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2.

A NEUROSE TRAUMATICA E AS MUDANÇAS


DO CONCEITO DE TRAUMA A PARTIR DE
1897 NA OBRA FREUDIANA

Avivência traumática começa a perder força gradativamente,


por volta de 1897, no seu espaço conquistado como causa da neurose.
Mas somente depois que o Edipo emerge, deixando mais claro o
papel do sexual infantil e da fantasia, Freud se sentirá com mais
fundamernto para alterar o papel do traumático.
Quando Freud constata que a história de vida dos pacientes
normais não se diferenciava substancialmente das histórias dos
casos patológicos, passaa atribuir o motivodaenfermidade não mais
ao acontecimento, mas à significação e representação que osujeito
fazia do mesmo e ao fracasso da defesa, "... as intluências acidentais
foram cedendo ainda mais o lugar às influências da repressão... 0
mportante já não eram as excitaçes sexuais que o indivíduo tivesse
Cxperimentado na sua infância, mas, e sobretudo, a sua reação a tais
mpressões e ter respondido ou não a elas com a repressão... A
pSicanálise de sujeitos histéricos mostrou que a enfermidade eraao
resultado de um conflito entre a libido e a repressão sexual e que
eus sintomas constituíam uma transação entre ambas correntees

anímicas" (1905 [19061; p.1241, grifo meu).


A noção
de conflito começa a relativizar a potência do
aContecimento traumático, Sem a mediação do contlito, sem a
mensão dinâmica da expressão de forças contrárias, noexiste
raua. Já na epicrise do caso de Miss Lucy, apresentado em
SEudos sobre a histeria", Freud assinala o papel crucial do conflito:
COLEÇÃO "CLÍNICA PsicANALÍTICA"

40
momento
à categoria de
elevadoo d0
afetos tinha mais que
O Conflitode cena externa,
pelo qual
a
Se e x p r e s s e e o
(1895; p. 95), o
ConflitO

rauma presta para


que traumático não
determinar o trauma, se acontecimento

sentido, o
t r a u m a se instale. Nesse neuróticos
preexistentes.
conflitos
princípio alheia
precipitar os
taz mais dot rque exterioridade,
no
e a
Conflitoe a u m a coexistem, interioridade.
da
partilha agora do
espaço
ao sujeito,
que
coloca como Nódulocentral
Anova concepção de
neurose,

inconscienite, a
sexualidade Tecalcada (uma
da fantasia
a produção referida ao orgânico, mas pertencente
sexualidade não somente

produtor de desejos e libido) e o


também ao campo do imaginário,
e a expressão do
explicar a origem da doença
conflito passaro a

sintoma neurótico. O Edipo constitui-se,


assim, na cena paradigmáica
conflito e do trauma; ele é a
da expressão do sexual, da fantasia, do
futuras.
matriz de relação e o substrato de todas as relações
Embora a cena traumática real fique menos expressiva com esa
nova cena edípica-também potencialmente traumática - ela nao
a3
perde efetivamente sua força, assim como Freud não perde
esperança de encontrar um acontecimento real e datado.
Quando mais tarde nas "Lições introdutórias à psicanálise"(191
17), lições XXIl e XXII, Freud reconsiderao sentido do trauma
com ele o papel queo constitucional e a história de vida têm par
sujeito, otrauma passa a ser integrado como fator acidental ao moa nente

das series complementares, partilhando com o compo


istór
disposicional (componente que inclui a constituiçaoa
infantil) a responsabilidade na explicaço etiologica um u um"
Ambos os fatores em

predisposiço e traumatismo-
-

relação inversa, pela qual um importante incidentemáti


traumat
variam

encias

precisa de pouca predisposição para ocasionarg r a v e s conseque.


e defes
euma predisposição precária, em termos de suportabilidad e det
que
2

Contra para

excitações, requer pouco estímulo exte


as no

neurose instale (1916-7 [1917]; p. 2334 ep. 2343


se e n

Com esse
modelo, o que antes era estany ã oe afrust
diversas
proporções: o endógeno e o exÓgeno, ai
NEUROSE TRAUMÁTICA

41
c fatores constitucionais e os acidentais.
ln traumatismo que sobrevém em um Pode-se pensar que a idéia
aDresentando agora, tambem como primeirosegundo tempo é mantida,
tempo, o sexual pré.
histórico, a fantasia, eos acontecimentos da história
infantil.

Neurose traumática

A
Primeira Guerra Mundial está em
marcha,
conseqüências devastadoras farão inúmeras baixas e suas
humano. As neuroses de guerra no
psiquismo
recolocam a preocupaço de Freud
como trauma, sob a forma
da "neurose
Este conceito de "neurose traumática".
desde seus primeiros traumática", presente no texto freudiano
escritos, apesar de reatirmar sua
Com as neuroses de
guerrae de ser um dos motivos
importância
desenvolver, em 1920, a idéia de um "além do principais para
culmina sua princípio do
presença na obra freudiana com um estatuto prazer",e
uma
acepção incerta. Em 1938, no "Esboço da pobre
comparar a influência que os fatores da psicanálise", ao
neurose em geral e sobre a primeira infância têm sobre a
neurose traumática, Freud
Podemos falar com um bom comenta:
grau de certeza
desempenhado pelo período da vida. Parece que assobre o papel
neuroses são
adquiridas somente na tenra infância
(até a idade de 6 anos), ainda
AC SCus sintomas possam não aparecer até muito mais tarde. A
ua neurose
infancia pode tornar-se manifesta por um curto tempo ou
CIno nem ser notada. Em
pode
todo caso, a doença neurótica posterior
ga ao prelúdio na infância. Epossível que aquelas que so
TOneuroses traumáticas (devidas a um conhecdas
susto excesivo ou graves choques
Somáticos,1tais como desastres ferroviários, soterramentos, etc.) constituam
xceção a isto, suas relações com
4gram à deteminuntes na infância até aqui
Freudàimvestigação
Tespeito abre aqui um (1938; p. 3404).
espaço para colocar não só a dúvida com
respeito à importância dos
fatores predisponentes (em especial a
CoLE,AO "CiÍNICA PsiCANALÍTICA"

