Você está na página 1de 15

Teórica

22 de fevereiro de 2024

As normas jurídicas são a principal fonte do direito.

O direito civil constitui parte do direito privado e abrange as relações entre os privados, que se estabelecem com
base na igualdade ou penalidade jurídica, na liberdade ou autonomia.

A ordem jurídica organiza-se de acordo com as relações entre pessoas. Existe para reconhecer a dignidade humana
de cada um de nós.

A dignidade humana prossupõe que cada um de nós seja livre e igual perante a lei.

No âmbito de direito civil enquanto ramo de direito privado, o legislador tem que garantir a nossa liberdade,
autonomia e perfeita igualdade perante a lei. A lei não pode prever qualquer tipo de descriminação. A dignidade é
uma qualidade que a lei reconhece a cada ser humano.

Direito Privado e Direito Público

• Privado: protege a prevenção de liberdade do individuo. Cada um prossegue o seu interesse.


• Público: regula as relações jurídicas entre pessoas. Não tem autonomia de vontade. Só faz o que a lei permite.

Critérios de distinção
1. Natureza de interesses
2. Natureza dos sujeitos
3. Outros fatores

Direito público

1. Teoria do interesse
Interesses públicos X interesses privados

2. natureza dos sujeitos


Entes públicos X sujeitos privados
Mas, se os entes públicos também agem no campo do direito privado, sem prerrogativas de autoridade bem como,
entes privados atuam no campo de direito público.

3. teoria da sujeição
Modo de relacionamento correspondente à existência de posições de infra ordenação ou, pelo contrário, de
igualdade ou paridade. Mas nem sempre se verifica.

Direito subjetivo - categoria central do direito privado


• Poder ou faculdade que resulta do direito objetivo para o individuo.
• Os direitos subjetivos correspondem a obrigações.
a. Direitos absolutos- São direitos de domínio (poder de domínio sobre uma coisa), direitos de
personalidade e direitos familiares; têm efeitos erga ommes e é acompanhado de uma obrigação
universal de os respeitar (sob pena de responsabilidade civil extracontratual- 483ºCC)
b. Direitos relativos- São direitos oponíveis a pessoas determinadas- têm efeitos inter partes- e não
implicam poder de domínio, mas conterem direito a uma prestação. São direitos obrigacionais
(397º). As obrigações são civis quando o titular do direitos pode exigir o cumprimento
judicialmente, e são naturais quando o titular apenas pode pretender o seu cumprimento. A
violação implica responsabilidade civil contratual (798ºCC)
c. Direitos potestativos- direitos subjetivos que conferem ao titular o poder de produzir
unilateralmente efeitos jurídicos, uma vez que o contraparte está num estado de sujeição. Podem
ser: constitutivos, modificativos e extintivos.
d. Medidas compulsivas: com alcance mais reduzido que os direitos potestativos uma vez que visam
bloquear exequibilidade de um direito, contra o qual tão indicados (ex: exceção de não

DPSJ Página 1
bloquear exequibilidade de um direito, contra o qual tão indicados (ex: exceção de não
cumprimento: direito de retenção, invocação de prescrição)
• Assim, o direito subjetivo constitui o poder ou faculdade, reconhecido ou atribuído pela sua ordem jurídica
(direito objetivo) ao seu titular, de exigir (judicialmente) ou de pretender (extrajudicialmente) de outrem um
comportamento (ativo ou passivo: positivo são negativo) e ainda o poder de produzir unilateralmente efeitos
jurídicos na esfera de outrem.

Realidades extrajurídicas e pré-jurídicas: as pessoas, os bens e as ações


1. As pessoas são o fundamento e o fim do Direito: o direito não as cria ou extingue;
2. Os bens são tudo aquilo que não as pessoas e visam a satisfação de interesse ou necessidade;
3. As ações são atuações das pessoas (ainda que nem todas se desenvolvam em ambiente jurídico).

DPSJ Página 2
Prática
22 de fevereiro de 2024

Objeto de estudo da cadeira: RELAÇÃO JURIDICA

Relação jurídica: conceito dogmático que visa explicar a aplicação das normas aos factos da vida.

