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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

O Pensamento da Igreja Católica em Questões de Bioética e os princípios


permanentes da Doutrina Social da Igreja

Nome: Albertina Alberto Paulo

Código: 708214511

Curso: Licenciatura em ensino de geografia


Disciplina: Fundamentos de Teologia Católica.
Ano de Frequência: 2º

Pemba, Novembro de 2022

1
Índice……………………………………………………………………………………..iv
Introdução 9
Objectivos gerais: 10
Objectivos específicos: 10
Metodologia de trabalho 10
Desenvolvimento 11
1. Conceito a bioética 11
2. O Pensamento da Igreja Católica em Questões de Bioética 12
2.1. A vida humana 12
2.1.1. O valor da vida humana 13
3. A Doutrina Social da Igreja Católica. 14
4. Os princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja. 16
4.1. A dignidade da pessoa humana 16
4.2. Família e comunidade 17
4.3. Direitos e deveres 17
4.5. Opção preferencial pelos pobres e vulneráveis 17
4.6. Bem Comum 17
4.7. Solidariedade 18
4.8. Subsidiariedade: 18
4.9. Cuidado com a criação19
4.10. Boa governação 19
4.11. A Caridade 19
4.12. Defesa da cultura 20
4.13. Justiça20
Conclusão 21
Bibliografia 22

iv2
Introdução
O dinamismo da realidade contemporânea e a revolução técnico-científica que exerce
influência cada vez maior sobre o desenvolvimento económico e o progresso social
produzem, muitas vezes, situações complexas e imprevistas, colocando o indivíduo e, até
mesmo, a colectividade perante alternativas morais, apresentando-lhes exigências cada vez
maiores.
As conquistas trazidas pelo desenvolvimento na área das ciências biológicas
revigoram e produzem esperanças na melhoria da qualidade de vida da população, porém é
fundamental se questionar quais são os limites para essa acção. As novas biotecnologias
fomentaram um debate que envolve a Bioética e provocou o surgimento do Biodireito, tudo
com o intuito de promover a protecção da vida e a dignidade humana.
Diante dessa realidade, o presente trabalho ira fundamentar com o tema “O
Pensamento da Igreja Católica em Questões de Bioética e os princípios permanentes da
Doutrina Social da Igreja.", Sendo a Bioética a ciência “que tem como objectivo indicar os
limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de
referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações”
No entanto, para elaboração do presente trabalho, recorreu-se a consulta de algumas
obras e recurso à fontes electrónicas que consistiu na leitura, analise e finalmente a
compilação das informações cujos autores estão devidamente citados na referencia
bibliográfica como maneira de permitir uma consistência do mesmo e que também foi
delimitado certos objectivos:

Objectivos gerais:
 Fazer uma análise reflexiva e exaustiva sobre o Pensamento da Igreja Católica em
Questões de Bioética e os princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja.

Objectivos específicos:
 Conceituar a bioética e sua caracterização;
 Explicar os progressos da Bioética no contexto do Pensamento da Igreja Católica;
 Descrever os princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja.

Porem, espera-se que os conteúdos contidos no presente trabalho venham a


corresponder os objectivos para qual foi elaborado e, tendo-se em conta de trabalho
cientifico a colaboração dos demais poderá ser uma aposta para melhor compreensão.

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Metodologia de trabalho
A abordagem metodológica privilegiada neste trabalho é o estudo exploratório, com
bases assentes na pesquisa bibliográfica, acessos a artigos elaborados para a Internet e
artigos de revistas especializadas, disponíveis ao público em geral.
Segundo Marconi e Lakatos (2003), “a pesquisa bibliográfica é um apanhado geral
sobre os principais trabalhos já realizados (livros, revistas e publicações), revestidos de
importância, por serem capazes de fornecer dados actuais e relevantes relacionados com o
tema”.
Contudo, por meio de pesquisa bibliográfica, foram abordados conteúdos sobre.
Nesse sentido, as teorias e práticas contemporâneas têm apontado os indivíduos como sendo
a dimensão que merece maior destaque, uma vez que o retorno esperado é sempre frutuoso.

