efeitos (onde o bem se encontra).
o Aplicando a Lex Rei Sitae o reconhecimento da sentença estrangeira facilita a
execução da decisão.
186
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Qual a solução?
• Aplicação da lei do país de expedição – Espanha
• Aplicação da lei do país de destino – Itália
• Aplicação da lei que os interessados escolheram (optam entre expedição ou destino) –
Suíça85
Baptista Machado, Ferrer Correia: esta regra só se aplica aos veículos automóveis se estes
estiverem afetos, de modo duradouro, ao transporte internacional.
➢ LP: os direitos sobre veículos automóveis são regulados pela lei do Estado de matrícula
e só no caso excecional de veículos duradouramente afetos ao transporte interno, em
Estado diferente daquele onde estão matriculados, se justifica uma redução teleológica
do art. 46º/3 CC
85
DMV: Pode gerar incerteza; se cláusulas não forem registadas os 3º não têm acesso.
187
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
➢ Rege a lei do país de importação quando esta for aplicável aos aspetos relativos à
transferência da propriedade que relevam do estatuto contratual. Caso contrário, a
transferência da propriedade será regida pela lei do país de expedição.
À face de que lei é que se afere os Direitos Reais sobre esse bem? E quanto aos direitos do
adquirente de boa fé?
➢ Entra em jogo um novo interesse: Interesse do Estado de Origem do Bem em reaver
esse bem, que pertence à sua herança e património cultural
o Isto justifica que se aplique a lei do país de origem do bem e não a Lex Rei Sitae
▪ Instituto de Direito Internacional (1991) aprovou resolução que manda
aplicar lex originis.
▪ Lei Belga de DIP tem regra neste sentido, também86.
Lei de Bases do Património Cultural (Lei 107/2001) tem regras internacionalmente imperativas
que podem ser veiculadas neste caso.
➢ Art. 64º a 66º estabelecem as restrições em matéria de exportação e expedição.
o DMV: devem ser consideradas NAI, mesmo que o bem já se encontre em país
estrangeiro.
▪ Se não forem observadas há um ilícito que permite ao Estado
desencadear mecanismos de reação (art. 69º - e até atendemos a
normas de outros Estados iguais às nossas).
86
Mas dá opção ao Estado de origem. Dá possibilidade ao possuidor de boa fé invocar Lex Rei Sitae.
188
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Ferrer Correia: normas que regulam a exportação são chamadas pela norma de conflitos
reguladora dos direitos reais
➢ LP: o Estado de origem só adquire a propriedade com a saída da coisa do seu território,
pelo que os critérios gerais que orientam a resolução de problemas de sucessão de
estatutos reais não parecem funcionar neste caso.
E se coisa furtada ou ilicitamente exportada for adquirida no Estado de importação por terceiro
que alega a sua boa fé?
• A aplicação da lei do Estado em que a coisa se situa no momento da aquisição por terceiro
leva frequentemente à perda da propriedade por parte do proprietário originário ou do
Estado de origem.
o Esta não é a solução do Direito material português – regime especial da Lei
107/2001
o Transferência ou aquisição originária da propriedade de bens culturais é
regida pela lei do Estado de origem.
Convenção entre os Estados que a ratificaram obriga a restituição dos bens culturais ao país de
origem.
➢ Já sai do campo das Regras de Conflitos e estamos no campo da aplicação de Direito
Material Uniforme.
Diretiva 93/7/CEE Relativa a Restituição de Bens Culturais foi reformulada pela Diretiva
2014/60/EU (que alterou também o Regulamento 1024/2012) e contém principalmente normas
materiais sobre cooperação de autoridades e admissibilidade das ações de restituição.
189
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: cabe neste âmbito tudo o que tem a ver com a constituição, transmissão e extinção dos
direitos sobre coisas
Por Direito Real, para efeitos do art. 46º, entendem-se os direitos que assim forem qualificados
nos termos do art. 15º CC.
➢ Faz-se as operações da qualificação para perceber se é um Direito Real, começando por
caracterizar esse direito face à putativa aplicação da lei.
o Após essa caracterização temos de perceber se essa caracterização cabe no
nosso conceito de Direito Real.
▪ Isto mesmo que nos outros sistemas jurídicos se chame “direito
obrigacional” mas tenha todas as características de Direito Real
Divisão: lei do contrato regula as obrigações das partes e a lei que regula o direito real é quanto
à transmissão da propriedade e etc.
E quanto à aquisição por negócio jurídico, quando o negócio real surge ligado a uma relação
obrigacional?
