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Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia

ISSN: 1982-1263 www.pubvet.com.br

Importância dos aditivos na alimentação de cães e gatos: Revisão


Sandro Cappelli¹*, Emanuel Manica¹, Juliano Hideo Hashimoto²
¹Zootecnista Formado pelo IFRS – Campus Sertão; Sertão – RS, Brasil
²Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Pelotas. Professor Docente do Curso de Zootecnia do IFRS
– Campus Sertão; Sertão – RS, Brasil
*Autor para correspondência, e-mail: sandro.cappelli@hotmail.com

RESUMO. Os aditivos nas rações de cães e gatos passaram a ter grande importância no
mercado de pet foods. Isto devido ao papel que os animais de estimação passaram a
ocupar nos últimos anos, aproximando-se cada vez mais das pessoas e tornando-se
dependentes dos seres humanos. O objetivo do estudo bibliográfico tem por finalidade
destacar a importância dos aditivos, principalmente nas rações secas extrusadas, tratando
das particularidades de ambas as espécies. Os aditivos tem a função de atender as
exigências nutricionais que as matérias primas empregadas na fabricação das rações não
fornecem. Além disso, existem aditivos que são capazes de gerar benefícios, tais como:
aprimorar a digestibilidade; melhorar a qualidade das fezes e da microbiota intestinal;
amenizar quadros clínicos que os animais podem sofrer, como problemas dermatológicos,
intestinais e das articulações. Quando adicionados a alimentação de cães e gatos
promovem benefícios ao animal a curto e longo prazo, aprimorando a saúde do pet.
Palavras chave: Pet food, rações extrusadas, nutrição, saúde, animais pet.

Importance of additives in feeding dogs and cats: Review


ABSTRACT. Additives in pet feed started to have big importance in the market. This
due to the part of the pets passed to have in the last years, approaching more and more of
the people e becoming dependents of human beings. The main of this study have the
purpose to show the importance of the additives, principally in the extruded feed,
addressing the particularities of both species. They function is to attempt the nutritional
requirements that the feedstock used in the fabrication of pet feed don’t supply.
Furthermore, there are additives that are able to generate benefits, like: improving the
digestibility; the faeces quality and the intestinal microbiota; ease medical conditions that
animals can suffer, as skin, intestinal and articulations problems. They can provide
benefits to animals in a short or a long time, improving health to pet when they are add in
their feed.
Key words: Pet food, extruded feed, nutrition, health, pet.

Introdução
O número de animais de estimação,
Com o passar dos anos, os animais de principalmente cães e gatos é bastante
estimação ganharam outro espaço dentro da expressivo. De acordo com a ABINPET (2013)
sociedade, saindo dos pátios e em muitos casos no Brasil existem cerca de 37,1 milhões de cães e
passando para dentro das residências, fazendo 23,1 milhões de gatos, tonando o país a quarta
parte do convívio familiar. Vários motivos maior nação em população de animais de
fizeram com que ocorresse essa mudança, estimação.
tornando estes animais cada vez mais próximos
O acentuado número de animais de estimação
dos seres humanos. Dentre os animais de
é o responsável por alavancar o comércio do
estimação, os que mais se destacam são os cães e
segmento pet. De acordo com a ABINPET
os gatos, por proporcionarem maior interação
(2013) o setor movimentou cerca de R$ 15,2
com seus donos.
bilhões, sendo a maior fatia representada pelos