Desenvolvimento
Serão abordados os seguintes conteúdos, como, Conceito a bioético; O Pensamento
da Igreja Católica em Questões de Bioética; A vida humana; O valor da vida humana; A
Doutrina Social da Igreja Católica; Os princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja.

Com fins de analisar a Bioética no contexto da Igreja Católica e os princípios


permanentes da Doutrina Social da Igreja, como forma de compreender a discussão em
torno da dignidade humana. Inevitavelmente, esse debate bate à porta da Teologia, que
assim como a Bioética também prega a protecção da vida. Esta para os teólogos é advinda
como um dom de Deus e deve ser protegida.
Tendo em vista o número diversificado de crenças no mundo, esse estudo será
permeado pela perspectiva da Teologia cristã, no entanto, apesar da pesquisa se filiar mais
especificamente à religião católica, o trabalho traz o pensamento de alguns teólogos
luteranos, pois, em muitos aspectos, existe uma relação de similaridade no pensamento no
tocante a relação e ao estudo proposto neste trabalho.
A Bioética tem como objectivo facilitar o enfrentamento de questões éticas/bioéticas
que surgirão na vida profissional. Sem esses conceitos básicos, dificilmente alguém
consegue enfrentar um dilema, um conflito, e se posicionar diante dele de maneira ética.

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1. Conceito a bioética
Bioética é um ramo da ética aplicada que reúne um conjunto de conceitos, princípios
e teorias, com a função de dar legitimidade às acções humanas que podem ter efeito sobre os
fenómenos vitais e a vida em geral.
De forma pontual, o (CNBB-2000, 79 p.), entende que a Bioética vai de,
encontro ao culto do sucesso instantâneo, centrado no enriquecimento material. Se
por um lado a Bioética exige governança responsável, por outro, uma enérgica
mobilização na política económica, e até mesmo na política de ciência e tecnologia,
para que se criem instrumentos de controlo sobre os detentores de poderes político e
económico.

A Bioética utiliza muitos conceitos que são usuais na linguagem quotidiana,


conferindo um sentido mais preciso no contexto disciplinar e interdisciplinar.
O âmbito das ciências da vida e da saúde compreende a consideração da biosfera
para além da medicina. A bioética é a orientação que diz respeito às intervenções sobre a
vida, entendida em sentido extensivo que deve compreender também as intervenções sobre a
vida e saúde do homem.

2. O Pensamento da Igreja Católica em Questões de Bioética


Tendo em vista o número diversificado de crenças no mundo, esse estudo será
permeado pela perspectiva da Teologia cristã, no entanto, apesar da pesquisa se filiar mais
especificamente à religião católica, o trabalho traz o pensamento de alguns teólogos
luteranos, pois, em muitos aspectos, existe uma relação de similaridade no pensamento no
tocante a relação e ao estudo proposto neste trabalho.
A Bioética, nesse contexto, é visto por um ângulo mais profundo e ligada ao sentido
de vida de uma forma mais espiritualizada e transcendente. Esse diálogo é importante, pois
os desafios enfrentados pela Teologia e Bioética, diante dos avanços da biotecnologia,
fazem emergir questões acerca dos limites dessas práticas.

De forma pontual, Westphal, teólogo luterano, entende que


Há, hoje, uma atitude francamente favorável em relação à teologia cristã, porque o
paradigma da ciência cartesiana, enquanto forma exclusiva de explicar o mundo,
entrou em colapso. Busca-se não somente a explicação do mundo, mas se quer dar
sentido ao mundo e à vida, que está constantemente ameaçada pela sociedade, que é
dirigida pelo modelo tecnicista de ciência, excluindo o valor de todas as formas de
vida, (WESTPHAL, 2006, p. 16).

