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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

ISABELY GATTO MALMAGRO

As boas práticas de administração escolar


presentes nos artigos da base de dados
sciELO

Rio Claro
2018
ISABELY GATTO MALMAGRO

As boas práticas de administração escolar presentes nos artigos da


base de dados sciELO

Orientadora: Prof. Dra. Joyce Mary Adam

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Instituto de Biociências da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio
Claro, para obtenção do grau de Licenciada em
Pedagogia.

Rio Claro
2018
Malmagro, Isabely Gatto
M256b As boas práticas de administração escolar
presentes nos artigos da base de dados sciELO /
Isabely Gatto Malmagro. -- Rio Claro, 2018
31 p. : tabs.

Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura -


Pedagogia) - Universidade Estadual Paulista
(Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro
Orientadora: Prof Dra Joyce Mary Adam

1. Administração escolar. 2. Gestão escolar. 3.


Gestão democrática. 4. Gestão. I. Título.
Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp.
Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo
autor(a).

Essa ficha não pode ser modificada.


Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso à minha
mãe que muito batalhou para me dar condições de estudar, ao
meu pai que mesmo em memória se fez presente em minha
vida e decisões, à minha família que tanto me incentivou e me
apoiou e ao meu noivo que me encorajou durante estes anos
de graduação que não foram fáceis.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, Deus que sempre esteve ao meu


lado em todas as batalhas que enfrentei. Gostaria de agradecer minha mãe e meu
pai que muito fizeram pela minha educação.
Agradecer à minha família que durante estes anos me deram forças quando
pensei em desistir, ao meu noivo que esteve comigo todos estes anos e me aturou
estudando durante horas quando queria minha atenção.
Quero agradecer aos professores maravilhosos, à minha orientadora Prof. Dr.
Joyce Mary Adam que com muita paciência não desistiu de mim, das minhas
correrias e até alguns sumiços.
Gostaria de agradecer também à minha grande força, minha querida amiga
Jucileide Monteiro também graduanda. Nossa parceria foi fundamental, uma
levantando a outra quando estavamos no limite.
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo central identificar práticas educacionais que
contribuam para a área de gestão educacional. A pesquisa qualitativa de natureza
bibliográfica foi realizada a partir da leitura e análise de artigos dos anos de 2010 à
2016, encontrados na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO).
Para fundamentar o trabalho, foram considerados pressupostos teóricos do livro
“Administração Escolar: Introdução Crítica” (PARO, 1986). A partir do levantamento
de artigos localizados na base de dados Scielo, buscou-se ampliar a compreensão
sobre as práticas que são consideradas fundamentais para uma boa administração
escolar. Ainda, buscou-se identificar práticas consideradas fundamentais para o
funcionamento escolar de maneira efetiva. Este trabalho deixa evidente que o gestor
tem uma função primordial na transformação social.

Palavras-chave: Administração escolar. Gestão escolar. Gestão democrática.


Gestão.
ABSTRACT

The main objective of this work is the identification of educators who contribute to an
area of educational management. Qualitative bibliographical research was carried out
from the reading and analysis of articles from the years 2010 to 2016, after the
database of Scientific Electronic Library Online (SciELO). To base the work, the
theoretical assumptions of the book "School Administration: Critical Introduction"
(PARO, 1986) were included. From the data collection based on the Scielo database,
we sought to base the practices that are necessary for good school administration. In
addition, we sought to identify the fundamental tasks for school functioning in an
effective way. This work makes clear that the manager has a primary role in social
transformation.

Keywords: School administration. School management. Democratic management.


Management.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................07
2 OBJETIVOS DA PESQUISA .................................................................................12
2.1 Objetivos gerais ........................................................................................12
2. 2 Objetivos específicos ..............................................................................12
3 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................13
4 SEÇÃO 1: AS ORIGENS DA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR ...............................15
Seção 1.1: Administração Escolar na perspectiva de Vitor Paro ...................16
5 SEÇÃO 2: OS PERIÓDICOS E AS ANÁLISES DAS CATEGORIAS ...................19
Seção 2.1: Conceito de gestão democrática ..................................................22
Seção 2.2: Relação de poder na escola .........................................................23
Sessão 2.3: Formação inicial do diretor .........................................................24
Seção 2.4: Dificuldades do gestor escolar .....................................................25
Seção 2.5: Conceito de participação ..............................................................25
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................28
REFERÊNCIAS .........................................................................................................30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..............................................................................32
7

1 INTRODUÇÃO

A administração escolar é a atividade que tem a função de “buscar a


realização dos fins educativos, tanto as atividades-meio quanto as atividades-fim que
se desenrolam na escola — e não somente as atividades de direção” (PARO, 2010).
Ou seja, a administração será a utilização racional de recursos para a realização de
determinados fins.
A administração como é entendida e realizada hoje é produto de
longa evolução histórica e traz a marca das contradições sociais e
dos interesses políticos em jogo na sociedade. [...]. Isso implica
examinar o conceito de administração em geral, ou seja, a
administração abstraída de seus determinantes sociais que, sob o
capitalismo, por exemplo, configuram a chamada administração
capitalista. Mas, aí, não se trata, já, de administração em seu sentido
apenas geral, e sim administração historicamente determinada pelas
relações econômicas, políticas, sociais que se verificam sob o modo
de produção capitalista (PARO, 1986, p. 24-25).

