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ANÁLISE INSTRUMENTAL II

Profe. Dr. Pedro José Pedro Sanches Filho

Identificação de amostra de petróleo por cromatografia gasosa


acoplada a espectrometria de massas (GC-MS)

Bruno de Farias
Elisa Teixeira
Gutierre de Leon
Isabele Mackedanz
Julio Gemiaki
Lucas Gularte
Marina Arias
Pelotas, 05 de janeiro de 2023
1. INTRUDOÇÃO

A cromatografia gasosa (GC) é uma técnica amplamente aplicada em


muitos setores industriais, cujos produtos fazem parte do nosso dia a dia, como
os setores ambientais, petrolíferos, químicos, de alimentos e bebidas, e
farmacêuticos. A GC é um processo analítico comum usado para separar e
analisar compostos voláteis e semivoláteis em uma mistura. É muito popular
por apresentar a combinação da resolução, com velocidade e sensibilidade.
Assim como outras formas de cromatografia, a GC envolve uma fase
estacionária e uma fase considerada móvel, porém, diferentemente dos outros
métodos cromatográficos, a fase móvel da GC não interage com o analito,
portanto, também pode ser chamada de gás de arraste. A fase móvel é um gás
inerte, podendo ser hidrogênio, hélio ou nitrogênio, e a fase estacionária é um
adsorvente sólido, denominada cromatografia gás-sólido (GSC), ou um líquido
adsorvido em um suporte inerte, denominada cromatografia gás-líquido (GLC
ou apenas GC).
A técnica, consiste na introdução da amostra, através de um sistema de
injeção, onde amostras líquidas são vaporizadas. Em seguida, um gás inerte
arrasta a amostra pela coluna cromatográfica. A fase estacionária, presente na
coluna, é responsável pela separação dos compostos, fazendo com que cada
um saia da coluna, a um tempo diferente (tempo de retenção). Por fim, um
detector é responsável pela identificação dos sinais eletrônicos produzidos pelo
sistema de GC e um software específico é utilizado para transformar estes
sinais em picos cromatográficos. A imagem a seguir demonstra o esquema de
um cromatógrafo gasoso.. 
Os parâmetros fundamentais de um sistema de CG são: retenção,
seletividade, eficiência e resolução. O parâmetro de retenção é o tempo de
retenção (tr), que é definido como o tempo transcorrido entre a injeção da
amostra e o máximo do pico cromatográfico. Porém, mesmo que a substância
não interagisse de forma alguma com a FE, o seu tempo de retenção não seria
nulo, pois transcorreria algum tempo entre a sua injeção e a sua passagem
pelo detector. Este tempo corresponde ao tempo que o gás de arraste demora
para percorrer a coluna, e é denominado tempo de retenção do composto não
retido, ou tempo morto (tm). O parâmetro que realmente reflete as
características físico-químicas de retenção de um determinado composto é o
tempo de retenção descontado do tempo morto, chamado de tempo de
retenção ajustado (o tempo de retenção é o principal parâmetro qualitativo da
cromatografia). A seletividade é a capacidade de um sistema diferenciar dois
compostos, sendo uma característica mais associada à coluna cromatográfica.
A eficiência é expressa pelo número de pratos teóricos, que é calculada
usando-se um parâmetro de retenção (tr) e a largura da base do pico
cromatográfico. Por último, a resolução entre duas substâncias é a razão entre
a diferença das distâncias de migração e a média das larguras das bandas.
Na cromatografia gás-líquido (CGL), os dois fatores que governam a
separação dos constituintes de uma amostra são: a solubilidade na FE: quanto
maior a solubilidade de um constituinte na FE, mais lentamente ele percorre a
coluna. a volatilidade: quanto mais volátil a substância (ou, em outros termos,
quanto maior a pressão de vapor), maior a sua tendência de permanecer
vaporizada e mais rapidamente passar pelo sistema. As substâncias separadas
saem da coluna dissolvidas no gás de arraste e passam por um detector;
dispositivo que gera um sinal elétrico proporcional à quantidade de material
eluído. O registro deste sinal em função do tempo é denominado
cromatograma, sendo que as substâncias aparecem nele como picos com área
proporcional à sua massa, o que possibilita a análise quantitativa. A imagem
abaixo exemplifica o resultado do registro.
O detector mais utilizado é o espectrômetro de massas(MS). O MS é
constituído de uma fonte de íons, um analisador e um detector. Quando uma
das substâncias emerge da coluna e ingressa no espectrômetro de massas,
através da linha de transferência, a mesma interage com elétrons acelerados
emanados por um filamento, gerando íons do analito na fonte de íons. Nesse
local, os analitos na forma de íons são fragmentados de acordo a suas ligações
químicas, seguindo um padrão de fragmentação constante e único, para uma
dada energia de ionização, tal qual uma impressão digital para cada molécula
do analito em estudo, facilitando a construção de um banco de dados padrão
de espectros de massas de interesse.
Os íons gerados na fonte de íons são acelerados e introduzidos no
analisador de quadrupolo, constituído de quatro barras cilíndricas ligadas
eletricamente em DC e RF em pares, mas com fases opostas eletronicamente.
Dentro deste campo eletromagnético, os íons do analito sofrem o efeito
eletromagnético e são filtrados pelas barras cilíndricas de acordo com sua
razão massa/carga (m/z). Somente uma espécie de íons com uma determinada
m/z passará através dos quadrupolos sem colidir com as barras. Finalmente,
estes íons são detectados e contados pelo multiplicador de elétrons,
denominado detector. Desta forma, discretizando massas de 1 a 1090 m/z, em
intervalos de tempo de microssegundos é construído um espectro de massas
em menos que um segundo. O número de íons de cada espectro de massas
gerado é utilizado para construir o cromatograma por meio de um “software”.
Assim, todo GC/MS gera as seguintes informações para o analista químico, um
cromatograma e milhares de espectros de massas. O cromatograma apresenta
a intensidade total dos íons detectados (eixo y) em função do Tempo de
Retenção em minutos da eluição de cada analito (eixo x). Os espectros de
massas apresentam as análises dos compostos químicos presentes na eluição
a cada segundo, com uma vantagem, podendo ser comparados com o banco
de dados da NIST para uma possível detecção do analito desejado. Todo
espectro de massas (Figura 2b) apresenta a intensidade relativa dos íons
fragmentos e do íon molécula de cada analito (eixo y) em função da razão m/z
(eixo x) de cada fragmento detectado.
Nesse relatório serão abordados os objetivos, os métodos e resultados
de uma prática de análise cromatográfica feita através do uso de um GCMS.

