Você está na página 1de 16

A Separação de Poderes no Brasil hoje

A SEPARAÇÃO DE PODERES NO BRASIL HOJE


The Separation of Powers in Brazil today
Revista de Direito Constitucional e Internacional | vol. 104/2017 | p. 15 - 36 | Nov - Dez / 2017
DTR\2017\6850

Maurilio Casas Maia


Doutorando em Direito Constitucional e Teoria Política (UNIFOR). Mestre em Ciências Jurídicas
(UFPB). Pós-Graduado em Direito Público: Constitucional e Administrativo e em Direitos Civil e
Processual Civil. Professor de Processo Civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM). Defensor Público no Amazonas (DP-AM). Colunista no sítio eletrônico Empório
do Direito. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP), da Associação Brasileira de
Direito Processual (ABDPro) e da Associação Norte-Nordeste de Professores de Processo (ANNEP).
Ex-assistente jurídico de desembargador (TJ-AM). Ex-advogado privado. mauriliomaia@gmail.com

Área do Direito: Constitucional; Fundamentos do Direito


Resumo: O presente texto traz a visão clássica da Teoria da Separação dos Poderes e seu estado
no Brasil hoje. O objetivo deste trabalho é apresentar a separação dos poderes no Brasil, com
ênfase nas suas figuras peculiares, tais como os Tribunais de Contas, o Ministério Público e a
Defensoria Pública. A pesquisa foi realizada com base bibliográfica e documental focando uma
análise crítica da literatura acadêmica sobre a Teoria da Separação dos Poderes. Em conclusão,
viu-se que, além dos três poderes clássicos, existem outras instituições autônomas que ocupam o
cenário da divisão de poderes no Brasil.

Palavras-chave: Separação dos Poderes - Brasil - Freios e contrapesos


Abstract: This paper presents the classical view of the Theory of Separation of Powers and their
status in Brazil today. The aim of this paper is to present the separation of powers in Brazil, with
emphasis on their peculiar figures, such as the Audit Courts, Public Prosecutor and the Brazilian
Public Defender’s Office. The research was conducted through a bibliographical and documental
study focusing on a critical reading of academic books about the separation of powers. In conclusion,
it was seen that beyond the three classic powers there are other autonomous institutions that occupy
the scene of the division of powers in Brazil.

Keywords: Separation of Powers - Brazil - Check and balances


Sumário:

1 Introdução - 2 Visões Clássicas da Separação dos Poderes - 3 A Separação dos Poderes na


Constituição de 1988 - 4 Notas conclusivas - 5 Referências

1 Introdução

Falar-se em Separação dos Poderes é tratar de tema dos mais relevantes para o Constitucionalismo
atual. A concepção de freios e contrapesos – de contenção do poder pelo poder – foi extremamente
necessária para o abandono da concepção absolutista e centralizadora do poder estatal. A teoria da
Separação dos Poderes, cujo germe mais primitivo é indicado em Platão e Aristóteles, conquista
força com John Locke e Montesquieu, perpassando pelos textos federalistas dos Estados Unidos da
América, sendo tema reiteradamente debatido nas obras de Teoria Política e do Estado.

No Brasil, a Constituição de 1988 reservou disposições expressas para a adoção da Teoria da


Separação dos Poderes – prestigiando a clássica divisão dos poderes entre Executivo, Legislativo e
Judiciário. Entretanto, o peculiar quadro da autonomia e tratamento diferenciado a determinados
órgãos – tais como Ministério Público, Tribunais de Contas e, mais recentemente, a Defensoria
Pública –, coloca em dúvida a atual conformação e estruturação da separação dos poderes no Brasil.
Diante de tal contexto, indaga-se: qual a conformação atual da separação dos poderes no Brasil?

A fim de responder a tal questão, o presente artigo exporá, brevemente, visões platônicas,
aristotélicas, lockeana, montesquiana e federalista a fim de criar lastro para, em seguida, apresentar
a separação dos poderes na Constituição de 1988. Em ato contínuo, será exposta a alteração
ocorrida por ação do constituinte reformador quanto à Defensoria Pública brasileira – incluindo
aspectos demonstrativos da previsibilidade constituinte da autonomia concedida à Defensoria
Página 1
A Separação de Poderes no Brasil hoje

Pública pela EC n. 45/2004, isso graças aos debates entabulados durante as reuniões da
Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Por fim, apresentar-se-ão, suscintamente, as propostas de
emendas à Constituição que podem, de alguma maneira, afetar o quadro atual da Separação dos
poderes no Brasil, em especial quanto à Polícia Investigativa e à Advocacia Pública.

A fim de cumprir seu desiderato, o presente artigo se servirá do método bibliográfico-documental.


Certamente, o presente texto não esgotará o tema proposto – porém, aguarda-se trazer novos
elementos ao debate rico e secular da Teoria da Separação dos Poderes no contexto brasileiro.

2 Visões Clássicas da Separação dos Poderes

A necessidade de separação dos poderes é um tópico liberal1 por natureza, sendo instrumento
corretivo e preventivo do Poder Absoluto. Entretanto, muito antes do constitucionalismo e do
liberalismo, pode-se encontrar o germe e a raiz da denominada teoria da separação dos poderes.

Na lição de Sahid Maluf2 se encontra a referência a Platão (em “Diálogos da Leis”) em postura
elogiosa a Licurgo, o qual contrapôs o poder das Assembleias dos Anciãos ao Poder do Rei –
tratava-se aí da ideia de frear o poder pelo poder, em imposição de limites e contenção. Sahid Maluf
também recorda Aristóteles3, em sua obra “A política ”, apresentando o germe da separação dos
poderes desenvolvida por Montesquieu muitos séculos depois.

Dalmo de Abreu Dallari4 consigna a importância de Marsílio de Pádua – o qual, no século XIV, no
ano de 1320, já distinguia o Poder Legislativo e o Executivo na obra “Defensor Pacis” –, e Nicolau
Maquiavel, aduzindo sobre este último: “Segundo informação contida em ‘O Príncipe’, de Maquiavel,
no começo do Século XVI já se encontravam na França três Poderes distintos: o Legislativo
(Parlamento), o Executivo (o rei) e um Judiciário independente”.

O inglês John Locke5 – considerado6 o autor da primeira sistematização doutrinária da separação


dos poderes –, na obra “ Dois Tratados sobre o Governo ”, apresentava uma peculiar forma de
separação dos poderes tripartite – legislativo, executivo e federativo. Locke conferia especial papel
ao legislativo, indicando seu estabelecimento como “a primeira providência, positiva e fundamental
de todas as comunidades”7, atuando sempre subordinado ao bem geral da sociedade8.

Charles Louis de Secondat ou Barão de La Brède et de Montesquieu9 – mais conhecido como


Montesquieu –, é um dos maiores responsáveis pela propagação das ideias atinentes à separação
dos poderes, sendo um dos sucessores de John Locke na escrita do pensamento liberal. No clássico
“O espírito das Leis”, Montesquieu aponta para o Poder Legislativo enquanto o mais importante
poder estatal, enquanto que – em polo oposto –, ter-se-ia o Poder Judiciário enquanto o mais fraco
de todos os poderes. Na lição de João Jampaulo Júnior10 , a teoria de Montesquieu conquistou
relevância “ao demonstrar que a divisão de funções possibilitaria um maior controle do poder do
Estado”. Assim, conforme lição de José Geraldo Brito Filomeno11 , a “espinha dorsal da teoria
montesquiana, por conseguinte, é a quebra do poder monolítico, encarnado pelo próprio monarca
absolutista”.