42

desencadeamento de uma neurose


história do sujeito para o
de se perguntar se os
traumática), mas também para a possibilidade traumatismo
de um podem
estados que sobrevêm em conseqüência
ser qualificados de neurose.
sexual: fixacões
Se oqueestá em jogo na neurose é uma etiologia
estancamentos e insatisfações da libido, frustraçoes amorosas.
conflitos entre moções pulsionais e detesas, e o que estå em jogo em
seu sintoma é a expressäão simbólica de um contlito psíquico, é
necessário se perguntar pela similaridade, diferença e quaidade do
sExual, do conflito e do sintoma na neurose traumática.
Será que a neurose traumática como nomenclatura
específica
não faz sentido porque toda neurose tem algo de traumático e
toda
neurose traumática remete indefectivelmente a conflitos
pretéritos,
em que o traumatismo não seria mais do que o tator
de uma neurose
desencadeante
corriqueira, o precipitador atual de uma estrutura
subjacente? Ou, ao contrário, é necessário conservar sua
porque ela nos traz algo novo, porque nos especificidade
dos sonhos traumáticos, da permite indagar por meio
repetição dos mesmos destinos, da
compulsão repetitiva, sobre o campo possível do
libido, o campo que está fora do não-sexual, da não
pela pulsão de morte? Se estaprincípio
do prazer, o campo dominado
última fosse a opção escolhida, e
justificado perguntar novamente
traumáticas como pelos sintomas das neuroses
não de fantasias e expressão não de conflitos, como
ou
expressao ou
desejos, pelo papel da realidade material,
importäncia que o impacto somático do pek
acontecimento gera (tontu
confusão, alterações nos ritmos vitais, etc.)
dessa neurose; ou, melhor, pelo e
também pelotratan nto

de estados tratamento do que podemos cn mar

traumáticos poderiam derivar ou nao em neuirose.


que
Deixemos por
COmpromisso enquanto em aberto essas questões, comcom
Freud com
de retomá-las mais tarde, e questo trilhade
continuemos
respeito à caracterização dessa pe
Uma
primeira neuroSC
encontrada na nota referência sobre a neurose rose traumática

em
1893, na qual necrológica que Freud escreve so Chareo e Charcot

explica o tópico
ópico de interessee
interesse dedicação
NEUROSE TRAUMÁTIOCA

43

minente neurologIsta e diz: "a investigação recaiu também


com
náxima amplitude sobre as enfermidades nervosas
consecutivas a
oTavestraumas; istoe, sobre as neuroses traumáticas', cuja natureza
se discute ainda hoje, e com
respeito quais Charcot defendeu,
às
com êxito, os direitos da histeria"(1893; p. 36). A histeria traumática
ea neurose traumatica nese momento se indistinguem.
No mesmo ano, na "Comunicaço preliminar", Freud
já trabalha
com essa categoria conceitual- neurOse traumática-
suas manitestações com as do sintoma histérico. "Na
comparando
histeria
raumática, está fora de dúvida que é o acidente que
provocou a
síndrome... e em cada um de seus ataques |o paciente] vive de
novo por alucinação aquele mesmo
processo que provocou o
primeiro." (1893-95|1895]; p. 41, grifo meu). Embora o que
caracterizará essa neurose é ter sido precedida por um torte
emocional ou mecânico, a causa dela não é a lesão
choque,
sobressalto ante um perigo para o qual não se está
corporal, mas o
preparado (1893-95
[1895]; p.42). Nesta relação causa-efeito-aparentemente resultante
de um tator
único-que se apresenta entre o incidente provocadore
O sintoma, a histeria traumática e a neurose traumática mostram
aspectos compartilhados. Ambas, por sua vez, se diferenciam da
histeria comum" pela presença, nesta
última, não de um único grande
trauma que desencadeia de imediato seus
efeitos, mas de "vários
Taumas parciais, ou seja, de um
grupo de motivações que, Somente
pela sua acumulação,
poderiam chegar
a exteriorizar um eteito
raumáticoe cuja única conexão estáem constituir fragmentos de
um mesmo historial
patológico" (ibid; grifo meu).
Laplanche e Pontalis (1968; p. 264), seguindo Freud, detinem a
euTOSe traumática como
"um tipo de neurose na qual os sintomas
Parccem consecutivamente a um
choque emotivo, geralmernte igado
aunasituação em que o sujeito sentiu ameaçada sua vida. Manifesta-
momento do choque, como uma crise de ansiedade paroxistica,
Due provocar estados de agitação, estupor ou conftusão mental.
Com primeiro elemento dessa definição
podemos ver,
aproxima
PEOXIma da condicão
o
primeira da etiologia da neurose: um
se
2
CoLECAO"CLÍNICA Psic sICANALÍTICA"

44 impacto emotivo
emotivo
um

vindo de
fora,
produz
carga
contida,
o ,o sintoma.
ntenso que, pela
acontecmento
lembrança destaca gera, o Sentiment sentimento
transformado em definição
evivência
eque, dessa E a s0Drevivência
c o m p o n e n t e
ameaçada.
Um segundo sua
vida
que, ameaçada
ameaçada
sentir psíquica
sujeito de física ou
que temo sobrevivência imobilizaoprocesso o
o
so de resposta.0
processode
resposta. O
risco,
queestáem
imobiliza
sobrecarga, ( 1 9 9 + p . 16), p aar
impacto de u n a Schneider

pelo Monique
pergunta-se s e r Seguido por un
um
acontece, não posa
que
casos,
um ataque diz ela,, está ligadaà
em certos traumatismo,

que, do
A definição se encontra, por sa
a
contra-ataque!
da descarga, que
fenômeno que
concepção do retlexO. A
necessidade a

mecanismo
relacionada ao homeostática entre u
umn
vez, condiç o
m a n t e r sua
organismo tem
de resposta defensiva
invasivo desperta a
exterior
interior e um
excitações
fuga ante as
internas, e a
ante as
traumática, essa resposta falha.
imediata (descarga,
Na condição
excitaçõcs externas). c o n s t â n c i a " que assegura que o
de
e com ela
falha o princípio
a satistação imediata)
busca a descarga e
princípio do prazer (que aumento do
núcleo do perigo é assim localizado no
impere. O
tolerável. "Quando uma liquidação
fluxo de excitação além do
acontecimento traumatizante pernmanece
do afeto não intervém, o habitar no
continua a
presente para sujeito le... a agresso
o

sujeito..." (M. Schneider; p. 17). que


O terceiro elemento da definição alude àreaçãofisiológica ou
a resposta de
luta
o impacto desencadeia, que impede organizar

fuga e, então, paralisa.


da energta
Excesso, surpresa, sobressalto, congelamento
bloqueio, paralisia, ameaça à vida são os nomes que, neste momel
designam a condição essencial do traumático.