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produtos Pet Foods, representando cerca de 66% valor nutricional da ração para a manutenção da
do faturamento total do setor. vida do animal deve estar de acordo com a
Association of American Feed Control Officilas,
Dentro deste mercado, as rações secas são as
pois é o órgão que determina as quantidades
que mais se destacam, devido a ser a forma mais
mínimas e máximas de nutrientes para os
fácil de nutrir o animal, não necessitando de
diferentes estados fisiológicos dos cães e gatos
preparo, apenas o fornecimento e atendendo
(França et al., 2011).
todas as exigências nutricionais para a
manutenção da vida do animal em suas diferentes Os alimentos funcionais devem apresentar
fases. propriedades benéficas além das nutricionais
básicas, são alimentos da composição normal da
Com a migração para dentro das residências, a
dieta, mas que demonstram capacidade de regular
indústria passou a fabricar rações com uma
as funções corporais, auxiliando o organismo na
composição baseada nas necessidades específicas
proteção contra doenças, tais como: hipertensão,
de cada animal, obtidas através dos aditivos que
diabetes, câncer, osteoporose e coronariopatias
são adicionados na industrialização das rações,
(Souza et al., 2003).
com a finalidade de atender as necessidades
nutricionais dos animais. Outros componentes Todos os ingredientes funcionais encaixam-se
podem ser adicionados com a intenção de dentro de um grupo de compostos que
melhorar a saúde dos animais, conservar a ração, apresentam benefícios à saúde, tais como: as
melhorar a aparência, palatabilidade e exercer alicinas presentes no alho; os carotenoides e
função terapêutica e funcional. flavonoides presentes em frutas e vegetais; os
glucosinolatos encontrado nos vegetais crucíferos
O estudo visa buscar na bibliografia novos
e os ácidos graxos poliinsaturados presentes em
aditivos utilizados na fabricação das rações,
olhos de peixes ou vegetais (Kruger & Mann,
destacando as funcionalidade, particularidades e
2003).
as diferenças entre a necessidade de cães e gatos,
ressaltando os benefícios gerados para ambas as Nutracêutico é considerado um alimento ou
espécies. parte dele que proporciona benefícios a saúde,
atuando na prevenção e no tratamento de
Regulamentação e função dos aditivos doenças. Compõe uma ampla variedade de
Segundo IN 30/2009 do MAPA, consideram- alimentos e componentes alimentícios
se aditivos: substâncias, microrganismos ou importantes para o funcionamento do organismo
produtos formulados e adicionados (Hungenholtz & Smid, 2002).
intencionalmente aos alimentos, que não são As funções de ambos os alimentos são
utilizados normalmente como ingredientes, diferentes, pois os nutracêuticos dizem respeito à
tenham ou não valor nutritivo e que melhorem as prevenção e o tratamento de doenças e os
características dos produtos destinados à funcionais estão envolvidos na redução dos riscos
alimentação animal, melhorando o desempenho das doenças.
dos animais sadios e atendendo às necessidades
Devido aos benefícios gerados pelos
nutricionais.
alimentos funcionais e nutracêuticos na vida dos
Os aditivos têm por finalidade preservar as animais, proporcionando maior longevidade,
características nutricionais das rações, facilitando manutenção da saúde e prevenção de doenças,
a dispersão dos ingredientes e aprimorando o faz com que as indústrias comecem a apostar
crescimento dos animais (Souza & Silva, 2008). cada vez mais em rações que trabalhem para a
Devendo ao mesmo tempo ser incluídos em uma melhoria da qualidade de vida do Pet.
das seguintes categorias: tecnológicos, sensoriais,
nutricionais, zootécnicos ou anticoccidianos Taurina
(MAPA, 2004)
A taurina é um ácido beta-amino-sulfônico
único, que não faz parte das proteínas, mas que se
Alimentos nutracêuticos e funcionais
encontra como aminoácido livre nos tecidos. É
As rações comerciais para animais de um aminoácido sintetizado pela maioria dos
estimação são formuladas para atender todas as mamíferos a partir da metionina e cistina (Case et
necessidades específicas de nutrientes em al., 1998).
diferentes estados fisiológicos de cães e gatos. O

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Os gatos diferente de outras espécies microbiota intestinal. Atualmente existe uma


necessitam de maiores quantidades de taurina, definição de probióticos que é utilizada pela
sendo importante para diferentes funções no Organização Mundial de Saúde e Organização de
organismo, exercendo papel sobre: visão; Agricultura e Alimentos, sendo a seguinte:
audição; reprodução; crescimento; emulsificação “microrganismos vivos que quando
de gorduras e conjugação de ácidos biliares; administrados em quantidades adequadas,
atuam na musculatura esquelética; preservação conferem benefícios à saúde dos hospedeiros”
das funções cardiovasculares e sobre as respostas (JOINT FAO/WHO, 2002).
do sistema imune dos animais (Hora &
Os microrganismos desempenham diversas
Hagiwara, 2010).
funções no organismo de humanos e animais,
A suplementação nas rações enlatadas devem muitos dos quais ainda não foram descobertos,
ser superiores as rações secas, pois ocorrem mas o que se sabe é que exercem desempenho na
perdas de taurina devido ao incremento da proteção do organismo contra infecções e outras
circulação enterohepática e da degradação doenças, pelo fato de bloquearem a colonização
bacteriana do ácido taurocólico no intestino de microrganismos patógenos e estimularem as
(Case et al., 1998). A taurina é altamente solúvel respostas imunológicas no local. Além disso,
em água, quando os tecidos animais são cozidos efetuam inúmeras atividades enzimáticas,
em água, podem ocorrer reduções das contribuindo para o fornecimento de vitaminas e
quantidades de taurina da proteína animal minerais (Oliveira & Batista, 2003). O efeito
(Zanghini & Biagi et al., 2005; Spitze et al., protetor da microbiota intestinal tem sido
2003; Case et al., 1998) mas, esta perda não relacionado com antagonismo bacteriano,
ocorre quando os tecidos são assados (Spitze et interferência bacteriana, efeito barreira,
al., 2003). resistência à colonização, ou exclusão
competitiva. Os mecanismos que preserva o
As rações empregadas na alimentação de cães
balanço entre os diversos microrganismos
não necessitam da adição de taurina, pois o cão
intestinais e impedem que uma determinada
tem a capacidade de produzir taurina usando
bactéria se torne dominante, também previne a
outros aminoácidos, tornando-se assim um
invasão por bactérias exógenas (incluindo
aminoácido não essencial para espécie, diferente
patogênicas) e o seu estabelecimento no
do gato que necessita da suplementação de
ecossistema intestinal (Saad et al., 2011)
taurina. Problemas de carência ocorrem quando
gatos são alimentados por longos períodos com Likimani & Sofos (1990) estudando a
rações para cães ou alimentos com carência do resistência de esporos de Bacillusglobigii em
aminoácido. ração de cães com uma temperatura de extrusão
de 100 a 140ºC obteve efeito destrutivo,
A Nutrient Profiles for Cat Foods da AAFCO
provocando a diminuição no número de esporos.
exige que os alimentos enlatados para gatos
Biourge et al. (1998) relatam que para não haver
contenham um mínimo de 2.000 mg/kg e que os
a destruição e diminuição da eficiência de um
alimentos secos contenham um mínimo de
probiótico, o mesmo deve ser adicionado na
1.000mg/kg de taurina, conseguindo assim
ração após o processo de extrusão, não sofrendo
atender as necessidades dos felinos (Case et al.,
assim a ação da temperatura.
1998).
Com o passar dos anos e a evolução da
Probióticos tecnologia em relação à inclusão de
O conhecimento sobre os benefícios dos microrganismos nas rações extrusadas, a
probióticos no organismo humano tem mais de indústria tem produzido aditivos probióticos
50 anos de história, descrito por Lilley & termo resistentes, compostos por bactérias vivas
Stillwell (1965) onde o termo probióticos foi encapsuladas e resistentes ao processo de
utilizado para descrever substâncias que eram extrusão. Os microrganismos adicionados, além
secretadas por microrganismos que por sua vez de ser resistente a temperatura também são
estimulavam o crescimento de outras. Fuller liofilizados, ou seja, permanecem em estado
(1989) modificou este conceito, descrevendo os latente até a ingestão, após encontrarem um
probióticos como um suplemento alimentar ambiente favorável no intestino, voltam a sua
constituído por microrganismos vivos, capazes de forma vegetativa. Segundo Saad et al. (2011) os
beneficiar os hospedeiros através do equilíbrio da microrganismos utilizados como probióticos são

