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PATOLOGIA DO DESEMPREGO

O sofrimento gerado pelo desemprego, usualmente associado aos impactos


psicossociais desse fenômeno, que dura por longos períodos, se caracteriza por um quadro
típico, o que faz possível se pensar em uma patologia do desemprego. De acordo com
Ribeiro (2009, p.339), Jahoda (1987) e Seligmann-Silva (1999) haviam apontado que:

O chamado DLD (Desemprego de longa duração) pode gerar o


desencadeamento de uma síndrome, inaugurando a psicopatologia do
desemprego, com sintomas como depressão, vícios e doenças físicas.

Como já mencionado no presente trabalho as patologias que emergem em razão do


desemprego, sejam elas psicopatologias ou patologias físicas, estão principalmente
relacionadas a localização do trabalho no centro da vida dos indivíduos, colocado nessa
posição pelo sistema de produção capitalista que associa aquele que tem um trabalho a
uma pessoa de boa índole e honesta, e aquele que não, como vagabundo e desonesto. De
Oliveira ressalta (2015, p.9)

Tendo em vista o contexto do advento do capitalismo e a formação de uma


ideologia de exaltação do trabalho, ocorreu, a partir desta construção histórica, a
associação entre trabalho e honestidade. O sujeito que fornece sua mão de obra em
troca de um pagamento é o popularmente conhecido “trabalhador honesto”, uma
conceituação que é tomada como motivo de glória e repetido com orgulho pelos
homens ao longo da história. A consequência direta de tal associação que nos
interessa é que aquele que não trabalha é automaticamente relacionado ao conceito
de desonesto.

De acordo com De Oliveira citando Beck etal, são as interpretações da realidade, ou


seja as representações que se fazem da realidade, que geram os sentimentos e
consequentemente os comportamentos. Quando quem está em pauta é o desempregado,
percebemos que as representações sociais, são sempre negativas, pois aquele que não
ocupa um cargo de trabalho que tenha boa remuneração e considerado digno, geralmente
associado ao trabalho formal, é muitas vezes visto como acomodado, preguiçoso, como
alguém que não se esforça o suficiente para conseguir um trabalho e até mesmo como
incapacitado para o mercado de trabalho.

Frente a estas representações e como mencionado anteriormente sobre a influência


dos pensamentos nos sentimentos e comportamentos, vemos o surgimento de sentimentos
também negativos que no geral são de acordo com Monteiro et al (2015, p.16) apud De
Oliveira:

“Sentimentos de depressão, desesperança, insegurança, isolamento e problemas de


autoestima, entre outros.”

Todos esses sentimentos negativos terminam por acarretar comportamentos


disfuncionais, como a falta de vontade de interagir com os outros e o afastamento do meio
social, inclusive de pessoas próximas, e é partir daí que se vê o surgimentos das
psicopatologias que compõem os sintomas do que poderia se chamar de uma Patologia do
desemprego.

Outro ponto importante a se considerar é a vivência que cada indivíduo tem do


desemprego, e para falar sobre isso De Oliveira cita Jacques Le Mouêl (1981 apud
DUARTE, 1998, p.71) “a forma de viver o desemprego depende das representações que os
indivíduos fazem do trabalho”. Nesta pesquisa, o autor identificou duas classes de
vivências: o “desemprego banalizado” e o “desemprego doença”, que é o que nos interessa.
Segundo De oliveira citando Le Mouêl (1981) no caso do “desemprego doença” os jovens
têm a crença de que é somente por meio do trabalho assalariado que se é reconhecido
socialmente, por conseguinte, a falta deste é vivida como uma experiência traumatizante,
pontuada por sentimentos de preocupação, aborrecimento e humilhação (DUARTE, 1998).

No filme “O corte”, dirigido por Costa-Gavras, essa vivência é mostrada de uma


forma bastante sombria. Segundo Barcaui “Por conta da crença generalizada de que a
profissão é a raiz de todas as realizações, o protagonista perde sua identidade e sua
dignidade quando deixa de ter um emprego” (BARCAUI, 2016). Nesse sentido, o filme
ilustra de forma artística a experiência traumatizante do “desemprego doença” que ao
acarretar tantos sentimentos desagradáveis facilmente resulta em comportamentos
inadequados, como é retratado de forma fatalista quando o personagem no filme começa a
matar todos que poderiam ocupar seu cargo.

