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JUSTIÇA RESTAURATIVA NAS

ESCOLAS DE BELO HORIZONTE

ORIENTAÇÕES PARA A CRIAÇÃO E


FUNCIONAMENTO DOS NÓS NAS ESCOLAS1

1 Essas orientações foram construídas pelo Comitê-Gestor do Programa NÓS, a fim de facilitar e alinhar a criação e o funcionamento dos Núcleos para Orientação e Solução
de Conflitos Escolares em todas as escolas que aderiram ao programa.
O QUE SÃO OS NÓS? QUEM INTEGRA OS NÓS? QUANTAS PESSOAS DE-
VEM INTEGRAR O NÓS
Os NÓS são os Núcleos para Orientação e Os NÓS – Núcleos para Orientação e So- EM CADA ESCOLA?
Solução de Conflitos Escolares que devem lução de Conflitos Escolares são integra-
ser criados nas escolas municipais2 e estadu- dos por representantes da comunidade es-
O programa preconiza que cada escola tenha
ais da rede pública de ensino de Belo Ho- colar indicados pelas diretorias das escolas,
5 (cinco) agentes credenciados para integrar
rizonte que aderiram ao PROGRAMA NÓS dentre professores, supervisores, auxilia-
o NÓS. Contudo, caso a sua escola tenha
Programa Justiça Restaurativa (JR) nas res e demais colaboradores, pais, alunos,
apenas um agente, este será considerado in-
Escolas de Belo Horizonte3, com a finalida- ex-alunos e outras pessoas relacionadas à
tegrante do NÓS e eventual apoio do qual ele
de de prevenir e solucionar conflitos escola- rotina de cada escola, incluindo os agentes
necessite para atuar com abordagens e pro-
res dentro da própria escola, promovendo a da Guarda Municipal de Belo Horizonte, os
cessos restaurativos poderá ser solicitado a
cultura de paz e incentivando novas formas quais, depois de capacitados através do cur-
membros do NÓS de outras escolas ou à co-
de comunicação não violenta e restaurativa so promovido pelo PROGRAMA NÓS, são
ordenação do PROGRAMA NÓS na SMED
entre todos. credenciados a atuar como AGENTES DE
(e-mail: dpin.smed@pbh.gov.br e telefones
JUSTIÇA RESTAURATIVA NAS ESCOLAS.
(31) 3277-8855/8663) ou SEE (e-mail direi-
Os agentes são voluntários, e a atuação toshumanos@educacao.mg.gov.br e telefo-
nos NÓS instalados em suas escolas será ne (31) 3915-3522), conforme o caso.
2 Nas escolas municipais, os NÓS poderão ser cha-
mados Câmaras de Práticas Restaurativas. integrada às respectivas jornadas laborais,
Oportunamente, as escolas que tiverem me-
assim como o tempo dedicado ao curso de
3 Participam desta iniciativa, por meio de um termo de nos de 5 (cinco) agentes certificados pode-
cooperação técnica, a Secretaria de Estado da Educa- formação; aqueles que não são servidores
rão inscrever outros colaboradores para fa-
ção, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Hori- públicos participam do NÓS como voluntá-
zonte, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o Minis- zerem o curso de formação em novas turmas
rios, sem direito a qualquer remuneração.
tério Público do Estado de Minas Gerais e a Faculdade a serem constituídas, de modo que todas as
de Direito da UFMG. escolas interessadas possam ter seus núcle-
os completos.
QUALQUER PESSOA • disponibilidade para participar; teriais, peças, cartazes etc., bem como na

PODE INTEGRAR O NÓS? • capacidade de lidar com diversidades;