Elementos:
• Sujeito -> tem que ter personalidade jurídica
– Sujeito ativo: titular de um direito subjetivo
– Sujeito passivo: está adstrito ao dever
– Quem tem personalidade jurídica? Qualquer pessoa humana (66ºCC) e pessoas coletivas (158ºCC)

• Objeto -> (202ºCC e seguintes)


– Imediato: o binómio poder dever, direito subjetivo
– Mediato, a realidade jurídica sobre a qual recai o poder indiferente ao direito subjetivo. No fundo é o objeto jurídica do direito
subjetivo.

• Factos jurídicos
– Todo o evento produtor de efeitos jurídicos
> Constitutivo
> Modificativo
> Extinção
• Garantia
– Composta por todas os metodos coercivos que levam a garantir o negocio juridico.

Factos: qual o facto que mais efeitos jurídicos produz?


• NEGÓCIO JURÍDICO - principal instrumento no âmbito da iniciativa privada

Declaração de vontade- essencial no negócio jurídico


• Modalidades:
– Expressa tacita- Art.217 ou através do silencio Art.218
– Expressa direto
– Tacita - meio indireto
• Nas duas acima há um comportamento por ação, uma atuação positiva no mundo ontológico.
• Silencio - omissa, nada fazer, (quem cala não consente, por forca do artigo 218, o silencio, em regra, não vale como meio
declarativo, só excecionalmente é que poderá valer como meio declarativo, em três situações a saber: convenção das partes;
quando a lei lhe atribui esse valor, os usos.)
• O silencio só é eficaz se produz efeitos jurídicos, caso contrário é ineficaz.

Invalidade
• consequência da patologia genética. A invalidade pode ser a nulidade ou anualidade, prevista nos Art. 285 a 294 do CC.
Manifesta-se ali mas pode só se verificar mais a frente.

Invalidades/ características Nulidade Anualidade


Consequência da violação de normas que protegem interesses
devidamente particularizados.
Nota: vigora a atipicidade porque sempre que Nota: vigora um principio da tipicidade, para o negocio ser
há violação de uma norma imperativa e se o anulabilidade tem que haver uma norma que o diga. Art. 257 e
legislador não disse aplica-se sempre o Art.294 247 CC
CC
Não produz efeitos, nunca produziu efeitos e Produz os seus normas efeitos até que venha a ser decretada a
nunca produzirá efeitos. h+a uma realidade ou sua anulação e decretada a sua anulação, esta opera
acordo mas porque contraria a uma norma retroativamente, ou seja, é como se o negocio nunca tivesse
imperativa, nunca produziu efeitos. produzido efeito.
Quer a declaração de nulidade quer a anulação Quer a declaração de nulidade quer a anulação de um negócio
de um negócio operam retroativamente, por operam retroativamente, por força do Art. 289 CC
força do Art. 289 CC

Artigo 286- qualquer interessado direto ou Na anulabilidade por forca do art 297, so tem legitimidade para
indiretamente influenciado por aquele negocio invocar a anulabilidade deste negocio so tem interesse aquele
cujo interesse esta protegido por aquela norma, devidamente
particularizado.
257

DPSJ Página 3
Prazo: Prazo:
Não há prazo art 286, o que é nulo nunca 287/1 - regra do prazo- 1 ano após a cessação do vicio (sendo
produz nem nunca se produzira, e por isso é isto o momento em que aquilo que inquinou o negocio deixa de
sempre anulável. inquinar- ex. Vodka, quando volto a estar sóbrio o vicio cessa)
Apos um ano, há caducidade do direito.
Desvio- 287/2 - enquanto o negocio não estiver cumprido
(enquanto os efeitos do negocio não forem produzidas, ou seja,
as suas obrigações) pode-se sempre invocar a anulabilidade do
contrato porque o negocio ainda não esta cumprido. Sendo isto
uma exceção ao prazo do 1.
Sanação - É insanável, aquilo que não produz É sanável, quer pelo decurso do prazo quer através da figura da
efeitos nunca produziu nem nunca produzirá confirmação, art 288 do CC. Comportamento por parte daquele
por isso não há sanação do vicio. que tem legitimidade para anular o negocio, no sentido de que
não o pretende anular, bem pelo contrario pretende que o
negocio continue a produzir os seus normais efeitos.

