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Compreendido no artigo 235 do RIISPOA, “entende-se por leite, sem outra especificação, o
produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem
alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie de que
proceda”. Portanto, tratando-se de leite, fala-se especificamente do leite de vaca, excluindo deste
domínio o leite de outros mamíferos como cabra, búfala ou ovelha.
O leite é um alimento de enorme valor nutritivo, consiste de uma emulsão de gordura em
água (O/A), sendo também uma suspensão coloidal de proteínas, além disso encontram-se em sua
composição carboidratos, como lactose, e minerais. A quantidade desses nutrientes no leite pode
variar de acordo com a raça do animal, criação, alimentação e intervalo de ordenha. Em média, o
leite divide-se em, aproximadamente, 87,5% de água; 3,9% de gordura; 3,4% de proteína; e 5,2%
de lactose e minerais (BRUNNING, 2018).
Ademais, é possível apontar o constante crescimento da produção de leite ao decorrer dos
anos, fato correlacionado com o desenvolvimento econômico do país. Dados da FAO e do IBGE
apontam que, de 1961 – ano em que os primeiros dados da produção de leite no Brasil foram
registrados – até 2015, houve um acréscimo de 30 milhões de toneladas de leite produzido.
2. OBJETIVO
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Transferiu-se para uma proveta de 250 mL, com o auxílio de um funil, aproximadamente
200 mL de leite cru, ordenhado 6 dias antes da análise e resfriado durante esse período. Logo após,
mergulhou-se o termolactodensímetro no leite dentro da proveta. Após estabilização do aparelho no
fluido, anotou-se o valor obtido e discutiu-se o resultado.
3.2. PROVA DO ALIZAROL
Ambientou-se com NaOH 0,111M uma bureta de 25 mL. Após isso, anexou-se a bureta ao
conjunto haste-garra, propriamente montado sobre a bancada do laboratório. Avolumou-se a bureta
até seu menisco com NaOH 0,111M para posterior titulação. Transferiu-se, com uma pipeta
volumétrica de 10 mL e pêra, o respectivo volume de leite cru, do recipiente onde estava
armazenado, para um erlenmeyer de 125 mL. Ao erlenmeyer também foi adicionado, com um
conta-gotas, 3 gotas de indicador fenolftaleína 1% para que pudesse ser observado o ponto de virada
na titulação. Com tudo pronto, deu-se início a titulação. Titulou-se até ser observado a mudança de
coloração da solução dentro do erlenmeyer. Os resultados foram anotados e levados para discussão.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A prova de densidade tem por objetivo identificar possíveis fraudes quanto ao real volume
de leite que está sendo comercializado. De acordo com o Artigo 4º da IN76/2018, “o leite cru
refrigerado deve ter densidade relativa a 15ºC/15ºC compreendida entre 1,028 (um inteiro e vinte e
oito milésimos) e 1,034 (um inteiro e 34 milésimos). Se a densidade estiver abaixo daquela indicada,
pode-se aferir que houve a adição de água ao leite. Os produtores podem fazer isso com o objetivo
de lucrar mais, uma vez que, quanto maior o volume que vendem, maior a renda que obterão. Para
balancear a perda de densidade causada pela água, os produtores podem adicionar amido ao leite, o
que leva a um aumento da densidade relativa, podendo burlar a prova da densidade. No entanto,
essas fraudes podem ser fiscalizadas por análises mais profundas em laboratório.
Na análise do leite cru realizada pelos técnicos, obteve-se uma densidade relativa de 1,031, o
que enquadrou o leite no intervalo de densidade estipulado pela IN76/2018, isto é, entre 1,028 e
1,034.
A prova do alizarol tem por finalidade indicar a estabilidade térmica do leite, bem como
estimar qualitativamente, através da coloração, o pH da amostra. O teste do alizarol, ou teste do
álcool, é uma das primeiras análises que devem ser realizadas para averiguar a qualidade da
matéria-prima (leite), sendo realizado nas propriedades rurais antes mesmo da coleta e transporte do
leite (CUNHA; SOUZA, 2021).
A adição do alizarol ao leite induz várias alterações nas micelas da caseína, como o colapso
da camada k-caseína, a redução na carga micelar e a precipitação do fosfato de cálcio, que
colaboram para a redução da estabilidade deste componente (O’CONNELL et al., 2001). Dessa
forma, um leite contaminado por bactérias possui sua estabilidade reduzida, o que os levará a não
resistir ao teste do alizarol, representado pela formação de grumos no leite (CUNHA; SOUZA,
2021).
No leite cru analisado pelos técnicos, apesar de possuir uma coloração vermelho tijolo –
típica de um leite com acidez normal - foi possível indicar sua instabilidade térmica pela formação
de grumos ao reagir com o alizarol. Esse tipo de formação é típica de um leite instável e não ácido
(LINA), trata-se de um leite no qual a perda de estabilidade não está relacionada à contaminação
bacteriana e não é causada pela acidez elevada. A ocorrência desse leite se deve principalmente a
um desbalanceamento salino, podendo ser provocado por uma mudança drástica da alimentação do
animal (CUNHA; SOUZA, 2021). No entanto, contrariando as expectativas, nos testes que vieram
em sequência (acidez e dornic), foi possível indicar que, realmente, o leite analisado apresentava
uma acidez acima da ideal. Dessa forma, entendeu-se como inconclusivo o resultado qualitativo da
acidez apresentado pela prova do alizarol, mas pode-se afirmar com certeza a instabilidade térmica
apresentada pelo leite, caracterizando-o como inadequado para o consumo. Entretanto, de acordo
com a IN76/2018, o alizarol utilizado para a prova do alizarol deve estar entre 72ºGL e 80ºGL,
enquanto que o alizarol utilizado para a análise era 68ºGL, sendo assim, por mais que mínima, a
possibilidade de erro analítico não pode ser descartada.