2. OBJETIVO

O objetivo da prática é identificar os compostos de uma amostra de


petróleo, com foco na identificação de hidrocarbonetos lineares, cálculo da
porcentagem de n-alcanos e determinação da resolução entre os compostos
heptadecano e pentadecane-2,6,10,14-tetrametil.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. MATERIAIS

 Algodão;
 Balança analítica;
 Bastão de vidro;
 Béquer de 100 mL;
 Bureta de 25 mL;
 Cromatógrafo gasoso acoplado a espectrometria de massas (GC-
MS);
 Diclorometano P.A.;
 Espátula;
 Garra;
 Haste;
 Hexano P.A.;
 Papel alumínio;
 Petróleo;
 Pipeta de Pasteur;
 Proveta de 25 mL;
 Sílica para cromatografia.

3.2. MÉTODOS

3.2.1. Preparo da amostra

Antes de ser identificada no cromatógrafo gasoso, a amostra passou por


uma separação em cromatografia de coluna.
Inicialmente, montou-se o conjunto haste, garra e bureta de forma
adequada. Em seguida, com o auxílio de um bastão de vidro, colocou-se
algodão na região inferior de uma bureta de 25 mL e, logo acima, colocou-se
10 gramas de sílica para cromatografia pesados em uma balança analítica,
junto de hexano suficiente para garantir sua completa suspensão. Aguardou-se
para que a sílica decantasse completamente sobre o algodão e foi mantido 1
mL de hexano acima da coluna de sílica.
Utilizando uma pipeta de Pasteur, adicionou-se a amostra de petróleo
que foi retirada em duas etapas de acordo com o método SARA.
Na primeira, foram adicionados à coluna, cuidadosamente, 25 mL de
hexano P.A. medidos em uma proveta de 25 mL, o hexano, por ser totalmente
apolar, carrega consigo os compostos saturados, o que inclui os alcanos que
são o foco da análise. O volume de hexano inserido já com a fração dos
saturados arrastada foi coletado em um béquer de 100 mL.
Na segunda, foram adicionados à coluna, cuidadosamente, uma solução
de 15 mL de hexano com 10 mL de diclorometano medidos em uma proveta de
25 mL. O diclorometano, por ter já certo nível de polaridade, carrega consigo
também os compostos poliaromáticos. O volume de solução inserida já com a
fração de poliaromáticos arrastada foi coletado em um béquer de 100 mL.
Os béqueres foram cobertos com papel alumínio e deixados para secar
em capela por 24 horas. Após secagem, lavaram-se os béqueres com
diclorometano, após o volume de diclorometano alcançar 0,5 mL, transferiu-se
esse para vaiols e derivatizou-se com 40 microlitros de MSTFA em banho de
areia de 80ºC por 30 minutos.
Após a derivatização, os vaiols foram avolumados a 1 mL com
diclorometano e levados para análise em cromatógrafo gasoso acoplado a
espectrômetro de massas (GC-MS), sendo que apenas o vaiol contendo a
amostra separada na primeira etapa do método SARA é o objeto de estudo
deste relatório.

