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DESCRIÇÃO
Apresentação dos conceitos sobre a justiça no Brasil e a Nova República, assim como sobre o
papel do Supremo Tribunal Federal e seu ativismo judicial, além dos direitos fundamentais e da
credibilidade do Poder Judiciário.
PROPÓSITO
Compreender o funcionamento da justiça no Brasil, o papel do Supremo Tribunal Federal como
árbitro do conflito entre os Poderes no contexto atual com temas centrais, além da
judicialização da política, do ativismo judicial
e da crise de credibilidade do Poder Judiciário.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos a Constituição da República Federativa
do Brasil (CRFB) de 1988 para consultar os dispositivos constitucionais mencionados.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer a construção do papel do Supremo Tribunal Federal como árbitro dos conflitos
entre os Poderes
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Como você já deve ter imaginado, a história do Brasil, com atenção especial aos governos
militares, encaminhou a nação para a promulgação da CRFB de 1988, a chamada
“Constituição Cidadã”, já que esses fatos estimulavam uma
preocupação com a construção de
um sistema constitucional efetivo.
Se a ideia era justamente proteger o povo, o território e o país, nada seria mais justo do que
eles contarem com o auxílio de uma jurisdição constitucional. Sendo assim, esse papel central
ficou a cargo do Supremo Tribunal
Federal (STF).
No entanto, nos últimos anos, algumas críticas foram surgindo diante do ativismo judicial cada
vez mais presente em um contexto de judicialização excessiva e perda de credibilidade do
próprio Poder Judiciário. Tendo isso em
vista, estabeleceremos neste tema um panorama de
três assuntos centrais relativos a tal quadro.
Na terceira parte, por fim, delinearemos um panorama histórico do papel do STF até a Nova
República a fim de consolidar, na CRFB/1988, seu papel como árbitro dos conflitos dos
Poderes.
JÁ NO MÓDULO 2, ENTENDEREMOS O CONTEXTO
QUE PROPICIOU UMA ATUAÇÃO JUDICIAL ATIVISTA.
O terceiro módulo também está dividido em três partes. Na primeira, descreveremos a teoria da
supremacia judicial. No decorrer disso, trataremos dos problemas centrais dessa teoria e do
processo de judicialização excessiva,
tendo em vista principalmente o STF e o seu modelo
deliberativo.
Por último, listaremos algumas pesquisas empíricas a fim de constatarmos uma crise de
credibilidade do Judiciário na sociedade, tendo em conta uma crescente falta de confiança na
instituição.
MÓDULO 1
RESPOSTA
Eles deveriam ser aplicados pela possibilidade de colisão com outros princípios e pelo
atendimento aos preceitos da ponderação (adequação, necessidade e proporcionalidade
em sentido estrito). A aplicação judicial seria feita
segundo essa lógica, ou seja, quando
houvesse uma demanda relacionada a direitos fundamentais.
É importante frisar que a CRFB/1988 consagra a separação dos Poderes em seu artigo 2º.
Ademais, em seu artigo 60, §4º, III, ela confirma sua importância ao instituí-la como cláusula
pétrea, configurando, portanto,
um limite material ao poder de reforma constitucional.
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Em outras palavras, isso significa dizer que, além de ser uma marca essencial do Estado
brasileiro, a separação dos Poderes é um princípio indissolúvel. Segundo Luís Roberto Barroso
(2013, p. 196-198), ela ordena a
divisão das funções estatais, cada qual dotada de autonomia,
e o controle recíproco entre elas com o intuito de evitar excessos de poder.
Para Prieto Sanchís (2013, p. 32-65), podemos inferir dessas heranças, sejam elas a norte-
americana ou a europeia (que deriva principalmente dos estudos de Locke e Montesquieu),
que a estrutura dos Estados formados a partir
desses processos históricos considerou como
preocupação central a consolidação de limitações ao poder estatal e a proteção de
direitos individuais.
EXECUTIVO
LEGISLATIVO
JUDICIÁRIO
Traduzida como “sistema de freios e contrapesos”, essa teoria foi desenvolvida pelo
francês Montesquieu, cujas ideias, por sua vez, foram divulgadas por filósofos anteriores,
como, por exemplo, Locke. Na visão de freios e contrapesos,
destaca Bonavides (1988),
estabelecem-se a autonomia e os limites para que os Poderes possam atuar em
segurança com o objetivo de impedir autoritarismos e tiranias.
De toda forma, conforme as disposições constitucionais, as funções típicas de cada Poder são
as seguintes:
PODER LEGISLATIVO
PODER EXECUTIVO
PODER JUDICIÁRIO
Exerce a competência de legislar (artigos 44 a 75, CRFB/1988).
O artigo 49, V, da CRFB/1988 também pode servir de exemplo, pois ele dispõe sobre a
hipótese de o Congresso Nacional sustar atos normativos do Executivo que exorbitem seu
poder regulamentar ou os limites impostos por via de
delegação legislativa.
Voltemos agora nosso olhar para o Judiciário, que é o tema central do presente estudo. Ele tem
como função precípua, portanto, interpretar e aplicar o direito.
Essa função, como sabemos, possui diversos vieses. Vejamos dois deles:
CONTRIBUIR NA CONCRETIZAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO
Ele o faz especialmente por meio do controle jurisdicional de constitucionalidade dos atos e
omissões do poder público.
