Você está na página 1de 10

UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DOS GESTORES

ESCOLARES NO CONTEXTO DA PANDEMIA

Daniele Xavier Ferreira Giordano A escola é um espaço de mudanças. À medida que


Mestranda em Educação pela Universidade Federal de transformações sociais, econômicas, políticas e
São Carlos – Campus Sorocaba. Bacharel em Direito e culturais vão surgindo, as relações humanas dentro da
Licenciada em Pedagogia. Membro do GEPLAGE – Grupo
de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, escola também vão sendo transformadas, o que
Avaliação e Gestão da Educação, vinculado ao CNPq.
Bolsista CAPES – Programa de Pós-Graduação em implica de forma direta no processo educativo. Tal
Educação – UFSCar Sorocaba. processo existe a partir de uma relação
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8692-1278 socioeducativa, cujos protagonistas são os
E-mail: dani.xfg@gmail.com professores, alunos, pais, demais colaboradores e,
como foco central do tema apresentado, gestores
DOI: https://doi.org/10.24115/S2675-949720211115p.125-133
Recebido em: Aprovado em: escolares. Geralmente, os gestores escolares são
2020-12-10 2021-01-15 representados por coordenadores, orientadores,
vice-diretores e diretores. A gestão educacional é
aqui compreendida como um mecanismo de tomada de decisões que tem por finalidade
atingir os objetivos das instituições de ensino.
Obviamente, os objetivos de cada instituição variam de acordo com o tipo de gestão adotado.
No presente estudo, a gestão democrática é eleita como base para a discussão do tema, uma
vez que tem como uma de suas características a busca por uma transformação social que não
mais compactue com o processo educacional sendo resumido à um “instrumento de alienação
e expropriação material do homem” (LIMA, 2013, p. 65). Com o fim do período de ditadura
militar, a reabertura democrática do país trouxe novos contextos econômicos, políticos e
sociais, o que evidenciou um novo olhar para a educação. Esse novo olhar trouxe a gestão
democrática como importante princípio educacional, previsto no art. 206 da Constituição
Federal (BRASIL, 1988). Anos mais tarde, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), em seu art. 3º, também corroborou com o mesmo princípio (BRASIL, 1996).
Dada a importância dos preceitos legais, vale ressaltar que o princípio da gestão democrática
pressupõe três categorias: descentralização, autonomia e participação. Enquanto a primeira
prevê uma relação de horizontalidade entre as funções, buscando o empoderamento de todos
os sujeitos envolvidos no processo educacional, a segunda, possibilita que a escola se organize
de forma autônoma, considerando as especificidades de seus espaços internos e externos. Por
fim, a participação, além de vincular as duas categorias anteriores, “acentua a importância da
busca de objetivos comuns assumidos por todos” (LIBÂNEO, 2017).
A partir da revisão bibliográfica das obras de Lima (2013), Libâneo (2017), Lück (2013), Lima
(2018) e Gracindo (2009) é possível verificar que, embora seja abordada a importância do
princípio da gestão democrática, a sua implementação ainda é um grande desafio, pois requer
conscientização de toda a comunidade escolar sobre o que de fato é necessário e significativo
para a escola e para todo o processo educativo.
Dessa forma, nos deparamos com o trabalho dos gestores escolares numa perspectiva de
constantes enfrentamentos em busca de um processo educacional emancipatório e
participativo. Percebemos também que, além desses constantes enfrentamentos acerca da
gestão democrática, os gestores escolares passam por outro tipo de enfrentamento ligado à
sua identidade profissional. Dessa forma, autores como Paro (1998), Lima e Santos (2007),
Clementi (2001), Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), Placco e Silva (2008) e Placco, Souza e
Almeida (2012), foram utilizados para contextualizar as funções e a organização do trabalho
dos gestores escolares.
Por fim, a partir da análise da gestão democrática e das funções dos gestores escolares,
entramos na discussão sobre o trabalho desses profissionais em tempos de pandemia,
utilizando-se dos trabalhos de Faustino e Silva (2020) e Peres (2020). Sabemos que, se até os
dias atuais o trabalho dos gestores escolares pode ser considerado complexo e indispensável
dentro de uma perspectiva de gestão democrática, em tempos de pandemia esse trabalho
torna ainda mais evidente e necessário para atender às novas demandas educacionais. Diante

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
• 126 Um olhar sobre o trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia

o exposto, será abordada uma discussão crítico-reflexiva a respeito de um novo olhar sobre o
trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia.