A atuação competente e eficaz dos administradores educacionais é uma


tarefa crucial e preponderante para o aprimoramento e desenvolvimento da escola,
principalmente quando pensamos no contexto do sistema público de ensino.
Segundo Filho et al (1993):

Esta complexidade da atuação do administrador intermediário já foi


também constatada por Keys (1982) no contexto da administração de
empresas. Como observa Keys, o administrador intermediário para
ser eficiente e competente em sua tarefa, precisa "olhar" para cima
(a administração superior), para baixo (seus subordinados), para os
lados (seus pares) e para fora (a comunidade). O administrador de
escola, de modo semelhante, precisa desempenhar com eficiência
todas estas mediações a fim de tornar seu trabalho dentro da escola
um instrumento de facilitação e aprimoramento de sua atividade-fim
(FILHO et al, 1993, p.40).

No entanto, vemos que essa atuação do diretor tenderá a se colocar tanto


mais a serviço da burocracia superior do sistema quanto menores forem o grau de
autonomia adminstrativa, pedagógica e financeira da escola, assim como a
participação da comunidade. Por outro lado, assim como o crescimento do grau de
autonomia da escola, o papel mediador do diretiro se deslocará da preocupação
principal com as instâncias superiores e se voltará mais para o contexto interno da
unidade escolar, em que terá que lidar o trabalho dos professores e funcionários
(FILHO et al, 1993).
8

Esta breve discussão do papel mediador do administrador escolar, embora


ainda neste momento superficial, justifica o interesse para uma analise teórica mais
profunda acerca do tema. Ainda, como granduanda do curso de licenciatura plena
em Pedagogia da Unesp – Campus Rio Claro, ao início do 6º semestre do curso, me
aventurei na busca de um orientador e de um tema que me despertasse o interesse
e a vontade de aprender mais sobre. Ao acompanhar as aulas da Prof.ª. Drª. Joyce
Mary Adam sobre administração escolar, decidi que este, de fato, era um tema que
eu gostaria de me aprofundar.
Sabemos que os âmbitos escolares de hoje em dia apresentam diferentes
tipos de funcionamento e diante disso, nós estudantes de Pedagogia, quando
fazemos os estágios ficamos um pouco perdidos com relação a esta diferença de
atitudes da equipe gestora. Na tentativa de me aprofundar em uma análise de
fatores diferenciados que possam de algum modo acrescentar e integrar meu
aprendizado quanto aluna do curso de Pedagogia, me propus a pesquisar mais
sobre as práticas que ocorrem em diferentes tipos de gestão que podem resultar em
formas distintas de administração escolar. A questão que fez interessar-me por este
assunto é o fato da busca incessante para um bom funcionamento da gestão de
uma escola, sabendo que gestar uma escola envolvem muito mais que apenas
regras a serem seguidas, que não há um manual para os futuros gestores que
determine o que eles devem ou não fazer para que consigam obter o resultado tão
esperado por todos.
A prática de estágio vivenciada no curso na área de gestão enquanto
graduandos do curso de pedagogia nos traz muitos ensinamentos com relação a
preparação para ser um diretor, e é neste momento que nós alunos vivenciamos o
dia-a-dia do diretor e o quanto se faz necessário estar em constante aprendizagem e
sempre disposto a ouvir a visão e as sugestões da equipe docente e dos
funcionários da escola, que sempre poderão de alguma forma contribuir para a
melhoria e o bom funcionamento.
Temos clareza de que esse trabalho não mudará a realidade da escola
pública, porém, temos como intuito que com esta pesquisa possamos transmitir um
pouco sobre o que foi analisado com relação as práticas que já são desenvolvidas
ao longo de seis anos e as suas peculiaridades, de forma que, consiga me nortear e
somar ao meu estofo cultural adquirido durante toda minha formação e que ainda irei
adquirir futuramente. Para poder ser um diretor é necessário ter prática docente
9

especificamente em sala de aula e acredito ser de suma importância estar sempre


envolvido e em busca de novos conhecimentos no âmbito de gestão escolar, visto
que a gestão é o que define o funcionamento de toda uma escola, ou seja, um dia
também quando formados teremos que nos submeter a diferentes tipos de escolas e
de gestões distintas, para tal se faz necessário pelo menos um conhecimento básico
sobre esta área. Muitas práticas mudaram e a visão de muitos gestores também
acerca dos modelos de gestão democrática, o que também foi fator preponderante
para buscarmos saber mais sobre como é visto esta dificuldade dos gestores em
encontrar uma prática efetiva para sua escola.
Ainda, mas não menos importante, devemos pensar que vivemos em uma
sociedade capitalista e que por consequência tem o foco voltado para o mercado de
trabalho. Deste modo, a administração escolar em seu desenvolvimento histórico
refletiu as ideias da administração geral que tem como seu principal referencial o
modo de produção. Os aspectos históricos não podem ser deixados de lado, pois
estes já traziam reflexos do que teríamos como consequência da evolução da
sociedade, ou seja, uma sociedade capitalista que se baseia no trabalho árduo e
excedente como forma de tentativa de uma mudança financeira e cultural.
Buscamos identificar possíveis caminhos diferentes dos que já conhecemos e
tendo como base para discussão as ideias do autor Vitor Henrique Paro que traz a
questão da gestão democrática e a gestão empresarial, sendo esta a que idealiza
gerenciar uma escola como gerencia-se uma empresa, ter como foco apenas a
formação para o trabalho, esquecendo-se dos valores éticos e morais que a escola
também tem por obrigação transmiti-los para acrescentar a formação daqueles que
passarem por lá.