Nos textos dos Federalistas também se trata da separação dos poderes. Madison (“O Federalista n.
48”) reconhece a natureza usurpadora do poder e a necessidade de sua contenção – nesse ponto
reforçando Montesquieu12 . Em outro artigo (n. 78), “O Federalista”, também trata da separação dos
poderes – chegando a apontar o Poder Judiciário como o “menos perigoso” para dos direitos
políticos previstos na Constituição: “O Judiciário, porém, não tem a menor influência sobre a espada
e nem sobre o tesouro”. Na exposição da fraqueza do Judiciário, o trabalho federalista também
encontra lastro em Montesquieu. Entretanto, diferentemente de Montesquieu13 , “O Federalista”
aposta na independência judiciária e na proteção da Constituição pelo Poder Judiciário quando
editadas leis inconstitucionais pelo Poder Legislativo. Grillo14 ao comentar os textos federalistas dos
Estados Unidos da América, pondera sobre o entendimento de Madison sobre o qual a “mera
declaração da separação dos poderes não era suficiente”, sendo necessário “introduzir-se uma
balança de poderes e interesses”.

Em síntese, a teoria da separação dos poderes surge não somente para organizar atividades e
especializar órgãos estatais, como também para limitar o poder15 – sendo essa, talvez, a mais
importante função da sobredita teoria dentro de um Estado Democrático de Direito.

3 A Separação dos Poderes na Constituição de 1988


Página 2
A Separação de Poderes no Brasil hoje

Ao relacionar os temas “separação dos poderes” e “Constitucionalismo contemporâneo”, deve-se ter


em vista a contínua necessidade de uma leitura atualizada da clássica temática da divisão dos
poderes estatais com vistas à evolução da questão e, ainda mais importante, de sua positivação no
ordenamento jurídico brasileiro – conforme apontando pelo STF no julgamento da ADI n. 9816 . Em
sentido semelhante, Clèmerson Merlin Clève17 destaca a imprescindibilidade de adaptação da ideia
de Montesquieu à realidade jurídica hodierna: “A missão dos juristas, hoje, é a de adaptar a idéia de
Montesquieu à realidade constitucional de nosso tempo”.

De antemão, deve-se ponderar que a separação dos poderes é um dos grandes dogmas do
constitucionalismo18 e do estado moderno19 , sendo considerada cláusula pétrea na Constituição de
1988: “Art. 60 (...) § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (…)
III – a separação dos Poderes”. Com efeito, a teoria da separação dos poderes no Brasil tem por
lastro o artigo 2º do texto constitucional de 1988: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Acolheu-se, portanto, a tripartição
clássica dos poderes (legislativo, executivo e judiciário), sendo deveras interessante ressaltar dois
valores da teoria da separação dos poderes na Constituição: independência e harmonia.

Por independência dos poderes, José Afonso da Silva20 entende como a desnecessidade de
autorização ou confiança de outro poder para fins de investidura e permanência na função. Por outro
lado, quanto à harmonia, José Afonso da Silva21 aponta para duas características: (I) cortesia de
tratamento e, ainda mais importante, (II) o respeito mútuo às prerrogativas e faculdades entre os
poderes.

O professor José Afonso da Silva22 alerta para a distinção entre “funções do poder” e “divisão de
poderes”, embora admita a existência de relação necessária entre ambas expressões. Nessa linha
de raciocínio, o sobredito autor pondera que a “distinção entre funções constitui especialização de
tarefas governamentais à vista de sua natureza, sem considerar os órgãos que as exercem”. Por
outro lado, continua José Afonso da Silva, a “divisão de Poderes consiste em confiar cada uma das
funções governamentais (legislativa, executiva e jurisdicional) a órgãos diferentes, que tomam os
nomes das respectivas funções (menos o Judiciário)”.

Ainda na lição de José Afonso da Silva23 , o reconhecimento da divisão de poderes em nível


constitucional repercute na classificação entre órgãos supremos – aos quais incube o exercício da
função dos poderes políticos, objeto de estudo pelo Direito Constitucional –, e órgãos dependentes –
de plano hierárquico inferior, objeto de estudo do Direito Administrativo. José Afonso da Silva ainda
ressalta a relação entre função de governo em sentido amplo e exercício do poder político aos
órgãos supremos.

Questão inolvidável é relativa aos “freios e contrapesos” (check and balances) – ou seja, a ideia
segundo a qual entre os órgãos deve “haver consciente colaboração e controle recíproco (que, aliás,
integra o mecanismo para evitar distorções e desmandos)”24 . No referido cenário, Manoel Gonçalves
Ferreira Filho25 relembra a Declaração de Direitos do Homem e do cidadão26 (1789) como um dos
indícios de que o constitucionalismo vela pela separação dos poderes enquanto forma de limitar o
poder, pois evita a concentração de poder e cria-se um sistema de freios e contrapesos. Com a
mesma lógica, Paulo Bonavides27 relembra também a Constituição Francesa de 1948: “A separação
de poderes é a primeira condição de um governo livre” (art. 19).

No contexto da busca por impedir a concentração de poderes em um órgão somente e,


concomitantemente, de criar um sistema de eficiente de freios e contrapesos, o reequilíbrio de
poderes por meio do exercício de funções típicas e atípicas é também tônica presente na
Constituição de 1988. O fenômeno das funções típicas e atípicas entre os poderes estatais ocorre
porque o constituinte de 1988 superou a concepção da divisão de poderes com finalidade tão
somente de contenção de poder, a fim de focar na eficiência28 estatal na tutela das liberdades e na
construção de uma sociedade mais igualitária.

No Brasil, além das clássicas funções já indicados pela Teoria da Separação dos Poderes –
Executivo, Legislativo e Judiciário29 –, alguns órgãos se destacam na estrutura dos poderes
constitucionais brasileiros: o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Defensoria Pública.

Quanto ao Ministério Público (MP), há discussão sobre a vinculação do Parquet a algum dos poderes
clássicos ou se constituiria uma espécie de 4º Poder. Para José Afonso da Silva30 , o Ministério
Página 3
A Separação de Poderes no Brasil hoje

Público não se configura enquanto um quarto poder, mas sim uma função independente que
ontologicamente teria natureza executiva – embora trate os membros do Ministério Público enquanto
agentes políticos. Uadi Lammêgo Bulos31 entende – com lastro no acórdão proferido na ADIn n.
789-MC32 –, que, inobstante sua “vinculação ao executivo”, não constitui auxiliar do governo, sendo
independente e seus agentes integrariam a função de agentes políticos. Por outro lado, Diogo de
Figueiredo Moreira Neto33 agrega o Ministério Público a um grupo denominado “Procuraturas
Constitucionais” – integrada Pelo Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria Pública. Com
efeito, o Ministério Público tem, reconhecidamente, destacado-se na separação dos poderes
brasileiro enquanto órgão autônomo e independente dos demais34 .

Os Tribunais de Contas também possuem papel destacado na teoria da separação dos poderes no
Brasil, cabendo-lhes municiar tecnicamente35 o Poder Legislativo ao exercício do denominado
“controle externo” dos demais poderes. Bulos36 ressalta que a iniciativa para criação dos Tribunais
de Contas decorreu de iniciativa dos Senadores do Império (Visconde de Barbacena e José Inácio
Borges), em 1826, soerguendo-se com galhardia na Constituição de 1988 – o que foi reconhecido
pelo Supremo Tribunal Federal (STF, ADI n. 215-MC37 ).

Na visão de Ives Gandra da Silva Martins38 , “o Tribunal de Contas exerce um poder


responsabilizador da Administração superior ao das leis maiores anteriores (artigos 70-75)”. Ricardo
Berloffa39 , ao remate, apresenta os Tribunais de Contas em uma quarta espécie de poder estatal – o
fiscalizador.40

Assim exposta em linhas gerais a separação de poderes na Constituição Brasileira de 1988, segue
análise da atividade do poder constituinte reformador em especial quanto à Defensoria Pública, sem
descuidar também das propostas em emenda à Constituição em trâmite no Congresso Nacional.

