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INTRODUÇÃO

Os Recursos no Processo Civil brasileiro são os remédios processuais de que se


podem valer as partes, o Ministério Público e eventuais terceiros prejudicados para
submeter uma decisão judicial a nova apreciação, em regra por um órgão diferente
daquele que a proferiu, e que têm por finalidade modificar, invalidar, esclarecer ou
complementar a decisão.

Pode-se afirmar que os Recursos são expressão de uma característica do homem


do inconformismo face a uma decisão que lhe prejudica.

Os recursos não têm natureza jurídica de ação, nem criam um novo processo. Eles
são interpostos na mesma relação processual e têm o condão de prolongá-la e
evitar o trânsito em julgado da lide.

São diversos os recursos previstos no CPC. No presente trabalho, iremos abordar o


conceito e previsão legal do Agravo em Recursos especial ou extraordinário e
Embargos de divergência, bem como doutrinas e julgados sobre estes recursos.

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIO

O Agravo em Recurso Especial ou Extraordinário é um tipo de agravo que cabe contra a


decisão do presidente ou vice-presidente do tribunal de origem que, em juízo prévio de
admissibilidade, indeferir o processamento do recurso extraordinário ou especial.
Este Recurso está previsto no artigo 1.042 do Código de Processo Civil.
Conforme aduz a legislação, compete ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido
realizar um prévio juízo de admissibilidade do RE e do REsp, indeferindo-os em caso de
não preenchimento. Mas o agravo, de que trata o art. 1.042 do CPC, chamado “agravo em
recurso especial e em recurso extraordinário”, só cabe quando o presidente ou vice-
presidente inadmitir o recurso por falta dos requisitos de admissibilidade.
É importante ressaltar esse requisito pois, no caso de o presidente do tribunal negar
seguimento ao recurso em razão de aplicação de entendimento firmado em regime de
repercussão geral ou em julgamento de recurso repetitivo, o recurso adequado será o
agravo interno, previsto no art. 1.021 do CPC, e não o Agravo em Recurso Especial ou
Extraordinário.
O agravo do art. 1.042 é adequado quando o recurso não for admitido pelo não
preenchimento dos requisitos de admissibilidade. O prazo de interposição é de quinze dias,
devendo o agravante comprovar expressamente a existência das hipóteses de cabimento.
O Agravo em RE e RESP (CPC/2015, art. 1.042) é interposto nos autos do mesmo
processo, diferentemente do agravo de instrumento (CPC/2015, art. 1.015).
A petição de agravo será dirigida ao presidente e ao vice-presidente do Tribunal de
recorrido/origem e independe do pagamento de custas, na medida em que já houve a
interposição de RE ou RESP, em tais recursos já ocorreu o preparo.

O presidente ou vice-presidente do tribunal, intimará o agravado para contrarrazões em


quinze dias. Após o prazo de resposta, o presidente ou vice-presidente do Tribunal de
origem poderá realizar juízo de retratação, que consiste no encaminhamento dos autos ao
Tribunal Superior. Não havendo retratação, o Tribunal de origem terá de remeter o agravo
ao Tribunal competente. Isso ocorre, pois, via de regra, não é permitido ao Presidente e o
Vice o exame de admissibilidade do Agravo pois a competência é do STJ ou STF, de
acordo com o caso.

Na hipótese de interposição conjunta de RE ou REsp, deverá ser interposto um agravo para


cada recurso inadmitido. O relator, no Superior Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal
Federal, poderá, de plano, não conhecer, conhecer e dar provimento ou conhecer e negar
provimento ao recurso, cabendo agravo interno de sua decisão, no prazo de quinze dias.
Outrossim, a única exceção ao cabimento do Agravo contra decisão do presidente ou do
vice-presidente que profere negativa de admissibilidade do Recurso Extraordinário ou do
Recurso Especial está prevista no caput do CPC/2015, art. 1.042 e ocorre quando há
negativa fundada em tese firmada em caso repetitivo ou entendimento firmado em
repercussão geral. Nesses casos é possível a interposição do Agravo Interno para que se
possa diferenciar o caso julgado do precedente aplicado pelo STJ ou STF.
Conforme aduz a jurisprudência:
AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE NÃO ADMITE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. MANIFESTO DESCABIMENTO. NÃO
CONHECIMENTO DO RECLAMO.