Este módulo tem o intuito de, no contexto apresentado, definir como se dá a relação do STF
com os demais Poderes segundo a lógica de freios e contrapesos. Por conta disso,
apresentaremos os debates sobre o surgimento do controle
de constitucionalidade, apontando
as finalidades dele e sua legitimidade, além de sua consolidação no Brasil.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A JURISDIÇÃO
CONSTITUCIONAL
Com tal viés, é importante perceber que, em sua origem, a separação dos Poderes não
contemplava uma função de controle de constitucionalidade pelos tribunais. O que havia era a
ideia de que o juiz tinha um papel de mero “boca
da lei”, ou seja, sua função era extrair
decisões do conteúdo da lei em um processo silogístico.
Para entender a origem dessa ideia, devemos recorrer à literatura especializada. Ela nos
remete à construção do modelo relativo ao caso “Marbury versus Madison (1803)”, pois deriva
daí a possibilidade de controle difuso
de constitucionalidade das leis.
EXEMPLO
À época, houve uma importante fundamentação de Marshall, então ministro da Suprema Corte
norte-americana, segundo a qual a constituição visaria a controlar os Poderes do Estado em
um conflito entre os atos normativos
e a Constituição. Por uma questão de hierarquia,
considerou-se que esta deveria prevalecer.
No caso específico que estamos verificando, não foi reconhecida a competência da Corte. No
entanto, ficou estabelecido o precedente de possibilidade do controle de constitucionalidade e
a autoridade dela para revisar os atos
do Congresso.
O fato é que o STF, como instância máxima do Judiciário brasileiro, possui competência
explícita atribuída constitucionalmente para julgar a constitucionalidade — ou
inconstitucionalidade — de leis e atos normativos. Isso ocorre
independentemente de caso
concreto ou em tese, havendo, conforme assevera o artigo 120 da CRFB/1988, a
consequência de sua manutenção ou suspensão da ordem jurídica.
OCORRE ESPECIALMENTE NESSE PONTO A
RELAÇÃO DO STF COM OS DEMAIS PODERES, JÁ
QUE OS ATOS EMITIDOS PELO LEGISLATIVO E PELO
EXECUTIVO SÃO JUSTAMENTE O OBJETO DE
JULGAMENTO.
RESPOSTA
Para parte da literatura, em que pese o Judiciário não ser composto por membros eleitos pelo
voto popular, sua legitimidade para controlar a constitucionalidade dos atos normativos deriva
de dois fatores: independência e autonomia.
Além disso, a possibilidade de controle garante a pacificação dos conflitos, tendo em vista que
os julgamentos se dão, em última instância, com efeito vinculante para que haja estabilidade e
harmonia social.
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PUBLIC CHOICE
A escolha pública, afirma Butler (2015), é o ramo da teoria econômica aplicado à política
e aos serviços públicos. Segundo esta teoria, o político é um servidor humanístico,
priorizando seu autointeresse.
A Corte Constitucional ainda teria como característica seu isolamento político e sua
estabilidade interna. Ambos possibilitariam melhores julgamentos e uma vinculação à
CRFB/1988.
Tal argumento é reforçado diante dos estudos de análise econômica do direito. Podemos
entender por qual motivo, segundo essa literatura especializada, os processos deliberativos, na
prática, passam por distorções nas democracias
contemporâneas.
Segundo a teoria da public choice , o processo político — de discussão e aprovação das leis,
as quais, em
regra, são propostas pelo Executivo e votadas pelo Legislativo — sofre influências
de motivações de grupos de interesse.
Guiados por uma lógica econômica de maximizar seus interesses ou visando à reeleição, eles,
portanto, guiariam suas decisões políticas de acordo com demandas privadas, desvirtuando o
que é de interesse público.
O PROCESSO LEGISLATIVO, PORTANTO, ACABARIA
LIGADO AO FAVORECIMENTO DE GRUPOS DE
INTERESSE E GERARIA NORMAS A PARTIR DE
DEBATES ENVIESADOS.
No Brasil, um exemplo desse problema seria o presidencialismo de coalizão, que demarca uma
lógica de atuações do Executivo e do Legislativo.
Esse controle gera a necessidade de uma coalização a fim de implantar projetos políticos.
Além disso, abre margem para que os interesses privados penetrem nas escolhas públicas.
Desse modo, você pode verificar que a possibilidade de recorrer à jurisdição constitucional
seria positiva por três aspectos centrais. Jeremy Waldron (2006. p. 1376), com o intuito de
realizar uma análise crítica de seus argumentos,
os divide da seguinte maneira:
PRIMEIRO
As questões julgadas seriam tidas em contextos específicos por meio de ações propostas
sobre objetos definidos.
SEGUNDO
A abordagem dos tribunais estaria vinculada ao texto constitucional e aos direitos nela
preconizados.
TERCEIRO
As lógicas de raciocínio e fundamentação judiciais estariam, ainda que diante da dificuldade
contramajoritária, inseridas em uma tentativa de deliberação racional.
O processo de controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos conta com a
participação dos demais Poderes no sistema brasileiro. Ele assim opera pelo fato de tanto o
Executivo — na figura do presidente da República
— quanto o Legislativo, além da mesa do
Senado Federal e a da Câmara dos deputados, possuírem legitimidade para propor ação no
STF (artigo 103, incisos I, II e III, CRFB/1988).
Infere-se então que o presidente também pode realizar um juízo de constitucionalidade a fim de
fazer um controle de projeto de lei por meio do veto (artigo 66, §1º, CRFB/1988), o qual,
inclusive, pode ser rejeitado pelo Congresso
Nacional com quórum qualificado (artigo 66, §4º,
CRFB/1988).