Constitui um desafio para a ética contemporânea desenvolver um padrão moral


comum para buscar uma solução dos dilemas provenientes das pesquisas na área das
ciências biomédicas e as novas tecnologias aplicadas à vida e à saúde. Brakemeier, outro

5
conceituado teólogo luterano, reflecte que “a pesquisa científica desmitificou o ser humano.
Destruiu os mitos que lhe asseguravam lugar privilegiado no universo”, (BRAKEMEIER,
2002, p. 9.)

2.1. A vida humana


Antes o ser humano, gozava um sentimento de tranquilidade maior em relação a si
mesmo, pois conhecia um mundo bastante estável, o qual lhe era conhecido e no qual
conseguia inserir-se. Diante das descobertas biomédicas, essa “estabilidade” restou
maculada, totalmente fragilizada, visto que a modernidade e avanço das pesquisas permitiu
que se descobrissem fatos sobre o corpo humano inimagináveis anteriormente, o que gerou
uma crise existencial do ser humano diante do incerto.
Observa-se, que diante dessa fragilidade da vida, tem-se, por um lado, tecnologias
aumentando em favor da humanidade, porém, por outro, existe uma necessidade de cuidado
maior no sentido que acções positivas sejam tomadas em favor do ser humano, pois esses
avanços revelaram “a relatividade da vida humana”. “A vida humana já não mais possui
muito valor. Passou a ser ‘coisa’, sujeita a ser manipulada, explorada, desprezada”.
(BRAKEMEIER, 2002, p. 10.).

Westphal faz uma reflexão sobre isso nas seguintes palavras


Como o ser humano é visto em nossos dias? A indagação a respeito da dignidade
humana vem à tona, de forma especial, no início do presente milénio, pois existem
questões directamente ligadas à sobrevivência da humanidade, e as respostas para
essas perguntas são totalmente imprevisíveis. A questão da dignidade da vida
humana está ligada, por parte de vários filósofos e cientistas, directamente à
utilidade para o mercado e à qualidade de vida, ou seja, a vida humana é digna à
medida que ela traz algum benefício e tem alguma utilidade para a sociedade e para
o mercado.63

No contexto de (BRAKEMEIER, 2002, p. 11.), afirma no entanto, que o papel da


Teologia, diante dessas interpelações, é justamente procurar, junto com a Bioética, respostas
de cunho humanitário, em prol de todos, para esses problemas que envolvem o ser humano,
tendo em vista que “a ciência, trazendo à luz incómodas verdades, introduziu o ser humano
numa crise de identidade”. As grandes novidades científicas revelaram diversas formas de
manipulação da vida humana, com efeitos positivos e negativos, além de denunciar a
fragilidade do ser humano e de seu corpo.
A pessoa humana é provida de uma “dignidade”. Isso significa que a pessoa tem
valor pelo simples facto de ser pessoa. A pessoa é composta de diversas dimensões:
dimensão biológica, dimensão psicológica, dimensão social ou moral e dimensão espiritual.

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2.1.1. O valor da vida humana
Para a Bioética, é fundamental o respeito à vida humana. Que segundo as principais
obras de Embriologia, a vida humana inicia-se no exacto momento da fecundação, quando o
gâmeta masculino e o gâmeta feminino se juntam para formar um novo código genético.
Esse código genético não é igual ao do pai nem ao da mãe, mas que é composto de 23
cromossomas do pai e de 23 cromossomas da mãe.
Sendo assim, nesse momento, inicia-se uma nova vida, com património genético
próprio, e, a partir desse momento, essa vida deverá ser respeitada. Este é o primeiro estágio
de desenvolvimento de cada um de nós. A experiência mostra que o desenvolvimento de
todos nós se deu da mesma maneira, ou seja, a partir da união dos gâmetas do pai e da mãe.