1. Nos termos dos arts. 1.030, § 1º, e 1.042, ambos do Código de


Processo Civil, contra a decisão monocrática que não admite o
recurso extraordinário é cabível agravo em recurso extraordinário
para o Supremo Tribunal Federal.
2. A interposição de agravo regimental contra o referido
pronunciamento judicial configura erro grosseiro, impedindo a
aplicação do princípio da fungibilidade. Precedentes do STJ e do
STF.

3. Agravo regimental não conhecido.

(AgRg no RE no AgRg no HC 564.037/SP, Rel. Ministro JORGE


MUSSI, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/12/2020, DJe
07/12/2020)

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL E EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO

Esse recurso foi introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei n. 8.950/94.
Suas hipóteses de cabimento vêm previstas no art. 1.043 do CPC:

Art. 1.043: É embargável o acórdão de órgão fracionário que:

I — em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir


do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal,
sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito;

(...) III — em recurso extraordinário ou em recurso especial,


divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo
tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha
conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia”.

As hipóteses dos incisos II e IV do art. 1.043 foram revogadas ainda na vacatio legis
do novo CPC.

A finalidade desse recurso é evitar divergências, tanto de natureza material quanto


processual, no âmbito do STF e do STJ, uniformizando a jurisprudência.

Pressupõe, no âmbito do STF, que haja divergência de entendimento entre uma e


outra Turma, ou entre uma Turma e o Plenário; e, no âmbito do STJ, divergência
entre uma Turma e outra, ou entre Turma e Seção, ou ainda entre a Turma e o
Órgão Especial. Não basta que ela se manifeste entre ministros da mesma Turma, a
menos que a sua composição tenha sido alterada em mais da metade de seus
membros (art. 1.043, § 3º).

É preciso, normalmente, que se estabeleça entre dois órgãos fracionários distintos


desses Tribunais, ou entre um deles e o plenário. Vale lembrar que o STF tem duas
turmas, compostas por cinco Ministros, e o Plenário, com onze. O STJ tem seis
turmas, com cinco ministros cada. Cada Seção é composta de duas turmas e há o
Órgão Especial, denominado Corte Especial, que, nos termos do art. 2º, § 2º, do
Regimento Interno do STJ, é integrada pelos quinze Ministros mais antigos e
presidida pelo Presidente do Tribunal.

É preciso que a divergência seja atual, não cabendo mais os embargos se a


jurisprudência do Tribunal já se uniformizou em determinado sentido. É o que
resulta da Súmula 168 do STJ: “Não cabem embargos de divergência, quando a
jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado”.
Havia controvérsia sobre a possibilidade de a divergência manifestar-se em acórdão
proferido no julgamento do agravo interno, o que foi superado com a Súmula 316 do
STJ: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental,
decide recurso especial”.

O Processamento desse Recurso é regulado pelos regimentos internos do STF e do


STJ. O prazo para interposição é de quinze dias da publicação da decisão
embargada. A petição de interposição deve vir acompanhada com a prova da
divergência, sendo necessário que indique, de forma analítica, em que a divergência
consiste. O relator poderá valer-se dos poderes que lhe atribui o art. 932 do CPC,
não conhecendo, negando ou dando provimento ao recurso, em decisão
monocrática. Contra essa decisão, caberá agravo interno para o órgão coletivo. O
julgamento no STF será feito pelo Plenário. No STJ, se a divergência se der entre
turmas da mesma Seção, o julgamento será feito pela Seção; se entre turmas de
seções diferentes, ou entre uma Turma ou uma Seção com a Corte Especial, o
julgamento será feito pela Corte Especial.
É o que aduz a Jurisprudência: Este conteúdo pode ser compartilhado na íntegra
desde que, obrigatoriamente, seja citado o link:

PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. DANO MATERIAL E MORAL. VEÍCULO.
DEFEITO DE FABRICAÇÃO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
LIMINARMENTE INDEFERIDOS. NÃO COMPROVAÇÃO DA
DIVERGÊNCIA. NÃO COMPROVAÇÃO DA ATUALIDADE DO
DISSÍDIO.

I - Na origem, trata-se de ação objetivando, em síntese,


reparação por danos moral e material decorrente da
responsabilidade civil da montadora de veículo findada em
vício de fabricação. Na sentença, julgou-se improcedente o
pedido. No Tribunal a quo, a sentença foi mantida.

II - Nos termos do art. 1.043 do Código de Processo Civil e do


art.266 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça,
os embargos de divergência são cabíveis contra acórdão que,
em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro
órgão do Tribunal, sendo ambos os acórdãos, embargado ou
paradigma, de mérito, ou quando, embora não conhecendo do
recurso, tenham apreciado a controvérsia.

III - Outrossim, não é admissível o recurso de embargos de


divergência, quando o acórdão recorrido não tenha apreciado
o mérito ou a controvérsia. Nesse sentido: Agint nos EREsp n.
1500624/MG.

Relator Ministro Francsico Falcão, Primeira Seção, DJe de


1/4/2019.

IV - Ademais, os embargos de divergência têm como escopo a


uniformização interna da jurisprudência deste Superior Tribunal
de Justiça, razão pela qual, para que sejam admitidos, é
necessária a demonstração, dentre outros requisitos, da
atualidade da divergência jurisprudencial entre os seus órgãos
fracionários. A propósito: AgInt nos ERESP n. 1.569.739/AL,
relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Seção, DJe de
25/10/2018.

V - Ademais, efetivamente a parte embargante não logrou


comprovar a existência do dissídio atual entre os órgãos
fracionários do Superior Tribunal de Justiça, uma vez que o
acórdão Resp n.199.970/DF, indicado como paradigma, foi
proferido em 14/6/1999.

Nesse sentido: EDcl no AgInt nos ERESP n. 120375/SC,


relator Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe de
16/4/2019 e AgInt nos EREsp n. 155769/RS, relator Ministro
Herman Benjamin, Corte Especial, DJe de 21/11/2018.

VI - Agravo interno improvido.

(AgInt nos EREsp 1848530/DF, Rel. Ministro FRANCISCO


FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/12/2020, DJe
07/12/2020)

CONCLUSÃO

Os Recursos são, de fato, instrumentos válidos e eficazes para a garantia do


devido processo legal, e ainda , do duplo grau de jurisdição, dois direito
fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988.

Conforme abordado neste trabalho, o Agravo em Recurso Especial ou


Extraordinário e os Embargos de Divergência são Recursos eficazes e devidamente
aplicados na legislação brasileira visando garantir a efetivação do devido processo
legal, devendo ser interpostos nos casos e nas condições acima citadas.

Tais recursos possibilitam o reexame de questões suscitadas pelo recorrentes nos


órgãos juridicionais superiores, garantindo assim, o duplo grau de jurisdição, o
devido processo legal e uma justiça devidamente eficaz.
REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 12. ed.
São Paulo : Saraiva Educação, 2019, pág. 1029 a 1032.

https://www.migalhas.com.br/coluna/jurisprudencia-do-cpc/348396/art-1-042-e-agravo-em-
recursos-especial-extraordinario. Acesso em 24/11/2021

https://www.migalhas.com.br/coluna/jurisprudencia-do-cpc/348468/art-1-043--
embargos-de-divergencia. Acesso em 24/11/2021

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