DPSJ Página 4
Caso prático
23 de fevereiro de 2024

A era proprietário de uma bicicleta. Decidiu desfazer-se da mesma, colocando-a junto a contentor
do lixo. Passado umas horas, B, passando junto do contentor, pegou na bicicleta e levou-a para casa.
Entretanto, A resolveu adquirir uma nova bicicleta, tendo para tal ido à loja C onde acabou por
comprar uma bicicleta por 2000 euros. Ficou acordado que o preço seria pago daí a 10 dias, o que
veio a acontecer. De imediato, A levou com ele a bicicleta comprada. Enuncie os factos jurídicos
constantes desta situação, determinando os efeitos por eles produzidos e utilizando como modelo
explicativo a figura da relação jurídica.

– A = titular de um direito subjetivo (direito de propriedade) : cria-se uma relação jurídica


– A = SA - SP = TOP (todas as outras pessoas) : têm uma obrigação / dever geral
– bicicleta = objeto do direito de propriedade (art.1302º)
– A : deixa a bicicleta ; consequência / efeito jurídico? :
– art. 1316º: formas de aquisição do direito de propriedade : OCUPAÇÃO
– art.1317º: momento da ocupação (aquisição)
– art. 1318º: objeto pode ser adquirido se for abandonado (possibilidade de adquirir por
ocupação)
– se abandonarmos uma coisa : passa a haver uma coisa móvel sem dono (res nullius) —>
extinção de uma relação jurídica (A deixa de ser proprietário) ; bicicleta: fica sem dono

DPSJ Página 5
Teórica
29 de fevereiro de 2024

Princípios Fundamentais

Personalismo ético

– Consideração de que a pessoa humana é livre, autónoma, igual e irrepetível, dotada de


dignidade originaria e própria e que não pode nunca ser alienada, reduzida ou extinta.
Consubstancia um principio superpositivo, não e uma concessão jurídica mas anterior ao
ordenamento jurídico.
– O personalismo ético representa o que é comum a todos

Principio da responsabilidade
– A liberdade e autonomia da pessoa tem como correspondente a responsabilidade civil e
penal.

Principio da confiança e da aparência


– Componente ético-jurídica e de segurança no exercício das relações. O Direito protege a
honestidade e seriedade dos processos e repele comportamentos abusivos e não tolera
que se beneficie de atuações contraditórias às expectativas criadas (venire contra factum
proprium)

Principio da equivalência
– Corresponde ao equilíbrio das prestaciones que se contrapõem, ainda que, no âmbito da
autonomia, se admitam negócios sem este equilíbrio.
– Ex. Doações, venda em saldos ou preços vis ou de favor.
– Não obstante há situaciones em que razoes de ordem publica exijam a correção do
equilíbrio como é, tipicamente, no caso dos negócios usuários.

Principal direito real: Propriedade e todos aqueles que decorrem dele.

– Decorrente do art.62 da CRP, corresponde à liberdade que o proprietário tem de reger o


destino dos seus bens.
– A disponibilidade dos bens em vida pode traduzir-se no seu consumo, destruição,
abandono, transmissão onerosa ou gratuita. Mortis causa os bens podem ser destinados,
por herança, do espolio do de cujus.

Respeito pela família e sucessão mortes causa

– Decorrente do art.36 da CRP a instituição familiar corresponde a uma célula social de


elevada relevância.
– Ligada a ela, a sucessão por morte, extingue a personalidade jurídica e, com ela, a
titularidade dos direitos e das obrigações.
– Objeto imediato - poder dever
– Objeto mediato - bem sobre o qual vão recair os respetivos direitos.

Facto jurídico
– Facto jurídico natural - ordinário - extraordinário
-> Ato jurídico - Ato jurídico (stricto sensu)
- Negocio Jurídico - Negocio jurídico unilateral
- Contrato - unilateral ou bilateral/multilateral
No âmbito desta relação jurídica a garantia e dada pela tutela pública, ou a privada.

As Pessoas
Direito Civil como Direito Privado Comum - O Direito Civil Constitui parte do Direito Privado e
abrange as relações entre privados, que se estabelecem com base na paridade juridica, na
liberdade ou autonomia.

DPSJ Página 6
Caso prático
7 de março de 2024

António, numa festa, completamente embriagado, encontrou o seu amigo Carlos.


