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Educação Básica Online, vol.1, is.1, Jan./Apr., 2021, p.125-133 ISSN: 2675-9497
• 126 Um olhar sobre o trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia
o exposto, será abordada uma discussão crítico-reflexiva a respeito de um novo olhar sobre o
trabalho dos gestores escolares no contexto da pandemia.
Antes de contextualizar o trabalho dos gestores escolares com a atual situação da pandemia e
todas as suas consequências, se faz necessário resgatar a trajetória desses profissionais para
compreendermos os desafios diários de sua atuação frente às instituições de ensino. A gestão
escolar desenvolve função indispensável dentro das instituições de ensino, uma vez que é
responsável por suas atividades-meio. Segundo Paro (1998), tanto as atividades-meio quanto
as atividades-fim, precisam ser desenvolvidas tendo a mesma concepção de educação, assim,
o caráter mediador que a gestão possui deve estar alinhado aos reais objetivos da instituição.
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(LIBÂNEO, 2017, p. 109). De acordo com Lima e Santos (2007), ainda hoje, muitos profissionais
da área da gestão escolar não possuem clareza da identidade e delimitação de sua
competência na vida escolar.
Diante desse contexto, é possível perceber que as práticas relativas às funções dos gestores
escolares são vistas de maneira difusa, uma vez que não há consenso sobre definições exatas
de funções. Apesar dessa questão de a identidade profissional ainda ser passível de muita
discussão, o presente trabalho compreende as funções dos gestores escolares, a partir de uma
perspectiva democrática, de forma sintetizada como segue o próximo quadro:
Quadro 1 – Síntese do trabalho dos gestores escolares da Educação Básica a partir de uma
perspectiva de gestão democrática
✓ Gerencia e acompanha as atividades pedagógicas e
administrativas da escola, com o apoio dos coordenadores e dos
orientadores (quando houver) e demais sujeitos da comunidade
Diretores Pedagógicos escolar.
✓ É o principal responsável pelo acompanhamento e atendimento
das legislações educacionais, sejam elas municipais, estaduais ou
federais.
✓ Compromisso de promover uma gestão participativa,
envolvendo todos os sujeitos da comunidade interna e externa
da escola.
✓ Lidera a elaboração e funcionamento do Projeto Político
Pedagógico bem como do regimento escolar, garantindo a
participação de todos os sujeitos nesse processo.
✓ Acompanha e assessora todas as atividades pedagógicas
desenvolvidas pelos e com os docentes.
Coordenadores Pedagógicos
✓ Responsável pela formação continuada dos docentes.
✓ Compromisso de manter uma gestão participativa, envolvendo
todos os sujeitos da comunidade interna e externa da escola.
✓ Responsável pelo atendimento individual dos alunos
✓ Acompanha a trajetória escolar dos alunos dando suporte aos
Orientadores Educacionais mesmos quando estes encontram-se em situações de
dificuldades pedagógicas ou pessoais.
✓ Atendimento aos pais/ responsáveis legais dos alunos.
✓ Compromisso de manter uma gestão participativa, envolvendo
todos os sujeitos da comunidade interna e externa da escola.
Fonte: Elaborado pela autora.
Uma rotina com dificuldades pedagógicas e conflitos pessoais faz parte de qualquer tipo de
processo educativo, daí a importância de se ter um profissional que desenvolva um trabalho
específico com os alunos. O analfabetismo, a repetência e a evasão escolar são problemas
ainda recorrentes no Brasil e investigá-los dentro da escola é uma forma de compreendê-los e
buscar alternativas para superá-los. Os conflitos pessoais e questões familiares também fazem
parte da vida dos alunos e ter uma orientação para lidar com essas questões favorece aos
alunos uma relação de acolhimento.
O orientador educacional “cuida do atendimento e acompanhamento individual dos alunos
em suas dificuldades pessoais e escolares, do relacionamento escola-pais e de outras
atividades compatíveis com sua formação profissional” (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2012,
p. 467). O trabalho desenvolvido por orientadores educacionais é de grande relevância para o
desenvolvimento dos alunos e também para que estes sintam que fazem parte e que são
protagonistas daquele espaço escolar.