3.1 A Separação dos Poderes após a atuação do Poder Constituinte Reformador

No tópico final do presente texto, dedica-se algumas linhas às alterações mais recentes nas
estruturas de poder no texto constitucional brasileiro. Desse modo, apresentar-se-á a autonomia da
Defensoria Pública e, ao fim, as propostas de Emenda à Constituição (PEC) cujo objetivo seja alterar
os contornos da divisão de poderes atribuindo autonomia a órgãos, tais como a Advocacia Pública e
a Polícia Investigativa.

3.1.1 Defensoria Pública: de promessa constituinte à concretização

Setor de diversas emendas constitucionais – a mais recente delas a EC n. 80/2014 –, menciona-se


agora a situação da Defensoria Pública. O primeiro ponto a indagar é se haveria algo a indicar já por
ocasião da promulgação da Constituição de 1988, em seu texto originário, o potencial de autonomia
da Defensoria Pública.

Eis os pontos a serem ressaltados: (I) Para além de juízes e membros do Ministério Público41 , os
membros da Defensoria Pública são únicos a quem foi atribuída a inamovibilidade42 já no texto
originário da Constituição – confirmando a tendência de formação e fortalecimento de sua atuação
enquanto um “Tribuno da Plebe” 43 - 44 contemporâneo, uma versão constitucional dessa
magistratura45 romana; (II) A origem do cargo de “defensor público” – enquanto órgão de execução
do modelo de Assistência Jurídica adotado em 1988 –, ocorreu por meio da Lei 2.188, de
21.07.1954, do antigo estado do Rio de Janeiro, sendo um órgão pertencente à Procuradoria Geral
de Justiça (PGJ), ao lado dos promotores; (III) Durante os debates constituintes, houve promessa46
de que – se houvesse necessidade –, seria conferida autonomia à Defensoria Pública, assim como
fora feito naquela ocasião com o Ministério Público; (IV) A isonomia decorrente da “composição
mínima do Sistema de Justiça da Comarca”, devendo contar com a presença de um juiz, um membro
do Ministério Público e um defensor público – conforme conclusão extraível da redação
constitucional original (inc. VII47 do art. 235 da CRFB/88) e da redação conferida pela EC n. 80/2014
(ADCT (LGL\1988\31), art. 98, § 1º48 ).

No cenário descrito no parágrafo antecedente, apresentou-se a base para a busca por isonomia
entre as três instituições com competências processuais, nacionalizadas, interiorizadas e do Sistema
de Justiça: Juízes, membros do Ministério Público e Defensores Públicos. Entretanto, passaram-se
os anos e percebeu-se que o investimento na defesa pública era ínfimo e alvo de preconceito pelos
governantes. E, em tal conjuntura, reavivou-se a promessa constituinte nas palavras de Plínio de
Arruda Sampaio sobre a autonomia do “Estado Defensor”: “ Se amanhã ela se mostrar realmente
Página 4
A Separação de Poderes no Brasil hoje

fundamental e necessária, apresentaremos emenda constitucional nesse sentido”.

E, em um esforço realizado no âmbito da Reforma do Judiciário de 2004, o constituinte Bernardo


Cabral – na ocasião Senador e primeiro relator da Reforma do Judiciário –, pronunciou-se em seu
parecer:

A atribuição da autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas, e o poder de iniciativa


de sua proposta orçamentária, conferirá a essas instituições uma importante desvinculação do Poder
Executivo, com o qual não guardam qualquer relação de afinidade institucional, além de propiciar um
fortalecimento da instituição e da consequente atuação institucional.

Sobreveio então a Emenda Constitucional n. 45/2004 trazendo a lume a autonomia da Defensoria


Pública dos Estados. Mais tarde, a referida autonomia foi expandida para a Defensoria Pública do
Distrito Federal e a Defensoria Pública da União (EC n. 74/2013). E com a autonomia vieram novos
desafios.

Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) proferiu diversas decisões iluminadoras do
tema autonomia da Defensoria Pública – cita-se aqui, inclusive, o indeferimento de cautelar na ADI
5296/DF em 18.05.2016 – ação essa proposta pela Presidência da República em desfavor da
autonomia da Defensoria Pública da União (DPU). Aliás, a autonomia da Defensoria Pública já foi,
inclusive, reconhecida como “preceito fundamental”49 pelo STF.

No quesito autonomia da Defensoria Pública, o Supremo Tribunal Federal entendeu: (I) não ser
possível ao Executivo Estadual reduzir unilateralmente a proposta orçamentária da Defensoria
Pública (ADPF 307-MC-REF50 ); (II) ser inconstitucional lei impositiva de convênio da Defensoria
Pública com terceiro (ADI 4.16351 ); (III) ser inconstitucional norma vinculante da Defensoria Pública à
Secretaria de Estado (ADI 3.56952 e ADI 4.056); (IV) ser inconstitucional a não criação de Defensoria
Pública no estado (ADI 3.892 e ADI 4.27053 ).

3.1.2 Propostas de Emenda à Constituição: Advocacia Pública e Polícia Investigativa

O Poder Reformador ainda possui suas Propostas de Emendas à Constituição que podem alterar o
arcabouço dos poderes autônomos do Estado Brasileiro.

Nesse contexto, cita-se a PEC 69/2015 (“Altera os arts. 132 e 168 da Constituição Federal, para
conferir autonomia funcional, administrativa e financeira às Procuradorias dos Estados e do Distrito
Federal”). A ideia aqui é conferir autonomia à Advocacia Pública.

Por outro lado, existem Propostas de Emenda à Constituição (PEC) referentes à autonomia da
Polícia Investigativa. A mais antiga – PEC 184/200754 (Câmara dos Deputados) –, pretende conferir
autonomia à Polícia Judiciária, inclusive garantindo vaga para delegados de polícia nos Tribunais
(Estaduais e Federais) pelo quinto constitucional55 , garantindo ainda aos delegados participação na
composição do quadro de ministros do Superior Tribunal de Justiça56 . A proposta foi realizada pelo
deputado federal Laerte Bessa, delegado de carreira, e pretende ainda criar o “CNPJ” (Conselho
Nacional da Polícia Judiciária), pelo “art. 135-B”. Ademais, a proposta pretende criar o cargo de
Delegado-Geral da República, a fim de criar uma chefia em nível nacional para a instituição. A PEC
n. 184/2007 é uma das mais ousadas inclusive em termos topográficos, porquanto se pretende com
ela a transferência da Polícia Investigativa para o tópico constitucional atinente às funções essenciais
à Justiça – o qual passaria a ser chamado: “Das funções essenciais à Justiça e da Polícia Judiciária”.

Noutro passo, menciona-se a PEC n. 412/2009 – de autoria do deputado Alexandre Silveira –,


pretendendo conferir autonomia à Polícia Federal, por meio de alteração do § 1º do art. 144 da
Constituição.

Não é demasia mencionar a PEC n. 89/2015, a qual promoveria verdadeira alteração no quadro
constitucional do Sistema de Justiça ao permitir a transformação do cargo de delegado de polícia em
juiz de garantias – permitindo a escolha pelo delegado de polícia entre a carreira de juiz de garantias
e a manutenção nos quadros da Polícia.

Por fim, cita-se a PEC 202/2016 (“Confere autonomia administrativa e financeira às Polícias Civis,
sob regime autárquico especial, e estabelece mandato fixo para o chefe da instituição”), dispondo
sobre a proposta de autonomia às Polícias Civis57 – proposta realizada em 30.03.2016 pelo
deputado federal Laerte Bessa (PR/DF), delegado de carreira.
Página 5
A Separação de Poderes no Brasil hoje

Portanto, percebe-se que, sob o pálio da luta por autonomia administrativa, financeira e funcional, a
teoria da separação dos poderes pode estar sendo demandada diuturnamente por carreiras
pertencentes à Advocacia Pública e a Polícia Investigativa.