Algum tempo depois, ainda na festa, Carlos disse lhe que gostava muito do relógio que ele trazia e que, se tivesse
dinheiro para tal, gostava de ter um igual. António, eufórico e totalmente alcoolizado disse "eu dou te este". Carlos
de imediato, pegou numa folha de papel e redigiu um pequeno texto dizendo isso mesmo, o qual foi assinado por
ambos.
Responda as seguintes questões, as quais são autónomas:

Contrato realizado: contrato doação (art940º).


Efeitos da doação- 954º

a. Dois dias depois, Carlos exigiu a entrega do relógio. O que poderá António fazer?

R: No ato da emissão da declaração de vontade não estava capacitado para tal. Tendo assim, uma incapacidade
acidental, ou seja, não entendeu o que estava a fazer. Com isto, o negocio é anulável segundo o art. 257º (direito
potestativo de anular).
Assim, António pode recorrer a anulabilidade segundo o estabelecido no art.287º do CC.
Face a exigencia do carlos da entrega do relogio, o carlos pode se desvincular a anulação do negocio com os
termos do 257º conjugado com os termos do 287º.
O negicio é anulado com efeito retroativo, extinguindo-se todos o
Por essa razão, Carlos não teria como não aceitar a anulabilidade do negócio jurídico, uma vez que António teria
o direito de arguir a anulabilidade.

b. Presuma quer no dia seguinte, António acordou e viu o documento que tinha assinado. Querendo honrar a sua
palavra, enviou o relógio a Carlos. No entanto, 3 dias depois, arrependeu-se e pretende impugnar o negocio.
Quid iuris?

R: Neste caso, apesar do negicio ser anulavel, quando o antonio já depois de ter cessado o vicio envia o relogio a
carlos esta a confirmar tacitamente (217º e 288º). Confirmado o begicio, este deixa de ser anulavél,
consequentemente 3 dias depois quando pretende anular o negicio, já não tem direito a anulação.

c. Presuma, agora, que no dia seguinte, Carlos enviou uma mensagem a António com o seguinte teor: "bem sei
que ontem estavas em muito mau estado, no entanto, acho que vais manter a tua palavra. Se nada disseres
nos próximos 3 dias, considero que manténs a vontade de me doar o relógio". António não respondeu a Carlos
e passados 5 dias este exige a entrega do relógio. Quid iuris?

R: neste caso, o silencio não tem valor declarativo. Havendo assim, a possibilidade de anulação do negocio
juridico, segundo o art. 218º.

d. Suponha que António quando descobriu o sucedido quis honrar a sua palavra e mando8u entregar o relógio a
Carlos. No entanto, este, não querendo se aproveitar da situação, pretende devolver o relógio, ao que António
se opõe. Carlos poderá anular o negocio?

e. Nada sucedeu apos aquela noite, sendo que 1 ano e meio depois Carlos exige a entrega do relógio. Como
poderá António evitar isso?

DPSJ Página 7
Teórica
7 de março de 2024

As pessoas singulares

A personalidade jurídica (106º CC)

A personalidade é a qualidade de ser pessoa: qualidade que o direito se limita a constatar e que
não pode ser ignorada ou recusada é, portanto, um dado extrajurídico que se impõe ao direito.
A personalidade jurídica é definida como a suscetibilidade de ser sujeito de direitos e obrigações
ou de situações jurídicas.
Pessoa jurídica é, assim, todo o centro de imputação de situações jurídicas ativas ou passivas, de
direitos ou obrigações.
A personalidade é uma qualidade de ser pessoa, para a atribuição de direitos e obrigações, o que
significa que a titularidade de direitos e obrigações é consequência de se ser pessoa - concluindo-
se que a personalidade das pessoas humanas não é algo atribuído ou recusado pelo Direito e está
fora do poder de conformação do legalidade já que é extralegal, de Direito Natural.

A primeira consequência da personalidade jurídica é a titularidade de direitos de personalidade.


CRP: ar. 1; 13;24

É determinado que estes direitos de personalidade, nos termos do art.18º, têm aplicação direta
como direitos, liberdades e garantias:
• O que impõe, nos termos do art.288º, como limite material à revisão constitucional;
• E admite, no art.8º, a vigência na ordem interna do Direito Internacional dos Direitos
Humanos.