[...] a educação poderá contribuir para a transformação social, na


medida em que for capaz de servir de instrumento em poder dos
grupos sociais dominados em seu esforço de superação da atual
sociedade de classe. Dessa forma, a questão da educação enquanto
fator de transformação social inscreve-se no contexto mais amplo do
problema das relações entre educação e política. (PARO, 1986, p.
154)

Acreditamos que o primeiro passo para mudar uma sociedade é dar mais
autonomia para a educação, somente assim as pessoas poderão contribuir para a
construção de uma consciência crítica a respeito do que é a vida e tudo que nela
existe, para transformar a consciência. Pequenas mudanças têm que acontecer,
10

como a administração escolar democrática em que as famílias escolhem o melhor


dirigente ou diretor para que possa transformar a localidade em algo melhor,
gerando igualdades de oportunidades para todos. Por outro lado, sabemos que não
é fácil pois a escola tem que estar preparada para a reconstrução do Projeto Político
Pedagógico em que realmente atinge às necessidades da comunidade local e que
trace metas claras e coerentes para que solucionem os problemas existentes da
sociedade. O que se espera da comunidade intelectual é que eles tragam benefícios
e melhorias a todos.
O problema encontra-se na recuperação da estrutura educacional que
perpassa pela valorização dos profissionais de educação e de uma gestão
democrática em que a escola realmente esteja preocupada com a construção da
sociedade local. Os profissionais da educação, acima de tudo, devem permanecer
com a qualificação profissional, atualizando-se e tentando reverter o ensino
sucateado em um ensino de qualidade, para que a partir disto possamos conseguir
formar pessoas mais críticas e que se envolvem mais, para a busca de uma
sociedade melhor. Se sairmos das concepções cotidianas e nos aprofundarmos na
análise do real, perceberemos que o que a administração tem de “essencial” é o fato
de ser mediação na busca de objetivos, conforme proposto por Paro (1986).
Se a escola negar o currículo elitista e produzir seu próprio currículo
construindo, assim, a sua personalidade e reforçando a sua cultura fará com que a
relação Políticas Públicas – Escola – Comunidade e conhecimento se completem
indissociavelmente para o bem comum, e desta forma acredito que boas práticas de
administração escolar podem de alguma forma auxiliar neste processo.
Assim, neste trabalho, realizou-se uma análise de artigos publicados na base
de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), tendo como foco os artigos
publicados sobre o campo de gestão e administração escolar nos anos de 2010 até
o ano de 2016. Foram analisados aproximadamente 18 artigos, que tem como tema
principal práticas dos diretores para que a escola possa ter um êxito ou ao menos
aproximar-se de tal, assim consegui identificar propostas de melhorias ou tentativas
elaboradas pelo gestor ou equipe gestora, consideradas por estes autores eficazes
ou não para um bom funcionamento da escola.
Consideramos que, a análise das práticas descritas nos artigos que foram
publicados nos periódicos pesquisados até aqui deixa em evidência a relevância de
identificar as boas práticas de administração escolar para uma possível mudança
11

social e nesse sentido justifica-se a importância do meu trabalho de conclusão de


curso que venho apresentar.
12

2 OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 Objetivos gerais

- Contribuir para uma melhor sistematização e análise da produção científica que


trata da administração escolar e suas práticas.

2. 2 Objetivos específicos

- Distinguir quais as práticas de administração mais efetivas para uma boa gestão,
presentes nos artigos analisados.
- Explicitar quais as contribuições da análise de diferentes práticas de administração
escolar, presentes nos artigos da base de dados scielo, para o processo formativo
dos futuros diretores.
- Identificar as reflexões desencadeadas a partir do exercício da análise de outras
práticas de administração.
13

3 PERCURSO METODOLÓGICO

O referente trabalho desenvolvido foi uma pesquisa de natureza qualitativa,


sendo que para a efetivação dos objetivos propostos, dentro do escopo de
metodologias atreladas a este tipo de abordagem, utilizamos como instrumentos de
coleta de dados o levantamento bibliográfico, conforme explicitarei adiante.
De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa tem início
por antropólogos e sociólogos no século XIX e acontece devido à problemas sociais
que eram enfrentados na época. Na área da educação, a pesquisa de natureza
qualitativa se amplia em 1980, devido à necessidade de estender a compreensão de
temáticas mais complexas nesta área. Minayo (2010) define o método qualitativo
como:
[...] o que se aplica ao estudo da história, das relações, das
representações, das crenças, das percepções e das opiniões,
produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de
como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e
pensam. Embora já tenham sido usadas para estudos de 15
aglomerados de grandes dimensões (IBGE, 1976; Parga Nina et.al
1985), as abordagens qualitativas se conformam melhor a
investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de
histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises
de discursos e de documentos (MINAYO, 2010, p. 57).

De acordo com Godoy (1995), buscando a compreensão ampla do objeto de


pesquisa, considera-se que os dados da realidade são importantes e devem ser
analisados. “O ambiente e as pessoas nele inseridas devem ser olhados
holisticamente: não são reduzidos a variáveis, mas observados como um todo
(GODOY, 1995, p. 62)”.
Com relação à pesquisa bibliográfica, Gil (2002) traz sua perspectiva:

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já


elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.
Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de
trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente
a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios
pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre
ideologias, bem como aquelas que se propõem a análise das diversas
posições acerca de um problema, também costumam ser
desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas
(GIL, 2002, p. 44).
14