Antes de contextualizar o trabalho dos gestores escolares com a atual situação da pandemia e
todas as suas consequências, se faz necessário resgatar a trajetória desses profissionais para
compreendermos os desafios diários de sua atuação frente às instituições de ensino. A gestão
escolar desenvolve função indispensável dentro das instituições de ensino, uma vez que é
responsável por suas atividades-meio. Segundo Paro (1998), tanto as atividades-meio quanto
as atividades-fim, precisam ser desenvolvidas tendo a mesma concepção de educação, assim,
o caráter mediador que a gestão possui deve estar alinhado aos reais objetivos da instituição.

Se está envolvida a educação, é importante, antes de mais nada, levar em


conta os objetivos que se pretende com ela. Então, na escola básica, esse
caráter mediador da administração deve dar-se de forma a que tanto as
atividades-meio (direção, serviços de secretaria, assistência escolar e
atividades complementares, como zeladoria, vigilância, atendimento de
alunos e pais), quanto a própria atividade-fim, representada pela relação
ensino-aprendizagem que se dá predominantemente (mas não só) em sala
de aula, estejam permanentemente impregnadas dos fins da educação. Se
isto não se dá, burocratiza-se por inteiro a atividade escolar, fenômeno que
consiste na elevação dos meios à categoria de fins e na completa perda dos
objetivos visados com a educação escolar (PARO, 1998, p.4).

Apesar de existir a distinção entre as atividades-meio, onde se encontra a gestão escolar, e


atividades-fim, marcada pela relação de ensino-aprendizagem, não há consenso quanto às
funções dos gestores escolares. Em relação ao papel do diretor, Libâneo (2017) aponta que:

[...] Há uma diversidade de opiniões sobre o papel do diretor, principalmente,


sobre se lhe cabem tarefas apenas administrativas ou também tarefas
pedagógicas, em sentido mais estrito. Preferimos optar pela seguinte
posição: o diretor de escola é o responsável pelo funcionamento
administrativo e pedagógico, portanto, necessita de conhecimentos tanto
administrativos quanto pedagógicos. Entretanto, na escola, ele desempenha
predominantemente a gestão geral da escola e, especificamente, as funções
administrativas, delegando a parte pedagógica ao coordenador ou
coordenadores pedagógicos (LIBÂNEO, 2017, p. 96).

A partir do apontamento de Libâneo (2017) é possível perceber que, embora os diretores


também sejam responsáveis por desenvolverem trabalhos pedagógicos, o que de fato acaba
acontecendo é esse profissional atuar mais diretamente com questões
burocráticas/administrativas e constante atendimento às legislações educacionais nas esferas
municipais, estaduais e federais. Uma situação como essa, “cria uma perspectiva estática,
burocratizada e hierarquizada do sistema de ensino e das escolas” (LÜCK, 2013, p. 34).
No que tange às funções dos coordenadores pedagógicos, também é possível perceber a
diversidade de olhares que são lançados a este profissional. Comumente, o coordenador
pedagógico é visto como aquele que “resolve tudo” no cotidiano da escola (LIMA e SANTOS,
2007, p. 79), ou seja, aquele que é responsável não só pelo trabalho pedagógico desenvolvido
com os docentes, mas como aquele que também se responsabiliza pelo atendimento aos pais
e alunos, além de mediar os eventuais conflitos que surgem diariamente na escola bem como
questões de ordem burocrática. Uma das causas dessa falta de clareza referente às funções do
coordenador pedagógico pode ser compreendida por não ocorrer um trabalho de formação
efetiva para esse profissional (CLEMENTI, 2001, p.53), visto que se trata de uma função
relativamente nova dentro do contexto da gestão escolar.
Geralmente, coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais são vistos num mesmo
sujeito, não havendo, portanto, pessoas com formações específicas para atuarem nessas
funções de forma separada. Entretanto, nas instituições de ensino que existe a figura de ambos,
o orientador educacional pode ser visto como aquele que “cuida do atendimento e do
acompanhamento escolar dos alunos e do relacionamento escola-pais-comunidade”

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
Daniele Xavier Ferreira Giordano • 127