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Notemos ainda que o Legislativo conta com a Comissão de Constituição e Justiça, que avalia a
constitucionalidade de leis antes de levá-las à votação (art. 58, CRFB/1988).
Para Waldron (2006, p. 1376), os argumentos a favor da jurisdição constitucional teriam falhas
intrínsecas:
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Por sua vez, a legitimidade dos ministros se daria tão somente de forma indireta — por meio da
indicação do Executivo — e não acarretaria responsabilização. Afinal, não existe o incentivo da
reeleição para as tomadas de decisão
de acordo com o interesse público e a vontade popular.
De qualquer modo, a atuação dos ministros tem de ser de relativa deferência, ou seja, de
respeito às decisões tomadas pelas outras esferas de poder, na medida em que os
legisladores, pelo princípio democrático, são as autoridades
que detêm o batismo do voto
popular.
A demanda, portanto, é por uma postura relativamente autocontida, pois o intérprete deve
limitar a si mesmo a fim de preservar as decisões tomadas – desde que não estejam eivadas
pelo vício de inconstitucionalidade – pela autoridade
do legislativo ou pelo chefe do Executivo.
Uma última questão diz respeito ao contexto brasileiro específico que levou o Judiciário a
ganhar importância e se tornar um árbitro dos conflitos entre os Poderes na Nova República.
ESSE PERÍODO SE INICIA COM O FIM DA DITADURA
MILITAR E TEM COMO MARCO A PROMULGAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO DE 1988, QUE BUSCAVA
CONSOLIDAR A DEMOCRACIA E PROMOVER OS
DIREITOS FUNDAMENTAIS.
Até 1988, como destaca Rodrigo Brandão (2012), as condições fáticas não contribuíam para a
expansão do poder político do Judiciário:
1824
A respeito do Império, a Constituição de 1824 não previa o controle de constitucionalidade. O
modelo norte-americano republicano, influente à época, não era compatível com a tradição
imperial. Desse modo, essa Constituição
delegava uma série de competências ao poder
moderador, enquanto a função de protegê-la permanecia delegada ao Parlamento.
1891
Posteriormente, em 1889, com a Proclamação da República, D. Pedro II, ciente da crise
política, buscou resolver os problemas de conflitos entre os órgãos estatais. Ele inclusive
chegou a enviar juristas para os Estados
Unidos a fim de que eles estudassem o modelo de
controle de constitucionalidade norte-americano.
1934
A Constituição de 1934 manteve as influências do modelo norte-americano, mas tentou
resolver problemas revelados por um transplante acrítico — ocorrido na experiência anterior —
para o Brasil. Com isso, não havia unicidade
da interpretação constitucional, de modo que os
precedentes não vinculavam.
Para tanto, atribuiu-se competência ao Senado Federal para revogar leis declaradas
inconstitucionais pelo Supremo por meio de um mecanismo de requisição. Além disso, instituiu-
se a reserva do plenário; com ela, a maioria
absoluta dos membros do STF deveria se
manifestar para que houvesse a declaração de inconstitucionalidade de uma lei.
Por fim, foi criada uma modalidade de controle concentrado. As ações de inconstitucionalidade
somente poderiam ser julgadas pelo Supremo.
1937
Após a Intentona Comunista e os rumores sobre o Plano Cohen, a Constituição da Polaca foi
instituída com o intuito de corroborar o governo autoritário. O Legislativo deixou de funcionar.
Foi então que Getúlio Vargas concentrou em si as funções dos Poderes Executivo e
Legislativo, tendo ainda a faculdade de suspender, caso quisesse, uma decisão de declaração
de inconstitucionalidade do Supremo. Nesse
contexto, a Corte não podia tratar de questões
políticas no âmbito de seus julgamentos.
1946
Após Getúlio Vargas ter sido deposto no ano anterior, a Constituição de 1946 reestabeleceu os
institutos da Constituição de 1934.
1967
Com o golpe militar em 1964 e, em seguida, a promulgação da Constituição de 1967, foi
estabelecido um controle judicial concentrado, abstrato e repressivo da constitucionalidade. No
entanto, o contexto não favoreceu
um fortalecimento e expansão do Supremo.
É fácil compreender que isso ocorreu porque a maioria dos ministros era a favor do regime.
Além disso, a legitimação para a propositura de ações diretas de inconstitucionalidade estava
restrita ao procurador-geral da
República, que poderia ser discricionariamente retirado do cargo
se propusesse ações contrárias às ideias do Executivo.
1988
Por fim, a Constituição de 1988 consolidou a expansão do controle de constitucionalidade e a
sistematização de um modelo misto de controle difuso e concentrado.
Em primeiro lugar, houve o aumento do número de legitimados para a propositura das ações
de inconstitucionalidade — entre os quais constam as mesas do Senado e da Câmara dos
Deputados, além do presidente da República
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Para os casos de inconstitucionalidade por omissão dos poderes políticos que firam os direitos
fundamentais, dois instrumentos foram viabilizados: a ação direta de inconstitucionalidade
(ADI) por omissão e o mandado
de injunção.
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O Executivo possui, de acordo com o artigo 103, I, da CRFB/1988, legitimidade para propor
dois tipos de ação direta: de inconstitucionalidade e constitucionalidade. O Legislativo possui
as mesmas prerrogativas, informam as
alíneas II e III do mesmo artigo. Por fim, há a
possibilidade de promulgação de emenda constitucional em contrariedade a uma decisão do
STF — exceto se houver violação de cláusulas pétreas.
