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A Impessoalidade Como Finalidade ou Interesse Público

A Impessoalidade Como Igualdade ou Isonomia

A Impessoalidade Como Imparcialidade

Ligações Externas

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Princípio da impessoalidade
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O Princípio da Impessoalidade é um dos princípios pelos quais se rege o


Direito Administrativo brasileiro. Em sua essência, diz respeito à necessidade
do Estado agir de modo imparcial perante terceiros, não podendo beneficiar
nem causar danos a pessoas específicas, mas sempre visando atingir à
comunidade ou um grupo amplo de cidadãos. Além disso, se vincula ao
entendimento de que os atos dos funcionários públicos são sempre imputados
ao órgão para o qual oficiam, de forma que o ato de um agente é na verdade o
ato de um órgão.

Conceito
O Direito Administrativo é um ramo do direito público, o qual tem como
finalidade garantir a satisfação do interesse coletivo. Desta forma, é concedido
aos agentes, órgãos e pessoas administrativas, que integram a Administração
Pública, certas prerrogativas que os permitem intervir sobre a autonomia da
vontade do particular, limitando a sua liberdade. Todavia, os administrados
também são dotados de direitos que impedem ações arbitrárias cometidas pela
autoridade administrativa. Desta maneira, os princípios constitucionais que
norteiam o Direito Administrativo possuem o papel fundamental de estabelecer
o equilíbrio entre a autoridade administrativa e a liberdade e autonomia que são
inerentes aos administrados.
A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu art. 37, caput, traz consigo
alguns princípios que norteiam a Administração Pública direta e indireta. São
eles: o da legalidade, da impessoalidade, da moralidade administrativa, da
publicidade e o da eficiência. O princípio da impessoalidade pode ser analisado
por dois pontos de vista: um voltado para a própria Administração e outro tendo
como foco a relação dos administrados com a própria Administração, tendo o
princípio, segundo a doutrinadora Daiane Garcias Barreto, o objetivo de “coibir
a prática de atos que visem a atingir fins pessoais, impondo, assim, a
observância das finalidades públicas”[1][2].
Referente ao primeiro sentido supracitado, o princípio estaria ligado ao dever
do Estado de agir imparcialmente. Desta forma, os agentes públicos no
exercício de sua profissão deverão sempre visar a finalidade pública que
norteia a sua atividade, não podendo atuar para beneficiar ou prejudicar
pessoas determinadas, visto que ele está a serviço do interesse coletivo.
Agindo de tal forma, estará cometendo o crime de abuso de poder no exercício
da função.
O segundo sentido diz respeito a sobre quem recairá a imputabilidade dos atos
administrativos realizados, de forma que esses serão imputáveis sobre o órgão
ou entidade administrativa da Administração Pública e não sobre o funcionário
que os realiza, sendo ele apenas o personagem que manifesta a vontade do
Estado. Desta forma, é vedada a promoção pessoal de agentes ou
autoridades, tendo em vista que estes não estão agindo em nome próprio, mas
sim em nome do Estado.