(LIBÂNEO, 2017, p. 109). De acordo com Lima e Santos (2007), ainda hoje, muitos profissionais
da área da gestão escolar não possuem clareza da identidade e delimitação de sua
competência na vida escolar.
Diante desse contexto, é possível perceber que as práticas relativas às funções dos gestores
escolares são vistas de maneira difusa, uma vez que não há consenso sobre definições exatas
de funções. Apesar dessa questão de a identidade profissional ainda ser passível de muita
discussão, o presente trabalho compreende as funções dos gestores escolares, a partir de uma
perspectiva democrática, de forma sintetizada como segue o próximo quadro:

Quadro 1 – Síntese do trabalho dos gestores escolares da Educação Básica a partir de uma
perspectiva de gestão democrática
✓ Gerencia e acompanha as atividades pedagógicas e
administrativas da escola, com o apoio dos coordenadores e dos
orientadores (quando houver) e demais sujeitos da comunidade
Diretores Pedagógicos escolar.
✓ É o principal responsável pelo acompanhamento e atendimento
das legislações educacionais, sejam elas municipais, estaduais ou
federais.
✓ Compromisso de promover uma gestão participativa,
envolvendo todos os sujeitos da comunidade interna e externa
da escola.
✓ Lidera a elaboração e funcionamento do Projeto Político
Pedagógico bem como do regimento escolar, garantindo a
participação de todos os sujeitos nesse processo.
✓ Acompanha e assessora todas as atividades pedagógicas
desenvolvidas pelos e com os docentes.
Coordenadores Pedagógicos
✓ Responsável pela formação continuada dos docentes.
✓ Compromisso de manter uma gestão participativa, envolvendo
todos os sujeitos da comunidade interna e externa da escola.
✓ Responsável pelo atendimento individual dos alunos
✓ Acompanha a trajetória escolar dos alunos dando suporte aos
Orientadores Educacionais mesmos quando estes encontram-se em situações de
dificuldades pedagógicas ou pessoais.
✓ Atendimento aos pais/ responsáveis legais dos alunos.
✓ Compromisso de manter uma gestão participativa, envolvendo
todos os sujeitos da comunidade interna e externa da escola.
Fonte: Elaborado pela autora.

Uma rotina com dificuldades pedagógicas e conflitos pessoais faz parte de qualquer tipo de
processo educativo, daí a importância de se ter um profissional que desenvolva um trabalho
específico com os alunos. O analfabetismo, a repetência e a evasão escolar são problemas
ainda recorrentes no Brasil e investigá-los dentro da escola é uma forma de compreendê-los e
buscar alternativas para superá-los. Os conflitos pessoais e questões familiares também fazem
parte da vida dos alunos e ter uma orientação para lidar com essas questões favorece aos
alunos uma relação de acolhimento.
O orientador educacional “cuida do atendimento e acompanhamento individual dos alunos
em suas dificuldades pessoais e escolares, do relacionamento escola-pais e de outras
atividades compatíveis com sua formação profissional” (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2012,
p. 467). O trabalho desenvolvido por orientadores educacionais é de grande relevância para o
desenvolvimento dos alunos e também para que estes sintam que fazem parte e que são
protagonistas daquele espaço escolar.
Entretanto, por muitas vezes, na ausência de orientadores educacionais, esse trabalho acaba
sendo desenvolvido pelos coordenadores pedagógicos, o que acarreta numa maior demanda
de trabalho para esse profissional e que nem sempre consegue ser atendida. Os
coordenadores pedagógicos, apesar de terem várias atribuições definidas, mas que se diferem
de acordo com as regiões do país, tem como atribuição prioritária a formação docente
(PLACCO, SOUZA e ALMEIDA, 2012; LIBÂNEO, 2017). O processo de formação docente é um
processo:
Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
• 128 Um olhar sobre o trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia

[...] complexo e multideterminado, que ganha materialidade em múltiplos


espaços/atividades, não se restringindo a cursos e/ou treinamentos, e que
favorece a apropriação de conhecimentos, estimula a busca de outros
saberes e introduz uma fecunda inquietação contínua com o já conhecido,
motivando viver a docência em toda a sua imponderabilidade, surpresa,
criação e dialética com o novo (PLACCO e SILVA, 2008, p. 26-27).