Gil (2002) também coloca que a pesquisa bibliográfica se desenvolve ao


longo das seguintes etapas: a) escolha do tema; b) levantamento bibliográfico
preliminar; c) formulação do problema; d) elaboração do plano provisório de assunto; e)
busca das fontes; f) leitura do material; g) fichamento; h) organização lógica do
assunto; e i) redação do texto. Para o autor, a principal vantagem deste tipo de
pesquisa consiste no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma porção de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia ser pesquisado diretamente.
Como referido anteriormente, a temática desta pesquisa são as boas práticas
de administração escolar, e por esse motivo, buscou-se artigos publicados na base de
dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), tendo como foco os artigos
publicados sobre o campo de gestão e administração escolar nos anos de 2010 até o
ano de 2016. Foram analisados 18 artigos, que tem como tema principal práticas dos
diretores para que a escola possa ter um êxito ou ao menos aproximar-se de tal, assim
consegui identificar propostas de melhorias ou tentativas elaboradas pelo gestor ou
equipe gestora, consideradas por estes autores eficazes ou não para um bom
funcionamento da escola.
A pesquisa nos periódicos surtiu para a análise de 22 artigos ao todo, sendo
que apenas 18 se aplicavam ao tema proposto. Os 18 artigosforam analisados a partir
de categorias de análises, no caso, cinco categorias, sendo estas: conceito de gestão
democrática presentes nos artigos, relação de poder na escola, formação inicial do
gestor, dificuldades do gestor escolar e conceito de participação. Estas categorias
foram elencadas a partir da leitura e da classificação de acordo com a aparição dos
assuntos nos artigos pesquisados nos periódicos.
15

4 SEÇÃO 1: AS ORIGENS DA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR

A administração escolar se dá originalmente por influências sociais e as


exigências cotidianas encontradas em determinada sociedade, como podemos
analisar segundo Ribeiro (1978):
É a sociedade que cria o clima, proporciona os meios e determina os
objetivos e a orientação desse processo. O individuo educa-se
sempre para determinada situação e, de certa maneira, por meio de
uns tantos recursos técnicos, materiais e humanos que a sociedade
lhe prepara cuidadosamente (RIBEIRO, 1978, p. 8)

A teoria da administração escolar buscou fundamentos na educação pois só


desta forma conseguiria adaptar o “clima” para que o educando pudesse aprender.
Assim, consideraram os aspectos sociais da educação que se apresentaram de duas
formas distintas, denominadas por Ribeiro (1978) como: intencional e não intencional.
A educação intencional é aquela que o meio é totalmente voltado para que o individuo
aprenda, já a não intencional é aquela em que o individuo está como telespectador e
ainda assim consegue absorver e identificar as ideias discutidas.
No livro de Ribeiro (1978), apresentam-se discussões acerca de atividades
em grupo e o quanto a educação intencional é responsável por direcionar a
integração do aluno no grupo, já a não intencional responsabiliza-se para resolver os
conflitos e diferenças individuais que acontecem dentro do grupo.

Dos aspectos sociais da educação, os intencionais são, como vimos,


se não os mais ricos, os primeiros e, pelo menos, os mais
importantes em consequência, pois que constituem como que o
lastro sobre o qual se vai construir todo o tecido de relações entre os
indivíduos e os grupos de que participam (RIBEIRO,1978, p. 11).

A administração escolar foi tornando-se mais complexa, assim como suas


necessidades foram aumentando de acordo com as mudanças sociais e exigências
sociais. Ribeiro (1978, p. 59) contribui dizendo que: “Daí sua estrutura e
funcionamento não poderem mais desenvolver-se ao acaso, mas exigirem uma
sistematização de precauções capaz de garantir-lhe a unidade de objetivos e a
racionalização de funcionamento”. Os primeiros teóricos da administração escolar se
inspiraram na administração empresarial para elaborar os seus referenciais teóricos,
sendo assim inspiraram-se na administração das empresas privadas para resolver
suas dificuldades que surgiram com o progresso social e desta forma a escola
inspirou-se para também resolver as suas dificuldades.
16

No livro de Ribeiro (1978), é abordado a perspectiva de Taylor e seus estudos


sobre o trabalho operário. Ele desenvolveu uma teoria para a maior produtividade
industrial, estudou as estruturas gerais de funcionamento de uma empresa e partindo
deste pressuposto chegou na formulação da teoria funcionalista da administração,
que inicialmente trazia a questão da administração militar que até então estava
presente no cotidiano da época.
A proposição do tipo funcional que Taylor concebeu foi uma
verdadeira revolução; além disso, foi ainda uma previsão notável dos
rumos que os problemas administrativos haveriam de tomar com a
crescente concentração das empresas e as exigências de
racionalização do trabalho de que ele próprio foi, igualmente, o mais
notável dos estudiosos (RIBEIRO, 1978, p. 62).

Porém as teorias de Taylor não tratavam do aspecto humano, já que foi


embasado um trabalho estritamente técnico e para a área da educação o trabalho
com o individuo humano é o principal fator. Henri Fayol elaborou um livro publicado e
1916, no qual suas contribuições foram tão importantes quanto as de Taylor pois
completavam-se.
A Taylor e Fayol se devem, pois, as mais compreensiva e decisivas
contribuições para os estudos de administração: a Taylor,
especialmente, a ideia de uma estrutura administrativa nova, melhor
ajustada à também nova linha técnica de produção – a administração
funcional; a Fayol, a análise do processo administrativo, através das
atividades de previsão, organização, comando, coordenação e
controle (RIBEIRO, 1978, p. 64).

As teorias administrativas que foram desenvolvidas depois foram de alguma


forma inspiradas nas teorias desenvolvidas originalmente por Taylor e Fayol.

