Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 - INTRODUÇÃO
A presença da literatura infantil nas práticas escolares nos parece ser algo muito
obvio, no entanto, esse fato não garante que o seu uso seja adequado ou satisfatório à
ponto de possibilitar ou estimular o desenvolvimento da criança.
Com base na análise de dois vídeos sobre o trabalho com literatura infantil na sala
de aula, esse artigo tem o objetivo pontuar alguns motivos pelos quais os professores
deveriam trabalham mais amplamente com a literatura na sala de aula, e o quão é
importante o papel mediador do professor para a criança no seu desenvolvimento literário.
Este artigo discorre em uma metodologia a partir de uma pesquisa explicativa com
abordagem qualitativa tendo como instrumento de pesquisa dois vídeos sobre o projeto
Alfaletrar concebido pela professor Magda Soares da universidade Federal de Minas
Gerais: Alfaletrar - Biblioteca escolar e literatura e Mediação leitura (do conto
chapeuzinho amarelo). Os sujeitos para essa pesquisa foram alguns alunos e professores
presentes no vídeo que participaram do projeto.
As bases teóricas dessa análise fundamentam-se em autores como Amarilha
(1991), Soares (1998), Ferreiro (2001) Bines (2020) e Solé (1998) que trazem algumas
reflexões e discorrem sobre o trabalho com a literatura infantil na sala de aula.
Mesmo tendo esse relevante papel social para a infância, a literatura na sala de
aula dificilmente cumpre essa função. Segundo Magda Soares no vídeo Alfaletrar -
Biblioteca escolar e literatura, a criança possui um grande interesse na literatura
principalmente quando se refere aos livros de literatura infantil que lhes motiva aprender
a ler e escrever justamente para lê-los, porém, esse desejo é frustrado quando o educador
nega o livro a criança afirmando que ela só poder ter contato físico com o livro quando
aprender a ler. Na concepção de Magda essa atitude é negativa pois a criança precisa
aprender lendo.
A sugestão de que a criança só deve ter contato com o livro físico quando
aprender a ler advém da concepção de que função o livro ocupa na sala de aula.
Infelizmente muitos educadores não reconhecem a importância do contato da criança com
a literatura escrita e oral desde cedo. Sobre isso Soares (1998) diz:
[...] a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los,
brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material
escrito e percebe seu uso e função, essa criança ainda é “analfabeta” porque
ainda não aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento,
já é, de certa forma, letrada. (SOARES, 1998, p. 24)
Percebemos que não é preciso esperar que a criança seja alfabetizada para entrar
em contanto com a literatura, na verdade para o processo de alfabetização e letramento
como sugere o próprio título do projeto de Magda Soares (alfaletrar), a apropriação do
sistema de escrita e a inserção nas práticas de leitura e escrita devem acontecer de forma
simultânea e complementar.
Associado a isso, no vídeo, Magda Soares fala sobre o fato de ser difícil o acesso
aos livros da parte dos professores e principalmente para as crianças pelo medo que se
tem que essas crianças rasguem os livros, sem levar em consideração que as crianças não
tem como aprender e entender o valor do livro e a perda desse valor caso ele se rasque,
se ela não tiver contato físico com ele. É bem difícil falar sobre isso sem citar as
descobertas psicogenéticas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky sobre o processo de
aquisição da língua escrita. Sobre esse assunto Ferreiro (2001) diz, sobre alfabetização de
crianças ainda na primeira infância, que se deve
Dar [as crianças] condições para ter experiências variadas com a língua escrita:
escutar ler, permitir escrever, poder perguntar, descobrir as diferenças e as
relações entre imagem e texto [...]. A lista é muito longa. [...] Um ambiente em
que se possa aprender, que não proíba aprender, deve ter livros, deve deixar
circular a informação sobre a língua escrita, mas é evidente que o ambiente por
si mesmo não é o que alfabetiza. [...]. A simples presença do objeto não garante
conhecimento, mas a ausência do objeto garante desconhecimento. [...] Se
proíbo a língua escrita, crio um ambiente escolar no qual a escrita não tem
nenhum lugar, ao passo que no ambiente urbano a escrita tem seu lugar. (2001,
p.146 e 148)
No vídeo Magda Soares destaca o fato de que a tarefa de ler para as crianças não
é tão simples quanto parece e que não é algo que todo professor já sabe. Segundo ela,
para essa tarefa é necessário que o educador assuma uma posição de mediador entre o
livro e o receptor que é a criança.