É possível perceber a partir do apontamento de Placco e Silva (2008) que a formação docente
não se esgota em cursos de formação, mas numa composição de diversos saberes, fato que
implica num trabalho de constante aprendizado para a figura do coordenador pedagógico que
é o responsável por essa liderança. Por isso que, quando há a ausência de um orientador
educacional, o trabalho do coordenador pedagógico se acumula, gerando aquela visão de que
o coordenador precisa “dar conta de todo o trabalho que surge na rotina da escola”.
No que tange ao trabalho dos diretores, por toda a responsabilidade legal que tem pela escola,
a estes cabe-lhe também, “ter uma visão de conjunto e uma atuação que apreenda a escola em
seus aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros e culturais” (LIBÂNEO, OLIVEIRA e
TOSCHI, 2012, p. 454-455). Para que a escola tenha a sua tomada de decisões garantida de
forma coletiva, é importante que o diretor seja um líder cooperativo e que promova um
ambiente de respeito às aspirações de todos os sujeitos envolvidos em busca de um projeto
pedagógico comum.
Obviamente, as funções de cada um dos gestores não se esgotam nessa síntese, porém, serve
para nortear a presente discussão. Dessa forma, é importante ressaltar a necessidade de se ter
clareza acerca das ações no fazer cotidiano dos gestores escolares para não restar dúvidas
quanto ao desenvolvimento do trabalho desses profissionais, facilitando assim a relação dos
mesmos com os outros sujeitos do processo educativo e identificando alternativas para uma
melhor condução das políticas educacionais.
Como já destacado, a escola é um espaço de constantes transformações e atuar na gestão
desses espaços não é tarefa fácil. Ao analisarmos o contexto histórico da gestão escolar, vemos
que o caráter autoritário e centralizador está em sua raiz e a superação desse tipo de gestão
requer conscientização política, econômica e social. Para Lima (2018), a escola é uma
organização tradicionalmente resistente à democracia e, em muitas vezes, por conveniência,
alguns segmentos acreditam que a gestão democrática tem sempre uma orientação política-
ideológica que a impede de ser realmente como se projeta, ainda que expressa em leis.
É a partir desse contexto de problemas identitários quanto às funções dos profissionais em
questão e de dificuldades de compreensão e implementação da gestão democrática nas
instituições de ensino, que destacamos o trabalho dos gestores escolares no atual cenário de
pandemia. Apesar de todas essas questões, o trabalho desses profissionais não pode cessar,
então podemos afirmar que os desafios são diários na busca pela concretização do processo
educativo dentro das escolas.

Em janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertava a gravidade de


contaminação da população mundial causada pelo coronavírus. No início do mês de fevereiro,
o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, declarou situação de “Emergência em
Saúde Pública” através da portaria nº 188, de 3 de fevereiro de 2020 (BRASIL, 2020a). Em 11
de março de 2020 todos os veículos de mídias publicavam a manifestação da Organização
Mundial de Saúde (OMS) que decretava a pandemia causada pelo coronavírus no mundo.
Em tempos de crise pandêmica mundial, nos deparamos com os mais graves e variados
problemas em todo e qualquer setor social. Além de termos que lidar constantemente com a
insegurança e o medo causados por tal situação, tivemos também que nos reinventar enquanto
seres humanos em nossas novas rotinas. No setor educacional, a exigência abrupta por novos
paradigmas se fez necessária e a partir disso todas as instituições de Educação Básica e Ensino
Superior fecharam as portas e as aulas presenciais foram suspensas. Desde então, profissionais

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
Daniele Xavier Ferreira Giordano • 129

da educação, alunos e famílias vem se reinventando a cada dia em busca de minimizar o


problema existente.
De forma rápida e totalmente improvisada, as instituições de ensino adotaram o ensino remoto
através das mais variadas plataformas digitais como forma de dar continuidade ao ano letivo.
O grande problema foi que essa estratégia não atingiu a todos os sujeitos do processo
educativo, uma vez que boa parte de alunos e professores não possuíam condições necessárias
para o acesso remoto, seja pela falta de aparelhos compatíveis como também por falta de
acesso à internet. A verdade é que a pandemia desvelou, mais uma vez, porém de forma mais
escancarada, as desigualdades sociais, econômicas e culturais em que vivemos. No mês de
abril, as escolas tiveram que se reorganizar diante algumas decisões emitidas pelos órgãos
competentes. A Medida Provisória nº 934/2020 (BRASIL, 2020b) estabeleceu que

Art. 1º O estabelecimento de ensino de educação básica fica dispensado, em


caráter excepcional, da obrigatoriedade de observância ao mínimo de dias
de efetivo trabalho escolar, nos termos do disposto no inciso I do caput e no
§ 1º do art. 24 e no inciso II do caput do art. 31 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, desde que cumprida a carga horária mínima anual
estabelecida nos referidos dispositivos, observadas as normas a serem
editadas pelos respectivos sistemas de ensino (BRASIL, 2020b).

