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Capítulo 07 ASPECTOS DA LEUCEMIA

MEGACARIOBLÁSTICA AGUDA E SUA


CORRELAÇÃO COM A SÍNDROME DE

CAPÍTULO 07
DOWN

Palavras-chave:
Leucemia megacarioblástica aguda; Síndrome de down;
Recém-nascidos.

ASPECTOS DA LEUCEMIA
MEGACARIOBLÁSTICA AGUDA E SUA
CORRELAÇÃO COM A SÍNDROME DE
DOWN
ARYEL JOSÉ ALVES BEZERRA1
JOÃO VINÍCIUS MORAES COSTA1
THIAGO EMANUEL RIBEIRO SILVA1
VITHÓRIA GABRIELLE SOARES GONZAGA1
LUIZ ARTHUR CALHEIROS LEITE2

1.Discente - Biomedicina do Centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC).


2.Professor Doutor - Coordenador da Pós-graduação em Hematologia do Centro Integrado de Serviços de Consultoria (CISC), Campina Grande Paraíba.

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PALAVRAS-CHAVE: Leucemia megacarioblástica aguda; Síndrome de
10.29327/584510.2-7
down; Recém-nascidos.
INTRODUÇÃO MÉTODO
As leucemias agudas são hemopatias Trata-se de uma revisão integrativa,
malignas que cursam com proliferação de realizada no período de janeiro a junho de 2022,
blastos e bloqueio maturativo (HASLE et al., por meio de pesquisas nas bases de dados:
2005). As crianças com Síndrome de Down PubMed, Medline e Scielo. Foram utilizados os
(SD) têm uma maior chance de desenvolver descritores: Leukemia, Megakaryoblastic,
leucemias agudas, e mesmo com a maioria das Acute, Down Syndrome, and or children. Desta
leucemias na infância sendo representada pelas busca foram encontrados 389 artigos,
leucemias linfóides agudas, em crianças posteriormente submetidos aos critérios de
portadoras de SD, a leucemia mieloide aguda seleção.
(LMA) representa grande parte das leucemias Os critérios de inclusão foram: artigos nos
(VYAS & ROBERTS, 2006). O subgrupo de idiomas inglês e espanhol; publicados no
LMA com maior incidência de casos na SD, é a período de 2005 a 2021 e que abordavam as
leucemia mecarioblástica aguda caracterizada temáticas propostas para esta pesquisa, estudos
pelo acúmulo de megacarioblastos no sangue do tipo revisão, experimental e estudo de caso,
periférico, fígado e medula óssea, tendo disponibilizados na íntegra. Os critérios de
apresentação inicial até os 2 anos de vida exclusão foram: artigos duplicados,
(FARIAS & BIERMANN, 2007). disponibilizados na forma de resumo, que não
A regulação da megacariopoiese se dá por abordavam diretamente a proposta estudada e
reguladores transcricionais que atuam que não atendiam aos demais critérios de
diretamente na célula hematopoiética inclusão.
pluripotente da linhagem mieloide, e o principal Após aplicação dos critérios de seleção,
gene envolvido na produção de fatores restaram 16 artigos que foram submetidos à
transcricionais dos megacariócitos é o GATA1, leitura minuciosa para a coleta de dados. Os
tendo função reguladora na diferenciação e resultados foram apresentados de forma
maturação das linhagens megacariocítica, descritiva, divididos em categorias temáticas
leucocitária e eritróide (NUTT et al., 2005). abordando: citogenética, patogênese da doença,
Uma mutação no gene GATA1 é associada à diagnóstico, prognóstico dos pacientes.
uma hematopoiese desregulada, por meio da má
formação da proteína GATA1, afetando o
RESULTADOS E DISCUSSÃO
desenvolvimento dos megacariócitos que, por
Crianças com SD apresentam em sua
sua vez, ocasiona um bloqueio maturativo e
citogenética uma trissomia do cromossomo 21
consequentemente uma proliferação excessiva
(Figura 7.1). Essa condição genética, ocasiona
de células imaturas que caracterizam o quadro
diversos fatores que podem alterar a expressão
leucêmico (PINE et al., 2007).
de determinados genes, por meio de mutações
O objetivo deste estudo foi evidenciar os
como rearranjos, translocações e deleções. No
aspectos que constituem a correlação entre a
caso da leucemia megacarioblástica aguda, as
Leucemia Megacarioblástica Aguda com a
crianças possuem uma mutação no gene
Síndrome de Down.
GATA1, que é o principal gene associado com

