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A partir do excerto temos claro que educação especial e educação inclusiva não se
confundem, ainda que possam andar juntas. A educação especial é uma abordagem de
ensino em que se procura desenvolver habilidades específicas em indivíduos que tenham
algum tipo de dificuldade de aprendizagem, muitas vezes relacionada a uma deficiência; já
a educação inclusiva consiste, ao mesmo tempo, em um processo educativo e um processo
social, sendo, portanto, mais ampla que a primeira.
Sousa (2019) destaca que a perspectiva da inclusão faz com que a educação especial leve
em conta o respeito às diferenças na escola regular. Observando o cotidiano escolar de
muitas crianças e jovens com deficiência, pondero que, quando uma escola finge que as
diferenças não existem – ainda que o faça sob a alegação de que está evitando
discriminação e/ou "privilégios" – o que se produz é, além de desinformação, também
desigualdade de oportunidades, afinal, pessoas diferentes precisam de apoios e de
estímulos diferentes para conseguirem se desenvolver bem.
Depois de apresentar os dois excertos, no trabalho do qual resulta este artigo nos pediram
para atendermos a algumas recomendações. Eis a primeira:
a) Com base no contexto escolar (você pode visitar uma escola para observar
como acontece o atendimento aos alunos especiais), escreva sobre a relação
entre o direito de aprender e a educação inclusiva.
Estudei em cinco escolas, todas particulares, de uma cidade de médio porte do Triângulo
Mineiro. Em comum, vejo que em todas elas sofri bullying e vi outras pessoas em situação
similar à minha enfrentando o mesmo problema.
Na primeira escola onde estudei, quando era muito pequeno e ainda não tinha um
diagnóstico definido, eu ficava a tarde toda numa quadra de voley brincando na areia. Com
o tempo eu nem entrava mais na sala de aula, pois as professoras diziam que minha
agitação "atrapalhava os coleguinhas", então, quando fechavam o portão eu já era
"liberado" para brincar na quadra juntamente com um colega com síndrome de down. Nessa
escola, que era cheia de escadas, não havia rampas e nenhum atendimento especializado.
Na segunda escola, que era mais cara e muito bem conceituada na cidade, a família de um
colega com uma síndrome genética rara relatou que tinha que pagar separado o salário de
uma segunda professora para acompanhar o filho em sala de aula. Além disso, eles
recorriam, no contraturno, aos serviços de um centro de atendimento psicopedagógico que
também foi frequentado por mim, por indicação escolar, durante os anos em que estudei lá.
Nessa escola eu fui reprovado duas vezes em matemática mesmo estando em
acompanhamento psicopedagógico e tendo claros indícios de discalculia além de
diagnóstico de DDAH.
De forma não muito diferente, na terceira escola em que estudei também predominava o
modelo da integração sob uma fachada de inclusão. O que era chamado de "inclusão
escolar" não ia muito além de se reconhecer o direito da família matricular sua criança
atípica. Quanto à permanência, nada era feito a respeito. Nessa instituição, exceto por
iniciativa pessoal de uma professora de Matemática (não por orientação institucional),
também não havia adaptação de material, avaliações e/ou critérios avaliativos,
independente da existência de um diagnóstico.
Na quarta escola, que era mais simples em termos de instalações, eu tive alguns
professores especiais e outros que careciam muito de uma formação que não se limitasse
ao domínio do conteúdo. O professor de Matemática nem sabia que discalculia existia;
outros, achavam que tudo o que remetesse à apresentação de um laudo era "oportunismo"
e "invenção da indústria farmacêutica" - ainda que não se estivesse pedindo nada e que
nem sempre o tal laudo tivesse relação com uso de alguma medicação.
Cumpre observar que essa escola, que era a mais simples em vários aspectos, mas tinha
uma supervisão pedagógica sensível, foi justamente a que chegou um pouco mais perto de
fazer uma educação inclusiva. Depois da reavaliação realizada a pedido, não havia outra
coisa a ser feita senão adaptar os conteúdos matemáticos (tanto da disciplina de
Matemática quanto de outras disciplinas) – ainda que o regente da matéria continuasse
convicto em suas crenças pessoais na contramão da evidência científica.
Como lá só tinha até o fundamental, mudei novamente de escola para cursar o ensino
médio. Fui matriculado em uma das escolas mais modernas e conceituadas da cidade, que
oferecia o ensino em período integral, com horários para aulas de reforço, pra assistir filmes
e debater, para estudo de línguas, para tarefas, e também para atendimento com equipe de
TO e psicopedagogia. No meu caso, além dessas atividades, havia ainda horário reservado
para aulas de educação matemática.
No começo tudo corria relativamente bem, contudo, não demorou para que o bullying
recomeçasse quando colegas se deram conta de que meu material de matemática era o
mesmo das crianças do fundamental I, com linguagem e ilustrações infantis. Tornei-me a
piada da turma e não reagi bem a isso. Depois veio a pandemia e algumas dificuldades de
comunicação se intensificaram, o que, somado a uma mudança na supervisão, me deixou
isolado por completa falta de mediação pedagógica. O que para o supervisor anterior,
atento às discussões sobre neurodiversidade, era uma demanda legítima de adaptação e
apoio, para sua substituta passou a ser visto como algo semelhante a um problema ou
desvio a ser corrigido. Mais uma vez, foi o apoio e a dedicação de alguns professores - e
não iniciativas institucionais - que permitiram o meu desenvolvimento escolar.
Pereira (2021) explica que, quando chega um aluno com deficiência em qualquer escola
pública do estado mineiro, uma equipe deve se reunir para estudar o caso e elaborar um
documento chamado Plano de Desenvolvimento Individual (PDI). Esse documento servirá
para acompanhar tanto a aprendizagem quanto o desenvolvimento social e emocional do
estudante, o que permitirá embasar a decisão de solicitar ou não a presença de um
segundo profissional na sala de aula, além do professor regente.
Ainda que a autora entenda que, na prática, isso nem sempre funciona bem (sua tese é que
muitas vezes o profissional de apoio não era necessário, então sua presença acaba mais
atrapalhando do que ajudando), considerando a existência de um protocolo a ser cumprido,
opino que, no estado em questão, as escolas particulares da educação básica têm muito o
que aprender com as escolas públicas em relação à inclusão da PcD.
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VE R I F I QUE A CLAS S I F I CAÇÃO I NDI CAT I VA. *Val o r do pl an o Mo bi l e . Ofe rta di spo n í v e l so m e n te c o m o pagam e n to an u al an te c i pado . © 2 02 2
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