6.Princfpio que se encontra na base da teoria econômica do funcionamento doa ro


o
baixa
Peloprincfpio deconstância, o psiquismo procura nter a quantidade de excitação Opmblemi

u
tãoconstante quanto seja possfvel. Recordemos que até, 1924, data da publicação eradord despraer

ecmumico dn masoquismo, Freud entendia todo aumento de excitação comogett


e toda diminuição dela como prazerosa. A partir desta itulação, observa-se que ha una d
partir
da
Telação entre o princípio de constância razer, relação
que,
e o
princípio do z er o s a s .

cCIoada, perde força quando Freud coloca em evidência as tensóes plaas


NEUROSE TRAUMÁTICA
45

O tema da "neurose de guerra", discutido com interesse


no
Ouinto Congresso Psicanalitico de Budapeste, em setembro de 1918,
reimprime vitalidade à primeira concepção econômica do trauma e
recoloca questões sobre a origem do sintoma da neurose traumática.
Em resumo, o sintoma da "neurose de guerra" (embora sintoma e
embora neurose) permite duvidar se a sua elaboração conta com a
participação da libido sexual, do conflito psíquico e do desejo sexual.

A neurose traumática e suaS


relações
com a neuTOse de
transferênciaa
Em "Introdução ao simpósio sobre as neuroses de
Freud tenta precisar
guerra" (19195),
aspectos que diferenciam as neuroses
traumáticas das neuroses de transferência e conclui
é uma "neurose
que toda neurose
traumática elementareque toda represso é uma
resposta ante o trauma. No entanto, no fica totalmente claro se as
neuroses de transferência e as neuroses
traumáticas (entre as quais
uma modalidade é a
"neurose de guerra") remetem a umn
mecanismo e a fontes de produção idênticos.
Irata-se aqui de entender o
Sem ter
parentesco entre ambas neuroses,
necessariamente de concluir ora pela inexistência de uma
Cspecificidade das neuroses traumáticas', ora pela idéia de
que
aqucles quadros que aparecem como
Susto ou acidente não são
conseqüência de um impacto,
neuroses.
Embora Freud diga que a teoria da neurose não pode ser
COnprovada nas "neuroses de guerra", atribuindo a estas últimas uma
aracterística singular, acrescenta que são propiciadas por um contlito

mecantda neurose, por definição, incluiria e só incluiria a participação dos mesmos


o s de produção de neurose: conflito e caráter sexual, e seus sintomas a expressåo
simbolica de um conflito.
ego
n o v o

e seu novo
seu
c
Dacífio.
s o l d a d o

46 do
o ego co
pacílico
em que
cg" instante avent
nturas
antigo no arrastam
as
o conllito

o
cgóico
"..
cntre
o
onde
propriedade- Continua
contir

agudizando-se
para

perigode
de
morte,

guerreiro,
de idêntica
tra oo perigo
operigo Com contra
2542
3)
protege
'duplo'parasitário.
c l a r a m e n t c

se
e ego (1919b; p.
antigo traumática"
o
dizerque
n o v o

de s e u n e u r o s e n e u r o s e traum
traumática
Freud,"podc-se
à é
uma

em
direção
de g u e r r a
neurórica
icas
pcla fuga
formações
n c u r o s e

outras
morte como
toda d e n o m i n a ç ã o

adquiridas pela g uera,


em
Assim nao
última
também
nesta
tempode
paz"-
lentes
a c i d e n t e s
que inão
e que
cabem em ou
sustos
t r a u m á t i c a s

de eróticas
-"ncuroses conseqüência
e as pulsões
o ego
entre
como
noego,tal
como

sobrevém contlito
conflito
um
quc nem a um
nema
remeter neurose
a
parecem
de
t r a n s t e r ë n c i a )

dirá Freud,
sentido,
n a s n e u r o s e s

Nesse melancolia-
a
paranóia e
(como
de guerra.
precoce,a
neuroses

nas
mostra demonstração
se
como a
demência u m a boa
traumática,
assim
narcisistas, nãosão
neuroses analítica.
todas técnica
nessa época, eficácia da neuróticas
n e m da modalidades

da teoria da libido todas e s s a s


amplamente. entre
No e n t a n t o ,
há um elo enterndida mais
sexualidade, Portanto,
conceito de
libido. A investe o ego.
pelo energia
sexual que
está em
"libido narcisista", o que
inclui a interior do ego,
o conflito o c o r r e no asneuro
quando
mesmo
pode-se pensar que
libidinais. Nessesentido, o medd,
jogo são forças mantêm e n t r e
pela estreita relação que pertinencia
traumáticas,
c o m u nss e de pertini
Susto e a libido narcisista, têm aspectos
narcisistas". umaticis