Panorama Histórico
Apresenta o princípio da impessoalidade certa particularidade em relação aos
demais constitucionalmente enunciados, por trazer em seu nome a
possibilidade de compreensão de uma variedade de ideias contíguas a outros
princípios e noções de Direito, unificados como princípio da Administração
Pública, pela primeira vez, com a Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 (CF/88)[3].
Assim sendo, não há nos textos constitucionais que já vigoraram no país,
desde sua instituição como República, referência literal a esse princípio. Sua
positivação em 1988, contudo, não se trata de mero acaso de inovação ou
neologismo impróprio para tratar de matéria já consolidada. Pode ser entendido
como explicitação conjunta de ideias contidas nos princípios da isonomia e da
finalidade[4] – intrinsecamente ligados a pressupostos de um Estado de direito e
democrático, bem como a seus parâmetros essenciais de legalidade e
interesse público -, além de contemplar, também, a concepção que a Teoria do
Órgão traz à imputação dos atos da Administração Pública[5].
A partir da expressa previsão no art. 37, caput da CF/88, o princípio da
impessoalidade fez-se também presente constitucionalmente na vedação de
identificação que caracterize promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos quando da publicidade das práticas dos órgãos públicos (art. 37, §1º),
ou mesmo na previsão de igualdade de condições de concorrência no processo
de licitação (art. 37, XXI).
Princípio constitucional que é, seus desdobramentos infraconstitucionais são
sistêmicos. Pode-se exemplificar, entretanto, sua determinação implícita de
objetividade e vedação de promoção pessoal no art. 2º, parágrafo único, da Lei
nº 9784/99[6] - que versa sobre o processo administrativo no âmbito da
administração pública federal -, bem como nos seus artigos 18 a 21, ao tratar
dos casos de impedimento e suspeição. Nos casos do art. 150, caput, da Lei
8112/1990[7] – sobre processo disciplinar contra servidores públicos – e art. 11,
caput, da Lei 8429/1992[8] – improbidade administrativa -, aparece como
mandamento de imparcialidade.
Quanto à manifestação indireta em textos constitucionais anteriores, a ideia de
igualdade de tratamento – isonomia - presente no princípio da impessoalidade
enquanto impossibilidade de diferenciações injustificáveis a favor ou desfavor
de alguém, aparece já no texto da Constituição da República dos Estados
Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891[9]), enquanto Declaração de
Direitos, no art. 72, §2º - “Todos são iguaes perante a lei” -, bem como aparece
enquanto legalidade, necessária à igualdade formal de tratamento, no mesmo
artigo, §1º - “Ninguem póde ser obrigado a fazer, ou deixar fazer alguma cousa,
senão em virtude de lei”. Nesse mesmo sentido, repete-se em enunciados
semelhantes na Constituição de 1934[10], como direitos e garantias individuais,
no art. 113, 1) – “Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem
distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos
pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas.” - e 2) –
“Ninguém será obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa, senão em
virtude de lei.”; na Constituição de 1946[11], enquanto direitos e garantias
individuais, art. 141, §1º - Todos são iguais perante a lei – e §2º - Ninguém
pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei. Na Constituição de 1967[12], no art. 150, §1º - Todos são iguais perante a lei,
sem distinção, de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. O
preconceito de raça será punido pela lei – e §2º - Ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Com o elenco de previsões constitucionais anteriores que retomam parte do
conteúdo do princípio da impessoalidade – em suas manifestações de
isonomia e legalidade – desde a instituição do Brasil como República, fica
evidente sua alocação nos textos junto a direitos e garantias individuais e, mais
anteriormente, junto a direitos declarados. Daí se depreende a nítida
inspiração, mormente no substrato ideológico fundamentador, na Declaração
de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 em que se lê no art. 1º “Os
homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só
podem fundamentar-se na utilidade comum”.
Mais ainda, essas expressões de conteúdo principiológico, hoje consolidadas
como partes integrantes da impessoalidade constitucional na Administração
Pública, têm suas raízes no processo de formação do Estado moderno e de
seus paradigmas[13]. São raízes que remetem à formação do constitucionalismo
clássico no Ocidente[14]. Nas palavras de Oliveira Baracho[15], esse
constitucionalismo “[...] designa as instituições e os princípios adotados pela
maioria dos Estados a partir dos fins do século XVIII, através de um governo
constitucional, em oposição ao que domina de absoluto. ” (BARACHO, 1986). É
a partir desse movimento de declaração de direitos e organização da
administração do Estado, com expressão codificada primeira na Constituição
francesa de 1791, que se busca uma racionalização das atividades de governo,
sua limitação por uma estrutura jurídico-normativa que busque submeter o
poder político a certos parâmetros previsíveis. Parâmetros esses, legitimados
por serem vontade legislativa e expressão racional derivada de uma
representação da soberania que se clama popular, voltada ao interesse
comum, não personificado.
Tem-se então que a impessoalidade administrativa, enquanto noção que
compreende os pressupostos de isonomia, legalidade e imputação não
personalista dos atos da administração pública, está intimamente ligada à
consolidação formal do Estado de Direito[16]. Objetiva-se assim, o rompimento
com um estado de coisas anterior, o absolutismo, em que o exercício do poder
governamental fazia-se pleno na figura personificada do rei, e portanto,
centrado em um único soberano, sujeito a critérios arbitrários derivados de
vontade e interesses específicos, não generalizáveis como interesse comum
dos governados.
Em contraposição, a Revolução Francesa e a Constituição que dela resultou,
bem como a ideia de Estado nacional, concebem a soberania como instituto
indivisível e inalienável no exercício do governo, e que tem sua titularidade no
poder político que deriva da nação, da vinculação a uma necessária
representação social. São imperativos que condicionam o exercício do poder
governamental e o dividem funcionalmente em busca de uma sistematização
racional do Estado, voltado ao interesse comum e exercido por seus órgãos,
não sujeitos em nome próprio.
Assim, em direito codificado, formal, não só estrutura-se o Estado e a divisão
de suas atividades, mas declaram-se direitos inerentes à condição humana,
preexistentes e reconhecidos como direitos individuais fundamentais,
fundadores da finalidade do Estado de Direito. São esses os direitos que hoje
convenciona-se chamar como de primeira geração e derivados de um Estado
liberal de Direito, com escopo de limitar o campo de atuação do Estado e
garantir aos indivíduos uma reserva de liberdade e igualdade formal que lhes
seria intrínseca. São a manifestação nos Estados de Direito do que veio a ser
formalmente universalizado pelo constitucionalismo moderno enquanto
valorações da liberdade natural ao ser humano e suas expressões em
igualdade jurídica, necessária reserva legal de seus direitos e dos limites da
atividade do Estado, bem como, em consequência que ainda hoje perdura
como princípio, da impessoalidade do Estado no exercício de suas atividades e
no tratamento para com aqueles de que decorre sua soberania.