CC:
– ART. 70º (geral de personalidade)
– ART.71º (proteção dos direitos de personalidade depois da morte do respetivo titular)
– ART.72 (direito ao nome
– ART.75º a 78º (tutela de reserva das cartas massivas confidenciais, das memorias familiares
e outros escritos, e cartas massivas não confidenciais)
– ART.79º (direito à imagem)
– ART.81º (direitos que podem ser voluntariamente limitados)

Tutela de personalidade

Vertente objetiva (heteronomia)

– Regulação jurídica relativa à defesa da personalidade, consagrada no direito supranacional,


na lei constitucional, na lei ordinária, cuja ratio se funda em razões de ordem publica e é
alheia a autonomia da vontade. Impostas pela dignidade humana(art.70º), que se impõe
ao legislador.
– Direitos fora da disponibilidade do legislador mas, também, dos seus titulares que não
podem prescindir ou dispor deles.

Vertente subjetiva (autonomia)

– Não se trata de um dever geral de respeito, mas de um direito subjetivo - a defender a


dignidade pró a exigir respeito e lançar mão dos meios juridica ente lícito para essa defesa -
sendo que o seu titular pode dispor dele, gratuita ou onerosamente.
– O art. 81.° CC apresenta esta duplicidade quando admite a disponibilidade negocio dos
bens de personalidade, quando não seja contrária aos princípios de «ordem pública».

Direitos de personalidade

DPSJ Página 8
Direitos de personalidade

Direito subjetivo geral de personalidade

– ART.70º CC

Direitos subjetivos especiais de personalidade

– Arts. 72.° a 74.° (direito ao nome); arts. 75.° a 78.° e 79.° (direito à privacidade), art. 80.°
(direito à imagem); art. 24.° CRP (direito à vida): ...
– Poderes que integram o direito subjetivo personalidade; este que tem como fim a de da
dignidade da pessoa humana;
– Todos estes poderes se agregam num todo coerente, unificado pelo fim da defesa da
dignidade do titular.

Tutela jurídica de personalidade

Plano suprapositivo

– Princípio de Direito Natural: uma exigência da Ideia de Direito que se impõe ao legislador,
tribunais e a todas as pessoas

Plano positivo

– Tutela Constitucional insere-se na defesa dos DLGs e impõe-se ao legislador ordinário na


feitura das leis e tem aplicação direta sobre todas as pessoas (art. 18,°): limite material da
revisão constitucional (art.288.0, al. d)
– tutela Internacional Direito Internacional dos Direitos Humanos (DUDH; CDFUE; PIDCP:
PIDESC; CEDH:/.
– Tutela Penal tutela penal da personalidade revela também a importância social e
comunitária, para além da relevância pessoal.
– Tutela Civil (')

Tutela civil de personalidade

Art. 70.° proclama que «a lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça à sua
personalidade física e moral», inclui-se na sua previsão todo o qualquer direito de personalidade,
ainda que não especialmente previsto no CC
A expressão «indivíduos» no art. 70,* afasta a extensão da previsão normativa a pessoas
coletivas; bem como resulta do art. 878.° do CPC que estabelece como pressuposto no processo
especial de tutela da personalidade que o «decretamento das providências concretamente
adequadas a evitar a consumação de qualquer ameaça ilícita e direta à personalidade física ou
moral do ser humano (...]"

Nos termos do Nº 2 do art. 70 extraem-se 3 linhas de proteção (cumuláveis e as providências


serão «as adequadas às circunstâncias do caso»)
1. Personalidade civil: Tem como finalidade ressarcir danos, materiais e morais, sofridos pelas
vítimas
2. Remédios diretos
a. Preventivos: nos quais se pretende evitar que ameaças se concretizem.
b. Atenuantes: destinados a atuar após a consumação, ou início da consumação, da
ofensa e, não a podendo impedir, se destina a atenuar os efeitos.

Tutela civil de personalidade das pessoas já falecidas (art.71º)

Legitimidade para requerer providências preventivas ou atenuantes: cônjuge sobrevivo,

DPSJ Página 9
Legitimidade para requerer providências preventivas ou atenuantes: cônjuge sobrevivo,
ascendentes, descendentes, irmãos e sobrinhos; bem como herdeiros do falecido.
Controvérsia doutrinal:
a. R. Capelo de Sousa - reconhece que há bens da personalidade do defunto que perduram e
como tais são autonomamente reconhecidos;
b. Pires de Lima e Antunes Varela - direitos de personalidade que perduram depois da morte
sendo uma exceção do art. 68.° do CC;
c. Leite de Campos - entende que os herdeiros defendem um interesse do falecido;
d. Oliveira Ascensão - entende que o valor protegido agora é a memória do falecido e os
herdeiros têm mera legitimação processual;
e. H. Hörster - entende que ainda que haja proteção dos direitos do falecido, os herdeiros
também defendem um direito próprio, ainda que no interesse de outrem;
f. P. Mota Pinto, Castro Mendes, Menezes Cordeiro e Carvalho
Fernandes - entendem, em geral, que os direitos em causa são dos familiares;