Seção 1.1: Administração Escolar na perspectiva de Vitor Paro

A gestão originou-se de forma empresarial, como reflexão da sociedade


capitalista em que vivemos surgiu uma necessidade de organização de funções
dentro de âmbito de trabalho, seja ele fabril, ou como estará presente nos artigos: a
gestão escolar.
Sendo assim entra-se em questão o ambiente escolar que segundo teóricos
antigos viram a necessidade de ser administrada, sendo o diretor responsável
principal pelas ações que são desenvolvidas neste âmbito. “Não existe organização
sem administração e a recíproca é quase sempre totalmente verdadeira, já que é
17

precipuamente dentro das organizações que a administração é exercida” (PARO,


1996, p.17).
A administração é resultado de uma grande evolução histórica e que carrega
consigo marcas das lutas sociais e dos interesses políticos que cercaram essas
discussões. A mesma é determinada historicamente pelas relações econômicas,
políticas e sociais, de modo geral é analisada de acordo com os determinantes
sociais, por exemplo a sociedade capitalista, determinantemente faz com que se
configure uma administração capitalista. “Iniciando, pois, por considerá-la em seu
sentido geral, podemos afirmar que a administração é a utilização racional de
recursos para a realização de fins determinados” (PARO, 1986, p. 18)
A administração é uma atividade exclusivamente humana, já que só o homem
é capaz de estabelecer objetivos e metas a serem cumpridas. A administração
escolar é de extrema importância para a organização do ambiente, visto que a
escola apresenta um esquema de funcionamento e para tal se faz necessário a
contribuição de diversas partes para que se estabeleça um relacionamento efetivo
para o fim escolar: educação.
A administração escolar é responsável por articular entre o estado atual e a
transformação social dependendo do objetivo em que ela estiver proposta a seguir, e
a escola é a agente da transformação social, assim como o diretor tem um papel
fundamental nesta ação. A administração empresarial dentro da escola é encarada
de forma natural, na teoria da administração, como problema estritamente técnico,
sem vínculo algum com as relações econômicas e sociais.
A escola, por sua vez, é reprodutora da sociedade em que vivemos. Assim
sendo, a administração escolar deve promover atitudes que gerem mudanças e esta
é a dificuldade encontrada no campo de gestão. A sociedade capitalista é
apresentada de forma determinante, a escola é vulnerável as imposições sociais,
políticas e econômicas, e a administração escolar é uma luta diária do gestor.
Segundo Paro (1986) a administração inicialmente tem cunho empresarial, porém
ainda há gestores que a encaram da mesma forma inicial e transformam o ambiente
em um espaço mecânico e totalmente sistematizado, como as empresas lidando
com máquinas.
Ainda, vivemos a sociedade descrita por Marx, uma sociedade de classes,
com desigualdades e padrões sociais que comandam de forma significativa, que é o
18

fator principal das desigualdades salariais dos professores, problemas educacionais


provenientes de déficits na economia do país.
De fato, na medida em que a prática da administração escolar é
tratada do ponto de vista “puramente” técnico, são omitidas as suas
articulações com as estruturas econômica, política e social,
obscurecendo a análise dos condicionantes da educação. As normas
técnico-administrativas que são propostas como normas para o
funcionamento do sistema escolar constituem um produto desses
condicionantes. No entanto, elas são adotadas e implementadas como
se fossem autônomas, isentas das determinações econômico-sociais
(PARO, 1986, p. 127).

A gestão educacional requer planejamentos meticulosos e divisão de tarefas


didáticas, o acompanhamento realizado pelos supervisores e coordenadores do
trabalho docente e discente é de extrema importância, para que desta forma
possamos alcançar com precisão os objetivos educacionais. O diretor é colocado em
um ambiente de pressão, onde sofre diretamente e indiretamente pelos professores,
pais, alunos e funcionários de forma geral, além de toda a responsabilidade de
seguir as orientações da lei estadual e municipal vigente do local de trabalho.
Além de serem cobrados por todas as dificuldades enfrentadas pela escola, a
sociedade cobra o diretor pelas dificuldades enfrentadas pela educação, condições
de trabalho e condições sociais e imposições do governo. O diretor é mediador de
todas as situações que ocorrem dentro do ambiente escolar e a proposta de gestão
democrática que é a teoria que é colocada em prática hoje em dia, faz com que o
trabalho do diretor torne-se mais reflexivo, ou seja, que tenha que repensar sempre
sua prática e aprender a ouvir e avaliar a opinião do próximo, coisa que não são
aceitáveis em uma sociedade que visa o lucro acima do bem estar social.
19

5 SEÇÃO 2: OS PERIÓDICOS E AS ANÁLISES DAS CATEGORIAS

Com o intuito de pensar e fundamentar sobre o referente assunto tratado no


decorrer deste trabalho, realizou-se um levantamento bibliográfico na base de dados
Scientific Electronic Library Online (SciELO) considerando como palavras-chave nos
trabalhos: Admnistração escolar, gestão e gestão escolar, tendo como recorte os
anos de 2010-2016. A pesquisa dos periódicos surtiu para a análise 22 artigos ao
todo, sendo que apenas 18 se aplicavam ao tema proposto e foram analisados,
como veremos a seguir.

Quadro 1 – Artigos encontrados sobre Administração e Gestão Escolar


TÍTULO AUTOR(ES) ANO REVISTA

Gestão escolar e o
trabalho dos ALVES, W. F. 2010 Educação e
educadores: da Sociedade
estreiteza das
políticas à
complexidade do
trabalho humano.