Além dos mecanismos já citados, que influenciam o funcionamento dos Poderes e acirram sua
relação, eles podem, caso haja conflitos, recorrer ao STF para a resolução e a resguarda da
Constituição. Para isso, foram criados outros
instrumentos relevantes.
DESENHOS INSTITUCIONAIS
DEMOCRATIZAÇÃO
DEMANDAS SOCIAIS
COMPORTAMENTO DOS ATORES POLÍTICOS
As causas desse primeiro momento de restrição estariam ligadas à composição do STF, que se
manteve praticamente intacta durante a redemocratização. Além disso, aponta Arguelhes
(2018), ocorreu uma ação estratégica em um momento
em que as regras do jogo democrático
ainda eram recentes e por conta do receio de que houvesse uma explosão de litígios.
Além dos desenhos institucionais, as preferências dos ministros que compõem a Corte são
cruciais para entendermos seu protagonismo atual. No contexto de 1988, frisa Oscar Vilhena
Vieira (2018), havia uma desconfiança da democracia
e uma incerteza quanto ao texto e à
estrutura constitucional que estava sendo moldada.
Esse ambiente fez com que os constituintes adotassem uma dupla estratégia de proteção
contra as incertezas do futuro. Inicialmente, eles entrincheiraram diversos direitos com o
objetivo de resguardá-los das maiorias futuras.
Em seguida, os constituintes...
ATRIBUÍRAM AMPLOS PODERES AO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PARA BLOQUEAR DECISÕES
FUTURAS DO SISTEMA REPRESENTATIVO QUE
VIESSEM A AMEAÇAR ESSES MESMOS INTERESSES,
PRIVILÉGIOS OU DIREITOS, AINDA QUE POR
INTERMÉDIO DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO; PARA
JULGAR AS PRINCIPAIS AUTORIDADES, ENTRE AS
QUAIS OS PRÓPRIOS MEMBROS DO PARLAMENTO; E
PARA RESOLVER OS CONFLITOS ENTRE OS
PODERES.
HIPERCONSTITUCIONALIZAÇÃO DE DIREITOS
SUPERPOSIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES
Tais fatores, pontua Vieira (2018), não foram respondidos imediatamente com uma atuação
expansiva.
O AMBIENTE DE REDEMOCRATIZAÇÃO
PROGRESSIVAMENTE TORNOU POSSÍVEL A
CONSOLIDAÇÃO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
E A EXPANSÃO DA ATUAÇÃO DO STF.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EM RELAÇÃO ÀS CONSTITUIÇÕES ANTERIORES, A DE 1988
REFORÇOU A JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. PARA RESOLVER O
PROBLEMA DA DIFICULDADE CONTRAMAJORITÁRIA, NO ENTANTO,
ELA ESTABELECEU MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO DOS OUTROS
PODERES NO PROCESSO DE AVERIGUAÇÃO DA
CONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS. TODOS ESSES MECANISMOS
ESTÃO ELENCADOS A SEGUIR, EXCETO:
B) A legitimidade das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado para propor ações no
STF.
A) I
B) II
C) I e II
D) II e III
E) I, II e III
GABARITO
O veto presidencial somente pode ser rejeitado mediante o voto da maioria absoluta dos
deputados e senadores, informa o artigo 66, § 4º, da CRFB/1988.
MÓDULO 2
Esses direitos são representados, em grande parte, pelo estado democrático de direito. Ele,
por sua vez, está estritamente ligado à posição que o Poder Judiciário deve ocupar e à própria
separação dos Poderes.
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Em outras palavras, enquanto as regras se aplicam em uma lógica de tudo ou nada, de modo
que ela incidirá desde que tenha ocorrido o fato descrito na regra, os princípios possuem uma
dimensão de peso. Eles são mandados de otimização.
OS PRINCÍPIOS DEVERIAM SER APLICADOS
LEVANDO QUAIS PONTOS EM
CONSIDERAÇÃO?
RESPOSTA
Todos os direitos fundamentais estabelecidos constitucionalmente podem ser exigíveis,
inclusive por via judicial.
Ainda nos casos de descumprimento pelos Poderes majoritários quanto a preceitos e valores
constitucionais, a jurisdição constitucional pode ser acionada e atuar para conferir efetividade e
concretude à Constituição. Já a dificuldade
contramajoritária, que permeia a jurisdição
constitucional, tem como contra-argumento a necessidade de proteção de direitos
fundamentais e de manutenção das regras do jogo democrático.
Quantitativo
Qualitativo
Em seguida, a judicialização qualitativa se deu à medida que, explica Barroso (2018, p. 23), as
questões de relevância nacional, em diversas matérias, “passaram a ter o seu último capítulo
perante os tribunais”.
Quanto mais vezes o Judiciário for acionado para resolver conflitos legais e constitucionais,
mais demonstrado estará que os demais Poderes não estão sendo eficientes na entrega de
suas competências. Nesse sentido, pontua Barroso (2018, p. 24), “a judicialização
evidencia,
assim, uma deficiência grave no funcionamento da política majoritária, que é aquela conduzida
pelos órgãos eletivos – Legislativo e Executivo”.
O fenômeno da judicialização da vida surgiu em concomitância com a própria judicialização da
política e a expansão do STF.
RESPOSTA
Na seara política, tal fenômeno seria, aponta Brandão (2013, p. 177), “o processo pelo qual as
Cortes e os juízes passam a dominar progressivamente a produção de políticas públicas e de
normas que antes vinham sendo
decididas (ou, como é amplamente aceito, que devem ser
decididas) por outros departamentos estatais, especialmente o Legislativo e o Executivo”.