Porém, (RAMOS 2009. 374p.), faz uma reflexão sobre isso nas seguintes palavras
dizendo que além disso, a vida é um processo que pode ser:
a) Contínuo - Porque é ininterrupto na sua duração. Estar vivo representa dizer que
não existe interrupção entre sucessivos fenómenos integrados. Se houver
interrupção, haverá a morte.
b) Coordenado - Significa que o DNA do próprio embrião é responsável pelo
gerenciamento das etapas de seu desenvolvimento. Esse código genético coordena
as actividades moleculares e celulares, o que confere a cada indivíduo uma
identidade genética.
c) Progressivo - Porque a vida apresenta, como propriedade, a gradualidade, na
qual o processo de desenvolvimento leva a uma complexidade cada vez maior da
vida em formação.

O autor ainda descreve que, o valor da vida de algumas pessoas, em diferentes


épocas, não foi respeitado (e ainda hoje, em muitos casos, não é). Por exemplo: os escravos
no mundo (até a Abolição da Escravatura, em 1888), com consequente (e ainda frequente)
discriminação dos afros descendentes; os prisioneiros nos campos de concentração na 2 a
Guerra Mundial; os pacientes com necessidades especiais (como os portadores do vírus HIV
em diversas situações); as mulheres e os pobres em diversas sociedades (inclusive na nossa),
dentre tantos outros exemplos.
No mesmo praz, (Häring, 1982, p.32). Revela que na actualidade tem se verificado
actos que regem contra a vida Humana como a contracepção; a reprodução assistida;
inseminação artificial; fecundação in-vitro e transferência de embriões; maternidade
substitutiva; o aborto;
A Igreja apenas condena o aborto provocado por outros motivos que não sejam a
questão terapêutica.

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3. A Doutrina Social da Igreja Católica.
A doutrina social é o anúncio de fé que o Magistério faz diante das realidades
sociais. Recolhida num compêndio, esta defesa se traduz em indicações, conselhos e
exortações com que a Igreja anima os cristãos a serem cidadãos responsáveis.
Para a (IGREJA CATÓLICA. 2005. p. 260.), a Doutrina Social Católica traz que
Na origem de tais problemas pode identificar-se a pretensão de exercitar um
domínio incondicional sobre as coisas por parte do homem, um homem desatento
àquelas considerações de ordem moral que devem caracterizar cada actividade
humana

O termo da Bioética surge, ainda, como tentativa de reflectir de modo substancial a


respeito das intervenções tecnocientíficas sobre a vida e a saúde do ser humano, que entrou
num processo de desumanização devido aos rápidos avanços. Como bem explica
BRAKEMEIER, ao dizer que “os factores deteriorantes da qualidade do ‘humano’
multiplicaram-se com o advento da modernidade e com o desenvolvimento da tecnologia”.

A Doutrina Social da Igreja Católica, também faz um alerta à sociedade sobre o uso
das novas biotecnologias, enfatizando claramente os riscos que os seres humanos estão
expostos, bem como ressaltando o papel dos cristãos nesse debate
As novas possibilidades oferecidas pelas actuais técnicas biológicas e biogenéticos
suscitam, de um lado, esperanças e entusiasmos, e, de outro, alarme e hostilidade.
As aplicações das biotecnologias, sua liceidade do ponto de vista moral, suas
consequências para a saúde do homem, seu impacto sobre o ambiente e sobre a
economia, constituem objecto de estudo aprofundado e de vívido debate. Trata-se
de questões controversas que envolvem cientistas e pesquisadores, políticos e
legisladores, economistas e ambientalistas, produtores e consumidores. Os cristãos
não são indiferentes a estas problemáticas, cônscios da importância dos valores em
jogo.

É do conhecimento de que hoje que o corpo “pode ser modelado e produzido por
engenharia e técnica”, o ser humano, em seu aspecto singular e único, acabou por ser
considerado relativo e frágil. “Foram descobertos os mecanismos biológicos, psicológicos e
sociológicos segundo os quais o ser humano, individual e comunitariamente, funciona”, e
essas descobertas geram dúvidas e problemas éticos.