Com as "neuroses trau


"neuroses
Freud, as "neuroses de guerra" e
as
Para t r a n s t e r e n c i

diferencianm-se das neuroses transtc


paz"
morte

em tempos de de
perigo« N ante o
primeiras são reações
tNN
porque, enquanto as
da libido. No entanto
as segundas fazem trente às frustraço apossibilidadeu
tem em comum "... o temor do ego ante sãoreas
ambas

cxperimentar um dano" (ibid.; p. 2544), ou seja,


eJa,a
, u

"eue "
"ego",
GOsMalia de assinalar que náofoi feita {Te
p u oi s e n i c i t a k

neste livro uma disting ao e


ela qual chc's teTmos serão usados indiscriminadamente. Somente

atagialo no qual Winnico nos localiza a respeito da relg ao


"ego"e "self.
NEUROSE TRAUMÁTICA

47
ante um perigo: as primeiras, ante um
enquanto as segundas, as neuroses perigo que vem de
fora,
ameaça interna, ou seja, ante as transferenciais,
exuberâncias diante de uma
Como vemos, a da libido.
possibilidade
Dara todas as neuroses
de uma única
condição explicativa
mesmo texto, a teoriapermanece distante. Como diz Freud,
libidinal nasce da nesse
transferenciais, no interior dela que
e é clínica das neuroses
insinuando, assim, a necessidade de novos encontra seu sentido,
possam explicar o campo das
neuroses
elementos teóricos que
novos recursos téecnicos no-transferenciais,
que transtormem o sofrimento
bem como
humano.

Além do princípio do
prazer":
para neurose traumática
a
uma
explicação
Otexto "Além do
ano princípio do
depois do anteriormente citadoprazer", publicado em 1920, um
sobre
lança novos elementos para"Simpósio
o das neuroses
de guerra",
funcionamento psíquico, tendo como corolário
a
compreensão do
o novas idéias sobre
trauma, sobre a neurose traumática, sobre a
e compulsão à repetição
a formulação de uma nova dualidade pulsional: as pulsões de
vida e de morte.
Como é possível, indaga Freud nesse texto, conciliar
o
funcionamento do princípio do prazer, até então
do funcionamento psíquico, com princípio regedor
experiências repetitivas
aesprazerosas que reatualizam de forma insistente o acontecimento
traumático?
Oprincípio de realidade que frustra (embora proporcione prazer
Atenuadoe diferido) eo conflito (que faz com que uma instância
nta como desprazerosa o prazer da outra) são dois motivos que
CApicam, parcialmente, por queoprincípio do prazer se frustra, mas
ambém se impõe. Nesse
caso, o desprazer sofrido não é mais do que
Ontrapartida, em um sujeito cindido pelo conflito, do prazer sentido.
COLECAO "CLÍNICA PsIKANALÍTICA"

desprazer

nem
o
c o n s o l o ,

as
48
c o a b i t a r ã o

para tarde
t a m b é m ,
mais como diz
mas c o m o

que,
completo, coabitam,

de forças cm
oprazer Eles campo
f i g u r a - f u n d o ,

Vem possíveis.
um
de
são em
t e r m o s

nem
v i c e - v e r s a ,

Completo
morte, em
e
vida e estruturam
de
desprazer

se um
pulsões (1986), a de
m o r t e .

relação o
pulsão
p a r a que
Oarcia-Roza
em
senão da m o t i v o

prazer
n ã o há fracasse.
e x p e r i ê n c i a
um
também
que vida
s e m a

função)
de é à sua

ha pulsão
excitação
início estável.
de
de dar
m a n t e n h a

e x c e s s o

se
O (além psíquico constâancia
de
princípio
do prazer
do aparelho doþrazere

a energia do
principiO

impedindo
que a falha t r a u m a .

dizer que do avatares


possível economica
os sobre
Por isso é teoria tratado

na
base da verdadeiro

ftuncionamento
psíquico,
encontra-se

1920,
do t e x t o de evidência
No citado das origens t r a u m a , a partir da
e
energéticos
do não parecem
biológicos problemática
que
introduz n a do sujeito
repetidas repete
Por que alguém
Freud n o s
manifestações
sofrimento.
existem
de prazeroso?
de que mas não algo
acompanhadas
de prazer, traumático e
sofrido e
uma
com
a c o n t e c i m e n t o
penoso,
princípio
do prazer
um
um
questiona
Freud,
de forma compulsiva
reitera
Como justificar, que funcionamento reinasse,
serla
de do prazer
Se o princípio
modalidade estar
desprazerosas? atos pudesse
experiências
parte
dos n o s s o s
a maior e n t a n t o ,inumera
que
c o n d u z i r a ele,
no
de se esperar "EXIste
acompanhada
de prazer, ou esse
princípio.
contradizer
vida p a r e c e m do prazer,mas
situações da princípio
tendência aoestados determina de
e f e t i v a m e n t e na
alma forte determinados,
estados
u
tendëncia
forças se opõem sempre
outras
ou este
aos

esta corresponder
final não pode
tal forma que o resultado meu).
(1919-1920 [1920]; p.2508, grifo a vigência
*

princípio". nas quas


as reações do sujeito,
me,
o perigo extern

Freud tenta destrinchar o perigo


claudicar ante roses
do princípio do prazer parece das "neur
problema detine
seu intermédio, no
introduzindo-nos, por s o m b r i o " ,

o tema
"obscuro dr uadro

qua
traumáticas". Embora considere como
um

parte ja
traumáticas, como em
vimos, choue
choge
as neuroses c o m o
g od emont:
mecânica
que surge depois de fortes comoções real þe
existe u m
trens ou outros acidentes, nos quais
NEUROSE T R A U M Á T I C A 49

da diferencia-se
Pelas suas manitestaçoes, aproXIma-se histeria,
mas

do padecimento subjetivo similar aos dos


dela pela intensidade
-

melancólicOs
nelancólicose hipocondnacosepor apresentar duas condições que
a intervençao do fator surpresa e a curiosa diminuição
Ihe são próprias:
neurose quando se produz uma ferida (ibid)°
do desenvolvimento da
Partindo da vesícula, como constructo hipotético da forma viva
mais elementar,
Freud vai incursionar nos primciros estágios de
um modelo a partir do
formacão e preservação da vida e construir
primeiro superfície
sobre o trauma. Fala da
qual scrá possivel teorizar
ia vesícula que, voltada para o nmundo exterior e funcionando como