Fundamentos
O Princípio da Impessoalidade tem como fundamento o Estado Democrático de
Direito, uma vez que sua existência representa o ideal de justiça comum, sem
privilégios, elevando a coisa pública sobre a privada. Este princípio se
consagra como um dos fundamentos implícitos da Constituição Federal de
1988, podendo ser notado em seu preâmbulo: “[...] Estado Democrático,
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social [...]”.[17]

Pressupostos
O Princípio da Impessoalidade pode partir de dois pressupostos:

• impessoalidade relativa aos administrados: a Administração só poderá


praticar os atos impessoais se tais atos vão propiciar o bem comum (a
coletividade). A explicação para a impessoalidade pode ser buscada no
próprio texto Constitucional, por exemplo, de acordo com o art. 100 da CF,
“à exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos
pela Fazenda [...] far-se-ão na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios [...]”. Não se pode pagar fora desta ordem, pois, do contrário, a
Administração Pública estaria praticando ato de impessoalidade;
• impessoalidade relativa à Administração: os atos impessoais se originam
da Administração, não importando quem os tenha praticado. Este princípio
deve ser entendido para excluir a promoção pessoal de autoridade ou
serviços públicos sobre suas relações administrativas no exercício de fato,
pois os atos são dos órgãos e não dos agentes públicos[18].

