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I. ABUSO DE PODER
1 Livre- Docente pela Universidade de São Paulo (USP). Professor Adjunto da Faculdade de
Direito do Recife (UFPE). Procurador do Estado de Pernambuco. Advogado.
2 Pós-graduanda em Direito e Processo Eleitoral pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Estado o poder de anular uma decisão executória administrativa, se essa contém um excesso
formal da autoridade que adoptou a decisão (incompetência, violação de forma, desvio poder,
violação da lei) e, portanto, tende a opor-se ao procedimento de ofício. Este recurso é
controvertido porque ele é levado perante um tribunal público, o Conselho de Estado, e termina
em uma decisão judicial dotada de força de coisa julgada. HAURIOU, Maurice. Précis de Droit
Administratifet de Droit Public. 9ª éme. Paris: 1919, p. 471.
6 O art. 27 da Constituição Francesa de 1791 foi o primeiro dispositivo constitucional a positivar
pp. 195-196.
8 CHOMSKY, N. (2006). Failedstates: The abuse ofpower and theassaultondemocracy. New
2016, p. 187.
candidatura, afetando a isonomia de oportunidades entre os candidatos, fato que retira
a legitimidade de todo o processo eleitoral.16 Frederico Alvim observa que o abuso de
poder político, além de afrontar os limites da legislação eleitoral, constitui acinte direto
à principiologia constitucional da Administração Pública, à democracia e à
República.17
Para Djalma Pinto, não só por ação se pode abusar do poder político, como
também por omissão.20 Assim, o abuso por conduta comissiva ocorre quando houver
coação de eleitores a fim de que votem em candidato à reeleição, sob pena de serem
excluídos sumariamente de programa social. Noutro giro, considera-se abuso na
forma omissiva os casos em que há remissão de débitos de IPTU ou, ainda, quando
não há fiscalização de ICMS em determinados locais em troca de apoio dos
comerciantes.
16 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de Direito Eleitoral. 10. ed. Salvador; Juspodivm, 2016,
p. 510.
17 ALVIM, Frederico Franco. Manual de Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 413.
18 Agravo de Instrumento nº 51853, Acórdão, Relator(a) Min. Sergio Silveira Banhos,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 045, Data 06/03/2020, Página 42-43.
19 REspe 822-03/PR, Rel. Min. Henrique Neves da Silva, DJe de 4.2.2015.
20 PINTO, Djalma. Direito Eleitoral: improbidade administrativa e responsabilidade fiscal. 5. ed.
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 65, Data 04/04/2019, Página 64/65.
24 Recurso Especial Eleitoral nº 24258, Acórdão, Relator(a) Min. Maria Thereza de Assis Moura,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 24, Data 04/02/2015, Página 116/117.
25 Recurso Especial Eleitoral nº 21155, Acórdão, Relator(a) Min. Sergio Silveira Banhos,
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 102, Data 31/05/2019, Página 41/42.
Ademais, sustenta André Ramos Tavares que não há necessidade de o
agente público envolver-se diretamente nas eleições, sendo-lhe possível realizar o
ilícito por intermédio de outra pessoa.28 O agente não precisa estar vinculado ao pleito,
mas, obrigatoriamente, precisa obter o benefício eleitoral e, também, estar ciente da
existência de gravidade e do preenchimento das elementares contidas na fattispecie.
Por fim, é preciso ponderar que nem todo abuso do poder político acarreta
a automática cassação de registro ou de diploma, competindo à Justiça Eleitoral
exercer um juízo de proporcionalidade entre a conduta praticada e a sanção a ser
imposta.29 Sobre o tema, afirma Rodrigo Martiniano não ser o caso de se cassar
mandato em situações de baixa lesividade, uma vez que não se afiguraria medida que
se ajustaria ao fim último da norma. A cassação, afirma Martiniano, além de ser
drástica, excede os limites do que se poderia entender razoável. Ademais, dada a
proporcionalidade em sentido estrito, a cassação poderia ofertar muito mais
desvantagens que vantagens. 30
eleitoral: correção, ilegalidade ou abuso? In: FUX, Luiz; PEREIRA, Luiz Fernando Casagrande;
AGRA, Walber de Moura (Coord.); PECCININ, Luiz Eduardo (Org.). Abuso de Poder e perda de
mandato. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 441-442. (Tratado de Direito Eleitoral, v. 7), p. 437.