Seguindo tal determinação legal, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu o Parecer nº
5/2020 (BRASIL, 2020c) sobre a reorganização do calendário escolar e da possibilidade de
cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima
anual, destacando que:

A reorganização do calendário escolar visa a garantia da realização de


atividades escolares para fins de atendimento dos objetivos de
aprendizagem previstos nos currículos da educação básica e do ensino
superior, atendendo o disposto na legislação e normas correlatas sobre o
cumprimento da carga horária (BRASIL, 2020c).

O CNE pontua também algumas possibilidades para o cumprimento da carga horária mínima
estabelecida pela LDBEN, sendo elas:

• reposição da carga horária de forma presencial ao fim do período de


emergência;
• a realização de atividades pedagógicas não presenciais (mediadas ou não
por tecnologias digitais de informação e comunicação) enquanto
persistirem restrições sanitárias para presença de estudantes nos
ambientes escolares, garantindo ainda os demais dias letivos mínimos
anuais/semestrais previstos no decurso; e
• ampliação da carga horária diária com a realização de atividades
pedagógicas não presenciais (mediadas ou não por tecnologias digitais
de informação e comunicação) concomitante ao período das aulas
presenciais, quando do retorno às atividades (BRASIL, 2020c).

A partir desses documentos legais e com a parceria entre as secretarias estaduais e municipais
de educação, junto com seus respectivos conselhos municipais de educação, as instituições de
ensino optaram por se reorganizar da forma que fosse mais compatível com as suas realidades.
Como os prazos de isolamento social foram sendo prorrogados e as determinações
governamentais mudavam de acordo com a situação dos casos confirmados de infectados e
suas consequências, os gestores escolares enfrentavam certas limitações em suas decisões,
pois o futuro era acompanhado de incertezas.

Como já mencionado, o trabalho dos gestores escolares sempre demandou das mais
complexas e variadas tarefas e sempre enfrentou os mais diversos desafios dentro e fora das
instituições de ensino. A partir do início desse ano, com a atual situação de crise pandêmica
mundial, podemos dizer que esses profissionais passaram a enfrentar ainda mais dificuldades.
Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
• 130 Um olhar sobre o trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia

O principal problema não foi lidar apenas com a reorganização das atividades e do calendário
escolar, mas além disso, lidar com situações de alunos, pais, funcionários e até mesmo seus
próprios familiares que ficaram doentes, desempregados, desamparados ou na pior situação,
que faleceram.
As incertezas da pandemia, a falta de consenso nas próprias informações governamentais e os
diversos decretos e normas legais de paralisação total das aulas presenciais bem como
orientações de isolamento social, geraram ainda mais dúvidas sobre como organizar o trabalho
desenvolvido na escola. Os processos educativos foram indubitavelmente afetados ao longo
desse ano, pois “as medidas de paralisação anunciadas à educação vieram sem aparente
planejamento e orientação, sendo aos poucos construídas pelo MEC, mas de imediato
impostas às escolas, deixando gestores, coordenadores e professores em conflitos”
(FAUSTINO e SILVA, 2020, p.59).
Em face à nova demanda, cujas aulas presenciais foram substituídas por aulas remotas e, em
casos excepcionais, por atividades entregues aos responsáveis dos alunos para que estes os
auxiliassem em casa, os gestores escolares tiveram que traçar novas estratégias de trabalho. O
primeiro desafio se deu pela desigualdade de conhecimentos tecnológicos, uma vez que as
mais variadas plataformas digitais tomaram lugar importante para o desenvolvimento das aulas
remotas. Ao mesmo tempo, os gestores também se viram numa situação delicada pelo fato do
impacto financeiro que esse novo modelo de aula remota causou, afinal, muitos gestores e
professores tiveram que arcar com os custos da infraestrutura tecnológica para trabalharem de
suas próprias casas.
Para as crianças da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, os gestores tiveram
ainda mais dificuldades, já que aula remota para esses segmentos não surtem o mesmo efeito
esperado para os alunos dos anos finais do ensino fundamental e médio. Ressalta-se também
a dificuldade de pensar em possibilidades de atividades para as crianças uma vez que a grande
maioria dos pais e responsáveis não dispunham de tempo, meios e até mesmo conhecimento
para acompanhar tais atividades. Com o tempo, outros desafios foram surgindo: formas de
conseguir comunicação com todos os funcionários, alunos, pais e responsáveis; refazer o
calendário escolar; dar suporte emocional e pedagógico aos alunos e suas respectivas famílias,
aos professores e demais funcionários; repensar as atividades e aulas propostas junto com a
equipe e corpo docente; pensar em formas de avaliações internas e refletir sobre os impactos
das avaliações externas, entre tantos outros. Finalizando o ano letivo e na expectativa da
chegada da vacina para toda a população, o planejamento agora é para o retorno escolar em
2021. Para Peres (2020) as propostas de retorno escolar