As crenças e as diferentes formas de vivenciar o desemprego são determinantes


sobre o fato deste estar intimamente ligado a algumas patologias, De Oliveira cita Buendia
(1990) que propõe a separação da vivência subjetiva do desemprego em fases. Dentre as
fases, a mais importante para o entendimento desse tema é a última, uma vez que é nela
que os esforços para conseguir um emprego não são suficientes para inserir o indivíduo
mais uma vez no cenário do mercado de trabalho gerando sensação de inutilidade e perda
de sentido de existência. Segundo De Oliveira (2015, p.20) “neste período o indivíduo passa
por intensa ansiedade e irritabilidade acompanhado da crença de incapacidade”. Por
conseguinte, é exatamente nessa fase que se está mais suscetível ao desenvolvimento de
distúrbios emocionais.

Somada às crenças, representações e as vivências subjetivas do desemprego, vale


ressaltar como variável participante do processo de adoecimento vinculado à não ocupação
de um lugar no mercado de trabalho, a função do trabalho de ser um vitalizador de saúde.

Neste sentido, de acordo com De Oliveira (2015, p.21) o trabalho é vitalizador e


parte central na organização social e temporal de determinado sujeito. É a partir dessa
compreensão do trabalho que se é capaz de entender como a privação dele pode ter como
consequência direta o adoecimento psíquico do (ex)trabalhador.

Entendidos os principais agravantes para o surgimento de uma patologia do


desemprego, faz-se necessário agora entender quais são as psicopatologias caracterizadas
como seus sintomas, mais frequentemente se encontram: a depressão, a ansiedade e o
suícidio. De oliveira cita Pena(2013, p.17)
A baixa saúde mental é um fator muito comum em sujeitos desempregados, visto
que estes normalmente têm maiores níveis de depressão, anseidade e suicídio.
Pessoas desempregadas há mais tempo têm uma maior prevalência de episódios
depressivos no espaço de um ano {...}

A depressão é um sério problema de saúde na atualidade, referente ao trabalho a


própria Organização mundial de Saúde (OMS) estima que esta é a doença mais
incapacitante para o trabalho e ainda mais preocupante é o fato de que ela é a
psicopatologia mais frequente entre os trabalhadores. Segundo De Oliveira (2015, p.22) o
sintoma mais frequente é a perda da iniciativa e da vontade, de modo que ele perde a
capacidade de tomar decisões, se sente cansado e sem capacidade para realizar qualquer
ação.

Nesse sentido, se percebe que o desemprego e a quadro depressivo estão


intimamente ligados, porém também são opostos, uma vez que, ao mesmo tempo em que é
a exposição prolongada aos sentimentos negativos decorrentes do desemprego somadas a
outros fatores da vida do indivíduo que desencadeiam um quadro depressivo, também é o
quadro depressivo que ao desestimular e incapacitar o indivíduo de realizar qualquer ação,
que dificulta e até mesmo, impossibilita, o indivíduo de sair da situação de desemprego. Em
relação a isso, De oliveira cita Pena (2013) que afirma que o desemprego e o quadro
depressivo são duas situações paralelas que se retroalimentam.

De Oliveira afirma que o quadro depressivo está frequentemente associado a outros


problemas, como é o caso do abuso de substâncias químicas e o alcoolismo, para ressaltar
essa situação a autora cita Teixeira (2007, p30).

{...} Na quase totalidade das situações um quadro depressivo é acompanhado por


tais comportamentos abusivos, sob o pressuposto de que os efeitos de tais
substâncias sobre o estado mental da pessoa a afasta de pensamentos sobre seu
problema, no caso a falta de emprego.