O inicio da Personalidade Jurídica

A personalidade jurídica adquire-se com o nascimento completo e com vida - art. 66.° do CC -
assim sendo, só com o nascimento é reconhecida à pessoa a aptidão de ser titular autónomo de
relações jurídicas.

O nascimento é completo quando se verifica a separação do filho do corpo da mãe. O


nascimento, para este efeito, implica que esta separação se faça com um feto vivo, ou seja, não
pode ser um nado-morto.

A condição jurídica das nascituras (e conceturas)

Ainda que a lei reconheça a personalidade jurídica com o nascimento a verdade é que, desde a
conceção existe a proteção jurídica da vida humana do nascituro ainda que o nascituro (em
sentido lato) não tenha personalidade jurídica.

Não obstante a lei permite que se destinem direitos a nascituros e até conceturos:
a. Art. 952.° - doações;
b. Art. 2033.%, n.º 1 - sucessão a nascituros;
c. Art, 2033.° n.º 2- sucessão também a conceturos (aqueles que ainda não foram
concebidos);
d. Arts. 1847.%, 1854.° e 1855.° relativos à perfilhação de nascituros.

DPSJ Página 10
Caso prático
14 de março de 2024

A, 17 anos de idade, resolveu doar a sua namorada B um valioso anel que tinha herdado da sua avó.
Para tal, redigiu um documento, no qual era declarado isso mesmo, que foi assinado pelos dois.
No dia seguinte, C, pai de A, tomou conhecimento do sucedido. Concordando com o ato praticado pelo filho, foi o
próprio C a entregar o anel a B.
Um mês após atingir a maioridade e depois de descobrir a infidelidade de B, A pretende anular o negocio. Quid Iuris?
Art. 122 e seguintes.

R: Sendo A menor no momento do ato de doação (art.940º), A não tinha capacidade juridica art.123º, porém, o mesmo
em circunstancias normais, podia anular o contrato de doação dentro do prazo de 1 ano após atingir a maioridade,
como nos confirma o art. 125º /1b. Neste caso, articulando 125º/2 e 949º/2 concluimos que o ato de confirmação do
pai ao entregar o anel a B, é ineficaz, não produz efeitos quanto tal, o que significa que o negocio é anulavel. Por força
da alinea b do 125º/1, A estava em tempo e tinha legitimidade para invocar a anulabilidade do negocio. Com os termos
do artigo 289º, a anulabilidade tem que ser feita seguindo os efeitos da anulabilidade.

122º - é menor quem ainda não atingiu os 18 anos.


123º - incapacidade de exercício do menor.
Personalidade juridica
Capacidade de gozo 67º
Capacidade de exercicio - 127º
Esfera juridica -
129º- termo da incapacidade dos menores
124º - suprimento da incapacidade de menores
Representação legal:
• 1881º
• 1889º
• 258º
125º:
1a. A figura paternal tem legitimidade para anular o ato até o menor atingir a maioridade ou se emancipar pelo
casamento
1b. o menor tem 1 ano apos obter a maioridade ou emancipação
1c. por via sucessória os seus herdeiros herdam o direito a anular e podem anular dentro do prazo de 1 ano.
940º- contrato de doação
954º- efeitos essenciais do contrato de doação

125º/2: o representante legal só confirma negócios que ele mesmo pudesse celebrar o negocio.
949ª- os representantes legais não podem fazer doações em nome dos menores.

Quando o representante legal tendo conhecimento não exerce o recurso a anulação, o menor pode anular o negocio
apos atingir a maioridade.

DPSJ Página 11
Caso prático
21 de março de 2024

A e B, ambos de 77 anos de idade, casados, têm, cada um deles, um filho, de casamentos


anteriores. Numa saída para velejar, o veleiro naufragou em alto mar, tendo os destroços
aparecido na costa uns dias depois, sendo que os corpos não apareceram.