um órgão receptor
das
excitaçoes externas, vai formando uma crosta
sofrer
que recebe os estimulos externos e dá-lhes passagem sem
inundada pelas
modificações. Essa capa externa, calcinada,
constituindo-se emn
excitações, perde a estrutura própria vivente,
do
contra as excitações". "A capa exterior", dirá
um "dispositivo protetor
morte todas as outras capas mais
Freud, "protege com sua própria
de morte que protege a
profundas", tornando-se assim uma "espécie
não pode ser
vida". No entanto, quando o aumento da excitação
as experiências
contido e atravessa a barreira de proteção, produzem-se
traumáticas. "Aquelas excitações þrocedentes
do exterior que þossuem
são as que denominamos
suficiente energia para atravessar proteção
a
Mediante uma estimulação
raumáticas" (ibid; p. 2521, grifo meu).
e outras formas de ação
muito intensa, o princípio do prazer fracassa,
Serão requeridas para dominaro excesso.
O protótipo do trauma está
nascimento: do nascimento do
aqui localizado na experiência do
do humano. O inanimado
universo, do orgânico, da vesícula viva, tentaráo
ressente-se com a perturbação da vida e compulsivamente

Freud (1920)
mesmo levando enn conta asvicissitudes da distribuiçãoda libido,
NO texto,
"... a ferida simultânea liga
o excesso de
neuroses traumáticas:
cannarà esta idéia não só para as sobrecarga narcisista... perturbações
tão graves
aao aorgo ferido pela intervenção de umasão interrompidas temporarianmente por ua
stribuição da libido, como a melancolia, em seu total
desenvolvimento pode
até dementia precox
dade orgânica concomitante, e a

permertar tais casos uma melhora passageira" (p. 2525).


em
sexual,
de uma única energia, a
FTeud parece afirmar implicitamente a presença
Drl
Produtora
0,
dessas oscilações no psiquismo e corpo.
COLEÇAO "CLÍNICA PSICANALÍNCA"

50
a primeira forca.
Dessa forma, surge
inorgânico. dos excessosS,
retorno à placidez do de toda vida,
tenderá à dissoluç o tendência
instinto que ". uma
oprimeiro Freud,
instinto seria
assim, para
de um estado anterior,
trauma: um que o
do
vivo à reconstrução
própriado orgânico influência de forças exteriores.
abandonar sob a
animado teve de orgânica, ou, se se quer, a
elasticidade
espécie de
(ibid; p. 2525). Sobre esse
uma
perturbadoras;
orgânica"
manifestação da inércia na vida como forma de dominaT
movimento, funda-se
a compuls o à repetição
t r a u m a . O trauma,
sem poder ser
o excesso de excitação
provocado þelo
ao movimento primitivo
de energias, apega-se
processadopelo acúmulo tuncionamento do princípio
ao
anterior e independente
da repetição,
alheio à intenção de evitar o desprazer
do prazer, ficando, portanto,
ou buscaroprazer
do excesso de excitação, "do
Otrauma seria, assim, a conseqüência
defende o órgão anímico contra as
TOmpimento da þroteção que
resultado da liberação de muitaenergia
excitações" (ibid; p. 2522); do
escassas reservas de energia quiescente
livre dentro de um sistema com
na ligação"; e da falha da ação
da defesa e da
(ligadas), do fracasso
angústia- sinal, que deixa o campo livre para o impacto desorganizador
de morte.
da surpresa, do susto e da sensação do perigo
Portanto os destinos repetidos, os sonhos traumáticos, 35
de volta à situação do acidente, t0
brincadeiras que colocam o sujeito
trauma, não são movidos nem pela busca prazer do nem pela evtaglu
do desprazer, mas pela tentativa de dominaT o
estímulo. Trata-se ur
dos

processar psiquicamente as intensidades não descarregadas u


e pela
fixaçao
acontecimentos, que permanecem ocupando, pela
inconclusão, o primeiro plano.

imd
nire
si,a

10. Ligar é limitar o fluxo deenergialivre, é oferecer representagoese


operar conforme regras do processo secundário.
NEURCSE TRAUMATCA 51

do þrazer e
Fxação, repetição, principio
traumática
bulsão de morte na neurose

Otrauma da neurose traumática reaparece no sonho, e o sonho


da ncurose traumática interpela
a teoria. Comoé possível ver nesses

sonhos torturantes, que repetem intermitentemente a cena do


acidente, a realização de um desejo inconsciente?
Talvez, diz Freud, o sonho também tenha sido perturbado pelo
trauma ou, quem sabe, pode estar sendo objeto de tendèncias
masoquistas. O entermo, acrescenta, se encontraria fixado'" às
Cxperiências infantis, assim como se tixa ao trauma.
Laplanche c Pontalis (1968) chamam a atenção para a relação
que o ternmo fixaçao mantem com os prOcessos mnëmicos e assinalam
que Freud entende por aquele conceito uma verdadeira inscrição
de marcas mnêmicas, que deveriam poder "traduzir-se" de um
sistema a outro.
O conceito de fixação enriquece a comprecnsão do trauma. O
tTauma inpede as transcrições; a liquidação das excitações não
acontece, produzindo-se uma sobrevaloração do acontecimento pelo
acúmulo das excitações da vivência. A libido fica presa, soldada,
sem mobilidade, sugada pelo trauma; associada quase que por
nteiro, conscientee inconscientemente à cena traumática. A libido
não flui, nâo se desprende e, portanto, não fica livre na direção de
hovas conexões e investimentos.
A fixação ao trauma, reafirmada
novamente no
"Além do
do
PCplo do prazer", converte-se em um ilustrado exemplo
isterioso funcionamento psíquico que, embora empenhado no
Pder e na constância, se liga ou se fixa paradoxalmente a um
o de funcionar que mantém a repetiç o e o exceSsSO.