sua inauguração, a ser celebrada e divulga-
da na escola. Sugere-se o uso da logo e da
• habilidade de comunicação; arte do programa para a identificação desse
É importante que a escola tenha conhecimen-
• expectativa de permanecer na comunida- espaço. Recomenda-se, também, que a ins-
to prévio das regras, objetivos e metodologia
do PROGRAMA NÓS, para que a decisão de de escolar durante algum tempo, visando talação do NÓS em sua escola seja lavrada
aderir a ele seja tomada com base no desejo a dar continuidade ao programa. em ata escolar.
voluntário de participar do programa e fazer
valer o investimento despendido para a capa- Caso não seja possível destinar um espaço
físico específico, o NÓS não deixará de exis-
citação dos agentes e criação dos núcleos.
O NÓS NECESSITA DE
tir por causa disso.
No momento de convidar os agentes que fa- UM ESPAÇO FÍSICO NA
rão o curso e integrarão o núcleo, cada es-
ESCOLA? O importante é que o NÓS exista na alma
cola deve ter o cuidado de escolher pessoas
e no coração de sua comunidade escolar,
que efetivamente queiram exercer a função
e ele pode utilizar-se de espaços comuns
de AGENTE DE JUSTICA RESTAURATIVA Em cada escola, o NÓS pode ter um espaço
NAS ESCOLAS e que reúnam algumas ca- às demais atividades da escola, como, por
físico especial e é desejável que esse lugar
racterísticas, tais como: exemplo, salas de aula, sala da coordenação
seja próprio e construído de maneira colabo-
pedagógica, ginásio, quadra esportiva, refei-
• vínculos fortes com a escola; rativa pela comunidade escolar. Esse espaço
tório, auditório, pátio etc., conforme a dispo-
pode ser uma mesa, uma sala de aula, uma
• desejo de contribuir voluntariamente para nibilidade em cada momento.
sala de apoio, uma sala da coordenação pe-
a melhoria do ambiente escolar;
dagógica, uma quadra esportiva, um “canto”,
• protagonismo e liderança junto à comuni- e a comunidade escolar deve ser envolvida
dade escolar;
na sua montagem, com a confecção de ma-
O QUE O NÓS PODE FAZER? • promover e incentivar a realização de Cír- cessos restaurativos, como Círculos de
culos de Construção de Paz Não-Confliti- Construção de Paz Conflitivos e proces-
vos para diversas finalidades (celebrar iní- sos de Mediação;
O NÓS – Núcleo para Orientação e Solu- cios ou encerramentos de ano ou período
ção de Conflitos Escolares se destina a • promover ações que visem a democrati-
letivo, importantes momentos da escola,
aplicar a Justiça Restaurativa nas escolas. zar a escola e a tornar democráticos os
conquistas, formaturas etc; superar mo-
espaços escolares;
mentos difíceis; construir regras de convi-
A Justiça Restaurativa, como movimen-
vência na escola ou nas turmas; abordar • outras atividades correlatas.
to social, propõe uma visão de justiça que
temas importantes; dialogar; integrar ou
visa a atender às necessidades de todos e a
reintegrar algum membro da comunidade
construir comunidades que vivam de manei-
escolar; fortalecer vínculos comunitários
ra menos violenta e mais conectada, integra-
da e colaborativa.
com o fim de priorizar a boa conexão en- O QUE É O CÍRCULO DE
tre escola-família-comunidade; fazer reu- CONSTRUÇÃO DE PAZ?
Sendo assim, os integrantes do NÓS, espon- niões de pais, reuniões de professores e
taneamente ou mediante demanda, podem, conselhos de classe; abordar conteúdos
exemplificativa e não taxativamente: pedagógicos etc.); O Círculo de Construção de Paz é um pro-
cesso técnico de Justiça Restaurativa, sem-
• contribuir com a inclusão de práticas res- • promover oficinas distintas com enfoque pre voluntário, que, como método, possui
taurativas no Projeto Político-Pedagógi- restaurativo (oficinas de Comunicação
elementos essenciais e fases a serem se-
co da escola e, no caso da RME, incluir Não-Violenta; oficinas de empatia; ofici-
guidas para que o diálogo ocorra de maneira
essas práticas no Plano de Convivência nas de atividades colaborativas etc.);
estruturada, com o auxílio de um ou mais fa-
Escolar;
• receber, diretamente ou por encaminha- cilitadores devidamente capacitados.
• fazer atividades com enfoque restaurativo mento, alunos, pais, professores e tra-
com turmas, grupos de alunos ou algum balhadores da escola para resolução de O Círculo de Construção de Paz é um dos
aluno; conflitos escolares, com o uso de pro- métodos de Justiça Restaurativa. Embora
algumas pessoas confundam a Justiça Res- QUAIS SÃO OS ELEMENTOS QUAIS AS PRINCIPAIS ETAPAS
taurativa com o Círculo, este é, na verdade, ESTRUTURAIS DOS CÍRCULOS DOS CÍRCULOS DE CONSTRU-
apenas um dos métodos de Justiça Restau-
DE CONSTRUÇÃO DE PAZ? ÇÃO DE PAZ NÃO-CONFLITIVOS?
rativa. É considerado um dos métodos mais
integralmente restaurativos, pois ele envolve
• Sentar em Círculo; Como apresentado aos agentes formados
vítima (pessoa que sofre um dano), ofensor
pelo PROGRAMA NÓS, as principais etapas
(pessoa que causa um dano) e comunidade. • Peça de Centro;
do processo dos Círculos de Construção de
O Círculo de Construção de Paz que foi apre- • Objeto da Palavra; Paz Não-Conflitivos são:

sentado aos AGENTES DE JUSTIÇA RES- 1. Boas-vindas: apresentação do processo,


• Facilitador(es);
TAURATIVA NAS ESCOLAS formados pelo do espaço, do objeto da fala e do centro;
PROGRAMA NÓS é um processo restaurati- • Cerimônias de abertura e fechamento; 2. Cerimônia de abertura;
vo que utiliza a metodologia proposta por Kay
• Consenso. 3. Check in: apresentação e sentimento;
Pranis e pode ser usado não apenas para
resolver conflitos (Círculo de Construção de 4. Construção de valores;
Paz Conflitivo), mas também para diversas 5. Construção de diretrizes;
outras finalidades (Círculo de Construção de
6. Contação de histórias;
Paz Não-Conflitivo, para celebração, constru-
ção de vínculos, fortalecimento de vínculos, 7. Perguntas relacionadas à finalidade da-
quele círculo, a depender do tipo de cír-
construção de regras, superação de trauma,
culo (de compreensão, de apoio, de cele-
apoio, luto, tomada de decisões, reintegra- bração etc.);
ção ou integração de algum membro da co-
8. Check out;
munidade etc.).
9. Cerimônia de encerramento.
QUAIS AS PRINCIPAIS ETAPAS Círculo: Pós-círculo:
DOS CÍRCULOS DE CONSTRU- 1. Boas-vindas: apresentação do processo, o pós-círculo é um outro encontro em forma
ÇÃO DE PAZ CONFLITIVOS? do espaço, do objeto da fala e do centro; de círculo, que segue as mesmas etapas de
2. Cerimônia de abertura; 1 a 7 descritas acima, podendo usar, inclusi-
ve, os mesmos valores e diretrizes já cons-
Como apresentado aos agentes formados
3. Check in: apresentação e sentimento; truídos no círculo. Após a etapa 7, deve ser
pelo PROGRAMA NÓS, as principais etapas
feita, pelo facilitador, a checagem de como
do processo dos Círculos de Construção de 4. Construção de valores;
está sendo cumprido o acordo eventualmen-
Paz Conflitivos são:
5. Construção de diretrizes; te construído no círculo, seguindo-se, poste-
Pré-círculo: o chamado pré-círculo é uma riormente, para as etapas 11 e 12 acima.
6. Contação de histórias;
reunião que os facilitadores fazem com cada
7. Perguntas relacionadas à finalidade da-
um dos envolvidos diretamente no conflito,
quele círculo, a depender do tipo de cír-
com as pessoas que eles indicam para parti-
culo (de compreensão, de apoio, de cele- O QUE É A MEDIAÇÃO DE
ciparem do círculo e com eventuais integran- bração etc.); CONFLITOS ESCOLARES?
tes da comunidade que o facilitador entenda
8. Exploração do problema - sentimentos -
que possam participar. Nessa reunião, o fa-
impactos; A mediação é um outro processo técnico e
cilitador deve: escutar a narrativa dos fatos,
9. Entendendo as necessidades: geração inteiramente voluntário, que pode ser consi-
conforme a versão da pessoa que os está
de planos; derado um processo de Justiça Restaurati-
contando; identificar seus sentimentos e suas
va. Desse modo, ele será conduzido por um
necessidades; esclarecer o que é o processo 10. Acordo (plano de ação ou plano restaura- mediador ou por uma dupla de mediadores
do Círculo de Construção de Paz e como ele tivo) ou não acordo;
e pode ser utilizado para tratar de conflitos
ocorre, confirmando a vontade daquela pes-
11. Check out; que envolvam de duas a três pessoas. É um
soa de dele participar.
processo que envolve menos pessoas e não
12. Cerimônia de encerramento. traz a participação de apoiadores dos envol-
vidos diretamente no conflito ou da comuni- Mediação propriamente dita: QUAIS DOCUMENTOS
dade, razão pela qual é considerado um pro-
cesso com menor amplitude restaurativa. A Abertura da Mediação pelo mediador (expli-
DEVEM SER GUARDA-
mediação tem fases a serem seguidas: cação sobre a sua imparcialidade, sobre a DOS PELO NÓS?
voluntariedade, o sigilo, o respeito e a busca
Pré-mediação: do consenso); aberturas dos participantes Recomenda-se que o NÓS de sua escola te-
(relato da história concreta do conflito, sem nha um arquivo físico ou digital onde devem
conversa individual para criar confiança e se-
julgamentos). Posteriormente, o mediador ser guardados:
gurança no procedimento. O mediador (ou os
faz um resumo do que ouviu, procurando
mediadores) escutará(ão) a pessoa sobre o • registros de todas as atividades, tais como
identificar os sentimentos, os interesses e
caso, procurando entender o(s) fato(s) con- abordagens ou processos restaurativos,