31 ZÍLIO, Rodrigo López. Direito eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2016. P. 541.
32 CASTRO, Edson Resende. Teoria e prática do direito eleitoral. 5. Ed. Belo Horizonte: Del
Publicação: RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE, Volume 23, Tomo 4, Data 16/10/2012,
Página 319.
37 Recurso Especial Eleitoral nº 20098, Acórdão, Relator(a) Min. Jorge Mussi, Publicação: DJE
40 Agravo de Instrumento nº 26214, Acórdão, Relator(a) Min. Edson Fachin, Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 178, Data 13/09/2019, Página 62.
41 Recurso Especial Eleitoral nº 32503, Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 229, Data 28/11/2019, Página 60-62.
42 Recurso Especial Eleitoral nº 60507, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho
Neto, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 07/10/2019, Página 64.
43 Artigos 18 a 25 da Lei nº 9.504/97.
de abuso retromencionadas, a AIME não é cabível contra o abuso de poder político
genérico.
44 Recurso Especial Eleitoral nº 142, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 242, Data 17/12/2019, Página 20/22.
45 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 741.
46 ZILIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral. 5. Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2016, p. 542.
47 ALVIM, Frederico Franco. Abuso de poder nas competições eleitorais. Curitiba: Juruá, 2019,
p. 249.
Na linha da jurisprudência do TSE, o instituto se configura quando há um
desequilíbrio de forças decorrente da exposição massiva de um candidato em
detrimento de outro, de modo apto a comprometer a normalidade e a legitimidade do
pleito. 48 Tal desequilíbrio pode ser causado por uma exposição excessiva de caráter
positivo (favorecimento) ou negativo (desfavorecimento). 49
Diário de justiça eletrônico, Volume, Tomo 196/2009, Data 15/10/2009, Página 62-63.
comunitário, mas para pôr em evidência um determinado candidato, com fins
eleitorais.55
55Recurso contra Expedição de Diploma nº 642, Acórdão de Relator(a) Min. Fernando Neves,
Publicação: DJ - Diário de justiça, Volume 1, Data 17/10/2003, Página 129.
56 Recurso Especial Eleitoral nº 30010, Acórdão, Relator(a) Min. HERMAN BENJAMIN,
Publicação: DJE - Diário justiça eletrônico, Data 22/11/2017.
seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei,
a colaboração de interesse público.57
No plano individual, a Declaração Universal dos Direitos Humanos garantiu,
em seu artigo 18, que toda pessoa tem direito à liberdade de mudar de religião ou de
convicção, assim como tem direito à liberdade de manifestá-la, sozinha ou em comum,
tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Essa prerrogativa também encontrou guarida em nossa Lei Maior, que elegeu a
diversidade religiosa como direito fundamental, nos termos do artigo 5º, inciso VI,
estabelecendo ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o
livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais
de culto e as suas liturgias.
Tal direito fundamental, enquanto princípio que é, não se reveste de caráter
absoluto, devendo ser exercido em harmonia e em conformidade com o texto
constitucional, podendo sofrer limitações sempre que ficar evidenciada a
preponderância de outros princípios. No que toca ao Direito Eleitoral, a liberdade de
manifestar a religião ou convicção não pode ser invocada como escudo para a
realização de atos vedados pela legislação,58 pois tal prática malfere valores inerentes
à garantia da normalidade e legitimidade do pleito.