Quando falamos em literatura infantil precisamos ter em mente que ela precisa
despertar interesse na criança, seja nas ilustrações que ela possui, a história em si e no
caso de oralizada pelo educador, como ela está sendo contada. Trabalhar com o interesse
da criança e mediar a literatura para que a criança seja um agente participativo na
contação, é um desafio que todo educador enfrenta na sala de aula. Sobre mediação, Bines
(2010) fala que
A mediação do ledor deve ser sóbria, sem perder o viço. Não é simples. Uma
forma de evitar excessos é ter em consideração que a leitura em voz alta não é
um solilóquio, mas interação. Trata-se de ler para o outro, com o outro. Estar
atento às suas necessidades: voltar atrás, ler de novo, avançar...[...]. O ledor lê
com uma voz compartilhada, que não lhe pertence integralmente, já que é
plasmada também pelo ouvinte que ali injeta os seus desejos, interferindo no
andamento, no timbre, na altura da voz. (2010, p.2)
Por fim, ao final da leitura, Solé propõe retomar os objetivos da leitura do texto,
levantar as ideias principais e formular perguntas para analisar o entendimento da criança
durante toda a leitura e avaliar se seu objetivo inicial foi satisfeito.
Assim, por esse motivo pode ter sido destacado por Magda no vídeo que a
atividade de ler para as crianças exige uma preparação do educador, porque ele se torna,
como já dissemos, o mediador e facilitador para que a criança possa se interessar mais
pela literatura e compreender melhor o texto à medida que participa ativamente durante
a sua leitura.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo buscou apenas fazer uma breve analise explicativa dos vídeos sobre o
projeto Alfaletrar pontuando com base teórica em alguns autores, sobre a pratica de
literatura na sala de aula, apenas algumas posições que podem ser relevantes para o
educador, como mediador, aplicar para um melhor envolvimento e desenvolvimento das
crianças com a literatura.
REFERÊNCIAS
ALFALETRAR - Biblioteca escolar e literatura. Produção de Nova Escola. Lagoa Santa (Mg): Nova
Escola, 2017. (12 min.), son., color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yQQtoyNhfGs.
Acesso em: 26 abr. 2021.
MEDIAÇÃO leitura. Produção de Alfaletrar Cenpec. [S.I]: Alfaletrar Cenpec, 2016. Son., color. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=lx74aQDxdW8. Acesso em: 26 abr. 2021
AMARILHA, Marly (Coord.). O ensino de literatura infantil da 1ª à 5ª séries do 1º grau nas escolas da rede
estadual do Rio Grande do Norte. Relatório parcial. Natal: CNPq/UFRN Departamento de educação, 1991.
AMARILHA, Marly. Infância e literatura: Traçando a história. Revista educação em questão, UFRN,
centro de ciências aplicadas, Departamento de educação, Natal, p. (126), 2002.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998
FERREIRO, Emilia. A cultura escrita na Primeira Infância. In: FERREIRO, Emilia. Cultura escrita e
educação: conversas de Emilia Ferreiro com José Antonio Castorina, Daniel Goldin e Rosa María Torres.
Porto Alegre: ArTmed, 2001, p.146-152.
BINES, Rosana Kohl. Histórias invisíveis: leitura em voz alta com crianças cegas. In: AMARILHA, Marly
(org.). Educação e leitura: redes de sentidos. Brasília: Liber livro, 2010.
SOLÉ, Isabel. Estratégia de leitura. Porto Alegre: ArtMed, 1998