Brandão (2013) explica que, de modo geral, há três teorias acerca do processo de expansão
do Poder Judiciário:
CONCEITUALISTAS
FUNCIONALISTAS
ESTRATÉGICAS
Para as teorias estratégicas, o foco são outros fatores, como, por exemplo, a atuação
estratégica de grupos políticos a fim de judicializar direitos em prol do seu interesse. Também
se menciona a incerteza
quanto ao futuro político a partir da ideia de seguro político de
Ginsburg, segundo a qual os atores institucionais, eventualmente perdedores dos processos
políticos, estabelecem limites para a atuação
das maiorias do futuro.
Por conta disso, completa Ginsburg (2008), havendo incerteza eleitoral, os grupos políticos
perdedores poderiam incentivar a constitucionalização de alguns temas a fim de estabelecer
limites à atuação dos grupos eleitos.
Como cabe ao Judiciário a função de dirimir os conflitos entre Poderes — e em meio a entes,
partidos políticos e outros atores sociais —, o estímulo à judicialização no contexto brasileiro
advém de diversos aspectos do sistema
jurídico como um todo.
Entenderemos melhor agora a visão de Rodrigo Brandão (2013) sobre o assunto. O autor
destaca quatro condições políticas e institucionais para a expansão do Judiciário no contexto
brasileiro:
PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO
1
Acesso amplo ao controle de constitucionalidade abstrato por grupos de interesse e partidos de
oposição por intermédio da legitimidade para a propositura de ações.
2
Possibilidade de modulação dos efeitos das decisões em sede de jurisdição constitucional.
3
Emenda Constitucional Nº 3/1993, que deu um efeito vinculante às decisões com efeitos erga
omnes que se aplicam não somente aos destinatários da norma, mas também aos órgãos
administrativos e judiciais.
4
Constitucionalização abrangente.
Este é o conceito preconizado pela teoria funcionalista, aponta, entre outros autores, Rodrigo
Brandão (2013).
2. Conforme descreve Luís Roberto Barroso (2018, p. 139), “a ideia de ativismo judicial
está associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização
dos valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos
outros dois Poderes”. A esse respeito, afirma-se que:
II.As três principais críticas feitas ao ativismo judicial são aquelas relativas às
capacidades institucionais dos tribunais, às limitações ao debate público e ao fato de o
STF, composto por 11 ministros, ser uma instância tradicionalmente conservadora do
status quo .
SUPREMACIA JUDICIAL
Para que você entenda isso da melhor forma possível, faremos, em primeiro lugar, uma análise
da supremacia judicial. Em seguida, apresentaremos seus problemas e distorções,
consolidando, por fim, as causas da crise de credibilidade
do Judiciário atual.
O debate sobre a jurisdição constitucional e a possibilidade de controle dos atos normativos por
uma instância judicial propiciaram a discussão acerca da seguinte questão: quem detém a
última palavra sobre o significado da
Constituição?
Para os defensores da supremacia judicial, existem evidências práticas que justificam a sua
necessidade, mesmo que haja divergências históricas entre os países que adotam tal modelo.
Nesse sentido, Larry Alexander e Frederick Schauer (2000), pensando no caso da Suprema
Corte norte-americana, propõem quatro linhas de defesa da supremacia judicial:
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Em primeiro lugar, existe um argumento lógico que reside no fato de que há uma autoridade
inerente à Suprema Corte para a resolução de algumas questões. Essa soberania deriva da
aceitação da sociedade quanto
à vigência e à produção de efeitos dessas decisões. Ou seja, a
própria aceitação geral confere legitimidade às decisões proferidas.
O segundo argumento está centrado na função pacificadora e no ponto ótimo das decisões
judiciais. Apesar dos argumentos contrários, afirmando que a interpretação constitucional retira
o foco da deliberação
pública, os autores acreditam que a interpretação pela Suprema Corte
não elimina o desacordo subjacente.
Ela, por outro lado, garante a estabilidade e a harmonia social em relação à supremacia do
próprio texto constitucional. Ademais, a Suprema Corte seria a melhor instituição para exercer
tal competência por
conta de seu isolamento político e do alto grau de estabilidade interna e
procedimental.
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Como podemos ver, essa linha de argumentação responde a alguns pontos fundamentais. Em
primeiro plano, a supremacia judicial não violaria a prioridade legislativa na construção
normativa. Mas somente podemos inferir isso porque
a separação dos Poderes, quando
incorporada pela Constituição, cria espaços específicos de atuação de cada poder.
De um lado...
A despeito da defesa consistente desse viés analítico, diversas críticas à supremacia judicial
têm surgido nos últimos anos diante do contexto – descrito no módulo anterior – de uma
progressiva judicialização da vida e da política.
Fabiana Luci de Oliveira e Luciana Gross Cunha (2017, p. 277) destacam que existe no Brasil
um desrespeito endêmico à lei. Para elas, a “percepção geral é de que, no país, há baixo
respaldo da sociedade às regras e às autoridades
responsáveis pela sua aplicação, havendo,
portanto, um problema de enforcement” .
Essa talvez seja a causa central de uma judicialização excessiva, a qual, conforme
demonstramos anteriormente, está aliada à necessidade de tornar efetivos os preceitos
constitucionais. A questão é que, embora o Judiciário
pudesse ser uma instância fornecedora
de soluções para os conflitos, outros problemas surgiram no meio do caminho.
Em primeiro lugar, o Judiciário, por uma questão de capacidade institucional, não tem a visão
de políticas públicas necessária para efetivar os direitos fundamentais em larga escala. Tal
questão pode ser demonstrada no âmbito
da judicialização do direito à saúde.