LOeto de lixação é antugo na leona. Em seus primeirus teatoo, reud ja lalava de uma
Dur u n a , no aentido de estar ixado à lembrança sdw acotecetnlu Mais Lurdk, e a
C a c rita das "Tiès ensaus ubre a sexualtkate in.aul", rcud relachnuia
b d u : fixuçâo a un nodo epetudo de satsla do, issux Lai di pr a2e , ls veics
aumátiA)
52
CoLEÇÃO "Cl{NICA PsiCANALÍTICA"

Se, por um lado, parece claro que a neurose


traumåtica não
contempla princípio do prazer quando repete a
o
traumatizante que teme, no fica situacãa
promove, que força imporia a igualmente claro que
forca a
esquecê-lo. repetição do trauma em
vez de
Quatro anos antes do texto
"Vários tipos de caráter mencionado, em 1916, no
a descobertos
atenção para certo tipo de atos,
na tarefa artipa
analítica", Freud chamo
à acontecimerntos e desenlaces
semelhança dos sonhos traumáticos, Que
impulsionados pelo princípio do prazer. não
pareciam
e,
analítica, muitas vezes, o CObservava que, na estar
ficando mais paciente resiste
aos situação
obtenção de melhoras e sofrimento, a repetirestorços
propenso ao
o
do
trauma,
médico.
surpreendidos e até gratificações. "Assim, pois, diz do que
médica, descobrimosdesconcertados quando, em Freud, ficamos
precisamente que há também nossa
prática
fundadoe quando se há quem fica
cumprido um doente
pudessem longamente acariciado. E comodesejo profundamente
suportar sua
Na seção "Os felicidade.." se estes
(1916-7 [1917]c; p. não pacientes
mesmo
obedecer a nada
delinqüentes
artigo, Freud ilustra por sentimento de 2416).
ações que não culpa", desse
prazeroso,
conhecidas, pudessem insinuando quepoderiam, principio, a
mereceriam repulsa conduzir o outras torças, men
inicial
do
e
delinqüente cometer atos que
mostra comocastigo. No entanto-e a

princípio do delinqüente,
o
talvez fora do
parece prazer (ao buscar parecendo funcionarproposo
princípio obedecer-lhe.
do E castigo para expiar umadistan
o

nem
sempre
importante sublinhar que culpaIpa),
prazer" faz referência
Com a guarda relação com a um princípio a
incípio econôr expre que a

Freud nos diminuição


diz no ou constância idéia qualitativa econon
qualitativa de pra
de mas
mesmo das tensões. piando
1Z. Mais texto que "oO Portan quando
o tarde, em
vários textose sujeito sofria de umen
sujeito sofri
conceitode"reaçãoterapêurica pe
penoso
ao
tratamento, razão pela
(Laplanche e qual,
especialmente
negaúva' em "O ego« oid"
Pontalis,
nwder
cada vez paraten
tentar (1923), Freud vai
1968; p. 364). que seespera explicar uma das resiste ncias mais acind
esper? uma melhora, tem lugar agravanen
NEUROSE TRAUMÁTICA

53

entimento de culpa de origem desconhecida e, uma vez cometida


afalta concreta, sentia mungada a pressão do mesmo" (ibid: p.
2420. orifo meu), ele fala do êxito do princípio do prazer, com o qual
a nunitiva consciëncia moral obtém prazer e consolo3
Novamente em "Além do princípio do prazer", Freudilustra conm as
brincadeiras infantis outro exemplo do Iracasso do principio do prazer,
na função organizadora do funcionamento psíquico. Como pode,
reitera, conciliar o principio do prazer coma repetição na brincadeira
de uma cena penosa! A pulsão de domínio, o impulso de vingançal" ea
tentativa de elaborar psiquicamemte o acontecimento þoT meio de
ligações
são três motivos que podemexplicar a repetição, sem contudoesclarecer
se obedece ao
princípio do prazer ou a outro princípio.
Embora os exemplos citados, respostas ante o traumático,
possamn
ser a expressão do princípio do prazer", também podem ser sinal
de outros impulsos, como o de domínio,
que parecem se expressar
de forma anterior e
independente do princípio do prazer. E assim
que Freud conclui, não sem certas dúvidas que "... o impulso a
elaborar psiquicamente
algo impressionante, conseguindo
desse

.Freud deixa para a filosofia e a psicologia a possibilidade de definir qualitadvamente as sensações


prazer e desprazere reserva-ou limita-para a psicanálise a relerência econõmica. Desprazer
ard uma instância sabemos que pode significar prazer para uma outra e, portanto, um certo

Eprazer nada argumenta contra a vigência do princípio. O encontro do prazer nem sempre
Pe corTesponder ao princípio, e o não-prazer nem sempre fica fora dele. Embora uma defnçao
Onca do princípio do prazer ganhe em precisão, em termos de um contínuo
CoTresponde a um contínuo numérico (aumento-diminuição), ela perdedesprazer-prae
OUno lembrar que originalmente o princípio foi designado como "princípio do em clareza. E
L o psiquico vem regulado para evitar ou descarregar a tensão desprazer
desprazerosa..
prazer atual, e não a perspectiva do prazer" (Laplanche e Pontalis, amouvagao
1968; p. 5U8).
Cen a cena para dominá-la ou, em outras palavras, a mudança da posição passiva vivua na

dreal, para posição ativa a ser vivida na cena


a

represenada
S O f r e r o que ele sofreu, como no exemplo do jogo do carretel no qual a cnanga,
rabandono da me parece dizer: "Pode ir embora, não preciso de voce, u cu
mesima que te
deixo" (1919
16
|1920]:p. 2512).
Vigativaee ativatamo controle simbslico (pela mudança de posição), seja ponue respondendo
oi ativamentebuscam uma descarga (jogam os brinquedos que representam as pessoas
ouporque atendem à instância
ou às necessidades
superegóica que exige castE certos delinqüentes)
Ou
nos que "fracassam
a uistas do prazer no sofrimento (como na reação terapëutica negativa,
ao
triunfar").
8