Sinônimos
O princípio da impessoalidade não é consensual na doutrina brasileira, de
modo que diversos pensadores enxergam-no sob diferentes óticas, as quais,
para fins didáticos, podem ser expostas por meio dos sinônimos de
impessoalidade de acordo com os variados pontos de vista.
A Impessoalidade Como Finalidade ou Interesse Público
Segundo esse ponto de vista, os atos administrativos devem ser impessoais
por buscarem a realização daquilo que é de interesse da população, e não os
interesses pessoais de quem executa a ação. É por isso que Paulo Alberto
Pasqualini[19] refere-se a ele como uma "decorrência do princípio da utilidade
pública". Hely Lopes Meirelles[20] cita a Constituição como base de tal
compreensão, determinando que "referido na Constituição de 1988 (art. 4°,
caput) nada mais é do que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o fim legal.(....) E a finalidade
sempre terá um objetivo certo e inafastável: o interesse público."
Tendo em vista as opiniões de diversos estudiosos sobre o tema, Lívia Maria
Armetano Koenigstein Zago[21] explica que sob a ótica da finalidade, o princípio
tem também a função de impor condutas e garantir direitos ao trazer a
possibilidade de transparência, eficiência, igualdade, objetividade e
responsabilidade.
Dessa forma, a impessoalidade opõe-se ao subjetivismo, à arbitrariedade,
perseguições ou privilégios. Sendo as ações administrativas fundamentadas no
interesse público, o princípio garante basicamente a neutralidade e a
objetividade, de modo a importar menos quem as executa.
A Impessoalidade Como Igualdade ou Isonomia
O princípio da impessoalidade também é visto como uma decorrência da
igualdade, de modo que Adilson Abreu Dallari refere-se ao mesmo como uma
"transmutação" do princípio da igualdade para a Administração.
Partindo da constatação de que não deve a Administração mover-se para
atender a interesses particulares, atender regalias, favoritismos, ideologias
políticas ou interesses sectários, Celso Antônio Bandeira de Mello[22] também
enxerga na impessoalidade a Igualdade ou Isonomia, citando a frase
constitucional "todos são iguais perante a lei", presente no caput do artigo 5º da
Constituição de 1998.
A Impessoalidade Como Imparcialidade
Embora muitos autores defendam a tese de que impessoalidade é sinônimo de
igualdade, o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda cita a impessoalidade
como sinônimo de imparcialidade:"Impessoalidade é, por conseguinte,
imparcialidade, qualidade de ser imparcial, de 'julgamento desapaixonado, que
não sacrifica a sua opinião à própria conveniência, nem às de outrem".
Juarez de Freitas[23] afirma, por sua vez, que o princípio da imparcialidade é
sinônimo do que o constituinte preferiu citar (impessoalidade) e deriva do
principio geral da igualdade. As principais características, segundo o mesmo,
seriam a objetividade no atendimento ao interesse geral e a vedação da
promoção pessoal dos agentes ou autoridades.
Nessa perspectiva, destaca-se a característica do princípio de garantir que o
aparato Estatal não seja usado em benefício próprio ou a outrem por razões
puramente subjetivas. Destaca-se também, nessa perspectiva, a necessidade
de agir objetivamente para que seja alcançado o Bem Comum.

Ligações Externas
É importante lembrar que os princípios se constituem mutuamente e não se
excluem. Eles possuem uma função programática, na qual fornecem as
diretrizes situadas no ápice do sistema, delimitando a atuação dos
administradores e dizendo as práticas que devem ser seguidas pela
Administração Pública.[24]
Os princípios constitucionais apresentam-se cada vez mais interligados, e
possuem uma linha divisória tênue entre si, podendo-se dizer que têm uma
continuidade em relação uns aos outros.
Visto isso, não se pode alegar que o Princípio da Impessoalidade significa
apenas que o administrador público deva comportar-se de modo a atender a
finalidade pública que é materializada pelo interesse público, mas deve levar
em consideração, também, todos os fatores que se relacionam de certa
maneira com esse princípio.
Assim sendo, os temas que têm ligação com esse princípio são:

• Princípio da Finalidade
Esses dois princípios estão intimamente ligados e muitos autores dizem que a
ideia central de ambos é a mesma. Isso se dá porque o princípio da finalidade
veda a prática de ato administrativo sem interesse, ou seja, o dever de buscar
a finalidade pública faz com que o administrador seja impedido de alcançar
outro objetivo ou de se comportar em favor de interesses próprios, fazendo
com que ele aja, automaticamente, com impessoalidade.[25]

• Princípio da Legalidade
Eles se relacionam já que, à medida em que a Administração Pública atende a
generalidade e abstração da lei, ela deve obedecer a uma ordem impessoal
também.

• Princípio da Isonomia
Esse é outro princípio que se tem profunda relação com o tema em questão, já
que a realização da igualdade implica que o ato seja conduzido com
impessoalidade. Os dois, conjuntamente, vedam qualquer discriminação ilícita
e atentatória à dignidade da pessoa humana, bem como tratamento isonômico
a todos os administradores.

• Princípio da Moralidade
Esse princípio diz que os atos da administração devem estar verdadeiramente
adequados à moralidade administrativa, observando padrões éticos de
conteúdo. Ora, quando a administrador toma decisões sem beneficiar ninguém
em especial, levando em conta o interesse da sociedade e não o seu próprio
ou de terceiros, ele está agindo, diretamente, de modo imparcial.