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a maturação de células da linhagem mielóide éxon 2 do mRNA referente a proteína GATA1s,
(MCNULTY & CRISPINO, 2020). resultando na parada precoce da função do gene
Figura 7.1 Cariótipo da trissomia do cromossomo 21 e favorecendo a expansão de um clone celular
que ao se expandir, traduz clinicamente em
leucemia. Quando ocorre uma mutação na
tradução da proteína menor, a GATA1s, o gene
perde a capacidade de transcrição e seu fator de
maturação das células falham, e ainda em
associação com o cromossomo extra 21 tende a
ocasionar leucemias megacarioblásticas
(LOPEZ et al., 2017).
Segundo Crispino (2005), apesar de o
GATA1 estar localizado no cromossomo X, não
existe diferença de prevalência entre indivíduos
do sexo feminino e do masculino. Esse fato
demonstra que a trissomia do cromossomo 21 e
a mutação do gene não estão associadas com o
sexo da criança, mas com a possibilidade dessa
alteração genética ocasionar uma mutação na
formação da proteína que está relacionada com
a maturação das células da linhagem mieloide.
Fonte: Manual MSD, 2021.
Estudos de Magalhães et al. (2006),
demonstraram uma forte associação da mutação
Estudos demonstraram que, na ausência do no gene GATA1 com o desenvolvimento do
gene GATA1, os megacariócitos anormalmente processo leucêmico em pacientes portadores da
diferenciados se acumulam na medula óssea e trissomia do cromossomo 21. O gene em sua
mostram um potencial proliferativo aumentado formação original produz uma proteína maior
in vitro. Esse gene expressa uma proteína menor chamada de GATA-1 e uma isoforma menor
chamada de GATA1s, quando há uma má chamada de GATA1s. Em um quadro de
formação dessa proteína, ocorre uma maturação LMBA, os pacientes apresentam mutações nos
precária e consequente hiperproliferação de exons, que promovem a inativação da GATA-1
progenitores megacariócitos fetais em um e a formação de uma proteína GATA1s truncada
sistema experimental in vivo apoiando a que, por sua vez, está associada com a falha na
relevância funcional de mutações GATA1 em maturação dos megacariócitos que permanecem
pacientes com síndrome de Down (BOUCHER na medula óssea como megacarioblastos
et al., 2021). (Figura 7.2), sua forma imatura e não funcional.
GATA1 apresenta sua função na fase pré- Apesar da alta possibilidade de incidência
natal do desenvolvimento hematopoético. A desse subtipo de leucemia em crianças com SD,
aquisição de mutações pontuais é detectada em elas apresentam melhor resposta terapêutica e
blastos leucêmicos e consistem em várias bom prognóstico em relação as crianças não-
pequenas deleções, duplicações e inserções no Down.

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Figura 7.2 Megacarioblastos em lâmina de um paciente megacarioblastos. Contudo, o processo de
com Leucemia Megacarioblástica Aguda
transição entre DMT e LMBA ainda precisa de
uma melhor elucidação. Vários fatores ocorrem
em conjunto com a mutação do gene GATA1
para desencadear um quadro genuíno de
leucemia, mas todos eles partem do mesmo
princípio, a presença dessa mutação possui uma
enorme associação com a grande maioria de
casos de LMBA associada a SD.

CONCLUSÃO
Em suma, os artigos analisados
Fonte: KONSULTASYON, 2020. comprovaram a correlação direta entre a
Leucemia Megacarioblástica Aguda e a
trissomia do cromossomo 21 por meio de
Um estudo interessante de Terui et al.
experimentos tanto in vitro, como in vivo. A
(2020) demonstrou que a probabilidade de uma
trissomia do cromossomo 21, aumenta
criança com SD desenvolver uma desordem
drasticamente a chance de ocorrer mutações no
mielo proliferativa transitória (DMT) e não
principal gene responsável pela maturação de
evoluir para uma leucemia megacarioblástica
células da linhagem mielóide, tanto que os
aguda (LMBA) é de 60%. Isto leva a hipótese
pacientes com Síndrome de Down apresentam
que se faz necessário outro evento juntamente
uma maior incidência de Leucemia
com a mutação no GATA1 para que leve ao
Megacarioblástica Aguda do que crianças sem
desenvolvimento e proliferação de
essa síndrome.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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