9 8& 8
NEUROSE TRAUMÁTICAA

55

nem àrealização do desejo, mas à necessidade


ípio do prazer
princi
primár de controlar o estmulo.Para Freud, a compulsão àà repetição,
resente no trauma e na eurose traumática, segue o movimento da
Prese

ulsão de morte: da redução completa das tensões, do regresso ao


estado
Sta
inorgânico, da não-ligação, do não-prazeroso, do não-sexual.
Pademos pensarque hátraumas que se localizam na ordem da repetição,
e trazem como retorno do recalcado um movimento "progressivo"
na busca da satisfação, do prazer e do desejo, e outros que se localizam
na ordem da compulsão repetitiva, trazendo um movimento "regressivo"
nabusca do retorno a um estado anterior de sossego, desejado e perdido.
Em "Recordar, repetir e elaborar" (l1914a), Freud dirá que opaciente
não lembra coisa alguma do que esqueceu ou recalcou, mas passa a
vivd-lo de novo com o analista. No lugar de representar, o paciente
repete. "Não o reproduz como lembrança, mas como ato; repete sem
saber que o está repetindo" (1914a; p.1684). São as frustrações amorosas,
as cicatrizes narcísicas deixadas pelas humilhações no interior da
contlitiva edípica que se repetem na transterência buscando novos
desenlaces e novos objetos para ligar a libido. Embora muitos dos
Conteúdos da repetiço provoquem mal-estar ao ego, por serem eles
mesmos
presença ou derivados dorecalcado, a repetição traz, tambéém
em si
mesma, o prazer das pulsões. Prazer para uma instânciae desprazer
para outra, sem contradizer o princípio do prazer e ficando a seu serviço.

Ou o
No entanto, na compulsão repetitiva, parece que é o desprazer
prazer de outra ordem", alheio ao
princípio do prazer, que a

nla mostra uma grande preocupação e, ao mesmo tempo, dificuldade em relacionar as


Se OS princípios do funcionamento psíquico. O próprio título do texto de
da essa preocupação. O que está nos contornos 1920jié
do princípio do prazer e oque cola
inchi rabalho, Freud vai falar que o a
essa idéa edida que ambos
"princípio do prazer parece se
enconra4
buscariam a diminuição total das tensões. No entanto,
Inasguiem guando Freud desfaz, em especial no "O problema econômico do
nr mples combinatória pela qual o aumento de excitação equivale ao
,eoprazerà
20.Eint ressante diminuição das excitações, quando reconhece tensões prazerosas.
as
akguns nomen notar que prazer despraz
e razer fazem parte do princípio do prazer e, embora em
viço das aproxime este princípio à pulsão de morte, concluirá que ele está a
pulsöes de vida: "op
oprincfpio do prazer representa aaspiração da libido'" (1924b; p. 2755)
56 COLEÇÃO "CLÍNICA PsiCANALÍiCA"

motiva, "... conhecemos, diz Freud, indivíduos nos quais toda relação
humana chega a igual desenlace: filantropos aos quais todos os seus
protegidos, por diferente que seja seu caráter, abandonam
irremediavelmente com enfado depois de um certo tempo, parecendo
assim destinados a saborear todas as amarguras da ingratidão; homens
para os quais toda amizade acaba com a traição do amigo, pessoas
que repetem várias vezes na vida o fato de elevar alguém como
autoridade acima de si mesmas, ou publicamernte, a outra
pessoa,
para depois de algum tempo derrocá-las, elegendo outra em seu
amantes cuja relação com as mulheres
lugar
passa sempre pelas mesmas
fases chega ao mesmo desenlace" (1920; p. 2516). Com esses
e

exemplos, Freud aponta para essa outra repetição que, sem obedecer
ao
princípio do prazer, mas a serviço de uma "influência demoníaca"
se expressa de maneira desprazerosa, conservadora e
Na instalação do trauma, a compulsiva.
caminho da representação, daexcitação que deveria ter tomadoo
ligaço, ficou presa no circuito
incessante das excitações sem torma. Por isso
faz sentire atua. O que ele repete não é uma o trauma não fala, se
uma
percepção sem palavra. representação,
mas

Como vimos, o trauma


coloca em
questão a hegemonia do
princípio do prazer. A dor e o
alame para se constituírem sofrimento deixam de ser um mero sinal k
num fim em si
para sofrer em nome do
mesmos. O sujeito repete
ainda ser pensado sobsuperego, do masoquismo moral
a ação do (que poaenu
sofrendo atraído pela princípio do prazer), ou reptc
Em "O excitação sexual fundada na dor
problema econômico do
tenta explicar a
tendência a persistir na masoquismo"
dor,
(1924), F
pelo fenômeno do no sofrimento, t
no
masoquismo.
No trabalho de
1924, Freud
primeiro tempo inicial e localiza em um

extema.
o
masoquislida
anterior à ação da libido sobre a
Distingue nesse texto três formas de mas engem
ofeminino e omoral. O mo: o
icase

constitucionais) primeiro (explicado por causas bi


por cau
oferece elho
fixação. A segunda forma,condição
a

o
do do
do prazer
prazer na dor, ou melho
na aoenomin
(denomin
masoquismo femirinino
N E U R O S E T R A U M Á T I C A
57

características da feminilidade: ser castrado,


apresentar
ssim por fantasias que mais tarde se
ou parit,e por despertar
o coito
suportar
plasticamente
em cenas perversas: amordaçado, ser
expressessarão ou sofrendo qualquer outro tipo de maus
niatado, golpeado,.
nania humilhações). Eo masoquismomoral (embora Freud diga
tratos e

uma elação menor coma xualidade21) apresenta


que apresenta do
claras principio do prazer pela satisfação
com o
relações mais necessidade de castigo. Na
inconsciente de culpa ou da
sentimento se
terapêutica, Freud diz que esse tipo de masoquismo
situação severas ao tratamento,
uma das resistëncias mais
apresenta como piora:
melhora se produz uma
se espera uma
pela qual cada vez que sentimento inconsciente de culpa
"Aquelas que o
pessoas em
delatam na análise com
entranha uma intensidade predominanteo
de tão ingrato prognóstico.Quando
a reação terapêutica negativa, de um sintoma para a qual deveria
Ihes comunicamos a solução
do sintoma,
Seguir desaparição, pelo menos temporal
uma
do sintoma e da
observamos, pelo contrário, uma intensificação
doença" (1932 [1933]; p. 3163). Com essa observação, reud quer
moral
mostrar como o sofrimento satisfaz a culpa. O masoquismo
rigoroso,
alude às relações de ego submetido a um superego
um
o sentimento
despótico, vigiante e punitivo. Embora Freud fale que
e culpa corresponde a um "retorno do sadismo contra a prôpria
da subjugaçao
pessoa, que se apresenta regularmente em ocasio
é
ral dos instintos" (1924b; p. 2758), ele diz também que possIvel veicule
d que seja só o superego (pela consciência moral) que
d dgressão e a oriente depois contra o ego. Pode ser, acrescenta,
e n0 1u
n a parte dessa agressão desenvolva sua ação no ego
Omo pulsão de destruição independente da ação da instäncia