Responda as seguintes questões:


a. Algum tempo depois os filhos de A e B, respetivamente, necessitando de tratar do
património dos seus pais pretendem requerer junto do tribunal a curadoria provisoria nos
termos do art.89 CC. Diga se esse é o procedimento adequado a situação em causa. (68/2
e 3) problemas: aplicar a presunção e saber quem morreu primeiro

b. Prossuponha agora, que apenas A tinha decidido ir velejar. Sendo que A desapareceu,
mas o veleiro continuou ancorado na marina. Nesse caso seria adequado requerer a
curadoria provisoria dos termos do art.89 CC? (89 e seguintes)

c. No caso da alínea anterior, os herdeiros de A, 6 anos depois do desaparecimento,


requereram a declaração de morte presumida dos termos do art. 114 CC. Poderiam faze-
lo? sim, podia ser declarada a morte presumida nos termos do art. 114º , por força do art.
115º a declaração de morte presumida tem os mesmos efeitos da morte. Ou seja, fecha- se
a personalidade jurídica e começa-se o processo sucessório da pessoa.

d. No caso de ser declarada morte presumida nos termos do art.114 CC e prossupõe que A
tinha 2 imoveis, os quais, posteriormente, foram transmitidos a terceiros pelos seus
herdeiros, um por doação e outro vendido por 100mil euros, diga que direitos assista a A
no caso de regressar 3 anos depois. Art.119/1 - tem direito aos 100 mil

Resposta:

a. Neste caso, segundo os termos do art.92 do CC, o curador provisório escolhido poderá sim,
ser escolhido entre os herdeiros presumidos, sendo estes os que, por norma, seriam
chamados a titularidade desses bens em caso de falecimento (art.120 CC). Por essa razão,
os filhos poderiam requerer junto do tribunal para se selecionar o curador provisório
segundo o art. 89 CC.

Artigos:
Curadoria provisoria : 89º e seguintes. B
Curadoria definitiva: 99º e seguintes.
Declaração de morte presumida: 114º e seguintes.
Termo de personalidade: 68º/3 (a pessoa morreu, só falta o cadáver) ex: explosão de avião com
pessoas dentro
Presunção de comorniência: 68/2- A
Morte presumida: 114º e seguintes
Regresso do Ausente: 119º

DPSJ Página 12
Teórica
21 de março de 2024

As pessoas singulares

Termo da personalidade jurídica

Art.68º do CC- cessa com a morte.

A pessoa perde todos os direitos e deveres que integravam a sua esfera jurídica: os direitos
de natureza pessoal extinguem-se e os demais são suscetíveis para serem transmitidos para
os sucessores mortis causa.
O que significa que a tutela do art.71º não é um desvio a esta regra mas o reconhecimento
de direitos e interesses das pessoas vivas elencadas no nº2 do art.71º.

Quando se considera que alguém morreu? Nº 2 da lei nº 141/99, de 28 de agosto estabelece


que "a morte corresponde à cessação irreversível das funções do tronco cerebral."

O dano morte - reconhecido as pessoas do art. 496º/2


A proteção da vida - art. 70º- implica o reconhecimento que a sua lesão é suscetível de gerar
compensação.
Quem é o titular desta compensação? Se não for o defunto não se está a violar o art. 68º,
nº1.
Dano do direito de personalidade é necessariamente protegido pelo direito civil.

Art. 496º CRP- reconhecimento expresso por parte do legislador civil do reconhecimento do
direito à indemnização pela morte de alguém.

2133º CC- classes de herdeiros legais- a indeminização passa aos herdeiros da vitima.

2132º CC- Categorias de herdeiros legítimos - Conjugues, parentes e o estado.

2135º CC - "Dentro de cada classe os parentes de grau mais próximo preferem aos de grau
mais afastado"

2136º CC - sucessão por cabeça

Regimes de bens- casamento:


1. Comunhão de bens - comunhão geral de bens/ comunhão de bens adquiridos/
separação de bens
2. Não há comunhão de bens.

1730º CC- Participação dos cônjuges no património comum

A <-> B
↓ - parentes de linha reta de 1º grau
C D E
↓ - parente de linha reta de 2º grau
F

61º - não é direito de indemnização do lesado ao direito a vida, direito indemnizatório por
dano morte a outras pessoas que não o titular do direito- 496º/2 - conjugues, filhos (se não

DPSJ Página 13
dano morte a outras pessoas que não o titular do direito- 496º/2 - conjugues, filhos (se não
existirem: pais e outros ascendentes e por fim, parentes de linha colateral: irmãos e
sobrinhos). Indeminização pela perda de alguém

Primeira classe sucessiva


Metade é do conjugue - recebe o mesmo que os filhos recebem
(exceção: 2139º CC - partilha feita por cabeça. conjugue nunca recebe menos que 1/4.)