É necessário conceber a vida humana como algo único, precioso e que precisa ser
protegido. Nesse sentido, o valor das pessoas preciso ultrapassar o aspecto económico,
devendo ser priorizado o ser e não o ter, pois gente não é coisa. A vida do ser humano deve
ter um sentido mais profundo e de reencontro com sua essência e valores, do que
simplesmente só ser baseada em acumulação de riquezas e desvalorização da vida.

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O papa João Paulo II, através da Doutrina Católica, revelou sua preocupação
ressaltando que “por causa dos poderosos meios de transformação, oferecidos pela
civilização tecnológica, parece às vezes que o equilíbrio homem-ambiente tenha alcançado
um ponto crítico”, que segundo relata a (IGREJA CATÓLICA, 2005, p. 260.). Além do que,
essa reflexão deságua de forma latente na dignidade do ser humano, pois não é de hoje que
esta tem sido alvo de agressões, como descreve Brakemeier
[...] os horrores dos genocídios, no passado e no presente, as chacinas e as barbáries
das guerras mundiais e civis abalaram a fé na bondade do ser humano e na nobreza
de sua alma. Entre todas as ofensas à dignidade humana, (BRAKEMEIER, 2002, p.
10-11.).

Nesse contexto, a Bioética se fundamenta como uma reflexão na tentativa de


humanizar o progresso científico, visto que a própria dignidade humana encontra-se no em
foco. Sabe-se que a prática desenfreada da ciência pode conduzir a essa desumanização do
ser humano. Acerca desse temeroso processo é importante frisar as colocações pontuais de
Brakemeier, pois, como bem ressalta
A dignidade humana já não mais constitui assunto de especial relevância. Ela torna-
se, antes, objecto de barganha, de competitividade, de produtividade. Em última
instância, é o mercado quem sobre ela decide. Com isto, completa-se o processo
degradador do ser humano, (BRAKEMEIER, 2002, p. 13.).

Em meio a essas constatações, o teólogo e padre católico Junges reflecte sobre o


papel da Bioética:
A Bioética defronta-se também com um absoluto formal: a dignidade humana. Ela
representa uma referência absoluta para as ciências da vida e da saúde. O respeito a
esse absoluto expressa o sentido de qualquer acção referente à vida humana e
representa o seu critério de verdade e de bem. Portanto, a relação de transcendência
faz parte também da bioética, (JUNGES, 1995, p. 96.).

Ademais, como já fora evidenciado, a postura interdisciplinar da Bioética coloca-a


em diálogo com outras disciplinas, e, principalmente, com a Teologia. Westphal traz que “a
fé e a teologia cristãs têm uma contribuição importante nas questões de bioética: o
discernimento ético”, (WESTPHAL, 2006, p. 17.).
A Doutrina Social da Igreja Católica assevera que
A promoção da dignidade humana implica, antes de tudo, a afirmação do direito
inviolável à vida, desde a concepção até a morte natural, primeiro entre todos e
condição para todos os outros direitos da pessoa. O respeito da dignidade pessoal
exige, ademais, o reconhecimento da dimensão religiosa do homem, que não é “uma
exigência meramente “confessional”, mas sim de uma exigência que mergulha a sua
raiz inextirpável na própria realidade do homem”.

Nesse sentido, vê-se que a Teologia cria um espaço para traçar caminhos com intuito
de promover de forma mais efectiva a dignidade da pessoa humana, desde sua concepção até

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a morte. Os direitos da pessoa humana por muito tempo ignorados, foram evidenciados com
o exemplo de vida de Jesus.