Ainda que de modo incipiente, uma parcela da doutrina já reconhece a
existência do abuso de poder religioso. Assevera Maria Claudia Buchianeri Pinheiro
tratar-se de situações em que dirigentes espirituais transformam seus altares em
palanques e fazem uso de sua ascendência espiritual para intimidar os fiéis, retirando-
lhes a liberdade de escolha.59 A instrumentalização de ritualísticas, crenças e cultos
religiosos para influenciar ilicitamente a vontade dos fiéis para a obtenção de votos
em determinados candidatos, utilizando-se de qualquer meio de aliciamento, de forma
direta ou indireta, seja com a oferta de bens ou não, representa o suporte fático que
pode ser a vis attractiva para a subsunção dessa modalidade de abuso de poder.
A esse respeito, a Corte Superior Eleitoral já se manifestou no sentido de
que a utilização do discurso religioso como elemento propulsor de candidaturas,
do pensamento e o “abuso de poder religioso”. In: ANJOS FILHO, Robério Nunes dos (Org.).
Direitos humanos e direitos fundamentais: diálogos contemporâneos. Salvador: Jus Podivm,
2013. p. 496.
infundindo a orientação política adotada por líderes religiosos - personagens centrais
carismáticos que exercem fascinação e imprimem confiança em seus seguidores -, a
tutelar a escolha política dos fiéis, induzindo o voto não somente pela consciência
pública, mas, primordialmente, pelo temor reverencial, não se coaduna com a própria
laicidade que informa o Estado Brasileiro.60
Impende destacar que alguns casos envolvendo atos passíveis de
configuração do abuso de poder religioso começaram a surgir na jurisprudência, a
exemplo da realização de discursos políticos por religiosos que, querendo muito mais
do que apenas induzir ou influenciar os fiéis, passam a pressioná-los para que votem
no candidato indicado pela igreja, já transformada em verdadeiro comitê de
campanha, incitando um ambiente de temor e ameaça psicológica, na medida que os
leva a crer que o descumprimento das orientações representa desobediência à
instituição e uma espécie de desafio à vontade Divina;61 bem como da transformação
de eventos religiosos de grande porte, televisionados e contando com shows e
transporte de fiéis, em acontecimentos eleitorais, para promoção de candidaturas,
com pedido explícito de votos por parte do líder da Igreja e distribuição de panfletos
contendo propaganda eleitoral dos candidatos;62
É indiscutível que declarações públicas de apoio ou predileção a
determinada candidatura estão resguardadas pela liberdade de manifestação do
pensamento, consagrada no art. 5º, inciso IV, da Lei Maior, desde que não afrontem
conteúdo deôntico da legislação eleitoral. É indiscutível também que o discurso
religioso proferido durante cerimônia religiosa está protegido pela garantia de
liberdade de culto celebrado por padres, sacerdotes, clérigos, pastores, ministros
religiosos, presbíteros, epíscopos, abades, vigários, reverendos, bispos, pontífices ou
qualquer outra pessoa que represente religião. Contudo, cumpre esclarecer que tal
proteção não atinge situações em que o evento religioso é transformado em ato
ostensivo ou indireto de propaganda eleitoral, com pedido de voto em favor de
60 Recurso Ordinário nº 537003, Acórdão, Relator(a) Min. Rosa Weber, Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Data 27/09/2018.
61 RECURSO ELEITORAL n 49381, ACÓRDÃO de 17/06/2013, Relator LEONARDO PIETRO
ANTONELLI, Publicação: DJERJ - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-RJ, Tomo 125, Data
24/06/2013, Página 13/22.
62 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL n 537003, ACÓRDÃO de 27/08/2015,
ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de Direito Eleitoral. 10. ed. Salvador;
Juspodivm, 2016, p. 510
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 25. ed.
São Paulo: Atlas, 2012. p. 45.
CASTRO, Edson Resende. Teoria e prática do direito eleitoral. 5. Ed. Belo
Horizonte: Del Rey, 2010. P. 277.
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. Editora Atlas: São Paulo, 2016. p. 380.
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 741.
ZÍLIO, Rodrigo López. Direito eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2016.
P. 541/542.