[...] envolvem diretamente a ação do gestor escolar por considerarem a:


readequação do calendário escolar; possibilidade de retorno gradual e de
trabalhar com uma porcentagem reduzida de alunos em sala de aula, quer
seja em sistema de rodízio ou não; ausência de profissionais do grupo de
risco; necessidade da organização de regras de distanciamento social;
intensificação das ações dos protocolos de higiene e saúde exigidos pelos
órgãos sanitários, visando minimizar possíveis riscos de contaminação e
detecção precoce de sintomas da covid 19, dentre outras questões (PERES,
2020, p.25).

O planejamento de retomada das aulas em 2021 requer muita atenção e cuidado por parte
dos gestores escolares, dada a gravidade da situação. Planejamento pedagógico e
administrativo são indispensáveis, porém, talvez o mais importante a se pensar inicialmente é
na questão do acolhimento dos alunos e suas respectivas famílias. A partir disso, voltamos a
destacar a importância da prática da gestão democrática, da ideia da participação de todos no
processo educativo, do planejamento para objetivos comuns entre os sujeitos.

A pandemia, com certeza, provocou a possibilidade de se repensarem os


modelos atuais de ensino, os modelos estruturais das escolas, as práticas de
gestão, o processo de ensino e aprendizagem e, nesse bojo, a maneira com
que as famílias interagiam com o processo de ensino e aprendizagem de seus
filhos. Temos que considerar que ao retornarmos as atividades, nos
depararemos com novas exigências socioeducacionais. Novas

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
Daniele Xavier Ferreira Giordano • 131

oportunidades surgirão e novas necessidades conviverão com os antigos


desafios (PERES, 2020, p.29).

O posicionamento de Peres (2020) faz todo sentido diante a atual situação, pois a pandemia
passou a exigir novas e rápidas mudanças no processo educativo. Apesar de todas as
dificuldades, incertezas e angústias geradas pelo atual contexto, uma nova oportunidade de
pensar coletivamente, com todos e para todos, pode ser o início de uma nova gestão, de um
novo trabalho pedagógico dentro da escola. Como afirma Gracindo (2009), quando se opta
por uma gestão democrática a partir do “sentido da solidariedade, inclusão e emancipação
sociais, como fins da educação, a gestão escolar se conforma como instrumento de
transformação social” (GRACINDO, 2009, p.144). Ter um novo olhar para a educação e,
consequentemente, para o projeto político pedagógico de cada instituição de ensino, a partir
de uma gestão democrática, pode ser o ponto de partida para os gestores escolares a partir
de agora.