4. Os princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja.


Essa preocupação da Igreja se concretiza em valores que servem de base para a
actuação social. Todos eles têm base evangélica e estão de acordo com a natureza humana,
que a Igreja assume e defende, procurando levá-la à plenitude, por meio da Redenção
operada por Cristo. Esses valores são:

4.1. A dignidade da pessoa humana


A respeito à dignidade humana constitui princípio fundamental não só da vida, mas
do mundo jurídico. Exactamente em razão de ser um preceito fundamental o princípio da
dignidade independe de inclusão expressa no corpo do texto legal para que produza efeitos
jurídicos. Essa realidade se dá pelo simples fato dela existir e ser reconhecida, estando
intrínseca ao contexto das normas, sem precisar aparecer em sua literalidade.
SARLET, (2012, p. 76.) define a dignidade da vida humana
como sendo algo sagrada e a sua dignidade inviolável, independentemente da idade,
do estado de saúde, da riqueza ou da condição social. Toda pessoa tem direito à vida
desde a concepção até a morte natural. Além disso, uma vida digna implica a paz,
muitas vezes ameaçada pela guerra e pela violência.
[...] a dignidade evidentemente não existe apenas onde é reconhecida pelo Direito e
na medida em que este a reconhece, já que constitui dado prévio, não esquecendo,
todavia, que o Direito poderá exercer papel crucial na sua protecção e promoção.

O que se ressalta, é que para uma maior efectividade, até pela cultura positivista que
prefere ter tudo escrito em lei, que o princípio da dignidade humana esteja disposto no texto
constitucional, para fortalecer mais a sua protecção e observância pela sociedade como um
todo.

4.2. Família e comunidade


Família e comunidade: o homem é um ser social e tem o direito de crescer em
comunidade. O casamento e a família são a base da sociedade (já no início do cristianismo a
família era considerada “igreja doméstica”, termo que foi recuperado pelo Concílio Vaticano
II e difundido por São João Paulo II). Todas as pessoas têm direito de participar na
sociedade.

4.3. Direitos e deveres


Direitos e deveres: todas as pessoas têm direitos a reclamar e deveres a cumprir,
tanto em nível individual, como familiar e social. Em particular, dos trabalhadores: a

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economia está ao serviço das pessoas e não o contrário. Os trabalhadores têm direito a um
trabalho digno, seguro e bem remunerado.

4.4. A Paz: fruto da justiça e da caridade


A paz é um valore um dever universal e encontra o seu fundamento na ordem
racional e moral da sociedade que tem as suas raízes no próprio Deus, fonte primária do ser,
verdade essencial e bem supremo. A paz não é simplesmente ausência de guerra e tampouco
um equilíbrio estável entre forças adversárias, mas se funda sobre uma correcta concepção
da pessoa humana e exige a edificação de uma ordem segundo a justiça e a caridade. A
paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17), entendida em sentido amplo como o respeito ao
equilíbrio de todas as dimensões da pessoa humana.
A Igreja proclama, com a convicção da sua fé em Cristo e com a consciência de sua
missão, que a violência é um mal, que a violência é inaceitável como solução para os
problemas, que a violência não é digna do homem. A violência é mentira, pois que se opõe à
verdade da nossa fé, à verdade da nossa humanidade. A violência destrói o que ambiciona
defender: a dignidade, a vida, a liberdade dos seres humanos.

4.5. Opção preferencial pelos pobres e vulneráveis


Opção preferencial pelos pobres e vulneráveis: Jesus nos ensinou que os mais
vulneráveis de uma sociedade têm um lugar privilegiado em seu Reino. É um dever de
justiça ajudar a todos na luta contra a pobreza e as situações de risco, algo que o Papa
Francisco enfatizou desde o início de seu pontificado.

4.6. Bem Comum


Bem Comum: é “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos
grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição”
(Gaudium et Spes, 26).

Na óptica de GS 74; cf. também GS 26, DH 6, bem como já MM 65, PT 58,


na sua definição clássica, o bem comum é compreendido como quintessência dos
meios e oportunidades a serem disponibilizados na cooperação social, para que “os
indivíduos, as famílias e os grupos sociais” possam adquirir seus próprios valores e
atingir seus próprios objectivos “com maior plenitude e rapidez”8. Aqui não se trata
apenas do aperfeiçoamento do indivíduo, mas também do aperfeiçoamento de
grupos sociais distintos.