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usualmente componentes não patogênicos da banana, alho, cebola, trigo, tomate (Spiegel et al.,
microbiota normal, tais como as bactérias ácido 1994; Yun, 1996). Estes oligossacarídeos que não
láticas (principais gêneros: Lactococcus, são digeridos no intestino delgado, alcançam o
Lactobacillus, Streptococcus e Enterococcus) e intestino grosso e são fermentados por bactérias
leveduras como Saccharomyces. Em estudos anaeróbicas da flora intestinal, produzindo
realizados com filhotes de cães com 10 semanas grandes quantidades de AGV, além de CO2,
de idade e sem raça definida, não foram amônia e H2. Como consequência, o pH no lume
encontradas diferenças significativas da do intestino grosso torna-se bastante ácido
digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica (Otero, 2003 apud Saad et al., 2011).
e carboidratos, na alimentação com ou sem a
As bactérias benéficas, como as
adição de probióticos (Biourge et al., 1998).
Bifidobacterias e Lactobacillus são resistentes ao
Estudos realizados por Feliciano et al. (2009)
meio ácido, ao contrário das bactérias
demonstraram que a adição de probióticos na
prejudiciais, como o Clostridium, E. Coli,
alimentação de cães não alterou a digestibilidade
Listéria, Shigella e Salmonella (Saad et al.,
do alimento. O escore fecal foi alterado
2011), tornado assim o meio seletivo ao
positivamente somente quando a alimentação dos
desenvolvimento de bactérias benéficas. Em
cães foi substituída de Standard para Super
revisões realizadas por Saad et al. (2011) vários
Premium. Os dados apresentados acima
estudos são citados demonstrando diminuição
demostram que devem ser realizados mais
significativa de bactérias patogênicas e o
estudos para saber a influência dos probióticos
aumento de bactérias benéficas em cães
sobre a qualidade de vida e a melhoria na
suplementados com 1% de FOS isolado da raíz
digestibilidade nos animais de companhia.
da chicória, e outros com a ingestão de capsulas
contendo 2 gramas de FOS.
Prebióticos
Os MOS e GOS também podem ser utilizados
Os prebióticos são compostos não digeridos
como prebióticos na nutrição de cães e gatos. Os
pelo trato gastrointestinal (TGI), mas
MOS são derivados das paredes de leveduras.
seletivamente fermentados pelos microrganismos
Segundo Saad et al. (2011) os MOS apresentam a
que habitam o TGI, podendo estar presentes nos
capacidade de modular o sistema imunológico e a
ingredientes das dietas ou adicionados a elas por
microflora intestinal, ligam-se a uma ampla
fontes exógenas concentradas (Gibson &
variedade de micotoxinas, também bloqueiam a
Roberfroid, 1995). As substâncias de efeitos
aderência de bactérias patogênicas, ocupando o
prebióticos não devem ser metabolizadas ou
sítio aonde elas poderiam se ligar na mucosa
absorvidas durante a passagem pelo TGI,
intestinal. Estudos realizados por Domingues et
devendo apenas ser um substrato para as
al (2014) demonstraram que a adição de 0,2% de
bactérias intestinais benéficas, estimulando assim
MOS na dieta total de cães não altera a
o crescimento bacteriano, alterando a microbiota
digestibilidade e a consistência fecal, mas reduz o
intestinal de forma benéfica (Gibson &
odor da fezes.
Roberfroid, 1995).
Em rações secas, com incorporação de parede
Os prebióticos mais utilizados na nutrição
celular de levedura na dieta de cães não houve
humana e animal estão dentro da família dos
alteração na população microbiana das fezes, mas
oligossacarídeos, separados em: Frutoligo-
seus efeitos prebióticos foram comprovados, pois
ssacaródeos (FOS), Manano-ligossacarídeos
modificou a atividade metabólica dos
(MOS), Galactoligos-sacarídeos (GOS). Os FOS
microrganismos, aumentando a concentração de
são atribuídos a diversos efeitos benéficos à
ácido butírico e reduzindo as de histamina,
saúde, como por exemplo: prevenção de cáries
tiramina, triptamina, feniletilamina e também
dentárias; redução dos níveis séricos de colesterol
houve uma imuno estimulação nos cães (Gomes,
total e lipídeos; estímulo do crescimento de
2009).
bifidobactérias no trato digestivo (Passos & Park,
2003). São oligossacarídeos de ocorrência natural As citações demonstram que a adição de
em produtos de origem vegetal (Hartemink et al., prebióticos nas rações para animais de
1997) podendo ser encontrados em mais de 36 companhia necessitam de mais estudos, com
mil plantas diferentes (Roberfroid, 1993). As diferentes fontes e quantidades de substâncias
maiores quantidades e as plantas mais conhecidas prebióticas, conseguindo assim comprovar todos
são: alcachofras, aspargos, beterraba, chicória, os benefícios no organismo de cães e gatos.