4 Notas conclusivas

A teoria da separação dos poderes ganhou contornos mais fortes após as revoltas liberais contra o
absolutismo. Entretanto, encontra-se em Platão e Aristóteles uma breve base teórica para a referida
teoria. Mais recentemente, a Teoria da Separação dos Poderes também encontra indicativos em
Marsílio de Pádua, Maquiavel, John Locke e Montesquieu –este último reconhecidamente o maior
teorizador clássico da teoria da separação dos poderes, cujos traços também foram desenvolvidos
pelos artigos federalistas de Madison, Hamilton e Jay.

A Teoria da Separação dos Poderes é considerada um dos grandes dogmas do constitucionalismo


moderno e atual. Seu objetivo é gerar o controle do poder pelo poder, em um sistema de freios e
contrapesos. Assim, o repúdio à concentração de poderes em um só órgão ou sujeito é ínsito à
Teoria da Separação dos Poderes, porquanto a sobredita concentração possa ensejar e facilitar o
uso arbitrário do poder.

No Brasil, a clássica tripartição de poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário – foi acolhida pela
Constituição da República de 1988, sendo verdadeira cláusula pétrea para salvaguardar o cidadão
de abusos no uso do poder. Nesse sentido, conforme lição esclarecedora de Maria Garcia58 :

Nessa conformidade, a ação estatal, nos termos do art. 2º da CF/1988 (LGL\1988\3) (LGL\1988\3),
incorpora os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, “independentes e harmônicos entre si”,
divisão ou separação de Poderes firmada na teoria de Montesquieu.

Por outro lado, a Constituição de 1988 também apresentou inovações desde seu texto originário; a
autonomia do Ministério Público e o tratamento conferido ao Tribunal de Contas os destacam na
repartição de poderes e funções entre os órgãos da República.

Noutro passo, por atuação do Poder Constituinte Reformador, a Defensoria Pública teve atribuída a
autonomia, do mesmo modo que as demais carreiras de cunho processual, nacionalizado e
interiorizado do Sistema de Justiça – juízes e membros do Ministério Público (os quais, ao lado dos
defensores públicos, foram as únicas três carreiras a receberem inamovibilidade do constituinte
originário). A autonomia conferida pela EC n. 45/2004 (Defensorias estaduais), EC n. 69/2012
(Defensoria do Distrito Federal) e 74/2013 (Defensoria da União), veio em socorro de uma promessa
realizada durante os debates constituintes – quando foi mencionada a possibilidade de conferir-se
autonomia à Defensoria Pública, caso necessário ao seu desenvolvimento.

Por fim, verificou-se a existência de Propostas de Emenda à Constituição (PEC) em trâmite no


Congresso Nacional, a fim de conferir autonomia para outros órgãos, tais como a Advocacia Pública
e a Polícia Investigativa.

Em síntese, percebe-se que apesar de pensada para a tripartição clássica de funções e poderes, a
Constituição da República de 1988 já trazia elementos inovadores em sua redação originária, tais
como a autonomia do Ministério Público e o tratamento conferido ao Tribunal de Contas. Ademais, a
atuação do Constituinte derivado reformador para atribuir a autonomia – prometida nos anais da
Constituinte –, à Defensoria Pública, torna ainda mais peculiar o Sistema de Separação dos Poderes
e órgãos autônomos no Brasil. Nesse contexto, as propostas de emenda à Constituição denotam que
a autonomia parece ser vista como a panaceia, dentro da Separação dos Poderes brasileira, para
solver tensões interinstitucionais.

Longe de esgotar a temática aqui proposta, o presente texto buscou lançar novas luzes para
estimular futuros debates – aguarda-se atingir tal finalidade.

5 Referências

ABRAMOVAY, Pedro. Separação dos Poderes e medidas provisórias. Rio de Janeiro: Faculdade de
Direito da FGV, 2012.

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 3. ed. Barueri (SP): Manole, 2010.
Página 6
A Separação de Poderes no Brasil hoje

BERLOFFA, Ricardo Ribas C. Introdução ao Curso de Teoria Geral do Estado e Ciência Política.
Campinas: Bookseller, 2004.

BOBBIO, Noberto. Tradução de Sérgio Bath. A teoria das formas de governo. 6. ed. Brasília: EdUnb,
1992.

BOBBIO, Noberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 13. ed. São Paulo: Paz &
Terra, 2015.

BOBBIO, Noberto. Teoria Geral da Política: A filosofia política e as lições dos clásicos (Organizado
por Michelangelo Bovero). Rio de Janeiro: Elservier, 2000.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.

BULOS, Uadi Lammego. Direito Constitucional ao alcance de todos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

CAMPOS, Sérgio Pompeu de Freitas. Separação dos poderes na jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 2007.

CAPPELLETTI, Mauro. Juízes Legisladores? Tradução de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. Porto
Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 1993.

CARNOY, Martin. Estado e Teoria Política. Campinas (SP): Papirus, 2013.

CASAS MAIA, Maurilio. Luigi Ferrajoli e o Estado Defensor enquanto magistratura postulante e
Custos Vulnerabilis. Revista Jurídica Consulex, Brasília (DF), v. 425, p. 56-58, 1º Out. 2014.

CICCO, Cláudio de; GONZAGA, Alvaro de Azevedo. Teoria Geral do Estado e Ciência Política. 6. ed.
São Paulo: RT, 2015.

CLÈVE, Clèmerson Merlin. Atividade Legislativa do Poder Executivo no Estado Contemporâneo e da


Constituição de 1988. São Paulo: RT, 1993.

CLÈVE, Clèmerson Merlin. A fiscalização abstrata de constitucionalidade no Direito Brasileiro. São


Paulo: RT, 1995.

CLÈVE, Clèmerson Merlin. Medidas Provisórias. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 1999.

CLÈVE, Clèmerson Merlin. O Direito e os Direitos: elementos para uma crítica do Direito
Contemporâneo. São Paulo: Ed. Acadêmica: Curitiba: Scientia et labor, 1988.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

FAVOREU, Louis. As Cortes Constitucionais. Tradução de Dunia Marinho Silva. São Paulo: Landy
Editora, 2004.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. São Paulo: RT, 2014.

GARCIA, Maria. Descontroles do Poder: o Poder Executivo e a delegação de atribuições. Revista de


Direito Constitucional e Internacional, v. 94, p. 195-204, Jan.-Mar. 2016.

JAMPAULO JÚNIOR, João. O processo legislativo: Sanção e vício de iniciativa. São Paulo:
Malheiros, 2008.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do Direito Constitucional. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.

FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de Teoria Geral do Estado e Ciência Política. 9. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015.

GRILLO, Vera de Araújo. A separação dos Poderes no Brasil: Legislativo x Executivo. Blumenau: Ed.
da FURB; Itajaí: Ed. da UNIVALI, 2000.

KELSEN, Hans. Jurisdição Constitucional. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
Página 7
A Separação de Poderes no Brasil hoje

LIMONGI, Fernando Papaterra. O federalista: remédios republicanos para males republicanos. In:
WEFFORT, Francisco C (Org.). Os clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006, v. 1.

LINHARES, Fernando Moura. Pensamento Federalista e Antifederalista na formação do Judiciário


Norte-Americano. In: MORAES, Filomeno (Coord.). ARAGÃO FEIJÓ, Alexsandro Rahbani; CHEHAB,
Isabelle Maria Campos Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo Horizonte: Arraes, 2013.

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin
Claret, 2011.

MADSON, James; HAMILTON, Alexander; JAY, John. Os artigos federalistas. Tradução de Maria
Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

MAIOLINO, Eurico Zecchin. Poder de Reforma Constitucional: limitações. São Paulo: RT, 2012.

MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Uma breve teoria do poder. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002.

MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. Do espírito das Leis. Tradução de Roberto Leal
Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010.

MORAES, Filomeno (Coord.); ARAGÃO FEIJÓ, Alexsandro Rahbani; Chehab, Isabelle Maria
Campos Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo Horizonte: Arraes, 2013.