Pré falecido: o herdeiro morre antes do "pai" (da pessoa que tinha expectativa jurídica de
herdar)

A presunção de comoriência - ambos morreram ao mesmo tempo (art. 68º/2)

Nos termos do nº2 do art. 68º, quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de
uma outra pessoa, presume-se, em caso de dúvida, que uma e outra faleceram ao mesmo
tempo- «mortes simultâneas»

Problema que se coloca neste artigo: Não se conseguir identificar o momento exato da
morte de alguém, quando mais do que um morre e entre eles há efeitos sucessórios. Caso
não se saiba, não se consegue determinar quem herde de quem. Neste caso, presume-se
que morreram ao mesmo tempo e as partilhas são feitas com esse efeito.

Desaparecimento da pessoa

A morte é verificada perante o cadáver, no entanto:

• Art. 68º/3- uma pessoa tem-se como falecida quando o desaparecimento dessa pessoa
aconteça em circunstancias que não permitam duvidar da sua morte mas cujo o
cadáver ainda não foi encontrado.
• Necessária a abertura de um processo de justificação judicial de óbito, promovido pelo
MP (Arts. 207º e seguintes de CRC- código de registo civil)
• Se mais tarde se provar o engano- ou pq a pessoa não morreu ou porque morreu
noutra altura- promove-se a invalidação ou retificação do assento do obito (Arts. 233º
e seguintes de CRC) e aplicam-se as regras do 114º do CC.

DPSJ Página 14
Caso prático
22 de março de 2024

A, a dois meses de atingir a maioridade, vendeu uma valiosa joia a B, a qual tinha sido por si
herdada. Ficou convencionado que a entregada joia e o pagamento do preço seriam efetuados
daí a 6 meses.
Um mês depois, A, necessitando de dinheiro, vendeu aquela mesma joia a C, tendo de imediato
feito a sua entrega e recebido o respetivo preço.
Responda as seguintes questões:
a. Quem é o proprietário da joia?
b. 1 ano e meio depois de celebrar o negócio, B interpela A exigindo a entrega da joia. Poderá
A desvincular-se do negócio?
c. Uns dias depois de celebrar o negocio, C descobre o sucedido e, consequentemente,
pretende impugnar o negocio celebrado entre A e B. Quid Iuris?
d. Pressuponha que o negocio celebrado entre A e B tinha sido uma doação. A resposta as
alíneas anteriores seria a mesma?

Resposta:
O contrato celebrado entre A e B corresponde a uma compra e venda (art.874º CC). Basta o
consenso para a transferência do direito de propriedade. B passa a ser proprietário da joia. (art.
408/1)

Sendo assim, o contrato entre A e C não é apto a transmissão de direitos reais.

Segundo o artigo 122º do CC, A é menor pois ainda não completou 18 anos de idade. Por essa
razão, A carece de capacidade para o exercício de direitos. (123º)

a. o proprietário da joia é B (desde o primeiro contrato de compra e vende entre A e B)

b.
No momento do ato do contrato o negócio é anulável, mas será 1 ano e meio depois?
No entanto, como o negocio não está cumprido, ou seja, os seus efeitos não foram concluídos,
apesar da compra e venda estar concluída, A pode erguer a anulabilidade nos termos do 287º/2,
sendo a declaração da anulação retroativa.
Posteriormente, A volta a ser proprietário da joia, ficando assim o contrato estabelecido com C
válido.

c. C não poderia invocar a anulabilidade uma vez que não teria legitimidade para tal conforme
está estabelecido no Art. 125º/1 CC.

d. 947º- a doação de bens móveis tem que ser escrito. 220º- a doação que carece de prescrita é
nula.
Neste caso, C poderia invocar a anulabilidade do contrato estabelecido entre A e B.

DPSJ Página 15

Você também pode gostar