O Cotidiano da
Gestão Escolar: o COELHO, F. M. 2015 Educação &
método de caso na Realidade
sistematização de
problemas.

Gestão da Educação
Infantil: Um balanço FERNANDES, F. S.; 2015 Educação
de literatura. CAMPOS, M. M. em Revista

O espelho do gestor FERREIRINHA, I. M. 2015 Revista


escolar do ensino N. Brasileira de
público: relação de Estudos
poder e Pedagógicos
governamentabilidade.

Criatividade e escola: OLIVEIRA, E. L. L.; 2010 Revista


limites e ALENCAR, E. M. L. Semestral
20

possibilidades S. da
segundo gestores e Associação
orientadores Brasileira de
educacionais. Psicologia
Escolar e
Educacional

A gestão democrática PERONI, V. M. V. 2012 Pro-


da educação em posições
tempos de parceria
entre o público e o
privado.

Os gestores ROSISTOLATO, R.; 2014 Educação e


educacionais e a VIANA, G. Pesquisa
recepção dos
sistemas externos de
avaliação no cotidiano
escolar.

Gestão democrática SANTOS, M. do C. 2012 Revista


da escola e gestão do G.; SALES, M. P. da Ensaio
ensino: a contribuição S.
docente a construção
da autonomia na
escola.

Um olhar histórico SILVA, J. B. 2007 Educação


sobe a gestão escolar. em Revista

A natureza política da SOUZA, Â. R. 2012 Revista


gestão escolar e as Brasileira de
disputas pelo poder na Educação
escola.

Diretores de escolas SOUZA, Â. R.; 2010 Educar em


públicas: aspectos do GOUVEIA, A. B. Revista
trabalho docente.

Contribuições da VERSIANI, Â. F.; 2016 Read


teoria institucional REZENDE, S. F. L.;
para a análise da PEREIRA, A. C.
gestão de escolas: um
estudo de caso de
21

escola pública
brasileira bem
sucedida os índices
de desempenho da
educação básica.

Gestão escolar PASSADOR, C. S.; 2013 Educação e


democrática e estudos SALVETTI, T. S. Sociedade
organizacionais
críticos:
Convergências
teóricas.

Gestão escolar em CABRAL NETO, A.; 2011 Educação e


instituições de Ensino CASTRO, A. M. D. Sociedade
Médio: Entre a gestão A.
democrática e a
gerencial.

Desafios Teórico- ABDIAN, G. Z.; 2016 Educação e


metodológicos para NASCIMENTO, P. H. Sociedade
as pesquisas em C.; SILVA, N. D. B.
administração/ gestão da.
educacional/ escolar*.

A construção da ADAM, J. 2011 Educação


identidade de em Revista
diretores: discurso
oficial e prática.

Paulo Freire na FREITAS, A. L. S. 2016 Educar em


formação de de; FORSTER, M. Revista
educadores: M. dos S.
contribuições para o
desenvolvimento de
práticas crítico-
reflexivas.

A escola como lócus GRIGOLI, Josefa A. 2010 Cadernos de


de Formação docente: G Pesquisa
Uma gestão bem-
sucedida.

Fonte: elaborado pela autora.


22

Dessa maneira, os artigos foram separados em cinco categorias, sendo elas:


conceito de gestão democrática, relação de poder na escola, formação inicial do
gestor, dificuldades do gestor escolar e conceito de participação. Para a separação,
elencamos os pontos em comum que foram abordados nos artigos selecionados e
discutimos buscando encontrar práticas bem-sucedidas para a gestão escolar.

Seção 2.1: Conceito de gestão democrática

Dos artigos levantados, três abordam o conceito de gestão democrática,


sendo um dos conceitos mais discutido nos artigos a reprodução da injustiça social,
que limita a inserção da gestão da democrática.

Paro (2001a) desenvolve essa lógica explicando que as escolas


públicas brasileiras, de maneira geral, são reprodutoras da injustiça
social, já que recolocam as pessoas nos lugares reservados por
relações econômicas, formando-as para um mercado de trabalho
com pequenas chances de mobilidade social (PASSADOR;
SALVETTI, 2013,p.481).

A gestão democrática tem poder de transformação social e os estudos trazem


uma aposta de grande mudança nas escolas públicas.

Esse estado de falta de autonomia do diretor é um reflexo da


situação de pouca autonomia da própria escola, e somente na
medida em que se conseguir a participação de todos os setores
envolvidos com a escola (professores, alunos, pais, funcionários e
comunidade), atribuindo-lhes poder de decisão sobre os objetivos e o
funcionamento desta, é que haverá condições para pressionar os
escalões superiores, sendo esta a única forma crível a conquistar
recursos satisfatórios e autonomia para a escola. Por essas razões, o
anseio de um papel transformador passa pela democratização da
gestão escolar (PASSADOR; SALVETTI, 2013, p. 481).

Esta presente nos artigos a afirmação de que hoje é indispensável a


implementação do sistema democrático de ensino e administrativo, para que as
funções que cabem aos âmbitos escolares possam ocasionar a melhoria da qualidade
da educação.
[...] se situa um dos desafios dos educadores: a democracia, assim
como a cidadania, se fundamenta na autonomia. Uma educação
emancipadora é condição essencial para a gestão democrática.
Escolas e cidadãos privados da autonomia não terão condições de
23

exercer uma gestão democrática, de educar para a cidadania


(CABRAL NETO; CASTRO, 2011, p. 754).

A gestão democrática apresenta muitas discussões sobre a dificuldade de


inserção da mesma em uma sociedade que foi construída historicamente e
economicamente capitalista, sendo assim, movida pelo capital, lucro e a preocupação
com a mão de obra qualificada para os mercados de trabalho que movem a economia
do país.