MORAES, Filomeno. Separação dos poderes no Brasil pós-88: Princípio constitucional e práxis
política. In: BERCOVICI, Gilberto; MORAES FILHO, José Filomeno de; SOUZA NETO, Cláudio
Pereira; LIMA, Martônio Mont’Alverne Barreto. Teoria da Constituição: estudos sobre o lugar da
política no Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.

MORAES, Filomeno. Contrapontos: Democracia, República e Constituição no Brasil. Fortaleza: UFC,


2010.

MOREIRA NETO, Digo de Figueiredo. Funções Essenciais à Justiça. In: MARTINS, Ives Gandra da
Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de Direito Constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2010. V. 1.

OLIVEIRA, Marcelo Roseno de. Sem a espada ou a bolsa, sem a guerra ou o tesouro: Ou sobre ser
o Judiciário o mais fraco entre os poderes. In: MORAES, Filomeno (Coord.); ARAGÃO FEIJÓ,
Alexsandro Rahbani; CHEHAB, Isabelle Maria Campos Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo
Horizonte: Arraes, 2013.

PASSOS, Daniela Veloso Souza. O Poder Judiciário na Teoria da Separação dos Poderes: Uma
análise sobre a formulação teórica de Locke, Montesquieu e dos artigos federalistas. In: MORAES,
Filomeno (Coord.); ARAGÃO FEIJÓ, Alexsandro Rahbani; CHEHAB, Isabelle Maria Campos
Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo Horizonte: Arraes, 2013.

PENNA, Saulo Versiani. Controle e implementação processual de Políticas Públicas no Brasil. Belo
Horizonte: Editora Fórum, 2011.

RAMOS, Elival da Silva. Ativismo Judicial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

RANIERI, Nina. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrático de Direito. Barueri
(SP): Manole, 2013.

REALE, Miguel. Teoria do Direito e do Estado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

RIBEIRO, Diógenes V. Hassan. A revisão do Princípio da Separação dos Poderes: por uma teoria da
comunicação. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.

ROCHA, Amélia Soares da; CASAS MAIA, Maurilio. Do Tribuno da Plebe Romano à Defensoria
Pública: Breves Palavras Sobre o Amicus e Custus Plebis. Prática Jurídica, Brasília, Jul. 2016.
Página 8
A Separação de Poderes no Brasil hoje

SALDANHA, Nelson. O Estado moderno e a separação dos poderes. 2. ed. São Paulo: Quartier
Latin, 2010.

SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

SEIXAS, Bernardo da Silva de. Inconstitucionalidade por omissão: a proteção da Constituição contra
o silêncio do legislador. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.

SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da globalização. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2008.

SOUZA JÚNIOR, Cezar Saldanha; REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder. O Tribunal Constitucional
como poder: uma nova visão dos poderes políticos. 2. ed. São Paulo: RT, 2016.

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e decisão jurídica. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014.

STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, Jose Luiz Bolzan de. Ciência Política & Teoria do Estado. 8. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

TORRANO, Bruno. Democracia e respeito à Lei: entre o positivismo jurídico e o pós-positivismo. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

VALDÉS, Roberto L. Blanco. O valor da Constituição: Separação dos Poderes, Supremacia da Lei e
controle de constitucionalidade nas origens do Estado Liberal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

VICTOR, Sérgio Antônio Ferreira. Presidencialismo de coalizão: exame do atual sistema de governo
brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2015.

WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.

WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 1.

WEFFORT, Francisco C. Os clássicos da Política. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006. v. 2.

ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria Geral do Estado: Teoria Política. Tradução de Antônio Franco e
António Francisco de Sousa. São Paulo: Saraiva, 2016.

ZUFELATO, Camilo. A participação da Defensoria Pública nos processos coletivos de


hipossuficientes: da legitimidade ativa à intervenção ad coadjuvandum. In: Ré, Aluísio Iunes Monti
Ruggeri. Temas aprofundados de Defensoria Pública. 2. ed. Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 1.

1 . “No plano teórico, ou seja, enquanto ordem de problemas, o tema da separação ou divisão de
poderes constituiu um tópico eminentemente liberal. Separar entre si as partes ativas do governo
seria um corretivo ao poder absoluto e portanto, ao tipo de Estado que o liberalismo combateu e que
precisou ser combatido para que se chegasse ao constitucionalismo e ao Estado de Direito”.
(Saldanha, Nelson. O Estado moderno e a separação dos poderes. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin,
2010. p. 177).

2 . Maluf, Sahid. Teoria Geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 239.

3 . Aristóteles. A política. Traduzido por Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

4 . Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
p. 216.

5 . “John Locke nasceu em Wrington, na Inglaterra, em 1632. Suas obras principais são o Primeiro
tratado sobre o Governo Civil, o Segundo Tratado sobre o Governo Civil, Ensaio sobre o intelecto
Página 9
A Separação de Poderes no Brasil hoje

humano e Cartas sobre a tolerância religiosa. Locke foi um articulista político na Inglaterra no final do
século XVII. Tal período foi marcado pela crise final do feudalismo na Inglaterra e fortalecimento da
Burguesia. Sua vida se deu durante um período em que havia constantes conflitos entre o rei e o
parlamento, principalmente durante a dinastia dos Stuart, representados por Carlos II e Jaime II, cuja
política, contrária aos princípios da Carta Magna 1.215, visava, entre outras coisas, reforçar o poder
monárquico. Através de sua obra Segundo Tratado sobre o Governo Civil, Locke se consagrou como
teórico do liberalismo político, exercendo grande influência nas revoluções liberais que se seguiram”.
(Passos, Daniela Veloso Souza. O Poder Judiciário na Teoria da Separação dos Poderes: Uma
análise sobre a formulação teórica de Locke, Montesquieu e dos artigos federalistas. In: Moraes,
Filomeno (Coord.). Aragão Feijó, Alexsandro Rahbani. Chehab, Isabelle Maria Campos Vasconcelos
(Org.). Teoria do Poder. Belo Horizonte: Arraes, 2013. p. 91).

6 . Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
p. 216.

7 . Locke, John. Segundo Tratado sobre o Governo. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin
Claret, 2011. p. 90.

8 Locke, John. Segundo Tratado sobre o Governo. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin
Claret, 2011. p. 91.

9 “O barão de La Brède e de Montesquieu, Charles-Louis de Secondat, nasceu em Bordéus, no dia


18 de Janeiro de 1689. Foi magistrado durante 12 anos, de 1714 a 1726. Entre suas obras estão as
Lettres Pernsanes, Le temple de Gnide, Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e
de sua decadência e o Espírito das Leis, esta última de 1748 (...). Nessa obra, Montesquieu
desenvolve uma análise sobre as formas de governo e a separação dos poderes com base na sua
concepção de legalidade. Para ele, existem leis que regem tudo o que existe, e tais leis variam de
sociedade para sociedade, devendo, portanto, cada uma ser analisada conforme o ‘espírito das leis’
(...). Como os homens, por sua natureza, não obedecem a essas leis, fez-se necessária a instituição
de leis positivas para reger as relações humanas. Seu conceito de liberdade é, pois, um conceito
ligado à legalidade; é uma liberdade normativa. Assim, dando continuidade ao pensamento liberal de
Locke, Montesquieu preocupou-se fundamentalmente com a liberdade política do cidadão, a qual
consiste no direito de fazer tudo aquilo que é permitido pela lei”. (Passos, Daniela Veloso Souza. O
Poder Judiciário na Teoria da Separação dos Poderes: Uma análise sobre a formulação teórica de
Locke, Montesquieu e dos artigos federalistas. In: Moraes, Filomeno (Coord.). Aragão Feijó,
Alexsandro Rahbani. Chehab, Isabelle Maria Campos Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo
Horizonte: Arraes, 2013. p. 94-95).

10 . Jampaulo Júnior, João. O processo legislativo: Sanção e vício de iniciativa. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 17.

11 . Filomeno, José Geraldo Brito. Manual de Teoria Geral do Estado e Ciência Política. 9. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015. p. 177.