Portanto, mais uma vez vemos uma relação de retroalimentação que acaba dando
origem a um ciclo. A utilização destas substâncias como um meio de fugir da dolorosa e
humilhante realidade de estar sem emprego, infelizmente causa ainda mais dor no
indivíduo, uma vez que todos os sentimentos negativos ressurgem assim que os efeitos
causados por elas terminam, somados a humilhação, agora por ter recorrido a esses meios,
e também a desaprovação familiar, social e de seus pares que pode ser causada por esse
uso. Sendo assim, percebe-se que o uso e abuso de substâncias químicas e álcool é, não
só, o efeito do quadro depressivo característico do desemprego, mas também um agravante
deste.

De Oliveira afirma que outra questão importante nesta discussão que está
diretamente ligada ao quadro depressivo é o suicidio. (De Oliveira, 2015). A autora ressalta
que o ato de voluntariamente dar fim à própria vida é um evento de origem multifatorial
resultante da combinação de: transtorno psicológico prévio, peculiaridades culturais, rede
de apoio social e acontecimentos estressantes.
O desemprego se encaixa exatamente no último dos fatores citados, ou seja como
um acontecimento estressante que somado a outros fatores pode ser desencadeante de um
evento suicida. Esse suicidio se encaixa no que de acordo com De Oliveira, Durkheim
classificou como suicidio anômico enfatizando dessa forma a importância de fatores
ambientais sobre o evento suicida.

De forma geral, como afirma De Oliveira (2015, p.26) O desemprego se caracteriza


como um evento estressante na vida recente do indivíduo que, aliado a outros fatores
antecedentes, pode dar início à manifestação de psicopatologias, funcionando como um
gatilho que desencadeia uma crise. É importante aceitar então que o desemprego não é
mais um fenômeno que pertence somente a ordem econômica e política, sendo complexo e
efetivamente um problema de saúde pública.

IMPACTOS DA PANDEMIA RELACIONADOS AO DESEMPREGO.

De acordo com Costa (2020) citando a OMS, no dia 11 de março de 2020, a


Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que estava em curso uma pandemia
denominada COVID-19. O vírus rapidamente se expandiu pelo mundo, com impactos
profundos na saúde pública e choques sem precedentes nas economias e nos mercados de
trabalho (OMS, 2020).

Uma vez que, a principal consequência da Pandemia no mercado de trabalho foi o


desemprego, nota-se a importância de abordar esse tema no presente trabalho que tem
como foco exatamente esse fenômeno. Costa citando a Organização internacional do
trabalho (OIT, 2020) ressalta que as medidas de bloqueio total ou parcial, realizadas por
vários países para retardar a disseminação da doença, afetaram quase 2,7 bilhões de
trabalhadores, representando cerca de 81% da força de trabalho mundial.

Em relação aos dados disponíveis sobre o brasil, Da silva afirma citando o IBGE
(2020) que:

O número de pessoas desempregadas em 2019 foi alto e mostra que durante o


primeiro trimestre de 2020, após o primeiro caso de COVID-19 no Brasil, o número
de desempregados subiu para 14 milhões de pessoas no trimestre encerrado em
novembro de 2020.

Sendo assim, é expressiva a quantidade de pessoas que perderam seus empregos


durante esta crise, o que faz surgir, sejam naquelas que ficaram desempregadas ou
naquelas que temem ficar, sentimentos de insegurança e medo. No caso dos primeiros, o
medo está relacionado ao fantasma do desemprego que de acordo com Ribeiro (2009,
p.337):

O medo do desemprego, mesmo como fantasma potencial, assombraria à quase


todos, relegando as pessoas a uma situação de instabilidade, insegurança, falta de
referências seguras, desconfiança dos padrões passados e desconhecimento do que
fazer para o futuro.
O fantasma que usualmente assombra os trabalhadores em dias pacíficos, fica
ainda mais assustador perante uma crise tão instável como foi o caso da pandemia. Já no
caso daqueles que perderam seus empregos, o fantasma que os assombrou foi o da fome.
Da silva et al afirma que:

Tal realidade, consiste em um problema social, levando inúmeras famílias a


passarem por necessidades, a exemplo, de não ter o que comer; além de
acarretar efeitos negativos na saúde mental da população.