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Antioxidantes Os mamíferos não estão capacitados


bioquimicamente para a biossíntese de
Segundo o decreto nº 55871 da ANVISA de
carotenoides, mas podem acumular e converter
Janeiro de 1965, antioxidante é uma substância
precursores que obtém da dieta, podendo assim
que retarda o aparecimento de alteração
converter o betacaroteno em vitamina A (Fontana
oxidativas nos alimentos. Estes aditivos podem
et al., 2000). Diferentes dos cães, os gatos não
ser sintéticos, muito utilizado na indústria
tem a enzima intestinal que é capaz de converter
alimentício, ou natural, fazendo parte assim da
o betacaroteno em vitamina A ativa, desta forma
constituição da matéria prima empregada na
é necessária à suplementação de vitamina A pré-
produção e industrialização dos alimentos.
formada para que não ocorra déficit no
De acordo com a FDA (2014) que trata da organismo dos felinos (Case et al., 1998).
regulamentação dos aditivos, os antioxidantes são
A vitamina A é armazenada no fígado na
substâncias utilizadas para preservar alimentos
forma de palmitato e apresentada no soro na
através do retardamento da deterioração, rancidez
forma de retinol, a principal atuação deste
e descoloração decorrente da oxidação.
nutriente é na visão, mitose e diferenciação
A deterioração dos alimentos é feita pelo celular (Greghi et al., 2010). Segundo Gross et al.
ataque de O2, formando peróxidos, ou seja, os (2000) a vitamina A é necessária para o
radicais livres, que são os responsáveis pelo mau crescimento ósseo, reprodução, desenvolvimento
odor e a rancificação dos alimentos, podendo dentário e manutenção do tecido epitelial. A falta
causar doenças aos animais. Os compostos que resulta na disfunção do tecido epitelial,
agem contra os radicais livres (espécies reativas aumentando a susceptibilidade de infecções. A
do oxigênio ou ROS) são os antioxidantes, espermatogênese do macho e o ciclo estral nas
podendo ser sintéticos ou naturais (Saad et al., fêmeas também são dependentes da vitamina A.
2011). Além de proteger os alimentos da
A vitamina C pode ser sintetizada pela
deterioração, os antioxidantes protegem as
maioria dos seres vivos, inclusive pelos cães e
células dos animais contra o ataque dos radicais
gatos, desta forma é improvável que ocorra a
livres, além da prevenir o envelhecimento
carência do organismo dos animais pet (Case et
celular.
al., 1998). Nas rações para cães e gatos, a
A formação dos ROS nos animais ocorre finalidade é atuar prevenindo a oxidação dos
durante os processos oxidativos biológicos, ácidos graxos, agindo na conservação e na
formados no sistema biológico, gerados a partir manutenção da qualidade das rações. Todos os
de compostos endógenos e exógenos no cães e gatos conseguem sintetizar no organismo
organismo. Dentro deste processo pode-se quantidades adequadas de vitamina C, pois o
destacar a fosforilação oxidativa, responsável ácido ascórbico é produzido no fígado a partir da
pela geração de ATP no organismo (Renz & glicose, através da via metabólica do glucuronato
González, 2003). (Case et al., 1998). A vitamina C exerce grandes
Os antioxidantes são um conjunto benefícios no organismo dos cães e gatos pela
heterogêneo de substâncias formadas por hidroxilação dos aminoácidos prolina e lisina, no
vitaminas, minerais, pigmentos naturais e outros processo de formação do colágeno, atuando sobre
compostos vegetais, e ainda enzimas, que o tecido conjuntivo (Case et al., 1998). Além
bloqueiam os efeitos danosos dos radicais livres disso, é um removedor dos radicais superóxidos
(Food Ingredients Brasil, 2009). hidroxila e oxigênio e preserva os níveis de
vitamina E e beta-caroteno durante o estresse
Vitaminas oxidativo (Batlouni, 1997)