• Interesse Público
Não há dúvida quanto à relação entre o princípio da impessoalidade e o
interesse público, visto que os atos da administração pública devem sempre
ser voltados a atender o interesse da população, da coletividade, garantindo
assim a vedação de qualquer tipo de parcialidade.

Exceções Cabíveis
Ao adotar a visão binária de Maria Sylvia Zanella de Pietro[5] sobre o princípio
em questão, determinando que este possui o sentido primeiro de que a
Administração Pública não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar
pessoas determinadas e, em um segundo sentido, de que os atos realizados
por funcionários são imputáveis ao órgão ou entidade administrativa ao qual
pertencem, pode-se perceber algumas exceções cabíveis a ambos os
sentidos.
Quanto ao primeiro sentido, pode-se citar como exceção primeiramente os
cargos em comissão ou comissionados, dispostos no artigo 37, II, da
Constituição Federal de 1988. Estes se referem às contratações realizadas em
caráter provisório, sem a realização de concurso público, de pessoas de
confiança da autoridade contratante.[26]
De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello (2010, p. 305-306)[27], os
cargos comissionados são “aqueles vocacionados para serem ocupados em
caráter transitório por pessoa de confiança da autoridade competente para
preenchê-los”.
Dessa forma, estas pessoas contratadas em caráter comissionado são
beneficiadas, mesmo que temporariamente, pelas autoridades que as
contratam por não o serem pelo mérito de ter conseguido uma boa colocação
em uma prova de aptidão, mas pelo relacionamento de confiança que
possuírem com o servidor competente para sua admissão.
Esse tipo de disposição legal fere o Princípio da Impessoalidade, pois o
indivíduo é admitido pela sua relação de confiança com a autoridade
contratante, impossibilitando outras pessoas de concorrerem à vaga por meio
de concurso público, a via de regra nos casos de contratação na Administração
Pública, beneficiando, assim, pessoas determinadas em prol do restante da
população.
Partindo do segundo sentido adotado por Di Pietro, de que todos os atos
realizados por funcionários e servidores da Administração Pública devem ser
imputados ao órgão ou entidade ao qual pertencem, podemos citar uma
exceção importante. Ao adotar essa perspectiva, entende-se que o Estado tem
a responsabilidade de responder pelos danos causados por ações de seus
funcionários, pelo fato de que os atos destes são imputados àquele.
Quanto à responsabilidade estatal, tem-se duas vertentes: a responsabilidade
objetiva e a subjetiva[28]. Tem-se a responsabilidade objetiva do Estado quando
não é necessário comprovar dolo ou culpa do ato causador de dano a terceiro
para haver a responsabilidade de reparação. Esse tipo de responsabilidade
somente se dá nos casos de atos comissivos do Estado, isto é, quando realiza
determinada ação, como sujeito ativo, que acaba causando danos a terceiros.
É o que está disposto no artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988. Já no
caso de responsabilidade subjetiva, há o dever de se comprovar que houve
dolo ou culpa para haver a responsabilização do Estado, pois ocorre uma
omissão estatal, geradora de danos a terceiros. Para que haja a
responsabilidade nesse caso é necessário a comprovação de que o Estado
tinha o dever de agir e não o fez.
O artigo 37, § 6º primeiramente trata da responsabilidade objetiva, na qual
apenas o nexo causal entre o ato do agente público e o dano causado a
terceiro é o suficiente para a reparação do dano. A segunda parte do artigo
refere-se à responsabilidade subjetiva do agente público perante à
Administração Pública, de forma que esta necessita comprovar que houve dolo
ou culpa por parte do agente para ter o direito de regresso em relação ao dano
que teve que ressarcir.[29]
Quanto à interpretação desse artigo em relação à responsabilidade subjetiva
do agente público, existem duas teorias[30][31]. A primeira, defendida pelo STF em
seus julgados, entende que o terceiro afetado só pode acionar o Estado para
ressarcimento do dano sofrido, não podendo responsabilizar o agente pelo fato,
sendo esta uma prerrogativa única do Estado, caso seja condenado.
A segunda teoria foi adotada pelo STJ[32] e é defendida pela doutrina majoritária.
Defende esta que o terceiro pode ajuizar ação contra o Estado, contra o Estado
e contra o agente de forma solidária ou então contra o próprio agente, sem a
participação do Estado no polo passivo. Cabe ao terceiro a escolha de como
proporá a ação indenizatória, podendo optar por um processo mais rápido,
contudo com a necessidade de comprovação de dolo ou culpa pelo agente ao
acioná-lo ou propor contra o Estado, situação na qual não terá que comprovar