12 . “A limitação do poder, dada sua natureza intrínseca, só pode ser obtida pela contraposição a
outro poder, isto é, o poder freando outro poder. Neste ponto, ‘O Federalista’ se aproxima de
Montesquieu”. (Linhares, Fernando Moura. Pensamento Federalista e Antifederalista na formação do
Judiciário Norte-Americano. In: Moraes, Filomeno (Coord.). Aragão Feijó, Alexsandro Rahbani.
Chehab, Isabelle Maria Campos Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo Horizonte: Arraes, 2013.
p. 250).

13 . “Em que pese a confessada inspiração em Montesquieu, a formulação teórica dos federalistas
distancia-se daquela do autor francês em um ponto considerado essencial. Enquanto Montesquieu
defendia um Judiciário exercido sem um Senado Permanente, mediante nomeações que durassem
somente o tempo necessário aos julgamentos, nos escritos dos pais fundadores ganha relevância a
defesa de um modelo de estabilidade dos cargos judiciais, indicando-a como necessária para a
independência dos juízes, a qual, por seu turno, é essencial à defesa da Constituição e dos direitos
individuais”. (Oliveira, Marcelo Roseno de. Sem a espada ou a bolsa, sem a guerra ou o tesouro: Ou
sobre ser o Judiciário o mais fraco entre os poderes. In: Moraes, Filomeno (Coord.). Aragão Feijó,
Alexsandro Rahbani. Chehab, Isabelle Maria Campos Vasconcelos (Org.). Teoria do Poder. Belo
Página 10
A Separação de Poderes no Brasil hoje

Horizonte: Arraes, 2013. p. 256).

14 . Grillo, Vera de Araújo. A separação dos Poderes no Brasil: Legislativo x Executivo. Blumenau:
Ed. da FURB; Itajaí: Ed. da UNIVALI, 2000. p. 35-36.

15 . “Na ‘clássica’ doutrina da separação dos poderes, o princípio político de uma limitação de
poderes é traduzido num esquema de distribuição das competências: o poder de um estado é um
poder político juridicamente estruturado”. (Zippelius, Reinhold. Tradução de Antônio Franco e António
Francisco de Sousa. Teoria Geral do Estado: Teoria Política. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 467, g.n.).

16 . “(...) I. Separação e independência dos Poderes: critério de identificação do modelo positivo


brasileiro. O princípio da separação e independência dos Poderes não possui uma fórmula universal
apriorística e completa: por isso, quando erigido, no ordenamento brasileiro, em dogma
constitucional de observância compulsória pelos Estados-membros, o que a estes se há de impor
como padrão não são concepções abstratas ou experiências concretas de outros países, mas sim o
modelo brasileiro vigente de separação e independência dos Poderes, como concebido e
desenvolvido na Constituição da República. (...)”. (STF, ADI 98/MT, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
Tribunal Pleno, j. 07/08/1997, g.n.).

17 . Clève, Clèmerson Merlin. Atividade Legislativa do Poder Executivo no Estado contemporâneo e


na Constituição de 1988. São Paulo: RT, 1993. p. 42.

18 . Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do Direito Constitucional. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2015. p. 263.

19 . Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 32. ed. São Paulo: Saraiva,
2013. p. 217.

20 . Silva, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
p. 46.

21 . Idem.

22 . Silva, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
p. 45.

23 . Idem.

24 . Silva, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
p. 47.

25 . Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do Direito Constitucional. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2015. p. 261.

26 . Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): “Art. 16. A sociedade em que não
esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem
Constituição”.

27 . Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 568.

28 . “(...) no contexto de um Estado que combine a proteção da liberdade com a construção da


igualdade, o rateio funcional há que assumir contornos profundamente diversos, compatíveis com a
necessária eficiência na atuação estatal, admitindo-se sem pudores, o compartilhamento de
atividades e o exercício de múltiplas funções por um mesmo órgão”. (Ramos, Elival da Silva.
Ativismo Judicial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 117, g.n.).

29 . No contexto da Separação dos Poderes brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF) é previsto
constitucionalmente enquanto integrante do Poder Judiciário (CRFB/88, art. 92, I). Por essa razão, o
STF não equivale totalmente à Corte Constitucional idealizada por Hans Kelsen. Conforme lição de
Louis Favoreu (p. 33), uma das características das Cortes Constitucionais é exatamente seu estado
Página 11
A Separação de Poderes no Brasil hoje

de separação dos demais poderes – medida essa não tomada quanto ao STF. Portanto, ao menos
no sentido clássico, o STF não corresponde na inteireza às Cortes Constitucionais idealizadas na
Europa – posição em conformidade com Bernardo da Silva Seixas (2016, p. 72). Seguem as
referências citadas no rodapé: Favoreu, Louis. As Cortes Constitucionais. Tradução de Dunia
Marinho Silva. São Paulo: Landy Editora, 2004; Kelsen, Hans. Jurisdição Constitucional. 3. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2013; Seixas, Bernardo da Silva de. Inconstitucionalidade por omissão: a
proteção da Constituição contra o silêncio do legislador. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016. Sobre o
“Tribunal Constitucional como poder”, recomenda-se a específica obra com o mesmo nome: Souza
Júnior, Cezar Saldanha. Reverbel, Carlos Eduardo Dieder. O Tribunal Constitucional como poder:
uma nova visão dos poderes políticos. 2. ed. São Paulo: RT, 2016.

30 . “(...) não é aceitável a tese de alguns que querem ver na instituição um quarto poder do Estado,
porque suas atribuições mesmo ampliadas aos níveis acima apontados, são ontologicamente de
natureza executiva, sendo, pois, uma instituição vinculada ao Poder Executivo, funcionalmente
independente, cujos membros integram a categoria dos agentes políticos (...)”. (Silva, José Afonso
da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 582 e 585).

31 . Bulos, Uadi Lammego. Direito Constitucional ao alcance de todos. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 611.

32 . “(...) – E indisputável que o Ministério Público ostenta, em face do ordenamento constitucional


vigente, especial posição na estrutura do Poder estatal. A independência institucional constitui uma
das mais expressivas prerrogativas político-jurídicas do “Parquet”, na medida em que lhe assegura o
desempenho, em toda a sua plenitude e extensão, das atribuições a ele conferidas. O Ministério
Público não constitui órgão ancilar do Governo. É-lhe estranha, no domínio de suas atividades
institucionais, essa função subalterna. A atuação independente dessa Instituição e do membro que a
integra impõe-se como exigência de respeito aos direitos individuais e coletivos e delineia-se como
fator de certeza quanto a efetiva submissão dos Poderes a lei e a ordem jurídica (...).” (STF, ADI
789/DF MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 22.10.1992, Tribunal Pleno, p. DJ 26.02.1993).

33 . Moreira Neto, Digo de Figueiredo. Funções Essenciais à Justiça. In: Martins, Ives Gandra da
Silva. Mendes, Gilmar Ferreira. Nascimento, Carlos Valder do. Tratado de Direito Constitucional. São
Paulo: Saraiva, 2010. v. 1. p. 990-1016.

34 . “(...) outorga constitucional de autonomia, ao Ministério Público, traduz um natural fator de


limitação dos poderes dos demais órgãos do Estado, notadamente daqueles que se situam no
âmbito institucional do Poder Executivo. A dimensão financeira dessa autonomia constitucional –
considerada a instrumentalidade de que se reveste – responde à necessidade de assegurar-se ao
Ministério Público a plena realização dos fins eminentes para os quais foi ele concebido, instituído e
organizado. (...) Sem que disponha de capacidade para livremente gerir e aplicar os recursos
orçamentários vinculados ao custeio e à execução de suas atividades, o Ministério Público nada
poderá realizar, frustrando-se, desse modo, de maneira indevida, os elevados objetivos que refletem
a destinação constitucional dessa importantíssima instituição da República, incumbida de defender a
ordem jurídica, de proteger o regime democrático e de velar pelos interesses sociais e individuais
indisponíveis (...)”. (STF, ADI 2.513/RN MC, rel. Min. Celso Mello, j. 03.04.2002, Plenário, DJe de
15.03.2011).