Neste sentido, ficam evidentes as consequências materiais e psicossociais que


trouxe esse período. Na pesquisa realizada por Da Silva et al (2021) foi utilizado o Teste de
Associação Livre de Palavras para conhecer as representações sociais do desemprego,
saúde mental e pandemia de jovens que se submeteram ao teste.

Como resultado para saúde mental, a palavra ansiedade surge como principal
referência, o que de acordo com Da Silva Et Al revela a ótica de vivência destas pessoas
durante os acontecimentos que marcam o período, além de representar uma preocupação
demasiada com o cenário de pandemia.

Para Pandemia, a palavra com maior destaque foi medo, revelando ser essa a
emoção mais sentida pelos indivíduos. O medo aqui envolve duas variáveis, o medo de se
infectar e o medo relacionado ao quesito financeiro. De acordo com Da Silva et al seus
achados coincidem com os achados de Bezerra et al, (2020), e revelam que :

Em seu estudo que além da preocupação com a saúde, o aspecto financeiro


também ressalta-se por medo de que piores agravações ocorram neste
cenário, revelando que o quesito financeiro se destaca e se torna impreciso
para muitas pessoas.

Se vê mais uma vez que o fantasma do desemprego tem uma presença opressora
nesse cenário ‘caótico’ que representa a pandemia, e isso nos leva a próxima
representação social analisada, a do desemprego. Neste caso, a palavra, fome, foi a mais
expressiva.

No Brasil, o trabalho remunerado ocupa a centralidade na maioria das famílias, pois


esta é a única fonte de renda, sendo assim o único recurso para garantir a sobrevivência.
Desta forma, fica evidente o motivo da associação entre a palavra desemprego e a palavra
fome. Frente a ameaça da perda do emprego formal ou informal e até mesmo a
concretização deste, existe ao mesmo tempo a ameaça da fome.

As famílias que estão antes mesmo da pandemia, inseridas em um contexto de


vulnerabilidade são as mais afetadas por este acontecimento. De acordo com Costa (2020)
a pandemia atinge com maior intensidade a população que vive na informalidade e reside
em áreas precárias. São exatamente essas pessoas que não tem o mínimo para uma
sobrevivência digna e que foram afetadas seja pelo pouco espaço e saneamento que lhes
impedia de seguir as recomendações do Ministério da Saúde ou quando falamos mais
especificamente do tema deste trabalho por não contarem com leis trabalhistas que os
pudesse proteger frente tal situação inesperada . Segundo Costa (2020):
A informalidade é concebida em sentido amplo – desprovida de
direitos, fora da rede de proteção social e sem carteira de trabalho.
Desemprego ampliado, precarização exacerbada, rebaixamento
salarial acentuado, perda crescente de direitos – esse é o desenho
mais frequente da classe trabalhadora.

Costa (2020) afirma que outra consequência da pandemia é :

o aumento do desemprego e, portanto, a elevação da informalização


do trabalho, dos terceirizados, dos subcontratados, dos
flexibilizados, dos trabalhadores em tempo parcial e do
subproletariado.

Nesse sentido, a pandemia causou um grande impacto no mercado de trabalho,


sendo um deles a maior informalização, o que vulnerabiliza ainda mais certos segmentos da
sociedade, e não menos importantes, são seus reflexos na saúde mental de grande parte
da população Brasileira que marcada por históricos já presenciados no país temem a fome
e a pobreza.

Costa (2020) Sugere como solução para a situação econômica:

No contexto de pós-COVID-19, o governo precisará elevar os gastos


com programas sociais e políticas de transferências de renda, que
serão imprescindíveis ao enfrentamento da pobreza e à garantia na
alocação intertemporal de consumo por meio do ciclo de vida,
funcionando como um seguro social.

Por outro lado, pensando em resoluções que contemplem a saúde mental da


população, Da Silva et al (2021) sugere o fortalecimento das redes de apoio familiar, dos
serviços de saúde e da atenção psicossocial para o suporte emocional.

ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL EM


RELAÇÃO AO DESEMPREGO.

Como visto até aqui o desemprego é um fenômeno multifacetado que afeta a


distintas esferas da vida dos indivíduos e é exatamente por isso que exige para a
elaboração de estratégias de enfrentamento uma abordagem interdisciplinar, se tratará
neste trabalho especialmente sobre as contribuições da psicologia social. No entanto isso
não foi sempre assim de acordo com Blanch (2003) apud Ribeiro (2009, p.333):

Nas últimas décadas do século XX, o mundo presenciou uma mutação


sociolaboral, na qual o emprego deixou de ser central para a organização do
trabalho, houve um aumento significativo do desemprego e o surgimento de
formas precárias de trabalho, nomeadas de subemprego.

O desemprego existia antes, no entanto, apenas como algo temporário ou como o


chamado exército de Reserva de Karl Marx, ou seja algo previsível e controlável resolvido
com estratégias políticas e econômicas, mas isso se altera durante o século XX, fazendo
com que esse fenômeno não seja mais tão simples .

Desta forma, para elaborar estratégias de ação contra o desemprego é necessário


primeiramente, considerar a natureza multifatorial desse fenômeno e ressaltar que o
investimento em apenas uma das dimensões do problema não é suficiente para resolvê-lo.
Segundo Ribeiro (2009, p.340) :

O aumento da oferta de emprego e o aumento da qualificação dos


trabalhadores são ações importantes, mas insuficientes como solução
genérica de combate ao desemprego ou, pelo menos, de diminuição do seu
índice, pois outros aspectos, por exemplo, ligados aos impactos
psicossociais do desemprego ou então do auxílio à pessoa em situação de
desemprego na reconstrução do seu projeto de vida no trabalho, são
igualmente importantes e pouco explorados: é nesta dimensão que a
Psicologia poderia contribuir de forma efetiva na elaboração e
implementação de estratégias micropolíticas para lidar com o desemprego

Fica evidente então, que o combate ao desemprego deve envolver diversos setores
e ter ações de grande e pequena escala. Segundo Ribeiro (2009, p.340) o Sistema Nacional
de Emprego (SINE) propõe quatro ações básicas de auxílio às pessoas em situação de
desemprego que são: a intermediação, a qualificação, a certificação e a orientação,
associado às ações de assistência social. No entanto, o autor afirma que por mais que
algumas dessas ações recebam a devida atenção e investimentos, são escassas as ações
relacionadas à orientação profissional e ocupacional, o que é lamentável uma vez que
estas ações são extremamente importantes pois permitem a reconstrução da vida
sociolaboral do indivíduo.

Dentre as estratégias, medidas como, regulação da economia com crescimento,


aumento da oferta de empregos, incentivo aos micronegócios com programas de
microcrédito, programas de qualificação e incentivo a economia solidária, que são medidas
macroeconômicas e das políticas públicas de trabalho e emprego devem continuar e se
ampliar sendo importante parte do processo de enfrentamento, porém não a única.

Vale ressaltar que o desemprego ganhou destaque nas dinâmicas sociais e do


trabalho, deixando de ser apenas um fenômeno político e econômico e passando a ser
também psicossocial, devemos, então, refletir sobre possibilidades de intervenção da
Psicologia Social, principalmente a do trabalho. Para buscar estratégias de enfrentamento é
necessário entender o fenômeno do desemprego e para isso, é essencial que se entenda
sobre o trabalho, principalmente sua dimensão psicossocial, que de acordo com Ribeiro
(2009, p. 334) citando Dejours (1999a; 2003):

O trabalho media o acesso ao real e possibilita: o engajamento do corpo no


mundo; as relações intersubjetivas; e a construção da identidade e do
reconhecimento psicossocial.

Neste sentido, o trabalho ocupa posição fundamental nos processos de


reconhecimento social, inclusão do ser na sociedade, e na produção de sentidos para a vida
deste. O desemprego seria então, um fenômeno que ao privar os indivíduos de tudo isso
coloca-os em uma situação de vulnerabilidade social , uma vez que, segundo Goffman
(1975) apud Ribeiro (2009, p.337), ele gera um papel e uma identidade social para aquele
que está em situação de desemprego que está usualmente associado a atributos de
deslegitimação.