as necessidades subjacentes às posições
creto(s) sem avaliações, os seus sentimentos oficinas etc., com data em que ocorreram
de cada participante. Depois de os partici-
e as suas necessidades. Após essa escuta e sucinta descrição;
pantes confirmarem ou reafirmarem os fatos
inicial, o mediador proporá a mediação, es-
resumidos, bem como os seus sentimentos • acordos advindos de processos de Cír-
clarecendo sobre a voluntariedade, o sigilo, o
e necessidades, o mediador os auxilia na culos de Construção de Paz ou de Me-
respeito e a busca do consenso. Repete-se a
busca do consenso, procurando clarificar as diação que são sigilosos e não devem
pré-mediação com o(s) outro(s) envolvido(s)
ações concretas que precisam ser realiza- ser divulgados, salvo quando assim for
no conflito. É importante verificar se há uma
das voluntariamente para a satisfação dos requisitado pela SMED, SEE, Comitê-
concordância mínima sobre os fatos ocorri-
interesses de todos e a sua corresponsabi- Gestor do NÓS, Ministério Público ou
dos e, se não houver, o conflito não deve ser
lização, podendo ser construído um acordo Poder Judiciário, para fins de estatística
mediado. Havendo a concordância de todos,
entre as partes. ou informação.
a mediação segue com os passos seguintes.
OS CÍRCULOS DE CONSTRU- O uso de abordagens e processos restau- É POSSÍVEL ADERIR AO
ÇÃO DE PAZ CONFLITIVOS E rativos por uma comunidade traz como con-
NÓS A QUALQUER TEMPO?
sequência o sentido de pertencimento de
OS PROCESSOS DE MEDIAÇÃO
todos àquela comunidade. Assim, o uso de
AFASTAM AS PENALIDADES O termo de cooperação técnica (TCT) que
tais abordagens e processos pela escola
ESCOLARES OU IMPEDEM QUE pode aumentar o sentido de pertencimento institui o NÓS foi assinado em 28 de feve-
SE ACIONE A GUARDA MUNICI- de todos a esta e, consequentemente, incre- reiro de 2018 e tem prazo de vigência de 5
PAL OU A POLÍCIA MILITAR? mentar o respeito e o cuidado com a escola (cinco) anos. Dessa forma, as escolas que
e seus membros. A potencialização do sen- ainda não aderiram ao NÓS terão a possibili-
timento de pertencimento à comunidade es- dade de fazê-lo ao longo da vigência do TCT,
As escolas têm autonomia para deliberar so-
colar reforça a tendência do ser humano em inscrevendo seus agentes nas novas turmas
bre isso.
respeitar e cuidar daquilo que é seu, produ- a serem constituídas pelo Comitê - Gestor do
O PROGRAMA NÓS foi pensado para (re) zindo a melhoria da convivência escolar. programa, a depender da demanda e da dis-
empoderar as escolas e permitir que os con- ponibilidade dos tutores e financeira.
Propõe-se que o NÓS trate o conflito esco-
flitos escolares sejam tratados pela própria
lar dentro da própria escola, fazendo crescer, Além de possibilitar a adesão de novas esco-
comunidade escolar, pois acredita-se que
cada vez mais, o respeito dos membros da
no seu seio tais conflitos podem ser maneja- las, as novas turmas também terão a finalida-
comunidade escolar ao poder da escola, que
dos e resolvidos de maneira mais satisfatória de de complementar o NÓS nas escolas que,
é o poder COM todos os seus integrantes.
para todos. A finalidade do programa não é embora tenham aderido desde o primeiro mo-
poupar trabalho às polícias, ao Ministério pú- Enfim, pretende-se potencializar, nas esco- mento, não conseguiram alcançar e manter o
blico ou ao Poder Judiciário, e sim construir las públicas, o que Paulo Freire denomina de número de 5 (cinco) agentes certificados.
cidadãos e comunidades mais responsáveis, pedagogia dialógica, sendo esta a base de
respeitosos e colaborativos. uma boa convivência humana.
COMO TIRAR DÚVIDAS RELATIVAS
AO NÓS E FAZER CONTATO?

Qualquer dúvida relativa ao PROGRAMA NÓS e/ou à sua execução na sua escola pode ser
solucionada através de contato preferencialmente com a Secretaria Municipal de Educação ou
Secretaria Estadual de Educação, ou diretamente com o Comitê-Gestor do programa.

SMED: e-mail: dpin.smed@pbh.gov.br; telefones: 3277-8855/8663.

SEE: e-mail: direitoshumanos@educacao.mg.gov.br; telefone (31) 3915-3522.

COMITÊ-GESTOR DO PROGRAMA NÓS: e-mail: comitegestornos@gmail.com.

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