Além disso é significativo que o bem comum não inclui a soma de todos os valores,
mas apenas a soma daqueles valores, que sejam pré-requisito para a possibilidade de todos

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realizarem os seus valores. Isso se refere sobretudo a estruturas, instituições e sistemas
sociais.

O bem comum é definido aqui como valor a serviço (Oswald von Nell-Breuning);
fala-se de um conceito instrumental de bem comum (Arno Anzenbacher). Com isso o bem
comum está a serviço da pessoa humana: “De acordo com o princípio supremo dessa
doutrina [isto é, da doutrina social da Igreja - nota da autora], o ser humano deve ser o
portador, o criador e o fim de todas as instituições sociais.” (MM 219)

4.7. Solidariedade
Solidariedade a Igreja promove a paz e a justiça acima das diferenças de raça, nação,
religião etc. Há uma só família humana que todos nós somos responsáveis por cuidar.
A doutrina social clássica define o princípio da solidariedade como princípio de ser e dever-
ser (NELL-BREUNING) ou como princípio ôntico e ético (Höffner), a nova ética social
cristã busca evitar o risco conexo do mal-entendido como falácia naturalista e deriva o
princípio da solidariedade da sua “orientação em direcção do ser humano como pessoa”
Assim sendo, torna-se muito importante analisar mais detidamente a solidariedade
como princípio social, tal como ganhou relevância no contexto da Doutrina Social Católica.

4.8. Subsidiariedade:
Subsidiariedade a autoridade pública deve deixar “ao cuidado de associações
inferiores aqueles negócios de menor importância, que a absorveriam demasiado; poderá
então desempenhar mais livre, enérgica e eficazmente o que só a ela compete, porque só ela
o pode fazer” (Quadragesimo anno, 80).

4.9. Cuidado com a criação


Cuidado com a criação: Deus colocou o homem à frente das realidades terrenas para
dominá-las e cuidá-las. Através do respeito pelas outras criaturas, o homem manifesta o
respeito devido ao Criador. A crise ambiental tem dimensões morais.
“A Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina
pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam proximamente a
esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma comunidade humana. Vive e
actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão na terra, mas no Céu” (Amar a Igreja,
22).

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4.10. Boa governação
Boa governação Esta caracteriza-se pela capacidade de ter um projecto, orientado a
favorecer uma convivência social mais livre e mais justa, em que vários grupos de cidadãos,
mobilizando-se para elaborar e exprimir as próprias orientações, para fazer frente às
suas necessidades fundamentais, para defender legítimos interesses.
A comunidade política e a sociedade civil, embora reciprocamente ligadas e
interdependentes, não são iguais na hierarquia dos fins. A comunidade política está
essencialmente ao serviço da sociedade civil e, em última análise, das pessoas e dos grupos
que a compõem. A sociedade civil, portanto, não pode ser considerada um apêndice ou uma
variável da comunidade política: antes, ela tem a preeminência, porque justifica
radicalmente a existência da comunidade política.

4.11. A Caridade
Entre as virtudes no seu conjunto e, em particular, entre virtudes, valores sociais e a
caridade, subsiste um profundo liame, que deve ser cada vez mais acuradamente
reconhecido. A caridade, não raro confinada ao âmbito das relações de proximidade, ou
limitada aos aspectos somente subjectivos do agir para o outro, deve ser reconsiderada no
seu autêntico valor de critério supremo e universal de toda a ética social. Dentre todos os
caminhos, mesmo os procurados e percorridos para enfrentar as formas sempre novas da
actual questão social, o «mais excelente de todos» (1 Cor 12,31) é a via traçada pela
caridade.
A caridade pressupõe e transcende a justiça: esta última «deve ser completada pela
caridade». Se a justiça «é, em si mesma, apta para “servir de árbitro” entre os homens na
recíproca repartição justa dos bens materiais, o amor, pelo contrário, e somente o amor (e
portanto também o amor benevolente que chamamos “misericórdia”), é capaz de restituir o
homem a si próprio».Não se podem regular as relações humanas unicamente com a
medida da justiça: «A experiência do passado e do nosso tempo demonstra que a justiça,
por si só, não basta e que pode até levar à negação e ao aniquilamento de si própria, se não
se permitir àquela força mais profunda, que é o amor plasmar a vida humana nas suas várias
dimensões.