35 . Constituição: “Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete”.

36 . Bulos, Uadi Lammego. Direito Constitucional ao alcance de todos. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 534.

37 . “Ação Direta de Inconstitucionalidade – Constituição do Estado da Paraíba – Tribunal de Contas


Estadual – Limitação de seus Poderes – Instituição de Sistema de aprovações fictas – Divergências
com o modelo federal (...). Com a superveniência da nova Constituição, ampliou-se, de modo
extremamente significativo, a esfera de Competência dos Tribunais de Contas, os quais foram
investidos de Poderes Jurídicos mais amplos, em decorrência de uma consciente opção política feita
pelo Legislador Constituinte, a revelara inquestionável essencialidade dessa Instituição surgida nos
albores da República. A atuação dos Tribunais de Contas assume, por isso, importância fundamental
Página 12
A Separação de Poderes no Brasil hoje

no campo do Controle Externo e constitui, como natural decorrência do fortalecimento de sua ação
Institucional, tema de irrecusável relevância. O regramento dos Tribunais de Contas Estaduais, a
partir da Constituição de 1988 – Inobstante a existência de domínio residual para sua Autônoma
formulação – E matéria cujo relevo decorre da nova fisionomia assumida pela Federação Brasileira
(...)”. (STF, ADI 215/PB MC, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, j. 07.06.1990, DJ 03.08.1990,
PP-07234).

38 . Martins, Ives Gandra da Silva. Uma breve teoria do poder. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011. p.
226.

39 . Berloffa, Ricardo Ribas C. Introdução ao Curso de Teoria Geral do Estado e Ciência Política.
Campinas: Bookseller, 2004. p. 331.

40 . Deve-se afirmar existir ainda uma espécie de controle interinstitucional entre Tribunais de
Contas e Poder Legislativo, conforme ponderado pelo STF nas seguintes ocasiões: “(...) ‘Não
obstante o relevante papel do Tribunal de Contas no controle financeiro e orçamentário, como órgão
eminentemente técnico, nada impede que o Poder Legislativo, exercitando o controle externo,
aprecie as contas daquele que, no particular, situa-se como órgão auxiliar’ (Rp 1.021, Ministro Djaci
Falcão, Julgamento de 25.04.1984). Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente”
(STF, ADI 2.597, rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, j. 04.08.2004, Plenário, DJ de 17.08.2007). Cite-se
ainda: “Surge harmônico com a CF (LGL\1988\3) diploma revelador do controle pelo Legislativo das
contas dos órgãos que o auxiliam, ou seja, dos tribunais de contas”. (STF, ADI 1.175/DF, rel. p/ o ac.
Min. Marco Aurélio, j. 04.08.2004, Plenário, DJ de 19.12.2006).

41 . Nesse sentido, ressaltou o STF na ADI n. 291: “(...) A garantia da inamovibilidade é conferida
pela Constituição Federal apenas aos Magistrados, aos membros do Ministério Público e aos
membros da Defensoria Pública, não podendo ser estendida aos Procuradores do Estado. Em
síntese, a autonomia conferida aos Estados pelo art. 25, caput, da Constituição Federal não tem o
condão de afastar as normas constitucionais de observância obrigatória. Precedentes. Ação direta
julgada parcialmente procedente (...)”. (STF, ADI 291/MT, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal
Pleno, j. 07.04.2010).

42 . Na lição de Max Weber, a “inamovibilidade” é característica típica dos “magistrados” – aqui se


falando em magistratura em sentido amplo, abrangendo a “magistratura sentada” (“judicante”) e a
“magistratura em pé” (ou “postulante”, tal como tradicionalmente é apontado o Ministério Público).
Para conferir inamovibilidade em Weber, vide: Weber, Max. Ciência e Política: duas vocações. 18.
ed. São Paulo: Cultrix, 2011. p. 49.

43 . Para maiores detalhes sobre a relação entre o Tribuno da Plebe romano e a Defensoria Pública,
vide: Rocha, Amélia Soares da. Casas Maia, Maurilio. Do Tribuno da Plebe Romano à Defensoria
Pública: Breves Palavras Sobre o Amicus e Custus Plebis. Prática Jurídica, Brasília, p. 38-40, Jul.
2016.

44 . Oportunamente, ressalte-se que a plebe romana (“plebis”) não se confundia com o sujeito
despossuído de bens materiais (“pauperibus”). Portanto, ao se denominar aqui a Defensoria Pública
de protetora da plebe, resgata-se o termo “plebis” em seu sentido original, enquanto designação de
categorias socialmente excluídas do pleno gozo de seus direitos civis e políticos. Portanto, ser
protetor da “plebe” não significa limitar o guardião ao pobre (“pauperibus”), enquanto necessitado
econômico-financeiro, mas sim expandir a atuação defensorial a toda sorte de segmentos sociais
vulneráveis e socialmente excluídos. Denominando-se a Defensoria Pública enquanto amicus et
custös plebis, vide: Zufelato, Camilo. A participação da Defensoria Pública nos processos coletivos
de hipossuficientes: da legitimidade ativa à intervenção ad coadjuvandum. In: Ré, Aluísio Iunes Monti
Ruggeri. Temas aprofundados de Defensoria Pública. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2013. v. 1. p. 304.

45 . Sobre a conexão entre o defensor público e a sua condição de magistratura postulante defensiva
, vide: Ferrajoli, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 537;
Casas Maia, Maurilio. Luigi Ferrajoli e o Estado Defensor enquanto magistratura postulante e Custos
Vulnerabilis. Revista Jurídica Consulex, Brasília (DF), v. 425, p. 56-58, 1º. Out. 2014.

46 . Durante os debates da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), o constituinte Nelson Carneiro


Página 13
A Separação de Poderes no Brasil hoje

(em 14.0901987) alertara, mencionado o “Projeto Bernardo Cabral”: “Projeto Bernardo Cabral (…)
proclama a necessidade da Defensoria Pública como órgão autônomo dentro do corpo do Poder
Judiciário (…)”. A maioria dos constituintes desconhecida a origem da Defensoria Pública enquanto
órgão de procuradoria de Justiça via defesa pública (meados década de 50 do século passado) e
encararam com desconfiança a concessão de autonomia à Defensoria Pública – porém, registram os
anais da ANC, as palavras do constituinte Plínio de Arruda Sampaio: “Se amanhã ela se mostrar
realmente fundamental e necessária, apresentaremos emenda constitucional nesse sentido.” A
promessa seria cumprida mais de uma década depois da afirmação.

47 . CRFB/88, “Art. 235. Nos dez primeiros anos da criação de Estado, serão observadas as
seguintes normas básicas: (…) VII – em cada Comarca, o primeiro Juiz de Direito, o primeiro
Promotor de Justiça e o primeiro Defensor Público serão nomeados pelo Governador eleito após
concurso público de provas e títulos; (…).”

48 . ADCT (LGL\1988\31)-CRFB/88, “Art. 98. (…) § 1º No prazo de 8 (oito) anos, a União, os Estados
e o Distrito Federal deverão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais,
observado o disposto no caput deste artigo”.