Entretanto, por muitas vezes, na ausência de orientadores educacionais, esse trabalho acaba
sendo desenvolvido pelos coordenadores pedagógicos, o que acarreta numa maior demanda
de trabalho para esse profissional e que nem sempre consegue ser atendida. Os
coordenadores pedagógicos, apesar de terem várias atribuições definidas, mas que se diferem
de acordo com as regiões do país, tem como atribuição prioritária a formação docente
(PLACCO, SOUZA e ALMEIDA, 2012; LIBÂNEO, 2017). O processo de formação docente é um
processo:
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É possível perceber a partir do apontamento de Placco e Silva (2008) que a formação docente
não se esgota em cursos de formação, mas numa composição de diversos saberes, fato que
implica num trabalho de constante aprendizado para a figura do coordenador pedagógico que
é o responsável por essa liderança. Por isso que, quando há a ausência de um orientador
educacional, o trabalho do coordenador pedagógico se acumula, gerando aquela visão de que
o coordenador precisa “dar conta de todo o trabalho que surge na rotina da escola”.
No que tange ao trabalho dos diretores, por toda a responsabilidade legal que tem pela escola,
a estes cabe-lhe também, “ter uma visão de conjunto e uma atuação que apreenda a escola em
seus aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros e culturais” (LIBÂNEO, OLIVEIRA e
TOSCHI, 2012, p. 454-455). Para que a escola tenha a sua tomada de decisões garantida de
forma coletiva, é importante que o diretor seja um líder cooperativo e que promova um
ambiente de respeito às aspirações de todos os sujeitos envolvidos em busca de um projeto
pedagógico comum.
Obviamente, as funções de cada um dos gestores não se esgotam nessa síntese, porém, serve
para nortear a presente discussão. Dessa forma, é importante ressaltar a necessidade de se ter
clareza acerca das ações no fazer cotidiano dos gestores escolares para não restar dúvidas
quanto ao desenvolvimento do trabalho desses profissionais, facilitando assim a relação dos
mesmos com os outros sujeitos do processo educativo e identificando alternativas para uma
melhor condução das políticas educacionais.
Como já destacado, a escola é um espaço de constantes transformações e atuar na gestão
desses espaços não é tarefa fácil. Ao analisarmos o contexto histórico da gestão escolar, vemos
que o caráter autoritário e centralizador está em sua raiz e a superação desse tipo de gestão
requer conscientização política, econômica e social. Para Lima (2018), a escola é uma
organização tradicionalmente resistente à democracia e, em muitas vezes, por conveniência,
alguns segmentos acreditam que a gestão democrática tem sempre uma orientação política-
ideológica que a impede de ser realmente como se projeta, ainda que expressa em leis.
É a partir desse contexto de problemas identitários quanto às funções dos profissionais em
questão e de dificuldades de compreensão e implementação da gestão democrática nas
instituições de ensino, que destacamos o trabalho dos gestores escolares no atual cenário de
pandemia. Apesar de todas essas questões, o trabalho desses profissionais não pode cessar,
então podemos afirmar que os desafios são diários na busca pela concretização do processo
educativo dentro das escolas.
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Seguindo tal determinação legal, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu o Parecer nº
5/2020 (BRASIL, 2020c) sobre a reorganização do calendário escolar e da possibilidade de
cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima
anual, destacando que:
O CNE pontua também algumas possibilidades para o cumprimento da carga horária mínima
estabelecida pela LDBEN, sendo elas:
A partir desses documentos legais e com a parceria entre as secretarias estaduais e municipais
de educação, junto com seus respectivos conselhos municipais de educação, as instituições de
ensino optaram por se reorganizar da forma que fosse mais compatível com as suas realidades.
Como os prazos de isolamento social foram sendo prorrogados e as determinações
governamentais mudavam de acordo com a situação dos casos confirmados de infectados e
suas consequências, os gestores escolares enfrentavam certas limitações em suas decisões,
pois o futuro era acompanhado de incertezas.
Como já mencionado, o trabalho dos gestores escolares sempre demandou das mais
complexas e variadas tarefas e sempre enfrentou os mais diversos desafios dentro e fora das
instituições de ensino. A partir do início desse ano, com a atual situação de crise pandêmica
mundial, podemos dizer que esses profissionais passaram a enfrentar ainda mais dificuldades.
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O principal problema não foi lidar apenas com a reorganização das atividades e do calendário
escolar, mas além disso, lidar com situações de alunos, pais, funcionários e até mesmo seus
próprios familiares que ficaram doentes, desempregados, desamparados ou na pior situação,
que faleceram.