Portanto, a desvinculação do mercado de trabalho formal provoca perdas materiais e


psicossociais que dificultam, e em alguns casos, inviabilizam a busca e a concretização de
um novo emprego, vale ressaltar que quem vivencia a situação de desemprego é uma
pessoa e onde há pessoas há espaço para o trabalho do psicólogo, logo fica evidente a
necessidade do olhar da psicologia nessa questão. Para falarmos sobre as possíveis
contribuições da psicologia, precisamos primeiramente lembrar que para desenvolver um
trabalho eficaz, o profissional precisará desenvolver conhecimentos acerca do mundo do
trabalho e estabelecer diálogos constantes com a economia e com as ciências sociais e
políticas.

A Psicologia pode atuar em quatro níveis para a solução do desemprego que são: o
nível teórico, o nível político, o nível programático e o nível da ação. Ao apontar que a
situação de desemprego se constitui numa ruptura com as relações sociais e uma perda de
sentido e identidade capaz de gerar sofrimento, buscando então construir uma
compreensão psicossocial sobre o emprego, o psicólogo atua no nível teórico, já ao integrar
equipes que constroem as políticas públicas de trabalho e emprego e compor equipes que
colocam em ação as políticas públicas de combate ao desemprego são respectivamente
ações nos níveis político e programático. O nível da ação, segundo Ribeiro (2009, p. 342):

auxilia as pessoas em situação de desemprego com estratégias de


intervenção próprias da psicologia, que visem, basicamente, o acolhimento
de demandas manifestas, a organização das ideias e a reflexão conjunta
sobre as possibilidades de resolução do problema apresentado.

O objetivo principal da intervenção psicossocial é a elaboração e implementação de


um projeto de vida e de um plano de ação sociolaboral. De acordo com Ribeiro (2009,
p.343), a importância dessas elaborações residem em:

- Restituir a capacidade de construir uma referência a qual seguir para navegar no


mundo do trabalho.
- Constituir a sistematização de um repertório de conhecimentos e estratégias.
- Possibilitar a restituição da capacidade de analisar o mundo do trabalho e refletir
sobre suas reais oportunidades, diminuindo sua submissão.
- Possibilitar a formação de redes sociais que são fundamentais para a conquista de
um pouco mais de força no mundo do trabalho.

Em síntese, o desemprego adquiriu a partir do século XX novas dimensões o que


refletiu na necessidade de considerá-las no momento de pensar em estratégias para a
resolução deste problema. Este tópico do trabalho buscou demonstrar a importância de
além das ações macroeconômicas e macropolíticas, a da atuação da psicologia no
enfrentamento deste fenômeno ao atuar principalmente em seu aspecto psicossocial,
através de estratégias como a elaboração de um projeto de vida e de um plano de ação
sociolaboral que desenvolvem nos indivíduos a capacidade de lidar com o desemprego de
forma distinta que não seja apenas buscando entrar em outro emprego que poderia
prontamente ser encerrado mais uma vez.

REFERENCIAS:

Representações sociais do desemprego, saúde mental e pandemia da covid-19 em


uma pequena amostra brasileira, Da Silva et al (2021)

Estratégias Micropolíticas para Lidar com o Desemprego: Contribuições da


Psicologia Social do Trabalho, Marcelo afonso ribeiro (2009)

Pandemia e desemprego no Brasil, Simone da Silva Costa.(2020)

SAÚDE MENTAL E DESEMPREGO: CONFIGURAÇÕES DA


VIVÊNCIA PSICOLÓGICA DO SUJEITO DESEMPREGADO E SUAS
PSICOPATOLOGIAS, ANDRÉIA NICOLAU DE OLIVEIRA (2015)

https://exame.com/carreira/11-filmes-que-mostram-o-lado-sombrio-do-mundo-do-trab
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