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Embora a determinação judicial, por exemplo, para que a administração pública forneça
medicamentos em diversas hipóteses tenha o intuito legítimo de universalizar a saúde, essa
atuação causa disfunções.
Como sabemos, em alguns casos, a administração pública fica condenada a arcar com valores
irrazoáveis de tratamentos ou mesmo de medicamentos sem eficácia comprovada. Em outros,
ocorrem problemas federativos sobre qual ente
deveria ser responsabilizado nesses
processos.
Existe ainda um excesso de demandas ao Judiciário, as quais, como postula Barroso (2008, p.
4), põem “em risco a própria continuidade das políticas de saúde pública, desorganizando a
atividade administrativa e impedindo a alocação
racional dos escassos recursos públicos”.
Como você pode ver, isso interferiria na própria lógica das funções atribuídas aos três Poderes
à medida que ações judiciais fossem afetando negativamente o funcionamento de políticas
coletivas com o propósito de promover o
direito fundamental à saúde.
O relatório do CNJ (2000, p. 112) demonstra que a taxa de congestionamento, responsável por
medir o percentual dos processos judiciais que permaneceram sem solução, oscilou,
comparado ao total em trâmite no período de um ano,
“entre 70,6%, no ano de 2009, e 73,4%,
em 2016”. Embora tenha havido uma queda em 2019 — último ano analisado até o presente
momento —, a taxa ainda permanecia no valor de 68,5%, sendo relativamente alta.
COMENTÁRIO
Esse índice precisa permanecer acima do valor de 100% a fim de que não sejam acumulados
novos casos.
Embora revele uma notícia positiva para resolver os problemas de morosidade, a taxa deve ser
mantida em crescimento para que se possa chegar a um ponto ótimo e contribuir com a
diminuição da taxa de congestionamento (ainda
uma das mais altas do mundo).
Em terceiro lugar, parte da literatura acredita que a judicialização excessiva gerou uma
distorção da supremacia judicial e da separação dos três Poderes. No meio acadêmico, o
contexto de ativismo judicial exacerbado gerou
críticas incisivas ao Judiciário, minando sua
credibilidade.
EXPANSÃO CRESCENTE DO PODER JUDICIÁRIO E DO
PROTAGONISMO JURÍDICO, SOCIAL E POLÍTICO DE
SEUS JUÍZES AOS QUAIS PASSA A SUBSTITUIR OS
PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO NA
RESOLUÇÃO DOS GRANDES DILEMAS COLETIVOS
DA VIDA NACIONAL, OCUPANDO ESPAÇOS QUE
ANTES ERAM EXCLUSIVAMENTE DOMINADOS PELOS
AGENTES POLÍTICOS ELEITOS PELO POVO. E QUE,
COM ISSO, PERDERAM PROGRESSIVAMENTE
AUTONOMIA INSTITUCIONAL E IMPORTÂNCIA
POLÍTICO-SOCIAL, DEFLAGRANDO-SE UM
PROCESSO DE ENFRAQUECIMENTO LENTO E
GRADATIVO DO REGIME DEMOCRÁTICO.
Em uma linha parecida, Oscar Vilhena Vieira (2008), ao estudar a expansão da autoridade do
Supremo e dos tribunais, elenca três correntes como causas desse fenômeno.
A juristocracia, que é sua primeira teoria, afirma que a causa central desse fenômeno seria a
expansão do neoliberalismo e da globalização, gerando a noção de que os tribunais seriam um
locus de maior
estabilidade e segurança jurídica que o Legislativo.
De acordo com uma segunda linha de pensamento, essa causa estaria alinhada a uma
retração do sistema representativo. Esse sistema seria incapaz de cumprir as promessas
constitucionais e democráticas de igualdade
e justiça; portanto, ele teria aberto margem para a
ampliação do Poder do Judiciário.
Além da juristocracia, Vieira (2008, p. 444-445) estabelece que, no Brasil, se deu o fenômeno
da supremocracia. Tal termo se refere a dois aspectos:
1
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“À expansão da autoridade do Supremo em detrimento dos demais Poderes.”
Embora não faça um julgamento de valor em relação a esse fenômeno, o autor revela os
problemas de representatividade. Isso esclarece a necessidade de uma geração de debates
sobre a racionalização da jurisdição constitucional
e a lapidação do processo deliberativo a fim
de reduzir possíveis tensões políticas geradas.
Outra linha crítica da literatura brasileira centra-se no modelo deliberativo do STF e em seus
impactos na legitimidade desse tribunal.
Os autores Arguelhes e Ribeiro (2018, p. 13-14) entendem esse fenômeno como uma
influência considerável da ação individual dos ministros do STF sobre o status quo legislativo.
Por isso, “o poder judicial foi exercido
individualmente por ministros do STF sem participação
relevante do plenário da instituição ou até mesmo contra ele”.
MECANISMO 2
Os pedidos de vista a fim de controlar a agenda do tribunal.
MECANISMO 3
As declarações ou sinalizações públicas sobre decisões futuras.
Você já deve ter percebido que, dessa forma, tais ações prejudicariam a deliberação da Corte e
revelariam posições individuais no lugar das coletivas e institucionais – como elas, aliás,
deveriam ser.