3.2.2. Operação do GC-MS

Com o GC-MS já ligado, colocou-se o vaiol contendo a fração de


compostos saturados na seção injetora do aparelho, junto de um frasco
contendo apenas diclorometano e um frasco vazio para a coleta dos resíduos.
Paralelamente, abriu-se o cilindro de hélio (gás inerte).
No computador, foram selecionados os parâmetros de operação do GC-
MS, tais quais temperatura de injeção (280ºC), temperatura do forno (100ºC),
elevação da temperatura do forno (até 300ºC), comprimento da coluna (30
metros), diâmetro da coluna (0,25mm), espessura da fase estacionária (0,25
um), pressão (73 kPa), vazão (24 mL/min), modo de injeção (splitless), tempo
de análise (40 minutos), entre outros. Esses parâmetros podem ser observados
na imagem abaixo:
O espectrômetro de massas, detector do cromatógrafo gasoso, opera
sobre pressão negativa, portanto programa-se o aparelho para acionar a
bomba de vácuo.
Após finalizado o tempo de análise, os dados foram tratados e os
resultados levados a discussão.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como resultado da leitura da amostra no GC-MS, foi obtido o seguinte


cromatograma:

A tabela de integração dos picos obtida foi a seguinte:


A tabela acima oferece dados o suficiente para a avaliação da análise
por métodos qualitativos, a coluna do tempo de retenção, tempo de retenção
inicial e tempo de retenção final permitem a aplicação de métodos qualitativos,
como o próprio tempo de retenção, a seletividade, a resolução e a eficiência.
Assim como também oferece dados para a aplicação do método
quantitativo de normalização de áreas, ao indicar a área de cada pico, bem
como a porcentagem da área em relação ao todo (normalização).
Infelizmente, com os dados obtidos é possível apenas realizar a análise
do cromatograma por normalização de áreas, que pode ser errôneo em função
dos fatores de resposta de cada composto. No entanto, sem mais opções, a
normalização de áreas mostra-se suficiente para nortear a análise quantitativa
da amostra.

Ao observar a tabela, nota-se que dos 47 compostos totais, 21 eram da


família dos alcanos, isto é, em relação ao número de compostos, os alcanos
representam, em porcentagem, o seguinte valor:
21
×100 %=44,681 %
47

Em relação à área dos picos, os alcanos representam a seguinte fração


da amostra inicial:
A total: 115901270
A n-alcanos: 90986135

90986135
× 100 %=78,503 %
115901270

Também é possível identificar esse grupo de hidrocarbonetos facilmente


no cromatograma, pois como eles se diferem estruturalmente apenas pela
adição de um grupo metila, todos interagem de forma semelhante com a coluna
cromatográfica, sendo assim seu tempo de retenção aumenta apenas em
função do aumento da massa molar referente à adição da metila. Então, como
sempre há a adição de um grupo metila entre um alcano e outro, o aumento
entre os tempos de retenção entre um alcano e o imediato alcano após esse é
repetido entre todos alcanos consecutivos, com uma leve diferença de um para
outro, ou seja, tratam-se de hidrocarbonetos lineares.

No cromatograma caracterizado abaixo, é elucidada a ideia:


A legenda para cada alcano representa a quantidade de carbonos
referente ao hidrocarboneto daquele pico, por ex. C12 = alcano com 12
carbonos = dodecano.
Dessa forma, é possível notar que o primeiro alcano detectado pelo
aparelho foi o dodecano, com 12 carbonos e TR = 5,890 minutos, enquanto o
último foi o tritriacontano, com 33 carbonos e TR = 32,328 minutos.
A diferença entre o tempo de retenção do alcano C12 para o C13 é de
1,664 minutos; enquanto a diferença entre o tempo de retenção do alcano C13
para o C14 é de 1,668 minutos. Esse aumento constante do tempo de retenção
repete para todos os alcanos até o C33, caracterizando a linearidade do grupo.

Ademais, a fim de avaliar a qualidade do cromatograma, foi realizado


também o cálculo da resolução entre o composto heptadecano e o composto
pentadecano,2,6,10,14-tetramethyl, dispostos na tabela de integração da
seguinte forma:

Sabendo que a resolução é matematicamente calculada por:

2 ∆ Tr
Res=
Wb 1+Wb 2

Podemos calcular a resolução dos compostos acima por:

2⋅ ( 14,034−13,953 )
Res=
( 14,000−13,900 ) + (14,090−13,985 )

0,162
Res= =0,790244
0,205
5. CONCLUSÕES

Foi possível notar que os alcanos compõem uma parcela significativa da


amostra inicial (44,681% em compostos e 78,503% em concentração relativa),
o que é condizente com o tipo de amostra analisada (petróleo). Também foi
possível identificar esse grupo de hidrocarbonetos no cromatograma de forma
simples, uma vez, por serem lineares, originam um cromatograma
característico, com os compostos apresentando tempos de retenção
crescentes de forma constante. Por fim, foi avaliada a qualidade do
cromatograma através da resolução. Com o resultado obtido (0,790244), é
possível afirmar que o valor está acima do necessário para diferenciar um vale
entre dois picos de mesma altura (0,6), mas abaixo do necessário para a
separação mensurável e quantificação adequada (1). Portanto pode-se afirmar
que o composto é identificável mas não adequadamente quantificado. No
entanto, considerando que resoluções de 0,8 são consideradas boas, a
resolução encontrada pode ser considerada como tal.

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