As incertezas da pandemia, a falta de consenso nas próprias informações governamentais e os
diversos decretos e normas legais de paralisação total das aulas presenciais bem como
orientações de isolamento social, geraram ainda mais dúvidas sobre como organizar o trabalho
desenvolvido na escola. Os processos educativos foram indubitavelmente afetados ao longo
desse ano, pois “as medidas de paralisação anunciadas à educação vieram sem aparente
planejamento e orientação, sendo aos poucos construídas pelo MEC, mas de imediato
impostas às escolas, deixando gestores, coordenadores e professores em conflitos”
(FAUSTINO e SILVA, 2020, p.59).
Em face à nova demanda, cujas aulas presenciais foram substituídas por aulas remotas e, em
casos excepcionais, por atividades entregues aos responsáveis dos alunos para que estes os
auxiliassem em casa, os gestores escolares tiveram que traçar novas estratégias de trabalho. O
primeiro desafio se deu pela desigualdade de conhecimentos tecnológicos, uma vez que as
mais variadas plataformas digitais tomaram lugar importante para o desenvolvimento das aulas
remotas. Ao mesmo tempo, os gestores também se viram numa situação delicada pelo fato do
impacto financeiro que esse novo modelo de aula remota causou, afinal, muitos gestores e
professores tiveram que arcar com os custos da infraestrutura tecnológica para trabalharem de
suas próprias casas.
Para as crianças da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, os gestores tiveram
ainda mais dificuldades, já que aula remota para esses segmentos não surtem o mesmo efeito
esperado para os alunos dos anos finais do ensino fundamental e médio. Ressalta-se também
a dificuldade de pensar em possibilidades de atividades para as crianças uma vez que a grande
maioria dos pais e responsáveis não dispunham de tempo, meios e até mesmo conhecimento
para acompanhar tais atividades. Com o tempo, outros desafios foram surgindo: formas de
conseguir comunicação com todos os funcionários, alunos, pais e responsáveis; refazer o
calendário escolar; dar suporte emocional e pedagógico aos alunos e suas respectivas famílias,
aos professores e demais funcionários; repensar as atividades e aulas propostas junto com a
equipe e corpo docente; pensar em formas de avaliações internas e refletir sobre os impactos
das avaliações externas, entre tantos outros. Finalizando o ano letivo e na expectativa da
chegada da vacina para toda a população, o planejamento agora é para o retorno escolar em
2021. Para Peres (2020) as propostas de retorno escolar
O planejamento de retomada das aulas em 2021 requer muita atenção e cuidado por parte
dos gestores escolares, dada a gravidade da situação. Planejamento pedagógico e
administrativo são indispensáveis, porém, talvez o mais importante a se pensar inicialmente é
na questão do acolhimento dos alunos e suas respectivas famílias. A partir disso, voltamos a
destacar a importância da prática da gestão democrática, da ideia da participação de todos no
processo educativo, do planejamento para objetivos comuns entre os sujeitos.
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O posicionamento de Peres (2020) faz todo sentido diante a atual situação, pois a pandemia
passou a exigir novas e rápidas mudanças no processo educativo. Apesar de todas as
dificuldades, incertezas e angústias geradas pelo atual contexto, uma nova oportunidade de
pensar coletivamente, com todos e para todos, pode ser o início de uma nova gestão, de um
novo trabalho pedagógico dentro da escola. Como afirma Gracindo (2009), quando se opta
por uma gestão democrática a partir do “sentido da solidariedade, inclusão e emancipação
sociais, como fins da educação, a gestão escolar se conforma como instrumento de
transformação social” (GRACINDO, 2009, p.144). Ter um novo olhar para a educação e,
consequentemente, para o projeto político pedagógico de cada instituição de ensino, a partir
de uma gestão democrática, pode ser o ponto de partida para os gestores escolares a partir
de agora.
Embora a trajetória da gestão escolar no Brasil tenha em seu bojo uma marca burocratizada,
hierárquica e até mesmo autoritária, destacamos o período de redemocratização do país como
sendo um período que trouxe mudanças significativas para a educação, por meio da expressão
legal do princípio da gestão democrática nas instituições de ensino. Ainda que exista uma
grande dificuldade de implementação, justamente por se diferenciar dos padrões já existentes,
a gestão democrática é o caminho para uma educação de qualidade socialmente referenciada
“como uma prática inovadora que identifica a centralidade da construção do conhecimento e
da cidadania, como parte de seu compromisso com a transformação social” (GRACINDO, 2009,
p.140).