A vitamina A não é encontrada nas plantas, Fisiologicamente os cães e gatos não


mas contém uma provitamina chamada de necessitam da adição de vitamina E em sua
caroteno. O betacaroteno tem a maior atividade alimentação, devido à síntese pelo organismo,
da vitamina A quando comparada a outros podendo ser adicionada apenas com fins de
carotenoides, mas só tem a metade da potência da preservar a qualidade do alimento. Mesmo assim,
vitamina pura (Gross et al., 2000). Também pode devido à falta de informações, alguns
ser encontrada no fígado e nos óleos de fígado de proprietários de cães e gatos realizam a
peixe, como também no peixe e nas gemas dos suplementação das dietas com a adição de uma
ovos (Case et al., 1998; Gross et al., 2000). gama de vitaminas, incluindo o ácido ascórbico,

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que segundo Case et al. (1998) quando em posteriormente passam por um processamento.
excesso é excretado pela urina e forma de Este processamento consiste na moagem e
oxalato, e o aumento de sua concentração secagem, resultando em um pó desidratado
contribui para a formação de cálculos no aparelho chamado de extrato, utilizado nas rações dos
urinário. A vitamina E, tem a sua forma ativa animais.
chamada de alfa-tocoferol, é um antioxidante
Outro composto que pode ser utilizando são
lipossolúvel predominante nos tecidos. Atua
as zeólitas na alimentação dos animais, pois tem
capturando os radicais peroxila e interrompendo
a capacidade de absorver gases, vapores e água
a cadeia de peroxidação lipídica. É essencial para
(Pond et al., 1995). Dentre as zeólitas, o mais
a proteção das lipoproteínas circulantes e ao
utilizado na nutrição animal são os
funcionamento adequado das membranas
aluminossilicatos hidratados. Segundo a
celulares (Batlouni, 1997). Segundo SAAD et al.
definição clássica, o termo zeólitas abrange
(2011) a vitamina E age como um antioxidante
somente aluminossilicatos cristalinos hidratados
biológico dentro dos fosfolipídeos de membrana,
de estrutura aberta, constituída por tetraedros de
protegendo as células contra a oxidação. Para
SiO4 e AlO4, ligados entre si pelos átomos de
conservar a eficácia da vitamina E é necessária a
oxigênio. Encontra-se em rochas ígneas básicas e
presença da vitamina C, pois preserva os níveis
disseminadas em arenitos (Bvreck, 1974).
de vitamina E, beta-caroteno, antioxidantes
Estudos realizados por Maia et al. (2010)
endógenos na LDL durante o estresse oxidativo.
demonstraram que dietas contendo 0,75% e 1%
A vitamina E funciona como um conservante de zeólitas da dieta total de cães, fizeram com
das rações, protegendo os AGPI (ácidos graxos que ocorresse a diminuição no odor das fezes
poliinsaturados) dos danos oxidativos (Case et (Tabela 1). Os mesmos estudos comprovam que a
al., 1998), também está relacionada ao selênio, adição de 0,75% e 1% de zeólitas da deita total
pois ele é um cofator da glutationaperoxidase, de cães fez com que as fezes ficassem mais
que reduz os peróxidos formados durante o firmes e de formato mais homogêneo melhorando
processo de oxidação dos ácidos graxos. A assim o escore fecal (Tabela 2).
inativação desses peróxidos pela glutationa-
peroxidase protege a membrana celular de um Tabela 1. Avaliação do odor das fezes de cães
dano oxidativo adicional (Case et al., 1998). alimentados com rações contendo Yucca Schindigera
ou zeólitas
Zeólitas e extrato de yucca
Dieta Média
A aproximação dos cães e gatos com o
homem provocou maior contato do proprietário Controle 5,00a
com as fezes dos animais, gerando diversos 125 ppm Yucca Schindigera 5,04a
desconfortos decorrentes do odor. Para amenizar 250 ppm Yucca Schindigera 5,60a
este problema, os donos dos animais procuram
fornecer rações secas que resultam em fezes mais 375 ppm Yucca Schindigera 5,64a
firmes e com menos odor. A redução do odor das 0,50% Zeólitas 5,77a
fezes e a melhora da digestibilidade dos
0,75% Zeólitas 6,55b
alimentos podem ser obtidas através de dietas
com ingredientes de alta digestibilidade e boa 1,00 % Zeólitas 5,97b
qualidade (Maia et al., 2010). Para alcançar estes CV (%) 15,54
objetivos mais facilmente, as rações devem ser
Médias seguidas por letras distintas diferem pelo teste
enriquecidas com extrato de Yucca schindigera,
SNK, a 5% de significância. CV (%) = Coeficiente de
pois inibe a urease pela fração de saponinas do variação.
extrato, diminuindo assim a excreção de amônia
nas fezes, que é o responsável pelo odor das Os valores atribuídos às amostras seguiram
mesmas (Preston et al., 1987) também é uma escala de 0 a 10, na qual os valores de 0 a 4
considerada uma ótima fonte de fibras, representavam classificações de odor mais forte
auxiliando assim no transito intestinal (Mcfarlane que o padrão, o valor de 5 odor igual ao padrão e
et al., 1988). A Yucca Schindigera é uma planta acima de 5 o odor era menor que o padrão, seno
que cresce nos desertos, possui porte médio e que a escala de odor vai de 0 a 10.
produz vários galhos maduros em um período de
4 a 5 anos. Os galhos maduros são colhidos e