Seção 2.2: Relação de poder na escola

Cinco artigos trouxeram abordagens sobre a relação de poder e autoridade


dentro de âmbitos escolares.
O que se tem hoje é um sistema hierárquico que, em tese, concentra
todo o poder nas mãos do diretor, gerando, porém, uma contradição:
o diretor supostamente possui direito e autonomia para comandar,
mas, de fato, por sua condição de responsável último pelo
cumprimento legal, acaba por exercer muito mais esta função que a
de gestor escolar, em suas atribuições administrativas e pedagógicas
(PASSADOR; SALVETTI, 2013, p. 481).

A relação de poder está intrínseca na sociedade capitalista. A mesma é


subdivida até os dias atuais em classes, na qual a elite detém todo o poder
econômico e cultural. A escola é uma das formas mais eficazes de reprodução social
e a relação de poder é a mais eficaz encontrada para manter a ordem, desta forma
sufocando a autonomia do individuo e da própria escola.

Com a superação do paradigma da administração clássica, a gestão


passa a ser um conceito global e uma proposta ampla que colocam
em questão a centralização/descentralização de poder no interior de
uma empresa, instituição ou organização (SANTOS; SALES, 2012, p.
174).

Junto com a descentralização do poder, vem a mudança da visão de


liderança e o que é função de um líder, além de como é importante a participação
efetiva do líder como motivador social, uma liderança construtiva necessária para um
ambiente democrático.
Nesse sentido, a figura do/da líder tende a ser enfraquecida, já que o
poder emerge da coletividade, pois como empreendimento humano-
social, a instituição, empresa ou organização não necessitará mais
da relação de mando, já que nessa proposta cada sujeito tem
24

consciência da “missão” institucional e da sua contribuição à


coletividade. Assim, os estilos de liderança autocrática (centralização
de poder) vão sendo superados pela democrática (poder partilhado)
e, numa dimensão mais utópica e pouco utilizada na nossa realidade,
o estilo laissez-faire (ausência de poder) (SANTOS; SALES, 2012, p.
174).

Sessão 2.3: Formação inicial do diretor

Cinco artigos apresentam a importância da formação inicial para os gestores.

Referente a esse projeto coletivo, entre as conclusões destacamos a


necessidade de reacender a discussão iniciada nos anos 1960 a
respeito da formação inicial do diretor de escola, para que este possa
interagir de forma propositiva com as diretrizes da política
educacional. Essa conclusão baseou-se em nossa preocupação de
que a administração/gestão não se feche em si mesma, pois, para
que esteja a serviço dos fins educacionais, os diretores têm de
conhecer de quem e por quem são pensados os fins, a serviço de
quem está, seus limites e reais possibilidades de atuação
(ABDIAN; NASCIMENTO; SILVA, 2016, p. 466).

Os artigos apresentaram uma vasta discussão sobre a importância de o


diretor conhecer a sua função, os seus objetivos e os fins educacionais que por
intermédio do mesmo consigam ser alcançados de forma mensurável. Os estudos
apresentam também a discussão sobre a forma de inserção destes gestores em seus
trabalhos e o quão significativo é este processo para a educação.

Uma das pesquisas, realizando um estudo comparado entre escolas


de dois estados brasileiros, justamente porque apresentam formas
diferentes do provimento do cargo de diretor de escola, indicou, além
dos elementos presentes na pesquisa coletiva, questões importantes
relacionadas, sobretudo, à qualidade da educação, que emergiram
do contraste do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) das escolas com diretores eleitos e das escolas com diretores
concursados, nas quais as primeiras apresentaram um baixo índice
e, as segundas, alto índice (ABDIAN; NASCIMENTO; SILVA, 2016,
p. 467).

Desta forma, os artigos geraram uma grande discussão em torno de


qualidade de ensino, pois foi apresentado por eles a questão da interligação entre a
formação inicial do gestor, sendo esta, responsável por deixar com que os objetivos
estejam sendo apresentados de forma clara aos gestores, e a qualidade da educação,
25

sendo apontada em grande parte nos artigos como um dos reflexos de uma gestão
bem-sucedida.
Uma escola na qual a gestão conhece o seu papel enquanto formador e parte
de um processo importante, ocasiona também a vontade dos professores de
lecionarem em escolas que visem a transformação social. “Na verdade, se queremos
uma escola transformadora, precisamos transformar a escola que temos (Paro, 2003,
p. 10)”.

Seção 2.4: Dificuldades do gestor escolar

Três artigos discutem em torno das dificuldades encontradas no dia-dia do


gestor escolar.
Uma das dificuldades, como pode ser visto pela discussão que
faremos a seguir, é a superação da visã racional/burocrática muito
fortemente presente no sistema educacional e em suas instituições.
Essa visão racional/burocrática contribuiu para a construção de uma
identidade do diretor como mandatário do Estado, dificultando a real
autonomia e a participação no cotidiano da escola (ADAM, 2011, p.
223).

O diretor escolar possui funções pedagógicas importantes para o


desenvolvimento escolar e o auxílio aos professores, se faz necessário demandar
atenção ao desenvolvimento da prática pedagógica do professor e estar atento ao
desempenho escolar dos alunos. O gestor escolar consegue acompanhar a prática
diária dos professores em parceria com o coordenador escolar e os registros diários
produzidos pelos professores em seu semanário.
Os procedimentos metodológicos relacionados ao registro também
foram referidos na avaliação da disciplina, de um modo geral, como
um aspecto positivo, mesmo quando mencionadas as dificuldades de
sua realização (FREITAS; FORSTER, 2016, p. 65).