Ainda que os gestores escolares encontrem dificuldades quanto ao desenvolvimento de suas
funções, é inegável que sejam os responsáveis por articular as ações na escola, buscando
garantir a participação de todos no processo educativo dentro de uma perspectiva
democrática e assim transformar as condições de ensino e de aprendizagem. A importância do
trabalho desenvolvido pelos gestores escolares fica ainda mais acentuada no contexto da
pandemia, de onde se esperam decisões e novos planejamentos.
Apesar do momento de grandes desafios e incertezas, aos gestores escolares há a
oportunidade de repensar modelos de gestão diante aos novos tempos. O planejamento de
retomada das aulas pode ser pensado em conjunto, uma nova prática de acolhimento dos
alunos se faz necessária, um novo olhar para atender às novas exigências desse “novo normal”
pode ser o início de novas relações socioeducativas, pautadas na solidariedade, na inclusão,
no coletivo. Quem sabe assim estaremos mais perto de atingir um processo educativo mais
ativo, justo e igualitário.
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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N.º 188, de 3 de fevereiro de 2020. Declara Emergência
em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) em decorrência da Infecção Humana pelo
novo Coronavírus (2019-nCoV). Brasília, DF 2020a. Disponível em:
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O objetivo desse trabalho, de The objective of this work, of a El objetivo de este trabajo, de
natureza crítico-reflexiva, é critical-reflexive nature, is to carácter crítico-reflexivo, es
contextualizar o trabalho dos contextualize the work of school contextualizar el trabajo de los
gestores escolares, a partir da administrators, from the perspective administradores escolares, desde la
perspectiva de gestão democrática e of democratic management and in perspectiva de la gestión
no contexto da pandemia. Por meio the context of the pandemic. democrática y en el contexto de la
das contribuições bibliográficas de Through the bibliographic pandemia. A través de los aportes
Lima (2013), Libâneo (2017), Lück contributions of Lima (2013), bibliográficos de Lima (2013),
(2013), Lima (2018), Gracindo (2009), Libâneo (2017), Lück (2013), Lima Libâneo (2017), Lück (2013), Lima
Paro (1998), Lima e Santos (2007), (2018), Gracindo (2009), Paro (2018), Gracindo (2009), Paro (1998),
Clementi (2001), Libâneo, Oliveira e (1998), Lima and Santos (2007), Lima y Santos (2007), Clementi
Toschi (2012), Placco e Silva (2008) e Clementi (2001), Libâneo, Oliveira (2001), Libâneo, Oliveira y Toschi
Placco, Souza e Almeida (2012), and Toschi (2012), Placco e Silva (2012), Placco e Silva (2008) y Placco,
Faustino e Silva (2020) e Peres (2008) and Placco, Souza and Souza y Almeida (2012), Faustino e
(2020), o trabalho desenvolveu-se em Almeida (2012), Faustino e Silva Silva (2020) y Peres (2020), el trabajo
três partes, a saber: a) O trabalho dos (2020) and Peres (2020), the work se desarrolló en tres partes, a saber:
gestores escolares e os desafios da was developed in three parts, a) El el trabajo de los administradores
gestão democrática; b) A pandemia namely: a) The school managers' escolares y los desafíos de la gestión
e as consequências no setor work and the challenges of democrática; b) La pandemia y las
educacional; e c) O trabalho dos democratic management; b) The consecuencias en el sector educativo;
gestores escolares no contexto da pandemic and the consequences in yc) El trabajo de los administradores
pandemia. Destacou-se que embora the educational sector; and c) The escolares en el contexto de la
existam dificuldades quanto à work of school managers in the pandemia. Se resaltó que si bien
implementação da gestão context of the pandemic. It was existen dificultades en cuanto a la
democrática e quanto à identidade highlighted that although there are implementación de la gestión
das funções dos gestores escolares, é difficulties regarding the democrática y la identidad de las
inegável a importância do trabalho implementation of democratic funciones de los administradores
desenvolvido por esses profissionais, management and the identity of the escolares, la importancia del trabajo
principalmente em tempos atuais de functions of school administrators, que desarrollan estos profesionales
crise pandêmica. the importance of the work es innegable, especialmente en los
developed by these professionals is tiempos actuales de crisis
undeniable, especially in the current pandémica.
times of pandemic crisis.
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