Embora a trajetória da gestão escolar no Brasil tenha em seu bojo uma marca burocratizada,
hierárquica e até mesmo autoritária, destacamos o período de redemocratização do país como
sendo um período que trouxe mudanças significativas para a educação, por meio da expressão
legal do princípio da gestão democrática nas instituições de ensino. Ainda que exista uma
grande dificuldade de implementação, justamente por se diferenciar dos padrões já existentes,
a gestão democrática é o caminho para uma educação de qualidade socialmente referenciada
“como uma prática inovadora que identifica a centralidade da construção do conhecimento e
da cidadania, como parte de seu compromisso com a transformação social” (GRACINDO, 2009,
p.140).
Ainda que os gestores escolares encontrem dificuldades quanto ao desenvolvimento de suas
funções, é inegável que sejam os responsáveis por articular as ações na escola, buscando
garantir a participação de todos no processo educativo dentro de uma perspectiva
democrática e assim transformar as condições de ensino e de aprendizagem. A importância do
trabalho desenvolvido pelos gestores escolares fica ainda mais acentuada no contexto da
pandemia, de onde se esperam decisões e novos planejamentos.
Apesar do momento de grandes desafios e incertezas, aos gestores escolares há a
oportunidade de repensar modelos de gestão diante aos novos tempos. O planejamento de
retomada das aulas pode ser pensado em conjunto, uma nova prática de acolhimento dos
alunos se faz necessária, um novo olhar para atender às novas exigências desse “novo normal”
pode ser o início de novas relações socioeducativas, pautadas na solidariedade, na inclusão,
no coletivo. Quem sabe assim estaremos mais perto de atingir um processo educativo mais
ativo, justo e igualitário.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 out.
2020

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional. Brasília, DF: 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20 out. 2020.

BRASIL. Medida Provisória nº 934/2020. Estabelece normas excepcionais sobre o ano letivo
da educação básica e do ensino superior decorrentes das medidas para enfrentamento da
emergência de saúde pública de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Brasília,
DF: 2020b. Disponível em <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-934-
de-1-de-abril-de-2020-250710591>. Acesso em: 10 out. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CP Nº: 5/2020. Reorganização do Calendário


Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de
cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Brasília:

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
• 132 Um olhar sobre o trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia

Conselho Nacional de Educação, 2020c. Disponível em:


<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=145011-
pcp005-20&category_slug=marco--2020-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 10 out. 2020

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N.º 188, de 3 de fevereiro de 2020. Declara Emergência
em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) em decorrência da Infecção Humana pelo
novo Coronavírus (2019-nCoV). Brasília, DF 2020a. Disponível em:
<http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n--188-de-3-de-fevereiro-de-2020-
241408388>. Acesso em: 10 out. 2020

CLEMENTI, N. A voz dos outros e a nossa voz: alguns fatores que intervêm na atuação do
coordenador. In: PLACCO, V. S.; ALMEIDA, L. R (orgs.). O coordenador pedagógico e o
espaço da mudança, v. 3, São Paulo: Loyola, 2001.

FAUSTINO, L. S. S; SILVA, T. F. R. S. Educadores frente à pandemia: dilemas e intervenções


alternativas para coordenadores e docentes. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 3, n.
7, p. 53-64, ago. 2020. Disponível em:
<https://revista.ufrr.br/boca/article/view/Faustinoetal/3017>. Acesso em: 06 out. 2020.

GRACINDO, R.V. O gestor escolar e as demandas da gestão democrática: exigências,


práticas, perfil e formação. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 3, n. 4, p. 135-147, jan./jun.
2009. Disponível em: <http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/107>.
Acesso em: 10 out. 2020.

LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 6ª ed. São Paulo: Heccus
Editora, 2017.

LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: Políticas, Estrutura e


Organização, 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2012.

LIMA, L. Por que é tão difícil democratizar a gestão da escola pública? Educar em Revista,
Curitiba, Brasil, v. 34, n. 68, p. 15-28, mar./abr. 2018. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/er/v34n68/0104-4060-er-34-68-15.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2020.

LIMA, P. G. Gestão escolar: um olhar sobre o seu referencial teórico. Revista de Gestão e
Avaliação Educacional, vol.2, n.3, p.65-72, 2013. Disponível em:
<https://periodicos.ufsm.br/regae/article/view/3204/pdf>. Acesso em: 05 nov. 2020.

LIMA, P. G.; SANTOS, S. M. O coordenador pedagógico na educação básica: desafios e


perspectivas. Educere et Educare, v.2, n.4, p.77-90, 2007. Disponível em: <http://e-
revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/1656/1343>. Acesso em: 05
nov. 2020.

LÜCK, H. Concepções e processos democráticos de gestão educacional. 9ª ed. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2013. Série: Cadernos de Gestão.

PARO, V. H. A gestão da educação ante as exigências de qualidade e produtividade da escola


pública. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Vozes, p. 300-307, 1998.
Disponível em:
<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/sem_pedagogica/fev_2010/a_ges
tao_da_educacao_vitor.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2020.