Critério tradicional da doutrina europeia é a primazia relativa do estatuto real – ideia de
prevalência da qualificação real relativamente aos elementos do contrato de compra e venda com
incidência real e aos aspetos de uma relação contratual em que segmentos reais e obrigacionais
estão indissociavelmente ligados.
➢ LP: pode ser aceite em matéria de direitos imobiliários mas não em matéria de
direitos mobiliários
De iure condendo é defensável uma autodeterminação das partes, pois a transmissão negocial da
propriedade é o produto de um ato de autonomia e porque a proteção da segurança do tráfico não
justifica, com respeito aos negócios do tráfico internacional, uma competência geral da lex rei sitae.
190
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
como os respetivos requisitos de eficácia, dependem da lex rei sitae mesmo na relação inter
partes.
➢ Não é compatível com o Direito vigente qualquer liberdade de escolha pelas partes do
Direito aplicável à transferência da propriedade.
Sucessão de Estatuos
Pode haver uma sucessão de estatutos se a coisa mudar de um país para outro, devido a uma
transação.
➢ Antes da transação está num país e após a transação está noutro
Coisas móveis submetidas à lex rei sitae e que são objeto de deslocação internacional.
Conflito Móvel – quando os direitos sobre determinada coisa sofrem uma alteração do seu
regime jurídico ao longo do tempo em virtude de uma transação.
➢ Aplica-se a 1ª ou a 2ª Lex Rei Sitae?
o DMV: à partida, tendo em conta os interesses que justificam a competência
desta lei, em cada momento aplica-se a atual Lex Rei Sitae
o LP: O momento relevante da conexão é aquele e que se verificam os factos
constitutivos, transmissivos, modificativos ou extintivos. Portanto, à
constituição, transmissão, modificação ou extinção do direito real aplica-se a
lei reguladora do direito real ao tempo da verificação dos respetivos factos.
E se Negócio Jurídico foi celebrado no momento em que bem está no 1º país e só depois é que
foi transportado?
Ex: bem está em Portugal e aqui é objeto de compra e venda; após o contrato foi transportado
para a Alemanha mas ainda não foi entregue.
• Em Portugal o proprietário é o comprador.
• Na Alemanha o proprietário ainda é o vendedor (faltou a entrega, que é exigida).
Única solução possível é fazer uma TRANSPOSIÇÃO – figura do DIP que implica que um direito
subjetivo constituído ao abrigo de determinada lei, que não tem equivalente no novo país,
tem uma operação de transposição para o equivalente funcional.
191
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
A grande maioria dos litígios relativo aos direitos de propriedade intelectual é apreciada pelos
tribunais do país de proteção, razão por que geralmente são decididos por aplicação da lex
fori.
➢ Daí que em situações internacionais nem sempre se tome consciência de que a aplicação
do Direito material do foro tem de resultar da atuação de uma Norma de Conflitos.
Oliveira Ascensão, Moura Ramos: nesta matéria não funcionam Normas de Conflitos pois trata-se
de direitos de monopólio que só vigoram na ordem jurídica que os concede e/ou pelo facto do
Direito de Propriedade Intelectual ser de aplicação territorial.
➢ LP: discorda – a conceção dominante distingue entre o Estado de proteção (onde é
pretendida a proteção, i.e., onde se retende utilizar ou defender contra terceiros o bem
intelectual em causa) e o Estado do foro.
o O Estado de proteção só coincidiria necessariamente com o Estado do foro se os
tribunais de cada Estado se considerassem incompetentes para as ações
relativas à proteção dos direitos de propriedade intelectual no território de outros
Estados, o que não se verifica.
Muito importante nos dias de hoje – advento da internet muda radicalmente a problemática
associada aos direitos de autor e direitos conexos.
➢ Evolução tecnológica faz com que a reprodução de obras assuma um caráter
internacional.
Tanto para a exploração como para a utilização de fins privados das obras é de grande
importância, sendo relevante a lei aplicável.
Primeira convenção sobre Direitos de Autor: Convenção de Berna, Relativa à Proteção das
Obras Literárias e Artísticas (1886 e sucessivas revisões) – impulsionado por Vítor Hugo.
➢ Portugal foi um dos signatários e foi revisto em 1979 – sendo ainda o texto fundamental
nesta matéria.
➢ Direitos de Autor são fundamentalmente protegidos no âmbito da Convenção de Berna
➢ Art. 5º/2 tem norma de conflitos que remete para o Direito do Estado de proteção.