QUANDO A AÇÃO DE UM ÚNICO MINISTRO É
SUFICIENTE PARA IMPEDIR MAIORIAS LEGISLATIVAS
EVENTUAIS DE APROVAR MUDANÇAS NO STATUS
QUO — SEJA DIRETAMENTE, NO CASO DE “JUDICIAL
REVIEW INDIVIDUAL” PELO RELATOR, SEJA
INDIRETAMENTE POR MEIO DE AMEAÇAS E
SINALIZAÇÕES NA IMPRENSA —, TERÍAMOS UM
“FALSO POSITIVO” NO EXERCÍCIO DO PODER
JUDICIAL. ISTO É, CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE SEM UMA MAIORIA DE
VOTOS DOS MEMBROS DO TRIBUNAL.
Ainda sobre os problemas deliberativos do STF, Virgílio Afonso da Silva (2009, p. 217), ao
tratar da origem do modelo de constitucionalidade brasileiro — e das influências dos modelos
norte-americano e europeu —, aborda algumas
características centrais da deliberação no
Supremo:
Em primeiro lugar, haveria uma “quase total ausência de trocas de argumentos entre os
ministros”.
Em segundo, a “inexistência de unidade institucional e decisória”, de modo que o tribunal não
decide de maneira coletiva e institucional, e sim por meio da “soma dos votos individuais de
seus ministros”.
Por fim, existe uma “carência de decisões claras, objetivas e que veiculem a opinião do
tribunal”.
Silva (2013) lista as três principais regras que possuem um efeito negativo nas deliberações do
STF:
Imagem: Shutterstock
Em primeiro lugar, há um papel quase irrelevante do relator, considerando que sua escolha é
arbitrária e que seu voto somente é revelado na sessão plenária. Isso inviabiliza uma discussão
prévia — ainda mais se considerarmos
que todos os demais ministros apresentam seus votos
prontos na sessão.
Imagem: Shutterstock
Em segundo, a forma de comunicação entre os ministros por meio de leitura de votos em uma
determinada ordem.
Imagem: Shutterstock
E, por fim, a possibilidade de interromper uma sessão plenária antes que os ministros tenham
tido a oportunidade de expressar sua opinião sobre o caso em questão também prejudica o
debate e diálogo.
Algumas práticas consuetudinárias também são prejudiciais a uma deliberação de fato.
Haveria certo individualismo judicial decorrente da emissão de votos individuais, o que acarreta
uma ausência de interação e consenso, sendo reforçado ainda pela ideia de que o juiz tem de
convencer seu
“auditório”.
Apesar de poder melhorar o processo decisório por meio da consideração das discordâncias e
trazer transparência, a publicação dos votos dissidentes não leva a um diálogo real nem à troca
de opiniões com
votos escritos. Ele acaba por ser uma mera formalidade de publicação.
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Um ponto central para se avaliar a crise de credibilidade do Judiciário diz respeito à confiança
que a população tem nas instâncias judiciais, especialmente o STF, que, conforme apontamos,
tem um papel de destaque no contexto
brasileiro não somente por ser sua última instância,
mas também pelo protagonismo que vem ganhando nos últimos anos.
De percepção
De comportamento
Quanto à confiança nas instituições, 24% dos entrevistados afirmaram em 2017 que confiavam
ou confiavam muito no Poder Judiciário. Esse percentual era maior que o do Congresso
Nacional (7%), dos partidos políticos (7%) e do
governo federal (6%).
Um fato curioso é que ele ficou aquém da confiança nas Forças Armadas, na Igreja Católica,
nas redes sociais, na imprensa escrita, nas emissoras de TV, nas grandes empresas, no
Ministério Público e na polícia. O percentual,
no entanto, estava no mesmo patamar da
confiança no STF.
Verifica-se na pesquisa do ICJBrasil (2017, p. 13) que a confiança no Judiciário caiu 10 pontos
entre 2013 e 2017, passando de 34% a 24%.
Talvez um aumento no percentual, ainda que pequeno, entre os anos de 2014 e 2015 tenha se
dado graças ao desenrolar da Operação Lava Jato (iniciativa de combate à corrupção e à
lavagem de dinheiro que teve início em março de
2014, gerando uma visibilidade maior à
atuação judicial e ao Ministério Público).
Conforme menciona o estudo realizado, os índices são ainda mais preocupantes quanto às
dimensões de honestidade, competência e independência da instituição.
EM 2017, 78% DOS ENTREVISTADOS CONSIDERARAM
O PODER JUDICIÁRIO NADA OU POUCO HONESTO,
OU SEJA, A MAIORIA DA POPULAÇÃO ENTENDEU
QUE ESSA INSTITUIÇÃO TEM BAIXA CAPACIDADE
PARA RESISTIR A SUBORNOS. ALÉM DISSO, 73% DOS
RESPONDENTES CONSIDERARAM QUE O JUDICIÁRIO
É NADA OU POUCO COMPETENTE PARA
SOLUCIONAR OS CASOS; E 66% ACREDITAM QUE O
JUDICIÁRIO É NADA OU POUCO INDEPENDENTE EM
RELAÇÃO À INFLUÊNCIA DOS OUTROS PODERES DO
ESTADO.
Com base nesses dados e em outros avaliados ao longo da pesquisa, o relatório do ICJBrasil
(2017, p. 7) obteve dois resultados importantes.
EM PRIMEIRO LUGAR...
Houve uma queda na avaliação da Justiça, com subíndices sofrendo uma baixa significativa
entre os anos anteriores e o de 2017 (data da pesquisa).
EM SEGUNDO LUGAR...
Ocorreu uma queda na confiança nas instituições de forma geral.
Para os pesquisadores, isso demonstra uma insatisfação quanto aos problemas de corrupção.