4.12. Defesa da cultura


A palavra «cultura» indica, em geral, todas as coisas por meio das quais o homem
apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por

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dominar, pelo estudo e pelo trabalho, o próprio mundo; torna mais humana, com o
progresso dos costumes e das instituições, a vida social, quer na família quer na
comunidade civil; e, finalmente, no decorrer do tempo, exprime, comunica aos outros e
conserva nas suas obras, para que sejam de proveito a muitos e até à inteira humanidade, as
suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações (GS, 53).
Daqui se segue que a cultura humana implica necessariamente um aspecto histórico e
social e que o termo «cultura» assume frequentemente um sentido sociológico e etnológico.
É neste sentido que se fala da pluralidade das culturas.

4.13. Justiça
Este se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas do Estado
para a saúde, a pesquisa etc. Costumamos acrescentar outro conceito ao de justiça: o
conceito de equidade que representa dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo suas
necessidades, ou seja, incorpora-se a ideia de que as pessoas são diferentes e que, portanto,
também são diferentes as suas necessidades.
De acordo com o princípio da justiça, é preciso respeitar com imparcialidade o
direito de cada um. Não seria ética uma decisão que levasse um dos personagens envolvidos
(profissional ou paciente) a se prejudicar.
É também a partir desse princípio que se fundamenta a chamada objecção de
consciência, que representa o direito de um profissional de se recusar a realizar um
procedimento, aceito pelo paciente ou mesmo legalizado.
Todos esses princípios (insistimos que eles devem ser nossas “ferramentas” de
trabalho) devem ser considerados na ordem em que foram apresentados, pois existe uma
hierarquia entre eles. Isso significa que, diante de um processo de decisão, devemos
primeiro nos lembrar do nosso fundamento (o reconhecimento do valor da pessoa); em
seguida, devemos buscar fazer o bem para aquela pessoa (e evitar um mal); depois devemos
respeitar suas escolhas (autonomia); e, por fim, devemos ser justos.

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Conclusão
Diante do presente trabalho, chegou-se a conclusão de que a Bioética pretende
contribuir para que as pessoas estabeleçam “uma ponte” entre o conhecimento científico e o
conhecimento humanístico, a fim de evitar os impactos negativos que a tecnologia pode ter
sobre a vida (afinal, nem tudo o que é cientificamente possível é eticamente aceitável).
Existe também uma conceitualização das “autoridades teológico-científicas que
enfatizam a questão da fé e o potencial de aproximação entre diferentes religiões.
Ao mesmo tempo, aparece uma corrente na qual a Bioética assume um papel
ideológico cuja dinâmica é própria, que transforma a ideologia dominante e é por ela
transformada. Elas sempre contêm algumas doutrinas não-falsificáveis, no sentido indicado
por Popper, daí decorrendo que um posicionamento ideológico está necessariamente
associado à aceitação de um sistema de pensamento não totalmente científico.
A Doutrina Social da Igreja Católica, também faz um alerta à sociedade sobre o uso
das novas biotecnologias, enfatizando claramente os riscos que os seres humanos estão
expostos, bem como ressaltando o papel dos cristãos nesse trabalho.
preocupação da Igreja se concretiza em valores que servem de base para a actuação
social. Todos eles têm base evangélica e estão de acordo com a natureza humana, que a
Igreja assume e defende, procurando levá-la à plenitude, por meio da Redenção operada por
Cristo.
É também a partir desse princípio que se fundamenta a chamada objecção de
consciência, que representa o direito de um profissional de se recusar a realizar um
procedimento, aceito pelo paciente ou mesmo legalizado.

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