49 . “Arguição de descumprimento de preceito fundamental. Medida cautelar. Referendo. Ato do


Poder Executivo do Estado da Paraíba. Redução, no Projeto de Lei Orçamentária de 2014
encaminhado pelo Governador do Estado da Paraíba à Assembleia Legislativa, da proposta
orçamentária da Defensoria Pública do Estado. Cabimento da ADPF. Mérito. Violação de preceito
fundamental contido no art. 134, § 2º, da Constituição Federal. Autonomia administrativa e financeira
das Defensorias Públicas estaduais. Medida cautelar confirmada. 1. A Associação Nacional dos
Defensores Públicos, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não detém
legitimidade ativa para mandado de segurança quando a associação e seus substituídos não são os
titulares do direito que pretende proteger. Precedente: MS n. 21.291/DF-AgR-QO, Relator o Ministro
Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ de 20.10.1995. Resta à associação a via da arguição de
descumprimento de preceito fundamental, único meio capaz de sanar a lesividade alegada. 2. A
autonomia administrativa e financeira da Defensoria Pública qualifica-se como preceito fundamental,
ensejando o cabimento de ADPF, pois constitui garantia densificadora do dever do Estado de prestar
assistência jurídica aos necessitados e do próprio direito que a esses corresponde. Trata-se de
norma estruturante do sistema de direitos e garantias fundamentais, sendo também pertinente à
organização do Estado. 3. A arguição dirige-se contra ato do chefe do Poder Executivo estadual
praticado no exercício da atribuição conferida constitucionalmente a esse agente político de reunir as
propostas orçamentárias dos órgãos dotados de autonomia para consolidação e de encaminhá-las
para a análise do Poder Legislativo. Não se cuida de controle preventivo de constitucionalidade de
ato do Poder Legislativo, ma, sim, de controle repressivo de constitucionalidade de ato concreto do
chefe do Poder Executivo. 4. São inconstitucionais as medidas que resultem em subordinação da
Defensoria Pública ao Poder Executivo, por implicarem violação da autonomia funcional e
administrativa da instituição. Precedentes: ADI n. 3965/MG, Tribunal Pleno, Relator a Ministra
Cármen Lúcia, DJ de 30.03.2012; ADI n. 4056/MA, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, DJ de 1º.08.2012; ADI n. 3569/PE, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence, DJ de 11.05.2007. Nos termos do art. 134, § 2º, da Constituição Federal, não é dado ao
chefe do Poder Executivo estadual, de forma unilateral, reduzir a proposta orçamentária da
Defensoria Pública quando essa é compatível com a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Caberia ao
Governador do Estado incorporar ao PLOA a proposta nos exatos termos definidos pela Defensoria,
podendo, contudo, pleitear à Assembleia Legislativa a redução pretendida, visto ser o Poder
Legislativo a seara adequada para o debate de possíveis alterações no PLOA. A inserção da
Defensoria Pública em capítulo destinado à proposta orçamentária do Poder Executivo, juntamente
com as Secretarias de Estado, constitui desrespeito à autonomia administrativa da instituição, além
de ingerência indevida no estabelecimento de sua programação administrativa e financeira. 5.
Medida cautelar referendada”. (STF, ADPF 307/DF MC-Ref, Rel. Min. Dias Toffoli, Pleno, j.
19.12.2013, DJe 27.03.2014).

50 . “Nos termos do art. 134, § 2º, da CF (LGL\1988\3), não é dado ao chefe do Poder Executivo
estadual, de forma unilateral, reduzir a proposta orçamentária da Defensoria Pública quando essa é
compatível com a LDO. Caberia ao governador do Estado incorporar ao PLOA a proposta nos exatos
termos definidos pela Defensoria, podendo, contudo, pleitear à Assembleia Legislativa a redução
pretendida, visto ser o Poder Legislativo a seara adequada para o debate de possíveis alterações no
Página 14
A Separação de Poderes no Brasil hoje

PLOA. A inserção da Defensoria Pública em capítulo destinado à proposta orçamentária do Poder


Executivo, juntamente com as Secretarias de Estado, constitui desrespeito à autonomia
administrativa da instituição, além de ingerência indevida no estabelecimento de sua programação
administrativa e financeira.” (STF, ADPF 307/DF-MC-REF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 19.12.2013,
Plenário, DJe de 27.03.2014).

51 . “É inconstitucional toda norma que, impondo a Defensoria Pública estadual, para prestação de
serviço jurídico integral e gratuito aos necessitados, a obrigatoriedade de assinatura de convênio
exclusivo com a OAB, ou com qualquer outra entidade, viola, por conseguinte, a autonomia
funcional, administrativa e financeira daquele órgão público.” (STF, ADI 4.163/SP, rel. Min. Cezar
Peluso, j. 29.02.2012, Plenário, DJe de 01.03.2013).

52 . “A EC 45/2004 outorgou expressamente autonomia funcional e administrativa às defensorias


públicas estaduais, além da iniciativa para a propositura de seus orçamentos (art. 134, § 2º): donde,
ser inconstitucional a norma local que estabelece a vinculação da Defensoria Pública a Secretaria de
Estado. A norma de autonomia inscrita no art. 134, § 2º, da CF (LGL\1988\3) pela EC 45/2004 é de
eficácia plena e aplicabilidade imediata, dado ser a Defensoria Pública um instrumento de efetivação
dos direitos humanos.” (STF, ADI 3.569/PE, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 02.04.2007, Plenário,
DJ de 11.05.2007). No mesmo sentido: ADI 4.056/MA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
07.03.2012, Plenário, DJe de 01.08.2012.

53 . “Art. 104 da Constituição do Estado de Santa Catarina. Lei Complementar estadual 155/1997.
Convênio com a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC) para prestação de serviço
de ‘Defensoria Pública dativa’. Inexistência, no Estado de Santa Catarina, de órgão estatal destinado
à orientação jurídica e à defesa dos necessitados. Situação institucional que configura severo ataque
à dignidade do ser humano. Violação do inciso LXXIV do art. 5º e do art. 134, caput, da redação
originária da Constituição de 1988. Ações diretas julgadas procedentes para declarar a
inconstitucionalidade do art. 104 da Constituição do Estado de Santa Catarina e da Lei
Complementar estadual 155/1997 e admitir a continuidade dos serviços atualmente prestados pelo
Estado de Santa Catarina mediante convênio com a OAB/SC pelo prazo máximo de um ano da data
do julgamento da presente ação, ao fim do qual deverá estar em funcionamento órgão estadual de
defensoria pública estruturado de acordo com a Constituição de 1988 e em estrita observância à
legislação complementar nacional (LC 80/1994).” (STF, ADI 3.892 e ADI 4.270, rel. Min. Joaquim
Barbosa, j. 14.03.2012, Plenário, DJe de 25.09.2012).

54 . Entre as propostas, está a concessão de autonomia à Polícia e sua transferência ao Sistema de


Justiça: “Art. 135-A (...) § 1º. À Polícia Judiciária é assegurada autonomia funcional, administrativa e
financeira, cabendo-lhe, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação,
remuneração e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de
provas ou de provas e títulos e os planos de carreira”.

55 . Eis a proposta de alteração do art. 94 da Constituição: “Art. 94. Um quinto dos lugares dos
Tribunais Regionais Federais, dos tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será
composto de membros do Ministério Público e delegados da Polícia Judiciária com mais de dez anos
de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos
de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das
respectivas classes”. E ainda nos Tribunais Regionais Federais: “Art. 107. (...) I – Um quinto dentre
advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, membros do Ministério Público
Federal e delegados da Polícia Judiciária Federal, com mais de dez anos nas respectivas carreiras”.

56 . Eis a proposta de alteração da composição do STJ: “Art. 104 (...) II – um terço, em partes iguais,
dentre advogados, membros do Ministério Público e delegados de polícia judiciária Federal,
Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94”.

57 . A proposta pretende, entre outras, promover a seguinte alteração do texto constitucional: “Art.
144 (...) § 13 Leis dos Estados, e da União no caso da Polícia Civil do Distrito Federal, disporão
sobre normas que assegurem autonomia funcional, administrativa e a iniciativa de sua proposta
orçamentária, às Polícias Civis”.

58 . Garcia, Maria. Descontroles do Poder: o Poder Executivo e a delegação de atribuições. Revista


Página 15
A Separação de Poderes no Brasil hoje

de Direito Constitucional e Internacional, v. 94, p. 195-204, Jan.-Mar. 2016.

Página 16

Você também pode gostar