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Estudos realizados por Maia et al. (2010) flavonóides é associada à queda de pressão
demonstraram que a inclusão de Yucca arterial (Royal Canin, 2013). Os polifenóis e/ou
schidigera (125 a 375 ppm) de zeólitas (0,5 a flavonoides podem entrar como aditivos nas
1,0%) não influencia a digestibilidade do rações terapêuticas para cães e gatos, sendo
alimento, o que indica que esses aditivos não utilizados para tratar ou prevenir problemas
alteram a digestibilidade, sendo que estas relacionados à pressão arterial elevada e às placas
quantidades são adequadas para a inclusão na bacterianas em animais mais idosos.
alimentação de cães.
Glucosamina e condroitina
Tabela 2. Escore fecal médio do material coletado, A glucosamina é um açúcar amino-
com base na consistência e no aspecto monossacarídeo sulfatado, constituinte das
Dieta Consistência fecal unidades dissacarídeas presentes nos
proteoglicanos das cartilagens articulares (Saad et
Controle 2,83e al., 2011).
125 ppm Yucca Schindigera 3,16d A condoroitina constitui-se de uma molécula
250 ppm Yucca Schindigera 3,16d classificada como mucopolissacarídeo, grupo que
atualmente é designado por glucosaminoglucanas
375 ppm Yucca Schindigera 3,43c
(Saad et al., 2011), são macromoléculoas
0,50% Zeólitas 3,63b formadas por açúcares e proteínas.
0,75% Zeólitas 3,86a No tecido cartilaginoso de diversas espécies,
a
1,00 % Zeólitas 3,93 inclusive no homem, a presença de algum tipo de
condoroitina é bastante evidente. As
CV (%) 15,54
condoroitinas 4 e 6-sulfato despertam grande
Médias seguidas por letras distintas diferem pelo teste interesse, por serem estruturas hidrolisáveis e
SNK a 5% de significância. CV (%) = coeficiente de fornecedoras dos monômeros para a síntese de
variação. O escore fecal foi avaliado de 1 a 5, em que
demais mucopolissacarídeos, todos de grande
1 = fezes líquidas (diarreia); 2 = fezes macias sem
forma definida; 3 = fezes macias, bem formadas e importância para tecidos de sustentação e nas
úmidas; 4 = fezes duras, secas, firmes e bem doenças articulares e do tecido ósseo (Saad et al.,
formadas; 5 = fezes muito duras e ressecadas, 2011). Trabalhos executados in vitro demonstram
considerando ideal valor entre 3 e 4. que a falta de glucosamina pode alterar o
metabolismo dos condrócitos, sendo esta a razão
Polifenóis de sua utilização no tratamento de osteoratrite
(Saad et al., 2011). A glucosamina está envolvida
Os polifenóis são antioxidantes muito
na formação da cartilagem nas articulações e
potentes que se encontram em diversos alimentos
também contribui para a elasticidade. A sua
de origem vegetal, tais como: maçã, uva, cebola,
principal função é estimular a formação de nova
repolho, brócolis, chicória, aipo, chá e vinho
cartilagem, atuando juntamente com a
tinto, mas geralmente são extraídos da uva e do
condoroitina que inibe o efeito das enzimas que
chá mate verde. Depois de absorvidos são
causam a destruição permanente da cartilagem
metabolizados no fígado e secretados na bile,
(Royal Canin, 2013).
urina e saliva (Saad et al., 2011). O principal
papel dos polifenóis é o seu impacto sobre os As doenças articulares vão surgindo com o
radicais livres, limitando os efeitos nocivos do decorrer da vida dos cães, e a predominância de
estresse oxidativo. Adicionar polifenóis do chá doenças nas articulações deve-se muito a raça do
verde na dieta pode melhorar a higiene oral, pois animal, sendo que as de porte grande apresentam
inibe o crescimento das bactérias da placa dental, maior predisposição a doenças articulares e do
que causam a doença periodontal, muito comum tecido ósseo.
em animais idosos (Royal Canin, 2013).
A adição de glucosamina e condroitina nas
Observou-se também um efeito positivo dos dietas faz com que ocorra a manutenção da saúde
flavonóides, que fazem parte de uma categoria das articulações e dos ossos, diminuindo a
especial de polifenóis sobre doenças renais e incidência e prevenindo o desenvolvimento de
cardíacas. Eles estimulam a produção de óxido artroses, osteoartrite e doenças articulares. A
nítrico, relaxando as fibras musculares lisas dos adição destes nutrientes é indicada para cães
vasos sanguíneos. A administração diária do idosos, obesos, atletas, cães guia ou animais

