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CAPÍTULO 432e
na clínica, cada doença exibe, em certo grau, um espectro mais ou menos ta caracteriza-se por inabilidade na infância, fraqueza motora progressiva
contínuo de manifestações, desde variantes graves até atenuadas. na adolescência, sintomas espinocerebelares do neurônio motor inferior
e disartria na idade adulta. A inteligência declina lentamente, e a psicose
PATOGÊNESE é comum. Recomenda-se a triagem para os portadores da doença de Tay-
-Sachs na população de judeus ashkenazi. A doença de Sandhoff, causada
A biogênese dos lisossomos envolve a síntese contínua das hidrolases li-
por deficiência em Hex A e Hex B resultando de cadeias β defeituosas, é
sossômicas, proteínas essenciais da membrana, e novas membranas. Os
fenotipicamente semelhante à doença de Tay-Sachs, mas também inclui
lisossomos originam-se da fusão de vesículas da rede trans-Golgi com
hepatoesplenomegalia e displasias ósseas.
endossomos tardios. A maturação dessas vesículas é acompanhada de
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ca de 55 a 60% dos pacientes com menos de 20 anos nas populações bran- pacientes que não podem ser tratados com enzimas, pelo fato de não
cas e em uma idade ainda mais jovem nos demais grupos. Esse padrão ser efetiva ou porque apresentam alergia ou outras hipersensibilidades,
de apresentação é nitidamente bimodal, com picos em menores de 10 a podem receber terapia de redução de substrato com medicamentos que
15 anos e em torno de 25 anos. Os pacientes mais jovens tendem a exibir diminuem a produção das moléculas lipídicas complexas degradadas
maior grau de hepatoesplenomegalia e citopenias sanguíneas associadas. pela β-glicosidase ácida.
Em contrapartida, o grupo etário mais velho exibe maior tendência à A doença de Gaucher tipo 2 é uma doença do SNC rara, progressiva
doença óssea crônica. A hepatoesplenomegalia ocorre em praticamente e grave que leva à morte por volta dos 2 anos de idade. A doença de Gau-
todos os pacientes sintomáticos e pode ser de grau leve ou maciço. A ane- cher tipo 3 apresenta manifestações muito variáveis no SNC e nas vísce-
de início mais tardio sem comprometimento neurológico e com doença minada doença de Pompe, é a única DDL de glicogênio. A forma infantil
relativamente menos grave em outros sistemas orgânicos, e (3) síndrome grave clássica manifesta-se com hipotonia, miocardiopatia e hepatoesple-
de Hurler-Scheie (MPS I H/S), para os pacientes que apresentam um qua- nomegalia. Essa variante, rapidamente progressiva, em geral resulta em
dro intermediário entre esses dois extremos. A MPS I H/S caracteriza-se morte no primeiro ano de vida. Entretanto, a exemplo de outras DDLs,
por doença somática grave, em geral sem deterioração neurológica franca. existem formas de início precoce e de início tardio dessa doença. As va-
Com frequência, a MPS I manifesta-se na lactância ou no início da riantes de início tardio podem ser comuns, com até 1 em 40.000; os pa-
infância com rinite crônica, turvação da córnea e hepatoesplenomegalia. cientes com início tardio apresentam miopatia lentamente progressiva,
Endocrinologia e metabolismo
Com a evolução da doença, quase todos os sistemas orgânicos podem ser que pode se assemelhar a uma distrofia muscular da cintura escapular e
afetados. Nas formas mais graves, as doenças cardíacas e respiratórias da cintura pélvica. A insuficiência respiratória pode constituir o sinal de
tornam-se potencialmente fatais na infância. A doença esquelética pode apresentação ou pode desenvolver-se com a evolução da doença. Nos es-
ser bastante grave, resultando em mobilidade muito limitada. tágios tardios da doença, os pacientes podem exigir ventilação mecânica,
Atualmente, há dois tratamentos para as doenças MPS I. O trans- queixar-se de dificuldade de deglutição e apresentar perda do controle
plante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) é o tratamento-padrão intestinal e vesical. A miocardiopatia não costuma ser observada nas va-
para pacientes que apresentam a doença com menos de 2 anos de idade e riantes de início tardio da doença de Pompe.
que parecem ter ou estão sob risco de degeneração neurológica. O TCTH A FDA e a EMA aprovaram a terapia enzimática para a doença de
resulta em estabilização da doença do SNC e reverte a hepatoesplenome- Pompe. Esse tratamento prolonga claramente a sobrevida na forma in-
galia. Além disso, melhora a doença cardíaca e a respiratória. O TCTH fantil, resultando em melhora consistente da função cardíaca. A função
não elimina a doença corneana ou resulta na resolução da doença esque- respiratória também melhora na maioria dos lactentes tratados. Alguns
lética progressiva. A terapia enzimática alivia efetivamente a hepatoes- lactentes demonstraram notável melhora das funções motoras, enquan-
plenomegalia e melhora a doença cardíaca e a respiratória. A enzima não to outros tiveram alterações mínimas no tônus ou na força muscular. A
penetra efetivamente no SNC nem afeta diretamente a doença do SNC. prevenção da deterioração foi demonstrada com a terapia enzimática
A terapia enzimática e o TCTH parecem ter efeitos semelhantes em si- com GAA nas formas de início tardio. A intervenção precoce com o tra-
nais e sintomas viscerais. A terapia enzimática apresenta menor risco de tamento enzimático com GAA nesses pacientes pode limitar ou evitar a
complicações potencialmente fatais e, por conseguinte, pode ter vanta- deterioração, porém a doença muito avançada apresenta componentes
gens para os pacientes com manifestações atenuadas sem doença do SNC. irreversíveis significativos.