Há outros textos:
• Convenção de Genebra, 1952
• Acordo TRIPS/ADPIC, anexo à Organização Mundial de Comércio, propõe-se a criar um
standard único em todos os membros da OMC.
• Tratado de Direito de Autor de Genebra, 1996 – impulsionado pela Organização
Mundial Propriedade Intelectual (Agência da ONU, OMPI)
No âmbito da UE:
• 2001/29 – Diretiva Direito de Autor
192
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Apesar dos esforços no sentido de harmonização e unificação no Direito de Autor, não há hoje
um Direito de Autor uniforme à escala mundial.
DMV: convenções estabelecem regras mínimas e são omissos em relação a certas disposições
fundamentais quanto aos Direitos de Autor.
➢ Gestão coletiva, quem é o titular – países dão respostas diferentes
o Mesmo a transposição de Diretiva dá muito espaço aos Estados-membros – art.
5º tem lista de 20 exceções, mas cada Estado-membro transpôs esse elenco à
sua matéria.
o Há bastantes divergências entre common law e civil law – é com base em razões
ideológicas
▪ Ex: reconhecimento de direitos morais aos autores – há direito à
integridade da obra? Common Law tem relutância em aceitar e em
França é de Ordem Pública.
▪ Ex2: Quem é o proprietário da obra cinematográfica? Nos países de
common law é o produtor (quem financiou); nos países de civil law é o
realizador (quem fez o esforço criativo).
o Para que uma obra seja protegida, na matriz francesa, tem de haver
originalidade na obra – ou seja, criatividade, manifestações de génio da
personalidade dos autores.
o Na matriz anglo-saxónica a lógica é que tudo o que merece ser copiado
também merece ser protegido.
Prestações devem ser protegidas dado o valor acrescentado que trazem à obra devido à sua
difusão, trazendo-lhe valor comercial.
Desde os anos 1960 que há movimento para a proteção destes direitos conexos
➢ Houve convenção (Roma) em 1961 a que Portugal só aderiu em 1999.
➢ Em 1996 a OMPI também adotou um tratado regulando esta matéria.
➢ Estas convenções não suprimiram os conflitos de lei nesta matéria.
193
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
Se considerarmos aplicável ao direito conexo o direito dos EUA, onde originariamente foi
publicado, então há infração. Se for aplicável a lei portuguesa, por ser cá o ato de reprodução
da fixação e comercialização, então é lícito.
Lei do país para cujo território a proteção é reclamada – lex loci protectionis
• Se é feita utilização de uma obra/prestação protegida em certo país, é a lei que vigora
nesse país que vai regular.
• Ex: CD de covers do Frank Sinatra, seria a lei portuguesa
• DMV: lei mais condizente com os direitos de autor – direitos de autor/monopólio,
devendo ser regulado em cada Estado pela lei desse Estado.
o No lugar onde o Estado exerce soberania deve ter a prerrogativa de decidir se
atribui o exclusivo de certos bens a certas pessoas, definindo os limites
temporais e etc.
o Cada Estado diz em que medida consente a utilização.
o LP: A competência do Direito do Estado de proteção justifica-se porque a
concessão de um direito de monopólio traduz-se numa limitação ao interesse da
coletividade local na liberdade de exploração da obra, a favor do interesse
particular do autor.
• Também o princípio da tipicidade tem de ser tido em conta – aquilo que não e protegido
por força de uma disposição legal, é de utilização livre. Lei tem de definir quais os bens
incorpóreos que são objeto de proteção.
194
Sebenta DIPrivado – 2018/2019 DNB
DMV: quando se diz “lei do país onde a proteção é reclamada” pode suscitar equivoco – é lex
fori? Ou sítio dos atos que violaram o Direito?
• Não se deve defender a aplicação sistemática da lex fori e tem de ser no sítio em que os
atos foram praticados
• Ex: CD Frank Sinatra, se for demandado em Espanha, vai aplicar-se lei Portuguesa pois
foi para esse território que se atuou
Há matérias quanto às quais não se tem de aplicar – sobretudo quanto a saber a titularidade
do Direito de Autor
• Razões que justificam a aplicação da lex protectionis já não justificam a aplicação desta
lei nesta matéria
• Quanto a saber quem é o titular dos exclusivos podemos guiar-nos pela lex originis –
é a lei do país de origem que nos pode indicar quem é o titular.