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Cappelli et al. 219

susceptíveis. Desta forma, este aditivo na Minerais quelatados


alimentação faz com que o organismo contenha a
Os fatores que mais influenciam a absorção de
inevitável degeneração das cartilagens.
um mineral pelo organismo é a sua forma
Tanto a condroitina como a glucosamina química (Miller, 1975 apud Saad et al., 2011).
podem ser extraídos das cartilagens de diversas Também se sabe que os micros elementos
espécies de animais, incluindo peixes, moluscos, fornecidos na forma inorgânica podem ter sua
suínos e aves. Na forma comercial, a condroitina biodisponibilidade influenciada por outros
é fornecida como sulfato de condroitina. nutrientes da dieta e a questão fisiológica do
próprio animal (Lowe, 1993 apud Saad et al.,
Glm (green-lipped mussels) 2011). Segundo Vandergrift (1993) apud Saad et
Conhecido como extrato do Mexilhão de al. (2011) uma definição técnica de quelatos seria
Lábios Verdes (GLM) possui propriedades a de um mineral da primeira série de transição da
interessantes, que atuam na prevenção e cadeia periódica (Cr, Mn, Co, Ni, Cu, Zn) que se
tratamento da osteoartrite. Vários estudos liga a aminoácidos via ligação coordenada
demonstram a redução da dor e a melhoria da covalente, formando uma substância estável e
mobilidade articular de pacientes caninos quando eletricamente neutra. Neste estado de quelato, o
essa substância é administrada. O GLM ajuda a metal é quimicamente inerte, não sofrendo
conter a inflamação, preservar a integridade da influência de outros componentes das dietas,
cartilagem e combater as lesões oxidativas como as fibras e gorduras (Saad et al., 2011). Nas
(Royal Canin, 2013). rações secas para cães e gatos, os minerais são
adicionados em sua grande maioria na forma
Os mexilhões agem como um filtro da água inorgânica. Mas, no trato gastrointestinal a
do mar, retendo vários nutrientes, como resultado maioria dos minerais para serem absorvidos
o GLM contém uma grande quantidade de necessita fazer ligação iônica com aminoácidos
substâncias potencialmente ativas que combatem que se encontram no estomago e no intestino
a inflamação da artrite: ácidos graxo ômega 3, (Saad et al., 2011). Quando este processo ocorre
condroitina, glutamina, vitaminas E e C e livre no organismo, vários fatores podem
elementos-traço (zinco, cobre, manganês). O pó interferir. Um exemplo é o de que diferentes
de GLM é um extrato da carne do mexilhão de minerais necessitam se ligar a um mesmo
lábios verdes (Royal Canin, 2013). aminoácido para serem absorvidos, isso ocorre no
Um grande problema é que o processamento caso do zinco e do cobalto que necessitam se
térmico dos GLM pode destruir a sua capacidade ligar a metionina para serem absorvidos (Saad et
terapêutica, desta forma o processamento do al., 2011).
GLM e a incorporação em produtos alimentares A (Tabela 3) apresenta os resultados de um
requerem técnicas especiais de processamento, estudo realizado por FRANÇA et al (2008) com
pois se não houver cuidados pode ocorrer à perda 24 gatos adultos, suplementados com três fontes
da eficácia do produto final, devendo haver diferentes de zinco, onde pode-se observar que os
processamento com baixa temperatura (Bierer & animais que receberam a suplementação com a
Bui, 2002). fonte quelatada obtiveram maior concentração de
Estudos realizados por Bierer & Bui (2002) zinco na pele e no pêlo.
demonstraram que o GLM em pó é eficaz na
Tabela 3. Valores médios e seus respectivos erros-
redução dos sinais de artrose em cães, tanto padrão da concentração de zinco na pele e no pelo de
quando incorporados na ração ou aspergidos gatos adultos, em ppm, em função dos tratamentos
sobre a dieta. Os escores totais da artrite nas estudados.
pontuações de dor e inchaço foram reduzidos
Zinco (ppm)
significativamente após 6 semanas de Tratamentos
Pele Pêlo
suplementação com o GLM. Quelato de Zinco 47,06 (2,28) a
278,5 (20,4)a
b
Para a adição nas rações secas para cães e Sulfato de Zinco 37,46 (2,28) 213,3 (20,4)ab
ab
gatos deve-se ter consciência da inativação e a Óxido de Zinco 46,07 (2,28) 187,0 (22,4)b
b
destruição de diversas propriedades do extrato Controle 40,11 (2,28) 186,8 (20,4)b
CV (%) 10,71 22,98
pelo calor, devendo ser realizadas formas a b
Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não
alternativas que façam com que o calor não
diferem entre si, pelo teste de Tukey a um nível
prejudique a função terapêutica do aditivo. nominal de significância de 5%.