dolo ou culpa, contudo terá um processo mais moroso e de execução não tão
simplificada.
A primeira teoria, adotada pelo STF[33][34], não fere o Princípio da
Impessoalidade, pois o Estado responde pelos atos de seus funcionários,
podendo ou não entrar com ação regressiva contra o servidor, caso perca a
ação em relação ao terceiro, sendo assim uma faculdade sua. Já a segunda
teoria, especificamente nos casos em que o agente se coloca no polo passivo
da ação indenizatória, promove uma ofensa ao Princípio da Impessoalidade,
pois o ato, mesmo que cometido pelo agente em questão, não foi imputado
como sendo um ato do Estado, como é a regra do Princípio.
Apesar de o STJ e a doutrina majoritária defenderem a segunda doutrina, o
STF já decidiu por diversas vezes adotando a primeira, de forma que pacificou
a questão quanto a esse tema. Contudo é importante tal discussão, pois ainda
hoje é entendido por juristas de grande nome como sendo a regra a faculdade
de escolha do terceiro afetado, ferindo o Princípio da Impessoalidade ao fazê-
lo.
Referências
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Edijur. São Paulo. 2012.
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em: https://deyvsonhumberto.jusbrasil.com.br/artigos/324050024/o-principio-da-
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< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8112cons.htm>. Acesso em: 20 maio
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e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm>. Acesso em: 20 maio 2017.
9. ↑ BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de
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10. ↑ BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho
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11. ↑ BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 18 de
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12. ↑ BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em:
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13. ↑ Ferraz Júnior, Tércio (1994). Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão,
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14. ↑ Bonavides, Paulo (2006). Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros.
pp. 563, 564
15. ↑ BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral do Constitucionalismo, Revista
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p.13.
16. ↑ Horta, José Luiz (2010). História do Estado de Direito. São Paulo: Alameda Casa
Editorial
17. ↑ BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:
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18. ↑ LONGOBARDI, Nathália Bruna. Princípios da administração pública. Disponível
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<http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=3372&idAreaSel=1&seeA
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juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12619>. Acesso em
maio 2017.
29. ↑ DUARTE, Guido Arrien. O direito de regresso da Administração Pública em face
do agente público causador do dano. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 14 nov. 2014.
Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.50625&seo=1>. Acesso em:
19 maio 2017.
30. ↑ Em caso de responsabilidade civil do Estado, a vítima poderá propor a ação
diretamente contra o servidor causador do dano?. Dizer o Direito. Disponível em:
<http://www.dizerodireito.com.br/2014/01/em-caso-de-responsabilidade-civil-
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31. ↑ SILVA, Camilo. STF X STJ: Responsabilidade civil e possibilidade de ajuizamento
“per saltum” de ação de indenização diretamente contra o agente público culpado.
Disponível em: <jus.com.br/artigos/50412>. Acesso em: 23 maio 2017.
32. ↑ BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.325.862/PR. Relator:
SALOMÃO, Luís Felipe. Publicado no DJe de 10/12/13. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24807632/recurso-especial-resp-
1325862-pr-2011-0252719-0-stj/inteiro-teor-24807633?ref=juris-tabs>. Acesso em
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33. ↑ BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 720.275/SC. Relator:
TOFFOLI, Dias. Publicado no DJe de 04/02/13. Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23511403/recurso-extraordinario-re-
720275-sc-stf>. Acesso em 23 maio 2017.
34. ↑ BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 327.904/SP. Relator:
BRITTO, Carlos. Publicado no DJ de 08/09/06. Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/759916/recurso-extraordinario-re-
327904-sp>. Disponível em 23 maio 2017.

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