21.Einter alar que, quando Freud diz que este fenomeno teni uma relaçao menor
id duas pulsões se
combinam
alidade, está insinuando diferentes em que as

destacando, assim, de
prop da pulsão de
Essa morte.

Vincula maneira mais pulsional pela qual Freud entende que ".os instintos
ln à idéia intrincamento centuada, o componente
de
agre.sio não eróticos" (Conferência
XX
aparecem nunca
193211933).p.3163). mas em relaçãocom os
speregóica. Nesse caso, a agressão masoxquista procederia da pulsão
de morte e
corresponderia a uma parte dessa pulsão que "eludiu
serprojetada parao mundo cxterior" impedindo-se de usar, na
Vida, parte de seus componentes pulsionais destrutivos e
intensificando, assim, o sadismo contra o ego, ou seja,
masoquismo. "O sadismo do superego e o masoquismo do ego se
complementam mutuamente e se unem para provOcar as mesmas
conseqüências" (ibid; p. 2758). O masoquismo moral, pela
participação que tem tanto o componente libidinal como o
destrutivo, é testemunho da mistura ou fuso das pulsões, pelo0
que a
destruição do sujeito por si próprio não tem eteito sem um
componente erótico.
E interessante lembrar
que Freud atribui à pulsão de morte uma
energia que não é a energia sexual e que, embora considere quea
libido insatisfeita, que busca a
Os
realização do desejo, que determina
processos inconscientes, tais como o sintoma, os atos talhos, os
sonhos, também é possível considerar que é a ntensidade da
e não sóo
excitação
desejo que ativa os processos. Isso justificaria pensar em
sonhos que, obedecendo ao excesso de uma
estar determinados pelo desejo, mas também sobrecarga, podem
pelo trauma.
Noquarto capítulo de "Além do princípio do prazer", de cunho
especulativo, como o próprio Freud nos comunica, encontrams
importantes referências sobre o conceito de trauma e o
neurose traumática tena
como eixo dessas reflexões.
Com exploração acerca do arcaico, Freud tenta entender
a
está na
origem da vida da matéria animada, mas também origetl na
da compulsão à repetição e na origem do trauma. Se o di ropósito

artigo era interrogar, à luz das pro rilas

experiências humanas
desprazerOsas, sobre os limites do princípiodo prazer, Freud en
na
compulsão à repetição e no trauma, algumas u
teorizado no "Além do respO in dinimi

princípio do prazer" questiona


22.Carecemos de termo análogo à libido para designar a energ
(1938;p.3382).
59

orientada
basicamente pelo princípio de constância, pelo
inconsciente.
quica do prazer"epelo desejo
bsidiário princípio
s e us u b s i a

traumaea
Nascimento: matnz
do a

onginal da angústia
experiencia

traumáticas são a matéria-prima dos


marcas
As primeiras nesses recalques, a força
(recalque originário) e,
primeiros recalques traumas convergem.
da filogênese e dos primeiros protóipo
momento do nascimento situação
a
Otto Rank coloca no necessidades de
do trauma. O bebê, ante às
da reação de angústia e
extraordinárias de excitação provenientes
ter de dominar quantidades
reage com intensa
do indiscriminado exterior e interior organismo,
do
de um valor inestimável
angústia. Embora Freud carregue esta situação
individual lque] parece
Como ".. aprimeira experiência angustiosa
caracterisicos
prestado à expressão do afeto da angústia traços
naver de
1925 [1926) p. 2837), não considera que, em toda situação
se reproduza algo equivalente à angústia
do nascimento,
angustia,
relativizando, até mesmo, seu impacto.

rico quanto contus0. Freud nunca


Pncpio do prazer é um dos termos da psicanálise tão a uma manutenga0
se o que denomina com este princípio corresponde
da c almente
Sancla do nível energético, a um funcionamento com o nível o mais baixo pssiveL, u
a uma dimin total das tensões. Embora em vários textos o princípio do prazer e o de

COnstancia sejam equivalentes-- e neste texto o uilizei dessa torma-, em "Além do pnncipio
do praer, uget de cOnst.incla, eTJuliko
u e o primeiro se encontra emoposição princípiotluxo livre.
ao
e'ste Cov
desl
A parar
de energia ligadae princípiodo
ao
prazer
uxO o
total das
restar ao princípio doprazer
atendència a descarga
uma

erisóes, FTeud
ee
pud seg u ncce
r t a se o princípio do prazer náo estaria a serviço da pulsao ue morte,

Daldo sh descargas, ou seja, atistação pelos caminhas No


mais curtos.
entanto, se L o
tusse

ao claro, tecessidade
a satistaçao Pe
a
lendese taunben à "supresslo
de Oduzir
ensöes das ex i introduz princípio que
nesse textoum
E,
seria justiticako. lals

altnda, se issoe s internas", como princípio do nirvana, não


o

AMIO fusse a
tão claro,
l v e z nem seria necessário postular
umapuls.iode
niorte queterld

Atrbuos essenciais princípiodo prazer


conoanio-ligaço, ou

cdução das lensóes acaracterístic


caraclens as próprias do
påra, nau se organlza
ou

C0.nde há trauma, o princípio do praer


2
CSa,o autisn
poderia ser um xemplo.

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