A prova da acidez titulável é uma das medidas mais usadas no controle de matéria-prima
pela indústria leiteira. Pode ser expressa em graus Dornic (ºD) ou em porcentagem de ácido láctico
(BRITO; BRITO, 2021). De acordo com a IN76/2018, o leite saudável e em boas condições de
consumo deve apresentar uma acidez entre 0,14 e 0,18 gramas de ácido lático a cada 100 mL de
leite. A titulação consiste em uma volumetria de neutralização, nesse caso, uma base (NaOH) é
usada para neutralizar o ácido contido no leite. O ponto de virada da neutralização é observado pela
adição de gotas de indicador, nesse caso, fenolftaleína 1%, junto à amostra (BRITO; BRITO, 2021).
A conversão de volume titulado para acidez é simples. Entende-se que a cada 0,1 mL
titulado, acrescenta-se 1ºD (1 grau Dornic) de acidez atribuída ao leite, ou então acrescenta-se 1 g/L
de concentração de ácido lático no leite.
Para neutralizar todo o ácido presente no leite analisado foram necessários 2,3 mL de
solução de hidróxido de sódio, ou seja, o leite apresentou acidez de 23ºD ou 0,23 gramas de ácido
lático a cada 100 mL de leite. Tais resultados enquadram a amostra como um leite que não resiste a
pasteurização a 72ºC, apresentando um pH de aproximadamente 6,1, um déficit de 0,5 em relação
ao pH mínimo de um leite normal (6,6) (RODRIGUES et al., 1995).
Os resultados indicam, então, que o leite analisado era inadequado para o consumo humano,
não podendo ser usado para comercialização.
O teste Dornic consiste em uma estimativa da acidez do leite, em graus Dornic, a partir da
coloração do leite. O princípio é similar ao teste de acidez, em um béquer com o leite e indicador
fenolftaleína é adicionada uma base, nesse caso hidróxido de sódio, para neutralizar os ácidos
presentes na amostra. Sabe-se que, segundo a IN76/2018, o leite deve ter, no máximo, uma acidez
de 0,18 gramas de ácido lático a cada 100 mL, ou seja, todo ácido presente no leite deve ser
neutralizado pela base com, no máximo, 1,8 mL de hidróxido de sódio. Dessa forma, ao transferir
1,8 mL de NaOH 0,111 M para um béquer contendo 10 mL de leite, é possível determinar
aproximadamente a acidez do mesmo.
Se o leite manter sua coloração tal qual estava antes da adição do neutralizador, entende-se
que ele possui uma acidez maior que 18ºD, ou seja, trata-se de um leite ácido. Isso porque, se não
houve uma mudança de coloração, ainda existem ácidos presentes no leite que poderiam ser
neutralizados, impedindo a reação da base com a fenolftaleína que indicaria uma mudança na cor da
solução.
Se o leite adquirir uma coloração rósea ou levemente rósea, entende-se que sua acidez está
entre 16ºD e 18ºD, o que o enquadra como um leite normal e saudável quanto à acidez.
Se o leite adquirir uma coloração rósea intensa, entende-se que a sua acidez está inferior a
15ºD, ou seja, trata-se de um leite alcalino, possivelmente fraudado com água, ou oriundo de uma
fêmea com mastite, leite do final da lactação ou ainda leite de retenção (RODRIGUES et al., 1995).
A análise realizada pelos técnicos indicou que o leite possuía uma acidez acima de 18ºD, ou
seja, a amostra manteve sua coloração branca, tal qual antes da adição de NaOH. O resultado obtido
no teste Dornic pode ser relacionado com o previamente introduzido teste de acidez. Dessa forma, é
possível atestar que o leite em questão estava, de fato, mais ácido do que estaria caso fosse um leite
saudável.
Figuras 7 e 8. Coloração do leite após
realização do teste Dornic. A coloração
branca indica um leite ácido. Imagens
tiradas no dia 08/09/2022.
Apesar de o leite analisado ter passado pelo primeiro teste (prova da densidade), o mesmo
não apresentou-se adequado ao consumo de acordo com os testes que procederam (prova do
alizarol, prova da acidez e teste dornic). Mesmo com o resultado de acidez inconclusivo da prova do
alizarol, com os testes seguintes foi possível determinar que a amostra estava com uma acidez
elevada.
Os motivos pelos quais o leite apresentou-se inadequado podem ser diversos. A alta acidez e
instabilidade térmicas encontradas na amostra podem ser em função da saúde da fêmea ordenhada.
Podem ser em função do inadequado armazenamento e resfriamento da amostra logo após coleta,
talvez se o leite fosse congelado e descongelado só previamente à análise a qualidade pudesse ser
mantida. Podem ser em função da falta de controle no transporte da amostra entre interior-cidade e
casa-instituição, entre outros.
5. CONCLUSÕES
Através dos resultados é possível apontar a possível fraudulência do leite analisado. Foi
detectada uma alta acidez, acima daquela permitida por legislação em dois dos três testes que
podem indicar acidez. A prova da densidade foi o único teste pelo qual o leite apresentou qualidade
decente.
Apesar de se tratar de um leite inadequado, acredita-se que não se tratam de fraudes
esquematizadas pelo proprietário do animal, uma vez que a produção é só destinada ao consumo
familiar. Acredita-se que as inadequações do leite foram ocasionadas pelo tratamento após obtenção
do leite, ou seja, questões de transporte, tempo de armazenamento e tipo de armazenamento.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS