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DIREITO ADMINISTRATIVO
Data 20/10/2009

Segurança Jurídica
Agências Reguladoras
Razoabilidade e Proporcionalidade
Terceiro Setor

SEGURANÇA JURÍDICA
PROTEÇÃO DA CONFIANÇA

INTRODUÇÃO

A origem da discussão desde tema foi o surgimento da boa-fé objetiva do direito


privado.
Existe o jargão jurídico de que o direito não protege as expectativas de direito, mas
apenas o direito adquirido.
Contudo, algumas situações devem ser vistas com mais sutileza.

Estado de Direito: em pesquisa na jurisprudência do STF é possível encontrar


cinco grupos de decisões:
a) Submissão do Estado à ordem jurídica: decorre da noção de juridicidade,
ou seja, o Estado deve agir não só de acordo com a lei, mas de acordo com
o direito como um todo considerado (princípios);

Art. 2o da Lei nº. 9.784/99 – A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:

I - atuação conforme a lei e o Direito; (...)

SÚMULA VINCULANTE Nº 13 – A NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE EM LINHA RETA, COLATERAL


OU POR AFINIDADE, ATÉ O TERCEIRO GRAU, INCLUSIVE, DA AUTORIDADE NOMEANTE OU DE SERVIDOR DA MESMA
PESSOA JURÍDICA INVESTIDO EM CARGO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO, PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM
COMISSÃO OU DE CONFIANÇA OU, AINDA, DE FUNÇÃO GRATIFICADA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA
EM QUALQUER DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS, COMPREENDIDO O
AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS, VIOLA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

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b) Submissão do Estado a mecanismos de fiscalização / responsabilização: o
Estado de Direito pressupõe a existência de órgão que o fiscalize;

c) Separação (Equilíbrio) entre os Poderes:

Art. 50 da C.R.F.B./88 – A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas


Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente
subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto
previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.
(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 2, de 1994)

d) Rol de direitos fundamentais:

e) Segurança Jurídica: da noção de Estado de Direito, também, decorre a


noção de segurança jurídica.

CONCEITO

A autora SYLVIA CALMES explica muito bem o conceito de segurança jurídica.


Quando se fala em segurança jurídica é possível tratar de três grupos:

a) Previsibilidade: é um cálculo prévio (prever) que pode ser feito antes de


se estabelecer uma relação jurídica. A previsibilidade guarda íntima
relação com o princípio da estrita legalidade;

b) Acessibilidade (conhecer): decorre da idéia de conhecer o que está


acontecendo e guarda íntimo relacionamento com a transparência
administrativa (aspecto formal: publicidade; aspecto material: atuação);

c) Estabilidade (manter): condutas estatais ou de efeitos de condutas


estatais. É a face subjetiva da segurança jurídica e desta decorre a chamada
de proteção da confiança (face objetiva).

OPERATIVIDADE (para que serve)

A proteção da confiança pode ser dividida em relação a:

1) Função Legislativa: ao editar leis o Poder Legislativo deve observar


determinadas regras de transição, evitando-se assim surpresas. Daí decorre
o princípio da proibição de retrocesso social (ADI 1946), também
denominado de efeito cliquet, segundo o qual a partir do momento em que
a sociedade adquire um determinado direito, este não poderá ser
suprimido. Ao buscar a ampliação de um direito este não pode ser
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suprimido. O direito que já foi conquistado não pode ser suprimido. A
comunidade busca do Estado uma estabilidade. O professor INGO W.
SARLET trata do assunto com maestria.

2) Função Jurisdicional: em alguns países a alteração de entendimento das


Cortes Superiores só pode alcançar feitos distribuídos posteriores à
alteração do entendimento. No Brasil, é revelada através da eficácia
vinculante de precedentes, evitando-se a loteria judicial, onde o
pronunciamento jurisdicional depende da vara, câmara ou turma em que o
processo é distribuído. Outra aplicação é a modulação temporal dos efeitos
da decisão (ex nunc, ex Tunc ou pro–future). Esta modulação foi
aplicada na ADI que declarou a inconstitucionalidade dos cargos de
vereadores.

3) Função Administrativa: Normalmente a legalidade e a segurança jurídica


andam juntas. Contudo, em alguns casos elas podem estar em lados
opostos da balança e deverão ser sopesados no caso concreto.

3.1) Condutas administrativas inválidas: são condutas


administrativas perpetradas de nulidades;

3.1.1) Decadência para a anulação de atos


administrativos: por mais que um ato deva ser
invalidado, a prerrogativa anulatória da
administração deve ter algum limite temporal, pois
se a Administração pudesse “ad eternum” um ato, a
segurança jurídica estaria comprometida. O TJ/RS
erroneamente denomina de prescrição
administrativa. É a limitação temporal para atuação
da administração em anular seus atos, sob pena de
afrontar a segurança jurídica (STF - Q.O. – PET
2900 – questão de ordem na petição). Há casos em
que a aplicação da lei é mais afrontoso do que a
manutenção do ato.

Art. 54 da Lei nº. 9.784/99 – O direito da Administração de anular os atos administrativos de


que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em
que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da


percepção do primeiro pagamento.

§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que


importe impugnação à validade do ato.

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Para a aplicação da decadência devem ser
observados três requisitos cumulativos:
a) O ato deve ser ampliativo de
direitos, ou seja, produzir efeitos
favoráveis ao destinatário;
b) Se o destinatário estiver de boa-fé
(não ter contribuído para o vício do
ato; REsp 603.135). A boa-fé é
presumida e a má-fé deve ser
comprovada;
c) Prazo de 5 (cinco) anos da prática do
ato ou se o ato for contínuo, da
percepção da primeira parcela.

Obs1: Para atos praticados pela Previdência


Social , nos termos do artigo 103-A da Lei nº.
8.213/91 o prazo é de 10 (dez) anos;
Obs2: Os Estados e Municípios podem criar
prazos diferentes. O Estado de São Paulo, no artigo
10 da Lei nº. 10.177/98 prevê o prazo de 10 anos.
Onde não tiver lei própria aplicará a lei federal
subsidiariamente (REsp 610.464, REsp 655.551);
Obs3: STJ–MS 9112 e 9157: para atos
praticados antes da Lei nº. 9.783/99 a decadência só
teria início após a lei.
Obs4: STF, MS 25.036: os atos sujeitos ao
registro no Tribunal de Contas (art. 71, III, da
C.R.F.B./88) (e.g. aposentadoria) não consideram
existentes enquanto não for procedido o devido
registro e conseqüentemente não corre o prazo
decadencial. Segundo o STF, nos casos
administrativos sujeitos ao registro no Tribunal de
Contas, a decadência só será contada a partir da
decisão que registra o ato.

Art. 71 da C.R.F.B./88 – O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como
a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores
que não alterem o fundamento legal do ato concessório;

Obs5: O Regimento Interno do CNJ prevê o


PCA – Procedimento de Controle Administrativo.
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Nos termos do artigo 91, parágrafo único, do
RICNJ, aplica-se de modo subsidiário ao PCA a Lei
nº. 9.784/99 (Procedimento Administrativo), ou
seja, o prazo de cinco anos, salvo quando se tratar
de ato que afronta direta à C.R.F.B./88. O STF, em
decisões liminares, vem afastando esta exceção ao
limite de prazo (salvo afronta direta à C.R.F.B./88),
mantendo o prazo de 5 (cinco) anos, sob o
fundamento de que a regra de exceção à segurança
jurídica está prevista na própria C.R.F.B./88.

3.1.2) Preservação parcial ou total dos efeitos de


condutas inválidas: após ocorrida a decadência o
ato será preservado, assim como os seus efeitos.
Sobre a revogação o efeito é ex nunc. Na anulação
o efeito é ex Tunc. Conduto, existem duas
exceções:

a) A anulação produz efeitos ex Tunc,


salvo em relação a terceiros de boa-fé
(blindagem). Normalmente os terceiros
sofrem os efeitos reflexos do ato. E.g.
Professor nomeado mediante fraude e
alunos: os alunos são terceiros em relação
aos atos do professor. Não há decadência,
pois o professor está de má-fé. Os alunos
como terceiros não podem ser
prejudicados, pois estão de boa-fé.
Ninguém pode em razão de sua boa-fé ser
prejudicado;

b) Preservação dos efeitos do ato inválido em


razão dos destinatários de boa-fé: (REsp
488.905 e STF, MS 26.085) Se um
servidor recebe um valor a maior e esteja
de boa-fé não terá que devolver. Poderá
deixar de receber, salvo se já tiver
decorrido o prazo decadencial. Se o valor
for vultoso e com isso ficar evidenciada a
má-fé, não ocorrerá a decadência.

3.1.3) “Modulação temporal in futuro da anulação de atos


administrativos”: é uma idéia própria do professor

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disponível na Revista de Direito Administrativo
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3.2. Condutas administrativas válidas:

3.2.1) Vedação de aplicação retroativa de novas


interpretações: A mesma regra pode ter
interpretações diferentes, contudo, na
Administração, os efeitos são para o futuro, ou seja,
ocorre o efeito prospectivo dos precedentes
administrativos. São criados limites.

Art. 2o da Lei nº. 9.784/99 – A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do


fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

3.2.2) Limites materiais à revogação: Teoria da base do


ato. É exceção à regra. Em alguns casos, praticado o
ato administrativo, para que ele seja revogado (ato
válido, mas revogado devido à conveniência e
oportunidade) deve ocorrer algum fato
superveniente.

Art. 49 da Lei nº. 8.666/93 – A autoridade competente para a aprovação do procedimento


somente poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato
superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo
anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente
fundamentado.

Art. 123 da Lei nº. 9.472/93

3.3. Proteção procedimental da confiança / Administração Pública


dialógica: é a garantia de que o administrado não será abruptamente
surpreendido com a extinção de um ato que lhe beneficiou. É uma
decorrência lógica do contraditório e ampla defesa (RE 158.543,
RE 199.733, STF-MS 24.266). A extinção de condutas
administrativas não precárias que beneficiem um interessado deverá
ser precedida de contraditório e ampla defesa (RE 594.296
reconhecida a repercussão geral). Algumas leis já fazem esta
previsão.

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Art. 49 da Lei nº. 8.666/93 – A autoridade competente para a aprovação do procedimento
somente poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente
devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la por
ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente
fundamentado.

§ 1o A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera obrigação de


indenizar, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.

§ 2o A nulidade do procedimento licitatório induz à do contrato, ressalvado o disposto no parágrafo


único do art. 59 desta Lei.

§ 3o No caso de desfazimento do processo licitatório, fica assegurado o contraditório e a


ampla defesa.

SÚMULA VINCULANTE Nº 3 – NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO


ASSEGURAM-SE O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR ANULAÇÃO
OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O INTERESSADO, EXCETUADA A APRECIAÇÃO DA
LEGALIDADE DO ATO DE CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.

O STF entende que os atos complexos, nos termos da


previsão da súmula vinculante 3, enquanto não for
confirmado pelos dois entes, não existe, e por isso não precisa
obedecer o contraditório e a ampla defesa.
O descumprimento de súmula vinculante deve ser
questionado através de Reclamação Constitucional. Ocorre
que o próprio STF vem se contrapondo, a exemplo do que
ocorreu no STF, MS 24.448, segundo a decisão de que se o
processo perdurar por mais de 5 (cinco) anos precisará
observar o contraditório para os casos de atos complexos.

3.4. Proteção substancial da confiança: Na Europa é denominada de


proteção ressarcitória da confiança, ou seja, é a análise jurídica
sobre os casos em que a frustração da confiança gera
indenização/compensação.
E.g. Oferecimento de vantagens tributárias e anulação posterior.

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Data 28/10/2009
AGÊNCIAS REGULADORAS

A C.R.F.B./88 destina uma parte importante de seu texto para a ordem econômica.

Atividade econômica lato sensu


Serviço Público Ativ. Econ. sentido estrito
1) É uma espécie de atividade que materialmente propicia 1) é uma atividade que não se preocupa com a sociedade, mas
uma comodidade fruível à sociedade ou ao próprio Estado. sim com a comodidade de quem a opera;
2) Do ponto de vista formal, a ordem jurídica deve o 2) Não precisa de classificação ou qualificação legal;
determinar como serviço público. E.g. telefonia móvel ≠
internet. Neste sentido, em que pese a internet prestar
relevantes serviços à sociedade, esta não é qualificada como
serviço público.
3) Aspecto orgânico: é uma atividade que é prestada pelo 3) Em regra é de iniciativa privada. Apenas excepcionalmente
Estado ou por delegação. Não há que se falar em livre é que o Estado irá atuar.
iniciativa. E.g. qualquer pessoa pode comprar um ônibus, mas
para explorar o serviço de transporte público é necessária a
delegação do Estado.
4) é uma atividade a uma forte carga regulatória por parte do 4) Não sofre intervenção regulatória do Estado.
Estado. Não há que se falar em liberdades. As regras são
ditadas pelo Estado.
Atividades privadas, mas
dependentes de autorização do Poder
Público.

As agências reguladoras foram criadas para a regulação de serviços públicos,


atividades privadas dependentes de autorização do Poder Público e para a regulação de
atividades estritamente privadas (ANCINE – cinema).
As Agências Reguladoras servem para regulação de serviços públicos, atividades
privadas dependentes de autorização Estatal e outras atividades consideradas pelo Estado
como relevantes.

NATUREZA AUTÁRQUICA

As Agências Reguladoras são autarquias especiais.


Art. 41 do C.C./02 – São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;

II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios;

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de


2005)

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As agências reguladoras são criadas por lei.

Art. 37 da C.R.F.B./88 – A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998) (...)

XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de
empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

A diferença básica da autarquia para as demais é que a autarquia só pode ser criada
por lei. As fundações públicas, sociedade de economia mista e empresas públicas são
autorizadas a ser criadas por lei, mas não é a lei que as cria.
As autarquias são criadas para a atividade típica da Administração Pública.

Art. 5º do Dec. 200/67.

A prestação de serviço publico não é atividade típica da administração. E.g.


transporte urbano. Entretanto, é exigida a delegação e a regulação deve se dar pela
Administração.

OBS: O Ministério do Planejamento, aproveitando alguns membros da Comissão de


Notáveis, esta maturando um anteprojeto de Lei Orgânica da Estrutura Administrativa.
Não irá mudar tanta coisa, mas irá mudar.

Os bens das autarquias são considerados bens públicos, consoante a interpretação


dos artigos 98 e art. 41, IV, ambos do C.C./02.

Art. 98 do C.C./02 – São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas
de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Art. 41 do C.C./02 – São pessoas jurídicas de direito público interno:

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de


2005)

A relação entre uma autarquia e uma Administração Pública Direta pode ser de
tutela / controle / supervisão.
Assim, o Presidente da República não manda no INSS – Instituto Nacional do
Seguro Social. Contudo, quem nomeia o presidente do BACEN, por exemplo, é o
Presidente da República. Isso é uma forma de controle.

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Sempre haverá controle e autonomia. Contudo, quanto maior o controle, menor a
autonomia. Estes valores se apresentam em razão oposta (balança).

Esta autonomia sempre será de duas naturezas:


a) Autonomia administrativa: as autarquias respondem por seus próprios atos
e contratos. Apenas subsidiariamente é que atingirá o ente instituidor;
b) Autonomia orçamentária: não significa fonte própria de receita, mas sim
com a questão que envolve a execução orçamentária.

A autarquia não tem autonomia política, ou seja, não pode propor projeto de lei.

As agências reguladoras são autarquias com regime jurídico especial.

OBS: Os únicos dois preceitos constitucionais que falam de agências reguladoras são os
artigos 21, XI (ANATEL) e 177 (ANP) ambos da C.R.F.B./88.

Art. 21 da C.R.F.B./88 – Compete à União: (...)

XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de


telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um
órgão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de
15/08/95:)

Art. 177 da C.R.F.B./88 – Constituem monopólio da União:

(...)

§ 1º A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades
previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 9, de 1995)

§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 9, de 1995)

I - a garantia do fornecimento dos derivados de petróleo em todo o território nacional; (Incluído


pela Emenda Constitucional nº 9, de 1995)

II - as condições de contratação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 9, de 1995)

III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do monopólio da União; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 9, de 1995)

Parte importante da doutrina entende que: o titular do serviço público é a


Administração direta. Assim, só pode transferir parte desta atribuição quando houver
previsão constitucional, sob pena de conferir à administração indireta uma atribuição que a
C.R.F.B./88 atribuiu à Administração Direta.

Este argumento foi vencido pelo STF ao julgar a Medida Cautelar na ADI 1668,
visto que entendeu que é possível que a lei atribua função regulatória a entidades da

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Administração Indireta, valendo-se do preceito de que a autarquia é criada para atender
os interesses da Administração Direta.

OBS: Para por a pá de cal sobre a discussão, de lege ferenda (PEC 81/03), busca-se inserir
o artigo 174-A na C.R.F.B./88.

Não existe uma lei geral das agências reguladoras.


Existe um projeto de lei (PL nº. 3337/04).

De lege lata (já existe lei) a Lei nº. 9.986/00 que trata de normas gerais sobre
pessoal.

Aneel: Lei nº 9.427/96;


Anatel: Lei nº 9.472/97;
ANP: Lei nº 9.478/98;
Anvisa: Lei nº 9.782/99;
ANS: Lei nº 9.961/00;
ANA: Lei nº 9.984/00;
ANTT / ANTAQ: Lei nº 10.233/01;
ANCINE: MP 2.228;
ANAC: Lei nº 11.182/05;

CARACTERÍSTICAS

São as características gerais que tornam estas autarquias em especiais: Regime


jurídico especial

1) Forma de designação dos Dirigentes/Diretores: o Presidente da República


indica e a pessoa passa pela sabatina do Senado Federal, para só então ser
nomeado. Cada lei específica das agências reguladoras há um previsão para esta
escolha;

Art. 52 da C.R.F.B./88 – Compete privativamente ao Senado Federal:

III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:

a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;

b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República;

c) Governador de Território;

d) Presidente e diretores do banco central;

e) Procurador-Geral da República;

f) titulares de outros cargos que a lei determinar;


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Art. 84 da C.R.F.B./88 – Compete privativamente ao Presidente da República:

(...)

XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e
dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente
e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;

2) Requisitos para a designação dos dirigentes/diretores:

Art. 5º da Lei nº. 9.986/00

- Brasileiro (nato ou naturalizado);


- Reputação ilibada;
- Formação universitária;
- Elevado conceito no campo de especialidade

Discricionariedade = Conceito jurídico indeterminado (STF, RMS 24.699):


Discricionariedade: mais de uma alternativa
Conceito jurídico indeterminado: implica em interpretar.

(RE 167.137)

3) A existência de mandatos fixos para os dirigentes / diretores: o fato da


nomeação ser feita pelo Presidente da República é um fato de influência
importante. Contudo, o nomeado não fica a mercê da livre exoneração por parte
de quem a indicou. A pessoa sobre certa blindagem, justificada pela necessidade
de esta pessoa ter autonomia e não sofrer influências políticas. É uma forma a
menos de controle que aumenta a autonomia.

Art. 6º da Lei nº. 9.986/00

A idéia é de que os mandatos não sejam concomitantes, ou seja, não devem


todos os dirigentes terem o início e término do mandato coincidente, sob pena de
cair por terra a blindagem.

Art. 7º da Lei nº. 9.986/00

a. Perda do mandato:

Art. 14º da Lei nº. 9.986/00

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OBS: livre exoneração nos 4 (quatro) primeiros meses:

Anvisa: Lei nº 9.782/99;


ANS: Lei nº 9.961/00;
ANA: Lei nº 9.984/00;

Art. 12º da Lei nº. 9.782/99

Art. 10º da Lei nº. 9.984/00

MC-ADI 1.949 – decidiu que não há ofensa ao sistema democrático a nomeação de


dirigente para atuar além do mandato da pessoa que nomeou, justificando a blindagem e a
não interferência política, devendo prevalecer o caráter técnico. O que muda é o governo e
não a administração.

Natureza jurídica do cargo de dirigente/diretor: são cargos em comissão sui


generis, visto que a nomeação não é de toda livre (sabatina no Senado Federal) e não são
de livre exoneração (O mesmo acontece com a nomeação de reitores de universidades federais.). Isso justifica
a vinculação ao RGPS – INSS – Instituto Nacional do Seguro Social.

4) Colegialidade: justifica a idéia de que deve prevalecer a técnica. As decisões são


colegiadas.

Art. 4º da Lei nº. 9.986/00

5) Regime funcional dos profissionais: O texto original da C.R.F.B./88 estabelecia


um regime jurídico único para todos os servidores – todos estatutários ou
celetistas. Com a EC 19/98, que modificou o artigo 39 da C.R.F.B./88 foi abolido
o regime jurídico único, sendo possível o regime múltiplo (estatutário e
celetista). Tal Emenda foi objeto da ADI 2135 e, em sede de cautelar, foi
declarada a inconstitucionalidade formal do artigo 39, pois houve alteração pelo
Senado e não retornou para a Câmara dos Deputados para nova aprovação,
restabelecendo-se o regime jurídico único, o que não obriga o regime estatutário,
mas apenas um regime, ou seja, regime estatutário ou celetista. Como a decisão
foi em sede de cautelar o efeito é “ex nunc”, ou seja, não retroage, e as pessoas
que estão continuarão até a decisão final de mérito. A maioria da doutrina
entende que único é um só regime naquela esfera – ordem política – Federal,
Estadual ou Municipal. Para as autarquias o regime de pessoal deve observar
o regime escolhido pela Administração Direta. Vide MC-ADI 2318.

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Inicialmente era previsto na Lei nº. 9.986/00, que estabelecia o regime da CLT com contratação
temporária. Após controle de constitucionalidade na ADI 2310, o STF julgou, em sede cautelar, inconstitucional a
contratação temporária, visto que a necessidade é permanente, sendo necessária a realização de concurso público.
Antes de ser julgado o mérito da ADI 2310 foi editada a Medida Provisória 155/03 criando mais de 5000
cargos público e posteriormente convertida em Lei nº. 10.871/04. Vale ressaltar que MP não é espécie normativa
competente para criar cargos públicos, sendo de competência de lei. Com a conversão da MP na Lei nº. 10.871/04 a
ADI 2310 perdeu o objeto e foi extinta.
Com isso, maliciosamente, foi editada a MP 269/05 prorrogando os contratos temporários até dezembro de
2007. A MP 269/05 foi convertida na Lei nº. 11.292/06, desencadeando nova ADI 3678, que ainda não foi julgada.
Em dezembro de 2007, foi editada uma nova MP 407, prorrogando os contratos temporários até 31/07/2009.
A situação esta indefinida. Certo é que o regime de pessoal das Agencias Reguladoras deve ser o de cargos
públicos (estatutário) através de concursos (ADI 2310).

6) Impedimentos: Os sujeitos impedidos são aqueles proibidos de ocuparem o


cargo.

7) Quarentena: A quarentena é o período em que o ex-ocupante do cargo fica


proibido de trabalhar na iniciativa privada, devendo receber os seus vencimentos.
A idéia é evitar que certas empresas contratem estes ocupantes e se valham
destas informações para terem privilégios.

Art. 8º da Lei nº. 9.986/00

8) Contratos de gestão: podem ampliar os poderes da agência reguladora.

Art. 20 da Lei nº. 9.782/99

AGÊNCIAS DE SEGUNDA GERAÇÃO

São as agências que levam em seu nome: agência nacional....

AGÊNCIA REGULADORA DE PRIMEIRA GERAÇÃO

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