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Aditivos na alimentação PET 220

Os quelatos visam melhorar a absorção dos sendo incapaz de sintetizar ácido araquidônico a
minerais pelo organismo, pois não necessitam partir do linoleico (Case et al., 1998).
formar complexo dentro do sistema
Estudo realizado por Mcdonald (1984) apud
gastrointestinal, desta forma quando ingeridos na
Bauer (2008) descobriu que gatos machos
forma quelatada são prontamente absorvidos,
alimentados com uma dieta deficiente em ácido
ocorrendo maior aproveitamento pelo animal,
linoleico resultam em degeneração tubular dos
tendo assim maior biodisponibilidade. Os
testículos. No caso de fêmeas prenhas, estas não
minerais quelatados podem ser definidos como
conseguiam manter a gestação até o final quando
minerais que estão quimicamente ligados a
alimentadas com dietas ausentes em ácido
aminoácidos, formando uma estrutura em anéis
linoleico. Segundo Case et al. (1998) quando na
(Paula, 2014). Estes anéis heterocíclicos
dieta de gatos encontrava-se presente o ácido
formados modificam as características físicas e
linoleico e não o araquidônico, as gatas não
químicas dos grupos coordenados, protegendo-os
conseguiam parir gatinho vivos, os gatos sofriam
da influência de fatores externos, tornando-os
uma agregação das plaquetas e trombocitopenia,
resistentes a dissociação, ficando estáveis
que é caracterizado por diminuição no número de
quimicamente facilitando assim a sua absorção
plaquetas circulantes.
(Malleto, 1984 apud, Saad (2011).
Gatos com deficiência de ácido araquidônico
Estudos realizados por Kuhlman & Rompala
apresentam um ligeiro aumento do conteúdo
(1998) demonstraram que cadelas Beagle
lipídico hepático e uma ligeira mineralização dos
suplementadas dieteticamente com Zn, Cu e Mn
rins. Outros sintomas foram notados, tais como:
na forma de quelatos, obtiveram melhora no
estado deficiente da capa pilosa; atraso no
desempenho reprodutivo, obtendo maior número
crescimento; deterioração da cicatrização das
de filhotes por gestação.
feridas; desenvolvimento de lesões cutâneas
(Case et al., 1998). De acordo com Case et al.
Ácidos graxos essenciais
(1998) apenas o ácido linoleico é necessário na
Os ácidos graxos podem ser obtidos pelas dieta dos cães, mas a dieta do gato deve conter o
dietas na forma natural, fazendo parte assim da linoleico e o araquidônico. Segundo esse mesmo
constituição do alimento, ou na forma de autor o ácido linoleico é essencial para a
aditivos, principalmente utilizados em rações manutenção da saúde da pele e a regulação à
Super Premium com funções terapêuticas, permeabilidade da água. Para gatos o ácido
utilizados para prevenir ou tratar algum tipo de araquidônico participa da função reprodutora e
enfermidade que possa estar ligado à carência agregação das plaquetas.
destes lipídeos.
Segundo Royal Canin (2013) os óleos
Segundo Bauer (2008) a natureza essencial de vegetais são geralmente ricos em ácidos graxos
um ácido graxo é principalmente devido à ômega 6. Algumas gorduras insaturadas de
incapacidade do animal de sintetizá-lo em origem animal, especialmente de suínos e aves,
quantidades suficientes para satisfazer as suas também podem conter grandes quantidades de
necessidades metabólicas. ácido linoléico (mais de 20% no caso das aves).
Os ácidos graxos essenciais para o A gordura da carne bovina (banha, manteiga), por
metabolismo são: linoleico; araquidônico (ômega outro lado, contém muito pouco ácido linoléico.
6) e possivelmente o ácido alfa linolênico (ômega De acordo com a mesma fonte, alguns óleos
3). Assim como a maioria dos animais, os cães vegetais (linhaça, soja, colza), contêm
conseguem satisfazer as suas necessidades de quantidades expressivas de ácido alfa linolênico
ácidos graxos (n-6) mediante a uma fonte (ALA).
dietética adequada de ácido linoleico (Case et al.,
Conclusões
1998).
Os aditivos são muito importantes para a
A delta-6-dessaturase e a delta-5-dessaturase
alimentação de cães e gatos, devido ao fato dos
são duas enzimas essenciais na via metabólica
donos de animais de estimação tornar-se
para a síntese de ácido gama linolênico e
responsáveis pelo total fornecimento da
araquidônico a partir do ácido linoleico.
alimentação. Desta forma as indústrias vêm
Diferente do cão, o gato apresenta em seu
produzindo alimentos que atendam às
organismo carência de delta-6- dessaturase e
necessidades nutricionais e melhorem a qualidade
baixa atividade da delta-5-dessaturase no fígado,

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Cappelli et al. 221

de vida dos animais pet. Devem sempre ser XIII Simpósio sobre nutrição de animais de
levadas em consideração as exigências de ambas estimação. CBNA – Valinhos, SP – Trabalhos
as espécies e as particularidades de cada uma. Científicos.
Quando adicionados em níveis adequados torna-
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se uma importante ferramenta para a melhoria da
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qualidade da dieta, aprimorando a saúde dos
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