Sendo assim, nos artigos lidos é possível verificar a dificuldade do diretor de


conciliar a burocracia vigente e necessária para a escola enquanto instituição e a
escola enquanto âmbito educacional.

Seção 2.5: Conceito de participação


26

Dois artigos discurrem suas discussões acerca do conceito de participação na


vida escolar.
Podemos dizer que no nível da discussão e da efetivação a gestão
democrática da escola pode significar participação quando há o
envolvimento das várias instâncias da escola na discussão, no
planejamento e nas decisões relativas à instituição, ou apenas
significar representação, quando há órgãos colegiados na escola sem
efetivo envolvimento ou poder de intervenção e decisão (SANTOS;
SALES, 2012, p. 175).

A grande dificuldade encontrada quando se trata do conceito de participação


é o pouco conhecimento ou nenhum conhecimento da comunidade na produção do
documento escolar, o Projeto Político Pedagógico, que é de grande importância para
um funcionamento em parceria.

A gestão democrática da escola, em uma perspectiva progressista, no


seu objetivo precípuo com a qualidade da educação, assume
responsabilidade social de formar para a cidadania, portanto, o
incentivo à participação, à circulação de informações e à viabilização
de recursos para a formação e manutenção dos conselhosescolares,
dos grêmios estudantis e das associações de pais e mestres são
ações que demandam esforço, sobretudo, da equipe técnico-
pedagógica da escola e dos seus professores, para o cumprimento
dessa proposta política que ultrapassa os muros da escola e vai além
do instituído (SANTOS; SALES, 2012, p. 176).

A escola enquanto instituição é regida por um projeto-político-pedagógico,


este com elaboração realizada por toda a equipe escolar e este documento é
produzido para nortear os aspectos sociais, regras e competências que devem ser
seguidas durante o tempo vigente de 4 anos. A participação da comunidade e
funcionários na elaboração dos documentos é fundamental para que quando
colocado em prática esteja a conhecimento de todos e desta forma com uma grande
parceria consiga alcançar os objetivos estipulados pelos quatro anos.

Como diretora, sempre buscou meios de valorizar o trabalho em


equipe, e sua gestão foi marcada pela preocupação de promover a
interação de professores, alunos, pais e funcionários e estimular a
participação coletiva nas decisões sobre os problemas da escola
(GRIGOLI et al., 2010, p. 249).

Ainda, é importante refletir que a participação dentro das escolas públicas,


assim como a democracia participativa na sociedade, só se efetivará de fato,
segundo Bordenave (1994) se os pais se sentirem parte da instituição. “A
27

participação não é somente um instrumento para a solução de problemas mas,


sobretudo uma necessidade fundamental dos ser humano” (BORDENAVE, 1994,
p.16). É necessário que ocorra uma democratização e descentralização de poder na
escola pública, na qual o ensino seja pautado por uma gestão democrática com
ampla participação de diferentes segmentos. A escola e seus atores necessitam ter
claro sua responsabilidade e implicações na relação com a comunidade,
principalmente se deseja uma escola democrática e participativa, principalmente
superando a ideia de que a democracia dependa de concessões, segundo Paro
(2008).
28

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos artigos elencados e subdivididos em cinco categorias trago


como considerações de meu trabalho a intensificação da necessidade de uma
gestão democrática e participativa, uma gestão de envolvimento escolar como um
todo. Os artigos selecionados trazem de forma explícita ou instrínseca a importância
e a diferença de uma escola que é pautada na gestão democrática e uma escola em
que o gestor é a autoridade maior e o mesmo delega as funções de cada sem uma
análise grupal.
Com a leitura é possível identificar que para uma gestão bem-sucedida se faz
necessário o envolvimento da escola como um todo, a construção do projeto político
pedagógico da escola, sendo este o principal documento enquanto norteador
escolar. É de suma importância que este seja construído com a parceria da
comunidade escolar, além dos professores, funcionários e até mesmo alunos para
que desta forma seja atendida as necessidades específicas do público alvo a que se
dirige as competências deste documento.
Apresenta-se também nas discussões a prática fundamental para uma gestão
e uma instituição bem-sucedida que é a prática do registro. Assim como os
professores, os demais funcionários e a equipe de gestão devem de alguma forma
apropriar-se da prática de registrar os ocorridos, pois os registros são fundamentais
para o aprimoramento da sua própria prática e também um documento fundamental
para realizar os estudos de caso e de suma importância para discussões em cursos
de formações continuadas, pois não há aprendizado maior do que os envolvidos
discutirem soluções para problemas vividos por eles próprios. Muitos foram
resolvidos de determinadas formas, mas em um diálogo de exposições de soluções
é possível adquirir novos aprendizados capazes de amadurecer a sua prática de
resolução de conflitos.
Há presente nos artigos a discussão sobre a autonomia do gestor escolar e o
conhecimento do mesmo sobre seus objetivos. É fundamental que o gestor conheça
os objetivos a serem conquistados enquanto gestor e a importância do seu papel na
vida social e no poder de transformação que o mesmo possui quando exerce sua
autonomia de forma construtiva e potencializadora. A autonomia, juntamente com a
prática do registro e uma administração democraticamente construída com a
parceria da comunidade, alunos, funcionários e professores é a chave para uma
29

gestão bem sucedida e transformadora, capaz de potencializar o desenvolvimento


social e educacional dos alunos.
30

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