PERES, M.R. Novos desafios da gestão escolar e de sala de aula em tempos de pandemia.
Revista de Administração Educacional – UFPE. Recife-PE, v.11 n. 1 p. 20-31, jan- jun/2020.
Disponível em: <https://periodicos.ufpe.br/revistas/ADED/article/viewFile/246089/36575>.
Acesso em: 10 dez. 2020.

PLACCO, V. M. N. S.; SILVA, S. H. S. A formação do professor: reflexões, desafios,


perspectivas. In: BRUNO, E. B. G.; ALMEIDA, L. R.; CHRISTOV, L. H. (org). O coordenador
pedagógico e a formação docente. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 2008.

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
Daniele Xavier Ferreira Giordano • 133

PLACCO, V. M. N. S.; SOUZA, V. L. T.; ALMEIDA, L. R. O coordenador pedagógico: aportes à


proposição de políticas públicas. São Paulo: Loyola, 2012.

O objetivo desse trabalho, de The objective of this work, of a El objetivo de este trabajo, de
natureza crítico-reflexiva, é critical-reflexive nature, is to carácter crítico-reflexivo, es
contextualizar o trabalho dos contextualize the work of school contextualizar el trabajo de los
gestores escolares, a partir da administrators, from the perspective administradores escolares, desde la
perspectiva de gestão democrática e of democratic management and in perspectiva de la gestión
no contexto da pandemia. Por meio the context of the pandemic. democrática y en el contexto de la
das contribuições bibliográficas de Through the bibliographic pandemia. A través de los aportes
Lima (2013), Libâneo (2017), Lück contributions of Lima (2013), bibliográficos de Lima (2013),
(2013), Lima (2018), Gracindo (2009), Libâneo (2017), Lück (2013), Lima Libâneo (2017), Lück (2013), Lima
Paro (1998), Lima e Santos (2007), (2018), Gracindo (2009), Paro (2018), Gracindo (2009), Paro (1998),
Clementi (2001), Libâneo, Oliveira e (1998), Lima and Santos (2007), Lima y Santos (2007), Clementi
Toschi (2012), Placco e Silva (2008) e Clementi (2001), Libâneo, Oliveira (2001), Libâneo, Oliveira y Toschi
Placco, Souza e Almeida (2012), and Toschi (2012), Placco e Silva (2012), Placco e Silva (2008) y Placco,
Faustino e Silva (2020) e Peres (2008) and Placco, Souza and Souza y Almeida (2012), Faustino e
(2020), o trabalho desenvolveu-se em Almeida (2012), Faustino e Silva Silva (2020) y Peres (2020), el trabajo
três partes, a saber: a) O trabalho dos (2020) and Peres (2020), the work se desarrolló en tres partes, a saber:
gestores escolares e os desafios da was developed in three parts, a) El el trabajo de los administradores
gestão democrática; b) A pandemia namely: a) The school managers' escolares y los desafíos de la gestión
e as consequências no setor work and the challenges of democrática; b) La pandemia y las
educacional; e c) O trabalho dos democratic management; b) The consecuencias en el sector educativo;
gestores escolares no contexto da pandemic and the consequences in yc) El trabajo de los administradores
pandemia. Destacou-se que embora the educational sector; and c) The escolares en el contexto de la
existam dificuldades quanto à work of school managers in the pandemia. Se resaltó que si bien
implementação da gestão context of the pandemic. It was existen dificultades en cuanto a la
democrática e quanto à identidade highlighted that although there are implementación de la gestión
das funções dos gestores escolares, é difficulties regarding the democrática y la identidad de las
inegável a importância do trabalho implementation of democratic funciones de los administradores
desenvolvido por esses profissionais, management and the identity of the escolares, la importancia del trabajo
principalmente em tempos atuais de functions of school administrators, que desarrollan estos profesionales
crise pandêmica. the importance of the work es innegable, especialmente en los
developed by these professionals is tiempos actuales de crisis
undeniable, especially in the current pandémica.
times of pandemic crisis.

Palavras-chave: Gestão democrática. Keywords: Democratic Palabras-clave: Gestión


Gestores escolares. Pandemia. management. School managers. democrática. Directores escolares.
Pandemic. Pandemia.

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
• 134 Um olhar sobre o trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia

Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497

Você também pode gostar