Outros resultados relevantes revelam que, apesar da má avaliação do Judiciário, as pessoas
ainda recorrem a ele para a resolução de conflitos e que variáveis como
escolaridade e idade
não influenciam na confiança na instituição.
Em 2019, foi a vez de outro estudo propor um diagnóstico estatístico sobre a imagem do
Judiciário. Desta vez, ele foi realizado por três instituições: FGV, AMB e Ipespe.
O ESTUDO DA IMAGEM DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO
REVELOU QUE O JUDICIÁRIO POSSUI UM ÍNDICE DE
DESCONFIANÇA DE 44%.
Ainda que ele seja menor que os índices dos demais Poderes, representados pelo presidente
da República (66%) e pelo Congresso Nacional (79%), esse percentual se revela alto.
Daí também se conclui um relativo descrédito da instituição, ainda mais se levarmos em conta
que o grau de confiança nos Estados Unidos (NCSC, 2019), por exemplo, quase alcança os
70% quando se trata da Suprema Corte. Ainda
assim, devemos ressaltar que, lá, os números
de confiança caíram de 2018 para 2019.
Apesar de ser a instância que ainda permanece com legitimidade, na opinião dos
entrevistados, maior que a dos outros dois Poderes majoritários para definir questões políticas
relevantes, parece evidente haver uma maior demanda
por participação popular.
Além disso, mesmo que não possa haver uma percepção pública sobre a interferência do STF
na competência dos outros Poderes, as pesquisas revelam um grau de discordância e
desconfiança considerável em relação às decisões do
Supremo.
Foto: Shutterstock.com
Ainda que não haja um resultado definitivo, se combinarmos os resultados das duas pesquisas
analisadas (as de 2017 e 2019), veremos que, ao longo dos anos, tem havido uma perda de
credibilidade popular do Judiciário – e notadamente
do STF.
Sendo assim, além das críticas da literatura sobre a atuação expansiva da Corte
Constitucional, cujos fundamentos são mais estruturais, estando ligados à separação dos
Poderes, aos valores democráticos e ao processo deliberativo,
o grau de confiança popular no
Judiciário definitivamente caiu nos últimos anos. Essa queda é uma variável relevante na
estruturação democrática das instituições.
Nesse sentido, abordaremos neste subtópico o modelo proposto pelas teorias dialógicas
(apesar de haver outras concepções alternativas). Estamos cientes de que existem
controvérsias entre autores sobre os aspectos específicos
de várias linhas de diálogos
possíveis, porém tal viés não será analisado neste tema.
Para Christine Bateup (2006), as teorias dialógicas enfatizam o fato de que o Judiciário não
possui o monopólio sobre a interpretação constitucional. Portanto, deve haver um processo
dialético e interativo de construção dos
significados constitucionais para preencher uma lacuna
de legitimidade da jurisdição constitucional.
A autora concilia as teorias dialógicas que privilegiam a dialética entre os Poderes de Estado
com a ideia de constitucionalismo popular. Seu intuito, com isso, é:
O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NÃO
COMO UMA BARREIRA INTRANSPONÍVEL ÀS
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS, MAS COMO
INSTRUMENTO CATALISADOR DE UM DIÁLOGO
ENTRE AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS SOBRE A
MELHOR FORMA DE HARMONIZAR AS LIBERDADES
INDIVIDUAIS E OS INTERESSES DA COLETIVIDADE.
Vale destacar que, segundo as alíneas I, II e III desse artigo, as emendas constitucionais
podem ser propostas tanto pelo chefe do Executivo Federal quanto pelo Legislativo, tendo,
portanto, a participação dos Poderes majoritários. Além disso, elas são
processadas pelo
Legislativo, enquanto a sua aprovação, por dois turnos, depende de um quórum qualificado
(artigo 60, § 2º, CRFB/1988).
Primeiro
Segundo
Possibilidade de controle de emendas pelo STF inerente às teorias dos diálogos
constitucionais...
Geraria...
Maior interação, debate público e busca de pontos de equilíbrio entre os Poderes dentro da
lógica de freios e contrapesos.
O ponto central aqui é que, diante das falhas da supremacia judicial e dos problemas práticos
de um ativismo judicial exacerbado e da judicialização crescente, alternativas são possíveis.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) I e II
B) II e III
C) I, II e III
D) II, III e IV
E) I. II, III E IV
GABARITO
I. O Judiciário, por uma questão de capacidade institucional, não tem a visão de políticas
públicas necessária para efetivar em larga escala os direitos fundamentais e os
preceitos constitucionais. Ações nesse sentido causam disfunções no sistema de
separação dos Poderes à medida que põem em risco a continuidade de políticas
públicas conduzidas pelos Poderes majoritários.
IV. Do ponto de vista deliberativo, a Corte brasileira é dotada de uma estrutura refinada
que permite tanto a argumentação e o debate entre ministros quanto a consideração de
diversos pontos de vista por meio da leitura de votos e da transparência e publicidade
(derivadas da transmissão dos julgamentos pela TV Justiça).
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste tema, oferecemos um panorama sobre o desenvolvimento da Justiça no Brasil,
especialmente na Nova República, abordando temas e conceitos importantes. Começamos
pela estruturação dos Poderes no Estado brasileiro,
passando, em seguida, pela instituição do
controle de constitucionalidade, que buscava dar efetividade aos direitos constitucionalmente
estabelecidos.
Finalmente, no módulo 3, analisamos uma constante ocorrência de posturas ativistas. Por fim,
descrevemos as causas da crise da supremacia judicial e de credibilidade do Poder Judiciário.
FALA, MESTRE!