• Art. 48º/1 CC – remete lex originis mas ressalva lei especial (Convenção de Berna e Roma
II).
o DMV: âmbito de aplicação totalmente residual87 – única matéria em que não
temos fonte especial é quanto à titularidade do direito.
▪ Quanto à titularidade do Direito rege o art. 48º e manda aplicar-se a lex
originis.
Vários DL, proteção de direitos sobre computadores e bases de dados também remete para a lex
originis quanto à titularidade do direito de autor.
Saber se há ou não proteção e quais as faculdades que assistem ao autor é segundo a lex
protectionis.
Há um depeçage e diferentes títulos de aplicação a esta matéria
87
LP: Art. 48º CC tem um campo de aplicação muito limitado e só vigora na medida em que a legislação
especial não disponha em contrário.
➢ Os art. 63º e ss. Código de Direito de Autor e Direitos Conexos têm soluções incompatíveis com
o art. 48º/1 CC, pelo que o campo de aplicação desta última norma é muito residual.
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Qual a solução?
Utilização é feita onde se encontra alojado o conteúdo – onde está o servidor e para onde se
faz o upload.
➢ Vantagem é que se aplica uma única lei onde quer que a obra seja utilizada
➢ Problema é que pode o servidor estar num país que não protege o direito de autor.
Utilização regista-se em qualquer país a partir do qual seja feito o acesso – onde as obras estão
disponíveis e são acedidas, onde se faz o download
➢ Problema é que conduz um cúmulo distributivo de leis aplicáveis – empresa que se
dedique a colocar online conteúdo protegido por direito de autor tem que cumprir as
leis dos muitos países onde se pode fazer o download.
DMV: nem critério do upload nem do download parecem adequados a resolver o problema
• Grupo de professores, sob a égide do instituto Max Planck publicou texto tentando lidar
com esta problemática – texto CLIP (conflict of laws in intelectual property)
• Texto de soft law
o Art. 3, 603/1 – faz apelo à conexão mais estreita com a infração
o Para se determinar a conexão mais estreita tem de se ter em consideração todos
os fatores relevantes.
o Ex: operador de serviços de internet estabelecida na Austrália e de lá coloca
online ficheiros musicais sem autorização do titular do Direito de Autor. Ficam
acessíveis em todo o mundo. Há infração do direito de autor ou não? Depende
do que diga o país que tenha a conexão mais estreita.
o Qual a conexão mais estreita? Tem de se ter em conta os 4 critérios do CLIP.
o Podemos ver o lugar que causa mais dano como aquele onde vende mais CDs,
tem mais fãs e etc. O que conta é o mercado que mais seriamente é atingido
por esta utilização.
o Vai aplicar-se uma só lei e soluciona o problema de múltiplas leis – esbate-se o
conceito de territorialidade
▪ DMV: mas esse conceito vem do séc. XIX, já é algo do passado e as
utilizações são feitas em linha por meios ubíquos e já não há 1
território onde se pode apontar o sítio em que é feito a utilização.
Todo o mundo é o território de utilização.
LP: só é Estado de proteção aquele em que ocorre uma conduta que, segundo o Direito
local, constitui um ato de utilização ou lesão de um direito de autor.
➢ A simples receção de uma transmissão não pode constituir um ato de utilização ou lesão
de um direito de autor.
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o DMV discorda
E quanto aos Estados onde se situam os servidores em que a obra é armazenada e em que os
utilizadores têm acesso à rede informática?
➢ Diretiva 2001/29 levou à transposição do seu art. 2º para o art. 68º/2/i do Código de
Direitos de Autor e Direitos Conexos, o que consagra que o mero acesso à obra através
da internet, bem como as cópias temporárias que são realizadas por intermediários no
processo de transmissão eletrónica, constituem, em princípio, formas de utilização do
direito.
LP: o acesso em linha a uma obra protegida não é legitimado pelo direito de reprodução
para uso privado (art. 5º/2/b Diretiva e 75º/2/a, 81º/b Código Direito de Autor) quando o
utilizador sabe ou deveria saber que a obra não foi colocada à sua disposição com
autorização do titular do direito de autor ou ao abrigo de alguma das exceções ou limitações
legais ao seu direito de exclusivo.
➢ Assim, o direito de autor é violado pelo utilizador da internet que acede à obra sabendo
que a mesma não foi colocada à sua disposição por forma legítima.
Qual a lei aplicável aos contratos cujo objeto são direitos de autor?
Titular dos Direitos pode ter licenciado a utilização da sua obra a terceiros – ex: contrato de
cantor com editora
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